Tecnologia e Crescimento da Firma: o Caso das ... - Unimep
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<strong>Tecnologia</strong> e <strong>Crescimento</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Firma</strong>: o <strong>Caso</strong><br />
<strong>da</strong>s Empresas de<br />
Desenvolvimento de<br />
Software do Rio de Janeiro<br />
Technology and Firm Grow: the Rio de Janeiro Software Enterprises<br />
BEATRIZ DE CASTRO FIALHO<br />
Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro<br />
bea@pep.ufrj.br<br />
JOSÉ ARNALDO DEUTCHER<br />
Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro<br />
ffialho@oglobo.com.br<br />
RESUMO – Através do estudo de caso de três empresas de desenvolvimento de software do Rio de Janeiro, este trabalho<br />
procura destacar alguns aspectos relevantes ao estudo <strong>da</strong>s pequenas e médias empresas, diante do esgotamento do modelo<br />
taylorista-fordista de organização e <strong>da</strong> emergência de novos paradigmas tecno-econômicos e organizacionais. Diante <strong>da</strong><br />
natureza específica <strong>da</strong>s pequenas empresas, nosso argumento principal é que o entendimento <strong>da</strong> dinâmica de crescimento<br />
e <strong>da</strong>s características específicas aos setores e às pequenas empresas tem importantes implicações, tanto (i) para futuros estudos<br />
sobre a dinâmica setorial e o crescimento, formas de organização, processo de inovação e de aprendizagem desses tipos<br />
de empresas quanto (ii) para aspectos de políticas públicas de corte setorial (apoio e incentivos), considerando-se to<strong>da</strong>via o<br />
contexto econômico, político, social, institucional e a dinâmica tecnológica em que se inserem as empresas.<br />
Palavras-chave: crescimento de empresas – gestão – organização – empresas de software.<br />
ABSTRACT – Through a study case of three small software firms, this paper highlights some important aspects related to the<br />
study of medium and small enterprises facing the emergence of new techno-economics and organizational paradigms.<br />
Considering the specific nature of the small firms, our argument is that, the understanding of the dynamics of growth and<br />
of the specificities of small firms and of their sectors, has important implications as much (i) to future studies about the sectorial<br />
dynamics and about the growth, forms of organization, process of innovation and learning of this kind of firm, as (ii)<br />
to public policy related to mechanisms of support and incentive, considering the social, economic and political enviroment<br />
and the technological dynamics in which these firms are inserted.<br />
Keywords: firm growth – management – organization – software business.<br />
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 13 37
Introdução<br />
C<br />
omo observou Julien (1993:153), as pequenas e médias empresas têm sido vistas pela teoria econômica,<br />
de forma geral, como pouco importantes, especialmente porque “tais firmas têm uma existência<br />
apenas transitória e diretamente subordina<strong>da</strong> às grandes empresas na divisão internacional do trabalho<br />
(...)”. No entanto, isto não as torna menos importantes analiticamente em relação às grandes empresas; pelo<br />
contrário, leva a uma necessi<strong>da</strong>de de se procurar entender porque algumas pequenas e médias empresas<br />
“morrem”, permanecem em seus negócios ou crescem, tornando-se empresas de maior porte.<br />
Durante o período 1950-1975 – de predominância do modelo produtivo de massa e organização do<br />
trabalho taylorista-fordista –, levando-se em conta as diferenças e assimetrias entre os países capitalistas,<br />
pode-se dizer que foi mantido um certo grau de estabili<strong>da</strong>de e crescimento econômico nesses países. Mesmo<br />
assim, já nos anos 60, percebia-se a limitação dessa combinação; os aumentos de produtivi<strong>da</strong>de começavam a<br />
se estabilizar e a entrar em trajetória decrescente (Lipietz, 1987:159). À que<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de somou-se o<br />
aumento <strong>da</strong> instabili<strong>da</strong>de no mercado financeiro internacional, a volatili<strong>da</strong>de do mercado consumidor e uma<br />
nova composição deste.<br />
A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80, buscou-se identificar os fatores responsáveis pelo esgotamento do paradigma<br />
fordista de produção e todo o arcabouço institucional que sustentava e interagia com ele. Percebeu-se que o<br />
fenômeno não poderia ser reduzido pura e simplesmente a relações de causa e efeito; e que, portanto, a crise<br />
deveria ser analisa<strong>da</strong> dentro de um escopo maior, abrangendo fatores econômicos, sociopolíticos e culturais,<br />
tanto no plano nacional quanto internacional (Lipietz, 1987; Harvey, 1992; e Ferraz et al., 1992).<br />
Segundo Lorino (1992:27-28), a compreensão <strong>da</strong>s limitações do paradigma taylorista-fordista (como<br />
modelo de organização <strong>da</strong> produção) e <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças subseqüentes, passa pela análise dos limites <strong>da</strong> arquitetura<br />
técnico-organizacional (abrangendo os sistemas de gestão, recursos humanos, sistemas de informação,<br />
equipamentos e fluxos de materiais e objetos) sobre a qual o paradigma operava, levando-se em consideração<br />
os fatores ambientais e institucionais que comportava a arquitetura técnico-organizacional do paradigma<br />
taylorista-fordista.<br />
No tratamento dessas questões podemos destacar duas dimensões de análise: o nível macroeconômico<br />
(mais agregado) e o nível microeconômico, nos quais interagem elementos de caráter social, político, econômico<br />
e tecnológico. Em vista disto, deixamos claro que nosso objeto de estudo é, especialmente, o nível<br />
microeconômico, isto é, a empresa enquanto forma de organização econômica empenha<strong>da</strong> na produção de<br />
bens e serviços.<br />
De tal modo que nosso olhar abrange a influência <strong>da</strong>s transformações por que passam os sistemas técnico,<br />
político, social e econômico sobre a capaci<strong>da</strong>de de competir e alcançar posição lucrativa em relação à<br />
concorrência e de manter (sustentar) essa posição. Considerando, sobretudo, as diferenças intersetoriais e os<br />
diferentes ambientes tecno-econômicos nos quais as firmas operam.<br />
Segundo Possas (1993:4), a questão <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de abrange tanto o âmbito <strong>da</strong>s empresas (nível<br />
micro) quanto o âmbito dos sistemas econômicos nacionais e internacionais (nível macro). Em relação a este<br />
último, Possas (1993:6) identifica três níveis de fatores sistêmicos de competitivi<strong>da</strong>de: (i) os que estimulam a<br />
criação e consoli<strong>da</strong>ção de um ambiente competitivo; (ii) os que provêm externali<strong>da</strong>des, compreendendo condições<br />
de infra-estrutura (transportes, energia e comunicações, educação básica e qualificação <strong>da</strong> mão-deobra<br />
para os atuais perfis tecnológicos); e (iii) os fatores associados às políticas tipicamente macroeconômicas<br />
e de fomento e promoção.<br />
Em um mercado volátil – no qual questões como quali<strong>da</strong>de; prazo de entrega; comprometimento;<br />
grau de diferenciação; capaci<strong>da</strong>de de inovação (introduzir novos produtos e/ou processos com uso comercial);<br />
e grau de customização passam a ocupar a mesma importância que o preço –, passa-se a observar todo<br />
um movimento de reestruturação produtiva e organizacional em termos de empresas.<br />
38 Junho • 1999
A competitivi<strong>da</strong>de, no caso <strong>da</strong> dimensão empresarial,<br />
associa ao novo paradigma tecno-econômico as<br />
reestruturações tecnológica e produtiva, organizacional<br />
e de gestão <strong>da</strong>s empresas (Possas, 1993:4). Isto porque<br />
todos esses elementos fazem parte <strong>da</strong> nova configuração<br />
<strong>da</strong>s estratégias, <strong>da</strong> organização e dos modelos produtivos<br />
<strong>da</strong>s empresas, não só internamente como<br />
também em relação a fornecedores, canais de distribuição<br />
e consumidores. Dentro desse panorama, pode-se<br />
destacar alguns elementos:<br />
• necessi<strong>da</strong>de de gerenciar a inovação tecnológica<br />
e a capacitação dos recursos humanos;<br />
• mu<strong>da</strong>nças organizacionais e gerenciais (trabalho,<br />
sistemas e ferramentas de gestão, relação<br />
empresa/cliente e empresa/fornecedor);<br />
• coordenação e composição <strong>da</strong> força de trabalho<br />
(autonomia, multifuncionali<strong>da</strong>de, gestão participativa,<br />
qualificação, motivação, comprometimento);<br />
• estratégias de competição basea<strong>da</strong>s na quali<strong>da</strong>de,<br />
prazo de entrega, preço, parcerias, networking e<br />
de diversificação e customização dos produtos e<br />
serviços;<br />
Paralelamente, essas mu<strong>da</strong>nças nos ambientes<br />
micro e macroeconômicos de competição abrangem<br />
também mu<strong>da</strong>nças no mercado e nas relações<br />
de trabalho, tanto pelas exigências do setor produtivo<br />
quanto pelas mu<strong>da</strong>nças institucionais, como a<br />
redução do Estado de bem-estar social a partir <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> de 80.<br />
Portanto, o que se percebe é que o movimento<br />
de reestruturação produtiva desenvolvido desde o<br />
final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70, especialmente nos países<br />
desenvolvidos, abrange diversos elementos, como<br />
novos modelos produtivos (processos e organização),<br />
novas tecnologias, novos padrões de competição,<br />
que trazem como deman<strong>da</strong> sobre a força de<br />
trabalho novos requisitos de qualificação e competência,<br />
novas relações de trabalho, novas formas de<br />
organização. Esses modelos e formas de organização<br />
estão, em grande medi<strong>da</strong>, associados à emergência<br />
de novas tecnologias de base microeletrônica, assim<br />
como de novas práticas gerenciais e formas de organização<br />
do trabalho.<br />
Assim, sendo objeto deste estudo as pequenas<br />
e médias empresas, a preocupação aqui recai sobre<br />
como tais mu<strong>da</strong>nças (no ambiente tecno-econômico,<br />
novas formas de organização do trabalho, sistemas<br />
de gestão etc.) influenciam as trajetórias e<br />
estratégias de crescimento dessas empresas. A ênfase<br />
nas pequenas empresas explica-se pela necessi<strong>da</strong>de<br />
de se procurar entender melhor as variáveis, os<br />
mecanismos e as interações que levam as pequenas<br />
empresas a terem existência tempo-espaço transitória,<br />
ou não.<br />
Este trabalho compreende quatro seções. A<br />
primeira abor<strong>da</strong> a questão <strong>da</strong>s pequenas e médias<br />
empresas frente à emergência de novos paradigmas<br />
tecno-econômicos e as mu<strong>da</strong>nças na organização do<br />
trabalho, deman<strong>da</strong>s de qualificação; empregabili<strong>da</strong>de,<br />
flexibilização e precarização <strong>da</strong>s relações de<br />
trabalho. A segun<strong>da</strong> seção apresenta a metodologia<br />
utiliza<strong>da</strong> para a realização do estudo de caso. A terceira<br />
traz os resultados do estudo de caso, e sua<br />
interpretação. A última seção destina-se à conclusão<br />
e considerações finais.<br />
Discussões: referencial teórico<br />
PME e novos paradigma<br />
tecno-econômicos<br />
Nesta seção apresentamos (i) algumas <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças<br />
ocorri<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> emergência de um novo<br />
paradigma tecno-econômico, que alteram (ii) as formas<br />
de organização <strong>da</strong> produção, do trabalho e as<br />
formas de gestão; (iii) <strong>da</strong>ndo destaque, em particular,<br />
aos impactos dessas mu<strong>da</strong>nças sobre as pequenas<br />
e médias empresas<br />
Em relação ao primeiro aspecto, como exposto<br />
na seção anterior, o modelo taylorista-fordista,<br />
paradigma <strong>da</strong> produção capitalista dominante especialmente<br />
a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50, caracterizava-se<br />
por: execução em massa de produtos padronizados,<br />
economias de escala, especialização <strong>da</strong>s tarefas, divisão<br />
do trabalho, centralização e hierarquização <strong>da</strong>s<br />
decisões dentro <strong>da</strong> empresa, comunicação vertical<br />
entre os diversos departamentos, e burocratização<br />
dos procedimentos internos às organizações. Assim,<br />
partilhava-se, especialmente, uma visão mecanicista<br />
e racionalizadora do processo produtivo e <strong>da</strong> organização<br />
<strong>da</strong> empresa. Contudo, já no final dos anos<br />
60 percebeu-se que tal modelo de organização <strong>da</strong><br />
produção e do trabalho não mais se adequava ao<br />
ambiente econômico e de competição <strong>da</strong>s empresas.<br />
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 13 39
O processo de reestruturação produtiva, especialmente<br />
a partir dos anos 70, é marcado por um<br />
ambiente de incerteza e volatili<strong>da</strong>de nos mercados<br />
consumidores e financeiros, em um processo de acirramento<br />
do processo de globalização econômica e <strong>da</strong><br />
competição entre firmas; novas formas de organização<br />
do trabalho e práticas gerenciais, além de novos<br />
modelos de organização e gerenciamento <strong>da</strong> produção.<br />
Passou-se a perceber a necessi<strong>da</strong>de de se tratar a<br />
empresa como um sistema de ativi<strong>da</strong>des integra<strong>da</strong>s, e<br />
dirimir as resistências <strong>da</strong> estrutura hierárquica e centraliza<strong>da</strong><br />
do modelo taylorista-fordista em direção a<br />
estruturas organizacionais com menos níveis hierárquicos,<br />
com comunicação horizontal. Isto é, perseguiam-se<br />
agora estruturas mais flexíveis que dessem<br />
conta do ambiente de incerteza e <strong>da</strong> rapidez <strong>da</strong>s<br />
mu<strong>da</strong>nças tecnológicas e organizacionais.<br />
É possível se dizer que essas mu<strong>da</strong>nças configuram<br />
a emergência de um novo paradigma tecnoeconômico,<br />
que vem sendo denominado de especialização<br />
flexível ou acumulação flexível, 1 em que se<br />
parte para reduzir a rigidez <strong>da</strong>s formas de controle e<br />
estrutura; organização do trabalho do paradigma<br />
anterior; mu<strong>da</strong>m-se as qualificações em direção à<br />
multifuncionali<strong>da</strong>de do trabalhador; a adequação<br />
dos equipamentos a novos métodos, simultaneamente<br />
aos avanços tecno-científicos; alteração <strong>da</strong>s<br />
normas e padrões vigentes; e, especialmente, tornam-se<br />
as relações interorganizacionais mais flexíveis<br />
e interativas (Ferraz, 1992:6-7).<br />
O segundo aspecto abor<strong>da</strong>do neste trabalho<br />
refere-se à relação entre organização do trabalho,<br />
flexibilização, qualificação e competências e novos<br />
paradigmas tecno-econômicos. A organização do<br />
trabalho, apesar de não ser um tema novo, foi formaliza<strong>da</strong>,<br />
especialmente, a partir dos estudos de<br />
Taylor e Ford sobre a organização do trabalho,<br />
assim como <strong>da</strong>s análises de Max Weber sobre as formas<br />
burocráticas e hierarquiza<strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentais ao<br />
modus operandi e vivendi do sistema capitalista,<br />
integrando inclusive as organizações (Finkel, 1994).<br />
Com o paradigma taylorista-fordista, construiu-se<br />
todo um arcabouço teórico que formalizava<br />
1 De acordo com FERRAZ (1992:5), “paradigmas tecno-econômicos<br />
são mu<strong>da</strong>nças maiores ou 'revolucionárias' envolvendo produtos e<br />
processos que se originam de mu<strong>da</strong>nças tecnológicas e organizacionais,<br />
que afetam to<strong>da</strong> a economia”.<br />
a organização do trabalho com uma visão racionalizadora<br />
e mecanicista do processo produtivo e <strong>da</strong> disposição<br />
<strong>da</strong> força de trabalho. O trabalhador passou a<br />
ser visto como uma peça <strong>da</strong> máquina, especialmente<br />
o do chão de fábrica; uma vez que a gestão encontrava-se<br />
e caminhava a passos largos em direção a uma<br />
maior separação <strong>da</strong> execução do processo produtivo.<br />
A estrutura organizacional burocrática e mecanicista<br />
era o modelo de organização <strong>da</strong> empresa e do<br />
trabalho, focalizando-se especialmente a especialização<br />
de tarefas. Ao trabalhador não cabia “raciocinar”<br />
sobre o processo produtivo, nem formular opiniões<br />
ou sugestões, muito menos ter participação.<br />
Conforme visto na seção anterior, as mu<strong>da</strong>nças<br />
econômicas e institucionais nos espaços geoeconômicos<br />
nacionais e internacionais, trouxeram a<br />
necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nças na arquitetura técnico-organizacional,<br />
e nas estratégias de competição (Lorino,<br />
1992).<br />
No caso <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças organizacionais, a comunicação<br />
extremamente verticaliza<strong>da</strong> combina<strong>da</strong><br />
com a estrutura organizacional rígi<strong>da</strong>, centraliza<strong>da</strong> e<br />
burocrática, influenciava negativamente a escolha<br />
<strong>da</strong> estratégia competitiva. Pois a separação que se<br />
construí<strong>da</strong> entre a gestão e o chão de fábrica passou<br />
a criar barreiras para uma estratégia de competição<br />
integradora de todo o processo (produção, distribuição,<br />
marketing, ven<strong>da</strong>s, finanças, ativi<strong>da</strong>des de<br />
P&D). Assim, passou-se a observar a necessi<strong>da</strong>de de<br />
um sistema mais flexível de organização <strong>da</strong> produção<br />
e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> empresa nos diversos níveis<br />
(estratégico, gerencial, e operacional). No caso <strong>da</strong><br />
organização do trabalho, a questão <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong>de<br />
e capacitação dos trabalhadores e, mais recentemente,<br />
a <strong>da</strong> flexibilização <strong>da</strong>s relações de trabalho como<br />
forma de combater ao desemprego que se alastra a<br />
todos os países do mundo capitalista tornaram-se<br />
extremamente relevantes.<br />
Diante dessas limitações e do processo de<br />
reestruturação <strong>da</strong> organização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de produtiva,<br />
a questão <strong>da</strong> gestão dos recursos humanos, <strong>da</strong>s<br />
relações de trabalho e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de novas qualificações<br />
<strong>da</strong> força de trabalhos dirigiram alguns<br />
esforços de estudos sobre:<br />
• motivação, comprometimento e envolvimento<br />
do trabalhador (ex.: proposta de enriquecimento<br />
de cargos; criação de círculos de controle de quali<strong>da</strong>de<br />
e sistemas de sugestões/premiação);<br />
40 Junho • 1999
• nova organização <strong>da</strong>s equipes de trabalho (mais<br />
autonomia ao trabalhador, que não mais realizaria<br />
uma tarefa repetitiva, criando-se um sistema<br />
de rotação de cargos e reforçando a multifuncionali<strong>da</strong>de);<br />
• a questão <strong>da</strong>s qualificações e competências, que<br />
seriam necessárias e exigi<strong>da</strong>s ao trabalhador;<br />
• mu<strong>da</strong>nças nas relações e formas de trabalho (contratos<br />
temporários, trabalho autônomo, subcontratação,<br />
trabalho à distância etc.).<br />
A questão <strong>da</strong>s qualificações e competências<br />
agrava-se à medi<strong>da</strong> que a estrutura organizacional<br />
tornava-se mais “achata<strong>da</strong>”, menos centraliza<strong>da</strong>,<br />
com comunicação horizontal, integração de tarefas<br />
etc. Segundo Deluiz (1996) passou-se a se exigir um<br />
trabalhador, superqualificado, com certas características<br />
pessoais e comportamento profissional (multifuncionali<strong>da</strong>de,<br />
responsivi<strong>da</strong>de, criativi<strong>da</strong>de etc.)<br />
essenciais às ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s nas empresas.<br />
No entanto, o aumento do desemprego estrutural<br />
que se instalou em vários países, especialmente<br />
no início dos anos 90 (Appay, 1996; e Mattoso,<br />
1994), agravou o problema <strong>da</strong> inserção do trabalhador<br />
nesse novo padrão de qualificação, que requer<br />
um trabalhador com capaci<strong>da</strong>des cognitivas e de<br />
aprendizagem, além de capaci<strong>da</strong>des técnicas e organizacionais.<br />
Ao mesmo tempo, aumentou a insegurança<br />
quanto à permanência do trabalhador na<br />
função exerci<strong>da</strong>, em virtude <strong>da</strong> própria reestruturação<br />
produtiva e organizacional e <strong>da</strong>s condições econômicas<br />
altamente voláteis.<br />
Assim, a questão <strong>da</strong> flexibilização <strong>da</strong>s relações<br />
de trabalho surge como proposta <strong>da</strong> iniciativa priva<strong>da</strong><br />
de reduzir os encargos sociais com os trabalhadores,<br />
para “reduzir custos”. De modo que a flexibilização<br />
atuaria como uma ferramenta de redução do desemprego<br />
e abertura de novos postos de trabalho. No<br />
entanto, percebe-se que a “flexibilização” possui<br />
um lado negativo ao contribuir para a precarização<br />
<strong>da</strong>s relações de trabalho com o aumento do setor<br />
informal (os trabalhadores passam a ficar com os<br />
encargos sociais, antes arcados em parte pelo<br />
empregador), passando o trabalhador a ficar, em<br />
grande parte, responsável pelo seu próprio aperfeiçoamento,<br />
redução dos benefícios dos trabalhadores,<br />
formas de contratação em cascata etc., apesar<br />
de muitas empresas ain<strong>da</strong> oferecerem tais benefícios.<br />
Portanto, o processo de reestruturação produtiva<br />
que se descreveu acima abrange tanto os modelos<br />
de gestão empresarial, a introdução de novas<br />
tecnologias, mu<strong>da</strong>nças nas relações de trabalho e<br />
organização de trabalho, novos perfis de qualificação<br />
do trabalhador, novas formas de competição e interação<br />
entre as empresas e estratégias de crescimento.<br />
As pequenas empresas<br />
De uma forma geral, a classificação de pequenas<br />
empresas é feita com base em faixas de faturamento<br />
e/ou número de funcionários. No entanto,<br />
em alguns casos, como o <strong>da</strong>s empresas de software,<br />
tais caracterizações mostram-se relativamente insuficiente.<br />
Assim, optamos por caracterizar esses tipos<br />
como empresas cuja estrutura organizacional mostra-se<br />
relativamente simples.<br />
Segundo Penrose (1995:1-2), entender o processo<br />
através do qual determina<strong>da</strong> empresa alcança<br />
certo tamanho passa pela rejeição <strong>da</strong> hipótese tradicional<br />
de que existe um tamanho ótimo ou mais<br />
lucrativo, na medi<strong>da</strong> em que “o tamanho é um subproduto<br />
do processo de crescimento”. Portanto, a<br />
investigação se direciona para o processo de crescimento,<br />
que difere qualitativamente, de empresa<br />
para empresa.<br />
É possível destacar algumas formas de crescimento<br />
<strong>da</strong>s empresas: expansão <strong>da</strong> escala de produção;<br />
diversificação <strong>da</strong> produção; fusão e incorporação<br />
de outras empresas; acordos de cooperação visando<br />
diversificação e expansão a outros segmentos de mercado<br />
etc.<br />
A compreensão desse processo abrange o<br />
estudo do impacto de mu<strong>da</strong>nças que partem tanto de<br />
dentro <strong>da</strong> empresa (endógenas) quanto de fora delas,<br />
e que estão além de seu poder de influência. As<br />
mu<strong>da</strong>nças endógenas estariam em grande parte associa<strong>da</strong>s<br />
à base de recursos <strong>da</strong>s empresas e à gestão desses<br />
recursos. O principal argumento de Penrose<br />
(1995) é que as razões para o crescimento assim<br />
como para os limites de crescimento de uma empresa<br />
devem ser busca<strong>da</strong>s na organização como um todo.<br />
No caso <strong>da</strong>s empresas pequenas, Penrose<br />
(1995:217-221) destaca que as principais barreiras<br />
que elas enfrentam estão, na maioria <strong>da</strong>s vezes, relaciona<strong>da</strong>s<br />
à desvantagem em relação às empresas<br />
grandes quanto às relações no mercado, recursos<br />
financeiros, vantagens de escala quanto a tecnologia<br />
e organização (impossíveis a escalas reduzi<strong>da</strong>s). Ape-<br />
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 13 41
sar dessas vantagens, as empresas maiores também<br />
possuem limites à sua expansão; dessa forma, Penrose<br />
(1995) deixa claro que os limites existentes à<br />
expansão não se referem apenas às pequenas empresas.<br />
Em alguns casos as pequenas empresas possuem<br />
vantagens em relação às grandes que as permite continuar<br />
no negócio ou até mesmo expandir, sendo os<br />
espaços para o crescimento <strong>da</strong>s pequenas empresas<br />
relacionados às oportuni<strong>da</strong>des deixa<strong>da</strong>s pelas grandes<br />
empresas (Penrose, 1995:223).<br />
As pequenas empresas são, portanto, organizações<br />
econômicas – assim como as grandes empresas –<br />
engaja<strong>da</strong>s na produção de bens e serviços. Porém,<br />
possuem escala menor, estruturas organizacionais<br />
menos complexas e menor número de funcionários.<br />
Como observou Lemos (1998:13-14), diversos<br />
autores vêm apontando para a crescente importância<br />
<strong>da</strong>s pequenas e médias empresas, quanto ao seu<br />
potencial de geração de empregos, sua flexibili<strong>da</strong>de<br />
para atender a segmentos de mercado altamente customizados<br />
e flexibili<strong>da</strong>de diante de mu<strong>da</strong>nças tecnológicas.<br />
Contudo, as empresas pequenas enfrentam ao<br />
mesmo tempo preocupações de grandes empresas<br />
(crescimento sustentável, diversificação, manutenção<br />
de posição relativa no mercado, competitivi<strong>da</strong>de,<br />
inovação, estruturas de mercado etc.) e, condições<br />
estruturais específicas, relativas à capaci<strong>da</strong>de de<br />
investimento e alavancar capital, à superação de barreiras<br />
comerciais (quanto à penetração e canais de<br />
distribuição), barreiras tecnológicas (especialmente<br />
em relação ao alto risco envolvido no processo de<br />
inovação tecnológica na alavancagem de recursos<br />
tecnológicos e financeiros complementares).<br />
A compreensão <strong>da</strong>s formas de organização e<br />
de crescimento <strong>da</strong>s empresas, abrange os seguintes<br />
aspectos: princípios gerenciais e organizacionais, a<br />
arquitetura técnica e de recursos humanos <strong>da</strong>s empresas;<br />
formas de competição e interação, considerando-se<br />
as especifici<strong>da</strong>des dos ambientes macro e<br />
microeconômicos e as estruturas sociopolíticas em<br />
que as empresas se inserem.<br />
Metodologia<br />
As transformações destaca<strong>da</strong>s nas seções anteriores,<br />
entretanto, afetam tanto as grandes empresas<br />
quanto as pequenas e médias. São mu<strong>da</strong>nças podem<br />
afetar a própria configuração <strong>da</strong>s indústrias, segmentos<br />
ou setores, proporcionar a abertura de novos<br />
mercados, interferir nas estratégias de diversificação<br />
e (des)centralização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s empresas etc.<br />
Diante <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que vêm ocorrendo no<br />
ambiente econômico e institucional, assim como <strong>da</strong><br />
introdução de novas tecnologias basea<strong>da</strong>s na microeletrônica,<br />
menciona<strong>da</strong>s anteriormente, e a necessi<strong>da</strong>de<br />
de se manter posições de mercado sustentáveis,<br />
especialmente com base na capaci<strong>da</strong>de de inovar e de<br />
aprender, procuraremos com este estudo apontar<br />
alguns elementos que podem vir a aju<strong>da</strong>r uma<br />
melhor compreensão de como as pequenas e médias<br />
empresas percebem esses fenômenos de mu<strong>da</strong>nça.<br />
Nesse sentido, este trabalho compreende o<br />
estudo de caso com pequenas e médias empresas do<br />
setor de informática do Rio de Janeiro, <strong>da</strong><strong>da</strong> a disponibili<strong>da</strong>de<br />
e facili<strong>da</strong>de de acesso a essas empresas. Em<br />
primeiro lugar são identifica<strong>da</strong>s três empresas de<br />
tamanhos diferentes, partindo-se a seguir à elaboração<br />
de um roteiro de entrevista e visita às empresas,<br />
que foram diferencia<strong>da</strong>s <strong>da</strong> seguinte forma:<br />
Quadro 1. As empresas <strong>da</strong> amostra.<br />
EMPRESAS FAIXA DE FATURAMENTO NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS<br />
A ~ R$ 7 a 10 milhões 101 a 140<br />
B ~ R$ 4 a 7 milhões 61 a 100<br />
C ~ R$ 1 a 4 milhões 21 a 60<br />
Tabulação própria. Base:1997.<br />
Partimos do entendimento de que, de uma<br />
forma bastante abrangente, elas possuem três níveis<br />
de organização: o estratégico, o gerencial e o operacional.<br />
No caso de pequenas empresas, na maior<br />
parte <strong>da</strong>s vezes o(s) proprietários(s) compõe(m) o<br />
nível estratégico. De tal modo que foram entrevista-<br />
42 Junho • 1999
dos, além do proprietário, um profissional do nível<br />
gerencial e outro do nível operacional em ca<strong>da</strong> uma<br />
<strong>da</strong>s empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, perfazendo um total de<br />
oito entrevistados; isto porque, em uma <strong>da</strong>s empresas<br />
o nível estratégico e gerencial era ocupado pelo<br />
proprietário.<br />
Nesse sentido, nosso olhar dirigiu-se para a<br />
compreensão do processo de seu crescimento e a<br />
maneira como elas enfrentam a mu<strong>da</strong>nça de paradigmas<br />
tecno-econômicos, no que diz respeito a<br />
novos modelos produtivos; novas formas de organização<br />
<strong>da</strong> produção; novas formas gerenciais; flexibilização<br />
do trabalho e <strong>da</strong>s relações de trabalho, e as<br />
deman<strong>da</strong>s de qualificação.<br />
Para estu<strong>da</strong>r o processo de crescimento dessas<br />
empresas utilizou-se o modelo de cinco estágios<br />
proposto por Churchill e Lewis (1983). Segundo<br />
esses autores, dois elementos fun<strong>da</strong>mentais – fatores<br />
gerenciais e características principais <strong>da</strong> firma e do<br />
negócio no qual ela participa – são basais para o<br />
estudo do estágio de crescimento, nos quais se avaliam:<br />
Quadro 2. Aspectos característicos <strong>da</strong>s pequenas empresas.<br />
CARACTERIZAÇÃO DA FIRMA<br />
Tamanho<br />
Diversi<strong>da</strong>de<br />
Complexi<strong>da</strong>de<br />
Fonte: Churchill e Lewis (1983). Tabulação própria.<br />
FATORES GERENCIAIS<br />
Estilo gerencial<br />
Estrutura organizacional<br />
Objetivos estratégicos principais<br />
Sistemas de Planejamento Formais<br />
Envolvimento do proprietário no negócio<br />
Em relação à caracterização <strong>da</strong> firma, o tamanho<br />
diz respeito ao faturamento e à relação faturamento/funcionário,<br />
à composição do capital, à<br />
“i<strong>da</strong>de” <strong>da</strong> empresa e à posição relativa desta no<br />
mercado. A diversi<strong>da</strong>de e a complexi<strong>da</strong>de referemse<br />
à organização do processo produtivo e aos canais<br />
de distribuição.<br />
Em relação aos fatores gerenciais, busca-se<br />
delinear o estilo gerencial de maneira a identificar a<br />
forma pela qual o proprietário conduz a empresa –<br />
delegação de ativi<strong>da</strong>des e poder; níveis de decisão;<br />
canais de comunicação entre os diversos níveis (se<br />
houver) <strong>da</strong> empresa; seu posicionamento em relação<br />
ao mercado e à definição de estratégias. E, no<br />
caso <strong>da</strong> estrutura organizacional, toma-se como<br />
ponto de parti<strong>da</strong> os níveis hierárquicos e de decisão<br />
que compõem a empresa, assim como a existência<br />
de funções consultivas e formas de aprendizagem.<br />
Os objetivos estratégicos referem-se àqueles<br />
que condicionam, afetam e são afetados pela posição<br />
em que a empresa se encontra no mercado. Os<br />
sistemas de planejamentos formais dizem respeito às<br />
formas de representação e de acompanhamento e<br />
controle <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> empresa (ex.: finanças,<br />
contabili<strong>da</strong>de, marketing etc.). E o envolvimento do<br />
proprietário no negócio está relacionado à identificação<br />
<strong>da</strong> empresa com o proprietário, assim como<br />
sua capaci<strong>da</strong>de de delegação e estilo gerencial.<br />
Os fatores gerenciais que afetam o crescimento<br />
<strong>da</strong>s empresas pequenas podem estar relacionados<br />
tanto ao proprietário quanto ao negócio<br />
(Churchill e Lewis, 1983:40-42). No primeiro caso,<br />
de modo geral, a preocupação recai sobre os recursos<br />
disponíveis a essas empresas: recursos financeiros<br />
(capital de giro e de empréstimos disponíveis),<br />
de pessoal qualificado, sistemas de informação de<br />
planejamento e controle e recursos de negócios (que<br />
dá à empresa uma posição no setor e no mercado,<br />
em relação a consumidores e fornecedores, processos<br />
de produção e canais de distribuição, tecnologia,<br />
reputação e participação de mercado).<br />
Partindo <strong>da</strong> consideração desses elementos,<br />
esses autores propõem um modelo para analisar o<br />
crescimento de pequenas empresas através <strong>da</strong> caracterização<br />
de cinco estágios de crescimento em que<br />
se analisa os fatores relacionados ao proprietário e<br />
ao negócio. Apesar dos estágios serem descritos um<br />
a um, existe a possibili<strong>da</strong>de de formas híbri<strong>da</strong>s, ou<br />
seja, mistos de características desses estágios, o que<br />
torna a questão do crescimento dessas empresas<br />
muito mais complexa.<br />
O primeiro estágio é definido como de existência.<br />
Nele a estrutura organizacional é bastante<br />
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 13 43
simples, existindo apenas a figura do dono (como<br />
nível estratégico e gerencial) e dos empregados (nível<br />
operacional); não há delegação de poder; os sistemas<br />
de planejamento/acompanhamento e gestão ou são<br />
minimamente formais os ou inexistentes; e, a preocupação<br />
principal é permanecer no negócio.<br />
O segundo estágio, o de sobrevivência, é de<br />
estrutura organizacional simples, embora exista nível<br />
gerencial ocupado por outras pessoas que não o proprietário,<br />
os gerentes não tomam decisões autonomamente;<br />
os sistemas de planejamento/acompanhamento<br />
e gestão são mínimos: no máximo se faz previsão de<br />
fluxo de caixa; e, como no primeiro estágio, o proprietário<br />
ain<strong>da</strong> é sinônimo <strong>da</strong> empresa.<br />
No terceiro estágio, denominado de sucesso, já<br />
é possível perceber que a empresa é economicamente<br />
sustentável. A estrutura organizacional é caracteriza<strong>da</strong><br />
como funcional, existindo, além dos níveis estratégico,<br />
gerencial e operacional, um nível consultivo;<br />
percebe-se também, o início <strong>da</strong> delegação de poder;<br />
começam a haver sistemas de planejamento/acompanhamento<br />
e gestão formais; superados os obstáculos<br />
dos estágios anteriores, busca-se manter a lucrativi<strong>da</strong>de<br />
e obter recursos para o crescimento; nesse estágio,<br />
o proprietário, embora mais ativo que nas outras<br />
fases, já começa a se distanciar.<br />
Nos quarto e quinto estágios, de decolagem e<br />
maturi<strong>da</strong>de respectivamente, a estrutura organizacional<br />
torna-se mais complexa (existe mais de um nível<br />
estratégico, o gerencial e o operacional); os sistemas<br />
gerencias (planejamento/acompanhamento e gestão)<br />
entram em fase de desenvolvimento e tornamse<br />
rotinas; o estilo gerencial caminha na direção <strong>da</strong><br />
descentralização; e a figura do proprietário já é razoavelmente<br />
distinta do negócio.<br />
Em todos os casos, procura-se identificar certas<br />
características com o estágio de crescimento em que<br />
se encontra a empresa. Contudo, alerta-se para o fato<br />
de que a evolução de um estágio para outro acima<br />
não é um processo linear; isto é, a empresa não necessariamente<br />
passa do estágio um ao dois, e depois ao<br />
três, ao quatro e, por último, ao cinco (quadro 3).<br />
Como foi destacado anteriormente, uma empresa<br />
pode estar em determinado estágio, em alguns aspectos,<br />
e, sob outros aspectos, em estágio distinto.<br />
Quadro 3. Os estágios de crescimento <strong>da</strong>s pequenas empresas.<br />
ESTÁGIO DE<br />
CRESCIMENTO<br />
OBJETIVO<br />
ESTRATÉGICO<br />
ESTRUTURA<br />
ORGANIZACIONAL<br />
SISTEMAS DE<br />
PLANEJAMENTO<br />
1 Existência Permanecer no negócio Simples Mínimos<br />
2 Sobrevivência Sobreviver Simples Fluxo de caixa<br />
3.1<br />
3.2<br />
Sucesso com<br />
desligamento<br />
Sucesso com<br />
crescimento<br />
Manter o negócio<br />
lucrativo<br />
Planejar o crescimento<br />
Fonte: Churchill e Lewis (1983). Tabulação própria.<br />
Funcional<br />
Funcional<br />
Operacional<br />
Operacional<br />
4 Decolagem Crescer Complexa Operacional e estratégico<br />
5 Maturi<strong>da</strong>de<br />
Consoli<strong>da</strong>r ganhos<br />
financeiros<br />
Complexa<br />
Operacional, estratégico e<br />
gerencial<br />
O presente estudo procurará mostrar como<br />
essas questões se encaixam nas empresas analisa<strong>da</strong>s.<br />
É fun<strong>da</strong>mental compreender que se está trabalhando<br />
com pequenas empresas envolvi<strong>da</strong>s principalmente<br />
com ativi<strong>da</strong>des de desenvolvimento de<br />
softwares novos e de otimização e comercialização<br />
de softwares já existentes e que, portanto, seriam<br />
caracteriza<strong>da</strong>s como pequenas empresas de base tecnológica<br />
(Lemos, 1998:17-21), que possuem características<br />
bem peculiares como: alto conteúdo de<br />
conhecimentos científicos e tecnológicos; forte relação<br />
com os centros de pesquisa e universi<strong>da</strong>des; em<br />
geral são empresas de áreas como informática, biotecnologia<br />
etc.; são compostas por pessoas de alto<br />
grau de escolari<strong>da</strong>de, especialmente por parte de<br />
seus sócios fun<strong>da</strong>dores.<br />
No caso <strong>da</strong>s empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, envolvi<strong>da</strong>s<br />
no desenvolvimento de software, percebeu-se que<br />
44 Junho • 1999
existe uma diferenciação em termos do grau de customização<br />
do produto, podendo variar do que se<br />
costuma denominar software “de prateleira” ou “de<br />
pacote” a de soluções customizáveis para as necessi<strong>da</strong>des<br />
de determinados clientes.<br />
Resultados: o estudo de caso<br />
De acordo com o questionário e as entrevistas<br />
realiza<strong>da</strong>s, procurou-se identificar as características<br />
gerenciais dessas empresas quanto à estrutura organizacional,<br />
envolvimento do proprietário, principais<br />
incentivos e obstáculos; à forma de organização do<br />
trabalho, à flexibilização e relações de trabalho,<br />
graus e tipos de ativi<strong>da</strong>des externaliza<strong>da</strong>s; e, às<br />
deman<strong>da</strong>s de qualificação e competências sobre os<br />
trabalhadores, diante <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças técnico-organizacionais.<br />
As empresas foram caracteriza<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />
seguinte forma:<br />
Quadro 4. Caracterização <strong>da</strong>s empresas.<br />
EMPRESA A EMPRESA B EMPRESA C<br />
I<strong>da</strong>de ~10 anos ~10 anos ~10 anos<br />
Faturamento ~R$ 8,9 milhões ~R$ 5,3 milhões ~R$ 1 milhão<br />
Número de funcionários 100 a 140 60 a 99 21 a 59<br />
Composição do capital Próprio Próprio Próprio<br />
Canais de distribuição Ven<strong>da</strong> direta/filial Ven<strong>da</strong> direta/filial Ven<strong>da</strong> direta<br />
Tabulação própria. Base:1997<br />
Tanto a empresa A quanto a B possuem três<br />
sócios proprietários, e a empresa C, apenas um. No<br />
entanto, verificou-se que nas que apresentaram<br />
maior número de sócios, ca<strong>da</strong> um deles, além de ser<br />
responsável pelas decisões estratégicas <strong>da</strong> empresa,<br />
com igual poder de decisão, estava envolvido no<br />
gerenciamento de uma ativi<strong>da</strong>de específica.<br />
Fatores gerenciais e<br />
organização do trabalho<br />
Em relação à organização do trabalho, nas<br />
empresas A e B os trabalhadores – quer nas ativi<strong>da</strong>des<br />
de desenvolvimento de software, quer em<br />
outras ativi<strong>da</strong>des – são organizados por equipe.<br />
Assim, existem reuniões regulares (formais) <strong>da</strong>s<br />
equipes com os respectivos diretores e coordenadores<br />
e/ou líderes de projeto; assim como existe<br />
grande uso <strong>da</strong> comunicação informal (“de corredor”)<br />
entre os profissionais de uma mesma equipe e<br />
de equipes diferentes. No caso <strong>da</strong> empresa C, o fato<br />
de haver apenas dois níveis (o estratégico e táticogerencial,<br />
em um só, e o operacional) significa que<br />
to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des são reporta<strong>da</strong>s ao proprietário.<br />
Desse modo, foi possível elaborar um quadro<br />
destacando as principais características dos fatores<br />
gerenciais descritos por Churchill e Lewis (1983),<br />
para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s empresas, observando-se a estrutura<br />
organizacional, sistemas de planejamento, objetivos<br />
estratégicos e grau de envolvimento do dono<br />
no negócio (em que medi<strong>da</strong> sua figura se confunde<br />
com a <strong>da</strong> empresa).<br />
Quadro 5. Fatores gerenciais.<br />
Estrutura organizacional<br />
Sistemas de<br />
planejamento<br />
Objetivos estratégicos<br />
Envolvimento do proprietário<br />
com o negócio<br />
Tabulação própria.<br />
EMPRESA A EMPRESA B EMPRESA C<br />
Funcional<br />
Funcional<br />
Simples<br />
(dois níveis de decisão) (dois níveis de decisão) (um nível de decisão)<br />
Existente<br />
(pouco complexo)<br />
Existente<br />
(pouco complexo)<br />
Mínimo<br />
Alavancar recursos;<br />
melhorar canais de distribuição<br />
Alavancar recursos;<br />
melhorar canais de distribuição<br />
Manter o negócio<br />
Alto Muito alto Excessivo<br />
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 13 45
A conclusão a que chegamos é que, de acordo<br />
com o argumento proposto por Churchill e Lewis<br />
(1983), as empresas A e B encontram-se em um misto<br />
entre os estágios 2 e 3, pois ain<strong>da</strong> enfrentam algumas<br />
dificul<strong>da</strong>des, especialmente no que diz respeito aos<br />
canais de distribuição e a alavancagem de recursos;<br />
além disso, em termos <strong>da</strong> estrutura organizacional,<br />
pode-se dizer que ambas as empresas estão no estágio<br />
2, pois não possuem em sua estrutura nenhum quadro<br />
funcional que possa ser visto como consultor. As<br />
empresas A e B estão passando por reestruturação<br />
organizacional, que pode mu<strong>da</strong>r esse quadro, especialmente<br />
em relação aos sistemas de planejamento e controle.<br />
A empresa C encontra-se no primeiro estágio em<br />
todos os aspectos <strong>da</strong> tabela acima.<br />
Foi possível observar que o estilo gerencial e o<br />
elevado grau de educação formal (nível superior e<br />
mestrado) dos proprietários foram fatores muito<br />
importante para o crescimento <strong>da</strong>s empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s;<br />
corroborando o estudo de Churchill e Lewis<br />
(1983).<br />
Flexibilização e relações de trabalho<br />
Em termos <strong>da</strong> flexibilização do trabalho nas<br />
empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, observou que, tanto na empresa<br />
A quanto na empresa B, existe um controle de horário<br />
formal (exigido por lei), que não é, no entanto, a<br />
preocupação maior, pois os profissionais trabalham<br />
em equipes de projetos e possuem meta e cronograma<br />
de projetos a serem cumpridos.<br />
No caso <strong>da</strong> empresa A, os níveis operacionais e<br />
determinados cargos gerenciais (como o de gerentes<br />
de projetos) têm controle de horário, especialmente<br />
por causa <strong>da</strong> questão <strong>da</strong>s horas extras, computa<strong>da</strong>s<br />
tanto quando os analistas estão no cliente quanto em<br />
serviço na própria empresa. Na empresa B, em geral<br />
o controle de horário é uma questão meramente formal;<br />
geralmente os contratos são feitos para o desempenho<br />
de determina<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des com metas<br />
preestabeleci<strong>da</strong>s (a questão <strong>da</strong>s horas extras não existe).<br />
Contudo, não foi verificado nenhum descontentamento<br />
do profissional do nível operacional nem do<br />
tático-gerencial com a política <strong>da</strong> empresa, tanto na A<br />
quanto na B. Na empresa C existe controle de horário,<br />
admitindo-se uma flexibili<strong>da</strong>de negociável, contudo<br />
não existe o controle de horas extras.<br />
No que diz respeito às relações de trabalho,<br />
pudemos observar a existência de diferentes tipos de<br />
vínculos em ca<strong>da</strong> empresa. Na A, trabalha-se tanto<br />
com profissionais com carteira assina<strong>da</strong> quanto com<br />
pessoas jurídicas ou cooperativas (especificamente<br />
nas equipes de desenvolvimento). Na empresa B,<br />
igualmente trabalha-se com carteira assina<strong>da</strong>, pessoa<br />
jurídica e autônomos. Na empresa C, trabalha-se<br />
com contratação via carteira assina<strong>da</strong>, pessoa jurídica<br />
e bolsistas. Em todos os casos, são proporcionados<br />
os seguintes benefícios aos níveis tático–gerencial e<br />
operacional: tíquete alimentação, vale transporte,<br />
assistência médica e benefícios do trabalhador CLT.<br />
Convém lembrar que na empresa C os níveis estratégico<br />
e tático-gerencial correspondem à ativi<strong>da</strong>de do<br />
proprietário, não havendo funcionários no nível<br />
tático-gerencial, e que os benefícios acima não dizem<br />
respeito aos contratados como pessoa jurídica.<br />
Em termos de remuneração, distinguem-se a<br />
em fixa e/ou variável, dependendo do cargo/função<br />
do trabalhador. E quanto à possibili<strong>da</strong>de de crescimento<br />
na empresa, segundo os entrevistados do nível<br />
operacional e do nível gerencial, verificou-se que a<br />
progressão se dá através de aumento do escopo do<br />
trabalho, com acréscimo de responsabili<strong>da</strong>de, e conseqüente<br />
aumento de remuneração, tanto na empresas<br />
A quanto na B.<br />
Embora, em geral, as empresas de software<br />
trabalhem em sistema de cooperativa ou com contratação<br />
de profissionais liberais (sem carteira de trabalho),<br />
geralmente envolvendo um certo grau de<br />
precarização (redução de benefícios etc.), os entrevistados<br />
(um com carteira e dois profissionais liberais)<br />
não demonstraram insatisfação.<br />
Ativi<strong>da</strong>des externaliza<strong>da</strong>s<br />
A externalização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des ocorre em<br />
geral em ativi<strong>da</strong>des secundárias em relação à principal<br />
ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> empresa. A exceção, presente nas<br />
três empresas, está no desenvolvimento de software,<br />
mas relaciona<strong>da</strong> a deman<strong>da</strong>s pontuais e específicas<br />
de projetos, sendo, em grande parte, uma ativi<strong>da</strong>de<br />
realiza<strong>da</strong> na empresa.<br />
Organização do trabalho nas equipes<br />
de desenvolvimento de software<br />
A organização do trabalho existe como forma<br />
de coordenar, controlar e gerenciar o processo produtivo.<br />
A complexi<strong>da</strong>de desse processo envolve arquite-<br />
46 Junho • 1999
tura técnica (hardware, software, sistemas operacionais<br />
e ferramentas de desenvolvimento de software), pessoas,<br />
sistemas de gestão e planejamento, procedimentos<br />
e rotinas organizacionais, divisão do trabalho e<br />
interação com o ambiente externo.<br />
No caso do desenvolvimento de software, as<br />
plataformas de hardware e de sistemas operacionais<br />
e de software básico em que a empresa opera e as<br />
metodologias para o desenvolvimento do software<br />
vão influenciar a organização do trabalho. A adoção<br />
de determina<strong>da</strong> plataforma tem impactos diferentes<br />
sobre a organização do trabalho, em termos de uma<br />
maior ou menor centralização do processo produtivo,<br />
de acordo com a estratégia <strong>da</strong> empresa. Além<br />
disso, a opção por desenvolver sistemas em determinados<br />
ambiente pode tornar a empresa mais ou<br />
menos dependente de determina<strong>da</strong> tecnologia ou<br />
dos conhecimentos específicos de um indivíduo ou<br />
grupo de indivíduos.<br />
Observou-se que, normalmente, as equipes<br />
que desenvolvem o projeto de software possuíam<br />
um diretor responsável pela área, coordenadores e/<br />
ou líderes de projetos, aos quais os níveis operacionais<br />
respondiam. No caso <strong>da</strong>s metodologias de<br />
desenvolvimento de sistemas, 2 segundo os entrevistados,<br />
em geral não se privilegia uma metodologia<br />
específica; duas empresas afirmaram trabalhar com<br />
metodologias próprias.<br />
Outro fator importante que afeta a organização<br />
do trabalho nas equipes de desenvolvimento está<br />
relacionado à área de aplicação do software desenvolvido.<br />
Dependendo do grau de customização,<br />
variam as formas de controle e organização do projeto.<br />
Quanto mais customizável o software, menos<br />
centraliza<strong>da</strong>s são as práticas de controle e a organização<br />
<strong>da</strong>s equipes, pois o trabalho em grande parte é<br />
feito no cliente/usuário.<br />
Qualificações e competências<br />
No caso <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>s de qualificação, as<br />
empresas maiores apresentaram maior exigência,<br />
tanto quanto à conhecimentos técnicos e gerais,<br />
como aspectos comportamentais; privilegia-se a<br />
formação universitária, e a experiência profissional.<br />
2 O uso de metodologias para o desenvolvimento de sistemas tem<br />
por objetivo “garantir a produtivi<strong>da</strong>de do processo e quali<strong>da</strong>de dos<br />
produtos gerados” (Blum,1991:63), através <strong>da</strong>s especificações <strong>da</strong>s<br />
etapas, recursos (técnicos e humanos) e métodos a serem utilizados ao<br />
longo do desenvolvimento do software.<br />
De acordo com os entrevistados <strong>da</strong>s empresas<br />
A e B, é prática de ambas as empresas que caso haja<br />
mu<strong>da</strong>nças seja na plataforma de hardware seja na<br />
plataforma de software (ex.: novos programas de<br />
acompanhamento de projetos, de gestão financeira<br />
etc.), privilegia-se o treinamento interno dos profissionais<br />
existentes no quadro <strong>da</strong> empresa. A empresa<br />
C ain<strong>da</strong> não enfrentou esse tipo de problema.<br />
Na avaliação dos profissionais <strong>da</strong>s empresas A<br />
e B, observou-se que o nível estratégico (composto<br />
em todos os casos pelos donos <strong>da</strong>s empresas) também<br />
desempenha funções gerenciais dentro <strong>da</strong> estrutura<br />
organizacional, e possuem tanto metas em<br />
relação aos grupos que coordenam, como metas que<br />
dizem respeito ao futuro <strong>da</strong> empresa, pois é dos donos<br />
<strong>da</strong>s empresa que partem as decisões estratégicas<br />
cruciais ao crescimento e desempenho <strong>da</strong> empresa.<br />
Sendo que na empresa C o nível estratégico junta-se<br />
com o gerencial.<br />
Em geral, tanto no nível gerencial quanto operacional,<br />
os profissionais possuem metas individuais e<br />
de grupo. De forma geral, premia-se as metas no<br />
nível operacional, enquanto que no nível estratégico e<br />
gerencial, a questão do conhecimento é mais enfatiza<strong>da</strong>.<br />
Isto no entanto não significa que o conhecimento<br />
(capaci<strong>da</strong>de de absorver, interpretar e gerar)<br />
não seja uma preocupação <strong>da</strong>s gerências em relação<br />
ao nível operacional, até porque faz parte <strong>da</strong>s qualificações<br />
e competências avalia<strong>da</strong>s, especialmente na<br />
contratação. Em relação às qualificações e competências,<br />
são avalia<strong>da</strong>s tanto as competências técnicas<br />
quanto o perfil pessoal e profissional do trabalhador.<br />
Em relação ao treinamento, verifica-se que as<br />
empresas ain<strong>da</strong> focalizam os níveis estratégicos e em<br />
alguns casos, gerenciais. Quanto ao treinamento do<br />
nível operacional, depende do cargo/função exercido,<br />
e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> empresa (o que em muitas<br />
vezes beneficia o trabalhador). Segundo os entrevistados,<br />
é prática <strong>da</strong>s empresas A e B, que caso haja<br />
mu<strong>da</strong>nças seja na plataforma de hardware seja na<br />
plataforma de software (ex.: novos programas de<br />
acompanhamento de projetos, de gestão financeira<br />
etc.), privilegia-se o treinamento interno dos profissionais<br />
existentes no quadro <strong>da</strong> empresa, podendose<br />
contratar novos funcionários. A empresa C ain<strong>da</strong><br />
não enfrentou esse tipo de problema, por ain<strong>da</strong> se<br />
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 13 47
tratar de uma empresa com um pequeno quadro de<br />
funcionários.<br />
Segundo os trabalhadores de nível operacional<br />
entrevistados não haveria para eles, problemas<br />
de inserção no mercado de trabalho, tanto por<br />
causa de suas próprias qualificações e competência<br />
quanto pelos treinamentos internos e/ou externos<br />
disponibilizados pelas empresas.<br />
Conclusão<br />
A proposta deste trabalho foi analisar o processo<br />
de reestruturação produtiva e o modo como<br />
isso se relaciona ao crescimento de três pequenas<br />
empresas no setor de informática do Rio de Janeiro.<br />
Essa pesquisa foi realiza<strong>da</strong> através de um questionário<br />
e entrevistas com três profissionais em ca<strong>da</strong><br />
empresa: o proprietário, um gerente e um funcionário<br />
do nível operacional envolvido no desenvolvimento<br />
de software.<br />
Foi possível verificar, de acordo com as entrevistas<br />
e as informações obti<strong>da</strong>s, que as empresas<br />
com faturamento anual maior oferecem maiores<br />
benefícios e apresentam um grau de precarização<br />
bem menor. Pôde-se observar também, segundo os<br />
funcionários entrevistados, que o controle de horário,<br />
apesar de não se mostrar rígido, é cumprido por<br />
todos de forma geral.<br />
Chegamos a quatro conclusões principais. Em<br />
primeiro lugar, existe certa dificul<strong>da</strong>de quanto à<br />
caracterização <strong>da</strong>s empresas em termos do estágio<br />
de crescimento proposto por Churchill e Lewis<br />
(1983), confirmando-se a existência de combinações<br />
de características dos estágios (quadro 6).<br />
Quadro 6. Estágios de crescimento <strong>da</strong> amostra.<br />
EMPRESA C EMPRESA B EMPRESA A<br />
Planejamento Estágio 1 Entrando no estágio 3 Saindo do estágio 2<br />
Envolvimento do proprietário Estágio 1 Estágio 2 Estágio 2<br />
Capaci<strong>da</strong>de de alavancar recursos Estágio 1 Entrando no estágio 3.2 Entrando no estágio 3.2<br />
Estrutura organizacional Estágio 1 Saindo do estágio 2 Saindo do estágio 2<br />
Tabulação própria<br />
Em segundo, a respeito <strong>da</strong>s características <strong>da</strong>s<br />
pequenas e médias empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s pudemos<br />
observar que: (i) predomina nas empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
um alto envolvimento dos proprietários; (ii) existe<br />
necessi<strong>da</strong>de de se buscar sistemas de gestão, planejamento<br />
e acompanhamento, assim como profissionais<br />
qualificados de nível gerencial, visando o crescimento<br />
de maneira sustentável; (iii) a capaci<strong>da</strong>de de alavancar<br />
recursos e os canais de distribuição constituem<br />
os principais obstáculos ao crescimento; (iv) nas<br />
empresas em que o número de funcionários e o<br />
faturamento são maiores, há mais de dois níveis hierárquicos,<br />
os sistemas de planejamento e controle e<br />
o de gestão encontram-se em etapa de desenvolvimento,<br />
e o nível de precarização <strong>da</strong>s relações de trabalho<br />
é bem menor.<br />
A terceiro é que, no caso de novos modelos de<br />
organização <strong>da</strong> produção, duas empresas apresentaram-se<br />
em processo de reestruturação organizacional,<br />
na busca por maiores flexibili<strong>da</strong>de e agili<strong>da</strong>de<br />
para alavancar o crescimento; nelas observou-se<br />
menor hierarquização, mas com diferentes graus de<br />
centralização, dependendo do tipo de ativi<strong>da</strong>de e<br />
arquitetura técnico-organizacional. No caso <strong>da</strong> terceira<br />
empresa, em função do seu tamanho, características<br />
de negócio e estilo gerencial do seu dono,<br />
observou-se alto grau de centralização.<br />
Por fim, observaram-se diferenças na evolução<br />
do faturamento <strong>da</strong>s empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, sendo a C a<br />
que apresentou a menor taxa de crescimento. O<br />
interessante disso é que as três possuem, em média, a<br />
mesma i<strong>da</strong>de (quadro 4), iniciaram suas ativi<strong>da</strong>des<br />
sem uma estratégia de mercado específica (baseando-se<br />
na formação e experiência dos proprietários)<br />
e seus proprietários ain<strong>da</strong> continuam à frente de<br />
seus negócios.<br />
Isso nos fez questionar por que a empresa C<br />
mostrava-se diferente. Uma <strong>da</strong>s explicações possíveis<br />
refere-se ao fato de que as duas empresas que conse-<br />
48 Junho • 1999
guiram impulsionar o crescimento mais rápido foram<br />
aquelas que, apesar de começarem o negócio sem<br />
uma estratégia de mercado específica, ao longo do<br />
tempo procuram um nicho de atuação no qual<br />
pudessem criar um diferencial.<br />
Apresentamos, para encerrar, o resumo geral<br />
<strong>da</strong>s informações e <strong>da</strong>dos quantitativos e qualitativos<br />
obtidos durante a entrevista e o preenchimento do<br />
questionário, com vistas a oferecer uma visão ampla<br />
<strong>da</strong>s empresas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s (quadro 7).<br />
Quadro 7. Resumo geral <strong>da</strong>s empresas.<br />
EMPRESA C B A<br />
Faturamento (1997) ~ R$ 1 milhão ~R$ 5 milhões ~R$ 8 milhões<br />
Estilo Gerencial<br />
Delegação de poder Nenhuma Média + Média<br />
Estilo pessoal Cauteloso Muito agressivo Agressivo<br />
Gestão Centralizadora Participativa Participativa<br />
Estrutura organizacional Simples Funcional Funcional<br />
Objetivos estratégicos Manter o negócio Alavancar crescimento Alavancar crescimento<br />
Sistemas de planejamento e controle Inexistente Plano de negócios fluxo de caixa<br />
Envolvimento do proprietário no negócio Excessiva Muito alto Alto<br />
Principais Obstáculos<br />
Capaci<strong>da</strong>de de alavancar recursos Muito baixa Baixa/média Baixa/média<br />
Canais de distribuição Muito poucos Poucos Poucos<br />
Estratégia empresarial<br />
Foco Baixo Muito alto Alto<br />
Customização Nenhuma Pouca Alta<br />
Envolvimento dos empregados Baixo Muito alto Alto<br />
Grau de precarização Pouca Nenhuma Nenhuma<br />
Tabulação própria<br />
Quanto às implicações deste trabalho, destacamos:<br />
(i) a necessi<strong>da</strong>de de um aprofun<strong>da</strong>mento<br />
sobre o estudo de pequenas e médias empresas, a<br />
dinâmica de crescimento delas, suas estruturas e<br />
estratégias, e os fatores associados a elas relacionados;<br />
(ii) a necessi<strong>da</strong>de de se estu<strong>da</strong>r o processo de<br />
inovação e aprendizagem nessas empresas como<br />
fator de competitivi<strong>da</strong>de; e (iii) as características dos<br />
setores, assim como o entendimento <strong>da</strong>s especifici<strong>da</strong>des<br />
(estímulos, obstáculos, investimentos, organização<br />
etc.) <strong>da</strong>s pequenas e médias empresas, trazem<br />
importantes relações com as políticas públicas de<br />
apoio e incentivo a esses tipos de empresa (como<br />
acesso ao crédito, apoio através de órgãos governamentais<br />
para redução <strong>da</strong> taxa de mortali<strong>da</strong>de delas,<br />
assim como programas de capacitação gerencial).<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Ao apoio <strong>da</strong> profª. Renata La Rovere e <strong>da</strong> Rio Soft, além <strong>da</strong> participação de dois colaboradores anônimos.<br />
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50 Junho • 1999