ÃLIDA MARIA ESPONTÃO CASTANHO UMA ESCUTA ... - Abratecom
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ÉLIDA <strong>MARIA</strong> ESPONTÃO <strong>CASTANHO</strong><br />
<strong>UMA</strong> <strong>ESCUTA</strong> SISTÊMICA NOS RELACIONAMENTOS PESSOAIS E<br />
PROFISSIONAIS<br />
Campinas<br />
2005
ÉLIDA <strong>MARIA</strong> ESPONTÃO <strong>CASTANHO</strong><br />
<strong>UMA</strong> <strong>ESCUTA</strong> SISTÊMICA NOS RELACIONAMENTOS PESSOAIS E<br />
PROFISSIONAIS<br />
Monografia apresentada como exigência parcial<br />
para obtenção do título de Terapeuta Sistêmica<br />
de Casal e Família, sob a orientação do<br />
Professor Dr.Juares Soares Costa<br />
Instituto de Terapia de Família e Comunidade de Campinas - SP<br />
2005
Dedico este trabalho<br />
Ao Paulo Henrique, meu marido, grande<br />
companheiro de amor e escuta<br />
Aos meus pais Nelson e Dulce,<br />
Aos meus irmãos,<br />
Às minhas cunhadas e cunhados,<br />
Às minhas sobrinhas e sobrinho,<br />
À minha sogra,<br />
Ao meu sogro (in memorian),<br />
linhas de afeto e respeito que me ligam à teia<br />
da vida<br />
À amiga Jô<br />
pela experiência da genuína e sensível parceria<br />
Aos amigos, colegas e professores<br />
por fazerem parte do meu caminho<br />
... e a todas as pessoas que me possibilitaram a<br />
experiência do escutar
Sumário<br />
Abertura.............................................................................................................. 05<br />
Escolha do Tema................................................................................................ 08<br />
Capítulo 1 – Contextualização.......................................................................... 11<br />
1.1 – Sociedade contemporânea..........................................................................12<br />
1.2 – Comunicação.............................................................................................. 14<br />
1.3 – Novo paradigma sistêmico.......................................................................... 16<br />
1.3.1 – Pensamento religioso e mitológico................................................. 18<br />
1.3.2 – Período pré-socrático...................................................................... 19<br />
1.3.3 – Período clássico.............................................................................. 19<br />
1.3.4 – Período pós-socrático..................................................................... 21<br />
1.3.5 – Pensamento medieval..................................................................... 21<br />
1.3.6 – Pensamento moderno..................................................................... 22<br />
1.3.7 – Pensamento sistêmico.................................................................... 25<br />
1.4 – A dimensão sensível do ser humano.......................................................... 28<br />
1.4.1 – As emoções.................................................................................... 29<br />
1.4.2 – O homem........................................................................................ 30<br />
1.4.3 – O entrelaçamento da razão e da emoção...................................... 31<br />
1.4.4 – A objetividade e as relações humanas........................................... 34<br />
1.4.5 – A linguagem.................................................................................... 36<br />
1.4.6 – Um modo de viver........................................................................... 38<br />
1.4.7 – A conspiração do amor................................................................... 40<br />
1.5 – Processos reflexivos................................................................................... 44<br />
1.5.1 – Incluindo quem fala e quem escuta................................................ 45<br />
1.5.2 – Conotação positiva......................................................................... 47<br />
1.5.3 – Falas internas e externas................................................................ 50<br />
1.5.4 – Escutar também é ver..................................................................... 51<br />
1.5.5 – Conversa e respiração.................................................................... 53<br />
Capítulo 2 – Problematização........................................................................... 57<br />
2.1 – Oficinas da escuta....................................................................................... 58<br />
2.2 – Princípios da escuta.................................................................................... 60<br />
2.2.1 – Preparação.................................................................................... 60<br />
2.2.2 – Acolhimento.................................................................................... 62<br />
2.2.3 – Abertura.......................................................................................... 63<br />
2.2.4 – Flexibilidade................................................................................... 64<br />
2.2.5 – Comunicação................................................................................. 65<br />
2.2.6 – Respeito......................................................................................... 66<br />
2.2.7 – Amorosidade................................................................................... 68<br />
Capítulo 3 – O que estou levando.................................................................. 70<br />
3.1 – Partilha dos participantes-sujeitos das oficinas da escuta.......................... 71<br />
3.2 – Partilha da profissional Maria José ............................................................ 73<br />
3.3 – Partilha da profissional Élida....................................................................... 73<br />
Referências Bibliográficas................................................................................ 76
5<br />
“Não ande na minha frente. Posso não querer seguir.<br />
Não ande atrás de mim. Posso não querer guiar.<br />
Ande ao meu lado e seja simplesmente meu amigo “.<br />
John Lennon<br />
ABERTURA<br />
Decidi por organizar esta monografia, conforme o processo metodológico<br />
desenvolvido nos grupos de Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa, estruturando<br />
os capítulos de acordo com as fases do trabalho comunitário.<br />
A opção por esta forma de apresentação aconteceu devido à sensação que<br />
tenho experimentado ao escrever: de estar num espaço de diálogo que inclui as<br />
minhas emoções; as minhas opiniões; os conceitos de autores que tenho lido; como<br />
também, as idéias e as falas daqueles que têm estado comigo nos últimos tempos<br />
refletindo e vivenciando o tema.<br />
Assim, à medida que a organização da monografia foi sendo construída em<br />
sintonia com a prática, com as emoções e com a pesquisa bibliográfica, senti um<br />
maior conforto, percebendo que poderia incluir todas as “vozes” que (re)encontrei no<br />
caminho deste estudo, que colaboraram para o significado que hoje dou para o<br />
tema.<br />
Para a compreensão da organização metodológica que proponho, haverá<br />
uma breve explicação introdutória a cada capítulo, que apresentará uma analogia<br />
entre a etapa da Terapia Comunitária e a etapa da monografia.
6<br />
Assim, a primeira tarefa a ser realizada na Terapia Comunitária é a abertura<br />
do encontro e o acolhimento aos participantes.<br />
Penso que nesta abertura da monografia já estamos inseridos em um<br />
acolhimento recíproco, à medida que você leitor caminha conjuntamente por estas<br />
linhas, como se estivesse me “escutando” e aos poucos vai se ambientando com a<br />
idéia deste trabalho.<br />
Ainda procurando criar um clima de aproximação, peço licença para me<br />
apresentar: estou graduada em Serviço Social desde o ano de 1989; iniciei minha<br />
atuação na área da assistência social desde o primeiro ano da Faculdade de Serviço<br />
Social em Bauru - SP e, ao longo desse período, entre o estágio profissionalizante e<br />
a vida profissional, tenho trabalhado com crianças, adolescentes, famílias, idosos,<br />
empresas e saúde. Nos últimos anos me dediquei a duas formações que foram de<br />
fundamental importância para a minha mudança no jeito de olhar, de sentir a vida,<br />
as pessoas e os relacionamentos. As formações a que me refiro são: Terapia<br />
Comunitária Sistêmica Integrativa, pela Univ. Federal do Ceará, e Terapia Sistêmica<br />
de Casal e Família pelo Instituto de Terapia de Família e Comunidade de Campinas-<br />
SP.<br />
Convido-o agora a pensar por que razão escolheu ler este trabalho Por que<br />
desejou estar neste encontro<br />
Saiba que não estaremos sozinhos, outras pessoas estarão conosco. Cada<br />
um a seu tempo terá apresentada a sua voz, a sua idéia, a sua contribuição, mesmo<br />
que o seu nome não venha a ser mencionado. Algumas vezes a Terapia<br />
Comunitária acontece assim, entre uma conversa e outra, o silêncio de cada um<br />
acontece, nos lembrando das “vozes” que carregamos, ajudando-nos a perceber<br />
que mesmo no silêncio há comunicação, há significados.
7<br />
Sejam todos bem-vindos e aqueles que desejarem registrar algo sobre o<br />
tema, sintam-se à vontade:<br />
Cleusa Stoppiglia, musicista do grupo que acompanha a Terapia<br />
Comunitária: “Além da escuta me trazer prazer, pois gosto de tocar e de cantar, ela<br />
também me faz vivenciar e questionar os relacionamentos. E neste questionar, eu<br />
posso perceber o quão similares são os nossos problemas, por isso que a escuta é<br />
muito importante, pois ao ouvir o outro, muitas vezes é possível visualizar que<br />
direção tomar, ou seja, a luz aparece no fundo do túnel”.<br />
Maria Aparecida Del Fávero, atualmente está como coordenadora da<br />
Pastoral da Escuta Cristã em Valinhos: “a escuta é algo muito importante para mim,<br />
um dom que floresceu a partir do meu coração. Sinto-me sendo solidária com as<br />
pessoas que escuto. Tenho percebido que o acolhimento que faço para quem<br />
deseja ser escutado é importante; a pessoa precisa se sentir acolhida para que fique<br />
a vontade para falar, sem medo de ser julgada.<br />
As pessoas, após serem escutadas, ficam mais tranqüilas por terem<br />
conseguido desabafar as suas angustias, respiram mais aliviadas e às vezes do<br />
choro passam para um sorriso.<br />
Para mim a escuta é um momento de atenção e carinho com o outro”.<br />
Maria José Silveira Cintra Rodrigues, assistente social e parceira de<br />
trabalho nas Oficinas da Escuta: “a escuta é um processo que vem evoluindo e me<br />
permitindo avançar e retroceder na minha caminhada, com mais conforto e<br />
segurança, à medida que me escuto e escuto o outro, podendo escolher o que<br />
escutar de um jeito mais tranqüilo, favorecendo transformações e conseqüentes<br />
atitudes nos diversos âmbitos da minha atuação”.
8<br />
ESCOLHA DO TEMA<br />
Nessa etapa da Terapia Comunitária o acolhimento se torna ainda mais<br />
genuíno, uma vez que alguns participantes colocam os problemas que lhes afligem e<br />
o grupo, após a escuta mútua, constrói a sua primeira parceria através da escolha<br />
do tema.<br />
A escolha do tema pelo grupo é de real importância, uma vez que tem a ver<br />
com a identificação que cada um sente em relação aos assuntos colocados. Essa<br />
etapa colabora com a tarefa de tomarmos emprestados os olhos dos outros para<br />
melhor compreendermos a sua visão, ou seja, o contexto de sua existência e os<br />
efeitos da sua vivência e de seus relacionamentos, levando-nos a uma postura<br />
solidária.<br />
Nesta etapa da monografia, muitos temas perpassaram pelos meus<br />
pensamentos e minhas intenções. Cada tema é único e traz consigo experiências<br />
singulares das minhas vivências em diversos contextos de atuação. São tantos<br />
assuntos que me interessam... Deixei-me levar pelo inesperado e senti que o tema já<br />
havia surgido pelas mãos de outro alguém, apenas relembrei e resignifiquei a sua<br />
importância para mim.
9<br />
Na prática da Terapia Comunitária não me justificaria estar escolhendo o<br />
tema, porém, para este nosso encontro trata-se de uma circunstância na qual os<br />
presentes já concordaram com a minha escolha, pois também se interessam por<br />
este assunto.<br />
Assim, o tema “escuta” se fez presente, ajudando-me a estabelecer conexões<br />
com desejos antigos, trouxe-me novidades para a vida pessoal e prática profissional,<br />
deixando-me esperançosa quanto às perspectivas futuras.<br />
O tema em pauta havia surgido em 2003, quando do convite feito pelo Padre<br />
João Luis Fávero, para a preparação de leigos da Igreja Católica para o papel de<br />
“escutadores”, a ser desempenhado na Pastoral da Escuta Cristã, implantada no<br />
mesmo ano, na Matriz São Sebastião, no município de Valinhos - SP.<br />
Assim, formei uma parceria de trabalho com a amiga Maria José Cintra<br />
Rodrigues, e juntas percorremos o caminho da elaboração e execução de um<br />
programa. Buscamos, especialmente, no pensamento sistêmico, o embasamento<br />
teórico para a Formação de Escutadores, objetivando oferecer para o sistema<br />
interessado, o que incluía os participantes e as profissionais, a vivência de um novo<br />
paradigma.<br />
Durante o transcorrer das Oficinas da Escuta, bem como de outras práticas<br />
que já vinham sendo desenvolvidas por mim, como: a Terapia Sistêmica de Casal e<br />
Família, supervisionada por profissionais do Instituto de Terapia e Comunidade de<br />
Campinas, como parte da minha formação, e a Terapia Comunitária Sistêmica<br />
Integrativa desenvolvida nos municípios de Valinhos - SP e Campinas - SP,<br />
observei, conforme salienta Vasconcellos (2002), que ao substituirmos o uso do<br />
substantivo pelo uso do verbo, ocorre uma mudança significativa; assim aconteceu:<br />
o tema “escuta” tornou-se “escutar”, implicando em mudanças de significados.
10<br />
Escutar passou, então, a sugerir uma ação e para toda ação há um sujeito; sim um<br />
sujeito em relação, vivendo em contextos variados.<br />
Esta nova percepção levou-me a ampliar o tema para a idéia do ato de<br />
escutar enquanto um recurso/possibilidade pessoal e profissional capaz de colaborar<br />
com a construção de novos espaços de conforto nos relacionamentos.<br />
Nesta caminhada, esta monografia apresenta-se, agora, como uma reflexão<br />
teórico-prática que tem como pressupostos científico e filosófico o pensamento<br />
sistêmico, a biologia do conhecimento e os processos reflexivos abertos.<br />
Sentir, pensar e conhecer a partir destes pressupostos facilitou-me o<br />
desenvolvimento de idéias e a interação com conceitos que considerei importantes à<br />
contextualização dos “Princípios da Escuta”, construídos especialmente para as<br />
Oficinas da Escuta, confirmando a experiência do nosso trabalho, de que vivemos<br />
em relação com os outros.
11<br />
CAPÍTULO 1<br />
CONTEXTUALIZAÇÃO<br />
Contextualizar é tornar compreensível o problema, não no sentido da exatidão<br />
ou da síntese, mas a construção de um sentido, ampliando o campo da<br />
conversação, incluindo nele o contexto das vivências e significados daqueles que<br />
participam do diálogo, ou seja, a inclusão da ótica de quem fala e de quem escuta.<br />
Quando da realização da Terapia Comunitária, já nessa etapa, são pedidas<br />
mais informações através de perguntas à pessoa cujo tema tenha sido escolhido,<br />
para que ocorra uma reflexão sobre o problema no seu contexto.<br />
Nesta etapa da monografia apresentarei a maneira como foi possível criar um<br />
sentido para o tema proposto. Penso que este é apenas mais um sentido construído<br />
a partir da minha interação com os envolvidos neste assunto, portanto, se refere à<br />
minha reflexão e compreensão a partir de um contexto de vivência pessoal, prática<br />
profissional e de estudos.<br />
Algumas perguntas aparecem neste momento, ajudando-me a sentir<br />
estimulada para este “diálogo”.<br />
Será que os relacionamentos têm sido simulações de possíveis encontros<br />
entre as pessoas<br />
Quais são as relações que queremos para nós<br />
Como poderemos saber o que é certo ou errado O que é bom ou ruim para<br />
cada um de nós
12<br />
Como poderemos estar com o outro e atuar através da nossa fisiologia, das<br />
nossas emoções, comportamentos, crenças e julgamentos, sem que nenhum de nós<br />
seja eliminado do contexto<br />
1.1- SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA<br />
Imagino que apresentar respostas a estas questões será pensar sobre nós<br />
mesmos, nossas relações interpessoais, o contexto social em que vivemos e a visão<br />
de mundo que temos adotado, uma vez que somos seres que constroem<br />
significados, conceitos e carregamos para todos os níveis da nossa vida: doméstico,<br />
religioso, profissional, afetivo, etc, os nossos paradigmas. “Do grego parádeigma =<br />
“modelo”, “padrão” Vasconcellos (2002, p.30).<br />
Vivemos na era pós-industrial, caracterizada pelo aumento da comunicação,<br />
pela propagação de novas tecnologias e pela transformação dos alicerces da<br />
economia, não mais formadas pela agricultura ou indústria, mas pela produção de<br />
informação e serviços.<br />
O avanço técnico-científico e informacional confere a esta era algumas<br />
contradições:<br />
Global X Local<br />
Individual X Social<br />
Máquina X Homem<br />
Virtual / Eletrônico X Pessoal / Sensível<br />
Quantidade X Qualidade<br />
Especialização X Conhecimento Vivenciado<br />
Ter X Ser<br />
Competitividade X Cooperação
13<br />
Degradação Ambiental X Vida Sustentável<br />
Violência X Paz<br />
Beleza Física X Equilíbrio Bio-Psico-Social<br />
Razão X Emoção<br />
A sociedade contemporânea vive um processo frenético, marcado pela<br />
profunda crise de valores de percepção, com o sonho insustentável da prosperidade<br />
infinita.<br />
Este cenário, que se apresenta e que se fundamenta pelo raciocínio da<br />
expansão material, esconde as dores e os sofrimentos humanos decorrentes da<br />
imersão nessas dimensões do viver. Como neste momento poderemos saber o que<br />
é certo ou errado O que é bom ou ruim para cada um de nós se enxergamos o<br />
mundo através de nossos paradigmas e “cada movimento que realizamos no ato de<br />
viver afeta o mundo e é por ele afetado” (Gladis Brun, 1999).<br />
Os paradigmas “funcionam como filtros que selecionam o que percebemos e<br />
reconhecemos e que nos levam a recusar e distorcer os dados que não combinam<br />
com as expectativas por eles criadas” Vasconcellos (2002 p.30).<br />
Segundo Vasconcellos, os paradigmas também influenciam nossas ações:<br />
fazem-nos acreditar que o jeito como fazemos as coisas é “o certo” ou “a única<br />
forma de fazer”, dificultando-nos estar de acordo com idéias novas, “tornando-nos<br />
pouco flexíveis e resistentes à mudança” (2002 p.31).<br />
Diante destas idéias, pensemos sobre a comunicação e, ainda, sobre o<br />
paradigma adotado para os nossos relacionamentos.
14<br />
1.2 - COMUNICAÇÃO<br />
De acordo com os estudos de (W. Barnett Pearce) in Dora Fried Schnitman, a<br />
primeira forma de comunicação de nós seres humanos é a oral, “no sentido de falar<br />
numa situação cara a cara”. Ele salienta como comunicação oral “sons<br />
intercomunicados, produzidos e interpretados por nossos corpos” (1996 p.174).<br />
Posteriormente, veio o desenvolvimento da escrita e do alfabeto fonético, que<br />
historicamente representou registrar a fala e fazer uso dela por um meio modificado.<br />
A seguinte importante ocorrência, foi a criação da imprensa por Johann<br />
Gutenberg em 1440, que trouxe mudanças em nossa sociedade conforme escreve<br />
(W.Barnett Pearce) in Dora Fried Schnitman (1996,p.175):<br />
“Em primeiro lugar, mudou nossa noção de autoridade. Numa<br />
sociedade oral, quando alguém deseja aprender algo, deve<br />
recorrer a uma pessoa, perguntar-lhe e escutar. Na sociedade<br />
do impresso, ao contrário, o mais freqüente é que quem queira<br />
aprender algo recorra a um livro e o leia, talvez na privacidade<br />
de seu lar. Deste modo deixamos de necessitar de interações<br />
sociais cara a cara com a autoridade”.<br />
Ainda, relatando sobre as mudanças, o autor descreve sobre a alteração na<br />
noção de espaço, uma vez que não precisamos mais estar presente “cara a cara”<br />
num determinado lugar para falarmos com outras pessoas, pois podemos enviar ou<br />
transmitir o que desejamos por meio eletrônico, por exemplo, via fax. Assim,<br />
podemos também mudar a estrutura física das nossas conversas: objetos<br />
intermediários que possibilitam-nos conversar com o outro sem que o veja nem o<br />
toque.<br />
A vivência de transformações na comunicação humana colabora para a<br />
instalação de um desafio aos relacionamentos pessoais cotidianos, que pode ser<br />
pensado como um desafio da intimidade a distância.
15<br />
No contexto da intimidade a distância, a faculdade de se relacionar, de ir ao<br />
encontro do outro através do contato pessoal e emocional manifesta-se de uma<br />
forma minimizada, uma vez que os aparelhos eletrônicos se colocam como<br />
intermediários da comunicação, trazendo-nos uma nova convenção para os<br />
relacionamentos. Mesmo comunicando-se os homens colocam-se distantes, fazendo<br />
da possibilidade da convivência uma condição remota.<br />
O desafio se faz presente à medida que esse “novo acordo” ou intimidade a<br />
distância se apresenta como um hábito que influencia o nosso jeito de estar, pensar<br />
e agir, nos levando a uma postura para e não com o outro e, cada vez mais<br />
práticos, acabamos por subtrair o valor de uma conversação.<br />
Será que os relacionamentos têm sido simulações de possíveis encontros<br />
entre as pessoas Utilizando-me da linguagem da informática, penso se estaremos<br />
como computadores ou aparelhagem similar: nos encontramos distantes uns dos<br />
outros na privacidade de nossos “lares internos e externos”, mas podemos ser<br />
acessados por uma conexão (o encontro, estar cara a cara) e, apesar da conexão,<br />
do encontro, o distanciamento se mantém revelando um link impessoal.<br />
W.Barnett Pearce in Dora Fried Schnitman (1996, p.175) destaca que<br />
Platão fazia advertência com relação à chegada da escrita e a mudança no<br />
paradigma do conhecimento “que do relato passou à oração, em especial às<br />
orações que utilizam o verbo “ser”. Assim, adquirimos um sentido do conhecimento<br />
despersonalizado, fora do contexto, eterno e objetivo”.<br />
Essa advertência de Platão ajuda-nos a compreender que muitas vezes o<br />
nosso ponto de vista e os seus condicionamentos nos levam a banalizar os<br />
relacionamentos como se eles fossem imutávies, passíveis apenas de serem
16<br />
capturados pelo nosso intelecto, não sendo necessário as conversas, as reflexões, e<br />
as possíveis mudanças de posições.<br />
No velho paradigma, há um conceito sobre a comunicação que a<br />
caracterizava a partir da idéia de linguagem como representacional, ou seja, como<br />
se fosse possível descrever perfeitamente o mundo que esta aí fora; que a função<br />
chave da comunicação era conseguir a transmissão de mensagens de um ponto ao<br />
outro sem distorcê-la, como um trilho condutor e, a comunicação caracterizava-se<br />
como um processo secundário, pois a priori funcionava bem e só se pensava nela<br />
quando algo nela funcionava mal.<br />
Hoje sabemos, sob a ótica do novo paradigma da comunicação, que a<br />
linguagem tem um caráter generativo que constrói o mundo e não puramente o<br />
representa; sua função primária não é a transmissão de informação de um ponto ao<br />
outro, mas “a construção de mundos humanos” (W. Barnett Pearce) in Dora Fried<br />
Schnitman (1996, p.176).<br />
1.3 - NOVO PARADIGMA SISTÊMICO<br />
Tomando por exemplo conversações terapêuticas realizadas com famílias na<br />
Clínica Social, na Terapia Comunitária e nas Oficinas da Escuta, muitas vezes<br />
escutamos que as dificuldades existem em suas vidas porque não há diálogo entre<br />
as pessoas envolvidas nos dilemas, pois não conseguem se entender em seus<br />
pontos de vistas, e surgem julgamentos como “ela ou ele é uma pessoa<br />
“desinteressada”, “impaciente”, “não escuta””, etc, ou seja, cada pessoa com sua<br />
explicação diferente limita-se em torno da sua visão e busca provar que sua<br />
interpretação é a correta, desacreditando em novas possibilidades e, por<br />
conseguinte, fechando-se a elas.
17<br />
Esse contexto, escreve Marilene Grandesso (2000, p.248) “ impede qualquer<br />
possibilidade de diálogo e compreensão entre as pessoas , ou da própria pessoa<br />
com ela mesma, tornando a conversação um monólogo, ou múltiplos monólogos<br />
repetitivos”.<br />
A idéia de que a comunicação é um processo que garante a transmissão de<br />
informações, cujo código ou senha acionada através do que falamos, garantirá a<br />
compreensão e construirá o diálogo, nos levará a assumir um padrão de<br />
relacionamento sem a perspectiva de trocas, na qual o outro é apenas um recipiente<br />
passivo e a subjetividade dos participantes não é considerada.<br />
Assim como se apresenta, cada pessoa fala para si mesmo, restringindo a<br />
possibilidade da construção de novos significados. “Na repetitividade e no<br />
fechamento de tais conversações, ninguém pode sentir-se ouvido, compreendido e<br />
respeitado, dadas as desconfirmações e negações recíprocas” Marilene Grandesso<br />
(2000 p.249).<br />
A elaboração destas implicações pode se tornar um caminho pessoal para a<br />
percepção do filtro do qual cada um tem se utilizado como as suas regras de<br />
comportamento, e de que maneira tem estado em seus relacionamentos e práticas<br />
sociais, uma vez que os paradigmas nos colocam dentro de um limite e nos indicam<br />
como obter resultado na solução de situações-problema, dentro desses limites.<br />
Desta forma, considero importante destacar os principais aspectos do<br />
paradigma sistêmico, levando-se em conta a construção da postura da escuta em<br />
nossos relacionamentos pessoais e profissionais, a partir da adoção desse novo<br />
paradigma da ciência.<br />
Adotar o paradigma sistêmico como um referencial científico para a prática<br />
profissional e também para a vida pessoal, uma vez que ambas não se excluem, é o
18<br />
mesmo que dizer que se faz necessário realinhar o foco do olhar além do singular,<br />
ajustando-o ao feixe de luz que ilumina os processos relacionais que envolvem a<br />
vida.<br />
Assim, vamos fazer uma pequena incursão pela história do pensamento<br />
religioso, filosófico e científico até chegarmos ao paradigma sistêmico. A cada<br />
época, o conhecimento constituiu-se numa forma segura de conhecer o mundo,<br />
influenciando e formando as nossas vidas, porém, não de uma maneira definitiva,<br />
pois sabemos que o conhecimento é um processo gradual, construído a cada<br />
geração que se sucede.<br />
1.3.1 PENSAMENTO RELIGIOSO E MITOLÓGICO<br />
Segundo a concepção religiosa, o mundo é criado por Deus ou pelos deuses,<br />
sendo por eles governado à revelia do homem e de sua vontade. Diante dos deuses<br />
ou de Deus, infinitamente poderosos, o homem não passa de um ser indefeso.<br />
O mito é uma forma de conhecimento que se dá não a partir da razão, mas a<br />
partir de verdades que são reveladas pelos deuses ou forças da natureza, que<br />
influenciam e instauram a ordem no mundo. Sendo verdades divinas, poucos têm<br />
acesso e, por se tratarem de afirmações que não dão margem à dúvida, não<br />
requerem demonstração de prova (Vasconcellos, 2002).<br />
A concepção religiosa e mitológica do universo é criticada pela filosofia e pela<br />
ciência, que se propõem, desde suas origens, substituí-la por uma concepção<br />
racional e lógica.
19<br />
1. 3.2 PERÍODO PRÉ - SOCRÁTICO<br />
Entre os séculos VIII a.C e VI a.C, os gregos descobriram o logos como um<br />
instrumento para conhecer o mundo, representando a passagem do mito para a<br />
razão.<br />
A descoberta da razão significou para os homens a busca pela compreensão<br />
do mundo, “não mais a partir da autoridade como no mito”, mas a compreensão do mundo<br />
“buscando o seu princípio explicativo”. Nesse contexto alguns pensadores se destacam,<br />
segundo (Vasconcellos, 2002):<br />
Thales (624-562 a.C): a água é o princípio ou causa material de todas as<br />
coisas; um princípio elementar empírico e palpável.<br />
Anaximandro (611-546 a.C): contrapõe à água o apeíron, explicações<br />
abstratas, puramente ideais.<br />
Anaxímenes (586-525 a.C): tentativa de harmonização de opostos com a<br />
concepção do ar como princípio elementar de tudo: entidade viva e também<br />
sensível, indefinido e ilimitado.<br />
1.3.3 PERÍODO CLÁSSICO<br />
Foi Sócrates (469-399 a.C) quem inicialmente esforçou-se para esclarecer<br />
“que é necessário justificar as proposições, por meio da demonstração, cujo fio<br />
condutor é o argumento” Vasconcellos (2002,p.54).<br />
Posteriormente, Platão (427-347a.C) e Aristóteles (384-322 a.C)<br />
se<br />
empenharam em ressaltar o valor de estabelecer-se um conhecimento verdadeiro e<br />
opuseram-se à idéia do mito e da opinião, sendo esta última considerada pelos<br />
gregos, como própria do senso comum.<br />
Assim, a opinião, embora não fosse uma forma de conhecimento alcançado<br />
por meio de revelação divina, tinha por base “as informações que chegam aos
20<br />
sentidos” Vasconcellos (2002, p.54) sendo, portanto, um conhecimento superficial do<br />
mundo e das coisas.<br />
Platão e Aristóteles, ao sustentarem que esse modo de conhecer não é<br />
apropriado, já têm em pauta o propósito de ciência como conhecimento que procede<br />
da razão.<br />
A razão vai se contrapor às características do mito e da opinião, possibilitando<br />
estabelecer-se uma “forma de racionalidade, própria da ciência e da filosofia”<br />
nomeada de espisteme, que segundo Vasconcellos (2002,p.55):<br />
“Diferentemente do mito e da opinião, a episteme se apresenta com<br />
alguns traços característicos.O discurso do logos (do sujeito do<br />
conhecimento) é pensado como separado da realidade (o objeto do<br />
conhecimento), da qual deverá apropriar-se, por intermédio da<br />
mediação do pensamento ou idéia. A verdade é relativa a uma<br />
essência do ser, que permanece escondida pela aparência das<br />
coisas e que, não se mostrando ao olho sensível, tem que ser<br />
desvendada ou demonstrada pelo olho do espírito, que é o<br />
pensamento”.<br />
No conhecimento científico, assim como no filosófico a razão se faz presente,<br />
podendo ser identificada na unidade originária ciência-filosofia, duas formas de<br />
racionalidade: Matemática: “é puramente abstrata, e por isso pode ser usada<br />
qualquer que seja o objeto do conhecimento” Vasconcellos (2002, p.56). O<br />
conhecimento é tido como contemplativo, não há preocupação com a sua aplicação<br />
e uso prático; Lógica: Aristóteles desenvolveu a doutrina do silogismo que quer dizer<br />
cálculo, “designando as operações do pensamento; no raciocínio em geral: no<br />
raciocínio dedutivo, estando dada alguma coisa, outras delas se derivam<br />
necessariamente”. Assim a doutrina “fixa as regras, a consistência lógica, para um<br />
discurso ser admitido como racional”. Um exemplo da utilização dessa doutrina<br />
pode nos ajudar a compreender como que por meio da demonstração lógica,
21<br />
estabelece-se a verdade: “Todos os animais são mortais; todos os homens são<br />
animais; logo, todos os homens são mortais “Vasconcellos (2002,p.57).<br />
1.3.4 - PERÍODO PÓS-SOCRÁTICO<br />
Época que vai do final do período clássico (320 a.C) até o começo da Era<br />
Cristã.<br />
De acordo com os pensadores céticos, a dúvida deve estar sempre presente,<br />
pois o ser humano não consegue conhecer nada de forma exata e segura.<br />
Os pensadores estóicos, como Marco Aurélio e Sêneca, defendiam a razão a<br />
qualquer preço. Consideravam que os fenômenos exteriores a vida deviam ser<br />
deixados de lado, como a emoção, o prazer e o sofrimento.<br />
Segundo (Domingues,1992) in Vasconcellos (2002,p.58), os custos<br />
correspondentes à adoção da racionalidade são:<br />
. sacrifício do sujeito: exclui-se o subjetivo e submete-se tudo à razão;<br />
. expurgo do sensível: não às sensações e percepções;<br />
. eliminação do tempo histórico: busca-se a essência apenas, sem olhar as<br />
circunstâncias.<br />
1.3.5 - PENSAMENTO MEDIEVAL<br />
O pensamento na Idade Média foi influenciado pela Igreja Católica, ficando<br />
imprecisos os limites entre a filosofia e a teologia. Desta forma, o teocentrismo (Deus<br />
como o centro de tudo) acabou por definir as formas de sentir, ver e também pensar<br />
no período medieval. “Acima das verdades da razão estão as verdades da fé, e as<br />
tentativas de racionalização avançam apenas até onde não questionam as verdades<br />
reveladas” Vasconcellos (2002, p.58).
22<br />
De acordo com Santo Agostinho, importante teólogo romano, no pensamento<br />
anterior a Cristo “havia um erro fundamental, o de celebrar o poder da razão como o<br />
maior poder do homem” Vasconcellos (2002, p.58), uma vez que esse pensador<br />
afirmava que o conhecimento e as idéias eram de origem divina, e as verdades<br />
sobre o mundo e sobre todas as coisas deviam ser buscadas nas palavras de Deus.<br />
A partir do século V até o século XIII, surge uma nova linha de pensamento, a<br />
escolástica, cujo principal representante foi Santo Tomás de Aquino. Um conjunto de<br />
idéias que visava unir a fé com o pensamento racional de Platão e Aristóteles.<br />
1.3.6 - PENSAMENTO MODERNO<br />
Com o renascimento cultural e científico, o surgimento da burguesia e o fim<br />
da Idade Média, as formas de pensar sobre o mundo e o Universo ganham novos<br />
rumos. A definição de conhecimento deixa de ser religiosa para entrar num âmbito<br />
racional e científico. O teocentrismo é deixado de lado e entra em cena o<br />
antropocentrismo (o homem no centro do Universo).<br />
De acordo com Vasconcellos (2002, p.59) ”a questão da ciência aparece, de<br />
forma forte, no século XVII d.C”, sendo que aquela unidade originária ciênciafilosofia<br />
é substituída pela cientificidade, cujo modelo revelado é suficiente sem a<br />
filosofia.<br />
Se para os antigos a matemática era puramente abstrata e não estava<br />
associada à experiência, nesse momento se insere a matematização<br />
da<br />
experiência.<br />
De acordo com Capra (1996, p.34):<br />
“A noção de universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela<br />
noção do mundo como uma máquina, e a máquina do mundo tornouse<br />
a metáfora dominante da era moderna.Essa mudança foi<br />
realizada pelas novas descobertas em física, astronomia e
23<br />
matemática, conhecidas como Revolução Científica e associadas<br />
aos nomes de Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon e Newton”.<br />
Galileu Galilei (1564 -1642), um físico italiano, ficou conhecido por ter criado<br />
uma física não-contemplativa, através do método experimental das ciências da<br />
natureza, limitando a ciência ao estudo dos fenômenos que podiam ser medidos e<br />
quantificados.<br />
O psiquiatra (R.D.Laing) in Capra (1996,p.34),<br />
“afirma enfaticamente: O programa de Galileu oferece-nos um<br />
mundo morto: extinguem-se a visão, o som, o sabor, o tato e o olfato,<br />
e junto com eles vão-se também as sensibilidades estéticas e ética,<br />
os valores, a qualidade, a alma, a consciência, o espírito.A<br />
experiência como tal é expulsa do domínio do discurso científico. É<br />
improvável que algo tenha mudado mais o mundo nos últimos<br />
quatrocentos anos do que o audacioso programa de Galileu.Tivemos<br />
de destruir o mundo em teoria antes que pudéssemos destruí-lo na<br />
prática”.<br />
Nesse contexto, René Descartes (1596-1650), pensador francês, físico e<br />
matemático, foi considerado o pai da ciência moderna, com o método do<br />
pensamento analítico, conhecido como cartesianismo.<br />
Sua visão da natureza entendia uma divisão indispensável, o da mente e o da<br />
matéria, como domínios independentes e separados. O domínio material, contendo<br />
os organismos vivos, era tido por Descartes como uma máquina, que poderia ser<br />
entendido a partir da análise das suas menores partes, quebrando “fenômenos<br />
complexos em pedaços a fim de compreender o comportamento do todo a partir das<br />
propriedades das suas partes” Capra (1996, p.34).<br />
Assim, conforme escreve Vasconcellos (2002, p.74):<br />
“a ciência procede à análise dos todos complexos, à separação em<br />
partes.Começa por retirar o objeto de estudo dos contextos em que<br />
ele se encontra.Por exemplo, o biólogo leva a planta que recolheu<br />
numa montanha para ser estudada num laboratório, o psicólogo leva<br />
o indivíduo para ser observado, estudado, atendido, fora de seu<br />
contexto relacional”.
24<br />
Todo delineamento de conceitos criados por Galileu e Descartes, “o mundo<br />
como uma máquina perfeita governada por leis matemáticas exatas” Capra<br />
(1996,p.34), foi acrescentado de forma vitoriosa pelo físico e matemático inglês<br />
Isaac Newton (1642-1727), com a elaboração da primeira grande síntese da física,<br />
”leis da mecânica, teoria da gravitação universal, teoria da luz e da cor, teoria<br />
corpuscular da luz. Costuma-se dizer que o nosso paradigma de ciência é o<br />
paradigma newtoniano do mundo como uma máquina” Vasconcellos (2002,p.62).<br />
Fazendo uma pequena pausa nesta seqüência histórica, vamos refletir um<br />
pouco mais sobre o sentido de paradigma como sendo diferente de visão de mundo,<br />
conforme Capra comentado por Vasconcellos (2002, p.44):<br />
“segundo ele, uma visão de mundo pode ser defendida por um único<br />
filósofo, ou uma única pessoa, enquanto um paradigma é<br />
compartilhado por uma comunidade. Então, o paradigma forma a<br />
base de como essa comunidade se organiza”.<br />
Assim, podemos pensar que o paradigma que a nossa sociedade moderna<br />
adotou para fundar seus valores foi o paradigma cartesiano (de Descartes Séc. XVII)<br />
ou newtoniano (de Newton Séc. XVIII).<br />
Desta forma, torna-se importante ressaltar que cada tempo tem a sua<br />
linguagem e “queiramos ou não, cada um de nós está, de alguma forma amarrado e<br />
comprometido com a narrativa cultural de nossa época, atrelados às suas vantagens<br />
e desvantagens, criador e criatura do seu contexto” (Gladis Brun,1999).<br />
Se o nosso paradigma tem sido orientado pela idéia da comunicação<br />
instantânea e pela idéia da exclusão dos sentidos, da sensibilidade estética e ética,<br />
da eliminação dos valores, da qualidade, da alma, da consciência, então me parece<br />
ser comum pensar em nossos relacionamentos - uns para os outros - revelando<br />
“links impessoais”, objetivos, competitivos, onde não há espaço para conversar e<br />
escutar, estar com o outro.
25<br />
Segundo o que escreve Vasconcellos (2002, p.47), “esse paradigma da<br />
ciência, newtoniano ou cartesiano, veio mantendo-se através dos séculos e chegou<br />
até nós. Agora um novo paradigma de ciência está emergindo e certamente se<br />
desenvolverá no próximo período da história”.<br />
1.3.7 - PENSAMENTO SISTÊMICO<br />
Após longos estudos e aprimoramento das idéias de Aristóteles e outros, e<br />
através da oposição à visão mecânica de mundo, os biólogos se tornaram os<br />
pioneiros do pensamento sistêmico, dando destaque à idéia de organismos vivos<br />
como totalidades, na primeira metade do século XX, especificamente na década de<br />
20.<br />
O bioquímico Lawrence Henderson, conforme escreve Capra (1996), foi o<br />
primeiro a usar o termo “sistema”, para indicar organismos vivos como sistemas<br />
sociais. Mais adiante esclarece Capra (1996 p.39):<br />
“Dessa época em diante, um sistema passou a significar um todo<br />
integrado cujas propriedades essenciais surgem das relações entre<br />
as suas partes, e “pensamento sistêmico”, a compreensão de um<br />
fenômeno dentro de um contexto de um todo maior. Esse é, de fato,<br />
o significado raiz da palavra “sistema”, que deriva do grego<br />
synhistanai ( “colocar junto”). Entender as coisas sistemicamente<br />
significa, literalmente, colocá-las dentro de um contexto, estabelecer<br />
a natureza de suas relações”.<br />
O que os primeiros pensadores sistêmicos já abordavam era a complexidade<br />
da organização dos sistemas vivos, distinguindo o caráter hierárquico da vida, não<br />
como sistemas fechados, dominantes uns sobre os outros, como ressalta Capra<br />
(1996, p.40):<br />
“de fato, uma propriedade que se destaca em toda vida é a sua<br />
tendência para formar estruturas multiniveladas de sistemas dentro<br />
de sistemas. Cada um desses sistemas forma um todo com relação<br />
às suas partes, enquanto que, ao mesmo tempo, é parte de um todo<br />
maior. Desse modo, as células combinam-se para formar tecidos, os
26<br />
tecidos para formar órgãos e os órgãos para formar organismos.<br />
Estes, por sua vez, existem dentro de sistemas sociais e de<br />
ecossistemas. Ao longo de todo o mundo vivo, encontramos<br />
sistemas vivos aninhados dentro de outros sistemas vivos”.<br />
O pensamento sistêmico acredita que “embora possamos discernir partes<br />
individuais em qualquer sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza do<br />
todo é sempre diferente da mera soma das suas partes” Capra (1996 p.40). Por<br />
exemplo, a qualidade distintiva da água, matar a sede/hidratar organismos vivos,<br />
não é encontrada isoladamente como propriedade dos seus componentes<br />
formadores: o hidrogênio e o oxigênio, cada um por si só não apresenta a qualidade<br />
da água, porém, juntos eles formam água. Assim, a abordagem sistêmica nos<br />
mostra que as propriedades das partes só podem ser compreendidas a partir da<br />
organização do todo e que para pensar sistemicamente é necessário pensar em<br />
termos de conexão, de relações e de contexto.<br />
A busca da sociedade ocidental moderna pelo conhecimento pautado na<br />
postura da análise, da separação dos objetos de estudo dos contextos onde se<br />
encontram, da classificação em uma ou outra categoria, reduzindo a complexidade<br />
da vida natural, influenciou o cotidiano das pessoas e o jeito de estar, agir e pensar<br />
o mundo. Realizamos, igualmente, a análise em nossos relacionamentos e as<br />
circunstâncias passam a ser boas ou más, os outros são amigos ou inimigos,<br />
aceitamos esse ou aquele ponto de vista, rejeitando idéias diferentes e, assim,<br />
acabamos por apresentar dificuldades de comunicação e de compreensão em<br />
nossas conversas e vivências.<br />
Este modelo de ciência que simplifica o todo complexo, como por exemplo,<br />
retira o peixe do rio para ser observado em um tanque artificial de laboratório, com<br />
regras rígidas, idéias fechadas, contextos estáveis e permanentes, diferentemente<br />
da imprevisibilidade do meio natural, exclui o que não se ajustar à dinâmica por ela
27<br />
criada, demonstrando a lógica aristotélica da causalidade linear unidirecional,<br />
conforme Vasconcellos (2002,p.77):<br />
“só se pode aceitar como causa de um fenômeno observado algo<br />
que tenha acontecido antes desse fenômeno, ou na melhor das<br />
hipóteses, algo que lhe seja concomitante. Jamais um evento que<br />
ainda não aconteceu poderia ser invocado como causa ou<br />
explicação do que está acontecendo agora”.<br />
Através desse pensamento cada fenômeno observado (B) corresponde uma<br />
causa (A) e cada fenômeno observado tem um efeito (C). Aquilo que não se<br />
encaixar nesse padrão será excluído. Essa abordagem nos revela a postura do<br />
ou/ou, afastando a possibilidade do tanto/quanto, deixando de considerar a<br />
diversidade, a instabilidade, que são fatos da vida.<br />
A influência da ciência moderna para os relacionamentos cotidianos pode ser<br />
sentida na forma lógica que apresentamos ao pensar e considerar como resposta<br />
aos nossos problemas o que é verdadeiro ou não, com tendência em levar em conta<br />
apenas uma face ou um aspecto das coisas, reduzindo questões complexas a partir<br />
de uma atitude imediatista.<br />
Assim, isolamos os elementos de uma situação-dilemática do seu contexto<br />
relacional amplo, considerando-a dentro de uma visão singular, onde os fatos devem<br />
ser sempre previsíveis e controlados por nós. Por exemplo, uma pessoa sentindo-se<br />
angustiada por estar passando pelo desemprego, culpa a si mesma por não ter<br />
realizado curso de nível universitário ou responsabiliza aos seus pais, gerando numa<br />
ou outra situação dificuldades de relacionamento intra e inter-pessoal. Essa pessoa<br />
deixa de considerar as inter-relações de seu problema com os aspectos constituintes<br />
do contexto maior no qual está inserida: políticas públicas, mudanças na economia,<br />
cultura de mercado, sistema de ensino, globalização, etc, assumindo a posição<br />
ou/ou. Considerar tanto um (aspectos pessoais, familiares) quanto o outro (contexto
28<br />
ampliado), fará parte da sua compreensão do fenômeno do desemprego individual e<br />
coletivo no país, levando-a a uma postura mais aberta, ampliando as possibilidades<br />
da sua comunicação e da sua autonomia de escolhas na situação vivenciada.<br />
Compreender, segundo (Serra 1997) in Camarrotti (2005) “não significa<br />
levantar dados, mas perceber a ligação existente entre eles, a rede que os sustenta<br />
e que não é visível, mas que se revela nos fatos”. De acordo com Camarotti (2005)<br />
“compreender e interrelacionar, eis os verbos que norteiam as ações e a pesquisa<br />
do sofrimento humano”.<br />
O pensamento complexo, visto como um aspecto significativo do pensamento<br />
sistêmico, mostra-nos que não existe uma única realidade e muito menos que venha<br />
a ser percebida da mesma maneira por todas as pessoas.<br />
Segundo Morin (1990, p.100), “a consciência da complexidade faz-nos<br />
compreender que não poderemos nunca escapar à incerteza e que não poderemos<br />
nunca ter um saber total. “A totalidade é a não verdade””.<br />
Assim, o pensamento sistêmico, como uma concepção pós-moderna, nos<br />
mostra que o modelo linear cartesiano de conhecer a vida é insuficiente para<br />
resolver as questões humanas, pois nelas estão contidas as emoções.<br />
1.4 - DIMENSÃO SENSÍVEL DO SER H<strong>UMA</strong>NO<br />
Estamos certos que o ser humano é um ser racional e que esta sua condição<br />
o distingue dos outros animais.<br />
Esta afirmação é aceita por nós, assim como tantas outras. Não paramos<br />
para pensar, aceitamo-la porque já faz parte do senso comum e esta aceitação sem<br />
reflexão pode funcionar como um obstáculo para uma visão e conhecimento mais<br />
amplos.
29<br />
A partir da perspectiva da Biologia do Conhecimento, teoria criada pelo<br />
biólogo chileno Humberto Maturana, veremos que “dizer que a razão caracteriza o<br />
humano” é um limite em nossa visão, “porque nos deixa cegos frente à emoção, que<br />
fica desvalorizada como algo animal ou como algo que nega o racional” (2001,p.15).<br />
Maturana diz que “ao nos declararmos seres racionais vivemos uma cultura<br />
que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e<br />
emoção, que constitui nosso viver humano, e não nos damos conta de que todo<br />
sistema racional tem um fundamento emocional” (2001, p.15).<br />
O que chamamos de racional é o produto das nossas percepções.<br />
Inicialmente, elas surgem como emoções; por exemplo, uma pessoa está sob<br />
determinada percepção corporal que lhe faz sentir o coração bater acelerado e a<br />
respiração ofegante, algo ainda inominável, como se estivesse em um estado de<br />
emoção inespecífica. Posteriormente, essas emoções se transformam em<br />
pensamentos, que geram discursos, que são formalizados em conceitos, por nós<br />
chamados de sentimentos.<br />
1.4.1 - AS EMOÇÕES<br />
Importante, portanto, ressaltar que, emoção para Maturana não é o que<br />
habitualmente chamamos de sentimento. Emoções do ponto de vista biológico, “são<br />
disposições corporais dinâmicas que definem os diferentes domínios de ação em<br />
que nos movemos” (Humberto Maturana, 2001,p.15), ou seja, a emoção tem a ver<br />
com a condição física em que se sente o indivíduo, que produz ou modifica os seus<br />
movimentos, sua corporalidade e que define os seus diferentes comportamentos, em<br />
diferentes momentos e contextos. “Quando mudamos de emoção, mudamos de<br />
domínio de ação” (Humberto Maturana,2001,p.15).
30<br />
Assim, podemos pensar que existirão diferentes relacionamentos humanos<br />
conforme as emoções que os sustentarão. Neste momento podemos nos perguntar<br />
sobre quais são as emoções que fundam os domínios de ação numa sociedade<br />
frenética, que privilegia a racionalidade técnico-científica, que mercantiliza as<br />
relações, cria a cultura do ser de consumo, do homem como o centro de todos os<br />
seres, da competitividade como valor central para a sobrevivência e resposta aos<br />
objetivos utilitaristas E por outro lado, podemos também nos perguntar sobre quais<br />
são as emoções que sustentam os domínios de ação capazes de incluir os valores<br />
ligados à vida, às relações de convivência e cooperatividade, que leva o homem a<br />
se responsabilizar pelos seus próprios atos e se solidarizar com os outros<br />
Quais são as relações que queremos para nós Humberto Maturana sustenta<br />
que “não há ação humana sem uma emoção que a estabeleça como tal e a torne<br />
possível como ato” (2001, p.22).<br />
1.4.2 - O HOMEM<br />
O homem é um ser social por natureza, que nasceu para se relacionar. De<br />
acordo com o dicionário eletrônico Houaiss, relacionar-se significa: “fazer, adquirir<br />
relações, amizades, conhecimentos; expor por meio de escrita ou oralmente; relatar,<br />
referir, narrar”.<br />
Compreendo que o homem para viver necessita dos relacionamentos assim<br />
como o peixe necessita da água. Trago esta metáfora imaginando as pessoas, os<br />
encontros e desencontros que temos uns com os outros, como um meio essencial<br />
(os relacionamentos) por onde fazemos circular o nosso agir e estar no mundo;<br />
aprendendo mais sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre a vida; tendo a<br />
oportunidade de construir novos significados e conhecimentos através do que
31<br />
falamos, do que tocamos, do que vemos, do que escutamos, das nossas histórias e<br />
das nossas emoções. Porém, quando narramos precisamos de alguém que nos<br />
escute, que nos olhe nos olhos, que nos dê pistas de como estamos nos saindo<br />
naquilo que queremos construir a cada fala, a cada gesto, a cada nova interação.<br />
Um olhar sincero ou cheio de indagações, uma mão que se estende ou um<br />
corpo que se afasta, um abraço ou um sorriso, pode fazer uma grande diferença<br />
para cada um de nós a cada momento das nossas vidas.<br />
Importante considerar que através dos relacionamentos o homem se<br />
expressa, toma consciência de si mesmo, põe em cheque as suas próprias<br />
realizações, procura incansavelmente novas significações e cria vínculos com os<br />
outros.<br />
1.4.3 - O ENTRELAÇAMENTO DA RAZÃO E DA EMOÇÃO<br />
Ainda que permaneçamos em nossa vida cotidiana insistindo que o que<br />
determina nossas ações como humanas é o aspecto racional, podemos, também,<br />
perceber que quando estamos sob determinada emoção, há condutas que podemos<br />
ter e outras que não podemos ter, e que aceitamos como correto alguns raciocínios<br />
que não aceitaríamos sob o domínio de outra emoção.<br />
Existem coisas que acreditamos, fazemos e pensamos, que estão<br />
organizadas em nós como premissas básicas, aceitas a priori, numa perspectiva de<br />
preferências, a partir da emoção da aceitação, porque gostamos delas, as aceitamos<br />
como válidas, porque queremos. De acordo com Maturana (2001, p.16) “todo<br />
sistema racional se constitui no operar com premissas previamente aceitas, a partir<br />
de uma certa emoção”.
32<br />
Desta forma, vemos que o sistema racional começa no emocional: o que<br />
pensamos vem do que sentimos. Assim, nenhum argumento racional pode<br />
convencer as pessoas que estejam sob o domínio de outra emoção.<br />
Um conjunto de idéias, razões explícitas, é importante para iniciar uma<br />
conversação, porém, se elas insistem em continuarem excludentes, ou seja, ou/ou,<br />
geram-se desacordos. Estes desacordos se distinguem pelo grau de emoções que<br />
aparecem, mas que freqüentemente não diferenciamos dessa forma, porque temos<br />
a impressão de serem diferentes maneiras de reagir frente a um erro lógico.<br />
Esses desacordos são, segundo Humberto Maturana (2001,p.51):<br />
“divergências lógicas e divergências ideológicas”, das quais entendo que:<br />
A- Divergências Lógicas: acontecem quando uma pessoa numa conversação<br />
pratica um erro na aplicação de fundamentos racionais (lógicos), mas o<br />
conflito logo passa, por se tratarem de “premissas fundamentais aceitas por<br />
todas as pessoas em desacordo” (Maturana).<br />
B- Divergências Ideológicas: acontecem quando as pessoas numa conversação<br />
argumentam a partir das premissas fundamentais que cada uma possui.<br />
Esses conflitos são acompanhados de uma manifestação súbita de emoção,<br />
porque as pessoas vivem as suas discordâncias como “ameaças existenciais<br />
recíprocas. “Desacordos nas premissas fundamentais são situações que<br />
ameaçam a vida, já que um nega ao outro os fundamentos de seu pensar e a<br />
coerência racional de sua existência (Maturana).<br />
Vivemos o desacordo lógico como algo que não tem valor e não recebe toda a<br />
nossa atenção, pois o erro pode ser facilmente reconhecido e o máximo que nos<br />
acontece é ficarmos acanhados e pedirmos desculpas. Conforme exemplo dado por<br />
Maturana, ao afirmarmos que 2 x 2 = 5, alguém nos mostrará as regras lógicas da
33<br />
multiplicação constituída como uma soma : 2 x 2 é o mesmo que (1+1) + (1+1), que<br />
portanto, será = 4, o que aceitaremos facilmente como resolução para a<br />
discordância.<br />
Nas divergências ideológicas atuamos em domínios de ação acusando o outro<br />
de não enxergar como nós. Vivemos essa situação sentindo-a como uma ameaça à<br />
nossa existência, uma vez que não consideramos que estamos pautados por<br />
diferentes pontos de vistas e idéias que têm previamente a nossa preferência, que<br />
são significativas para nossas explicações e para o nosso viver, ou seja, esse tipo de<br />
desacordo se baseia em conflitos de emoção e não da razão, já que as suas<br />
premissas fundamentais não estão apoiadas na razão. Assim, permanecemos na<br />
divergência ideológica achando que estamos vivenciando apenas um erro lógico.<br />
Por exemplo: 1- as pessoas elegem conceitos para suas vidas que ajudam-nas em<br />
seu agir pessoal cotidiano (maneiras de viver) e imaginam que todos os outros<br />
também compartilham das suas idéias e gostos 2- durante uma conversação as<br />
pessoas apresentam conceitos em objeção umas às outras 3- sentem-se num fluxo<br />
de emoções mais intenso, pois a negação de uns aos outros em suas idéias e<br />
preferências, gera o indício de uma possível apartação que cada um terá que fazer<br />
de seus próprios conceitos e jeitos de viver 4- os envolvidos na conversação,<br />
imaginando que estão apenas cometendo um desvio na colocação de idéias que são<br />
aceitas a priori por todos, ou permanecem argumentando sob o domínio da emoção<br />
da não aceitação, na tentativa de manterem suas idéias e razões lógicas, ou se<br />
separam uns dos outros.<br />
Podemos assim perceber que o humano se constitui no entrelaçamento do<br />
racional com o emocional e que o contrário disto, a dicotomia entre razão e emoção,
34<br />
tem sido o fundamento do paradigma cartesiano que alimenta e valoriza a cultura do<br />
racional e desqualifica o que provém das nossas emoções.<br />
Os nossos argumentos e as nossas ações têm um fundamento emocional,<br />
porém, ainda nos aparenta ser difícil pensar assim, uma vez que isso parece nos<br />
expor ao caos da irracionalidade, sendo levados pela emoção.<br />
Contudo, Maturana (2001, p.52) diz:<br />
“que o viver não ocorre no caos, e que há caos somente quando<br />
perdemos nossa referência emocional e não sabemos o que<br />
queremos fazer, porque nos encontramos recorrentemente em<br />
emoções contraditórias”.<br />
O autor, ainda acrescenta que é apenas através do caminho da objetividadeentre-parênteses<br />
que poderemos refletir e aceitar o fundamento emocional de todo<br />
sistema racional. Isto acontece porque o processo de refletir equivale-se a colocar<br />
na dimensão das emoções os fundamentos de nossas convicções, expondo-os aos<br />
nossos desejos a fim de que possamos mantê-los ou dispensá-los, sabendo o que<br />
estamos realizando.<br />
1.4.4 - A OBJETIVIDADE E AS RELAÇÕES H<strong>UMA</strong>NAS<br />
Quando numa conversação propomos um argumento racional para explicar<br />
alguma situação e o outro nos diz “você está enganado”, o que ele está nos dizendo<br />
é “eu não aceito esta reformulação da experiência como a reformulação da<br />
experiência que eu quero ouvir” Maturana (2001,p.41).<br />
O que notamos é que a maneira como uma pessoa escuta uma explicação é<br />
o que define se ela é ou não aceita como uma explicação, ou seja, é o fundamento<br />
de que a pessoa se utiliza para aceitar ou negar uma proposição explicativa que diz<br />
se esta proposição é ou não uma explicação.
35<br />
O que acontece muitas vezes é que aceitamos ou negamos uma explicação<br />
de maneira consciente ou inconsciente e nos movemos na vida cotidiana nos<br />
caminhos explicativos da objetividade-entre-parênteses e da objetividade-semparênteses.<br />
Quando estamos reunidos com pessoas das quais gostamos, que são de<br />
nossa preferência, que pertencem ao nosso domínio de aceitação mútua, agimos na<br />
objetividade-entre-parênteses. Neste caminho, não há uma única verdade, mas uma<br />
pluralidade de realidades, cada qual legítima, ainda que não possuam o mesmo<br />
conteúdo, e que não sejam igualmente desejáveis para serem vividas.<br />
No caminho explicativo da objetividade-entre-parênteses, o fato de uma<br />
pessoa gostar da vida urbana e o outro gostar da vida no campo ou de um ser<br />
cristão e o outro politeísta, não se torna motivo para uma dinâmica de negação na<br />
convivência com o outro, uma vez que ser diferente, apresentar preferências que<br />
não coincidem, não se tornam causas para a exclusão de um ou outro. Neste caso,<br />
há a responsabilidade do agir em um domínio de realidade que conscientemente se<br />
fundamenta pela emoção da aceitação de si mesmo e do outro, por ser uma<br />
preferência pessoal e um posicionamento em não acusar o outro de estar<br />
equivocado em suas escolhas e argumentos.<br />
Já no “caminho explicativo da objetividade-sem-parênteses, as relações<br />
humanas não ocorrem na aceitação mútua” Maturana (2001, p.49). Disto decorre um<br />
mover-se na negação do outro. Existe uma realidade que é dada como objetiva,<br />
para a qual nos direcionamos, e que utilizamos como base para validar nossas<br />
explicações.<br />
Agimos como se o que falamos fosse aceito em decorrência de sua referência<br />
a algo que é independente de nós. De acordo com Maturana (2001, p.46):
36<br />
“é válido porque é objetivo, não porque seja eu quem o diz; é a<br />
realidade, são os dados, são as medições, não eu, os responsáveis<br />
pela validade do que eu digo, e se digo que você está equivocado,<br />
não sou eu quem determina que você está equivocado, mas a<br />
realidade...em última análise, existe uma realidade transcendente<br />
que valida o nosso conhecer e o nosso explicar, e que a<br />
universalidade do conhecimento se funda em tal objetividade”.<br />
Na vida cotidiana nos movemos num domínio ou noutro, segundo um critério<br />
de aceitação que temos em nosso escutar, legitimando ou não o mundo do outro.<br />
A Biologia do Conhecimento nos mostra a forma como somos, como estamos<br />
formados biologicamente e como somos humanos na linguagem. Coloca em<br />
“evidência a impossibilidade da objetividade e nos convida a assumir que<br />
construímos a realidade, com todas as implicações que daí advêm” Vasconcellos<br />
(2005,p.171).<br />
1.4.5 - A LINGUAGEM<br />
É na linguagem que o viver humano se constitui e, ainda de acordo com a<br />
concepção de Maturana, é no entrelaçamento da emoção e da linguagem que temos<br />
o que se denomina conversar.<br />
O que é aceito tradicionalmente como linguagem: um simples processo de<br />
transmitir informações de uma pessoa a outra, não é aceito como suficiente na teoria<br />
da linguagem elaborada por Maturana, por não conter dados explicativos sobre as<br />
condições de constituição da linguagem e somente descrever a ordem de sua<br />
operacionalização.<br />
Para o autor “linguagem está relacionada com coordenações de ações, mas<br />
não com qualquer coordenação de ação, apenas com coordenação de ações<br />
consensuais”, e acrescenta: “a linguagem é um operar em coordenações<br />
consensuais de coordenações consensuais de ações” (2001, p.19).
37<br />
Assim, compreendo que a linguagem ocorre não apenas porque o consenso<br />
já é bastante, mas porque há também uma repetição continuada de trocas<br />
recíprocas (coordenações) onde os organismos vivos mudam juntos, por meio de um<br />
suscitar simultâneo de mudanças estruturais.<br />
“Essa coordenação mútua é uma das características fundamentais<br />
de toda comunicação entre organismos vivos, dotados ou não de<br />
sistema nervoso, e vai se tornando cada vez mais sutil e elaborada à<br />
medida que a complexidade do sistema nervoso vai aumentando”<br />
(Maturana) in Fritjof Capra (2002,p.67).<br />
A linguagem, conforme especifica (Maturana) in Capra (2002, p.68), ocorre<br />
“no fluxo de interações e relações da convivência”. Importante esclarecer que<br />
enquanto seres humanos nós não estamos em linguagem, mas existimos dentro do<br />
fenômeno da linguagem e construímos a organização lingüística na qual estamos<br />
incluídos.<br />
Como descrito acima, a linguagem não ocorre no cérebro, mas surge quando<br />
há a coordenação de coordenações de comportamento, que também é chamada por<br />
Maturana de “linguageamento”.<br />
A linguagem é “compreendida como um processo interativo, construído nos<br />
espaços compartilhados de pessoas em relação “Grandesso (2000, p.53).<br />
Por exemplo: quando você está no restaurante e levanta o braço acenando<br />
ao garçom para provocar-lhe a atenção, você está coordenando um comportamento<br />
através do gesto. Quando em seguida você articula os dedos solicitando que ele<br />
venha até a sua mesa, esse gesto coordena a coordenação de ação, fazendo<br />
aparecer o primeiro nível de comunicação pela linguagem. A articulação dos dedos<br />
em direção a você mesmo tornou-se a sua imagem mental de aproximação do<br />
garçom até sua mesa e essa segunda coordenação de ações coordena a primeira e<br />
não apenas se anexa a ela.
38<br />
A partir deste exemplo podemos pensar que os símbolos, as palavras, os<br />
gestos, etc, são manifestações da coordenação lingüística das ações e que a<br />
linguagem inicia-se quando “ há comunicação a respeito de comunicação” Capra<br />
(2002, p.225) e, junto com o outro, construímos um mundo e não o mundo (<br />
Maturana).<br />
O mundo construído por nós na coordenação comportamental com outras<br />
pessoas, “tem por elemento central o nosso mundo interior de pensamentos<br />
abstratos, conceitos, crenças, imagens mentais, intenções e autoconsciência”<br />
Maturana in Capra (2002, p.68).<br />
“ Numa conversa humana, nosso mundo interior de conceitos e de<br />
idéias, nossas emoções e nossos movimentos corporais tornam-se<br />
estreitamente ligados numa complexa coreografia de coordenação<br />
comportamental.Análises de filmes têm mostrado que toda a<br />
conversa envolve uma dança sutil e, em grande medida,<br />
inconsciente, na qual a seqüência detalhada de padrões da fala é<br />
sincronizada com precisão não apenas com movimentos diminutos<br />
do corpo de quem fala, mas também com movimentos<br />
correspondentes de quem ouve.Ambos os parceiros estão<br />
articulados nessa seqüência de movimentos rítmicos sincronizados<br />
com precisão, e a coordenação lingüística de seus gestos,<br />
mutuamente desencadeados, dura enquanto eles continuam<br />
envolvidos numa conversa” Capra (2002, p.227).<br />
1.4.6 - UM MODO DE VIVER<br />
Viver na linguagem significa dizer que nos seres humanos vivemos o nós, o<br />
relacional em nossa vida cotidiana.<br />
De acordo com o que escreve Maturana (2001), compreendo que a evolução<br />
humana se deu no compartilhar da sensualidade e no compartilhar alimentos e<br />
vivências ligadas ao crescimento e desenvolvimento, desde o nascer até o morrer,<br />
caracterizando um agir em um domínio social de coordenações de trocas recíprocas<br />
continuadas (linguagem), de geração em geração; um agir fundado em emoções<br />
que elegiam certos gostos, gestos, costumes, etc, a partir de preferências e
39<br />
circunstâncias. Essas interações recorrentes de aceitação mútua e não tão somente<br />
o consenso por certo modo de viver, provocaram mudanças estruturais nos<br />
organismos humanos, formando sucessivamente uma nova série de gerações, ao<br />
criar uma maneira de viver em um contexto.<br />
Maturana esclarece-nos que “o central no fenômeno evolutivo está na<br />
mudança do modo de vida, e em sua conservação na constituição de uma linhagem<br />
de organismos congruentes com sua circunstância, e não em desacordo com ela”<br />
(2001, p.21). A evolução humana se faz presente pela condição do humano estar<br />
inserido em um mundo lingüístico, aonde o seu comportamento vai além do instintivo<br />
e pode ser aprendido, gerando a possibilidade de um desenvolvimento contínuo do<br />
jeito de viver e, sendo este o aspecto importante que carregamos, damos origem a<br />
outros organismos congruentes com seu meio, que carregam, também, a<br />
possibilidade da mudança.<br />
Quando cito que o comportamento humano é aprendido, não estou me<br />
referindo ao modelo de aprendizagem que habitualmente encontramos, no qual uma<br />
pessoa se torna receptáculo de conteúdos prontos, acabados e de realidades<br />
independentes de quem aprende. Refiro-me ao que diz Maturana, (2001, p.60):<br />
“o que está envolvido no aprender é a transformação de nossa<br />
corporalidade, que segue um curso ou outro, dependendo de nosso<br />
modo de viver. Sabemos que o aprender tem a ver com as<br />
mudanças estruturais que ocorrem em nós de maneira contingente<br />
com a história de nossas interações”<br />
Neste momento me recordo da história do “menino lobo”, o qual foi criado na<br />
selva entre e pelos os animais. Ele cresceu corporalmente diferente das crianças<br />
que são expostas a uma história de interações humanas. O “menino lobo”, não<br />
tendo sido exposto a uma história humana, não aprendeu seus usos e costumes e<br />
não tendo tido a sua transformação nessa história, a partir de seu viver nela, não se<br />
tornou humano. Parece ficar claro que o nosso corpo constitui a possibilidade da
40<br />
nossa existência, enquanto seres humanos, à medida que a nossa condição de<br />
aprender tem a ver com a transformação de nossa corporalidade, que se manifesta<br />
de um jeito ou de outro, dependendo das circunstâncias do nosso modo de viver.<br />
De acordo com Maturana “toda interação implica num encontro estrutural<br />
entre os que interagem, e todo encontro estrutural resulta num desencadeamento de<br />
mudanças estruturais entre os participantes do encontro” (2001 ,p.59), ou seja,<br />
apesar de possuirmos, cada um de nós, a nossa estrutura (moléculas, células,<br />
tecidos, órgãos...) em contínua mudança estrutural espontânea e reativa, o curso<br />
desta mudança não se dá de maneira individual, isolada do meio, somente sob a<br />
responsabilidade de cada um, pois se faz de maneira relacionada com a história de<br />
nossas interações com os outros, com o contexto onde vivemos, numa circularidade<br />
de influências mútuas.<br />
Podemos citar o exemplo dado pelo autor quando diz do tio que está<br />
internado numa CTI. Este seria um ambiente adaptado às suas necessidades.<br />
Quando o sobrinho imagina levar o tio à praia, sabe-se que ele não teria condições<br />
de sobreviver, porque o ambiente não está adaptado às necessidades do tio e nem<br />
o tio estaria adaptado às condições do ambiente na praia. Sendo assim, notamos<br />
que o que faz com que o ser vivo se preserve é sua congruência com o meio e não a<br />
questão do vencer ou perder.<br />
1.4.7 - A CONSPIRAÇÃO DO AMOR<br />
Vimos anteriormente que a linguagem tem um importante papel na evolução<br />
humana, que não está relacionada à capacidade de trocar idéias, mas com a<br />
possibilidade de aumentar as atividades cooperativas e de desenvolver as famílias e<br />
as comunidades, permitindo o avançar da humanidade com enormes vantagens.
41<br />
Hoje, a nossa cultura, a nossa arte, o nosso pensamento, encontram-se<br />
bastante desenvolvidos e junto com esta evolução tivemos também o progresso da<br />
nossa capacidade de pensar de forma abstrata, gerando em nós o saber criar um<br />
“mundo de conceitos, de objetos e de imagens de nós mesmos” Capra(2002), de tal<br />
modo que perdemos a nossa ligação com a natureza e acabamos por caminhar para<br />
uma forma de conhecer que divide e classifica tudo em pares de opostos, repartindo<br />
em fragmentos a consciência com a qual estamos no mundo.<br />
Esse tipo de pensamento torna muito natural em nós o hábito de<br />
interpretarmos todos os acontecimentos, situações e comportamentos em termos de<br />
causa e efeito. A interpretação atua como um pressuposto básico na qual<br />
vinculamos a nossa capacidade de compreensão, levando-nos a procurar nos<br />
lugares, nas pessoas, nas situações os tipos de causa possíveis para os mais<br />
variados acontecimentos.<br />
Na visão causal da vida encontramos um limite, pois ao tentarmos encontrar a<br />
causa da causa, por exemplo: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha caminhamos<br />
para um ponto onde não fazemos mais perguntas ou encontramos como resultado<br />
as nossas próprias expectativas, fechando-nos em nosso ponto de vista, onde a<br />
única linguagem aceita é “ou-ou”, ou seja, a linguagem da exclusão das coisas ou<br />
pessoas que não aceitamos como válidos para nós.<br />
A influência do pensamento abstrato, em nossa vida cotidiana, reside em<br />
continuarmos experimentando a crença de que somos e vivemos separados dos<br />
nossos companheiros humanos e da natureza, fragmentando a nossa rede de<br />
relações afetivas e de convivência, em níveis de poder e diferenças sociais,<br />
culturais, religiosas, políticas, étnicas, econômicas, etc.
42<br />
Segundo Francisco Varela (2002), para recuperarmos a condição de<br />
humanidade, precisamos restabelecer nossa experiência de vínculo com todas as<br />
formas e expressões de vida.<br />
Para que haja um modo de viver, uma história de recorrências, ao invés de<br />
encontros casuais ou separações, há que se ter uma emoção que torne essas<br />
recorrências possíveis.<br />
Segundo Humberto Maturana (2001), existem duas emoções pré-verbais que<br />
tornam nossas ações possíveis: a rejeição e o amor.<br />
Penso que a emoção da rejeição está baseada, primeiramente, na idéia de<br />
que podemos fazer referência ou relatar uma realidade que existe<br />
independentemente da nossa interação com o meio e, também, está pautada na<br />
crença de que um pode dominar, competir, estar autoritário com o outro, reclamando<br />
para si o privilégio de saber como as coisas são em si. Desta forma, a rejeição<br />
constitui o nosso agir em um domínio que nega o outro como legítimo outro na<br />
convivência.<br />
Para termos sucesso precisamos competir Na visão de Maturana a<br />
competição é um fenômeno cultural e humano, e não biológico. Sendo um fenômeno<br />
humano, a competição tem na sua essência a negação do outro.<br />
Porém, se precisamos reconstituir a nossa experiência do vínculo, conforme<br />
nos coloca o autor Francisco Varela (2002), precisamos então de uma outra emoção<br />
que nos leve a sentir, estar e agir em harmonia com as circunstâncias.Esta emoção<br />
é o amor.<br />
De acordo com Humberto Maturana (2001), os seres humanos têm duas<br />
dimensões de existência: uma é a sua fisiologia, sua anatomia e sua estrutura; a<br />
outra são as suas relações, sua existência como totalidade.
43<br />
Ainda de acordo com este autor, o que nos cria como seres humanos é o<br />
nosso modo particular de ser em relação, cujo domínio da nossa existência, do<br />
nosso viver se dá no conversar.<br />
No conversar construímos nossa realidade com o outro, não sendo, portanto,<br />
a conversa uma coisa abstrata, e sim um modo próprio de vivermos juntos. Quando<br />
conversamos mudamos nossa fisiologia, por isso podemos acariciar ou fazer surgir o<br />
sofrimento com nossas palavras.<br />
A emoção do amor constitui o nosso agir em um domínio de ação que aceita<br />
o outro como legítimo outro na convivência, sendo possível acolher e respeitar aquilo<br />
ou aqueles que são diferentes.<br />
Ainda, penso na emoção do amor como a possibilidade de vivermos um<br />
tempo presente, sem a exigência que temos de ver um aspecto depois do outro,<br />
criando um tempo onde uma coisa existe depois da outra, analisando e dividindo a<br />
totalidade em aspectos cada vez menores ( Dethlefsen ; Dahlke, 1983), uma vez que<br />
a vida possui um ritmo, uma sincronicidade, na qual um aspecto está ligado ao outro,<br />
sem hierarquia, e juntos formam a harmonia do que é inteiro.<br />
harmônica:<br />
Humberto Maturana, em artigo eletrônico (2001) refere-se à convivência<br />
“Eu creio que Jesus era um grande biólogo. Ele fazia referência a<br />
esta harmonia fundamental de viver sem exigências, por exemplo,<br />
quando ao falar através das metáforas dizia: “olhe as aves do<br />
campo, nem cultivam nem trabalham nem se esforçam e se<br />
alimentam melhor que os humanos” e sem angústias sua existência<br />
é harmônica na vida e na morte. Ou quando falava das flores. Ou<br />
quando dizia que para entrar no reino de Deus tinha que ser como as<br />
crianças, e viver sem a exigência da aparência, na inocência do<br />
presente, em estar ali em harmonia com as circunstâncias”.<br />
1.5 - PROCESSOS REFLEXIVOS<br />
Os processos reflexivos podem ser desenvolvidos de maneiras diferentes e<br />
representam uma forma alternativa de se chegar a um conhecimento. Podemos
44<br />
dizer que os processos reflexivos são a “compreensão da compreensão” e esse<br />
novo jeito de conhecer é mais uma opção de escolha em referência ao período<br />
moderno.<br />
Os processos reflexivos se baseiam nas idéias do chamado pensamento pósmoderno,<br />
que teve início na metade do século XX. Este período surge como um<br />
conceito de tempo para alguns, e para outros como uma reação ao período<br />
antecessor, o moderno.<br />
O período moderno, como já exposto anteriormente, se caracteriza pela visão<br />
de mundo como sendo uma máquina e, particularmente, o ser vivo, como um ser<br />
imóvel que pode ser submetido à avaliação objetiva, independentemente do seu<br />
contexto relacional.<br />
Assim, no período moderno surge a necessidade de haver especialistas que<br />
dominem os métodos pelos quais se pode chegar ao verdadeiro conhecimento, e<br />
também de especialistas que possuam o conhecimento que certifique se o obtido é<br />
verdadeiro ou falso. Da mesma forma também é criado o sentido da estruturas<br />
hierárquicas, na quais “alguns se tornaram os que ajudam e outros os que são<br />
ajudados; alguns governantes, e outros governados; alguns observadores, e outros<br />
observados; alguns controladores, e outros, controlados, etc” Tom Andersen (1991,<br />
p.167).<br />
A objetividade e o controle dos fenômenos, ou seja, o mundo do pensamento<br />
moderno corresponde “àquela parte do mundo onde “a vida interior” tem um ritmo<br />
muito lento de mudança...Um pedaço de metal, por exemplo, muda muito devagar;<br />
pode levar décadas para que a vista humana perceba alguma mudança” Tom<br />
Andersen (1991,p.144).
45<br />
Já o mundo da compreensão: compreensão aqui proposta como uma<br />
perspectiva dos processos reflexivos, relaciona-se a um mundo no qual utilizamos o<br />
diálogo como uma prática de mudança, e é formado pelas pessoas e seus<br />
significados. Esse mundo abrange a maneira como cada pessoa entende a si<br />
própria, o mundo que a rodeia e também os seus significados de como fazer parte<br />
desse mundo. As pessoas e especialmente os seus significados mudam<br />
constantemente, uma vez que os significados são múltiplos e variam com os<br />
contextos que não são fixos.<br />
Os significados não podem ser controlados, não são previsíveis, assim não<br />
existem leis universais que nos digam como eles podem ser governados. Nossas<br />
tentativas e nossos entendimentos são o lugar mais perto a que podemos chegar<br />
para compreender a compreensão do outro.<br />
1.5.1 - INCLUINDO QUEM FALA E QUEM <strong>ESCUTA</strong><br />
Tom Andersen, psiquiatra e professor norueguês, ao falar sobre o trabalho da<br />
equipe reflexiva, nos ensina sobre as conversas internas e externas e o quanto a<br />
escuta está presente no atualmente, denominado processo reflexivo, na perspectiva<br />
do cuidado e do respeito que cada um pode ter consigo mesmo e com o outro.<br />
A partir do interesse de Tom Andersen e seus colegas pela aplicação da<br />
Abordagem de Milão surgiu, gradativamente, a equipe reflexiva.<br />
A Abordagem de Milão se desenvolve a partir do encontro de uma equipe de<br />
terapeutas com uma família, sendo que um terapeuta conversa com a família e os<br />
demais integrantes da equipe acompanham a entrevista por trás de um espelho<br />
unidirecional.
46<br />
O terapeuta que conversa com a família possui uma idéia hipotética de como<br />
o problema pode ser compreendido e orienta sua entrevista por esse caminho. Em<br />
um dado momento, ele se afasta da família para reunir-se com toda a equipe, a fim<br />
de discutir outras interpretações que não sejam aquelas já dadas pela família.O<br />
entrevistador retorna à família e apresenta os novos entendimentos construídos pela<br />
equipe.<br />
Esta abordagem, denominada intervenção, quando aplicada por Tom<br />
Andersen causou-lhe certo desconforto, parecendo que repassar a intervenção à<br />
família era como se naquele momento ele fosse possuidor de um poder que<br />
legitimava a sua intromissão, a violação da independência dos outros; em suas<br />
palavras: “Sempre é difícil dizer: “Isto é o que vemos”; ou “Isto é o que entendemos”;<br />
ou “Isto é o que queremos que vocês façam” McNamee e Kenneth Gergen (1998,<br />
p.72).<br />
Atento aos seus próprios desconfortos e na busca por caminhos que<br />
pudessem incluir as idéias e entendimentos de seus clientes, sobre os problemas,<br />
Tom Andersen e sua equipe, a partir de 1984, desenvolveu uma nova postura,<br />
passando da linguagem Ou-Ou para a linguagem Tanto-Como, conforme suas<br />
descrições sobre esta nova linguagem: “Além do que vocês viram, nós vimos isto”;<br />
“Além do que vocês entenderam, nós entendemos isto”; “Além do que vocês<br />
tentaram fazer, achamos que vocês poderiam tentar isto” McNamee e Gergen (<br />
1998, p.72).<br />
Acredito que estar em uma postura de não impor medidas necessárias à<br />
família, possibilitou à equipe de terapeutas se posicionar de forma não hierárquica,<br />
com maior proximidade da família e de seus significados, considerando também as
47<br />
suas idéias e pensamentos, tornando, assim, o processo terapêutico mais<br />
confortável para todos: famílias e terapeutas.<br />
1.5.2 - CONOTAÇÃO POSITIVA<br />
Desde 1981, Tom Andersen e Aina Sporken, enfermeira de saúde mental,<br />
discutiam sobre suas observações a respeito do que as pessoas lhes diziam no<br />
primeiro contato; “Tipicamente, elas diziam “nós não sabemos o que fazer! o que<br />
devemos fazer” McNamee e Gergen (1998, p.73). Em suas discussões passaram a<br />
questionar porque a equipe de terapeutas mantinha-se afastada das famílias nas<br />
pausas das sessões para suas conversações<br />
Avançando rumo a uma compreensão, consideraram a idéia dos terapeutas<br />
não se afastarem de quem os consultavam, permanecendo dessa maneira junto com<br />
as famílias. Pensaram em possibilitar aos seus clientes ver e ouvir como a equipe<br />
trabalhava com as questões e as conversas da entrevista, imaginando que o acesso<br />
ao processo de trabalho dos terapeutas pudesse ser um facilitador para as famílias,<br />
na descoberta de suas próprias respostas.<br />
Apesar de alguns zelos por parte de Tom Andersen em tornar públicas as<br />
conversações da equipe, uma vez que considerava que o vocabulário da equipe<br />
continha muitas palavras desagradáveis, como por exemplo, um membro da equipe<br />
poderia dizer: “eu fico feliz de não pertencer a uma família com uma mãe tão<br />
faladora!” McNamee e Gergen, (1998, p.73), houve<br />
um dia, porém, em março de 1985, quando uma equipe de terapeutas que tinha<br />
estado atrás do espelho acompanhando a entrevista, propôs ao terapeuta de campo<br />
e a família que escutassem a conversação sobre o que a equipe havia pensado<br />
enquanto ouvia a conversa deles (entrevistador e família). Nesse dia, Tom Andersen
48<br />
viu-se aliviado, não apareceram as palavras “desagradáveis” e a conversação fluiu<br />
de modo a não precisar evitá-las. Desde essa data, esse formato de trabalho passou<br />
a ser reconhecido como equipe reflexiva. Do francês réflexion, e do norueguês<br />
refleksjo, com significados similares: “algo ouvido é internalizado e pensado antes de<br />
uma resposta ser dada” (Tom Andersen, 1991, p.35).<br />
Assim, Tom Andersen conclui “nunca mais poderemos usar palavras,<br />
conceitos ou expressões que possam ser percebidas como negativas por aqueles<br />
que nos consultam. Quando trabalhávamos de “maneira antiga”, podíamos” (1991,<br />
p.136).<br />
Entre o jeito antigo e o novo jeito, mais aberto de trabalhar, o que se destaca<br />
é a mudança de linguagem, com a saída das expressões negativas e a introdução<br />
de idéias e expressões de conteúdos positivos por parte dos terapeutas.<br />
Embora esta nova forma da equipe de terapeutas trabalhar com as famílias<br />
contenha uma importante troca de linguagem, há algo mais: ela apresenta um novo<br />
jeito dos terapeutas pensarem o seu modo de estar e agir no mundo e interagirem<br />
com as famílias que os consultam.<br />
Tom Andersen apresenta esta importante observação, referindo-se ao efeito<br />
do uso das conotações negativas sobre nós terapeutas; segundo a ótica<br />
construtivista não nos relacionamos com a vida em si, mas com o nosso<br />
entendimento dela e participamos ativamente na criação de nosso entendimento da<br />
vida. Existem tantas versões de uma situação quantas forem as pessoas que a<br />
compreenderem ( Maturana ) in McNamee e Gergen (1998, p.77).<br />
Podemos pensar que o terapeuta, ao usar conotações negativas, parte de<br />
uma definição das coisas e das pessoas pautado na percepção e no entendimento<br />
de que existe algo nas pessoas ou nas coisas ou acerca delas que deveria ser de
49<br />
outro modo. Quando suas descrições são pautadas pelo que deveria ser, não<br />
alcança uma descrição que seja significativa, e assim terá falas que introduzirá<br />
alguma mudança que venha de fora, como por exemplo, dizer à família como deve<br />
agir em determinados momentos da sua vida, prescrevendo tarefas e<br />
recomendações.<br />
Como sabemos que não é possível uma interação instrutiva, podemos então<br />
entender que a perspectiva colocada por Tom Andersen no uso de conotações<br />
positivas, está em propiciar um movimento na evolução dos pontos de vistas que<br />
são oferecidos nas descrições e explicações do terapeuta, de forma que estas<br />
descrições e explicações possam ser úteis para todos e inspirem as pessoas que as<br />
recebem. “Como vejo agora, as palavras e significados que uma pessoa ouve e fala<br />
tornam-se parte de seu modo de ser” Tom Andersen (1991, p.137).<br />
Penso que o uso de conotações positivas dentro do processo reflexivo,<br />
oferece aos terapeutas e às famílias a possibilidade da escuta e da escolha de um<br />
vocabulário que promova a interação com o outro, abrindo espaços para a emoção<br />
da aceitação do outro como legítimo outro na convivência.<br />
Assim, se o terapeuta aceita antecipadamente a idéia de que não é possível<br />
colocar o outro em estado de ser julgado pelas suas percepções e descrições, a<br />
conversa reflexiva possibilita a troca entre escutar e falar sobre os mesmos assuntos<br />
e os diferentes pontos de vistas, permitindo uma evolução das descrições e dos<br />
significados do terapeuta e dos que lhe consultam.<br />
Importante ressaltar, como já mencionado anteriormente, que os processos<br />
reflexivos podem ser aplicados de diferentes maneiras, sendo a equipe reflexiva aqui<br />
colocada, como mais uma forma de realização. Uma característica de fundamental
50<br />
importância nesse processo é a troca de posições entre os que falam e os que<br />
escutam.<br />
Essa possibilidade de troca com as pessoas do sistema, cria posições<br />
reflexivas, sendo essas posições alternadas em dois grupos: deixando que um grupo<br />
converse enquanto o outro permanece na posição de escuta (posição reflexiva);<br />
após algum tempo, é perguntado àqueles que escutaram a conversa quais foram<br />
seus pensamentos enquanto escutavam o primeiro grupo falar. Posteriormente,<br />
volta-se ao primeiro grupo para conversar sobre suas reflexões enquanto escutava a<br />
conversa sobre os pensamentos reflexivos do segundo grupo.<br />
1.5.3 - FALAS INTERNAS E EXTERNAS<br />
Segundo Tom Andersen, o processo reflexivo representa uma mudança de<br />
retorno e avanço entre as falas internas e externas. “As falas externas são<br />
realizadas com os outros e as internas são aquelas que a pessoa tem consigo<br />
mesma” (1991, p.157).<br />
O trabalho desenvolvido por Tom Andersen possibilitou-lhe sentir que o<br />
cliente deveria ter espaço para falar sobre o que desejasse, da forma como<br />
preferisse, usando o tempo necessário para o seu conforto. Com isto, o autor<br />
enfatiza que o ouvinte deve agir de forma a prestar atenção e não quebrar a<br />
continuidade da fala.<br />
Para essa sua experiência, destaca que é possível observar durante o<br />
monólogo não interrompido, o oferecimento que é feito para quem fala, para a<br />
inclusão das suas conversas internas e externas. A primeira acontece quando a<br />
pessoa faz uma pausa na sua fala, representada apenas por um retroceder ou<br />
deslocar-se para outro lugar ou encontrar-se com outra pessoa. “Isso pode ser
51<br />
observado quando seus olhos se afastam e olham para outro ponto” (1991, p.157).<br />
No momento da pausa o autor pensa que a pessoa busca “algo durante toda a<br />
pausa, ou pare e descanse em alguma coisa, em algum lugar; são buscas de<br />
significado(s)” (1991, p.157). Após a parada, os olhos de quem fala voltam a se fixar<br />
em quem escuta e a próxima fala, a externa, pode continuar.<br />
Desta forma, Tom Andersen (1991, p.157) nos mostra que a fala compreende<br />
“algo que pode ser visto além daquilo que é falado e pode ser ouvido. Essas<br />
mudanças entre as falas externas e internas são mais significativas se outra(s)<br />
pessoa(s) estiver(em) presente(s) para vê-las e ouvi-las”.<br />
Tom Andersen coloca que após terem iniciado o trabalho com a equipe<br />
reflexiva, foram ocorrendo mudanças naturais no comportamento da equipe. A<br />
equipe que permanecia atrás do espelho, que antes desenvolvia uma conversação<br />
entre si enquanto acompanhava a entrevista, passou a ficar em silêncio. Com o<br />
tempo, puderam avaliar que a escuta havia se tornado silenciosa e que a nova<br />
postura ajudava a produzir mais idéias, quando comparadas ao passado.<br />
Desta forma, penso que o ato de escutar pode ser uma atitude de<br />
sensibilidade e atenção ao outro e a si mesmo, que envolve uma maneira de se<br />
relacionar que cede à vontade de fazer análise e/ou discurso, de dar sermão e/ou<br />
entrar em disputa por diferentes pontos de vistas.<br />
1.5.4 - <strong>ESCUTA</strong>R TAMBÉM É VER<br />
Nesse caminho das “pausas” colocado por Tom Andersen, há também o que<br />
o autor chama de “aberturas” que igualmente podem ser vistas por nós profissionais,<br />
como base para lançarmos nossas perguntas.
52<br />
O autor, após ter considerado em seu agir profissional, que as escolhas das<br />
perguntas pudessem ser feitas de forma intuitiva, atualmente considera “que a<br />
pessoa que escuta, além de escutar a tudo que é dito, também vê como é proferido”<br />
Tom Andersen (1991, p.158). O que se vê são as pequenas mudanças na forma de<br />
falar que podem nos fazer pensar: “o que ouvi neste momento e que veio somado ao<br />
que também vi demonstra ter uma importância para quem está falando. Assim,<br />
parece ser significativo falar mais um pouco sobre este tema.” As pequenas<br />
mudanças são muitas e diferem de pessoa para pessoa: uma mudança no olhar; um<br />
movimentar-se na cadeira; as mãos em diferentes movimentos; um suspirar; a<br />
cabeça que se abaixa, etc.<br />
Tais movimentos parecem acontecer quando quem fala, diz algo ou usa<br />
palavras as quais ouve como particularmente significativas; “as próprias palavras da<br />
pessoa a movem. E o verbo mover tem em todas as línguas dois significados: um de<br />
aspecto físico e outro de emocional (motivar)” Tom Andersen (1991 p. 158).<br />
Tom Andersen ressalta que as conversas por demais lentas constituem muito<br />
para ser escutado e visto pelo ouvinte, e têm proporcionado a compreensão de que<br />
quem fala busca, através desse falar, o melhor jeito de se expressar: “a procura das<br />
melhores palavras para dizer o que deseja; o melhor ritmo; o melhor andamento, etc”<br />
(1991, p.158). Em sua experiência, o autor relata que a pessoa a quem foi<br />
oportunizado fazer seu proferimento sem ser interrompida quase sempre faz uma<br />
“pausa”, para então recomeçar novamente, como se a primeira tentativa de<br />
expressão não tivesse sido significativa.<br />
Uma importante condição para que o ouvinte fique habilitado a escutar e ver<br />
com cuidado e atenção é não pensar que quem fala quer na verdade falar algo mais<br />
do que aquilo que está proferindo. “Não existe nada além do proferido do que o
53<br />
próprio proferido; não existe nada além do que o falado e nada a mais apresentado<br />
do que aquilo que foi apresentado. Nada mais” Tom Andersen (1991, p.161)<br />
Assim, as expressões se constituem em “aberturas” para perguntas que<br />
ajudam quem escuta a buscar o que está dentro dos sinais; nas palavras; nas<br />
emoções; nos movimentos. O ouvinte não pergunta pelo que está escondido, mas o<br />
que está no que foi expresso.<br />
Importante dizer que as perguntas geram antecipadamente no ouvinte uma<br />
primeira pergunta: a pergunta que faço é adequadamente incomum ou é incomum<br />
demais E a resposta para esta pergunta está de novo nas expressões do<br />
interlocutor e que permitem a quem pergunta sentir se o outro está desconfortável ou<br />
não.<br />
1.5.5 - CONVERSA E RESPIRAÇÃO<br />
Tom Andersen considera as conversas como ponto de origem para a troca de<br />
descrições e explicações. Essas trocas possibilitam uma nova nuance às descrições,<br />
explicações antigas e colaboram para fazer aparecerem outras novas, oferecendo,<br />
assim, um alicerce o mais abrangente possível de escolha para que a pessoa possa<br />
cuidar, de uma maneira diferente, situações interrompidas, paralisadas, ou<br />
responder a novos fatos, sejam eles esperados, conhecidos ou não.<br />
Pensando na importância das trocas, Tom Andersen utiliza-se das metáforas<br />
da amizade e da respiração, dizendo que entende que os amigos trocam conversas<br />
entre si e a amizade necessita dessas trocas para permanecer viva; a respiração<br />
acontece em um processo de trocas, inspirar e expirar, e sem essa troca a<br />
respiração se paralisa e o indivíduo não sobrevive.
54<br />
Ao examinar a troca respiratória, já registrada no papel, Tom Andersen<br />
observa que a curva do ciclo respiratório possui o lado ascendente sinalizando a<br />
inspiração e o descendente, a expiração. “Entre essas duas partes, existem algumas<br />
pequenas pausas, uma antes de começar a inspiração e a outra antes de começar a<br />
expiração”(1991,p.56).<br />
Através da fala, uma pessoa busca suas idéias, imagens, palavras, etc, que<br />
“melhor expressem suas compreensões e opiniões, e isso é feito de uma maneira<br />
que contribui para que ela se expresse a si própria” (Tom Andersen,1991, p.152).<br />
Os trabalhos com Aadel Bulow-Hansen e Gudrun Ovreberg, oportunizaram a<br />
Tom Andersen (1991,p.152):<br />
“compreender a participação do corpo quando uma pessoa se<br />
expressa a si própria. Tudo que é expresso, tanto palavras quanto<br />
emoções, passa pela fase expiratória da respiração. Os movimentos<br />
respiratórios são muito sensíveis às mudanças, variando de acordo<br />
com o que é expresso e o contexto no qual ocorrem essas<br />
manifestações. Portanto, ser um ouvinte envolve não somente<br />
prestar atenção às palavras, metáforas e significados expressos,<br />
mas também ficar atento e evitar uma ruptura na parte fisiológica do<br />
falar – a velocidade, o ritmo,as pausas e a intensidade da voz. Sendo<br />
tal ouvinte, oferece-se ao outro uma busca em parceria da<br />
constituição e reconstituição que o outro faz de si próprio. Ou dito<br />
mais coloquialmente: estar com o outro de uma tal forma que ele se<br />
torne a pessoa que mais deseja ser naquela situação, naquele<br />
momento”.<br />
Durante o espaço de tempo que dura uma conversa, quem fala sempre<br />
precisa de um silêncio breve antes de falar e um silêncio breve antes de ouvir<br />
(sentir). “A pausa antes do falar pode ser usada para uma pergunta a si próprio: O<br />
que ele realmente falou” (Tom Andersen, 1991, p.56). O silêncio breve antes de<br />
escutar poderia ser empregado como uma auto procura: “O que eu disse foi<br />
adequadamente incomum ou demasiadamente incomum (Tom Andersen, 1991,<br />
p.56).
55<br />
Ainda de acordo com as idéias de Tom Andersen, as conversas precisam de<br />
silêncios breves que sejam suficientes para uma consideração sobre o curso da<br />
conversa, e precisam acontecer moderadamente sem pressa, para que a percepção<br />
mental possa ocorrer, escolhendo as idéias com as quais se identifica, alcançando<br />
as palavras que revelem essa identificação. “Deve haver um esforço durante a<br />
conversa para que o falar, refletir e escutar dos dois ou mais participantes<br />
mantenham-se em relação a essas fases, na mesma velocidade e ritmo” Tom<br />
Andersen (1991, p.57). Quando conversamos com outra pessoa, procuramos<br />
acompanhar o seu ritmo sem deixar de ver e ouvir o nosso.<br />
Pensando a respiração como um processo vital para as conversas,<br />
encontramos em Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke a idéia de que a respiração<br />
existe em ritmo. Ritmo é a base de tudo o que vive e no que se refere ao corpo, o<br />
aspecto principal da respiração é o processo de troca, conforme os autores colocam:<br />
“através da inspiração, o oxigênio contido no ar é levado aos corpúsculos vermelhos<br />
de sangue; quando expiramos, expelimos dióxido de carbono. A respiração abrange<br />
a polaridade da recepção e da entrega, do dar e do receber” (1983, p.109).<br />
Os autores, ainda enfatizam que a respiração nos proíbe de nos tornarmos<br />
independente do contexto em que nos encontramos, de nos fecharmos em nós<br />
mesmos, e explicam:<br />
“embora como seres humanos gostemos de nos<br />
encapsularmos em nosso ego, a respiração nos obriga a manter<br />
nosso vínculo com o não-eu. Convém tornarmos-nos cientes de que<br />
o inimigo respira o mesmo ar que nós inspiramos e expiramos. O<br />
animal e a planta também. É a respiração que nos liga<br />
continuamente a tudo o que existe. Não importa o quanto o ser<br />
humano tente se isolar, a respiração o vinculará a tudo e a todos. O<br />
ar que respiramos nos une num todo, quer queiramos quer não. A<br />
respiração, portanto, tem algo a ver com “contato” e com<br />
“relacionamento” Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke (1983,<br />
p.110).
56<br />
Neste momento, sinto que adentro a resposta de um questionamento que<br />
muitas vezes me faço: como podemos estar com o outro e atuar através da nossa<br />
fisiologia, das nossas emoções, comportamentos e crenças, sem que nenhum de<br />
nós seja eliminado do contexto<br />
Penso no ato de escutar para responder a esta questão, considerando-o<br />
como um recurso pessoal e profissional que compreende a dimensão sensível do<br />
ser humano, do corpo e da sua fisiologia, e a capacidade de interagir com o meio,<br />
com as pessoas, de adentrar novos mundos e criar novas distinções, além das<br />
crenças e julgamentos pré-estabelecidos.<br />
Estabelecer a escuta como um recurso da prática sistêmica é reconhecer que<br />
não podemos ter um conhecimento objetivo das coisas e pessoas; sempre existirá<br />
mais a ser visto, a ser falado, a ser escutado, tantos quanto forem os envolvidos,<br />
sugerindo-nos, portanto, o sentido do respeito e do cuidado, da postura acolhedora,<br />
da postura reflexiva e não instrutiva, criando espaços internos e externos para a<br />
expressão de competências, entendimentos, a construção de vínculos e a<br />
elaboração de possíveis novos significados para a vida.<br />
A busca por esta postura leva-me a refletir sobre o cuidado nas nossas<br />
relações e segundo Leonardo Boff (2003, p.49) ao citar a Fábula do Cuidado, nos<br />
diz: “originário é o cuidado que foi o primeiro a moldar o ser humano... o cuidado,<br />
portanto, entra na constituição do ser humano. Sem ele não é humano”.
57<br />
CAPÍTULO 2<br />
PROBLEMATIZAÇÃO<br />
Iniciando este capítulo, penso na etapa da problematização como uma<br />
fogueira, mas não como aquela que queima, sufoca e nos afasta do seu calor, mas<br />
como aquela que brilha e nos chama a participar dos andaimes da sua construção,<br />
para que o seu fogo, que traz a luz, nunca se apague. A metáfora da fogueira é<br />
explicada por Monk (1997) in Grandesso (2000, p.253):<br />
“Para manter a primeira chama vacilante acesa, necessita-se colocar<br />
pequenos gravetos mais finos, vários deles no tempo adequado. Se<br />
for colocado apenas um, ele rapidamente será consumido e o fogo<br />
apagar-se-á; se forem muitos de uma só vez, ou lenha muito<br />
pesada, a chama será sufocada. Assim, gentil e habilmente cuidada,<br />
a chama pode ser alimentada pelo oxigênio, até que, estabelecida, a<br />
fogueira possa receber a lenha mais pesada e seguir por si mesma<br />
sua vida”.<br />
Na Terapia Comunitária, a fase da problematização é desenvolvida quando o<br />
terapeuta apresenta ao grupo um mote, com a idéia de que este constitui a escolha<br />
de mais um recurso (mais um graveto), particularmente adequado ao momento do<br />
grupo, para que o interesse e o envolvimento dos participantes na co-construção de<br />
um contexto de novas narrativas não se apaguem; para que tenha em cada<br />
participante um parceiro de diálogo, na crença de que esta abordagem gera<br />
aberturas compartilhadas, onde mesmo o relato de histórias sofridas guardam o<br />
brilho de experiências que podem ser narradas em torno de habilidades,<br />
competências e talentos.
58<br />
Analogamente, nesta fase da monografia, a problematização é o momento em<br />
que já tendo sido acesa a “fogueira” nos capítulos anteriores, é preciso agora mantêla<br />
com algumas outras “lenhas”, que aqui penso em apresentá-las (as lenhas)<br />
destacando os “Princípios da Escuta” que dão sustentação às Oficinas da Escuta,<br />
como um recurso sistêmico já desenvolvido na prática e que se relaciona ao tema da<br />
monografia e a pesquisa bibliográfica.<br />
2.1 - OFICINAS DA <strong>ESCUTA</strong><br />
A partir do paradigma sistêmico, as Oficinas da Escuta são compostas por um<br />
conjunto de oito encontros, contextualizado pelo diálogo entre os participantes e o<br />
compartilhar das experiências.<br />
O que temos são participantes-autores de um processo de conhecimento,<br />
implicados numa metodologia sensível que contém a conjugação do verbo<br />
emocionar (-se). Esta metodologia, longe de ser um fazer profissional carregado de<br />
ingenuidade, sem maior amadurecimento, se aproxima das afirmações de Humberto<br />
Maturana (2001), em sua teoria da Biologia do Conhecimento, que permitiu transpor<br />
o dualismo do pensamento ocidental: razão x emoção, ao mostrar que o peculiar do<br />
humano está na linguagem e no entrelaçamento com o emocionar. Vivemos muito<br />
tempo produzindo saberes com a emoção escondida.<br />
Assim, pensando num processo fluido e espontâneo, as Oficinas da Escuta<br />
apresentam Princípios facilitadores para cada encontro, que propiciam aos<br />
participantes, ancorados em suas emoções e histórias de vida, o desenvolvimento<br />
natural de novos significados.<br />
Com a intenção de sustentar a idéia do ato de escutar como um recurso<br />
pessoal, terapêutico e uma postura a ser desenvolvida em nossos relacionamentos
59<br />
pessoais e profissionais, os Princípios trabalhados são: preparação; acolhimento;<br />
abertura; flexibilidade; comunicação; respeito; amorosidade.<br />
Estes Princípios, quando trabalhados nas Oficinas da Escuta, propiciam,<br />
também, a contextualização da afirmação sistêmica, de que na vida tudo está em<br />
constante ligação e troca e que não há hierarquia, pois nada é superior a nada,<br />
havendo sempre uma relação organizadora entre as partes e “o todo é mais do que<br />
a soma de suas partes” Capra (1996, p.38) uma vez que não resulta em uma<br />
quantidade, mas numa qualidade – a natureza das relações.<br />
Assim, um sentido construído para os Princípios da Escuta a cada encontro,<br />
enquanto partes interdependentes de um conjunto, é de possibilitar a formação de<br />
um “corpo orgânico” que dá vida e ativa a postura da escuta, a qual passa a ser<br />
qualificada através da vivência diária dos participantes, além dos espaços das<br />
Oficinas.<br />
As Oficinas da Escuta são realizadas seguindo as etapas abaixo descritas:<br />
Aquecimento Corporal<br />
Respiração<br />
Princípios da Escuta<br />
Dinâmica Temática<br />
Processos Reflexivos<br />
Partilha das Emoções<br />
Danças Circulares Sagradas<br />
Harmonização de Despedida<br />
Envio à Escuta
60<br />
Na 1ª fase da Formação para Escutadores, os participantes entram em<br />
contato com os Princípios pertinentes à escuta, vivenciando-os através de<br />
dinâmicas, processos reflexivos, etc, a cada encontro e co-constroem novos<br />
significados para os relacionamentos, a partir das novas experiências que passam a<br />
desenvolver em seus contextos de atuação pessoal e profissional, encorajados pela<br />
prática da escuta sistêmica e da posse das suas competências pessoais.<br />
A partir da 2ª fase, com a implantação do serviço da escuta - Pastoral da<br />
Escuta Cristã - na Paróquia São Sebastião, os escutadores participam da multivisão<br />
com as profissionais responsáveis pelo processo de Formação, cuja abordagem<br />
focaliza a ampliação dos conteúdos: relação teoria/prática e o compartilhar das<br />
emoções, sob a ótica do cuidado com quem cuida.<br />
2.2 - PRINCÍPIOS DA <strong>ESCUTA</strong><br />
Semelhante ao pintor que deseja produzir uma bela paisagem e busca nos<br />
detalhes do desenho, na escolha da tela, das tintas e pincéis a combinação perfeita<br />
para colocar em ação as suas habilidades, o “escutador”, também, buscará nos<br />
Princípios, uma maneira de agir que dará movimento e sensibilidade à sua escuta.<br />
2.2.1 - PREPARAÇÃO<br />
A forma que temos de ver o mundo e as pessoas traz implicações para os<br />
nossos relacionamentos cotidianos.<br />
A herança cultural que carregamos da ciência moderna se expressa na<br />
maneira como, a partir do nosso pensar, rotulamos as pessoas isolando-as de um<br />
contexto relacional, depositamos nelas a culpa por problemas individuais que<br />
carregam e as responsabilizamos pela mudança que devem ter; por exemplo, “ela é
61<br />
agressiva”, “ela é medrosa”. Assim, nos relacionamos dizendo o que elas precisam e<br />
devem fazer para alcançar a mudança: “Você tem que...”, “você precisa deixar de...”<br />
O princípio da preparação sugere uma postura filosófica, ou seja, “uma<br />
maneira de relacionar-se com as pessoas, incluindo uma maneira de pensar sobre,<br />
falar com, agir com, e de ser compreensivo com elas” (Harlene Anderson, 1996), o<br />
que requer uma mudança de paradigma.<br />
Segundo o que escreve Esteves de Vasconcelos (2005, p.80) “uma das<br />
regras fundamentais para pensarmos a partir do paradigma sistêmico é não usar o<br />
verbo ser”. Assim falaríamos, “ela está agressiva”, “ela está medrosa”, ao invés de<br />
“ela é...”. Quando mudamos a nossa maneira de falar, muda a realidade que<br />
fazemos emergir. Se ela está agressiva, pode vir a não estar em outro momento.<br />
Quando alguém se encontra na condição do estar..., pressupõe-se que deve estar<br />
com outro alguém, ou seja, na relação com outra pessoa que ela está agressiva e,<br />
ambos, passam a fazer parte do problema e também da solução, assim podemos<br />
perguntar: O que fazem para que isso aconteça Podem colaborar de alguma forma<br />
para que isso não aconteça Quando isso teve início<br />
Assim, o princípio da preparação, enquanto um germe para a construção da<br />
postura da escuta está pautado no paradigma sistêmico, o qual desencadeia a<br />
importância da compreensão de um fenômeno colocando-o dentro de um contexto<br />
maior, “colocar junto”- estabelecer a natureza das relações, uma vez que as partes<br />
não são isoladas e para pensar sistemicamente é necessário pensar em termos de<br />
conexão, relações e contexto.
62<br />
2.2.2 - ACOLHIMENTO<br />
O princípio do acolhimento, antes de qualquer coisa, trata de um jeito de<br />
estar, sentir e agir em relação, desde o primeiro momento, de forma que o<br />
relacionamento seja natural e cuidadoso em cada situação. Esse relacionamento<br />
tem a ver com o encontro pessoa-pessoa e não com a relação de quem observa<br />
com quem é observado, ou de quem ajuda com quem é ajudado.<br />
Este princípio sugere-nos uma postura que tem a ver com a ética do<br />
escutador pós-moderno, no que diz respeito ao seu posicionamento não como um<br />
especialista, que busca a objetividade dos fatos de forma imediatista e prática, mas<br />
que desenvolve o valor de uma abordagem colaborativa com seus interlocutores “a<br />
partir da sua colocação como uma audiência qualificada para acolher e reconhecer a<br />
legitimidade da voz dos clientes por meio das suas histórias” Marilene Grandesso<br />
(2000 p.278).<br />
Assim, o escutador se faz presente como uma escuta que busca facilitar o<br />
desenvolvimento inicial das narrativas, à medida que contribui com suas reflexões e<br />
emoções, partindo da sua experiência de estar com e não para o outro.<br />
Desta forma, o princípio do acolhimento sugere ao escutador “estar ali” física<br />
e emocionalmente presente, formando um sentido de parceria com quem fala,<br />
através da sua audiência.<br />
“Sem dúvida, de início, o terapeuta é o anfitrião que tem por bom-tom<br />
deixar as pessoas suficientemente à vontade e acolhidas para que<br />
conversações sobre suas intimidades possam ocorrer. Quando<br />
procuram uma terapia, as pessoas estão se dispondo, em maior ou<br />
menor grau, a expor suas experiências privadas. Muitas delas<br />
entram para a sala de terapia com seus relatos “na ponta da<br />
língua”; outras, levam tempo para conseguir compartilhar seus<br />
dramas e suas angústias. O papel do terapeuta, enquanto facilitador<br />
do diálogo, começa, portanto, desde o primeiro contato” Marilene<br />
Grandesso (2000, p.285).
63<br />
2.2.3 - ABERTURA<br />
O princípio da abertura está baseado “na idéia de que os sistemas vivos são<br />
caracterizados por formações circulares em vez de seqüências lineares de causas e<br />
efeitos” Boscolo, Cecchin, Hoffman & Penn (1993, p.25) e, sendo assim, o<br />
escutador, quando escuta um tema, busca pelo caminho não-linear, colaborando<br />
para que sejam exploradas as conexões da questão.<br />
A postura que emerge a partir do princípio da abertura é definida pela atitude<br />
de neutralidade do escutador, que tem em mente a idéia de não se deixar levar por<br />
suas hipóteses objetivas que encerram o diálogo; em não se deixar influenciar<br />
pela(s) pessoa(s) que conjuntamente forma(m) o sistema e, também, de afastar um<br />
posicionamento moral, uma vez que esta posição, normalmente, pode ser traduzida<br />
como a preferência por uma pessoa em oposição à outra, ou por um ponto de vista<br />
contra o outro, o que pode ser negativo, por supor uma posição autoritária ou<br />
hierárquica.<br />
O princípio da abertura pode ser entendido como sinônimo de uma escuta em<br />
movimento, a partir do qual o escutador alcança um agir com elegância, deslocandose<br />
entre as questões dilemáticas, circulando através de perguntas e da construção<br />
de conexões, abrindo espaços para a sua curiosidade em escutar a compreensão<br />
do(s) outro(s) incluindo todas as pessoas do sistema, suas crenças, seus<br />
significados, oferecendo o sentido das narrativas compartilhadas.<br />
Assim, a postura da abertura torna-se útil no sentido de permitir que o<br />
escutador evite qualquer resultado de uma conversação como o mais correto ou o<br />
melhor, apresentando ao sistema a busca de novos pontos de vistas alternativos.
64<br />
2.2.4 - FLEXIBILIDADE<br />
O princípio da flexibilidade relaciona-se à idéia do encontro escutador-cliente<br />
no qual “ambos trazem consigo seu conhecimento socialmente construído” (Harlene<br />
Anderson, 1996), e a base dessa interação é o diálogo, que envolve uma genuína<br />
troca de pontos de vista.<br />
De acordo com o filósofo Hans-George Gadamer (1975) in (Harlene<br />
Anderson,1996) , o diálogo é um<br />
“processo de duas pessoas entendendo (tentando entender) um ao<br />
outro. É característico de toda conversação verdadeira que cada um<br />
tenha uma atitude aberta perante o outro, que realmente aceite que o<br />
ponto de vista do outro deva ser considerado”.<br />
Assim, o princípio da flexibilidade sugere uma postura através da qual o<br />
escutador participa criando um espaço para que os conteúdos conhecidos, a<br />
multiplicidade de sentidos e os aspectos inesperados possam coexistir e, juntos,<br />
escutador e cliente passam a percorrer e negociar seus significados.<br />
O princípio da flexibilidade envolve o desejo do escutador de se manter na<br />
troca de conversações, demonstrando interesse pelas narrativas do cliente e o<br />
relacionamento se torna mais recíproco e menos controlador.<br />
Este princípio pressupõe a possibilidade de uma escuta exploratória, que gera<br />
o sentido de um processo corrente que abrange aspectos do “dar e receber, de ir e<br />
vir e entrecruzar-se. É similar à noção do “estado de conversa” de Goffman (1981):<br />
ou seja, é um processo no qual os tópicos e o fluxo da entrevista são escolhidos de<br />
comum acordo” (Harlene Anderson,1996).
65<br />
2.2.5 - COMUNICAÇÃO<br />
O princípio da comunicação pressupõe uma ruptura com a tradição filosófica<br />
ocidental na qual a linguagem é concebida como a “representação da verdade<br />
objetiva e da realidade... a resposta está disponível e aguardando ser descoberta...<br />
existem verdades universais (Harlene Anderson,1996).<br />
Essa teoria reflete um processo de conhecimento fechado e sem movimento,<br />
que define, nas práticas tradicionais, o papel de quem escuta como o da pessoa que<br />
possui conhecimentos e certezas e, o processo da entrevista, centrado nas verdades<br />
do profissional, caracterizando uma postura de não escuta.<br />
O princípio da comunicação, pautado na perspectiva pós-moderna, sugere<br />
uma postura da escuta aberta e criativa ligada às práticas relacionais, que enfatizam<br />
o relacionamento colaborativo escutador-cliente para a construção de caminhos e<br />
conhecimentos.<br />
Cada um de nós não vê a realidade, mas uma realidade que fazemos emergir<br />
com o outro, no encontro (Humberto Matura; Francisco Varela, 1987), no<br />
entendimento social.<br />
Sempre que escutamos, vemos e conhecemos, estamos participando da<br />
criação de um mundo em que vivemos e as diversas possibilidades se ampliam,<br />
através de nossas interações comunicativas.<br />
De acordo com Marilene Grandesso (2000, p. 29), “todo ato comunicativo<br />
caracteriza-se como uma infinita fonte de novas expressões e significados, daí<br />
também nunca se poder dizer que a compreensão foi finalizada, como um processo<br />
acabado”.<br />
O princípio da comunicação enfatiza, também, a idéia de que não é possível<br />
uma interação instrutiva, uma vez que numa conversação cada participante vê e
66<br />
escuta a partir de si mesmo (seu próprio organismo, de seus receptores, de seus<br />
centros nervosos, movimentos dos órgãos, emoções, etc), escolhendo no mundo<br />
físico os estímulos aos quais será sensível.<br />
Assim, o escutador, a partir das suas emoções, faz perguntas que ajudam o<br />
outro a falar sobre seus sentimentos, seus dilemas, sua visão de mundo e suas<br />
perspectivas, como também fala sobre suas sensações, seus sentimentos e suas<br />
idéias, fazendo um convite comum para a construção de um campo de congruência,<br />
no sentido da comunicação ser definida como uma ação conjunta.<br />
2.2.6 – RESPEITO<br />
O princípio do respeito relaciona-se ao desejo do escutador em desafiar-se a<br />
si mesmo, afastando de sua mente proposições que supõe verdadeiras ou válidas<br />
para uma conclusão.<br />
O escutador, quando fala ou age de forma antecipada, pode inferir sobre a<br />
narrativa do outro, correndo o risco de desqualificá-la e, numa impostura propositada<br />
ou involuntária, faz vir à tona a história que deseja escutar, muito mais do que<br />
aquela que o outro quer contar.<br />
O desafio do escutador, em pautar-se por uma postura que pretende ser<br />
respeitosa, pode ser compartido à medida em ele coloca para quem fala:<br />
• A oportunidade de verificar se falou tudo que desejava.<br />
• Se o que foi escutado condiz com o que foi falado.<br />
• A possibilidade de realizar esclarecimento em alguma incompreensão que possa<br />
ter se desenvolvido.<br />
• A possibilidade de expandir sua narrativa a partir da sua compreensão e<br />
significado, considerados no tempo em que são construídos.
67<br />
Assim, o princípio do respeito colabora para que o escutador tenha uma<br />
postura orientada para aceitar o estilo do outro e para compartilhar com ele, através<br />
da escuta, a escolha dos temas e a forma de conversação. Quando o escutador opta<br />
por essa postura ele naturalmente inclui o respeito pela história do seu interlocutor e<br />
concorda ser conduzido por ela, sustentado pela ética de se colocar como uma<br />
testemunha que passa a fazer parte das histórias que são contadas.<br />
Desta maneira, não há como o escutador colocar-se como um especialista em<br />
solução de problemas, ou em oferecer aconselhamentos ou em determinar<br />
antecipadamente qual a narrativa ou as perguntas a serem desenvolvidas. O que<br />
permite a postura do respeito, que também pode ser entendida como a da aceitação,<br />
é o desejo do escutador de aprender com o cliente como ele próprio constrói os<br />
significados para a sua vida.<br />
A postura da escuta a partir deste princípio reflete o contestar do dualismo<br />
conhecedor-conhecido, superando o nosso apego à ilusão de que conhecemos a<br />
realidade ou a segurança que nos proporciona o nosso jeito de fazer profissional.<br />
De fato, só podemos assumir esta postura, conforme descreve (Anderson &<br />
Goolishian, 1988a, Anderson 1997) in Marilene Grandesso (2000, p.280):<br />
“Deixando em suspenso nosso conhecimento profissional<br />
acumulado, o qual nos coloca em risco de igualarmos um caso com<br />
outro caso, uma historia com outra história, seja ela a de outro cliente<br />
ou a nossa. Isso implica que, embora buscando a compreensão,<br />
evitemos compreender muito rápido e que coloquemos em dúvida o<br />
que já parecemos saber, as generalidades, e evitemos os<br />
julgamentos. Por outro lado, a ilusão do saber e a segurança das<br />
metodologias impedem o terapeuta de abrir-se para o inesperado, o<br />
ainda não-dito, à medida que o saber torna a escuta seletiva para<br />
aquilo que se quer ouvir”
68<br />
2.2.7- AMOROSIDADE<br />
O princípio da amorosidade relaciona-se à idéia de que as interações<br />
humanas são cooperativas e solidárias.<br />
Cada encontro é único, cada conversa tem seu tempo, seu ritmo, sua<br />
emoção, seu movimento, sua respiração própria, portanto, requer uma sensibilidade<br />
própria, que orientada pelo desejo de conexidade com o outro, pode atuar como um<br />
caminho para a interação social.<br />
Assim, o escutador que permite ser levado pelo desejo de estar com o outro,<br />
sente-se mobilizado a criar uma escuta afetiva, na qual o direito à emoção não é<br />
negado.<br />
Segundo o que coloca Humberto Maturana, as emoções estão na origem de<br />
cada ato da humanidade, e só são relações de interação social aquelas fundadas na<br />
emoção do amor.<br />
A emoção do amor é a emoção que nos possibilita agir, estar em relações de<br />
cooperação, na qual “o outro é aceito como legítimo outro na convivência” (<br />
Humberto Maturana, 2001, p.26).<br />
Pautado pelo princípio da amorosidade, o escutar configura-se não como uma<br />
técnica, mas como um compartilhar de “pensares”, de afetos, entre sujeitos<br />
implicados emocionalmente pela aceitação mútua.<br />
A emoção do amor constitui a história do desenvolvimento humano, e<br />
conforme o que nos coloca Humberto Maturana (2001, p.25):<br />
“desde o início, e toda ela se dá como uma história em que a<br />
conservação de um modo de vida no qual o amor, aceitação do outro<br />
como um legítimo outro na convivência, é uma condição necessária<br />
para o desenvolvimento físico, comportamental, psíquico, social e<br />
espiritual normal da criança, assim como para a conservação da<br />
saúde física, comportamental, psíquica, social e espiritual do adulto”.
69<br />
A postura do escutador, pautada pela amorosidade, está orientada para um<br />
agir que inclui o seu olhar, o seu escutar sem medo de deixar o outro ser quem ele<br />
deseja ser a cada momento, sem envolvê-lo em submissão ou em indiferença.<br />
Este princípio reforça ao escutador o sentido da responsabilidade sistêmica<br />
pelo “genuíno respeito pela verdade do outro” Esteves Vasconcelos (2005, p.80),<br />
sinalizando que a postura da amorosidade é uma maneira de ser tanto interna como<br />
externamente na relação com os outros, expressando uma “posição autêntica,<br />
espontânea e duradoura que é única para cada relacionamento e discurso. Esta não<br />
é uma posição técnica nem teórica” (Harlene Anderson, 1996). Parece-me um novo<br />
lugar a ser ocupado nos relacionamentos, construído a partir de uma preferência<br />
pela emoção da aceitação, uma escolha consciente, mas nem por isso se torna<br />
controladora, deliberada ou planejada.
70<br />
CAPÍTULO 3<br />
O QUE ESTOU LEVANDO<br />
O término da Terapia Comunitária caracteriza-se pela conotação positiva que<br />
o terapeuta comunitário propõe ao grupo, utilizando-se de uma linguagem que<br />
contém idéias e expressões de conteúdos que valorizam a participação e a<br />
sensibilidade de cada um.<br />
Essa postura do terapeuta comunitário permite, igualmente, aos participantes<br />
utilizarem a mesma linguagem, co-construindo um clima afetivo, onde cada um narra<br />
o seu depoimento e atribui significado à experiência compartilhada no grupo.<br />
Da mesma maneira, chegando ao término desta monografia, apresentarei os<br />
depoimentos dos participantes das Oficinas da Escuta, incluindo as profissionais,<br />
como o resultado de uma ação conjunta que se iniciou na prática e veio se<br />
desenvolvendo continuamente, através do meu processo de formação em terapia de<br />
casal e família, minha atuação como assistente social terapeuta de comunidade e<br />
encontros conversacionais com pessoas interessadas por este tema.
71<br />
3.1 - PARTILHA DOS PARTICIPANTES-SUJEITOS DAS OFICINAS DA <strong>ESCUTA</strong>:<br />
“Para mim foi um crescimento muito grande, tanto para participar da Pastoral quanto<br />
para o meu crescimento pessoal, pois pude aprender que tenho que ser paciente,<br />
saber escutar em silêncio e falar somente aquilo que as pessoas necessitam a cada<br />
momento”.<br />
“Acrescentou conhecimento e como acolher e respeitar quem me procura”.<br />
“Eu pensava que já sabia escutar a todos, mas no decorrer das Oficinas da Escuta<br />
eu fui vendo que eu não sabia escutar, até mesmo meus filhos adolescentes. Fui<br />
percebendo que não sou a dona da verdade. Percebi que tenho que primeiro me<br />
conhecer bem, rever os meus conceitos, as minhas limitações e as minhas<br />
qualidades, porque pequenas atitudes fazem a diferença na família e na<br />
comunidade. Entendi que o outro é diferente porque carrega também a sua história.<br />
Com certeza tudo isto passou a fazer uma grande diferença em minha vida”.<br />
“Pude perceber que os princípios trabalhados são básicos para qualquer<br />
relacionamento de respeito, mas que muitas vezes deixamos de observá-los e<br />
praticá-los, o que tornaria muito melhor a vida daqueles com os quais convivemos.<br />
Para mim, esta formação abriu horizontes, me fez perceber e observar coisas que,<br />
até então, eu deixava passarem despercebidas. Me fez olhar, falar e agir com o<br />
outro de forma diferente, da maneira como posso contribuir, fazendo de mim pessoa<br />
cidadã e cristã muito melhor”.<br />
“Aprendi a ouvir o outro sem dar opinião, para que ele mesmo possa procurar a<br />
resposta depois do seu desabafo, assim a solução será mais sólida”.<br />
“Aprendi que o abraço é como um laço que envolve as pessoas”.
72<br />
“Pude sentir o quanto eu mudei, para melhor, com minha família e especialmente<br />
com meu marido. A mudança foi tão forte que chegou a despertar o interesse dele<br />
em trabalhar na escuta”.<br />
“Para mim foi uma descoberta, passei a me conhecer melhor e a ver os meus<br />
limites. Compreendi como é bom ouvir o outro, compreendi que nem sempre aquilo<br />
que é bom para mim é para o outro”.<br />
“Tive um crescimento pessoal muito grande, posso dizer que hoje estou mais<br />
humana”.<br />
“Aprendi o quanto é difícil escutar quando se está “louca” para falar, foi um belo<br />
aprendizado”.<br />
“Aprendi o valor de escutar a si mesma”.<br />
“Sinto que estou mais preparada para escutar sem fazer discurso e como voluntária,<br />
continuarei o trabalho na comunidade, mais reflexiva”.<br />
“Senti que precisamos vencer a nossa timidez, saber ouvir e também colocar para os<br />
outros as nossas idéias”.<br />
“Percebi o quanto é difícil usar o “eu” para falar de mim, das minhas emoções,<br />
quando estamos acostumados a usar “nós”.<br />
“Achava que escutar era uma coisa muito simples, mas graças às vivências é que<br />
estou percebendo o quanto é difícil escutar”.
73<br />
3.2 - PARTILHA DA PROFISSIONAL <strong>MARIA</strong> JOSÉ:<br />
“Escutar é perceber, é sentir, é um importante recurso pessoal que contribui<br />
com um movimento de cooperação na medida em que eu escuto, escuto o outro e<br />
sou escutada.<br />
Em tal movimento eu me re-conheço e re-conheço os meus familiares e<br />
demais pessoas da minha rede de relações, assim como na minha relação com os<br />
eventos da vida.<br />
Tal experienciação resultou na minha necessidade de partilhar esse<br />
aprendizado, assim, como também, em atender uma demanda reprimida, carente de<br />
escutatória, que somou à parceria de trabalho com a Élida. Juntas elaboramos e<br />
executamos a Formação para Escutadores e participamos da implantação da<br />
Pastoral da Escuta Cristã em Valinhos”.<br />
3.3 - PARTILHA DA PROFISSIONAL ÉLIDA:<br />
A realização desta monografia proporcionou-me a fundamentação teórica dos<br />
Princípios da Escuta ampliando a minha reflexão sobre a postura do escutador;<br />
percebendo o seu agir como de um artesão, que permanece atento a cada pequeno<br />
detalhe da sua arte; o seu escutar de forma sensível que considera cada aspecto<br />
diferenciado em sua interação com o outro; e o seu sentir de forma paciente, se<br />
colocando ao lado do(s) outro(s), permitindo que o(s) outro(s) também se coloque(m)<br />
ao seu lado.<br />
A metáfora da fogueira seguirá comigo, lembrando-me a necessidade do<br />
ritmo conjunto, de forma que o escutador esteja cuidadoso em não seguir tão<br />
rapidamente que siga sozinho excluindo o outro do movimento de construir sua
74<br />
própria mudança; ou tão vagarosamente que o outro deixe escapar o seu estado de<br />
atenção e participação na co-construção de histórias, e o fogo se apague.<br />
O contexto da escuta, dado a partir do paradigma sistêmico, deixa claro que a<br />
relação do profissional com sua técnica não está a serviço da busca de situações<br />
escondidas na mente mais profunda do cliente ou de realizar diagnóstico e<br />
tratamento de sintomas de mau funcionamento, como se o indivíduo fosse uma<br />
máquina que pode ser consertada. Ao invés disso, a escuta sistêmica é pensada<br />
como uma possibilidade para a criação de diálogos de mudanças que incluem os<br />
relacionamentos, as falas internas e externas, as histórias e as emoções dos<br />
envolvidos na conversação.<br />
Assim, estou levando comigo o “fogo da escuta sistêmica”, como um recurso<br />
que me entusiasma, tanto na vida profissional como na pessoal, atribuindo a este<br />
“fogo” o significado da transformação de um jeito de estar, sentir e agir, antes<br />
pautado pelo paradigma cartesiano, de objetividade e interpretação dos fatos e<br />
pessoas, agora para um jeito de estar em relação com os outros e com a vida.<br />
Isto implica dizer que ao adotar o paradigma sistêmico como uma nova visão<br />
de mundo, estarei como uma co-construtora de contextos que tornam possível<br />
usufruir a minha experiência e a do outro, através do diálogo e dos vínculos<br />
cooperativos. Desta forma, escutar é estar em uma postura pautada pela emoção da<br />
aceitação das várias verdades e expressões, acreditando que as experiências que<br />
temos na vida são sempre subjetivas e não existem critérios objetivos que as<br />
legitimem, ao não ser a emoção da aceitação da história de cada um, como uma<br />
história legítima, que faz existir a si próprio e o outro.<br />
Terminando, imagino que o “fogo da escuta sistêmica” poderá produzir<br />
“fumaças” que os ventos dos relacionamentos se encarregarão de espalhar, pois
75<br />
sendo um “fogo sistêmico”, a sua fumaça não polui e nem sufoca, ao contrário, ela<br />
perfuma e nos envolve em novas aberturas para novos conceitos e idéias e essas<br />
fumaças carregarão consigo os sinais para que estejamos sempre conectados à teia<br />
da vida.
76<br />
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