teatro operário na cidade de são paulo - Centro Cultural São Paulo
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preensão da ativida<strong>de</strong> artística como trabalho. Enquanto todo profissio<strong>na</strong>lismo<br />
se baseia nos conceitos <strong>de</strong> talento ou aptidão, os críticos libertários apreciam o<br />
esforço humano empenhado <strong>na</strong> arte. Se todos os homens são artistas, o melhor<br />
resultado é muito simplesmente resultado <strong>de</strong> mais trabalho.<br />
É compreensível que os participantes <strong>de</strong>sse <strong>teatro</strong> social não se interessem<br />
pelo <strong>teatro</strong> burguês. Nem como espectadores, nem como aspirantes a ator.<br />
Há no profissio<strong>na</strong>lismo das primeiras déaadas do século uma timi<strong>de</strong>z muito<br />
maior em relação às idéias veiculadas pelo <strong>teatro</strong>. Além disso a organização do<br />
trabalho é relativamente primitiva, uma vez que o ator participa ape<strong>na</strong>s como<br />
instrumento necessário à confecção da obra. Qualquer especulação sobre a<br />
função da arte ou sobre a responsabilida<strong>de</strong> do ator é completamente inviável<br />
nesse período <strong>de</strong> “boulevardismo<br />
Em <strong>na</strong>da e por <strong>na</strong>da esse <strong>teatro</strong> correspon<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s sociais ou à<br />
experiência cultural dos setores mais conscientes do proletariado.<br />
Que interesse po<strong>de</strong>riam ter as adaptações <strong>de</strong> Arthur Azevedo, as revistas<br />
genui<strong>na</strong>mente paulistas <strong>de</strong> Danton Vampré, ou mesmo um regio<strong>na</strong>lismo águacom-açúcar<br />
louvando encantos <strong>de</strong> caipirinhas? Assim que aparecem os grupos<br />
amadores libertários, o <strong>teatro</strong> profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> interessar <strong>de</strong>finitivamente<br />
como lazer ou material para discussão.<br />
Desaparece da imprensa a referência ao mundo cultural do país fora dos círculos<br />
operários, principalmente no que diz respeito à arte.<br />
E, a partir <strong>de</strong> 1915-1916, as críticas feitas à cultura burguesa, como parâmetro<br />
medindo a evolução da cultura proletária mostram um <strong>de</strong>sconhecimento cada<br />
vez maior do objeto criticado.<br />
A impermeabilida<strong>de</strong> é mútua. Sem tomar conhecimento do <strong>teatro</strong> profissio<strong>na</strong>l.<br />
os grupos operários não se interessam pela captação <strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> público.<br />
(Ao que se sabe o único profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> <strong>teatro</strong> que chegou a freqúentar o <strong>teatro</strong><br />
operário foi Oduvaldo Vian<strong>na</strong>, em períodos mais recentes. Assim mesmo, o<br />
texto representado no dia era uma obra <strong>de</strong> Afonso Schmidt.) E. <strong>na</strong>tural portanto,<br />
que o <strong>teatro</strong> profissio<strong>na</strong>l em <strong>na</strong>da se tenha beneficiado <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> amadorismo<br />
(mesmo no Rio <strong>de</strong> Janeiro, os únicos nomes que mais tar<strong>de</strong> se tor<strong>na</strong>rão<br />
conhecidos do público foram os <strong>de</strong> Augusto Aníbal e Davi<strong>na</strong> Fraga).<br />
Além do <strong>de</strong>sprezo programático pela cultura burguesa, o isolamento tem também<br />
uma causalida<strong>de</strong> imediata <strong>na</strong>s condições <strong>de</strong> vida do proletariado.<br />
Como um trabalho <strong>de</strong> propanganda, exige-se do participante, mais do que gosto<br />
ou inspiração, uma total <strong>de</strong>dicação.<br />
Em geral a boa qualida<strong>de</strong> é resultado da repetição e dos múltiplos ensalos. Qs<br />
espetáculos mal sucedidos são comentados como um produto da falta <strong>de</strong> ensaio,<br />
do não comparecimento, etc.