BIOECONOMIA - Revista O Papel
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ciativa passou a contar também com o apoio da ABTCP,<br />
com a multiplicação no Estado de São Paulo. (Este projeto<br />
da ABTCP foi apresentado na Reportagem de Capa<br />
da edição de setembro/2011 da O <strong>Papel</strong>)<br />
Na oficina de capacitação técnica do Reciclando Papéis<br />
e Vidas, instalada nas dependências da UnB àquela<br />
época, os egressos do sistema penitenciário passaram a<br />
ter – e continuam tendo até hoje – formação específica<br />
em manufatura de papel, encadernação e higienização<br />
de livros e documentos, além de noções sobre negócios,<br />
cooperativas e associações.<br />
Os participantes do projeto não apenas estudam,<br />
mas também recebem bolsa de auxílio financeiro como<br />
forma de incentivo à reinserção na sociedade enquanto<br />
estão sendo treinados – ou seja, o projeto Reciclando<br />
Papéis e Vidas foi construído com base em um conceito<br />
de sustentabilidade digno de reconhecimento.<br />
Por trás da sua aprovação naquele ano, muitos foram<br />
os motivos que impulsionaram o início de toda essa empreitada:<br />
além de experiências de sucesso vivenciadas no<br />
Brasil e em outros países, algumas pessoas que idealizaram<br />
o projeto foram peças chave para sua consolidação.<br />
Do sonho à realidade<br />
O empresário Marcio Oberlaender, recém-chegado<br />
da Espanha em 2002, assim que retornou ao Brasil<br />
procurou a UnB cheio de ideias inspiradas por tudo<br />
o que tinha visto em sua viagem. Entre as novidades,<br />
uma oficina de trabalho artesanal na qual trabalhavam<br />
detentos espanhóis.<br />
Como era exatamente isso o que gostaria de implantar<br />
no Brasil, Oberlaender foi bater às portas da UnB.<br />
“Por ser a universidade uma referência na produção de<br />
papel artesanal desde a década de 1980, ele apresentou<br />
os produtos feitos por aquelas pessoas na Espanha<br />
e falou sobre sua vontade de montar uma oficina no<br />
mesmo formato aqui, no País, considerando ainda a comercialização<br />
dos produtos”, lembra Thérèse Hoffman,<br />
professora doutora em Desenvolvimento Sustentável e<br />
principal envolvida no projeto.<br />
Não poderia ter sido o lugar mais certo a procurar, já<br />
que Thérèse trazia experiência anterior de lecionar para<br />
presos: no início da década de 1990, havia dado aulas<br />
técnicas de produção artesanal de papel no presídio da<br />
Papuda, em Brasília. No local, teve contato com a dura<br />
realidade do sistema prisional brasileiro e os mais variados<br />
entraves enfrentados a cada dia nas instituições.<br />
A professora, portanto, alertou o empresário sobre os<br />
desafios dentro dos presídios e sugeriu que o trabalho<br />
da oficina de capacitação técnica fosse desenvolvido com<br />
egressos do sistema prisional. “Falei com o Marcio sobre<br />
a dificuldade de dar aulas no presídio, o tempo gasto e<br />
a pouca eficácia. Além disso, o trabalho que a Funap já<br />
desenvolvia era excelente, oferecendo várias oficinas no<br />
presídio para os detentos em progressão de pena.”<br />
A sugestão de Thérèse foi aceita pelo empresário, e o<br />
foco do trabalho foi redirecionado de acordo com o perfil<br />
dos ex-detentos, que eram, em sua maioria, jovens. Para<br />
definir o segmento de capacitação técnica, os idealizadores<br />
do Reciclando Papéis e Vidas observaram a demanda<br />
de mercado da mão de obra do Distrito Federal.<br />
A tarefa não foi nada fácil, mas, depois de tudo definido,<br />
colocaram o projeto no papel e o encaminharam<br />
ao Ministério da Justiça, direcionado ao Depen. Após<br />
apresentação e diversos ajustes, a proposta foi aprovada<br />
em 2003, contemplando o valor de R$ 272.846,99.<br />
Desse total, a soma de R$ 191.666,88 seria subsidiada<br />
pela entidade, sendo o restante oferecido em bens e<br />
serviços pela UnB.<br />
A ideia ganha forma<br />
A verba previa inicialmente condições para capacitar<br />
pelos dois anos seguintes 25 egressos do sistema<br />
penitenciário do Distrito Federal, sendo 13 na primeira<br />
turma e 12 na segunda fase de cada processo de capacitação.<br />
Isso só foi possível graças à colaboração, à<br />
época, de Claudia Maria de Freitas Chagas, doutora em<br />
Direito que estava à frente da Secretaria Nacional de<br />
Justiça, órgão do Ministério da Justiça ao qual o Depen<br />
era vinculado.<br />
Para a doutora Claudia, a aprovação do projeto baseava-se<br />
no integral cumprimento da Constituição Federal<br />
Dra. Claudia Chagas:<br />
“A sociedade deseja<br />
muito ver a diminuição<br />
da criminalidade, mas<br />
pouco se envolve com<br />
os temas relativos ao<br />
sistema penitenciário”<br />
DIVULGAÇÃO CNMP<br />
março/March 2012 - <strong>Revista</strong> O <strong>Papel</strong><br />
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