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José Pazini<br />
Diego Fernando Dotta Couto<br />
Eu e a Kombi. A Kombi e eu. Tudo começou em 1963. Logo, já<br />
sabia que ia ser uma parceria mais do que fiel. Uma relação de<br />
cumplicidade, cercada de muitos momentos especiais.<br />
Aquilo era quase a realização de um sonho, a expressão máxima<br />
de uma felicidade que eu alimentava desde o dia que comecei a<br />
ajuntar meu suado dinheirinho, até o dia que, sentado a mesa do<br />
funcionário da loja, pude bater no peito, em alto e bom som soltei<br />
a voz dizendo: - “Que maravilha, eu tenho uma Kombi”.<br />
assunto com o pessoal da frente, ora admirando a paisagem lá<br />
de traz. Bom, mas nem só de lazer tem essa relação homemmáquina.<br />
Minha Kombi me ajudou nos mais variados trabalhos.<br />
Eu transportei de tudo dentro dela. Afinal, ao retirar o banco<br />
central, o espaço é inacreditável. Por ali, já passaram máquinas<br />
e ferramentas pesadas da época que eu era proprietário de uma<br />
mecânica de peças. Outrora, carreguei grandes tonéis e barris<br />
de produtos químicos na minha passagem por uma empresa<br />
especializada nesse ramo.<br />
Queríamos só nos conhecer, agora eu quero mais.<br />
A partir desse dia minha vida mudou. Eu tinha espaço para tudo.<br />
Carregava os amigos pra lá e pra cá. Com nossos brilhantes topetes,<br />
calças boca de sino e muita descontração, íamos dar um passeio<br />
na praça central paquerar as garotas. Bom, é verdade que com<br />
essa pomposa “máquina” era fácil ser notado e assim já tínhamos<br />
vantagem sobre os demais concorrentes que perambulavam a pé<br />
na tentativa de conquistar as moçoilas.<br />
Em casa, parece que tudo ficou melhor. Minha família ali dentro,<br />
toda reunida saindo de Sorocaba e indo aos mais variados<br />
destinos, rumo a casa de parentes pelas cidades do Paraná, ou<br />
em passeios por várias cidades de São Paulo e tantos outros<br />
caminhos. Aliás, pra falar a verdade, o destino às vezes pouco<br />
importava pois sempre a visão era privilegiada. Todo mundo tinha<br />
seu lugar reservado, sua janela preferida. Lembro que meu pai<br />
adorava ir na frente. Íamos conversando sobre os mais diversos<br />
assuntos, em especial do nosso querido Palestra Itália que, naquela<br />
época, só nos dava alegria, pois era uma verdadeira academia<br />
de futebol. Minha mãe adorava ir no último banco. Dizia ela que,<br />
de lá, enxergava a família toda e assim viajava mais tranquila.<br />
Meus irmãos iam se revezando pelos bancos, ora querendo puxar<br />
Perdi a conta também dos favores. É que os amigos e vizinhos<br />
sabiam exatamente onde encontrar ajuda na hora que fosse<br />
preciso transportar alguma coisa. Era alguém precisar fazer uma<br />
mudança que já vinha um nome na cabeça: “a Kombi do Zé”. Mas<br />
eu não ligava, aquilo pra mim era pura diversão, uma espécie de<br />
desafio, um novo teste que eu tinha que passar junto com minha<br />
querida máquina. E, mesmo com tanto tempo de história, parece<br />
que a menina não cansa. Nunca reclamou de nada. Sempre<br />
esteve ali, preocupada em fazer o melhor, em mostrar que é o<br />
melhor utilitário já inventado.<br />
É claro que hoje já poupo ela. Um descanso merecido para quem<br />
tanto me ajudou. Dou só um trabalhinho ali, outro aqui. O máximo<br />
de esforço que ela faz atualmente é transportar os instrumentos<br />
musicais da banda do meu filho. Mas juro que é só de vez em<br />
quando. Pra mim, só de saber que ela está ali há tantos anos<br />
do meu lado, sendo tão fiel, já é motivo para deixar um sorriso<br />
contínuo no canto da minha boca. É a alegria que embala meu<br />
café da manhã e acalma meu final de noite.<br />
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