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Assistência de enfermagem ao paciente submetido à ... - Ucg

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Assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>ao</strong> <strong>paciente</strong> <strong>submetido</strong> à transplante<br />

cardíaco: revisão <strong>de</strong> literatura<br />

Resumo<br />

ÁLVARO PEREIRA DA SILVA JÚNIOR*<br />

MARIA MADALENA DEL DUQUI LEMES**<br />

RAICA CRISTINE ALVES ARANTES*<br />

O presente estudo trata-se <strong>de</strong> uma revisão <strong>de</strong> literatura, sobre o tema transplante cardíaco,<br />

objetivando i<strong>de</strong>ntificar artigos científicos publicados pela <strong>enfermagem</strong> num período <strong>de</strong> 1966 à<br />

2004. Para isto foi realizado um levantamento bibliográfico <strong>de</strong> periódicos in<strong>de</strong>xados nos sistemas<br />

MEDLINE, LILACS e BDENF, que resultou em cinco artigos. Tendo o texto sido elaborado a<br />

partir <strong>de</strong>sses artigos consta no mesmo: <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> transplante cardíaco, objetivo do transplante,<br />

seleção do receptor, seleção do doador, técnica operatória, imunossupressão, assistência <strong>de</strong><br />

<strong>enfermagem</strong> e um estudo <strong>de</strong> caso no pós-operatório.<br />

Unitermos: Transplante cardíaco, assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<br />

*Alunos do 10º período do curso <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> da Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Goiás. Trabalho<br />

<strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monografia, revisão <strong>de</strong> literatura.<br />

**Mestre em Enfermagem pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. Enfermeira. Professora<br />

efetiva do curso <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> da Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Goiás.<br />

1


1-INTRODUÇÃO<br />

“Há homens que lutam por um dia e são bons.<br />

Há homens que lutam um ano e são melhores.<br />

Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons.<br />

Porém, há os que lutam por toda vida.<br />

Estes são imprescindíveis. ”<br />

Bertold Brecht<br />

O transplante cardíaco é uma modalida<strong>de</strong> terapêutica que possibilita a reversão <strong>de</strong> uma<br />

patologia grave <strong>de</strong> um <strong>paciente</strong> com doença cardíaca, utilizada quando não há mais nenhum tipo <strong>de</strong><br />

tratamento disponível. As indicações mais comuns, segundo o registro da Socieda<strong>de</strong> Internacional<br />

<strong>de</strong> Transplante (1998), são a cardiopatia isquêmica 1 com 50,6%; as miocardiopatias 2 com 40,9%;<br />

outros tipos <strong>de</strong> doenças cardíacas, 5,3%; e retransplante, 3,2%. Os <strong>paciente</strong>s com cardiopatia<br />

chagásica também são <strong>submetido</strong>s a transplante cardíaco, com bons resultados. O transplante<br />

cardíaco, atualmente, tem como objetivo, não apenas promover a sobrevivência <strong>de</strong> um <strong>paciente</strong> com<br />

enfermida<strong>de</strong> cardíaca avançada, mas proporcionar melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para o mesmo,<br />

vislumbrando o resultado positivo e o sucesso do próprio transplante (PORTO, 1998).<br />

Os <strong>paciente</strong>s que têm indicação para transplante cardíaco são, na maioria das vezes,<br />

portadores <strong>de</strong> uma doença crônica <strong>de</strong> evolução progressiva e irreversível com internações<br />

repetitivas <strong>de</strong> urgência <strong>de</strong>vido a graves e recorrentes complicações da doença <strong>de</strong> base. De modo<br />

geral, os <strong>paciente</strong>s apresentam um conjunto <strong>de</strong> características complexas, que envolvem aspectos<br />

biológicos, psicológicos, sociais e econômicos (GILLIAM, 1991).<br />

A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o <strong>paciente</strong> ser <strong>submetido</strong> a um transplante po<strong>de</strong> suscitar reações<br />

contraditórias, como fascínio e inquietação. O fascínio <strong>de</strong>corre da perspectiva <strong>de</strong> vida que o<br />

transplante proporcionará as pessoas ameaçadas pela falência do coração; bem como da<br />

mobilização <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> que se forma com apoio <strong>de</strong> tecnologias<br />

1 Cardiopatia isquêmica: caracteriza-se por uma oxigenação tecidual insuficiente (PORTO, 1998).<br />

2 Miocardiopatias: doença cardíaca <strong>de</strong> etiologia <strong>de</strong>sconhecida (PORTO, 1998).<br />

2


inovadoras. A inquietação ocorre porque a transferência <strong>de</strong> um órgão ou tecido, com maior<br />

freqüência obtida <strong>de</strong> um indivíduo com morte encefálica, proporciona o confronto <strong>de</strong> imagem <strong>de</strong><br />

nossa própria morte (Arquivos Brasileiros <strong>de</strong> Cardiologia, 1996). Contudo, a pessoa a ser submetida<br />

a um transplante <strong>de</strong>ve levar em consi<strong>de</strong>ração a mudança que este método proporcionará em sua<br />

vida, reinserindo-a no convívio social e reestruturando sua vida econômica com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

voltar a exercer as mesmas funções que antes do adoecer (GILLIAM, 1991).<br />

Os candidatos a transplante têm uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida ruim e vivem na perspectiva <strong>de</strong><br />

morte iminente. A inclusão <strong>de</strong>les em uma lista <strong>de</strong> espera para realização do transplante representa a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver e <strong>de</strong> voltar a ter uma vida normal (MASSAROLLO & KURCGANT, 2000).<br />

Acompanhando o histórico dos transplantes cardíacos vemos a transformação do tabu <strong>de</strong><br />

ontem na alta rotina corretiva <strong>de</strong> hoje. Des<strong>de</strong> os primórdios, a humanida<strong>de</strong> luta para ver seus sonhos<br />

se tornarem realida<strong>de</strong>. Lutas <strong>de</strong>scritas em lendas e relatos históricos. E foi assim, sonhando com a<br />

longevida<strong>de</strong> e melhores condições <strong>de</strong> vida que diversos pesquisadores se empenharam na prática do<br />

transplante, termo utilizado pela primeira vez por John Hunter em 1778, no qual ele <strong>de</strong>screvia<br />

experimentos com enxertos ovarianos e testiculares em animais não relacionados (PEREIRA,<br />

1996).<br />

Os alotransplantes 3<br />

ósseos foram <strong>de</strong>senvolvidos à partir dos trabalhos <strong>de</strong> MacEwen em<br />

1881, e os transplantes <strong>de</strong> córnea iniciaram-se com Zirm em 1905. No mesmo ano Alex Carrel e<br />

Charles Guthrie, trabalhando na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago-EUA, <strong>de</strong>senvolveram ensaios<br />

experimentais com objetivo <strong>de</strong> estudar técnicas diferentes <strong>de</strong> anastomoses 4<br />

vasculares, o que<br />

influenciou na evolução da cirurgia <strong>de</strong> tórax. Segundo Castiglioni, em 1941, na tradução inglesa da<br />

Gran<strong>de</strong> História da Medicina (1941), foi ressaltado o fato <strong>de</strong> que “com exceção da drenagem <strong>de</strong><br />

empiema e <strong>de</strong> abcesso pulmonar, a cirurgia torácica encontrava-se muito atrasada em relação às<br />

outras áreas do corpo”, o que se agravava quando se cogitava a idéia <strong>de</strong> intervenções sobre o<br />

3 Alotransplante: técnica <strong>de</strong> transplante em que se utiliza órgão <strong>de</strong> animais da mesma espécie.<br />

4 Anastomose: união <strong>de</strong> duas partes (sutura).<br />

3


coração, seja por dificulda<strong>de</strong>s técnicas ou pela significação do órgão como estrutura intocável na<br />

constituição físico-espiritual do corpo (Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cardiologia do Estado <strong>de</strong> São Paulo, 1996). Os<br />

referidos estudos culminaram com o primeiro transplante cardíaco heterotópico 5 , oferecendo<br />

importantes informações na época com a possibilida<strong>de</strong> do coração ser retirado <strong>de</strong> um animal, tolerar<br />

um período <strong>de</strong> anóxia e readquirir seus batimentos, <strong>de</strong> forma eficiente, após seu reimplante em<br />

outro animal (PEREIRA, 1996).<br />

Em 1933 Frank Man, na Mayo Clinic, obteve sobrevida dos enxertos <strong>de</strong> até oito dias através<br />

<strong>de</strong> modificações na técnica <strong>de</strong> implante heterotópico do coração. Ele <strong>de</strong>cidiu anastomosar as<br />

extremida<strong>de</strong>s seccionadas da artéria carótida e da veia jugular do animal receptor na <strong>ao</strong>rta e na veia<br />

pulmonar do coração implantado. Após a morte do receptor, pô<strong>de</strong> constatar a falência do coração<br />

associada às alterações anatomopatológicas (NESRALLA et al 1994) que, posteriormente, viriam a<br />

ser constatadas no final da década <strong>de</strong> 40 no século XX, por Simonsen e Dempster através <strong>de</strong> estudos<br />

<strong>de</strong> alotransplantes renais em cães. Descobria-se, então, um fator chamado rejeição, e que é <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> relevância nos transplantes. Outro fator era o <strong>de</strong> não se utilizar circulação extracorpórea ou<br />

hipotermia e que os conhecimentos sobre preservação miocárdica eram rudimentares (PEREIRA,<br />

1996).<br />

Com o advento da circulação extracorpórea, Webb e Howard, entre 1957 e 1959 realizaram<br />

transplantes cardíacos ortotópicos 6 , com limitado sucesso. Em 1958 Berman e Goldberg utilizaram<br />

uma técnica <strong>de</strong> transplante ortotópico, conservando uma parte do átrio esquerdo do receptor, o que<br />

eliminou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se anastomosar individualmente as veias pulmonares; ainda assim, as<br />

veias cavas eram ligadas com tubos <strong>de</strong> plásticos. Em 1959, Cass e Brock e, mais tar<strong>de</strong>, Lower e<br />

Sumway <strong>de</strong>screveram a técnica <strong>de</strong> transplante cardíaco ortotópico utilizada até hoje, em que um<br />

segmento <strong>de</strong> ambos os átrios do receptor é mantido e suturado <strong>ao</strong> coração do doador. Já em sua fase<br />

inicial, o trabalho experimental <strong>de</strong> Lower e Shumway possibilitou a sobrevida dos animais por<br />

5 Transplante heterotópico: o coração do doador é colocado <strong>ao</strong> lado do coração do receptor (PORTO, 1998).<br />

6 Transplante ortotópico: o coração do receptor é retirado e substituído pelo coração do doador (PORT O, 1998).<br />

4


períodos <strong>de</strong> 6 a 21 dias, associando a técnica <strong>de</strong> preservação do coração pela imersão<br />

em soro gelado no período <strong>de</strong> implante. A qualida<strong>de</strong> dos resultados com animais mostraram a<br />

recuperação satisfatória até 24 horas antes da morte, sendo este evento um importante estímulo para<br />

o uso clínico do transplante cardíaco (NESRALLA, SANT’ANNA, 1994).<br />

Em seres humanos, os primeiros passos foram dados por James Hardy em 1964, quando<br />

empregaram o coração <strong>de</strong> um macaco em um <strong>paciente</strong> portador <strong>de</strong> insuficiência cardíaca acentuada.<br />

Equipes responsáveis pela retirada e implante do coração foram se organizando, mas o maior<br />

problema permanecia na i<strong>de</strong>ntificação do período exato em que o receptor se encontrava em estado<br />

terminal. A falta <strong>de</strong> amparo legal para retirada do coração do doador antes que este cessasse os<br />

batimentos também dificultava a operação. A <strong>de</strong>speito do sucesso técnico, o <strong>paciente</strong> faleceu após<br />

algumas horas <strong>de</strong>vido <strong>ao</strong> seu estado clínico e <strong>ao</strong> pequeno tamanho do coração do doador; porém,<br />

esta operação <strong>de</strong>monstrou, do ponto <strong>de</strong> vista científico, a sua exeqüibilida<strong>de</strong> em humanos<br />

(SOCESP, 1996).<br />

O primeiro transplante cardíaco com sucesso ocorreu em 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1967, realizado<br />

por Cristian Barnard, na África do Sul. O <strong>paciente</strong> apresentou boa evolução clínica inicial e faleceu<br />

após 18 dias <strong>de</strong> pneumonia. Este fato abriu perspectiva real no arsenal terapêutico, <strong>de</strong>spertando<br />

interesse em vários centros <strong>de</strong> cirurgia cardíaca no mundo (SOCESP, 1996). Resultados<br />

insatisfatórios foram <strong>de</strong>scritos <strong>de</strong>vido a episódios <strong>de</strong> infecção e principalmente rejeição que<br />

<strong>de</strong>terminaram a pouca continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns centros. Este entusiasmo inicial pelo novo método foi<br />

responsável pela realização <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 102 transplantes até o final <strong>de</strong> 1968 (NESRALLA,<br />

SANT’ANNA, 1994).<br />

Na década <strong>de</strong> 70 no século XX, com uma quantida<strong>de</strong> reduzida <strong>de</strong> centros, a persistência do<br />

grupo Stanford, dos EUA, ofereceu importantes contribuições para o transplante cardíaco, como o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da biópsia endomiocárdica 7 e a monitorização imunológica. Durante este período<br />

7 Biopsia endomiocárdica: exame que tem por finalida<strong>de</strong> observar condições do coração transplantado (PORTO, 1998).<br />

5


eram realizados cerca <strong>de</strong> 50 transplantes por ano, em que a maioria encontrava-se sob a<br />

responsabilida<strong>de</strong> daquele grupo. O ano <strong>de</strong> 1976 foi marcado pela utilização <strong>de</strong> uma nova droga<br />

imunossupressora, a ciclosporina, que foi <strong>de</strong>senvolvida por Borel e cols., na Basiléia (SOCESP,<br />

1996).<br />

A ciclosporina revolucionou os transplantes clínicos em todo o mundo, não somente em<br />

termos <strong>de</strong> aumentar o número <strong>de</strong> transplantes, mas também o índice <strong>de</strong> sobrevida e o encorajamento<br />

da socieda<strong>de</strong> em relação <strong>ao</strong>s mesmos. Porém, a ciclosporina só foi introduzida na prática clínica em<br />

1980, o que levou o ressurgimento do interesse pelos transplantes, multiplicação progressiva das<br />

operações realizadas e a melhoria dos resultados. Registros da International Society of Heart and<br />

Lung Transplantation <strong>de</strong>monstram que até 1994 cerca <strong>de</strong> 30 mil transplantes haviam sido realizados<br />

em todo mundo, sendo que 3.500 neste último ano. Enquanto somente no ano <strong>de</strong> 1995<br />

foram realizados cerca <strong>de</strong> 4.326 transplantes em 271 centros (SOCESP, 1996).<br />

Nos Estados Unidos são realizados cerca <strong>de</strong> 24 transplantes anuais por milhão <strong>de</strong> habitante,<br />

e em nosso meio, esses valores não exce<strong>de</strong>m a um. Estima-se que não mais <strong>de</strong> 30% dos <strong>paciente</strong>s<br />

que ingressam na lista <strong>de</strong> espera sejam operados e os <strong>de</strong>mais acabam falecendo. Alguns fatores<br />

contribuem para este baixo índice <strong>de</strong> transplantes realizados: a falta <strong>de</strong> órgãos; o número reduzido<br />

<strong>de</strong> centros que realizam transplantes; o retardo do encaminhamento <strong>de</strong> <strong>paciente</strong>s portadores <strong>de</strong><br />

cardiomiopatia terminal e a falta <strong>de</strong> profissionais qualificados em todas as etapas do processo, com<br />

<strong>de</strong>staque para a falta <strong>de</strong> capacitação do profissional enfermeiro (SOCESP, 1996).<br />

No Brasil, on<strong>de</strong> procedimentos cirúrgicos não eram realizados até fins do século XIX, o<br />

médico Zerbini, chefiando um grupo do Hospital das Clínicas da FMUS, realizou o primeiro<br />

transplante cardíaco da América Latina, em 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1968. No Instituto do Coração, da<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, o INCOR, o programa <strong>de</strong> transplante foi<br />

reiniciado, após algum tempo <strong>de</strong> paralisação em 12 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1985. Até agosto <strong>de</strong> 1995, em 14<br />

centros foram realizados 600 transplantes, sendo 70% em São Paulo (SOCESP, 1996).<br />

6


Dados da Associação Brasileira <strong>de</strong> Transplantes <strong>de</strong> Órgãos (ABTO) <strong>de</strong>monstram que os<br />

transplantes têm aumentado, apesar do gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> pessoas na fila para receber um “novo<br />

coração” (SOCESP, 1996). No ano <strong>de</strong> 1995 foram realizados 82 transplantes cardíacos; em 1996,<br />

89 procedimentos; em 1997, 77 transplantes; no ano <strong>de</strong> 1998, 92 procedimentos; em 1999, 110<br />

transplantes; em 2000, 119; em 2001, foram 127 procedimentos; e, em 2002, 146 transplantes.<br />

Dentre todos os problemas abordados, há que se dar ênfase a falta <strong>de</strong> capacitação do<br />

profissional enfermeiro para atuar nesta área, tendo em vista a expansão <strong>de</strong>ste tratamento no Brasil<br />

e no mundo. Acreditamos que na gran<strong>de</strong> maioria das universida<strong>de</strong>s este assunto não é abordado,<br />

observando uma verda<strong>de</strong>ira omissão no que diz respeito <strong>ao</strong> tema transplante cardíaco para os<br />

enfermeiros, o que não condiz com a importância que este profissional adquiri <strong>de</strong>ntro do grupo<br />

multiprofissional.<br />

Esperamos com esta produção <strong>de</strong>spertar o interesse <strong>de</strong> profissionais e acadêmicos pelo<br />

assunto abordado e contribuir para a reflexão dos mesmos sobre a produção <strong>de</strong> artigos científicos<br />

publicados pela <strong>enfermagem</strong> sobre transplante cardíaco. Para isto, optamos por fazer uma revisão<br />

da literatura, pois é o melhor método <strong>de</strong> apresentar o que foi publicado e conscientizar a todos <strong>de</strong>sta<br />

<strong>de</strong>ficiência que se reflete na falta <strong>de</strong> qualificação dos enfermeiros nesta área. Todos esses aspectos e<br />

problemas engran<strong>de</strong>cem esta pesquisa, que será <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, não apenas para nós<br />

profissionais, mas para todos aqueles que também amam “os segredos do coração”.<br />

7


2-TRAZENDO OS DADOS ENCONTRADOS<br />

Ao fazermos a busca <strong>de</strong>sse assunto no banco <strong>de</strong> dados MEDLINE foi possível i<strong>de</strong>ntificar<br />

alguns dados numéricos que julgamos interessantes e os apresentaremos a seguir.<br />

No período <strong>de</strong> 1966 a 1992, 26 anos <strong>de</strong> publicação, encontramos 127 artigos.<br />

Local Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Artigos Local Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Artigos<br />

EUA 61 Dinamarca 02<br />

Inglaterra 17 Suécia 02<br />

Alemanha O. 07 Espanha 02<br />

França 06 Taiwan 01<br />

África Sul 06 Áustria 01<br />

Canadá 05 N. Zelândia 01<br />

Itália 03 Alemanha 01<br />

Suíça 02 Irlanda 01<br />

Japão 02 Austrália 01<br />

Portugal 02 Brasil 01<br />

Índia 02 Polônia 01<br />

Fonte: MEDLINE, 2004.<br />

8


No período <strong>de</strong> 1993 a 2004, 10 anos <strong>de</strong> publicação, encontramos 70 artigos.<br />

Local<br />

Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Artigos<br />

EUA 55<br />

Inglaterra 11<br />

França 02<br />

Alemanha 01<br />

Espanha 02<br />

Fonte: MEDLINE, 2004.<br />

O estudo é <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>scritivo, que segundo GAMBOA (1999), visa <strong>de</strong>screver as<br />

características conhecidas ou componentes do fato, fenômeno ou representação. Sua realização foi<br />

baseada em levantamento bibliográfico <strong>de</strong> periódicos in<strong>de</strong>xados nos sistemas MEDLINE, LILACS<br />

e BDENF com data <strong>de</strong> publicação entre os anos <strong>de</strong> 1966 a 2004. Estas bases <strong>de</strong> dados foram<br />

escolhidas por serem as mais comumente usadas pelos profissionais da saú<strong>de</strong> para levantamento<br />

bibliográfico. Para tanto foram usados os seguintes <strong>de</strong>scritores: Transplante Cardíaco em<br />

Enfermagem, Assistência <strong>de</strong> Enfermagem em Transplante Cardíaco.<br />

A princípio foram selecionados 13 artigos que apresentavam uma associação com o tema<br />

pesquisado e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser mais facilmente traduzidos. Deste total foram selecionados 12<br />

artigos que foram solicitados a BIREME. Parte dos artigos solicitados não foram recebidos porque<br />

embora estivessem in<strong>de</strong>xados nas bases <strong>de</strong> dados pesquisadas, não haviam cópias dos mesmos nas<br />

bibliotecas ligadas a BIREME, o que reduziu a amostra <strong>de</strong>ste estudo a um total <strong>de</strong> 5 artigos<br />

apresentados a seguir.<br />

9


Artigos recebidos pela biblioteca virtual ligada à BIREME.<br />

Local Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Artigos Ano da Publicação Base <strong>de</strong> Dados<br />

Espanha 02 1985 / 1998 MEDLINE<br />

Brasil 03 1968 / 1987 / 1989 MEDLINE / BDENF<br />

Fonte: MEDLINE e BDENF, 2004.<br />

O texto foi elaborado à partir dos conteúdos contidos nos artigos. Assim, foi possível<br />

i<strong>de</strong>ntificar <strong>de</strong>finição, objetivo, seleção do receptor, seleção do doador, técnica operatória,<br />

imunossupressão, assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em relação <strong>ao</strong> transplante cardíaco e um estudo <strong>de</strong><br />

caso no pós-operatório.<br />

2.1 Definição <strong>de</strong> transplante cardíaco:<br />

O transplante cardíaco constitui uma modalida<strong>de</strong> terapêutica comprovada em <strong>paciente</strong>s<br />

cardiopatas na fase terminal. O músculo cardíaco está totalmente <strong>de</strong>generado e todos os sistemas<br />

em ótimas condições <strong>de</strong> funcionamento (MATOS, GUIMARÃES, VIDGAL, SANTOS, 1989).<br />

Atualmente o transplante cardíaco é a melhor opção terapêutica para muitos <strong>paciente</strong>s com<br />

falha cardíaca terminal. O êxito do transplante, se <strong>de</strong>ve <strong>ao</strong> importante <strong>de</strong>senrolar dos últimos anos<br />

do tratamento imunossupressor e antiinfeccioso, métodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> rejeição, a<strong>de</strong>quada<br />

preservação do órgão, correta seleção do receptor e dos cuidados pós-operatórios. Estes cuidados,<br />

que em geral se assemelham <strong>ao</strong>s do <strong>paciente</strong> <strong>submetido</strong> a cirurgia cardíaca, apresentam aspectos<br />

específicos relacionados com o funcionamento do enxerto, reconhecimento e tratamento da<br />

rejeição, prevenção e vigilância da infecção e atenção psicológica do <strong>paciente</strong> (CASADO,<br />

CHAVARREN, SANCHO, COSCOJUELA, ERRO, 1998).<br />

10


2.2 Objetivo do transplante cardíaco:<br />

Prolongar a vida do <strong>paciente</strong>, atentando para que a qualida<strong>de</strong> da mesma seja a melhor<br />

possível (SOTO, ORTEGA, PEÑA, 1985).<br />

2.3 Seleção do doador:<br />

Este <strong>de</strong>ve incidir sobre pessoa jovem, que tenha sofrido morte violenta por traumatismo,<br />

como por exemplo, traumatismo cerebral (FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968).<br />

Confirmada a hipótese <strong>de</strong> tal <strong>paciente</strong> vir a ser um doador, ele é assistido por um grupo <strong>de</strong><br />

especialistas: neurocirurgião, cardiologista, eletroencefalografista e imunologista. Levado a uma<br />

sala previamente equipada e livre <strong>de</strong> contaminação, ele é mantido com antibióticos, respiração<br />

artificial e controlada pelo eletroencefalograma (EEG) e eletrocardiograma (ECG), enquanto<br />

providências ético-legais são tomadas junto à família, a fim <strong>de</strong> possibilitar a doação do órgão<br />

(FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968).<br />

Os autores acima referem que nesta fase, é <strong>de</strong> maior importância o trabalho do imunologista,<br />

que aplica os testes para <strong>de</strong>terminar a compatibilida<strong>de</strong> sanguínea e histológica. O prognóstico fechase<br />

quando é confirmada a contusão do tronco cerebral irreversível, midríase paralítica e arreflexia<br />

periférica.<br />

O conceito <strong>de</strong> morte que norteou os trabalhos do professor Cristian Barnard caracterizava-se<br />

pela paralisação do sistema nervoso central, pela ausência completa <strong>de</strong> reflexos; incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

respirar, exceto com respiração artificial assistida, pela ausência <strong>de</strong> função do centro respiratório e<br />

parada cardíaca total durante cinco minutos. Além <strong>de</strong>sses conceitos o Hospital das Clínicas <strong>de</strong> São<br />

Paulo acrescentava o controle do EEG e ECG. Do ponto <strong>de</strong> vista eletroencefalográfico é necessário<br />

que o <strong>paciente</strong> apresente linhas isoelétricas cerebrais em todas as <strong>de</strong>rivações durante <strong>de</strong>z minutos,<br />

após iniciadas as manobras <strong>de</strong> estimulação dolorosas, auditivas e luminosas (FERRARINI,<br />

MULLER, MELLO, 1968). Negativas todas essas respostas do sistema nervoso central e<br />

11


sobrevindo a parada do coração, a morte é configurada sob o ponto <strong>de</strong> vista da ética médica e da<br />

moral (FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968).<br />

2.4 Seleção do receptor:<br />

O transplante <strong>de</strong> coração é indicado no caso <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> irreversível do coração, <strong>de</strong><br />

bombear o sangue para o organismo, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> fibrose com alterações miocárdicas globais. São<br />

insuficiências cardíacas recentes, progressivas, que evoluem para o óbito, por <strong>de</strong>bito cardíaco baixo.<br />

Sendo quatro as indicações para o transplante: miocardia idiopática ou por vírus, na qual as lesões<br />

são exclusivas do coração, a evolução e progressiva e refratária a qualquer tratamento clínico<br />

convencional; lesões congênitas complexas; ateriosclerose coronariana e moléstia <strong>de</strong> Chagas<br />

(FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968).<br />

Depois <strong>de</strong> estudado o caso do receptor e concluído o protocolo médico das provas <strong>de</strong><br />

laboratório, teste psicológico e valores diagnósticos, se proce<strong>de</strong>rá a orientação do <strong>paciente</strong> e sua<br />

família, fazendo-lhes saber da irrevogabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>cisão e dos riscos que esta intervenção<br />

cirúrgica comporta (SOTO, ORTEGA, PEÑA, 1985). Entre os riscos e complicações pósoperatórias<br />

a serem esclarecidas <strong>de</strong>staca-se a hepatoxida<strong>de</strong>, nefrotoxicida<strong>de</strong> e infecções (MATOS,<br />

GUIMARÃES, VIDGAL, SANTOS, 1989).<br />

O preparo do receptor <strong>de</strong>ve ser planejado e executado por uma equipe que inclui o<br />

cardiologista, o cirurgião, a <strong>enfermagem</strong> e especialistas tais como: imunologista, psiquiatra e<br />

psicólogo. O <strong>paciente</strong> <strong>de</strong>ve estar preparado física e psicologicamente para o transplante e <strong>de</strong>ve<br />

firmar um documento legal, dando à entida<strong>de</strong> hospitalar a autorização <strong>de</strong> realizá-lo (FERRARINI,<br />

MULLER, MELLO, 1968).<br />

2.5 Imunossupressão:<br />

O emprego da ciclosporina a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1980 na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Stanford trouxe<br />

um novo impulso no <strong>de</strong>senvolvimento dos transplantes. Porem é <strong>de</strong> suma importância que o pessoal<br />

12


da <strong>enfermagem</strong> se familiarize com uma série <strong>de</strong> complicações que esta droga po<strong>de</strong>m causar,<br />

proporcionado uma melhor assistência (MILANEZ, ALMEIRÃO, 1987).<br />

Quando o coração é transplantado ocorrem uma série <strong>de</strong> reações imunológicas no receptor<br />

que passam a produzir um grupo <strong>de</strong> glicoproteínas chamadas interferons (IFNS) com proprieda<strong>de</strong>s<br />

antigênicas e biológicas distintas. Os IFNS estão divididos em três grupos: IFNS alfa que<br />

promovem a formação e multiplicação dos linfócitos, os IFNS beta ligados à formação <strong>de</strong><br />

fibroblasto, e os IFNS gama que modulam a intensida<strong>de</strong> do fenômeno imunitário (MILANEZ,<br />

ALMEIRÃO, 1987).<br />

Outra reação do hospe<strong>de</strong>iro <strong>ao</strong> coração transplantado é comandada pelos linfócitos,<br />

elementos geneticamente programados para respon<strong>de</strong>r <strong>ao</strong>s antígenos. Os linfócitos se originam na<br />

medula óssea e são programados <strong>de</strong> maneiras distintas: alguns passam pelo timo e se transformam<br />

em linfócitos T (LT) e os <strong>de</strong>mais serão linfócitos B (LB) (MILANEZ, ALMEIRÃO, 1987).<br />

Os LT responsável pela imunologia celular comanda o fenômeno da rejeição. O LB atua na<br />

ativida<strong>de</strong> humoral, formando os anticorpos. A ciclosporina tem ação especifica no LT, <strong>de</strong>ixando LB<br />

em condições <strong>de</strong> proteger o organismo contra agentes infecciosos. Isto associado <strong>ao</strong> fato <strong>de</strong> que<br />

com a ciclosporina se po<strong>de</strong> administrar doses menores <strong>de</strong> corticói<strong>de</strong>s, explica a maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

controlar a infecção com esta droga (MILANEZ, ALMEIRÃO, 1987).<br />

Os LT são dois tipos LT “Helper” (LTh) e LT “Supressor” (LTs). No transplante cardíaco o<br />

timo passa a produzir um terceiro tipo <strong>de</strong> LT, o linfócito citotóxico (LTc), que atua produzindo<br />

necrose miocítica. O LTh produz uma substância, a interleucina 2 (IL2), que é um fator <strong>de</strong><br />

crescimento e maturação dos LTc e LTs, responsáveis pelo episodio da rejeição. A ciclosporina atua<br />

impedindo a formação <strong>de</strong> IL2 e, em conseqüência, <strong>de</strong> LTc e LTs. Por esta razão, o surto <strong>de</strong> rejeição<br />

é mais facilmente tratado com ciclosporina, que possui ação especifica. Atua também sobre os<br />

macrófagos, reduzindo a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua resposta imunitária, mas resguardando suas funções <strong>de</strong><br />

fagocitose e ativida<strong>de</strong> na pré-coagulação do sangue.<br />

13


A ciclosporina produz necrose e trombose na pare<strong>de</strong> dos vasos, isto explica o efeito<br />

neutrotóico da droga e as lesões coronarianas encontradas em corações transplantados (MILANEZ,<br />

ALMEIRÃO, 1987).<br />

A perda da função renal durante as seis primeiras semanas é freqüente com uso da<br />

ciclosporina, assim como a retenção <strong>de</strong> fluídos, elevação da pressão diastólica e alteração tubular<br />

renal, mesmo apresentando todas essas complicações é incontestável a diminuição dos episódios <strong>de</strong><br />

rejeição que ela proporciona e o quanto torna estes episódios mais facilmente contornáveis<br />

(MILANEZ, ALMEIRÃO, 1987).<br />

2.5.1 Complicações da ciclosporina:<br />

O enfermeiro responsável pela unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transplante cardíaco <strong>de</strong>ve estar familiarizado com<br />

as diversas complicações que o <strong>paciente</strong> po<strong>de</strong>rá apresentar em função do uso da ciclosporina, o que<br />

viabilizara uma assistência mais eficaz. Dentre estas complicações <strong>de</strong>stacam-se a nefrotoxicida<strong>de</strong><br />

com aumento da creatinina e do nitrogênio uréico do sangue, menor secreção urinária <strong>de</strong> sódio,<br />

hipercalemia, oligúria pós –operatória, diminuição crônica na <strong>de</strong>puração da creatinina;<br />

hepatotoxicida<strong>de</strong> com aumento na fosfatase alcalina; neurotoxicida<strong>de</strong> produzindo distúrbios<br />

psiquiátricos, alucinações, tremores finos, crises convulsivas; hipertricose ocasionando <strong>de</strong>formação<br />

em crianças pequenas e mulheres; hiperplasia gengival por fibroplastia; trombose vascular com<br />

trombose glomerular, síndrome hemolítica-urêmica; distúrbios linfoproliferativos ocasionando<br />

linfomas não-Hodkin e sarcoma <strong>de</strong> Kaposi; hipertensão difícil <strong>de</strong> tratar <strong>de</strong>vido mecanismo exato<br />

<strong>de</strong>sconhecido; fibrose miocárdica do tipo microfibrilar <strong>de</strong> conseqüências incertas (MILANEZ,<br />

ALMEIRÃO, 1987).<br />

Apesar <strong>de</strong>ssas complicações o uso da ciclosporina aumentou a sobrevida dos <strong>paciente</strong>s e<br />

reduziu as complicações associadas <strong>ao</strong>s efeitos colaterais dos esterói<strong>de</strong>s, fazendo renascer em 1987<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> êxito dos transplantes (MILANEZ, ALMEIRÃO, 1987).<br />

14


2.5.2 Cuidados <strong>ao</strong> <strong>paciente</strong> imuno<strong>de</strong>primido:<br />

As drogas imunossupressoras são administradas <strong>de</strong> acordo com um protocolo estabelecido<br />

com as doses adaptadas à sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada <strong>paciente</strong>, porque o transplante, em conseqüência da<br />

patologia cardíaca, traz problemas hepáticos e renais que vão influenciar na dosagem dos<br />

medicamentos (MILANEZ, ALMEIRÃO, 1987).<br />

O tratamento da provável rejeição tem início antes da cirurgia com administração <strong>de</strong><br />

ciclosporina 18 mg/kg/dia, duas horas antes da cirurgia, por via oral e após a cirurgia 2 a 4<br />

mg/kg/dia, endovenosa em soro glicosado a 5%, até novamente recomeçar a via oral (MILANEZ;<br />

ALMEIRÃO, 1987).<br />

A administração <strong>de</strong> prednisona será por via oral e na primeira semana a dose será <strong>de</strong> 1<br />

mg/kg/dia, sendo reduzida, semanalmente, conforme as respostas dos <strong>paciente</strong>s à terapia. Se<br />

houverem episódios <strong>de</strong> rejeição serão usados esquemas especiais com o aumento da dose <strong>de</strong><br />

ciclosporina e da predinisona e introduzida a metil-prednisona 1g endovenosa, durante três dias,<br />

constituindo-se este esquema “a pulsoterapia” (MILANEZ; ALMEIRÃO, 1987).<br />

2.6 Técnica operatória:<br />

Verificado o óbito, o importante é manter o coração do doador em condições fisiológicas<br />

que possibilitem o transplante. Para isso são tomadas medidas como heparinização do cadáver e<br />

perfusão das artérias coronárias mantendo a circulação artificial com sangue normotérmico e<br />

oxigenado. Esta perfusão é feita através <strong>de</strong> um cateter introduzido no tronco bráquio-cefálico<br />

(FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968).<br />

A normoterapia apresenta vantagem por <strong>de</strong>terminar menor incidência <strong>de</strong> distúrbios do ritmo<br />

cardíaco após a implantação, tal como ocorreu no nosso caso <strong>de</strong> transplante, que dispensou o<br />

choque elétrico; o coração voltou a bater logo após a implantação em ritmo normal. Em<br />

contraposição, a normoterapia torna difícil a técnica <strong>de</strong> sutura, pois o coração fibrila todo o tempo e<br />

15


o campo operatório está sempre inundado pelo sangue que drena pelo seio coronário (FERRARINI,<br />

MULLER, MELLO, 1968).<br />

Feita a ressecção do coração do doador, a circulação coronária <strong>de</strong>ste coração é ligada à<br />

circulação extracorpórea do receptor, passando a fazer parte <strong>de</strong>ste embora ainda não implantado<br />

(FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968).<br />

O coração do receptor é retirado mantendo-se a parte superior das aurículas, septo, veias<br />

cavas superior e inferior e as quatro veias pulmonares (FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968).<br />

A sutura é feita seguindo a técnica <strong>de</strong> Shumway, modificada por Barnard, que mantém o nó<br />

sinusal do receptor para que o coração volte a bater em ritmo sinusal (FERRARINI, MULLER,<br />

MELLO, 1968).<br />

Realizadas as suturas do átrio esquerdo, septo inter-atrial e átrio direito, terminadas as<br />

anastomoses das artérias pulmonares e <strong>ao</strong>rta, são realizadas as manobras <strong>de</strong> retirada <strong>de</strong> ar das<br />

cavida<strong>de</strong>s cardíacas, culminando com a abertura da pinça da <strong>ao</strong>rta antes que a sutura <strong>de</strong>sse vaso<br />

esteja completa. Despinçada a <strong>ao</strong>rta, os batimentos cardíacos se restabelecem e o coração<br />

transplantado assume a propulsão da massa sanguinea do receptor (FERRARINI, MULLER,<br />

MELLO, 1968).<br />

2.7 Assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>:<br />

O preparo da equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> propicia condições <strong>ao</strong> grupo para agir com medidas<br />

a<strong>de</strong>quadas a cada situação e, sobretudo, nas solicitações <strong>de</strong> emergência (FERRARINI, MULLER,<br />

MELLO, 1968).<br />

2.7.1 Pré-operatório:<br />

A fase pré-operatória começa com a indicação do <strong>paciente</strong> como provável candidato do<br />

transplante. Po<strong>de</strong> se iniciar no serviço <strong>de</strong> cardiologia clínica com assistência permanente<br />

(FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968). Esta fase exige da equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> um trabalho<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> problemas que o <strong>paciente</strong> possa apresentar na sua admissão, quer na aceitação<br />

16


da hospitalização e aceitação do tratamento, quer na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> vários outros problemas <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m física e psicossocial (FERRARINI, MULLER, MELLO, 1968).<br />

Durante esse período, os <strong>paciente</strong>s são orientados sobre o tipo <strong>de</strong> intervenção cirúrgica a<br />

qual serão <strong>submetido</strong>s, tempo <strong>de</strong> permanência no centro <strong>de</strong> tratamento intensivo, uso <strong>de</strong> oxigênio,<br />

drenos e equipamentos especiais, cuidados corporais, prevenção <strong>de</strong> infecção, exercícios físicos,<br />

exercícios <strong>de</strong> respiração profunda e <strong>de</strong> tosse. Várias ativida<strong>de</strong>s recreativas po<strong>de</strong>m ser<br />

proporcionadas, assim como apoio psicossocioespiritual. É preciso ter paciência para que a pessoa<br />

exteriorize e explique todas suas dúvidas, preocupações e temores, ajudando-a a se expressar com<br />

confiança e tranqüilida<strong>de</strong> (MATOS, GUIMARÃES, VIDGAL, SANTOS, 1989; SOTO, ORTEGA,<br />

PEÑA, 1985).<br />

2.7.2 Pré-operatório imediato:<br />

Deve-se explicar <strong>ao</strong> <strong>paciente</strong> todos os procedimentos a serem realizado; fazer o<br />

esvaziamento intestinal conforme prescrição médica; orientar sobre o jejum; fazer tricotomia<br />

torácica, axilar, pubiana e <strong>de</strong> membros inferiores duas horas antes da cirurgia; encaminhar <strong>ao</strong> banho<br />

<strong>de</strong> aspersão e orientar sobre a importância da limpeza da pele com solução <strong>de</strong>germante e<br />

antisséptica; orientar sobre higiene oral; administrar a medicação imunossupressora conforme<br />

prescrição médica; administrar o pré-anestésico conforme prescrição médica; verificar os sinais<br />

vitais; registrar no prontuário os cuidados prestados e as observações <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> sobre o<br />

<strong>paciente</strong> naquele momento, e horário <strong>de</strong> encaminhamento à cirurgia; encaminhar o <strong>paciente</strong> <strong>ao</strong><br />

centro cirúrgico em maca previamente <strong>de</strong>sinfectada juntamente com o prontuário, o resultado <strong>de</strong><br />

exames laboratoriais e raio-X (MATOS, GUIMARÃES, VIDGAL, SANTOS, 1989).<br />

2.7.3 Pós-operatório:<br />

O <strong>paciente</strong> <strong>de</strong>verá permanecer em semi-isolamento durante um período <strong>de</strong> no mínimo oito a<br />

<strong>de</strong>z dias, <strong>de</strong>vido a imunossupresão, sendo necessário disponibilizar uma enfermaria que tenha<br />

17


características similares com a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento intensivo, <strong>de</strong>vendo a mesma ser individual<br />

(SOTO, ORTEGA, PEÑA, 1985).<br />

A assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> <strong>de</strong>ve ser especializada, estando o enfermeiro preparado para<br />

perceber precocemente sinais e sintomas <strong>de</strong> complicações através das reações do <strong>paciente</strong>, da leitura<br />

do gráfico do eletrocardiograma no monitore <strong>de</strong> outros elementos objetivos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m clínica. É <strong>de</strong><br />

sua competência a observação <strong>de</strong> sinais vitais; controle <strong>de</strong> líquidos ingeridos e eliminados; controle<br />

<strong>de</strong> drenos e sondas; administração <strong>de</strong> medicação; execução <strong>de</strong> limpeza concorrente da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transplante cardíaco; providências relativas a material, equipamento e medicamentos (FERRARINI,<br />

MULLER, MELLO, 1968).<br />

Como previsto os <strong>paciente</strong>s apresentam reações e manifestações diferenciadas, motivo pelo qual<br />

os cuidados <strong>de</strong>vem ser sempre reavaliados, complementados e ajustados a cada <strong>paciente</strong> <strong>de</strong> acordo<br />

com as necessida<strong>de</strong>s diárias apresentadas pelos mesmos (MATOS, GUIMARÃES, VIDGAL,<br />

SANTOS, 1989).<br />

2.7.4 Pós-operatório imediato:<br />

O pós-operatório imediato é consi<strong>de</strong>rado o período <strong>de</strong> alerta e por isso engloba uma série <strong>de</strong><br />

cuidados <strong>de</strong>ntre eles: observar rigorosamente o <strong>paciente</strong> na recuperação pós-anestésica; transportar<br />

o <strong>paciente</strong> para Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terapia Intensiva com movimentos seguros, avaliando as funções<br />

respiratórias, oxigenando-o com ambú até instalação do respirador artificial; explicar <strong>ao</strong> <strong>paciente</strong><br />

todos os procedimentos a serem realizados; monitorar e observar a presença <strong>de</strong> arritmias; posicionar<br />

e verificar o funcionamento da pressão intra-arterial (PIA); fazer controle da pressão venosa central<br />

(PVC) e observar funcionamento do respirador artificial e permeabilida<strong>de</strong> do tubo; aspirar secreção<br />

oral e traqueal sempre que necessário; verificar sinais vitais; manter sonda nasogástrica aberta;<br />

instalar sistemas <strong>de</strong> drenagem e observar funcionamento; posicionar o <strong>paciente</strong> a<strong>de</strong>quadamente para<br />

facilitar drenagens; verificar aspecto das secreções drenadas; fazer exame físico (estado <strong>de</strong><br />

consciência, reflexos, incisão cirúrgica, drenos, sonda, soroterapia, perfusão capilar); orientar o<br />

18


<strong>paciente</strong> sobre o tratamento e as rotinas assim que estiver consciente; provi<strong>de</strong>nciar exames<br />

laboratoriais e raios-X se solicitados; manter jejum; controlar o gotejamento do soro e drogas<br />

infundidas e controlar volume urinário; fazer balanço hídrico e observar características; colaborar<br />

na extubação traqueal; estimular o <strong>paciente</strong> a tossir e expectorar; colaborar e/ou retirar drenos e<br />

sondas conforme prescrição médica; prestar cuidados <strong>de</strong> conforto, higiene oral e limpeza corporal;<br />

fazer massagem <strong>de</strong> conforto e mudança <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito; fazer limpeza da área cirúrgica, e ou curativos<br />

<strong>de</strong> drenos, cateter central e PIA; insistir na hidratação após liberação do jejum e supervisionar<br />

aceitação da dieta oral;registrar as ativida<strong>de</strong>s executadas, reações e manifestações apresentadas<br />

(MATOS, GUIMARÃES, VIDGAL, SANTOS, 1989).<br />

2.7.5 Pós-operatório mediato:<br />

Neste período <strong>de</strong>ve-se explicar <strong>ao</strong> <strong>paciente</strong> todos os procedimentos a serem realizados;<br />

supervisionar a hidratação e aceitação da dieta; administrar a medicação conforme prescrição<br />

médica; fazer os cuidados <strong>de</strong> higiene oral e limpeza corporal; fazer a limpeza da área cirúrgica com<br />

solução fisiológica e antisséptica; iniciar os exercícios ativos e passivos e mudança <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito;<br />

orientar <strong>ao</strong> <strong>paciente</strong> para iniciar os exercícios <strong>de</strong> fisioterapia respiratória e os exercícios <strong>de</strong> tosse;<br />

observar reações e manifestações do <strong>paciente</strong> (estado emocional), apetite, tosse, funcionamento<br />

intestinal; fazer inspeção da orofaringe; colaborar na realização dos exames; verificar sinais vitais,<br />

peso, volume urinário e características; estimular a <strong>de</strong>ambulação; registrar as ativida<strong>de</strong>s executadas,<br />

reações e manifestações apresentadas (MATOS, GUIMARÃES, VIDGAL, SANTOS, 1989).<br />

2.7.6 Pós-operatório tardio:<br />

Supervisionar aceitação da dieta hiperprotéica; administrar a medicação conforme<br />

prescrição médica; orientar sobre a importância da higiene oral; orientar sobre a limpeza corporal;<br />

colaborar na realização <strong>de</strong> exames; observar eliminação renal e funcionamento intestinal; verificar<br />

sinais vitais; acompanhar o <strong>paciente</strong> na <strong>de</strong>ambulação; orientar para o autocuidado (alimentação,<br />

medicação, peso, higiene, ativida<strong>de</strong>s físicas); orientar sobre a alta hospitalar; registrar ativida<strong>de</strong>s<br />

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executadas, reações e manifestações apresentadas (MATOS, GUIMARÃES, VIDGAL, SANTOS,<br />

1989).<br />

2.8 Estudo <strong>de</strong> caso:<br />

Este estudo foi realizado na Escola Universitária <strong>de</strong> Enfermagem da Espanha por CASADO,<br />

CHAVARREN, SANCHO, COSCOJUELA e ERRO em 1998. Foram estudados 29 <strong>paciente</strong>s, 28<br />

homens e uma mulher <strong>submetido</strong>s a transplante cardíaco num período <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994 a março<br />

<strong>de</strong> 1996, a ida<strong>de</strong> média foi <strong>de</strong> 58,6 anos (15-70). A coleta dos dados foi realizada através dos<br />

registros diários da <strong>enfermagem</strong> e história clínica que permitiu analisar a evolução das distintas<br />

funções corporais:<br />

Sistema neurológico: momento da recuperação da consciência <strong>de</strong>pois da anestesia e comprovação<br />

dos movimentos das extremida<strong>de</strong>s.<br />

Sistema respiratório: evolução da função respiratória, tempo <strong>de</strong> intubação e ventilação artificial,<br />

período <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintubação e cuidados específicos.<br />

Sistema cardiovascular: eletrocardiograma e arritmias, parâmetros hemodinâmicos, fármacos<br />

vasoativos utilizados, perdas sanguineas pelos drenos torácicos e presença <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong><br />

hemodinâmica, <strong>de</strong>finida esta como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> administrar fármacos inotrópicos maiores <strong>de</strong><br />

10 mg/kg/min ou precisar <strong>de</strong> assistência circulatória mecânica.<br />

Sistema nefrourinário: débito urinário, permanência da sonda vesical, tratamento farmacológico<br />

especifico administrado e aplicação <strong>de</strong> hemodiálise.<br />

Sistema digestivo: momento da retirada da sonda nasogástrica, inicio e tolerância da dieta oral,<br />

restauração do ritmo intestinal.<br />

Sistema locomotor e tegumentário: estado da ferida cirúrgica, evolução da esternotomia, presença<br />

<strong>de</strong> alterações <strong>de</strong> pele e mucosas, movimentações e ativida<strong>de</strong>s físicas realizadas.<br />

20


Rejeição e infecção: tempo médio <strong>de</strong> permanência dos cateteres e vias invasivas, tratamento<br />

antiinfeccioso e imunossupressor administrado, controle bacteriológico, febre e sinais <strong>de</strong> infecção e<br />

rejeição.<br />

Bem estar: necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analgesia, <strong>de</strong>scanso noturno, alterações do estado <strong>de</strong> ânimo e apoio<br />

familiar.<br />

Resultados: os 29 <strong>paciente</strong>s estudados receberam transplante cardíaco ortotópico, a causa que os<br />

levou <strong>ao</strong> transplante foram: miocardiopatia dilatada em 12 <strong>paciente</strong>s (41,3%), miocardiopatia<br />

isquêmica em 11 (37,9%), valvulopatia em 4 (13,7%), cardiopatia congênita em 1 (3,4%) e um<br />

retransplante (3,4%). A permanência média na unida<strong>de</strong> da cuidados intensivos foi <strong>de</strong> sete dias,<br />

tendo sido observados os seguintes aspectos:<br />

Sistema neurológico: em 100% dos <strong>paciente</strong>s a recuperação da conciência ocorreu em um tempo<br />

médio <strong>de</strong> 4 horas, não apresentando déficit neurológico em nenhum caso.<br />

Sistema respiratório: todos os <strong>paciente</strong>s foram extubados com normalida<strong>de</strong> e apresentaram uma<br />

função pulmonar satisfatória. O tempo médio <strong>de</strong> intubação foi <strong>de</strong> 16 horas, tendo sido utilizado tubo<br />

em “T” <strong>de</strong> oxigênio em 100% dos casos, em 19 <strong>paciente</strong>s utilizou-se ventilação mecânica com<br />

pressão assistida e pressão positiva continua (CPAP), sendo que 17% dos <strong>paciente</strong>s utilizaram<br />

pressão assistida e 12% ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV) mais pressão<br />

assistida. Dezessete <strong>paciente</strong>s, precisaram <strong>de</strong> drenagem pleural e outros dois precisaram <strong>de</strong> sua<br />

colocação para resolver pneumotórax.<br />

Para otimizar a ventilação pulmonar durante o período <strong>de</strong> ventilação artificial, todos os<br />

<strong>paciente</strong>s receberam cuidados específicos que este tratamento requer como aspirações endotraqueais<br />

com técnica asséptica. Uma vez extubados, realizaram exercícios respiratórios e aerosolterapia com<br />

mucoliticos varias vezes <strong>ao</strong> dia.<br />

21


Sistema cardiovascular: o ritmo cardíaco foi sinusal na maioria dos <strong>paciente</strong>s, 27 (93%)<br />

necessitando 15 <strong>de</strong>les <strong>de</strong> marcapasso ventricular <strong>de</strong> forma temporária. Como apoio cronotrópico foi<br />

utilizado o sulfato <strong>de</strong> Isoprenalina em 25 (86,2) dos transplantados, mantendo este tratamento<br />

durante um período <strong>de</strong> médio <strong>de</strong> 6 dias. Um <strong>paciente</strong> manteve ritmo <strong>de</strong> marcapasso durante toda sua<br />

internação.<br />

A vigilância hemodinâmica foi realizada por meio do cateter <strong>de</strong> Swan-Ganz e monitorização<br />

invasiva da pressão arterial. Para manter o funcionamento do enxerto todos foram tratados com<br />

drogas vasoativas, necessitando quatro <strong>de</strong>les <strong>de</strong> doses elevadas por apresentarem instabilida<strong>de</strong><br />

hemodinâmica; outros dois <strong>paciente</strong>s precisaram <strong>de</strong> assistência circulatória (um com balão<br />

intraórtico e outro <strong>de</strong> assistência biventricular mecânica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ato cirúrgico falecendo <strong>ao</strong> terceiro<br />

dia). O sangramento médio por drenos torácicos nas primeiras 24 horas foi <strong>de</strong> 1108 ml (400-3.240),<br />

repondo com hemo<strong>de</strong>rivados em 100% dos casos. A permanência média dos drenos foi <strong>de</strong> 2,5 dias.<br />

Foram registrados três tamponamentos cardíacos que precisaram <strong>de</strong> reintervenção, um no mesmo<br />

dia operatório e dois com apresentação tardia <strong>ao</strong> oitavo dia, resolvendo todos favoravelmente.<br />

Sistema nefrourinário: inicialmente o débito urinário foi controlado <strong>de</strong> forma horária através da<br />

sondagem vesical, a permanência média da sonda foi <strong>de</strong> dois dias e meio. Em 82,7% dos casos o<br />

tratamento farmacológico foi à base <strong>de</strong> Dopamina para melhor a função renal, dois precisaram <strong>de</strong><br />

tratamento <strong>de</strong> hemodiálise.<br />

Sistema digestivo: todos os <strong>paciente</strong>s permaneceram com sonda nasogástrica, após a retirada<br />

iniciou-se a dieta oral com boa tolerância em todos os casos, exceto em dois que necessitaram <strong>de</strong><br />

nutrição enteral <strong>de</strong>vido o estado prévio <strong>de</strong> <strong>de</strong>snutrição.<br />

A eliminação fecal foi reiniciada na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidados intermediários por 79% dos<br />

<strong>paciente</strong>s, precisando dois <strong>de</strong> enema.<br />

22


Sistema tegumentário e locomotor: a ferida cirúrgica teve evolçução favorável em todos os<br />

transplantados. Para prevenir a <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> esterno, todos os <strong>paciente</strong>s foram orientados a<br />

movimentar-se com os braços cruzados sobre o tórax para evitar apoiar os braços com força,<br />

evitando assim fazer pressão sobre o esterno. Quatro <strong>paciente</strong>s apresentaram erupções na pele, dois<br />

<strong>de</strong>les já apresentavam na sua admissão e outros dois que eram diabéticos <strong>de</strong>senvolveram na UCI;<br />

alguns <strong>paciente</strong>s apresentaram lesões em mucosas; um em orifício nasal e outro na boca; um<br />

terceiro <strong>paciente</strong> apresentou herpes labial. Em todos os casos a evolução foi favorável <strong>de</strong>vido a<br />

aplicação dos cuidados estabelecidos nos protocolos <strong>de</strong> cuidados da unida<strong>de</strong>.<br />

Todos os <strong>paciente</strong>s foram mudados <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito a cada duas horas, iniciando-se a partir das<br />

seis primeiras horas <strong>de</strong>pois do pós-operatório; do mesmo modo todos os <strong>paciente</strong>s fizeram<br />

movimentações das extremida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia seguinte da intervenção. Cerca <strong>de</strong> 48% começaram a<br />

<strong>de</strong>ambular durante sua permanência na UCI e 10% realizaram exercícios progressivos na bicicleta<br />

ergométrica. Dois <strong>paciente</strong>s necessitaram <strong>de</strong> ajuda da equipe por se apresentarem durante um longo<br />

período <strong>de</strong> tempos acamados.<br />

Rejeição e infecção: todos os <strong>paciente</strong>s permaneceram em isolamentos com <strong>de</strong>dicação exclusiva <strong>de</strong><br />

uma enfermeira que utilizava gorro, máscara, luvas e capote para técnicas assépticas e<br />

contaminadas com lavagem freqüente das mãos. Foi utilizada na terapia imunossupressora a<br />

ciclosporina antes das 48 horas em todos os <strong>paciente</strong>s.<br />

No que diz respeito a permanência dos cateteres, 23 <strong>paciente</strong>s utilizaram cateteres <strong>de</strong> Swan-<br />

Ganz, retirados antes das 48 horas em 93,3% dos casos. Já o cateter arterial e venoso periférico,<br />

sempre foi retirado antes das 72 horas e o cateter venoso central foi mantido até a realização da<br />

primeira biopsia cardíaca <strong>ao</strong> oitavo dia. Em nenhum <strong>paciente</strong> foi observado sinais clínicos <strong>de</strong><br />

infecção pulmonar, urinária ou por cateteres vasculares. O cultivo em estufa foi positivo em cinco<br />

casos, encontrando-se: Enterobacter em um <strong>paciente</strong> e Enterococo em outro, ambos foram tratados<br />

com antibioticoterapia especifica. Nos outros três <strong>paciente</strong>s foram encontradas leveduras, porém<br />

23


apenas um teve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento antifúngico sistêmico. Somente um <strong>paciente</strong> teve febre,<br />

apresentando duração <strong>de</strong> três horas.<br />

Bem estar: para controlar a dor, 86,2% (25) <strong>paciente</strong>s foram <strong>submetido</strong>s a analgesia. Em 93,1% (27)<br />

<strong>paciente</strong>s usou-se sedativo e ansiolítico para favorecer o <strong>de</strong>scanso noturno, sendo registrado como<br />

a<strong>de</strong>quado em 75,8% dos casos. Por outro lado 24% (7) apresentaram ansieda<strong>de</strong> e alterações no<br />

estado <strong>de</strong> ânimo, três <strong>de</strong>les necessitando <strong>de</strong> tratamento psiquiátrico.<br />

Visita familiar: todos os <strong>paciente</strong>s receberam a visita <strong>de</strong> seus familiares com flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

horários.<br />

Após todo o exposto foi concluído pelos autores, que <strong>de</strong>vido o baixo índice <strong>de</strong> complicações<br />

relacionadas diretamente com os cuidados <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>, o protocolo <strong>de</strong> cuidados aplicados pela<br />

instituição estava correto.<br />

3-CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Através da realização <strong>de</strong>ste estudo, verificou-se que há gran<strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> trabalhos<br />

científicos com abordagem da atuação da equipe <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> em transplante cardiaco, tendo<br />

sido encontrados apenas três artigos científicos no Brasil num período <strong>de</strong> 36 anos (1968-2004).<br />

Porém, torna-se nítida a importância do papel <strong>de</strong>sempenhado pelo enfermeiro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras<br />

etapas vivenciadas pelo candidato <strong>ao</strong> transplante cardíaco e sua família, <strong>ao</strong> acontecimento da<br />

cirurgia, no pós-operatório imediato e mediato, na alta hospitalar até a sua reintegração <strong>ao</strong> ambiente<br />

familiar e social.<br />

O trabalho do enfermeiro no exercício <strong>de</strong> suas atribuições <strong>de</strong>ve ser realizado na assistência,<br />

na administração, no ensino, na pesquisa e na consultoria, <strong>de</strong>vendo sempre investir esforços na<br />

i<strong>de</strong>ntificação e na prevenção <strong>de</strong> complicações e intervir para proporcionar a recuperação integral e<br />

uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para o <strong>paciente</strong> (FERRAZ, 1989).<br />

Em contrapartida, verifica-se um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinformação e <strong>de</strong>sinteresse por parte <strong>de</strong><br />

profissionais que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua formação, pela falta <strong>de</strong> ênfase/capacitação no referido tema alguns se<br />

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tornam resistentes às mudanças, na sua forma <strong>de</strong> atuação e integração à equipe multiprofissional.<br />

Sendo necessário uma maior atenção por parte das instituições para que se possa apresentar padrões<br />

satisfatórios <strong>de</strong> trabalhos por parte dos enfermeiros. Desta forma, segundo SALVIANO e SILVA<br />

(1998), a modalida<strong>de</strong> terapêutica transplante veio enfatizar a importância da capacitação e da<br />

qualificação dos enfermeiros.<br />

Dessa forma, esperamos que este estudo abra caminhos para outras pesquisas, tentando<br />

melhor capacitação do enfermeiro frente <strong>ao</strong> tema transplante cardíaco, <strong>de</strong>spertando não apenas o<br />

interesse, mas o entusiasmo, ocasionando assim o aumento das publicações cientificas pelos<br />

enfermeiros que tanto contribuem para o conhecimento e principalmente a melhoria da qualida<strong>de</strong> da<br />

assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong>.<br />

4-REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />

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