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I Encontro <strong>de</strong> Pesquisa<strong>do</strong>res em Comunicação e Música Popular<br />
Tendências e convergências da música na cultura midiática<br />
21 a 23 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2009, UFMA, São Luis – MA.<br />
5<br />
Krig-ha (SEIXAS, 2005) com texto em co-autoria com Paulo Coelho e <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Adalgisa<br />
Rios. Misto <strong>de</strong> panfleto e história em quadrinhos, o gibi/manifesto apregoa uma nova era,<br />
expon<strong>do</strong>, com visual sujo e texto profético, apocalíptico, o <strong>de</strong>sbun<strong>de</strong> e o esoterismo presentes<br />
na contracultura da época.<br />
Os militares não gostaram da história. Suspeitan<strong>do</strong> que Raul Seixas estivesse<br />
envolvi<strong>do</strong> em uma organização comunista, a Polícia Fe<strong>de</strong>ral recolheu o gibi/manifesto,<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> material subversivo. Em 1974, com or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> prisão <strong>do</strong> Primeiro Exército, no<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, Raul foi <strong>de</strong>ti<strong>do</strong> e “convida<strong>do</strong>” a sair <strong>do</strong> país. Acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> subversão contra a<br />
ditadura <strong>de</strong> Geisel, exilou-se nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
O breve exílio, cerca<strong>do</strong> <strong>de</strong> ficções, versões e <strong>de</strong>satinos, supostamente termina com o<br />
sucesso <strong>do</strong> LP Gita, em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> qual Raul Seixas teria si<strong>do</strong> convida<strong>do</strong> a retornar ao Brasil,<br />
comemoran<strong>do</strong> sua consagração no cenário brasileiro, coroada pelo primeiro disco <strong>de</strong> ouro.<br />
O LP Gita transmite inconformismo diante <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida constituí<strong>do</strong> a partir das<br />
conquistas <strong>do</strong> “milagre econômico” promovi<strong>do</strong> pelo regime militar. As canções, oscilan<strong>do</strong><br />
entre o tom melancólico e o eufórico, ironizam os costumes e crenças <strong>do</strong>minantes, disparan<strong>do</strong><br />
chistes contra os valores mais preza<strong>do</strong>s pelo conserva<strong>do</strong>rismo da época. Exemplar é a faixa<br />
“S.O.S.” (SEIXAS, 1974):<br />
Hoje é <strong>do</strong>mingo, missa e praia, céu <strong>de</strong> anil<br />
Tem sangue no jornal, ban<strong>de</strong>iras na Avenida Brasil<br />
Lá por <strong>de</strong>trás da triste e linda zona sul<br />
Vai tu<strong>do</strong> muito bem, formigas que trafegam sem por quê<br />
E da janela <strong>de</strong>sses quartos <strong>de</strong> pensão<br />
Eu, como vetor, tranqüilo eu tenho uma transmutação<br />
Ô ô ô seu moço <strong>do</strong> disco voa<strong>do</strong>r<br />
Me leve com você, pra on<strong>de</strong> você for<br />
Ô ô ô seu moço, mas não me <strong>de</strong>ixe aqui<br />
Enquanto eu sei que tem tanta estrela por aí...<br />
An<strong>de</strong>i rezan<strong>do</strong> pra totens e Jesus<br />
Jamais olhei pro céu, meu disco voa<strong>do</strong>r além<br />
Já fui macaco em <strong>do</strong>mingos glaciais<br />
Atlantas colossais, que eu não soube como utilizar<br />
E nas mensagens que nos chegam sem parar<br />
Ninguém po<strong>de</strong> notar, estão muito ocupa<strong>do</strong>s pra pensar<br />
Ô ô ô seu moço <strong>do</strong> disco voa<strong>do</strong>r<br />
Me leve com você, pra on<strong>de</strong> você for<br />
Ô ô ô seu moço, mas não me <strong>de</strong>ixe aqui<br />
Enquanto eu sei que tem tanta estrela por aí...<br />
A letra é composta em torno <strong>de</strong> antíteses, em que os versos nos remetem ao<br />
<strong>de</strong>sencanto, à fuga e à esperança. “S.O.S.” é uma crítica ao marasmo das classes médias<br />
brasileiras que, como “formigas que trafegam sem por quê”, se <strong>de</strong>ixavam iludir pelo “milagre<br />
econômico” da ditadura. Nas missas ou nas praias, fechavam os olhos para a truculência <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> exceção. Das janelas <strong>de</strong> seus quartos <strong>de</strong> pensão, muito ocupadas para pensar,<br />
estavam ineptas para perceber as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resistência e mudança.<br />
Em tal conjuntura sufocante, o cantor ansiava por um disco voa<strong>do</strong>r que o libertasse <strong>do</strong><br />
autoritarismo. As espaçonaves que transportam seres <strong>de</strong> outros planetas ou <strong>de</strong> outras