Entrevista com Dr. Björn Zachrisson - Dental Press
Entrevista com Dr. Björn Zachrisson - Dental Press
Entrevista com Dr. Björn Zachrisson - Dental Press
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<strong>Entrevista</strong><br />
A <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> tem dado grande ênfase à Ortodontia e Ortopedia Facial brasileira através desta<br />
seção <strong>Entrevista</strong>. Coube-nos a missão de entrevistar o <strong>Dr</strong>. <strong>Zachrisson</strong> durante o Congresso Internacional<br />
de Ortodontia de Israel, em Eilat. Agora cabe-me a missão de apresentá-lo e o faço <strong>com</strong> enorme satisfação<br />
e honra. Trata-se de uma tarefa até facil de ser cumprida, pois o <strong>Dr</strong>. <strong>Zachrisson</strong> é um dos “profissionais”<br />
da Ortodontia mais conhecidos, respeitados e solicitados no mundo inteiro. Muito jovem iniciou os seus<br />
estudos relativos à integração da ortodontia e a periodontia. Dedicou-se em seguida à colagem de braquetes<br />
e tubos aos dentes, bem <strong>com</strong>o às superfícies de restaurações metálicas e de porcelana.<br />
Portador de um senso minucioso de perfeição desenvolveu técnicas de excelência de acabamento<br />
e de retenção das correções ortodônticas. Esta procura constante o levou às pesquisas relacionadas a<br />
estética facial, dentária e do sorriso. Atualmente se dedica ao atendimento multidisciplinar <strong>com</strong> a finalidade<br />
de dar ao aparelho mastigatório o melhor desempenho relativo a função, estética e estabilidade. Apresenta<br />
uma enorme produção científica de artigos, livros e cursos ministrados em todo o mundo.<br />
Profundo conhecedor das bases biológicas, pesquisador dedicado, excelente profissional clínico e<br />
conferencista diferenciado <strong>com</strong> uma capacidade ímpar de <strong>com</strong>unicação, este colega e amigo “norueguês”,<br />
que já esteve duas vezes no nosso país ministrando cursos e que por certo se tornará ainda mais conhecido<br />
e respeitado, enriquecendo a todos nós.<br />
Kurt Faltin Junior<br />
01 - Qual a sua opinião sobre<br />
os fios ortodônticos da nova<br />
geração? <strong>Dr</strong>. Omar Gabriel da<br />
Silva Filho<br />
Os fios superelásticos são uma forma<br />
excelente e conveniente, embora<br />
cara, de se iniciar o tratamento ortodôntico.<br />
O primeiro fio, tanto na maxila<br />
<strong>com</strong>o na mandíbula, de todos os<br />
meus casos <strong>com</strong> adolescentes e adultos,<br />
é um fio pré-contornado Bioforce<br />
Sentalloy .016” x .022” inferior. Estes<br />
fios superelásticos são excelentes para<br />
se iniciar a correção de rotações e produzir<br />
o alinhamento inicial dos braquetes<br />
para que os fios de aço inoxidável<br />
dobrados possam ser utilizados<br />
para controlar a forma do arco e o movimento<br />
de corpo dos dentes. Os fios<br />
superelásticos têm pouco valor no nivelamento<br />
vertical de curvas de Spee<br />
severas e sobremordida anterior profunda.<br />
Eles também são consideravelmente<br />
menos rígidos que os fios de aço<br />
inoxidável para movimento em corpo<br />
na mecânica de deslizamento e quando<br />
utilizados <strong>com</strong> elásticos Classe II.<br />
Por esta razão, continuo a utilizar o<br />
aço inoxidável para esses movimentos<br />
dentários. Os fios beta-titânio permi-<br />
Björn <strong>Zachrisson</strong> e Kurt Faltin Jr.<br />
tem designs mais simples que os fios<br />
de aço inoxidável, mas não oferecem<br />
muita melhora no sentido de obter<br />
meus objetivos de tratamento. Como<br />
discutido pelo <strong>Dr</strong>. Rubin no Editorial da<br />
edição do mês de junho da revista The<br />
Angle Orthodontist, a próxima geração<br />
de fios ortodônticos terá índices de deflexão<br />
da carga semelhantes ao níquel<br />
titânio, permitirá que o ortodontista<br />
faça dobras de primeira e segunda ordens,<br />
será rígido, embora maleável,<br />
para permitir a forma de arco padrão<br />
e terá a coloração do dente.<br />
02 - Qual a perspectiva do enxerto<br />
ósseo para a movimentação<br />
ortodôntica nas áreas de<br />
grande perda periodontal? <strong>Dr</strong>.<br />
Omar Gabriel da Silva Filho<br />
A melhora da espessura vestibulolingual<br />
e da altura vertical do osso<br />
alveolar em áreas restituídas pode<br />
ocorrer por meio de ROG (Regeneração<br />
Óssea Guiada) e RTG (Regeneração<br />
Tecidual Guiada) utilizando-se<br />
membranas <strong>com</strong> e sem enxerto ósseo<br />
ou o Emdogain. No entanto, vários<br />
ortodontistas <strong>com</strong>o os <strong>Dr</strong>s. Stepovich,<br />
Tuverson e Turley nos EUA e os <strong>Dr</strong>s.<br />
Fontanelle, Diedrich e Wehrbein na Europa<br />
demonstraram que é possível movimentar<br />
molares de corpo para áreas<br />
de osso alveolar de espessura reduzida<br />
sem dano periodontal. Estas descobertas<br />
foram verificadas histologicamente<br />
por LINDSKOG-STOKLAND et<br />
al. Além disso, eu diria que no futuro<br />
estaremos utilizando muito mais as<br />
técnicas de ROG na Ortodontia e nos<br />
implantes dentários individuais do que<br />
estão sendo utilizadas hoje.<br />
Rev <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 1
03 - O senhor re<strong>com</strong>enda <strong>com</strong><br />
freqüência a fibrotomia gengival<br />
para evitar a recidiva de rotações<br />
dentárias bem <strong>com</strong>o a<br />
recidiva do diastema interincisivos<br />
superiores? <strong>Dr</strong>. Adilson Luiz<br />
Ramos<br />
Desde os estudos originais realizados<br />
por Edwards mostrando que a fibrotomia<br />
circunferencial é eficaz para<br />
evitar o apinhamento, o procedimento<br />
tem sido de interesse para os ortodontistas.<br />
No entanto, <strong>com</strong> o uso disseminado<br />
dos retentores linguais colados,<br />
realizo menos fibrotomias atualmente<br />
do que fazia há alguns anos<br />
atrás. Minha impressão hoje é que as<br />
fibrotomias são indicadas para rotações<br />
severas, e não para rotações menores.<br />
Minha técnica, que é simples e<br />
segura, é re<strong>com</strong>endada pelo <strong>Dr</strong>.<br />
<strong>Dr</strong>agoo, um periodontista de São Francisco<br />
que utiliza cortes interdentários<br />
verticais vestíbulo e lingualmente ao<br />
invés de abordar ao redor dos dentes<br />
na área dos sulcos. Com os cortes verticais<br />
não há risco de recessão gengival<br />
vestibular ou lingual e perda de<br />
aderência, mesmo nos tecidos finos.<br />
As fibrotomias são realizadas depois<br />
de corrigidas as posições dentárias e,<br />
<strong>com</strong> freqüência, juntamente <strong>com</strong> outras<br />
formas de cirurgias menores tal<br />
<strong>com</strong>o as frenectomias (recolocação do<br />
freio em uma direção gengival) e<br />
gengivectomias simples <strong>com</strong> o objetivo<br />
de alongar a coroa. Vejo mais indicação<br />
para as fibrotomias na maxila<br />
do que na mandíbula. O <strong>Dr</strong>. Boese relatou<br />
uma <strong>com</strong>binação de fibrotomia<br />
e desgaste e afirma que tem alcançado<br />
resultados estáveis durante quatro<br />
a nove anos sem a contenção no arco<br />
inferior. No entanto, estou muito satisfeito<br />
<strong>com</strong> meus resultados a longo<br />
prazo utilizando o retentor lingual colado<br />
<strong>com</strong> adesivos de terceira geração<br />
sem fibrotomia nas situações de rotina<br />
em adolescentes e muitos pacientes<br />
adultos.<br />
04 - O senhor utiliza o aparelho<br />
de Herbst para correção da<br />
Classe II por retrognatismo<br />
A<br />
B<br />
FIGURA 1 - Dois pacientes Classe II, Divisão 1 <strong>com</strong> padrões esqueléticos diferentes. O<br />
paciente da FIG. 1A possui uma maxila prognática e mandíbula normal enquanto que o<br />
paciente da FIG. 1B possui uma maxila normal e mandíbula retrognática. A diferença no<br />
padrão esquelético é evidente mesmo a partir de fotografias de perfil. Como conseqüência,<br />
as abordagens de tratamento ortodôntico serão diferentes (ver texto).<br />
mandibular e em qual idade? <strong>Dr</strong>.<br />
Adilson Luiz Ramos<br />
Não. Eu não utilizo o aparelho de<br />
Herbst ou qualquer outro aparelho de<br />
avanço da mordida em meu consultório<br />
para corrigir relações Classe II. A<br />
razão é que não estou certo sobre o<br />
potencial de efeitos colaterais, que<br />
pode incluir a inclinação para frente<br />
dos incisivos inferiores, possível instabilidade<br />
a longo prazo dos resultados<br />
alcançados <strong>com</strong> o tratamento no<br />
plano sagital e potenciais problemas<br />
<strong>com</strong> a ATM.<br />
O invés disso, para as correções<br />
da Classe II na maxila prognática <strong>com</strong><br />
perfis labiais protrusivos (FIG. 1A),<br />
utilizo uma <strong>com</strong>binação de ancoragem<br />
extrabucal de tração alta e arco<br />
transpalatino grande (FIG. 2A-B). A<br />
ancoragem extrabucal é utilizada segundo<br />
os princípios de Teuscher <strong>com</strong><br />
arcos externos curtos extras próximo<br />
ao centro de resistência maxilar. A ancoragem<br />
extrabucal é utilizada à noite<br />
e durante 3 a 4 horas durante o<br />
dia e, para assegurar a cooperação e<br />
o estímulo, os pacientes são solicitados<br />
a apresentar o quadro de uso da<br />
ancoragem extrabucal em todas as<br />
consultas.<br />
Em casos mais difíceis <strong>com</strong> mandíbulas<br />
retrognáticas (FIG. 1B), meu<br />
objetivo seria influenciar o processo de<br />
crescimento diferencial entre o crescimento<br />
do côndilo, o crescimento do<br />
processo alveolar e a erupção dos dentes<br />
superiores. Mantendo-se os molares<br />
superiores verticalmente e liberando-se<br />
a oclusão, alcança-se um efeito<br />
máximo para frente <strong>com</strong> o crescimento<br />
normal da mandíbula. Isto é semelhante<br />
ao que acontece no final do<br />
período do crescimento pós-puberal,<br />
<strong>com</strong> o crescimento mandibular prosseguindo<br />
embora o crescimento da<br />
maxila tenha finalizado. Portanto, minha<br />
técnica é tentar inibir o crescimento<br />
para baixo da face média e evitar a<br />
erupção dos molares superiores. Isto<br />
é feito <strong>com</strong>binando-se barra transpalatina<br />
<strong>com</strong> um loop aumentado (FIG.<br />
2B) e ancoragem extrabucal de tração<br />
alta <strong>com</strong> força baixa. Ram Nanda<br />
demonstrou que ao se utilizar um aparelho<br />
de Nance de acrílico por mais<br />
de um ano, a intrusão ativa dos molares<br />
superiores é realmente possível.<br />
A barra transpalatina <strong>com</strong> loop aumentado<br />
age de maneira semelhante<br />
a um aparelho de Nance, mas é mais<br />
higiênica. Em casos em que os incisi-<br />
Rev <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 2
A<br />
B<br />
FIGURA 2 - Ancoragem extrabucal de tração alta (A) e barra transpalatina grande (B)<br />
utilizadas para corrigir más-oclusões Classe II.<br />
FIGURA 3 - Elásticos curtos e pesados utilizados<br />
para correção da Classe II. Os elásticos<br />
curtos, pesados, algumas vezes podem<br />
atuar do primeiro pré-molar superior<br />
ao primeiro molar inferior ou do canino superior<br />
ao segundo pré-molar inferior.<br />
06 - O que o senhor poderia <strong>com</strong>entar<br />
sobre as estabilidades<br />
pós-intrusão unitária e múltipla?<br />
<strong>Dr</strong>. Hélio Terada<br />
Falando de maneira genérica, consideraria-se<br />
que a movimentação dentária<br />
no plano vertical do espaço tivesse<br />
a mesma tendência à recidiva<br />
que qualquer outro tipo de movimentação<br />
dentária. Isto implica que ela<br />
tenha de ser <strong>com</strong>pletamente corrigida<br />
e preferivelmente colocada em contenvos<br />
inferiores precisam ser ou podem<br />
ser inclinados para frente, eu faria isto<br />
utilizando elásticos pesados e curtos<br />
Classe II <strong>com</strong> forças de 10-12 onças<br />
em cada lado ao invés de um arco inferior<br />
<strong>com</strong>pleto (FIG. 3).<br />
05 - Diante dos avanços técnicos<br />
dos materiais ortodônticos,<br />
<strong>com</strong>o o senhor vê o futuro da<br />
Ortodontia? <strong>Dr</strong>. Hélio Terada<br />
Devido aos muitos avanços técnicos<br />
ocorridos nos últimos anos, a<br />
Odontologia em geral e a Ortodontia<br />
em particular nunca foram tão agradáveis<br />
de se trabalhar <strong>com</strong>o hoje. O<br />
futuro também parece ser extremamente<br />
brilhante. Aparelhos estéticos e<br />
fios melhorados serão indiscutivelmente<br />
desenvolvidos no futuro tornando<br />
os aparelhos ortodônticos quase<br />
invisíveis. No momento, nenhuma das<br />
alternativas “estéticas” ou “dento-coloridas”<br />
são boas. Por essa razão, atualmente<br />
utilizo muitos braquetes revestidos<br />
de ouro em meus pacientes<br />
ortodônticos, particularmente na mandíbula<br />
e nas partes posteriores da dentadura<br />
superior. A satisfação do paciente<br />
<strong>com</strong> tais acessórios é maior do<br />
que o esperado. No entanto, no futu-<br />
ção <strong>com</strong> retentores colados, se aplicável<br />
ao caso.<br />
A intrusão seletiva de dentes individuais<br />
(à la Vince Kokich) apenas restaura<br />
uma posição ótima original dos<br />
dentes que são supra-irrompidos subseqüentemente<br />
a uma fratura de coroa<br />
ou tipo semelhante de dano. A intrusão<br />
seletiva de tais dentes será,<br />
portanto, estável. Semelhantemente, a<br />
intrusão de um segmento de incisivos<br />
inferiores para nivelar uma curva<br />
marcante de Spee em casos Classe II<br />
<strong>com</strong> trespasses horizontais grandes<br />
restaura a posição “normal” dos incisivos<br />
após uma sobre-erupção prévia<br />
dos dentes. Esta sobre-erupção acima<br />
do plano oclusal funcional ocorre pela<br />
ausência de contato <strong>com</strong> os incisivos<br />
superiores e, conseqüentemente, a correção<br />
deve ser considerada estável.<br />
Nesta conexão, gostaria de enfatizar<br />
que, atualmente, não nos esforçamos<br />
para intruir ativamente os incisivos<br />
superiores na maioria das situações<br />
de sobremordida mais profunda.<br />
Novas informações sobre a disposição<br />
dos dentes em conversação<br />
normal e <strong>com</strong> os lábios em repouso<br />
deixaram claro que esconder os incisivos<br />
superiores atrás do lábio suro,<br />
os pacientes continuarão a exigir e<br />
esperar aparelhos muito mais imperceptíveis.<br />
Bob Kusy em Chapel Hill está<br />
realizando uma pesquisa interessante<br />
sobre fios dento-coloridos produzidos<br />
por uma técnica chamada “poltrusão”,<br />
embora seus experimentos ainda se<br />
encontrem em estágio experimental.<br />
Ainda não estou certo de que as técnicas<br />
linguais irão ou não cativar. Isto<br />
basicamente porque a posição de trabalho<br />
para os ortodontistas na<br />
Ortodontia lingual é desconfortável e<br />
inconveniente. No entanto, as fixações<br />
linguais também se tornaram marcadamente<br />
melhores antes que a<br />
Ortodontia lingual se mostrasse<br />
significante na Ortodontia de rotina.<br />
Rev <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 3
perior não é o desejado, exceto nos<br />
casos <strong>com</strong> sorrisos “gengivosos” marcantes<br />
e em alguns casos periodontais<br />
<strong>com</strong> migração dentária. O conceito<br />
se aplica à cirurgia ortognática<br />
e à protética, mas também à Ortodontia,<br />
evidentemente. Isto significa que<br />
a intrusão nas sobremordidas profundas<br />
são realizadas na mandíbula, utilizando-se<br />
arcos-base para não se<br />
“envelhecer” os pacientes desnecessariamente.<br />
Isto é discutido em mais<br />
detalhes em um artigo de minha autoria<br />
sobre os aspectos verticais da<br />
disposição dentária e do sorriso, publicado<br />
na edição de julho de 1998<br />
da revista Journal of Clinical Orthodontics.<br />
A<br />
C<br />
B<br />
D<br />
FIGURA 4 - A maneira <strong>com</strong>o a natureza <strong>com</strong>pensa uma base apical superior estreita<br />
é inclinando as coroas dos dentes superiores vestibularmente <strong>com</strong>o observado<br />
neste paciente Classe III <strong>com</strong> tendência a mordida aberta (A-B). C) mostra<br />
a aparência extrabucal 4 anos após o tratamento e D) mostra a condição intrabucal<br />
pós-tratamento. Observe os excelentes efeitos estéticos produzidos pelo torque<br />
na coroa.<br />
07 - Considerando-se que as<br />
superfícies vestibulares dos<br />
dentes são perfeitas, que os<br />
braquetes utilizados também<br />
são perfeitos e que a técnica<br />
utilizada para colagem está<br />
correta, quais são as indicações<br />
para a introdução de dobras<br />
em fios retangulares? <strong>Dr</strong>.<br />
Kurt Faltin Jr.<br />
As razões da necessidade de se fazer<br />
dobras no fio devem-se ao fato de<br />
que os fios retos irão automaticamente<br />
subcorrigir as relações dos pontos<br />
de contato (a chamada Ortodontia 9/<br />
10), subtratar as assimetrias dos lados<br />
direito e esquerdo no torque de<br />
coroa e raiz e, também, por causa da<br />
variação biológica na resposta ao tratamento.<br />
A variação individual no<br />
torque de coroa de cada categoria de<br />
dentes é considerável. Em um estudo<br />
excelente publicado na edição de julho<br />
de 1997 da revista American<br />
Journal of Orthodontics and Dentofacial<br />
Orthopedics escrito pelos <strong>Dr</strong>s.<br />
Ugur e Yukay de Ankara – Turquia,<br />
os desvios-padrões para todas as categorias<br />
diferentes de dentes geralmente<br />
foram da ordem de 5º tornando<br />
os valores “médios” para o torque<br />
nos braquetes relativamente sem significado.<br />
Além disso, o torque da coroa dos<br />
dentes deve ser individualizado e correlacionado<br />
ao tamanho da base<br />
apical dos pacientes. Por exemplo, um<br />
indivíduo <strong>com</strong> base apical superior estreita<br />
(FIG. 4A-B) deve ter torque reto<br />
de coroa ou até mesmo vestibular nas<br />
áreas de canino e pré-molar (FIG. 4C-<br />
D). Por um outro lado, um paciente<br />
<strong>com</strong> maxila larga pode necessitar de<br />
torque lingual na coroa. O perigo de<br />
não se analisar este problema adequadamente<br />
e, assim, não introduzir<br />
dobras nos fios, é ilustrado na FIG.<br />
5A-D onde os efeitos de um aparelho<br />
straight-wire pré-ajustado reduziram<br />
a aparência estética do sorriso em um<br />
paciente <strong>com</strong> base apical de tamanho<br />
normal na maxila. Em outras palavras,<br />
o paciente nos pareceu melhor<br />
antes (FIG. 5A-B) do que após o tratamento<br />
ortodôntico (FIG. 5C-D)!<br />
Parece que esta informação é tão<br />
nova que, no presente, muitos ortodontistas<br />
parecem não saber <strong>com</strong>o fazer o<br />
exame clínico quanto às avaliações estéticas<br />
na cadeira durante o tratamento<br />
ortodôntico. Tanto as avaliações verticais<br />
<strong>com</strong>o transversais bem <strong>com</strong>o os<br />
julgamentos sobre a linha média devem<br />
ser realizados diretamente de<br />
frente (FIG. 6). Também quando é hora<br />
de serem feitas as verificações clínicas<br />
para correção das relações dos<br />
pontos de contato entre dentes individuais,<br />
um número considerável de<br />
ortodontistas parece não estar alerta<br />
sobre <strong>com</strong>o fazer uma correção e análise<br />
crítica. Para os dentes inferiores<br />
será necessário <strong>com</strong>parar os resultados<br />
em direção ao final do tratamento<br />
<strong>com</strong> a aparência original nos modelos<br />
pré-tratamento. Para os dentes superiores,<br />
deve-se usar também um espelho<br />
clínico para se “enxergar” melhor<br />
quais correções são necessárias em<br />
cada caso individual.<br />
Em minha opinião, há somente a<br />
necessidade de se ter braquetes prétorqueados<br />
para os incisivos centrais<br />
superiores, segundos molares superiores<br />
e caninos inferiores. Para os<br />
Rev <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 4
A<br />
C<br />
não-tratada. Por razões funcionais, é<br />
melhor ter pré-molares e molares inferiores<br />
verticalizados para que o risco<br />
de indução a interferências de balanceio<br />
seja reduzido. Os caninos inferiores<br />
também podem apresentar<br />
uma tendência de lingualização durante<br />
o tratamento e, no momento, estou<br />
experimentando braquetes <strong>com</strong> diferentes<br />
graus de torque vestibular na<br />
coroa destes dentes. Os aparelhos mais<br />
pré-ajustados apresentam torque lingual<br />
na coroa definido para os caninos<br />
inferiores, que algumas vezes pode<br />
servir para aumentar a tendência de<br />
lingualização destes dentes.<br />
B<br />
FIGURA 5 - Efeito indesejado do aparelho ortodôntico pré-ajustado. A utilização sem<br />
controle do aparelho resultou no torque lingual dos caninos e dentes posteriores no<br />
paciente jovem do sexo masculino <strong>com</strong> largura normal pré-tratamento da base apical<br />
superior. Observem a diferença no torque da coroa antes (A-B) e após (C-D) o tratamento.<br />
A aparência estética é melhor antes do tratamento! Este efeito ficará desapercebido<br />
se o resultado do tratamento não for analisado de frente (ver Figura 6).<br />
08 - Quais são os seus princípios<br />
<strong>com</strong> respeito à harmonia facial<br />
e à estética? <strong>Dr</strong>. Kurt Faltin<br />
Jr.<br />
Para dar uma resposta curta a um<br />
problema difícil e desafiante, vou me<br />
limitar à análise estética frontal da face<br />
realizada na posição de repouso, em<br />
conversação normal e sorrindo.<br />
No plano vertical do espaço, dou<br />
atenção e tento criar:<br />
a) Uma curva dos incisivos superiores<br />
paralela ao contorno interno do<br />
lábio inferior;<br />
b) uma curva suave, gradual dos<br />
dentes anteriores aos posteriores;<br />
c) uma apresentação ótima relacionada<br />
à idade dos incisivos superiores<br />
<strong>com</strong> os lábios relaxados e durante<br />
uma conversação normal.<br />
Como regra geral este conceito imprimeiros<br />
e segundos molares inferiores<br />
onde a maioria dos sistemas préajustados<br />
apresenta um torque lingual<br />
marcante na coroa, eu utilizo braquetes<br />
<strong>com</strong> torque zero. A razão para esta<br />
decisão é que os braquetes não-torqueados<br />
na realidade irão agir <strong>com</strong>o<br />
um freio à inclinação lingual das coroas<br />
dos molares. No estudo dos <strong>Dr</strong>s.<br />
D<br />
Ugur e Yukay onde os resultados clínicos<br />
<strong>com</strong> a utilização de braquetes<br />
edgewise padrão e braquetes de Roth<br />
foram <strong>com</strong>parados, verificou-se que<br />
nos dois grupos os primeiros molares<br />
inferiores foram inclinados mais<br />
lingualmente após o tratamento ortodôntico<br />
do que os primeiros molares<br />
inferiores em uma amostra normal<br />
FIGURA 6 - Posições preferidas paciente/médico para se fazer avaliações estéticas durante o tratamento ortodôntico. Quando a<br />
cabeça do paciente é posicionada na lateral do apoio de cabeça da cadeira, é possível que o ortodontista estude a face do paciente<br />
e a dentição diretamente de frente.<br />
Rev <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 5
plica em se ter uma exposição o<br />
quanto menor possível dos incisivos<br />
inferiores;<br />
No plano transversal do espaço,<br />
meus objetivos incluiriam:<br />
d) simetria do torque entre os caninos<br />
e pré-molares nos lados direito<br />
e esquerdo da boca de cada paciente;<br />
e) um torque na coroa dos caninos<br />
superiores, pré-molares e molares<br />
relacionado ao tamanho da base<br />
apical. Os dentes importantes para<br />
obtenção de sorrisos <strong>com</strong>pletos sem<br />
expansão são os dentes mais posteriores<br />
exibidos no sorriso, cujo<br />
torque na coroa deve ser relativamente<br />
reto na maioria dos casos;<br />
f) evitar a inclinação lingual dos<br />
caninos, pré-molares e primeiros e<br />
segundos molares inferiores. Isto por<br />
razões estéticas e funcionais.<br />
Com respeito às linhas médias<br />
quero ter as linhas médias dentárias<br />
superior e inferior coincidindo <strong>com</strong><br />
a linha média superior centrada no<br />
meio do arco do Cupido do lábio superior.<br />
09 - Depois de visitar o Brasil<br />
duas vezes ministrando cursos,<br />
qual a sua opinião sobre<br />
a situação da Ortodontia em<br />
nosso país? <strong>Dr</strong>. Kurt Faltin Jr.<br />
Não há dúvidas de que o nível da<br />
Ortodontia no Brasil é muito bom no<br />
momento que a qualidade da Ortodontia<br />
no país, <strong>com</strong>o no restante do<br />
mundo, está sempre melhorando.<br />
Durante meus cursos e palestras em<br />
congressos internacionais no Brasil,<br />
encontrei, ouvi e discuti questões da<br />
Ortodontia <strong>com</strong> muitos profissionais<br />
excelentes e interessados. Vocês possuem<br />
líderes e professores de destaque<br />
<strong>com</strong>o os <strong>Dr</strong>s. Miguel Benvenga,<br />
Carlos Vogel, Ana e Roberto Lima,<br />
Roberto Trevisan, você e outros. Isto<br />
é uma garantia a ações em cadeia<br />
para a nova geração de jovens ortodontistas<br />
em seu país. Ao mesmo<br />
tempo, diria que tenho a impressão<br />
de que parece haver uma tendência<br />
de alguns ortodontistas brasileiros<br />
Adilson Luis Ramos<br />
- Conselho Editorial<br />
Científico da Revista Denta<br />
<strong>Press</strong> de Ortodontia e<br />
Ortopedia Maxilar.<br />
- Graduação pela Fac.<br />
Odontologia de Bauru -<br />
USP.<br />
- Ex-Residente do Setor de Ortodontia do<br />
Hospital de Reabilitação de Bauru - USP<br />
- Professor de Ortodontia do Departamento de<br />
Odontologia da Universidade Estadual de<br />
Maringá - PR.<br />
- Coordenador do I Curso de Aperfeiçoamento<br />
em Ortodontia promovido pelo Instituto de<br />
Pesquisas odontológicas, em convênio <strong>com</strong><br />
a Universidade Estadual de Maringá.<br />
- Coordenador do II Curso de Especialização<br />
de Ortodontia promovido pela Assoc.<br />
Maringaense de Odontologia (regional ABO<br />
- Maringá).<br />
Kurt Faltin Jr.<br />
- Pós-graduado em Ortopedia<br />
Maxilar pela Universidade<br />
de Bonn-Alemanha<br />
- Doutorado (<strong>Dr</strong>. medicina<br />
dentística) em Ortopedia<br />
pela Universidade de Bonn-<br />
Alemanha<br />
- Professor titular da disciplina de Ortodontia<br />
da UNIP<br />
- Coordenador do curso de Especialização em<br />
Ortodontia da UNIP<br />
de seguirem os ensinamentos de<br />
seus gurus americanos muito literalmente.<br />
Isto pode criar um atrito desnecessário<br />
entre as diferentes escolas<br />
de pensamento. Uma maior individualização<br />
e variação das abordagens<br />
de tratamento <strong>com</strong>o estamos<br />
habituados a ver na Europa provavelmente<br />
reduzia os mal-entendidos<br />
e levaria os adeptos de filosofias diferentes<br />
mais próximos um do outro.<br />
Nenhuma filosofia da Ortodontia<br />
possui todas as respostas e, certamente,<br />
precisamos ouvir uns aos<br />
outros e trocar informações e experiências.<br />
Hélio Terada<br />
- Mestrado pela Universidade<br />
de Araraquara - SP.<br />
- Doutorando pela mesma<br />
instituição.<br />
- Professor de Ortodontia da<br />
UEM - Universidade<br />
Estadual de Maringá - PR.<br />
- Coordenador do I Curso de Especialização<br />
em Ortodontia promovido pela AMO -<br />
Associação Maringaense de Odontologia,<br />
Regional ABO.<br />
- Professor do II Curso de Especialização da<br />
AMO.<br />
Omar Gabriel da<br />
Silva Filho<br />
- Coordenador do Curso de<br />
Atualização em Ortodontia<br />
Preventiva e Interceptativa,<br />
promovido pela PROFIS<br />
(Sociedade de Promoção<br />
Social do Fissurado Lábio-Palatal) - Bauru /<br />
SP.<br />
- Professor do Curso de Especialização em<br />
Ortodontia promovido pela PROFIS<br />
(Sociedade de Promoção Social do<br />
Fissurado Lábio-Palatal) - Bauru / SP.<br />
- Ortodontista do Hospital de Pesquisa e<br />
Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais da<br />
Universidade de São Paulo, em Bauru.<br />
Rev <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 6