Missão: Mudar o Mundo! - Mundo Universitário
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11 ABRIL 2005<br />
| 11<br />
[ ídolos ]<br />
Competição. Ainda por cima o meu curso é<br />
muito técnico [Fisioterapia] e para poder treinar<br />
de manhã e à tarde não posso ir às aulas.<br />
O primeiro semestre correu bem, este nem<br />
por isso, mas vou fazendo. Tudo em casa.<br />
É a única solução.<br />
MU | Gostava de exercer Fisioterapia?<br />
NG | Sim, gosto muito do curso. Também está<br />
ligado ao desporto e um dia quando terminar<br />
a minha carreira quero poder viajar com<br />
jovens talentos e ir aos Jogos Olímpicos<br />
como fisioterapeuta.<br />
| Confusão de Ouro |<br />
MU | Por que é que optou por competir no<br />
Europeu de pista coberta em Madrid com<br />
o salto em comprimento, em vez do pentatlo?<br />
NG | Porque a época passada foi extremamente<br />
forte. Fui Campeã do <strong>Mundo</strong> em pista<br />
coberta [ver caixa], depois ainda me preparei<br />
para os Jogos Olímpicos com várias<br />
lesões pelo meio. Estive em risco de não participar,<br />
mas acabei por ir embora muito saturada<br />
psicologicamente… pensava que não<br />
conseguia fazer duas competições tão altas<br />
de seguida. E como tinha problemas no joelho,<br />
e ainda tenho, era impossível estar a saltar<br />
em altura. Por exemplo, só anteontem voltei<br />
a fazê-lo, há cinco meses que não fazia.<br />
Por isso foi uma opção minha e do meu treinador.<br />
Mas só treinei mesmo para o salto em<br />
comprimento para aí 17 dias antes da competição.<br />
MU | Pensa-se na vitória quando se vai<br />
competir tão alto?<br />
NG | Eu estava muito bem. Não gosto de<br />
dizer (nem que as pessoas digam) que vou<br />
para uma medalha, porque no desporto<br />
não se pode dizer isso, mas o meu treinador<br />
estava muito confiante. Dizia-me<br />
mesmo, ‘Naide tu vais para uma medalha’.<br />
E eu dizia-lhe para não sonhar tão alto,<br />
mas estava muito forte psicologicamente<br />
e isso ajuda muito. Fui para a competição<br />
como vou para qualquer uma, para vencer,<br />
para dar o meu melhor e tive sorte também.<br />
MU | Como é que se treina essa parte psicológica?<br />
NG | Faço esse trabalho quando treino,<br />
penso nos aspectos positivos e negativos...<br />
Por exemplo, nos Jogos de Atenas [2004]<br />
falhei na minha disciplina mais forte, o salto<br />
em comprimento. Isso foi um pretexto para<br />
pensar que agora isso não podia voltar a<br />
acontecer, tinha que dar tudo por tudo para<br />
ultrapassar aquele mau momento. É uma<br />
coisa que vem de dentro de mim, sou muito<br />
forte psicologicamente. Mas claro que às<br />
vezes não acontece isso, por causa do cansaço<br />
e de estar aqui todos os dias: Saturamo-nos<br />
um bocado. E aí entra o treinador a<br />
apoiar e a motivar.<br />
MU | O que é que a alemã lhe disse depois<br />
do salto?<br />
NG | Ela teve umfair-play incrível. Eu se tivesse<br />
no lugar dela também teria tido de certeza,<br />
porque injustiças no desporto é que não.<br />
E ela, mais do que ninguém, sentiu isso e<br />
disse-me ‘está descansada porque eu nunca<br />
iria saltar aquilo. Eu treino todos os dias e sei<br />
que é difícil melhorar 33 cm num dia’. Ainda<br />
me faltava fazer um salto e fiquei completamente<br />
desconcentrada e foi o que foi. As coisas<br />
acabaram bem, não tanto para ela, porque<br />
se calhar podia ter chegado a medalha<br />
de prata e, no entanto, não lhe foi atribuída<br />
nenhuma marca. Foi uma injustiça motivada<br />
por um erro humano... o juiz estava desconcentrado.<br />
MU | Nos Olímpicos de Sydney, em 2000,<br />
ainda representou a selecção de São<br />
Tomé. Como é que se sente por já ter<br />
representado dois países a tão alto nível?<br />
NG | Sinto-me uma sortuda. Representei o<br />
meu país de origem, que adoro e está no<br />
meu coração. E Portugal que, como costumo<br />
dizer, é o país que me viu nascer para<br />
o atletismo. Sou um produto da forma de<br />
treino portuguesa. Acabei por adoptar a<br />
nacionalidade portuguesa porque quero<br />
acabar o meu curso, viver cá, ter a minha<br />
casa, casar, ter os meus filhos… é o país<br />
que escolhi como meu. Tenho os dois países<br />
no meu coração, não posso renegar<br />
nem um nem outro.<br />
| Metas à campeão |<br />
MU | Metas a curto prazo?<br />
NG | Melhorar ao máximo naquilo que<br />
tenho mais dificuldades e aperfeiçoar<br />
cada vez mais aquilo em que sou boa.<br />
Se conseguir estar no meu melhor nível,<br />
pode ser que me supere a mim mesma<br />
nos grandes campeonatos. Porque o<br />
meu objectivo é o Campeonato do<br />
<strong>Mundo</strong> de Helsínquia [ainda este ano].<br />
MU | Quais os aspectos em que sente<br />
que tem que melhorar mais?<br />
NG | São disciplinas nas quais não sou<br />
muito forte e nas quais tenho que trabalhar<br />
muito para não perder muitos<br />
pontos em relação às outras. É o dardo<br />
e os 200 metros. Se fosse competir no<br />
pentatlo, como não tem essas duas, era<br />
mais fácil. Mas no heptatlo as coisas<br />
complicam-se, por isso tenho de trabalhar<br />
mais.<br />
MU | Já pensou em optar só por uma<br />
modalidade?<br />
NG | Não é fácil lutar para provas combinadas.<br />
Seria mais fácil optar só por<br />
uma disciplina. Só que isso torna-se<br />
monótono. Não iria correr, não iria fazer<br />
as séries... eu gosto disso. Só quando<br />
chego aos 800 metros é que volto a pensar<br />
em apostar só numa. Mas vou tentar<br />
o meu melhor nos saltos, em altura<br />
e comprimento, se conseguir saltar<br />
6,70m num heptatlo é muito ponto e<br />
compensa as outras disciplinas…<br />
MU | Como é que os portugueses<br />
receberam a campeã Naide?<br />
NG | Receberam-me muito bem.<br />
A Medalha teve um impacto muito<br />
grande. Fui ao Jardim Zoológico e os<br />
miúdos pequeninos sabiam quem eu<br />
era (risos). Foi fantástico. As pessoas<br />
vêm ter comigo, pedem-me autógrafos.<br />
Nunca recebi tantos Parabéns na<br />
minha vida. Até em Espanha. Estive na<br />
Serra Nevada no fim-de-semana passado<br />
e pensei ‘aqui estou óptima, ninguém<br />
me vai conhecer!’. No entanto,<br />
estava a passar na rua e ouvi alguém<br />
a chamar-me e bater palmas, ‘És a<br />
nossa campeã!’