1 Ano V ⢠nº 97 ⢠10 a 24 de maio de 2006 ⢠R$ 3,50 - Roteiro BrasÃlia
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serviços e estudando durante a noite<br />
com uma vizinha que era professora.<br />
“Naquele tempo existia uma carteira <strong>de</strong><br />
menor trabalhador e o coronel assinava<br />
a minha e pagava certinho, sempre em<br />
dia”, conta.<br />
A vida do futuro compositor parecia<br />
estar mesmo ligada às Forças Armadas.<br />
Aos 15 anos, ele se mudou para a casa <strong>de</strong><br />
outro militar, o briga<strong>de</strong>iro Muniz, que<br />
se tornou seu protetor e o enviou, dois<br />
anos <strong>de</strong>pois, para fazer o tiro <strong>de</strong> guerra<br />
e, em seguida, o curso <strong>de</strong> retificador na<br />
Fabrica Nacional <strong>de</strong> Motores – FNM.<br />
Isso lá pelos idos <strong>de</strong> 1943, no auge da II<br />
Guerra Mundial. Após o curso, Manoel<br />
Fre<strong>de</strong>rico se empregou na FNM e<br />
começou a alçar seus próprios vôos.<br />
DESDE A ADOLESCÊNCIA Manoel<br />
Fre<strong>de</strong>rico cantarolava sozinho e<br />
perguntava aos amigos se conheciam a<br />
música que ele estava cantando. Diante<br />
das respostas negativas, ele pensava:<br />
“Então estou fazendo música, estou<br />
compondo”. Nesse tempo, sambistas<br />
como Donga, Benedito Lacerda e João<br />
da Baiana reuniam-se na Cinelândia,<br />
no centro do Rio. E era nessa roda <strong>de</strong><br />
bambas que aquele crioulo magrelo e<br />
elegante ia mostrar suas composições.<br />
“Eles me corrigiam o português, me<br />
davam algumas dicas e fui apren<strong>de</strong>ndo<br />
a trabalhar com meus erros: quando<br />
queria algum parceiro mais famoso<br />
para assinar uma composição comigo,<br />
eu mostrava o samba com alguma coisa<br />
errada. Ele consertava e estava feita a<br />
parceria”, confessa marotamente.<br />
Em 1944, num sábado, indo<br />
<strong>de</strong> bon<strong>de</strong> visitar seu parceiro mais<br />
constante, João Correa da Silva, compôs<br />
quase inteiro seu samba mais famoso,<br />
o Bobo pra Tudo. Após completar o<br />
samba, João Correa vaticinou: “Temos<br />
um gran<strong>de</strong> samba, vamos levar para<br />
o Alci<strong>de</strong>s Gerard que ele vai gravar”.<br />
Não <strong>de</strong>u outra: foi um sucesso que<br />
abriu as portas para Manoel, que já<br />
era Briga<strong>de</strong>iro. “Esse meu apelido<br />
veio no final do curso da FNM, porque<br />
eu era apadrinhado pelo Briga<strong>de</strong>iro<br />
Muniz e também porque sempre gostei<br />
<strong>de</strong> branco e me trajei muito bem,<br />
no esmero”, relata. Naquele tempo,<br />
trabalhando na Fabrica Nacional <strong>de</strong><br />
Motores e ganhando algum dinheiro<br />
como compositor, Briga<strong>de</strong>iro pô<strong>de</strong> se<br />
casar com Astrogil<strong>de</strong>s Margarida <strong>de</strong><br />
Moura, empregada doméstica que ele<br />
conhecera nos tempos em que também<br />
era doméstico na casa do briga<strong>de</strong>iro<br />
Muniz. Com ela teria cinco filhos e<br />
viveria por mais <strong>de</strong> 58 anos.<br />
Em 1<strong>97</strong>4, já funcionário do<br />
Ministério <strong>de</strong> Viação e Obras, Briga<strong>de</strong>iro<br />
veio para a Capital da República, mais<br />
precisamente para a Asa Norte. “Parece<br />
que foi coisa planejada, vir para este<br />
apartamento em que moro até hoje e<br />
ter como vizinho, morando no prédio<br />
em frente, o Julinho do Samba, meu<br />
saudoso companheiro <strong>de</strong> roda <strong>de</strong><br />
samba”, comenta.<br />
Portelense, Briga<strong>de</strong>iro não po<strong>de</strong>ria<br />
<strong>de</strong>ixar também <strong>de</strong> se congraçar com os<br />
sambistas da ARUC, afilhada da escola<br />
carioca. Lá, logo se enturmou com os<br />
compositores, a <strong>maio</strong>ria também do Rio,<br />
e começou a participar <strong>de</strong> apresentações<br />
e almoços regados a muito samba.<br />
Sempre no seu terno branco, Manoel<br />
Briga<strong>de</strong>iro foi fazendo seu nome e sua<br />
pessoa serem conhecidos e queridos por<br />
toda cida<strong>de</strong>. Foi diretor da Associação<br />
das Escolas <strong>de</strong> Samba do Distrito<br />
Fe<strong>de</strong>ral e embaixador oficial do carnaval<br />
da cida<strong>de</strong>, e recebeu do governo três<br />
comendas. “Tudo isso sem nunca <strong>de</strong>ixar<br />
<strong>de</strong> compor e <strong>de</strong> me apresentar em shows<br />
por todo o Distrito Fe<strong>de</strong>ral”, orgulha-se.<br />
Eva Pimenta, uma das sócias do Café<br />
da Rua Oito, reduto <strong>de</strong> músicos da Asa<br />
Norte, promoveu diversos espetáculos<br />
em homenagem ao compositor e se diz<br />
uma fã incondicional da sensibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Briga<strong>de</strong>iro. “Ele é uma pessoa nobre<br />
e trata as outras pessoas com nobreza,<br />
principalmente as mulheres. Até nos<br />
sambas ele é um feminista”, comenta<br />
Eva. O feminismo a que se refere está<br />
num samba <strong>de</strong> 1944, época em que a<br />
<strong>maio</strong>ria dos compositores não tratava as<br />
mulheres com tanto respeito. A letra diz<br />
assim: “Dê liberda<strong>de</strong> a ela / para fazer<br />
o que quiser / quer ser feliz na vida / dê<br />
liberda<strong>de</strong> à mulher”.<br />
NO RIO DE JANEIRO, existe, há muitos<br />
anos, um centro espiritual <strong>de</strong> matriz<br />
africana <strong>de</strong>nominado Lei da Cruz.<br />
Nele são <strong>de</strong>senvolvidos trabalhos <strong>de</strong><br />
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