JORNAL_ED 94 DEZEMBRO.indd - Contag
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ENtrEVista<br />
KAILASH SATYARTHI<br />
ARQUivO PESSOAL<br />
O entrevistado desta edição<br />
do Jornal da CONTAG é o<br />
professor indiano Kailash<br />
Satyarthi, coordenador da<br />
Marcha Global Contra o<br />
Trabalho Infantil, que nos fala<br />
sobre a questão do trabalho<br />
de crianças e adolescentes<br />
na agricultura, da formação<br />
de suas identidades enquanto<br />
sujeitos do campo e o<br />
controle social dos programas<br />
e políticas voltados para<br />
formação desse público.<br />
Kailash comenta também as<br />
práticas na agricultura familiar<br />
e sua relação com a educação<br />
para a vida no campo.<br />
Como você vê o trabalho de crianças<br />
e adolescentes na agricultura familiar?<br />
Os agrotóxicos, máquinas e eletricidade<br />
fizeram o trabalho na agricultura perigoso<br />
e arriscado para crianças e adolescentes.<br />
O agronegócio marginalizou e fragilizou<br />
a agricultura familiar e muitos trabalhadores<br />
rurais não têm mais autonomia<br />
em seus processos produtivos, nem nos<br />
recursos gerados por eles. inserir nas cadeias<br />
de produção crianças e adolescentes<br />
rurais é um erro das famílias, ao custo<br />
de sua saúde e educação. As empresas<br />
locais e as multinacionais do agronegócio<br />
se eximem da responsabilidade de<br />
monitorar suas cadeias de fornecimento.<br />
Eles devem respeitar as leis nacionais e<br />
as normas internacionais. é preciso estimular<br />
ações conjuntas de trabalhadores<br />
e empregadores no monitoramento das<br />
cadeias de produção e fornecimento de<br />
matérias-primas ou produtos. Crianças e<br />
adolescentes que trabalham têm maiores<br />
possibilidades de evasão escolar. Em 11<br />
países latino-americanos o trabalho infantil<br />
diminuiu em 16% as notas nas 3ª e 4ª<br />
séries em disciplinas como a língua nativa<br />
e mais ainda em matemática. O trabalho<br />
na agricultura familiar não deve conflitar<br />
com a educação, saúde e oportunidades<br />
futuras das crianças e adolescentes do<br />
campo.<br />
Como formar a identidade de crianças<br />
e adolescentes como sujeitos do<br />
campo?<br />
Com garantia da escolaridade obrigatória.<br />
A escola tem papel importante na constituição<br />
da identidade. Os agricultores familiares<br />
também devem ser sensibilizados e<br />
informados sobre os impactos do trabalho<br />
infantil visando ganhos financeiros de curto<br />
prazo que comprometem suas oportunidades<br />
futuras no longo prazo.<br />
Como envolver o MSTTR no controle<br />
de programas e políticas sociais de<br />
proteção de crianças e adolescentes?<br />
Os sindicatos devem lutar pela melhoria<br />
da segurança e saúde ocupacional para<br />
trabalhadores na agricultura, conforme<br />
a Convenção 184 da OiT, sem se restringir<br />
à simples realização de campanhas,<br />
transformando o trabalho infantil perigoso<br />
em emprego decente, além de participar<br />
de programas inovadores de segurança<br />
e saúde do trabalhador, por exemplo,<br />
apoiando agentes comunitários de saúde<br />
na abordagem sobre o trabalho infantil<br />
nas comunidades rurais e monitorar e<br />
acompanhar a existência de trabalho infantil<br />
na agricultura por meio das negociações<br />
e acordos coletivos e participar<br />
do desenvolvimento e implementação de<br />
sistemas comunitários de monitoramento<br />
do trabalho infantil.<br />
A educação para a vida no campo<br />
pode ser feita sem expor as crianças<br />
e adolescentes?<br />
O trabalho infantil deve ser considerado<br />
apenas em situações necessárias, onde<br />
a saúde, educação e lazer das crianças e<br />
adolescentes não são prejudicadas, sem<br />
serem expostas a agrotóxicos, máquinas<br />
elétricas, ferramentas pontiagudas etc. Algumas<br />
práticas na agricultura familiar podem<br />
permanecer como atividades de formação,<br />
desde que por um período curto,<br />
sob supervisão e orientação dos pais ou<br />
adultos responsáveis, com caráter pedagógico<br />
de contribuir para a constituição da<br />
criança e do adolescente enquanto sujeito<br />
do campo e sem visar o lucro.<br />
iNtErNaCioNais<br />
Aprovadas recomendações para os espaços da REAF<br />
Durante a XVIII Reunião Especializada sobre<br />
Agricultura Familiar no Mercosul (REAF), de 11 a 15<br />
de novembro, em Caxias do Sul/RS, entre as participações<br />
e ações da sociedade civil foram aprovadas<br />
recomendações para todos os espaços da<br />
REAF, além do balanço e avaliação de dezembro<br />
de 2011 até agora. O encontro contou com a participação<br />
da diretoria, assessoria e delegados da<br />
CONTAG dos estados do Amazonas, Minas Gerais<br />
e Rio Grande do Sul.<br />
Quanto ao Ano Internacional da Agricultura Familiar<br />
(AIAF) 2014, aprovado na Assembleia Geral<br />
da ONU, em dezembro de 2011, é promovido por<br />
360 associações, 5 continentes e mais de 60 países.<br />
O objetivo do AIAF é promover políticas em<br />
favor do desenvolvimento sustentável baseado na<br />
unidade familiar, potencializar o papel das organizações<br />
agrárias, camponesas e de pescadores<br />
artesanais e sensibilizar a sociedade civil e os governos<br />
sobre a importância de apoiar a agricultura<br />
familiar. A sociedade civil da REAF recomenda que<br />
se reconheça esse espaço como uma oportunidade<br />
para gerar condições de diálogo e políticas,<br />
além de estabelecimento de metas concretas.<br />
BALANÇO E DESAFIOS – Foi reafirmado que a<br />
REAF é um espaço de diálogo participativo e democrático<br />
que constrói critérios e institucionalidade<br />
para a agricultura familiar nos países da região,<br />
promovendo o empoderamento das organizações<br />
em geral, das mulheres e jovens do campo, em<br />
particular. Foi manifestada a necessidade de criar<br />
um sistema permanente de controle social, monitoramento<br />
e avaliação sobre a execução das recomendações<br />
e conclusões da REAF por parte dos<br />
governos.<br />
Para a vice-presidente e secretária de Relações<br />
Internacionais da CONTAG, Alessandra Lunas, a<br />
REAF pode contribuir com a construção do Marco<br />
Estratégico de Cooperação para a Agricultura Familiar,<br />
e no diálogo e interação entre governo e sociedade<br />
civil. “Reconhecemos o compromisso e a<br />
preocupação das nações em possibilitar um espaço<br />
com os produtores familiares para aprofundar o<br />
debate em torno dos impactos das negociações<br />
comerciais do Mercosul para a agricultura familiar”.<br />
A dirigente destacou ainda a importância de a sociedade<br />
civil estabelecer um diálogo permanente<br />
com os governos no sentido de vizibilizar a produção<br />
da agricultura familiar em todos os campos.<br />
PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES – Propostas<br />
que dêem visibilidade à agricultura familiar; Desenvolvimento<br />
Rural Integral em todos os países; cooperativismo<br />
como ferramenta de desenvolvimento;<br />
políticas que assegurem a sucessão rural na agricultura<br />
familiar; igualdade de gênero; planejamento<br />
do uso e acesso aos recursos naturais, e urgência<br />
para criação de fundos de emergência para cobrir<br />
ações de mitigação e adaptação às mudanças<br />
climáticas; e preservação do território dos povos<br />
indígenas, originários e comunidades quilombolas.<br />
JONAS ROSA<br />
EXP<strong>ED</strong>IENTE<br />
Jornal da CONTAG - Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-<br />
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