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teatro operário na cidade de são paulo - Centro Cultural São Paulo

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E isto basta para provar, cremos. que o baile facilita a <strong>de</strong>generação e a imoralida<strong>de</strong><br />

e que não é nem instrutivo nem moral, se é moral tudo o que aperfeiçoa e regenera<br />

a massa proletária. (‘Lucífero”. A Terra Livre, 5.2.1907)<br />

Há também o caso <strong>de</strong> elencos teatrais que consi<strong>de</strong>ram a noitada artística mais<br />

a<strong>de</strong>quada aos propósitos <strong>de</strong> propaganda do que o baile. O Estatuto do Grupo <strong>de</strong><br />

Teatro Social, do Rio <strong>de</strong> Janeiro, manifesta-se em seu artigo 3. o : “Não trabalhar em<br />

certa mes nos quais se realizem bailes” (publicado em A Plebe, 5.11.1921).<br />

Essas criticas a uma ativida<strong>de</strong> puramente recreativa ape<strong>na</strong>s manifestam as<br />

contradições existentes <strong>de</strong>ntro do movimento libertário, no que diz respeito à<br />

“moral”, Na verda<strong>de</strong> não prevalecem <strong>na</strong> organi zação da lesta operária. Janto que o<br />

baile sobrevive até no período pós-45, <strong>na</strong>s programações do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Cultura<br />

Social (último grupo conhecido filiado ao movimento libertário).<br />

De qualquer forma a polêmica elucida diferentes tendências no modo <strong>de</strong><br />

pensar a ativida<strong>de</strong> artística e ctiltural do proletariado.<br />

A idéia da <strong>de</strong>dicacão exclusiva aos i<strong>de</strong>ais e à propaganda, inclusive como tática<br />

para economizar forças, procura criar um militante discipli<strong>na</strong>do ao ponto <strong>de</strong> renunciar<br />

aos prazeres vitais. Ao lado disso convive a atraente imagem anárquica da liberda<strong>de</strong><br />

individual, da beleza origi<strong>na</strong>l e sensível da vida “<strong>na</strong>tural”.<br />

Nesse <strong>de</strong>bate também está ausente a noção <strong>de</strong> história, ou pelo menos <strong>de</strong> uma<br />

progressão que permita encarar a discipli<strong>na</strong> abnegada como uni estágio necessário<br />

para se atingir a socieda<strong>de</strong> livre. Pelo contrário, as duas atitu<strong>de</strong>s existem lado a<br />

lado, não propriamente em conflito aberto, mas como uma conttisáo dífícilmente<br />

solucionável.<br />

É interessante observar nos <strong>de</strong>fensores da consciência proletária uma posição<br />

extrmamente franca, que associa o <strong>de</strong>sbaratamento da energia sexual a unia perda<br />

para a luta pula emancipação. Por contraponto <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se uma postura qtiase<br />

sacerdotal, em que o instinto é ca<strong>na</strong>lizado para a luta social. O mesmo postulado,<br />

entretanto, aplicado ao clero, é consi<strong>de</strong>rado a fonte <strong>de</strong> incríveis cruelda<strong>de</strong>s e<br />

perversões 8 .<br />

Há outros motivos, alegados como secundários que parecem fundamentar com<br />

maior justeza a ojeriza ao baile. Teme-se que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração do lazer, <strong>na</strong>s<br />

festas, sobrepunha-se á lorruação i<strong>de</strong>ológica que se <strong>de</strong>ve proporcio<strong>na</strong>r<br />

principalmente aos jovens.<br />

8.<br />

Quanto à preservação dos valores familiares, há um a<strong>de</strong>ndo ao noticiário <strong>de</strong> festas a partir <strong>de</strong> 1922.<br />

que parece ilustrar esse cuidado. Esse a<strong>de</strong>ndo confere o direito à comissão organizadora <strong>de</strong><br />

impedir a entrada a quem julgar conveniente. É provável que a família operária esteja sendo<br />

ameaçada <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição, através <strong>de</strong> modificações <strong>na</strong> constituição do operariado. Se a festa é <strong>de</strong><br />

propaganda. parece contraditório impedir a entrada <strong>de</strong> elementos estranhos aos grupos habituais.<br />

Deveriam ser convidados para a conversão. Essa <strong>de</strong>sconfiança é entretanto mais um sintonia da<br />

crescente complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variáveis que alteram a composição e a atuação da classe, inclusive as<br />

novas tendências i<strong>de</strong>ológicas posteriores a 1917. Em 1922 vai acesa a discussão entre a<strong>na</strong>rquismo<br />

e maximalismo, assim como aumenta a participação do elemento <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l no trabalho industrial.<br />

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