teatro operário na cidade de são paulo - Centro Cultural São Paulo
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Entretanto o conteúdo é inimaginável nos <strong>teatro</strong>s freqõentados por<br />
espectadores estranhos á causa operária. A peça veicula formas <strong>de</strong><br />
resistência aos proprietános, sob a forma <strong>de</strong> uma greve <strong>de</strong> inquilinos.<br />
O ligeiro estratagema que <strong>na</strong>s comédias <strong>de</strong> costunie apazigua-se no<br />
<strong>de</strong>senlace é transformado ao fi<strong>na</strong>l da “Greve <strong>de</strong> Inquilinos” em uma lição <strong>de</strong><br />
resistência. Para ludibriar o proprietário, os inquilinos apelam para um recurso<br />
totalmente episódico, e é isso que faz a graça do texto. Mas tudo isso leva a<br />
uma reflexão sobre o direito dos inquilinos ao prédio que construíram como<br />
trabalhadores.<br />
Pelos comentários e pela incidência <strong>de</strong> representaçôes percebe-se que o<br />
texto <strong>de</strong> Neno Vasco é consi<strong>de</strong>rado mo<strong>de</strong>lar pelos centros culturais<br />
libertários. Posteriormente será representado nos círculos operários <strong>de</strong><br />
Lisboa, editado por um periódico português (A Batalha, 1923).<br />
De Neno Vasco há ainda outra peça muito conhecida. “O Pecado <strong>de</strong><br />
Simonia”. Nessa, o conteúdo anticlerical é mais evi<strong>de</strong>nte do que a questão da<br />
resistência operária. Ao que parece a Igreja é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os<br />
ridículos, assunto freqúente <strong>de</strong> muitas comédias.<br />
Ouanto a “O Pecado <strong>de</strong> Simonia”, a primeira noticia da representacão é<strong>de</strong><br />
1912. O clérigo que, <strong>na</strong> peça, comete a vilania <strong>de</strong> tentar apossar-se do prêmio<br />
lotérico <strong>de</strong> uma pobre viúva, é <strong>de</strong>smascarado por um jovem operário <strong>de</strong> idéias<br />
a<strong>na</strong>rquistas.<br />
Mais complexo pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> problemas que incorpora, o texto não tem<br />
a mesma leveza graciosa <strong>de</strong> “Greve <strong>de</strong> Inquilinos”. De passagem mencio<strong>na</strong>-se<br />
o direito ao amor sem casamento e o problema do militarismo.<br />
Como dramaturgo, o mais interessante <strong>de</strong> Neno Vasco é a exatidão do<br />
diálogo, <strong>de</strong>sprovido da retórica excessiva que normalmente caracteriza o<br />
trabalho doutrinário e penetra a ficção.<br />
Em “O Pecado <strong>de</strong> Simonia” há uma ce<strong>na</strong> muito boa em que a heroí<strong>na</strong> da<br />
história explica para a mãe as novas bases <strong>de</strong> um relacio<strong>na</strong>mento entre as<br />
duas. A firmeza da moça e a autêntica perplexida<strong>de</strong> da mãe são traços<br />
interessantes <strong>na</strong> caracterização <strong>de</strong> perso<strong>na</strong>gens. E visível o cuidado do autor<br />
para não violentar a tradição enraizadíssima do respeito <strong>de</strong>vido aos pais. Para<br />
obter esse efeito acentua a ingenuida<strong>de</strong> da mãe e procura caracterizá-la como<br />
uma perso<strong>na</strong>gem que só é capaz <strong>de</strong> violência verbal. Isso a tor<strong>na</strong> menos<br />
antipática aos olhos dos espectadores:<br />
“Ah! pensas que já não tenho mãos para te sovar como d’antes?<br />
EVA (revoltada): Mamã! Não quero que levante a mão para mim! (a mãe fica um tanto<br />
surpresa. Eva continua com voz ainda firme, mas mo!hada <strong>de</strong> lágrimas): -Mamã! eu esú’mo-a<br />
muito. . - tenho-lhe respeito... amor. . . Sempre procurei dar-lhe alegria. . . Des<strong>de</strong> que o<br />
Antônio, coitado, fez-se soldado, e lá anda não sei por on<strong>de</strong>. sem escrever.. . sem querer<br />
saber da família. . . da mãe. . . sou eu que tenho trabalhado constantemente. . . para que <strong>na</strong>da<br />
falte nesta casa . porque a maman, coitada, pouco..<br />
ROSA:<br />
68<br />
Fizeste a tua obrigação