teatro operário na cidade de são paulo - Centro Cultural São Paulo
teatro operário na cidade de são paulo - Centro Cultural São Paulo
teatro operário na cidade de são paulo - Centro Cultural São Paulo
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
36<br />
um respeitoso silêncio diante da manifestação artística. Pelo contrário e estabelece<br />
se um diálogo sonoro com o espetáculo <strong>de</strong>ixando evi<strong>de</strong>nte a aprovação ou a repulsa<br />
do público.<br />
Fica evi<strong>de</strong>nte que a manifestação do público <strong>na</strong>da tem a ver com a qualida<strong>de</strong> do<br />
espetáculo, mas com a i<strong>de</strong>ntificação da platéia aos problemas ou perso<strong>na</strong>gens<br />
presentes no palco.<br />
O espetáculo é o porta-voz das convicções e sentimentos da pIatéia. Para isso é<br />
preciso que seja <strong>de</strong>spido <strong>de</strong> mistérios, reforçando um conhecimento prévio e<br />
proporcio<strong>na</strong>ndo um estímulo à expressão do espectador.<br />
Um artigo publicado pelo jor<strong>na</strong>l carioca Novo Rumo, <strong>de</strong>ixa clara a teoria que<br />
fundamenta o espetáculo:<br />
A literatura dramática hoje <strong>de</strong>mocratiza-se. Não se compreen<strong>de</strong> o esforço dum<br />
dramaturgo no interesse exclusivo <strong>de</strong> nos dar, através <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong><br />
peripécias, a existência mais ou menos complicada <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> exceção. A<br />
observação chamada imparcial <strong>na</strong>da quer dizer. Se o artista cria tipos, inventa,<br />
<strong>de</strong>screve, a<strong>na</strong>lisa sentimentos, e chega à síntese, ao conhecimento da alma<br />
coletiva, fá-lo no Interesse da <strong>de</strong>monstração. No <strong>teatro</strong> não representa para <strong>de</strong>screver,<br />
mas sim para provar.<br />
Desenvolver uma alta e sere<strong>na</strong> filosofia social <strong>de</strong> justiça, <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />
e, paralelamente, fazer uma acerba crítica do mundo atual, eis o que há a esperar do<br />
<strong>teatro</strong> do povo, ativando pelo imediato efeito da vivissecção dramática o fogo instintivo<br />
da submissão, a curiosida<strong>de</strong> civil re<strong>de</strong>ntora do Desconhecido(...) Se as obras-primas<br />
do gênio artístico são uma i<strong>de</strong>alização do sentimento e da inteligência popular e a<br />
alma do povo chamada vida livre pelo cérebro, há <strong>de</strong> fatalmente reconhecer se nos<br />
heróis que faz criar. (...) Popularizar este sentimento comum, num sentido favorável<br />
a sua exaltação <strong>de</strong>ve ser o objeto principal do <strong>teatro</strong> do povo. (Novo Rumo,19.9.1906)<br />
Realmente, a exaltação a que se refere o articulista está longe, no caso das platéias<br />
paulistas, <strong>de</strong> ser uma metáfora. Embora o artigo se refira à criação literária para o<br />
<strong>teatro</strong>, esses requisitos compõem a vida íntima do próprio espetáculo. Vejamos<br />
uma <strong>de</strong>scrição oferecida por A Lanter<strong>na</strong>, em 20.1.1901:<br />
A Electra <strong>de</strong> Párez Galdós foi representada em São <strong>Paulo</strong>. Na noite <strong>de</strong> Sábado <strong>de</strong><br />
Aleluia, em que pela primeira vez subiu o já célebre drama à ce<strong>na</strong>, o público que<br />
enchia o Sant’An<strong>na</strong>, dando provas <strong>de</strong> seu ódio ao jesuitismo que se implanta no<br />
Brasil, com a proteção crimi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> um governo republicano, aplaudiu<br />
entusiasticamente a obra anticlerical e antijesuítica, e sempre que apareciam em<br />
ce<strong>na</strong> Pantoja e as freiras, personificação do jesuitismo, os espectadores irrompiam<br />
em assobios, manifestando assim, o seu terror pela seita maldita, e contra a ca<strong>na</strong>lha<br />
clerical.<br />
É bem verda<strong>de</strong> que esse espetáculo comentado pela Lanter<strong>na</strong> não é propriamente<br />
o tipo <strong>de</strong> <strong>teatro</strong> a que este trabalho se refere. É uma companhia profissio<strong>na</strong>l, tratando<br />
basicamente <strong>de</strong> anticlericalísmo e muito sutilmente da emancipação da mulher.<br />
Reunidos entretanto por essa ban<strong>de</strong>ira já se encontram algumas figuras que<br />
posteriormente se <strong>de</strong>stacarão junto aos operários a<strong>na</strong>rquistas: Benjamin Motta e<br />
Edgard Leuenroth, que aproveitam o espetáculo para uma manifestação <strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica pelas ruas da <strong>cida<strong>de</strong></strong>. Esse público, reagindo<br />
ar<strong>de</strong>mente, tem já as mesmas características dos espectadores tra-