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RASTREABILIDADE DA CARNE SUÍNA - Embrapa Suínos e Aves

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<strong>RASTREABILI<strong>DA</strong>DE</strong> <strong>DA</strong> <strong>CARNE</strong> SUÍNA - AVANÇOS<br />

TECNOLÓGICOS<br />

Guy Prall<br />

Sygen plc, 2929 7th Street, Berkeley, CA 94710, USA.<br />

Resumo<br />

A segurança alimentar e a imagem da marca são as duas forças atrás do<br />

interesse na rastreabilidade da carne suína. Um sistema de rastreabilidade<br />

contém elementos de identificação de animais e localidade, um banco de dados<br />

central e um processo de verificação. Este ensaio revisa as vantagens e<br />

desvantagens dos diferentes sistemas de identificação, avanços tecnológicos<br />

recentes e sua utilização nas diferentes etapas da cadeia da carne suína.<br />

Conclui-se que, embora não exista ainda uma tecnologia padronizada para<br />

rastrear um animal desde o nascimento até o produto final nas prateleiras dos<br />

supermercados, a utilização de DNA como sistema de verificação de qualquer<br />

sistema de rastreabilidade oferece um mecanismo único de controle de qualidade<br />

para sustentar uma forte imagem de marca.<br />

Introdução<br />

Rastrear produtos a base de carne suína envolve alguns desafios únicos. Primeiro,<br />

o suíno é “formado” em múltiplas granjas, que utilizam insumos tais como genéticas,<br />

rações e vacinas oriundas de múltiplas fontes. Então, no abate, a carcaça é<br />

espostejada e as diferentes partes enviadas a múltiplos varejistas em peças inteiras,<br />

ou em produtos misturados.<br />

O interesse de um governo na rastreabilidade provém, tipicamente, do desejo de<br />

assegurar que a indústria animal de seu país seja protegida de efeitos devastadores de<br />

doenças, tais como, Febre Aftosa, ou de tranqüilizar os clientes de mercados internos<br />

e externos de que o alimento é seguro para a compra e consumo e que foi produzido<br />

em sistemas que atendem ao bem-estar animal.<br />

Uma empresa comercial, por seu lado, está interessada na rastreabilidade por<br />

outras razões. Primeiro, pelo desejo de controlar e assegurar a qualidade e o valor<br />

dos seus produtos. Um sistema de rastreabilidade dá a uma empresa a confiança de<br />

divulgar informações sobre a origem dos seus produtos - Carne Orgânica, Aberdeen<br />

Angus são dois exemplos de carne. Segundo, um sistema de rastreabilidade ajuda<br />

uma empresa a se proteger em casos de reclamações quanto à qualidade do produto:<br />

ela pode, rapidamente, verificar de onde veio o produto e corrigir o problema.<br />

1


Exemplo de marca que agrega valor<br />

Exemplo de problema de qualidade de produto<br />

Fábrica de Hambúrguer<br />

fechada<br />

“Recall” chega a 12 mil toneladas<br />

21 de Agosto de 1997<br />

WASHINGTON – Um frigorífico de bovinos no<br />

estado de Nebraska foi fechado e 12 mil<br />

toneladas de hamburger...<br />

É cada vez mais freqüente que os grandes frigoríficos exijam que os suínos sejam<br />

produzidos em processos definidos e controlados, validado por auditoria terceirizada.<br />

As exigências podem incluir, por exemplo, um sistema definido de produção (ex..:<br />

fêmeas fora de gaiolas), um sistema definido de alimentação (ex.: ração isenta de<br />

farinha de carne e osso), ou genética definida (ex.: uso de machos Duroc). Estas<br />

definições habilitam o frigorífico a elaborar programas de marketing que agreguem<br />

valor à carne suína.<br />

As perguntas que os sistemas de rastreabilidade objetivam responder são<br />

geralmente do tipo “Quem é você” e “De onde você vem” Tais sistemas incluem:<br />

• Um método para identificação individual ou grupo de animais;<br />

• Um método para identificação de sítios de produção;<br />

• Uma espécie de passaporte que acompanha o animal ou grupo;<br />

• Um banco de dados que registra identidades, locações, eventos e datas.<br />

Entretanto, para que um sistema de rastreabilidade permaneça confiável, deve<br />

também estar amparado por sistemas de verificação designados para responder às<br />

perguntas “Você é quem diz ser” e “Você vem de onde diz vir”<br />

Não há, ainda, padrões estabelecidos ou definidos, nacional ou internacionalmente.<br />

Há vários sistemas competitivos, porém, nenhum deles oferece uma solução<br />

completa. O diagrama abaixo ilustra como os diferentes sistemas de identificação<br />

podem funcionar numa rastreabilidade totalmente funcional, e com sistema de<br />

verificação. O propósito deste ensaio é revisar os sistemas disponíveis.<br />

2


Discussão<br />

Sistemas de identificação que podem ser facilmente lidos visualmente<br />

- Sistemas tradicionais<br />

Os sistemas que são usados com suínos incluem brincos plásticos numerados e<br />

tatuagens que podem facilmente ser lidas por um ser humano. Os únicos avanços<br />

tecnológicos nesta área estão no domínio do fluxo de informações para bancos de<br />

dados centrais via Internet. As principais vantagens dos sistemas de identificação que<br />

usam brincos e tatuagens são de que os seres humanos podem facilmente lê-los, e<br />

por eles serem relativamente baratos. As principais desvantagens incluem tatuagens<br />

que se tornam ilegíveis, brincos que caem, a perda da cadeia de identidade quando o<br />

suíno recebe um brinco novo, leitura errada de brinco e, no abate, os brincos precisam<br />

ser retirados para assegurar que não entrem na cadeia alimentar humana. Ocorre, é<br />

claro, perda total da identidade individual do suíno, uma vez que o brinco é removido.<br />

Sistemas que podem ser lidos em tempo real - Sistemas eletrônicos<br />

de identificação<br />

Os brincos plásticos numerados que contêm um transponder embutido representam<br />

um avanço tecnológico significativo. A leitura e o registro da identidade podem<br />

ser automatizados - identificação mais rápida e mais precisa. Além disso, tais brincos<br />

nas orelhas dos suínos podem se comunicar aos transponders eletrônicos presos ao<br />

gancho no abatedouro. Desta forma, eles transferem informações vitais dos suínos<br />

para as suas carcaças e componentes subseqüentes. Gerações futuras de brincos<br />

eletrônicos também terão outras características úteis, tais como captura automatizada<br />

3


de dados por sistema sem fio a qualquer momento e transferência de identidade, com<br />

a localização determinada por GPS (Global Positioning Satellite).<br />

O custo de sistemas eletrônicos de identificação provavelmente será reduzido<br />

ainda mais no futuro próximo, e a sua funcionalidade, tudo indica, incluirá dados de<br />

monitoramento biológico, além da identidade - temperatura do animal, por exemplo.<br />

As principais desvantagens incluem brincos que caem e a possível perda da<br />

cadeia de identidade quando o suíno recebe um brinco novo. Uso de transponders<br />

eletrônicos subcutâneos evitam, em parte, o problema de perda de brincos, e o<br />

problema de migração dos transponders está resolvido, mas o risco da entrada<br />

do transponder na cadeia alimentar tem limitado a popularização desta tecnologia.<br />

Em alguns países, os transponders estão sendo colocados em cápsulas que são<br />

introduzidos nos estômagos de ruminantes. No entanto, assim como outros brincos,<br />

transponders precisam ser removidos para assegurar que não entrem na cadeia<br />

alimentar humana. Há, portanto, total perda da identidade individual do suíno, uma vez<br />

que o brinco é retirado se o abatedouro que o recebe não possui tecnologia apropriada<br />

de transferência e captura de dados.<br />

Sistemas biométricos de identificação<br />

Um dos sistemas biométricos é a imagem da retina. Esta tecnologia é baseada<br />

na descoberta de que a configuração de vasos sangüíneos na retina é única para<br />

cada animal e também muito estável durante sua vida. Um outro e similar sistema<br />

biométrico, o “escaneamento” da íris, é baseado na descoberta de que os desenhos<br />

da íris também são únicos para cada indivíduo e estáveis no tempo - embora ainda<br />

esteja incerto em qual idade o desenho da íris se estabiliza em suínos. Empresas<br />

comerciais estão desenvolvendo sistemas interativos e totalmente eletrônicos. Em<br />

eventos significativos na vida de um suíno (nascimento, e a qualquer momento que o<br />

animal muda de locação ou propriedade e abate) o olho é “escaneado” e sua imagem,<br />

juntamente com o tempo e a data e locação precisa conforme determinada pelo GPS,<br />

são eletronicamente transmitidos ao banco de dados central.<br />

Uma imagem da retina<br />

Um "escaneamento" da íris<br />

As vantagens de usar as características únicas do olho são muitas. Não existe<br />

risco de que o animal perca esta identidade única. O olho é totalmente biodegradável<br />

e pode entrar na cadeia alimentar humana. É impossível ocorrer uma fraude -<br />

o suíno sempre vai estar onde o seu olho estiver. A imagem da retina oferece<br />

outras vantagens potenciais, já que o estado dos vasos sangüíneos da retina pode<br />

4


proporcionar identificadores fisiológicos. Embora em suínos isso possa ser uma<br />

vantagem (detecção precoce de gestação, por exemplo), o uso desta tecnologia,<br />

no ser humano, está sendo debatido, já que os consumidores podem, finalmente,<br />

decidir se tais informações adicionais podem ou não ser uma invasão inaceitável de<br />

privacidade.<br />

O principal desafio com o uso de uma medida biométrica associada ao olho é<br />

a dificuldade de uma rápida captura de uma imagem nítida: exigem-se diversos<br />

segundos para estabilizar o animal por tempo suficiente que permita a captura de<br />

uma imagem utilizável. Além disso, como no caso dos brincos, o animal perde sua<br />

identidade ao morrer quando os olhos são separados da carcaça.<br />

Passaportes, brincos, tatuagens, transponders, medidas biométricas e códigos de<br />

barras são todas tecnologias que objetivam permitir que a movimentação de um animal<br />

e dos seus produtos seja rastreada durante o seu percurso na cadeia da carne suína.<br />

Os sistemas que requerem análises laboratoriais, no entanto, podem ser usados como<br />

um sistema de verificação. Eles servem para checar se o sistema de rastreabilidade<br />

está funcionando ou se as garantias de qualidade são verdadeiras.<br />

Sistemas que exigem análises laboratoriais<br />

Os sistemas de isótopos estáveis e vacinações de peptídeos sintéticos são dois<br />

métodos interessantes para rastrear um produto biológico de volta a sua origem, mas<br />

é improvável que sejam usados na indústria suinícola. O potencial para o erro humano<br />

é alto (assegurar que os peptídeos corretos ou isótopos estáveis são administrados),<br />

e haveria uma percepção negativa dos consumidores com respeito às vacinações<br />

desnecessárias ou de alimentar os suínos com isótopos.<br />

A análise de DNA, no entanto, oferece uma oportunidade concreta para um<br />

sistema de identificação e rastreabilidade. Assim como as informações biométricas, o<br />

DNA já é único para cada suíno, não pode ser perdida, é totalmente biodegradável<br />

e pode entrar na cadeia alimentar humana. Possui uma grande vantagem sobre<br />

informações biométricas na qual ele acompanha a carne até o consumidor final. É<br />

um meio de identificação não-invasivo à prova de fraude. Já existem vários sistemas<br />

comerciais em operação que utilizam esta tecnologia com carne bovina. A avaliação<br />

de DNA serve como uma verificação da confiabilidade do sistema de rastreabilidade -<br />

respondendo à pergunta “Você é quem diz ser”<br />

Exemplo de leitura de DNA para 12 diferentes marcadores de micro satélites<br />

A principal desvantagem de um sistema de DNA é o seu custo e o desafio em<br />

ler a identidade de um animal em tempo real. Há também o risco de um erro<br />

humano durante a coleta e armazenamento de amostras. Estatística e freqüência<br />

5


de amostragem ajudam a trazer os custos de um sistema de verificação de DNA a<br />

níveis razoáveis.<br />

Os testes de DNA já estão sendo usados na suinocultura para ajudar clientes a<br />

verificarem que seus fornecedores estão entregando o que é preciso para os seus<br />

produtos de valor agregado. No Reino Unido e no Japão, a tecnologia PICmarq T M<br />

assegura que os fornecedores atendam às especificações dos clientes para suínos<br />

do tipo Javali, Duroc ou Berkshire. Nos Estados Unidos, duas organizações usam<br />

a tecnologia PICmarq T M para controlar importações ilegais de espécies exóticas de<br />

suínos e assegurar a pureza racial do Hampshire. Testes adicionais de DNA em<br />

vários países são usados para verificar a presença de genes específicos relacionados<br />

à qualidade de carne que agregam valor ao produto, inclusive para o mercado de<br />

exportação. A PIC já desenvolveu uma tecnologia própria para o uso de DNA na<br />

verificação em um sistema de rastreabilidade de carne suína.<br />

Conclusões e organização futura<br />

Embora sistemas de rastreabilidade já estejam operando na indústria de carne<br />

bovina, ainda permanece incerto qual será a tecnologia ou sistema de rastreabilidade<br />

para suínos. Cuidados devem ser tomados na montagem de um sistema, não<br />

apenas para manter custos baixos, mas também para proporcionar as respostas que<br />

a indústria deseja. Por exemplo, com suínos, pode não ser necessário conhecer<br />

identidades individuais, já que grupos de suínos podem ser identificados. Entidades<br />

governamentais continuarão tentando introduzir esquemas de rastreabilidade voltados<br />

às questões associadas com a biosegurança do país, segurança alimentar e o<br />

bem-estar animal. Empresas privadas estarão mais preocupadas com os sistemas<br />

de rastreabilidade que agregam valor aos seus produtos ou que os protejam em caso<br />

de questões relacionadas à qualidade do produto.<br />

Tecnologias disponíveis continuarão sendo desenvolvidas e os seus custos<br />

continuarão a cair.<br />

O custo da produção de carne suína está diminuindo em proporção ao valor total<br />

de produtos vendidos - em forma crescente, mais valor está sendo agregado à carne<br />

suína a partir do momento em que o animal sai da granja. Fortes marcas comerciais<br />

estão sendo cada vez mais aplicadas a estes novos produtos. Uma imagem de marca,<br />

ou até empresas inteiras, podem ser destruídas por um só simples “recall” de produto<br />

ou a descoberta pelos consumidores que as afirmações de marketing no rótulo da<br />

embalagem não correspondem com a verdade. A utilização de DNA como sistema de<br />

verificação de qualquer sistema de rastreabilidade oferece um mecanismo único de<br />

controle de qualidade para sustentar uma forte imagem de marca.<br />

Agradecimentos<br />

- Drs. Ronald Klont, Scott Newman e Todd Wilken, colegas da PIC EUA, pela<br />

valiosa ajuda com as informações e edição deste documento.<br />

- Optibrand Ltd., pelas imagens de retina e vídeos.<br />

- Srta. Ana Lucia Marcon, da Agroceres PIC, pela ajuda na tradução.<br />

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