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FICHA CATALOGRÁFICA<br />

Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária (1.:2007:Porto Alegre, RS).<br />

Anais do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária - Terapia<br />

Comunitária: Inclusão Social - integrando Sabres e Ampliando Redes Solidárias, de 12 a 15 de<br />

setembro de 2007 – Pólo Formador Rio grande do Sul.<br />

142 Páginas<br />

CAIFCOM Editora<br />

É permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.<br />

Produção, distribuições e informações:<br />

caifcom@caifcom.com.br<br />

www.caifcom.com.br<br />

Av. Nova York, 339 – Bairro Auxiliadora – Porto Alegre/RS/Brasil<br />

Edição – Assessoria de Editoração, Diagramação e Arte Final: Rodrigo Teixeira de Lima<br />

Co-organização e supervisão do Anais: Marli Olina de Souza<br />

Ressalva: Os artigos aqui exibidos, foram publicados na íntegra e não passaram por revisão, já<br />

que os textos são de inteira responsabilidade de seus autores.


Queridos e queridas colegas!<br />

“É bonita demais é bonita demais, a mão que segura a Bandeira da PAZ!”<br />

Foi esse o som que eu trouxe, na bagagem afetiva, do último encontro com meus amigos, Terapeutas<br />

Comunitários em Brasília. De volta ao Rio Grande do Sul, continuamos preparando um<br />

cardápio científico digno de recepcionar pessoas tão sensíveis e de paladar tão apurado.<br />

“Não existe um eu sem tu” (Buber), então, acolhemos com carinho a todos vocês e suas produções<br />

científicas. Foram lidas, selecionadas e armazenadas em lugar onde outros autores poderão<br />

degustar, trocar, refletir e formar novas redes, novos vínculos, dando sustentação para nosso agir<br />

profissional.<br />

Estou muito feliz em lhes apresentar o IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de<br />

Terapia Comunitária!<br />

Vivemos num mundo globalizado, no qual é impossível desconsiderar a Cultura da Exclusão.<br />

Neste Congresso, apresentaremos várias descobertas que vêm sendo aplicadas ou pesquisadas<br />

por Terapeutas Comunitários do Brasil e de outros países, especialmente oriundos da França, Suíça,<br />

Argentina, Uruguai, México e Colômbia; comprometidos com a Inclusão Social através de<br />

Integração e Ampliação de Redes Solidárias. Haverá excelentes oportunidades para discutirmos<br />

temas como violência, cultura de Paz, uso de drogas, espiritualidade, ética, políticas públicas,<br />

implantação de TC, entre outros temas palpitantes. E, especialmente preparado pelos nossos<br />

colegas, várias oficinas, mesas de debates, temas livres, vídeos, pôsteres, tudo produzido com<br />

muito carinho para cuidar de quem cuida.<br />

O MISC/RS, como instituição promotora do IV Congresso Brasileiro, em parceria com o I Encontro<br />

Internacional, coordenado pelo MISMEC/ DF, na pessoa da Dra. Henriqueta Camarotti,<br />

agradecem a oportunidade e a confiança em nós depositadas, quando da votação do local para o<br />

IV Congresso. Agradeço também a confiança de toda a equipe das comissões que trabalharam<br />

com seriedade e competência, visando o abrilhantamento desse momento da TC no quadro<br />

nacional e internacional.<br />

Tenho a convicção de que a convivência, durante esses quatro dias, será muito prazerosa, afetuosa<br />

e rica. O questionamento e a argumentação de todos os participantes junto aos renomados<br />

Speakers, trarão novas luzes ao conhecimento atual, tornando este evento inesquecível para cada<br />

um de nós.<br />

Sejam todos muito bem-vindos e bem-vindas, a refeição está servida!<br />

Um abraço carinhoso.<br />

Profa. Ms. Marli Olina de Souza<br />

Presidente do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária


INSTITUIÇÕES PROMOTORAS<br />

& Pólos Formadores de Terapia Comunitária


Estimado(a) Congressista<br />

A vida é um grande festa quando você está presente !<br />

Sejam todos(as) bem-vindos(as).<br />

Nossa gratidão a você que não mediu esforço para se fazer presente no IV Congresso Brasileiro<br />

e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária. Mais um evento para passarmos juntos<br />

celebrando a vida, refletindo, indagando, trocando experiências, brincando, criando sonhos, partilhando<br />

descobertas, propondo alternativas.<br />

Que imensa satisfação e alegria !<br />

Consideramos este evento uma grande motivação social que nos impulsiona a continuar acreditando<br />

na vida e no ser humano capaz de construir a sua história, não só pela dor da desigualdade<br />

e injustiças sociais mas, pelo desenvolvimento de estratégias de enfrentamento dos problemas<br />

do cotidiano que ultrapassam o assistencialismo, sinalizando que contra os ventos da globalização<br />

e da descrença ações construtivas e solidarizantes podem ser realizadas.<br />

Agradecemos a todos(as) que contribuirão com: sugestões, informações, orientações, trabalhos e<br />

muitas transpirações para que este evento acontecesse. A dedicação e força de vontade de vocês<br />

conduziram a este resultado que todos nós estamos comemorando. Obrigada!<br />

E acima de tudo, esperamos que este congresso proporcione a todos os participantes o enriquecimento<br />

pessoal, relacional e profissional para que antigos, presentes e futuros sonhos de paz se<br />

realizem.<br />

Abraços e o desejo de uma vida repleta de Alegria!<br />

Com amor,<br />

Adalberto Barreto<br />

Criador da Terapia Comunitária<br />

Miriam Rivalta Barreto<br />

Presidente da ABRATECOM


Anais do IV Congresso Nacional e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária<br />

Terapia Comunitária – Inclusão Social, Integrando Saberes e<br />

Ampliando Redes Solidárias<br />

Realizado em Porto Alegre, de 12 a 15 de setembro de 2007<br />

Coordenação Geral: Marli Olina de Souza<br />

Comissão Científica: Maria Lucia de Andrade Reis e Adriane Vieira Ferrarini<br />

Comissão Organizadora:<br />

Diretoria do Pólo Formador<br />

Presidente - Psic.Marli Olina de Souza<br />

Vice-Presidente - Psic.Rosângela Vaz Ribeiro<br />

Primeira Secretária - Psic. Leanir T. Bauer Carneiro<br />

Segunda Secretária -Psic. Rúbia Denise Hassen Ochoa<br />

Primeira Tesoureira - For. Psic. Caroline S. Frajndlich<br />

Segundo Tesoureiro - Psicp. Gilberto Monteiro<br />

Conselho Fiscal:<br />

Psic. Eduardo Valentim Borges Silva<br />

Enf. Cledimar Soares Veiga<br />

Médica Tânia pinheiro Machado<br />

Organização do IV Congresso Brasileiro e I Encontro<br />

Internacional de TC:<br />

Presidente de Honra:<br />

Dr. Adalberto de Paula Barreto<br />

Presidente da <strong>Abratecom</strong><br />

Profa. MS. Miriam Carmen Rivalta Barreto<br />

Presidente do IV Congresso<br />

Profa. MS. Marli Olina de Souza<br />

Vice-Presidente:<br />

Dra. Marilene Grandesso<br />

Coordenadoria do I Encontro Internacional<br />

Dra. Henriqueta Camarotti<br />

Comissões:<br />

Científica:<br />

Profa. Maria Lucia de Andrade Reis (coordenação)<br />

Dra. Adriane Ferrarini (coordenação)<br />

Dra. Blanca de Souza Vieira<br />

Psic. Carla Garcia Bottega<br />

Psic. Guilene Salerno<br />

Fisio. Letícia Daud<br />

Psic. Magda Pozzobon<br />

Psic. Marilene Darós<br />

Social e Divulgação:<br />

As. Social Glacy Mara Lucaura Stankievich (coordenação)<br />

Psic. Jaqueline Souza (coordenação)<br />

As. Social Almerinda dos Santos<br />

Psic. Ana Neri Nascimento da Silva<br />

As. Social Fabiane Fontoura<br />

As. Social Maria Theresa Ritter<br />

Psic. Patrícia Lemos<br />

Psic. Rúbia Desnise Ochoa<br />

Secretaria<br />

Psic. Leanir Terezinha Bauer Carneiro<br />

Patrocínio<br />

Dra. Elizabeth Pascal do Valle<br />

Rodrigo Teixeira de Lima<br />

Financeiro<br />

Caroline Frajndlich<br />

& Pólos Formadores de Terapia Comunitária no Brasil,<br />

Suíça e França<br />

Endereço: MISCRS, Av. Nova York, 339- Auxiliadora.<br />

POA - Cep:90550-070 – RS<br />

www.miscrs.org.br<br />

miscrs@miscrs.org.br<br />

Fones: (51) 3342-1234<br />

Organização Geral dos Anais - Dra. Adriane Ferrarini e Profª Maria Lucia de Andrade Reis<br />

6


Caríssim@s congressistas,<br />

Foi com imensa satisfação, mas também com muitos anseios, que aceitamos a tarefa de organização<br />

do IVº Congresso Brasileiro e do Iº Encontro Internacional de Terapia Comunitária no<br />

sul do país.<br />

Na condição de comissão científica, tínhamos em nossas mãos o desafio de acolher as avaliações<br />

do último congresso - realizado em Fortaleza em setembro de 2005 - e organizar um evento que<br />

valorizasse a dimensão prática que caracteriza a terapia comunitária na sua origem, sem negligenciar<br />

os avanços teóricos dos últimos anos.<br />

Para tanto, contemplamos as contribuições gestadas nos espaços de construção coletiva dos terapeutas<br />

comunitários de todo o país, as quais propunham diferentes modalidades de apresentação<br />

de experiências e de vivências, tais como: sessões de terapia comunitária todas as manhãs, sessões<br />

de pôsteres e de vídeo, oficinas e/ou vivências, temas livres e mesas de debate.<br />

No tocante à dimensão teórica e epistemológica, as conferências, os simpósios e alguns mini-<br />

-cursos são momentos privilegiados de diálogo com os diferentes pensamentos contemporâneos,<br />

bem como os trabalhos ligados ao eixo III.<br />

Além disso, tivemos a preocupação de incluir diferentes sujeitos e metodologias de intervenção<br />

social, para além da terapia comunitária, através da criação do Eixo IV. Com isso, desejamos<br />

ampliar e enriquecer os diálogos na grande rede nacional e internacional terapia comunitária que<br />

vem sendo tecida e contribuir para uma melhor qualidade de vida da nossa população.<br />

Desde o início dos trabalhos, a comissão científica teve como princípio contemplar cada trabalho<br />

inscrito, sem abrir mão da qualidade, garantindo a participação do maior número possível de<br />

pessoas e a divulgação do seu trabalho para todo o país e para o exterior.<br />

A programação científica que está sendo apresentada a vocês através dos anais do IVº Congresso<br />

Brasileiro e Iº Encontro Internacional de Terapia Comunitária é fruto de um trabalho árduo, mas<br />

muito gratificante, pois expressa a grandiosidade do que tem sido feito através da terapia comunitária<br />

no Brasil e no mundo, especialmente na França e na Suíça.<br />

Agradecemos a participação dos congressistas e, especialmente, a cada integrante da comissão<br />

científica e aos colaboradores que, mesmo à distância, trouxeram grandes contribuições para o<br />

êxito do congresso.<br />

Desejamos a tod@s nós um grande congresso e que ele produza muito frutos!<br />

Dra. Adriane Ferrarini e Profª Maria Lucia de Andrade Reis<br />

Coordenação da Comissão Científica do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de<br />

Terapia Comunitária<br />

7


EIXOS:<br />

I –Terapia Comunitária como Ferramenta para Cuidar do “Cuidador”;<br />

TERAPIA COMUNITÁRIA COMO FERRAMENTA PARA CUIDAR DO CUIDADOR: Direciona-se<br />

a trabalhos com cuidadores nas diferentes políticas e contextos organizacionais e<br />

comunitários<br />

II - Reduzindo Danos Sociais com a Terapia Comunitária;<br />

REDUZINDO DANOS SOCIAIS COM TERAPIA COMUNITÁRIA: Direciona-se a trabalhos<br />

que dêem visibilidade a resultados e impactos de fortalecimento da população em contextos de<br />

vulnerabilidade.<br />

III - Formação e Pesquisa em Terapia Comunitária: questões teórico- epistemológicas;<br />

FORMAÇÃO E PESQUISA EM TERAPIA COMUNITÁRIA - QUESTÕES TEÓRICO-EPIS-<br />

TEMOLÓGICAS: Direciona-se a profissionais que tenham trabalhos voltados à Formação e<br />

Pesquisa em Terapia Comunitária, abordando inovações no campo teórico-metodológico.<br />

IV - TC e Políticas Sociais;<br />

TRABALHANDO EM COMUNIDADES, ARTICULAÇÃO DAS DIFERENTES PRÁTICAS<br />

E SABERES: Direciona-se a trabalhos comunitários que utilizam diferentes referenciais teóricos<br />

e metodologias de intervenção.<br />

V -Trabalhando em comunidades – articulação de diferentes práticas e saberes.<br />

TERAPIA COMUNITÁRIA E POLÍTICAS SOCIAIS: O papel da Terapia Comunitária para a<br />

promoção e a auto-organização das populações, frente ao caráter de descentralização e territorialização<br />

das políticas voltadas à inclusão social.<br />

8


IV Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária e o I Encontro Internacional de Terapia Comunitária<br />

Terapia Comunitária: Inclusão Social - integrando saberes e ampliando Redes Solidárias.<br />

Sumário<br />

12 a 15 de setembro de 2007-08-25 | AMRIGS-Associação Médica do RGS<br />

Av. Ipiranga,5311- Partenon –POA/RS<br />

A violência doméstica uma forma de exclusão familiar<br />

Maria Rita D’Angelo Seixas.................................................................................................................................... 10 a 15<br />

Alcoolismo e inclusão social de moradores de rua sob a luz da terapia comunitária<br />

Oliveira, Lívia F Lopes S; Galante, Crystiane; Nocera, Karina; Caldeira B, Luci.................................................. 17 a 22<br />

A terapia comunitária no matriciamento em saúde mental<br />

Carmen Tereza Gonçalves Trautwein....................................................................................................................... 23 a 27<br />

“Cuidando do cuidador”: uma terapia<br />

Marlene Rodrigues Gomes da Silva......................................................................................................................... 28 a 33<br />

A terapia comunitária dentro do projeto pedagógico do curso de psicologia<br />

Marta Fuentes Rojas................................................................................................................................................. 39 a 42<br />

Contribuições da terapia comunitária para a uma comunidade da cidade de Uberaba-mg<br />

Marta Fuentes-Rojas................................................................................................................................................ 39 a 42<br />

Dançaterapia como agente de transformação biopsicossocial<br />

Oliveira, Lívia F. Lopes S. E Ribeiro, R. Wanderlei................................................................................................ 42 a 47<br />

Em busca do mote!<br />

Liliana Beccaro Marchetti, Lia Fukui....................................................................................................................... 48 a 51<br />

Uma proposta de curso para intervisores em terapia comunitária.<br />

Lia Fukui, Liliana Beccaro Marchetti ..................................................................................................................... 52 a 55<br />

Terapia comunitária para equipes do programa saúde da família<br />

Raquel Martinho Ciancio ........................................................................................................................................ 56 a 59<br />

Da reforma psiquiátrica aos centros de atenção psicossocial (caps): desafios práticos e epistemológicos frente ás políticas<br />

de inclusão social<br />

Najla Nassere .......................................................................................................................................................... 60 a 67<br />

A terapia comunitária como instrumento de construção de cidadania na extensão universitária<br />

Adriane Vieira Ferrarini .......................................................................................................................................... 68 a 75<br />

Educação Familiar e Comunitária – Abrindo espaço para um cultura de paz<br />

Marli Olina de Souza .............................................................................................................................................. 76 a 82<br />

Cursos pré Congresso .............................................................................................................................................84 a 88<br />

Resumos dos convidados internacionais ..................................................................................................................89 a 98<br />

Mesas de Debate ...................................................................................................................................................96 a 102<br />

Poster ...................................................................................................................................................................103 a 111<br />

Temas livres .........................................................................................................................................................111 a 125<br />

Terapia Comunitária e Pesquisa ............................................................................................................................126 a 127<br />

Oficinas ...............................................................................................................................................................128 a 136<br />

Resumos de vídeo ................................................................................................................................................137 a 141<br />

9


Apresentação<br />

A Terapia Comunitária vem, cada vez mais, fortalecendo suas raízes teóricas, definindo sua<br />

identidade multicultural, consolidando seu aporte técnico e diversificando contextos de atuação.<br />

São os terapeutas comunitários os primeiros agentes a se deixarem tocar pela magia de pensar<br />

com a alma e falar com o coração. A seguir, cada pessoa que aceita entrar na roda e cantar essa<br />

canção, une-se à vivência de humanização, ao acolhimento a si e ao outro e, em última instância,<br />

à construção de uma comunidade e de uma sociedade mais solidárias e pacíficas.<br />

Por tudo isso, a Terapia Comunitária vem ampliando suas fronteiras geográficas. A imensidão<br />

do Brasil tornou-se pequena para o potencial que a Terapia Comunitária tem demonstrado de<br />

transformação de vidas, renovação de valores, fortalecimento de comunidades e de instituições<br />

e potencialização de políticas públicas.<br />

Assim, o IV Congresso Nacional foi também o I Encontro Internacional de Terapia Comunitária,<br />

constituindo-se num evento enriquecedor, em que o intercâmbio de experiências e de conhecimentos<br />

sobre a Terapia Comunitária no Brasil e em outros países, especialmente, França, Suíça,<br />

Argentina, Uruguai, México e Colômbia, foi ainda mais diversificada.<br />

Todos nós guardamos na memória lindos momentos de encontros, reencontros, aprendizagens,<br />

emoções, alegrias e união. Não menos importante, a parte teórica está presente nessas trocas,<br />

pois os registros possibilitam a socialização de experiências, de reflexões e de saberes acumulados<br />

e construídos ao longo da experiência de Terapia Comunitária, permitindo, conseqüentemente,<br />

o avanço do conhecimento e a construção de novas alternativas.<br />

Esses Anais são uma forma de registro de parcela dos trabalhos apresentados no IV Congresso<br />

Nacional e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária, cujos participantes optaram por<br />

enviar posteriormente o artigo completo. Destacamos que os artigos foram publicados na íntegra<br />

e não passaram por revisão, já que os textos são de inteira responsabilidade dos autores e seria<br />

impróprio alterarmos sua redação. Nossa intenção foi acolher a todos os participantes que enviaram<br />

o artigo. Por fim, desejamos a todos uma boa leitura e que os artigos contribuíam, não para<br />

saciar o apetite, mas para alimentar a nossa fome de saber e de criar.<br />

Saudações solidárias,<br />

Adriane Vieira Ferrarini (organizadora)<br />

Maria Lucia de Andrade Reis (coordenadora da comissão científica)<br />

10


ARTIGOS<br />

A violência doméstica uma forma de exclusão familiar<br />

Maria Rita D’Angelo Seixas,PhD 1<br />

“La única forma de aprender a amar es siendo amado.<br />

La única forma de aprender a odiar es siendo odiado.<br />

Esto ni es fantasia ni teoria, simplesmente es un echo comproblable.”<br />

(ASHLEY MONTAGU, La agresión humana,1976 )<br />

O poder humano decorre de três fontes principais: o conhecimento, o dinheiro e a violência.<br />

A violência é a forma mais primitiva e inferior de poder, porque só podemos usa-la para castigar,<br />

fazer mal, destruir. (Marcos,2004)<br />

Suas sementes são semeadas nos primeiros anos de vida, cultivadas na infância e começam a dar<br />

frutos malignos na adolescência estimuladas por crueldades sofridas, até fazer parte do caráter<br />

do adulto.<br />

Nossos comportamentos desde o sadismo até o altruísmo são o resultado de processo evolutivo<br />

condicionado pelas forças sociais e valores culturais.<br />

As histórias de nossa civilização estão repletas de agressões humanas. Através dos séculos,seres<br />

frágeis e grupos minoritários foram objetos fáceis de ultrajes exploração e tormentos.<br />

A Organização Mundial da Saúde (outubro de 2002) relata que atos de violência matam mais de<br />

1,6milhões de pessoas ao ano.<br />

O que nos leva a torturar e matar um semelhante e até nossos companheiros de vida?<br />

A disputa entre o genético e a influência social é um tema que gera controvérsias quando se quer<br />

explicar a formação das personalidades e conseqüentemente as tendências pacíficas ou violentas<br />

das pessoas.<br />

A explicação da violência como genética ou aprendida é uma controvérsia entre os experts.<br />

1 Profª Drª Maria Rita D’Angelo Seixas. Psicóloga, psicodramatista. Professora Supervisora pela FEBRAP,<br />

Doutora em Psicologia Clínica - PUC/SP. Docente do Depto. de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae, Docente do<br />

Depto de Psiquiatria da UNIFESP. Coordenadora do curso de Terapia Familiar em Hospital / UNIFESP - Escola Paulista<br />

de Medicina. Coordenadora do Curso de Terapia Comunitária. Coordenadora da Escola de Sociodrama Familiar<br />

Sistêmico. Autora do livro Sociodrama Familiar Sistêmico e vários artigos publicados.<br />

11


Para alguns a violência é uma qualidade humana inata, universal e inevitável que se libera automaticamente<br />

obedecendo a um impulso natural programado nos genes de nossa espécie. Esta<br />

idéia está baseada na concepção de que possuímos um mecanismo inato de luta pela sobrevivência.<br />

O mundo é cheio de estímulos perigosos dos quais temos que nos defender. Por isto a violência<br />

torna-se necessária para a continuação da espécie.<br />

Para outros, os animais lutam pela sobrevivência mas não são cruéis. Quando lutam estão motivados<br />

por medo de serem eliminados em situação que sentem-se acuados, por fome, necessidade<br />

de procriação ou defesa de si e da espécie. Quando podem, evitam matar ou mutilar seu<br />

competidor, limitando-se a retirar-se com superioridade quando vencem e permitindo que seu<br />

inimigo fuja sem persegui-lo. Quando têm que matar fazem-no da forma mais rápida possível,<br />

sem nenhuma crueldade.<br />

O homem diferentemente, não tem comportamentos violentos só quando está ameaçado e pode<br />

ser cruel quando levado por emoções, mesmo sem necessidade de auto defesa. É no cérebro, dotado<br />

de grande plasticidade, para responder aos estímulos do meio, que se desenvolve a maneira<br />

de ser violento nos seres humanos. Conseqüentemente, herdamos genes agressivos mas não a<br />

crueldade. Só alguns são cruéis.<br />

Nascemos com a predisposição para a violência mas também para a compaixão.<br />

A violência se aprende sob certas circunstâncias e se aprende profundamente.<br />

O bebê satisfeito desenvolve segurança em si e nos demais, bem como a comunicabilidade. O<br />

ignorado é temeroso e agressivo.<br />

As paixões jogam um papel poderoso no comportamento humano. Podem estimular tanto a inveja,<br />

tirania e agressividade, quanto a criatividade, autonomia e a solidariedade.<br />

As paixões dão significado à vida humana. Geram monstros e heróis.<br />

As experiências que mais predispõe a recorrer à violência para resolver frustrações é ser objeto<br />

ou testemunha de repetidas agressões na infância, principalmente por parte dos progenitores. As<br />

pessoas que vivem entre agressões e humilhações na infância tendem a ser insensíveis a estes<br />

horrores e/ ou podem tornar-se agressores.<br />

A idéia de que o poder das paixões e a violência são aprendidos, garante-nos poder lutar para<br />

mitigá-los ou preveni-los. Por isto devemos dirigir os cuidados preventivos e terapêuticos primordialmente<br />

aos pequenos durante os primeiros 12 anos de vida enquanto há a possibilidade de<br />

desenvolver a compaixão, a tolerância, o sentido de auto crítica e a empatia.<br />

O antídoto universal e mais poderoso contra a violência é o desenvolvimento das tendências<br />

altruístas naturais do ser humano.<br />

Olhando do ponto de vista histórico as idéias malignas parecem estar diminuindo entre as pessoas:<br />

1. A posição da criança na sociedade melhorou;<br />

12


2. A mulher já não é vista como propriedade do homem em grande número de nações;<br />

3. Embora ainda existam guerras se conteve a obsessão de se construir bombas atômicas.<br />

Resta-nos contudo, um longo caminho até a convivência pacífica entre as pessoas.<br />

A violência é sempre preocupante em vários cenários humanos. A mais inquietante é a que se<br />

desenvolve no lar. Espaço que deveria, pelo seu objetivo formador, ser o mais amoroso.<br />

As conseqüências da violência doméstica são tão desastrosas, por que atinge o celeiro humano<br />

de novas personalidades destruindo-as antes que se formem.<br />

“A violência doméstica é o conjunto de formas de violência que se exerce no lar, qualquer que<br />

seja a pessoa que a exerça ou sofra” (Welzer-Lang, 2007).<br />

A nosso ver é a mais destruidora.<br />

Perigosa realidade, porque todos temos impulsos amorosos e agressivos e é a família que é a<br />

referência, a matriz de identidade e deve nos ensinar como controlar a raiva e dar saída às pulsões<br />

internas com limites.Caso a família forneça modelos de agressão o ato lesivo passa a ser<br />

considerado normal, não se critica as conseqüências que dele advém e é a violência o modelo<br />

aprendido pela criança para reagir a frustrações.<br />

A criança maltratada sente-se isolada, sozinha, com medo, se retrai. Passa a desconfiar de todos<br />

e quando em conflito torna-se agressora, porque foi este o mecanismo que aprendeu para solucionar<br />

conflitos e aí é excluída pelo social.<br />

Neste momento cria-se o padrão repetitivo de exclusão.A criança se exclui e se isola pelas agressões<br />

sofridas em casa, ou é excluída quando castigada pelas agressões que comete em casa e na<br />

rua.<br />

Existem várias formas de exclusão doméstica. Desde a agressão psicológica que inclui insultos,<br />

desqualificações, ameaças de abandono e morte, até a negação da existência por indiferenças,<br />

isolamento ou segredo, chegando nas formas mais graves ,à condenação à morte em vida, pelo<br />

descaso e desqualificação da pessoa,que é tratada com se não existisse. Na maioria das vezes<br />

estas atitudes não possuem nenhuma justificativa importante que as explique.<br />

Esta exclusão às vezes se concretiza em formas mais efetivas: impossibilitar a alguém o pertencimento<br />

à família negando-lhe o sobrenome, a expulsão de casa sem dinheiro nenhum e/ou<br />

chegar a deserdar a pessoa. Em alguns casos isto ocorre como meio de afastamento da família,<br />

para impedir que delate abusos sexuais ou físicos que lhe foram infringidos e que são outras<br />

formas freqüentes de violências domésticas.<br />

Existem algumas formas disfarçadas de violência:<br />

1. Dizer à pessoa que está sendo espancada para seu próprio bem, o que ainda gera culpa;<br />

2. Abandono disfarçado de falta de exercício de autoridade e falta de fronteiras, em nome<br />

de excesso de confiança e flexibilidade, que encobrem comodismo e descuido;<br />

3. Proteção excessiva que encobre desqualificação da capacidade da pessoa para resolver<br />

problemas.<br />

4. Relacionamentos em que se encobre manutenção de dependência com obrigatoriedade<br />

de lealdade familiar acima de tudo, que deixam a pessoa sem escapatória ,pois nada do que é<br />

visto ou vivido em casa pode ser contado fora, sob pena da pessoa que o fizer ser qualificada<br />

como traidora da família;<br />

13


5. Atribuição de responsabilidades excessivas a um filho gerando sobrecarga para ele, a<br />

fim de eximir-se de seus deveres parentais ou pessoais;<br />

6. Criação de um clima familiar de raiva e culpa que imobiliza e passa a ser o modelo de<br />

relacionamento.<br />

Nosso objetivo ao levantarmos estes padrões de exclusão no lar é informar aos terapeutas e educadores<br />

para que se instrumentalizem buscando medidas para vencê-los.<br />

Propostas terapêuticas e sócio-educativas<br />

Como o tratamento da violência ainda está sendo muito estudado no mundo todo, pensamos que<br />

seria útil para finalizar, elencar algumas maneiras de pensar e agir, que estão sendo adotadas<br />

neste setor na terapia familiar que poderão ajudar os profissionais que trabalham com violência<br />

doméstica.<br />

A identificação dos padrões de violência leva à aquisição de força que pode ser posta a serviço<br />

da pessoa.<br />

Uma das medidas preliminares é propor à família começar a estabelecer padrões relacionais sem<br />

ameaças e aprender a negociar na terapia familiar, sem a exclusão de nenhuma pessoa envolvida<br />

no problema.<br />

Construir em conjunto com a família o desapego das crenças do passado e começar a criar formas<br />

de relacionar-se mais em conformidade com as necessidades de cada um no presente. Aprender<br />

a ouvir o outro para negociar as diferentes maneiras de pensar e agir em busca de soluções que<br />

contemplem a todos. Uma das principais conseqüências da violência é a perda de auto estima<br />

que leva a pessoa a ficar presa, sem coragem de sair da situação por não acreditar mais nas suas<br />

capacidades. Quando esta pessoa passa a ser aceita e valorizada, recupera sua auto estima.<br />

È primordial, também a desmistificação da pessoa que é colocada no poder, pela própria trama<br />

relacional familiar o que faz dela um mito. Na terapia aprendemos a vê-la como uma pessoa<br />

fraca que precisa deste poder de dominação para sentir-se segura.Esta nova percepção devolve o<br />

poder às outras pessoas da família que param de endeusa-la como poderosa começando a teme-<br />

-la menos , o que diminui o seu poder de coação.<br />

Abrir mão do pensamento julgador e procurar compreender o que acontece com cada um desenvolvendo<br />

a capacidade de cuidar.<br />

Rever os velhos problemas procurando sempre novas soluções concretas para os mesmos.<br />

Empregar o humor na terapia dá mais alegria e leveza ao tratamento.<br />

Reconhecer a diferença entre a comunicação íntima e a social e aprender que cada um fala por si<br />

e sabe o que é bom para si. Compreender a necessidade de respeitar as diferentes formas de ser,<br />

para que todos cresçam. (Motta e Cavour, 2005)<br />

O importante é que:<br />

Cada um descubra sua potência, através da própria história de sobrevivência, aprendendo a<br />

valorizar a sua resiliência, ou força interior de resolução de problemas.<br />

É preciso que todos fiquem cientes de que somos autores de nossas vidas e dotados de forças<br />

para defendê-la.<br />

14


As normas de respeitar a palavra de cada um e deixar que todos falem por si, são importantes<br />

para manter a ordem na sessão e estabelecer uma nova forma conversacional entre as pessoas<br />

Adotamos como técnica, perguntas reflexivas que fazem as pessoas pensarem sobre seus atos,<br />

sem julgá-las.<br />

O terapeuta deve trabalhar com a ética relacional da família. Esta técnica criada por<br />

Nagy 1983, procura fazer pessoas valorizarem sua maior capacidade de doação em lugar de ficar<br />

cobrando do outro que se doe mais, para equilibrar a balança da contabilidade afetiva e sempre<br />

pensar se o que vou sugerir ou espero do outro realmente é o que é bom para ele.<br />

Referências Bibliográficas<br />

MARCOS,L.R.Las semillas de la violencia. Madrid, Editorial Espasa Calpe S.A., 2004.<br />

MONTAGU,A.Naturaleza de la agresividad humana. Madrid, Alianza,1990.<br />

MOTTA,E.e Cavour,R. A violência oculta no cotidiano da família de A a Z. Rio de Janeiro,<br />

iQi,2005.<br />

NAGY, I. e SPARK,G.M.Lealdades invisíveis. Buenos Aires: Amorrortu, EBA,1983.<br />

STOLBERG,S. World Health Organization’sReport on the toll of violence. The New York Time,<br />

3-X-2002.<br />

WELZER-LANG, D. La violência doméstica através de 60 preguntas y 59 respostas. Madrid.<br />

Alianza, 2007.<br />

15


ALCOOLISMO E INCLUSÃO SOCIAL DE MORADORES DE RUA SOB A LUZ DA<br />

TERAPIA COMUNITÁRIA<br />

Oliveira, Lívia F Lopes S; Galante, Crystiane; Nocera, Karina; Caldeira B, Luci<br />

Terapeutas Comunitárias pela SENAD 2006 São Paulo SP<br />

Resumo<br />

Este trabalho trata, através da Terapia Comunitária, as questões de alcoolismo e a re-socialização<br />

de moradores de rua, adultos, de idade intermediária até idosos, abrigados em uma instituição religiosa.<br />

Este tema pode contribuir para uma melhor compreensão das referidas questões e ajudar<br />

a desenvolver práticas que sejam eficazes na abordagem do tema proposto.<br />

Abstract<br />

This article presents, through the Communitarian Therapy, the questions about alcoholism and<br />

the re-socialization of homeless people, adult men varying from intermediate ages to older individuos,<br />

sheltered in a religious institution. This theme may contribute to a better comprehension<br />

of these mentioned questions e may help to develop effective practices in the approach of the<br />

theme.<br />

Palavras-chave<br />

Alcoolismo; morador de rua; ressocialização; terapia comunitária<br />

Keywords: Alcoholism; homeless; re-socialization; communitarian therapy<br />

Introdução<br />

Moradores de rua são vistos como anti-sociais, danificadores dos espaços públicos e áreas residenciais,<br />

causadores de intimidação e danos aos negócios. O serviço social tem recebido reclamações<br />

por parte de residentes, consumidores, turistas e comerciantes. Há diversos estudos,<br />

segundo Leonard, demonstrando a associação agressividade, violência marital, violência doméstica<br />

e uso abusivo de álcool.<br />

Muitos destes discutem se tal associação é causa de agressões, uma desculpa ou está sustentada<br />

por valores sócio-culturais. Independentemente destes estudos, o fato é que a pesquisa do CE-<br />

BRID aponta que a embriaguez foi a condição mais freqüente para, praticamente, todos os tipos<br />

de violência. Em atendimentos de saúde, a questão de abuso de drogas é raramente levada em<br />

conta, ou sequer investigada ou tratada, apesar de ser uma característica comum de indivíduos<br />

que abandonaram suas famílias, trabalho ou foram abandonados pelo mesmo sistema. Alcoolismo,<br />

exclusão social parecem ser duas faces de uma mesma moeda, pois ambos têm em comum<br />

algumas características que merecem ser revisadas, na tentativa de esclarecer o fenômeno dos<br />

conflitos pessoais, familiares e sociais, buscando conscientizar as/os profissionais de saúde que<br />

se deparam rotineiramente com estas questões, para que possam, efetivamente, contribuir na<br />

redução destas práticas que degradam e adoecem o ser humano.<br />

16


O conhecimento da dependência química e a Terapia Comunitária mostraram-se eficazes na<br />

abordagem e intervenção destas questões, pois os objetivos da Terapia Comunitária incluem<br />

o tratamento da auto-estima individual e coletiva; estimulando a participação do indivíduo no<br />

grupo comunitário, percebendo e valorizando as experiências de vida que podem ajudá-los a<br />

ter opções de escolhas de atitudes mais saudáveis, proporcionando a transformação do sujeito<br />

em agente de sua própria recuperação, melhorando, dessa forma, a qualidade de vida pessoal,<br />

familiar e comunitária.<br />

Morador de rua<br />

Moradores de rua são pessoas que, via de regra, abandonaram ou foram abandonados pela família<br />

e são pessoas, em geral, com duas a três doenças mentais, problemas com álcool e outras<br />

drogas.<br />

São indivíduos que perderam e ou romperam os vínculos com o trabalho, família ou instituições.<br />

Foram empurrados para uma subcultura que não escolheram; que está além de seu controle sair<br />

dela; e que devem se adaptar.<br />

Têm necessidades básicas :<br />

Burocrático: Abaixo do nível de atendimento.<br />

Discriminatório : Dignidade e respeito baseiam-se em papéis desempenhados na hierarquia social.<br />

TIPOS<br />

Recém deslocados<br />

Novos na rua – amedrontados - (mundo novo e violento)<br />

mais fácil retornarem ao meio de onde saíram.<br />

Vacilantes<br />

Mais tempo na rua (amizades , menos medo, mais adaptados, mais prática para conseguir dinheiro<br />

e alimento).<br />

Ambivalentes<br />

Já deixam o dia passar sem planos de ação para melhorar.<br />

Outsiders<br />

Preferem as ruas -100% fora do sistema<br />

Totalmente adaptados: rotinas, hábitos.<br />

Outro status- Não questionam ser um da rua (mudam nome).<br />

•Não se sentem desafortunados. Síndrome de Gabriela?<br />

Atemporal. Fala e ação inconsistentes para o futuro.<br />

•Situação partilhada: gregários, solidários, funções definidas: pinga, batata, lenha. Andarilhos<br />

Altamente migratórios, raio de ação territorial grande. Forte senso de auto controle e independência.<br />

Aproveitam-se das entidades governamentais e filantrópicas.<br />

Mendigos<br />

Mais debilitados, zona de ação limitada. Não trabalham. Alcoólicos/as crônicos/as. Aproveitam<br />

pouco os serviços (albergues ). Perderam iniciativas. Sem planos. Sem esperança. Vivem o hoje.<br />

Doentes mentais<br />

Os mais imóveis. Metódicos. Vivem de doações e da coleta de objetos de lixo. Sem álcool. Sem<br />

tabaco.<br />

17


Dependência Química (DQ)<br />

Refere-se ao uso disfuncional de substâncias psicoativas por um indivíduo.<br />

Dependência Química é doença.<br />

- Modelo doença:<br />

Um transtorno primário e independente de outras de outras condições; uma herdada suscetibilidade<br />

biológica aos efeitos do álcool e outras drogas;<br />

- Modelo de comportamento aprendido:<br />

Os comportamentos são aprendidos ou condicionados.<br />

Comportamentos, sentimentos e pensamentos que podem ser modificados pelos mesmos processos<br />

de aprendizagem que os criaram.<br />

- Fenômeno biopsicossocial: influências de fatores sociológicos, culturais e espirituais.<br />

Violência<br />

Segundo a OMS, violência, em seu aspecto geral, é definida como um uso intencional de poder<br />

ou força física ameaçadores contra si mesmo/a, contra outra pessoa ou um grupo ou comunidade<br />

que tanto resulta ou pode resultar em danos, morte, abuso psicológico, subdesenvolvimento ou<br />

negligência.<br />

A violência pode ter muitas formas:<br />

Violência contra mulher – qualquer conduta ou omissão de discriminação, agressão ou coerção,<br />

ocorrida pela pessoa ser do sexo feminino, que cause: dano, morte, constrangimento, limitação,<br />

sofrimento físico, sexual, moral psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial.<br />

Pode ocorrer em espaços públicos ou privados.<br />

Violência familiar – violência que ocorre dentro da família. Vínculos de parentesco: natural<br />

(mãe/pai/filha/etc); ou civil (marido/sogra/padrasto/outros); por afinidade (primo/ tio do marido);<br />

por afetividade (amigo/a que more na mesma casa)<br />

Violência institucional – “expressada na intolerância” por desigualdades de (gênero, étnico-<br />

-raciais, econômicas, etc) predominante em diferentes sociedades. Essas desigualdades se formalizam<br />

e institucionalizam nas diferentes organizações públicas ou privadas como também nos<br />

diferentes grupos que constituem essas sociedades.<br />

Comparação entre violência doméstica e abuso de substâncias<br />

Para uma melhor compreensão da similaridade entre violência doméstica e abuso de drogas,<br />

Irons e Schneider apresentam uma lista de critérios do DSM IV resumidos e adaptados como<br />

seguem:<br />

1. perda de controle (critérios 3 e 4 );<br />

2. continuação do comportamento apesar das conseqüências adversas (critérios 6 e 7);<br />

3. preocupação ou obsessão ( critério 5 )<br />

4. tolerância ( critério 1)<br />

5. estreitamento de repertório( critério 5 )<br />

No caso da violência doméstica, a perda de controle seria a perda de controle da raiva e não a<br />

perda de controle do uso da substância. A perda de controle pode ser vista em um continuum,<br />

isto é, ela parece progredir e intensificar-se no tempo. Dentro deste tempo, há períodos de pausa<br />

ou de relativa paz. Nestas pausas o agressor promete que irá mudar e que não irá mais usar de<br />

violência. O tempo entre tal promessa e o comportamento agressivo recorrente parece diminuir<br />

da mesma forma que a tendência compulsiva de uso de substância.<br />

18


Poder-se-ia inferir que a inclusão do critério 2 do DSM-IV ( abstinência ) seria pertinente neste<br />

tempo de pausa e novo conflito. Este critério poderia ser entendido como uma ansiedade que<br />

há neste momento de pausa – isto é, já que o conflito é recorrente, de alguma forma, espera-se<br />

que a pausa de paz vá terminar. Assim sendo, a ansiedade pode criar uma determinada fissura.<br />

Mas uma fissura, nem sempre pela briga, mas pela angústia de não saber quando ela vai ocorrer.<br />

Neste ponto, muitas mulheres acabam provocando um conflito para passar logo pela briga e<br />

voltar ao tempo de paz.<br />

Tanto no abuso de substâncias como na violência doméstica, o comportamento abusivo continua<br />

apesar dos sintomas de estresse, intimidação, sofrimento emocional, danos físicos, etc.<br />

Em termos de tolerância da violência doméstica, ocorre uma dessensibilização da vítima que<br />

passa a tolerar crescentes níveis de violência.<br />

O campo de preocupação com o conflito e com a droga torna-se quase que estritamente voltado<br />

às prioridades relacionadas respectivamente à violência e às drogas em detrimento das demais<br />

preocupações, atividades e responsabilidades do dia a dia.<br />

Acreditamos que o paralelo acima descrito possa servir como um norteador de compreensão das<br />

situações tanto de dependência química como de violência doméstica.<br />

Idosos e Dependência Química<br />

Entre os idosos, os transtornos por uso de álcool e outras drogas têm recebido pouca atenção,<br />

apesar de serem a 3a. condição psiquiátrica mais prevalente, atrás dos transtornos depressivos<br />

e da demência.<br />

Fatores de Risco<br />

1.Estressores psicossociais<br />

2. Comorbidade psiquiátrica com transtornos ansiosos (TEPT e TAG) e transtornos depressivos;<br />

3. Doenças crônicas ( cardiopatias; hipertensão; diabetes; pneumopatias; artrite reumatóide; doença<br />

de Parkinson e AVC);<br />

4. Alterações neuroquímicas associadas à senescência, que aumentam a sensibilidade aos efeitos<br />

sedativos e ansiolíticos do álcool e medicamentos controlados<br />

Características Clínicas<br />

A dependência do álcool no idoso apresenta :<br />

- problemas psicossociais;<br />

- síndrome de abstinência mais grave com aumento de duração;<br />

- aumento da sensibilidade aos efeitos do álcool;<br />

- taxa elevada de complicações psiquiátricas ( delirium, depressão e demência) e médicas (quedas<br />

repetitivas, desnutrição, diarréia, fraqueza e insônia).<br />

19


Terapia Comunitária segundo A. Barreto (TC)<br />

É um espaço comunitário onde se procura partilhar experiências de vida e sabedorias de forma<br />

horizontal e circular. É a dimensão sagrada de transformar o sofrimento em competência.<br />

Objetivos<br />

Reforçar a dinâmica interna de cada indivíduo para que possa<br />

Descobrir seus valores, suas potencialidades e tornar-se mais autônomo e menos dependente;<br />

Reforçar a auto-estima individual e coletiva;<br />

Redescobrir e reforçar a confiança em cada indivíduo, diante de sua capacidade de evoluir e de<br />

se desenvolver como pessoa;<br />

Estimular a participação como requisito fundamental para dinamizar as relações sociais, promovendo<br />

a conscientização e estimular o grupo, através do diálogo e da reflexão, a tomar iniciativas<br />

e ser agente de sua própria transformação.<br />

Método<br />

Um grupo de pessoas do abrigo da Casa São Pio em Cotia atendeu ao convite das terapeutas<br />

comunitárias para participarem de sessões de Terapia Comunitária por um período de 08 meses<br />

aproximadamente. Este grupo tinha em torno dos XX anos de idade, Esta casa é atendida pelo<br />

Projeto Velho Amigo através do qual foi possível a intervenção em Terapia Comunitária por<br />

nossa equipe.<br />

As sessões de Terapia Comunitária compreendem uma atividade de reflexões e integrativa e<br />

vão ao encontro do recomendável como ação reparadora, na reconstrução da auto-estima e na<br />

possibilidade de aprender novos padrões de expressão e de comportamento através do compartilhamento<br />

de experiências.<br />

Abrigo<br />

Os abrigados da Toca de Cotia – Casa São Pio são acolhidos pelos Irmãos Franciscanos em<br />

missões pelas ruas ou atendimentos de solicitação de busca na rua.<br />

Têm na Toca o amparo espiritual que é aceito como benéfico pelos moradores e pode ser entendido<br />

como fator de proteção a diversas disfunções tais como: abandono; desnutrição; alcoolismo<br />

e abuso de outras drogas; falta de referência; etc<br />

Os moradores da Toca são acolhidos pelos Irmãos Franciscanos em missões pelas ruas ou atendimentos<br />

de solicitação de busca na rua.<br />

Na Toca têm moradia, refeições, banho, roupas<br />

Têm necessidade de ajuda da equipe para re-obter documentações, obter e manter moradia,<br />

pagar contas, benefícios sociais e acesso a tratamento de saúde incluindo problemas com abuso<br />

de substâncias.<br />

20


Resultados<br />

De início houve certa desconfiança do trabalho que iríamos realizar por parte dos abrigados. Pessoas<br />

que já sofreram várias perdas drásticas (família, saúde, emprego, etc) em geral mostram-se<br />

desconfiadas de ações de toda ordem. Dessa forma, estabelecemos um diálogo individual que<br />

durou cerca de dois meses para atender a abrigados mais autônomos da Toca. Estabelecido o<br />

vínculo, passamos a convidar para as sessões de Terapia Comunitária. Não demorou muito para<br />

que fossem fazendo seus depoimentos e ouvindo as opções de resolução de seus conflitos através<br />

de seus companheiros. Passaram a ter mais respeito entre seus pares, pois viam nestas pessoas<br />

que tinham histórias parecidas e que podia compartilhar com segurança. Eram histórias predominantemente<br />

de abuso de álcool, perda de família, documentos, perda de emprego e função na<br />

sociedade e saudades da família. Se quando chegamos à Toca houve até um comentário que eles<br />

não iriam aderir à terapia. Contudo, eles não só participaram como também esperavam a hora<br />

das terapeutas chegarem e comentaram que ficavam felizes só de nos vê-las por ali. Além de<br />

tudo, trouxeram violões e outros instrumentos pequenos e cantavam várias canções, chegando<br />

até a compor canções para as terapeutas. As regras da terapia proporcionaram também a facilidade<br />

para a comunicação e a mudança dos comportamentos rígidos e desconfiados.<br />

No final do ano houve uma grande participação de todos no salão maior da Toca que incluiu<br />

os irmãos franciscanos e chegaram até a expressarem sua descontração, alegria e culturalidade<br />

através de descontraídos passos de dança.<br />

Necessidades encontradas:<br />

Tratamento ( área psicologia e psiquiatria )<br />

1. identificar estados emocionais negativos e o isolamento social;<br />

2. capacitar os profissionais a tratar idosos, DQ e outras co-morbidades;<br />

3. associar intervenções psicossociais individuais ou grupais (TC), que<br />

utilizem técnicas não confrontativas e que proporcionem suporte social;<br />

4. implementar relações com serviços de saúde que prestam assistência<br />

a idosos;<br />

5. adequar o ritmo e o conteúdo do tratamento aos idosos.<br />

Considerações finais<br />

As pessoas que procuram um posto de atendimento básico de saúde ou um atendimento especializado<br />

podem estar e geralmente estão psicologicamente incapazes de perceber que foram<br />

vítimas de violência doméstica. Outras, ao denunciar a violência, imediatamente retiram a queixa,<br />

pois temem, entre outras suposições, que o agressor torne-se mais vingativo. Outras ainda<br />

relutam em admitir a violência sofrida para não expor o agressor (seu marido, ou companheiro,<br />

ou pai de seus filhos) à situação de constrangimento e ou punição. Muitas estão emocionalmente<br />

bastante conectadas ( co-dependência ) ao agressor ou são economicamente dependentes. Todos<br />

estes aspectos são barreiras, conforme cita Brookfoff, que não são usualmente explorados nos<br />

atendimentos especializados e/ou outros a estes casos. Por outro lado, há ainda muito preconceito<br />

em relação ao dependente químico, seja ele usuário de álcool ou outras drogas. A falta de<br />

conhecimento destas questões pode levar à frustração que muitos médicos e outros profissionais<br />

expressam acerca da não aderência ao tratamento por partes dos dependentes químicos e das<br />

vítimas de violência familiar.<br />

21


A Terapia Comunitária ajudou a quebrar uma barreira cristalizada nestas pessoas, pois tinham<br />

perdido a capacidade, entre outras tantas, de comunicarem-se e confiar na sabedoria da própria<br />

comunidade para obter resoluções possíveis para seus conflitos. Esta experiência certamente<br />

precisaria de mais tempo e estudos mais aprofundados, entretanto, revelou que a Terapia Comunitária<br />

com o conhecimento de violência e da dependência química são de aplicabilidade eficaz.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BARRETO, Adalberto - Terapia Comunitária, Fortaleza, 2004.<br />

BROOKOFF, D; O´Brien, KK; Cook, CS; Thompson, TD; Williams, C.<br />

Characteristics of participants in domestic violence: assessment at the<br />

scene of domestic assault. Journal of American Medical Association,<br />

277 (17): 1369-1373, 1997.<br />

Caderno do 1o Fórum de Debates sobre Violência Doméstica e Familiar –<br />

Conhecer para Combater, 2006.<br />

FERREIRA, S. E et alli Neuroadaptação: uma proposta alternativa de atividade física para<br />

usuários de drogas em recuperação, Revista Brasileira de Ciência e Mov. v.9,n.1, p<br />

31-39, Brasília 2001<br />

FIGLIE, N et alli – Aconselhamento em Dependência Química, Rocca,<br />

São Paulo, 2004<br />

FLOYD, M. Ballroom dance lessons for geriatric depression: an exploratory study,<br />

The Arts in Psychotherapy, 2005<br />

IRONS, R & Scheneider, JP. When is domestic violence a hidden face of<br />

addiction? Journal of Psychoative Drugs; Vol 29, pages 337-334, 1997.<br />

LEONARD, KE. Alcohohol´s role in domestic violence: a contribution cause<br />

or an excuse ? Acta Psychiatrica Scandinavica, 2002: 106 ( Suplemento<br />

412): 9-14, 2002.<br />

NOTO, AR, Fonseca; AM, Silva, EA; Galduróz, JCF. Violência domiciliar<br />

associada ao consumo de bebidas alcoólicas e de outras drogas: um<br />

levantamento no Estado de São Paulo – CEBRID ( Centro Brasileiro de<br />

Informações sobre Drogas Psicotrópicas ) Universidade Federal de São Paulo.<br />

Oliveira, Lívia F Lopes S. A violência contra mulheres e seus fatores psicológicos :<br />

a (co)dependência como aprisionamento da alma,<br />

Congresso Sul Mineiro de Medicina Psicossomática MG, 2003.<br />

Oliveira, Lívia F Lopes S. Violência doméstica e álcool : duas faces da mesma moeda ?,<br />

Congresso da Associação Brasileira dos Estudos de Álcool e outras Drogas, ABEAD,<br />

Ouro Preto, MG, 2004<br />

OLIVEIRA, Lívia F Lopes S. - Violência Doméstica & Álcool , Comunidade & Prevenção –<br />

uma Proposta de Promoção de Saúde, UNIFESP, 2006<br />

22


A TERAPIA COMUNITÁRIA NO MATRICIAMENTO EM SAÚDE MENTAL<br />

Autora: Carmen Tereza Gonçalves Trautwein1 1<br />

“Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e você<br />

as ajudará a se tornarem aquilo que elas são capazes de ser” (Goethe)<br />

RESUMO: A organização da rede de assistência à Saúde mental no Sistema único de Saúde do<br />

Brasil apresenta desafios importantes a serem vencidos frente ao crescente número de pessoas<br />

com agravos mentais e a desospitalização gradativa dos cidadãos. No município de São Paulo a<br />

Terapia Comunitária tem sido a estratégia que possibilita o empoderamento dos pacientes, tornando-os<br />

co-participantes do processo. Desde 2006, no território de uma UBS da região sudeste<br />

da cidade esta estratégia foi aliada à tecnologia do apoio matricial, favorecendo maior acesso<br />

dos pacientes ao serviço por meio do acolhimento, permitindo a ampliação da clínica e melhor<br />

resolutividade das problemáticas apresentadas.<br />

PALAVRAS CHAVES: Matriciamento; acolhimento; Saúde mental.<br />

Este artigo retoma a experiência que vem se desenvolvendo na cidade de São Paulo, mais especificamente<br />

na região Sudeste, Supervisão Técnica de Saúde do Ipiranga, de aliar o Matriciamento<br />

à Terapia Comunitária, na tentativa de dar solução ao grave problema de insuficiência de assistência<br />

em saúde mental na região.<br />

A palavra matriciamento refere-se ao lugar onde algo é gerado, criado, em analogia ao útero<br />

do corpo das fêmeas dos mamíferos que produzem a vida única e singular (FERREIRA,<br />

1988). Objetivando o acesso, a cobertura e a resolutividade das ações voltadas aos portadores<br />

de enfermidades mentais; reforçando o papel das Unidades Básicas de saúde (UBS) como porta<br />

preferencial de entrada, o Projeto Cuidar Sempre (2006) da Secretaria Municipal da Saúde da<br />

Prefeitura Municipal de São Paulo, forneceu as bases para que se gerasse e implantasse o Projeto<br />

de Matriciamento em Saúde mental na região do Ipiranga (DALTIO,2006).<br />

Os participantes deste projeto estabeleceram uma relação de troca de saberes entre profissionais<br />

de diferentes serviços que passaram a contar com o suporte técnico de uma médica psiquiatra<br />

que, adotando um sistema de atendimento itinerante, passou a dar retaguarda às ações em saúde<br />

mental das equipes nas UBS(s) que não dispunham de psiquiatra. Iniciando por uma “ficha de<br />

acolhimento”, os profissionais realizavam as entrevistas iniciais de acolhimento em saúde mental,<br />

registrando os dados, bem como a história de vida do paciente. Ao receber a visita itinerante<br />

da médica, juntamente com esta, discutiam o caso; realizavam interconsulta (atendimento multidisciplinar<br />

em conjunto), visita domiciliar e a partir das conclusões ou achados; elaboravam o<br />

projeto terapêutico singular para o paciente. Tal projeto poderia incluir acompanhamento sistemático<br />

por psiquiatria e, neste caso, era encaminhado a um dos cinco psiquiatras da rede; terapia<br />

(com psicólogo, terapeuta ocupacional, ou com outro profissional) em grupo ou individual, o<br />

que era realizado pelos profissionais da UBS onde o caso era acolhido; e/ou encaminhamento<br />

aos grupos de promoção e prevenção em saúde mental.<br />

1 Psicóloga pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Psicopedagoga (Faculdade Senador Fláquer – Sto<br />

André – SP), Psicoterapeuta de Adolescentes (Sedes Sapientiae – SP), Mestre em Psicologia pela UNIMARCO (Universidade<br />

São Marcos – SP), Assessora de Saúde Mental da Supervisão Técnica de Saúde do Ipiranga – PMSP.<br />

E-mail: carmentereza@bol.com.br; ctgoncalvest@prefeitura.sp.gov.br<br />

23


Na UBS jardim Seckler, unidade foco deste trabalho eram oferecidos grupos como caminhada e<br />

alongamento, meditação e relaxamento, terceira idade e ainda terapia comunitária (TC).<br />

A Terapia Comunitária, criada pelo psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto (2005) tornou-se<br />

estratégia de política pública para prevenção e promoção de saúde mental pelo Ministério da<br />

Saúde em todo o território nacional. O município de São Paulo é uma das cidades pioneiras nesta<br />

estratégia, uma vez que tem desenvolvido sua prática desde 2003. Seu objetivo é a legitimação<br />

do sofrimento pela oportunidade de verbalizá-lo na comunidade, favorecendo através da fala das<br />

pessoas a criação de redes de organização e solidariedade social a partir dos encontros.<br />

Na UBS Jardim Seckler iniciou-se em agosto de 2005, como parte da oferta de um cardápio de<br />

abordagem ao paciente que solicitasse atendimento na equipe de saúde mental da unidade. Vale<br />

ressaltar que somente esta UBS contava com grupo de acolhimento em saúde mental semanal<br />

de “porta aberta” onde, independente do número de pacientes que solicitavam atendimento,<br />

todos eram acolhidos. O acolhimento em grupo, em consonância com o Projeto acolhimento<br />

da Secretaria municipal da Saúde (2002), foi uma estratégia encontrada pela equipe de saúde<br />

mental da UBS, na época, formada por duas Psicólogas, uma Assistente Social, uma Terapeuta<br />

Ocupacional e uma Fonoaudióloga; para possibilitar o acesso, eliminando as filas de espera para<br />

a primeira consulta.<br />

Após o acolhimento, indicava-se a forma de atendimento planejada pela equipe, previamente<br />

discutida com o paciente. Uma das formas de atendimento poderia ser a Terapia Comunitária,<br />

que por ser um grupo aberto, sem determinação de patologia ou idade, mostrava-se interessante<br />

para ofertar ao paciente. A característica de grupo sem agendamento prévio, sem obrigatoriedade<br />

de presença, no entanto, trazia para a equipe a dúvida se teria adesão de usuários. Manteve-se<br />

com baixa adesão, até que se iniciaram em 2006 os encaminhamentos da médica psiquiatra do<br />

Matriciamento. Constatou-se a partir de então o aumento de participantes, bem como o fortalecimento<br />

dos vínculos dos usuários aos demais membros e aos terapeutas da TC. Evidenciou-se<br />

também a melhor resolutividade dos problemas dos pacientes.<br />

Nesta UBS, a terapia comunitária revelou-se como o dispositivo clínico-terapêutico singular<br />

daquele território ao permitir que pacientes antes diagnosticados como portadores de transtorno<br />

de humor, de transtornos mentais comuns, deficientes mentais ou outras categorias psicopatológicas<br />

expressassem a dor de seu sofrimento enquanto seres humanos, independentes de suas<br />

doenças. Ao falarem de suas dificuldades, foram ouvidos e compreendidos, fazendo com que se<br />

sentissem pertencentes a um grupo de pessoas e não apenas integrantes de um grupo de doentes.<br />

Os dados obtidos, ainda em fase de sistematização, só nos permitem explicitar aqui alguns<br />

exemplos de casos, como o caso de Rosa (nome fictício), mulher de quarenta e dois anos, casada,<br />

moradora em área de grande privação e vulnerabilidade social, que após ser acolhida na<br />

UBS, retorna em crise, dizendo-se não conseguir parar de limpar a casa dia e noite nos últimos<br />

quinze dias. Seu diagnóstico discutido por matriciadores e matriciados, levou à indicação de TC,<br />

a qual ela freqüentou por quatro semanas, tempo suficiente para relembrar que há vinte anos<br />

atrás, durante uma consulta ginecológica, realizou uma curetagem, o que a fez sentir “cheiro de<br />

carne humana queimando” (sic).<br />

24


Iniciaram-se ali os sintomas de mania de limpeza, pois segundo ela, “foi como se o cheiro de<br />

coisa podre” (sic) permanecesse em suas narinas. No último mês, tais sintomas agravaram-se ao<br />

perceber que estava ficando velha e não teria filhos. Passou a ter medo da dependência e da solidão.<br />

Seu marido, depois de anos afastado do mercado de trabalho, voltou a trabalhar e lhe pediu<br />

que diminuísse suas atividades como faxineira diarista, o que a fez sentir-se ainda mais solitária,<br />

levando-a ao colapso de limpar o próprio barraco de 3x4 metros durante dias e noites sem parar.<br />

A TC lhe possibilitou relembrar e re-significar seus pensamentos, reestruturando-os para novos<br />

projetos, como o de viajar ao nordeste, rever a família e se divertir depois que uma usuária do<br />

grupo destacou que com o nome de flor, ela levava perfume onde quer que fosse.<br />

Dona Alzira (nome fictício), uma senhora de oitenta e nove anos, revelou sorrindo que recentemente<br />

deixou uma panela de sopa no fogo e foi “descansar os olhos e acabou adormecendo”<br />

(sic). O grupo a escolheu como protagonista e algumas pessoas verbalizaram o incômodo que<br />

sentiram em ouvir sua fala divertida, como se contasse uma piada, sem se dar conta do risco de<br />

morte que sofrera. O desenvolvimento do encontro a faz perceber que não desejava completar<br />

noventa anos. Estava com medo de se tornar dependente, que a família não a deixasse continuar<br />

morando sozinha, embora estivesse com boa saúde e autonomia. Percebeu que estava “em busca<br />

da morte” (sic) e refletiu que “não adiantaria esta peripécia” (sic). Perdoando-se por realizar tal<br />

manobra, retomou sua alegria genuína, deixando, pelo menos tão intensamente, de pré-ocupar-<br />

-se com o avançar da idade.<br />

Rubens (nome fictício), um senhor de cinqüenta anos, com tremores e muito nervoso veio pedir<br />

renovação da receita de benzodiazepínico em uso por quinze anos iniciados após episódio de<br />

depressão em situação de desemprego. Discussões na equipe de matriciamento resultaram na<br />

indicação de TC, grupo de caminhada e esquema de redução programada da medicação. Este<br />

projeto terapêutico o deixou com ansiedade diante da idéia de ficar sem o medicamento, achando<br />

que não iria conseguir. Não aderiu ao grupo de caminhada, embora tivesse tempo livre para<br />

fazê-lo, mas tornou-se participante assíduo da TC e após seis meses, comemorou no grupo o fim<br />

do esquema de redução da medicação dizendo senti-se confiante que dali em diante conseguiria<br />

viver livre do remédio.<br />

Um último exemplo, Adriana, para quem após o acolhimento, foi indicado TC e meditação,<br />

afirmou que não poderia faltar ao trabalho e optou em participar somente da meditação. Apresentou<br />

mal estar no trabalho (tremedeira, desmaio, falta de ar e angústia). Veio à unidade para se<br />

consultar com o clínico que a inseriu no matriciamento. A psiquiatra lhe prescreveu fluoxetina<br />

e o clínico, integrado no projeto terapêutico da paciente, deu continuidade às prescrições. Na<br />

ocasião, paciente solicitou afastamento do trabalho dizendo não conseguir desempenhar mais<br />

suas funções, evidenciando possíveis sinais de grave depressão. Diante de tal pedido, o médico<br />

sugeriu, segundo a paciente, que ela esperasse que o remédio começasse a fazer efeito e iniciasse<br />

TC, o que ela ainda se mostrava relutante, porém passou a fazê-lo com a piora das crises.<br />

25


Já na primeira sessão, falou da perda do irmão assassinado em Dezembro de 2005, sem que a<br />

família tomasse conhecimento dos motivos e da autoria. Após a perda do irmão de forma trágica,<br />

sua mãe “ficou muito desgostosa e deixou de se cuidar” (sic), sendo que já apresentava<br />

problemas de hipertensão e dependência química a bebidas alcoólicas. Sua mãe veio a falecer<br />

em dezembro de 2006 após queda com traumatismo craniano. A paciente encontrava-se sozinha<br />

na sala de espera do hospital quando lhe deram a notícia da morte da mãe e achou muito ruim a<br />

sensação de se sentir só num momento como este. Passou então a “preparar” seus outros familiares<br />

para a morte dela, Adriana, o que segundo seu pressentimento deveria ocorrer em dezembro<br />

de 2007, mês em que completaria a terceira década de vida e, tal como a mãe e irmão, faleceria.<br />

Paciente revelou que se sentiu culpada pela morte da mãe, pois tentou ajudá-la cuidando de seus<br />

problemas de saúde, mas desistiu já que esta não lhe dava atenção, afirmando que desejava morrer.<br />

No dia da morte da mãe, a paciente deu andamento a uma festa de batizado de sua filha que<br />

já estava programada. Ouvindo censuras de seu marido por isto.<br />

Após estes fatos, paciente passou a apresentar sintomas psicossomáticos. Sentiu-se sobrecarregada,<br />

pois o marido estava desempregado e era ela quem trabalhava e cuidava de tudo e de todos<br />

com o salário de empregada doméstica. Falava que sua patroa era muito compreensiva com suas<br />

crises, mas não aceitava as faltas ao trabalho, orientado-a a pedir afastamento. Em uma de suas<br />

crises de fim-de-semana buscou atendimento na emergência psiquiátrica, onde lhe foi prescrito,<br />

segundo ela, que aumentasse a dose de fluoxetina.<br />

Freqüentou a TC durante todo o ano de 2008, apresentando lentas melhoras desde seu início.<br />

Seu retorno após os feriados de fim de ano de 2007 emocionou a todos no grupo. Durante os encontros<br />

foi refletindo sobre sua vida de “resolvedora de tudo” (sic) na família e tomou a decisão<br />

de se cuidar. Aliou a terapia medicamentosa e TC às caminhadas e meditações ao mesmo tempo<br />

em que foi percebendo o quanto era útil ao grupo, orientando e protegendo os mais velhos.<br />

Descobriu que estava repetindo na UBS a dinâmica de “resolvedora” dos problemas dos outros<br />

e tomou novamente a decisão de priorizar suas necessidades. A cada encontro de TC utilizava<br />

sua trajetória de vida para dar em depoimento aos outros participantes. Diminuíram seus sintomas.<br />

O marido percebeu suas mudanças e neste momento iniciam-se as brigas entre o casal. Ela<br />

mudou o rumo de suas narrações para o tema do relacionamento amoroso. Propôs ao marido<br />

separarem-se, mas este ameaçou matar-se, caso ela o deixasse. O casal separou-se por três meses<br />

retomando a convivência marital de forma harmoniosa. Os sintomas, já quase inexistentes no<br />

final de 2008, lhe permitiram voltar a estudar e deixar a função de empregada doméstica para<br />

iniciar a carreira em telemark.<br />

A partir destes exemplos, ressaltamos o quanto a implantação do projeto de Matriciamento em<br />

Saúde mental no Ipiranga reverteu a lógica do re-encaminhamento ao especialista como estratégia<br />

prioritária e a equipe da UBS pôde responsabilizar-se pelos pacientes de seu território,<br />

seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde. Na UBS jardim Seckler a união<br />

do apoio matricial à Terapia Comunitária favoreceu o aumento do atendimento da demanda que<br />

anteriormente mantinha-se reprimida. Como resultado, os pacientes vincularam-se à Unidade,<br />

aderiram à medicação quando esta se fez necessário, questionando-a também em outros momentos<br />

e buscaram novos projetos de ação em seu cotidiano. Esta experiência confirmou a idéia<br />

de que a terapia comunitária não é apenas preventiva, mas também uma efetiva abordagem de<br />

tratamento, que aliada a outras técnicas desenvolve o empoderamento, ao permitir a condução<br />

autônoma deste tratamento por parte do paciente.<br />

26


REFERÊNCIAS:<br />

BARRETO, Adalberto de P. Terapia Comunitária passo a passo. Gráfica LCR: Fortaleza, 2005.<br />

BENEVIDES, B. R. & PASSOS, E. A Construção do Plano da Clínica e o Conceito de Transdisciplinaridade.<br />

Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília16 (1): 071 – 080, 2000.<br />

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Humanização. Documento base para gestores<br />

e trabalhadores do SUS. /BRASIL, Brasília, DF,2004<br />

DALTIO, Claudiane S. Projeto de Matriciamento em Saúde Mental. Texto Xerox, 2006.<br />

FERREIRA, Aurélio B. H. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Nova Fronteira:<br />

São Paulo, 1988.<br />

CAMPOS. Gastão W. S. Um método para análise e co-gestão de coletivos – a construção do sujeito,<br />

a produção de valor de uso e a democracia em instituições: o método da roda. Ed.Hucitec,<br />

São Paulo, 2000.<br />

REVISTA SÃO PAULO SAÚDE. São Paulo; Secretaria Municipal da Saúde, n.1, Abr.2003.P.<br />

9 e 19.<br />

MINISTÉRIO DA SAÚDE, REVISTA BRASILEIRA SAÚDE DA FAMÍLIA. ANO IX, n.19,<br />

Julho/ Setembro 2008, p.34 a 39.<br />

SÃO PAULO, Secretaria Municipal da Saúde. Acolhimento: O pensar, o fazer, o viver. São<br />

Paulo, 2002.<br />

27


“CUIDANDO DO CUIDADOR”: UMA TERAPIA<br />

28<br />

Marlene Rodrigues Gomes da Silva 1<br />

“A arte de cuidar é a arte de levar a esperança<br />

e nutrir a fé em nossa capacidade de resistir<br />

e superar as adversidades da vida” 2 .<br />

Adalberto Barreto<br />

Resumo<br />

O curso “Cuidando do Cuidador”, elaborado e coordenado por Adalberto Barreto, a nível de<br />

extensão da Universidade Federal do Ceará – UFC, consiste em um conjunto de vivências inspiradas<br />

em conceitos e técnicas da medicina oriental, adaptadas à realidade cultural do brasileiro.<br />

Consta também, de partilhas de experiência, embasadas em uma reflexão dialética, que<br />

possibilita aos participantes, perceberem suas competências e a evidenciar padrões mentais ou<br />

transgeracionais. Este trabalho traz o resultado de uma pesquisa, que buscou identificar como<br />

os cuidadores se cuidam, que benefícios obtiveram para o seu bem-estar e para aumentar a sua<br />

competência funcional ao participar do curso “Cuidando do Cuidador” e que estratégias os sensibilizaram<br />

a participar deste programa, com um propósito terapêutico e de cuidado.<br />

Palavras-chave: cuidando do cuidador; terapia; terapêutico.<br />

Introdução<br />

Ao exercer a arte de cuidar, Barreto (2008), afirma que deve-se ter a consciência de que o que se<br />

faz hoje se inscreve na história de vida da pessoa. Adverte, ainda que, sem essa consciência, a<br />

pessoa corre o risco de se tornar mero “tarefeiro”, perdendo a chance de se beneficiar das ações<br />

que realiza, provocando equívocos que pode interferir na atitude da pessoa frente a vida e as<br />

relações.<br />

Observando a prática do cuidado na relação terapêutica, quando a pessoa não leva em conta<br />

o explicitado acima, percebe-se, muitas vezes, o foco na ação, desconsiderando o contexto, tanto<br />

da pessoa que é cuidada, quanto do cuidador. Melhor explicitando: há uma tendência de focar o<br />

procedimento, negando a presença dos “atores”. Deve-se ressaltar que a distinção entre o procedimento<br />

e a pessoa é uma característica da prática científica, porém quando há uma ruptura<br />

nessa relação pode ser causa de algum incômodo que, ao invés de atingir os benefícios a que se<br />

propõe, pode-se até mesmo levar a patologias.<br />

O presente estudo busca evidenciar como o programa “Cuidando do Cuidador” pode ser um<br />

procedimento terapêutico que atua sobre esta cisão (ruptura) entre as pessoas e entre a pessoa e<br />

a sua função, propondo a vida enquanto processo que está em movimento e interação ininterrupto.<br />

O objetivo é sensibilizar a comunidade de cuidadores, profissionais e agentes comunitários<br />

para a importância de se cuidarem, como fonte de desenvolvimento para perceber e exteriorizar<br />

potencialidades e favorecer o bem estar pessoal e profissional.<br />

1 Graduada em Ciências Físicas e Biológicas e Matemática, graduanda em Psicologia, mestranda em Educação e<br />

Linguagem, vinculada em Movimento Integrado de Saúde Comunitária de Minas Gerais – MISC Minas e a Faculdade<br />

Pitágoras de Ipatinga,MG. E-mail: marlenergs@terra.com.br<br />

2 Livro: Terapia Comunitária passo a passo, p. 109.


Este estudo apresenta como relevância o resultado de uma pesquisa junto aos participantes do<br />

“Cuidando do Cuidador” que evidencia os benefícios desta terapia, como procedimento que favorece<br />

esclarecimento sobre: a natureza humana, a percepção da competência, alivia o estresse<br />

e as tensões, e trabalha o centramento corpo e mente. Por último, apresenta a metodologia deste<br />

procedimento terapêutico.<br />

Hipótese<br />

Profissionais que buscam atualizações e formas de se cuidar, exercem com mais eficiência e<br />

eficácia a sua função e favorecem seu bem estar bio-psico-social.<br />

Origem e evolução do termo “Terapêutica” e “Terapia”.<br />

O termo “Terapêutica”, em português é do século XVII-XVIII; em espanhol, 1555; em italiano,<br />

do século XVII-XVIII; em francês, 1671; em inglês, 1541 e do alemão, século XVII; todos<br />

originados do latim Therapeutica e do Grego Therapeutikê, a “arte da cura”. Significa “aquele<br />

que serve, que presta serviço com a finalidade de curar, ter cuidado, servir, honrar, prestar cuidados<br />

médicos, tratar”. No grego o termo “Terapeutikê”, a “arte da cura” é sinônimo do termo<br />

Therapeia - terapia, tratamento médico, cura.<br />

A terapêutica, como ramo da medicina, se ocupa do tratamento das doenças, consideradas sobre<br />

diferentes aspectos, com fins curativos ou paliativos, fundamental ou complementar, higiênica,<br />

dietética, psiquiátrica, cirúrgica, ortopédica, etc. Aparecendo numa mesma linha de atuação<br />

ou associada a procedimentos diversos, subentende-se sempre uma terapêutica medicamentosa.<br />

Pelo fato de os medicamentos existirem em função da doença, sua indicação é precedida por<br />

um minucioso exame diagnóstico do paciente para avaliar a real necessidade e predisposição do<br />

organismo. De modo geral, predominam os seguintes interesses, entre outros, ao ministrar um<br />

medicamento: a) curar; b) atenuar sinais e ou sintomas de doenças; c) amparar psiquicamente o<br />

doente.<br />

Ainda neste aspecto de cuidado físico, existe o profissional que é responsável pela eficiência<br />

do uso dos medicamentos e outros suportes ao tratamento médico, que cabe ao enfermeiro. A<br />

terapêutica medicamentosa é, a princípio, um cuidado físico, assim como são os procedimentos<br />

da enfermagem e outros, necessários à sobrevivência e o bem estar físico da pessoa.<br />

Com o tempo, o sentido da terapêutica passou a incluir cuidados para solução dos muitos<br />

problemas existenciais do ser humano. Este procedimento, ‘terapia psíquica’, foi denominado<br />

‘psicoterapia’. A psicoterapia, segundo Cordiol (2007) é um conjunto de conhecimentos teóricos<br />

ou práticos de tratamentos, referentes à psique humana. Tais práticas são aplicadas de forma<br />

sistemática, visando ajudar as pessoas que apresentam distúrbios nos mais variados graus. A<br />

psicoterapia pode também ajudar as pessoas que apresentam dificuldades emocionais e existenciais.<br />

A essa categoria, aliás, pertence a maioria dos pacientes.<br />

“Cuidando do Cuidador”: uma terapia<br />

O programa “Cuidando do Cuidador”, um novo procedimento criado pelo professor Adalberto<br />

Barreto, doutor em Psiquiatria e Antropologia, sob os auspícios da UFC, visa atender aos<br />

profissionais ou pessoas que cuidam de outros seres humanos.<br />

Trata-se de um curso de extensão da UFC, que é considerado uma terapia e não psicoterapia, por<br />

estar em acordo com a idéia de Barreto (2008) que captou os seguintes significados: “Acolher,<br />

ser caloroso, servir e atender”. A nomeação “terapia” também se deve ao fato de que, segundo<br />

observações feitas por Barreto, muitas das alegações patológicas trazidas pelos pacientes não se<br />

mostravam evidentes após o minucioso exame diagnóstico, concluindo, então, que eram somatizações.<br />

29


O “Cuidando do Cuidador” utiliza, também, os conceitos da obra de Nathaniel Branden: “Auto-<br />

-estima e os seus seis pilares”. Melhor dizendo: o propósito do “Cuidando do Cuidador” é<br />

propiciar aos seus participantes vivenciarem no dia-a-dia os seis pilares da auto-estima, que são:<br />

a) Viver conscientemente; b) Auto-aceitação; c) Auto-responsabilidade; d) Auto-afirmação; e)<br />

Intencionalidade; f) Integridade pessoal.<br />

Contudo, deve-se ressaltar que os pressupostos teóricos deste curso são os mesmos da Terapia<br />

Comunitária, quais sejam: “Antropologia”, “Pedagogia de Paulo Freire”, “Pensamento Sistêmico”,<br />

“Resiliência” e “Teoria da Comunicação”, onde as vivências do “Cuidando do Cuidador”<br />

constituem 1/3 da carga horária presencial do curso de Terapia Comunitária.<br />

O programa “Cuidando do Cuidador”, além de ser, um conjunto de vivências inspiradas em<br />

conceitos e técnicas da medicina oriental, adaptadas à realidade brasileira, consta de partilhas de<br />

experiência, embasadas em uma reflexão dialética, que possibilita aos participantes, perceberem<br />

suas competências a partir da história de vida e evidência de padrões mentais ou transgeracionais.<br />

Propiciando uma leitura de mundo pela ótica da diversidade, onde os integrantes aprendem<br />

com o grupo a construir co-participativamente, além de elaborar suas estratégias de superação<br />

em um modelo colaborativo.<br />

Barreto (2008) ressalta que são vários os caminhos que conduzem ao conhecimento e<br />

conferem competência a uma pessoa: dentre eles aparecem as escolas, as universidades como<br />

instituições detentoras de saber, com seus rituais de iniciação, seus títulos e teorias e uma outra<br />

fonte de saber é a vivência pessoal, onde os obstáculos, os traumas, as carências e os sofrimentos<br />

superados transformam-se em sensibilidade e competência. Um ponto alto do curso “Cuidando<br />

do Cuidador” constitui-se das vivências e conversações que ajudem a pessoa a identificar as<br />

vivências que a credencia para fazer o que faz, destacando especialmente a história da criança.<br />

O lema proposto por Barreto (2008): “minha primeira escola foi minha família e meu primeiro<br />

mestre foi a criança que fui”.<br />

Metodologia da Terapia “Cuidando do Cuidador”<br />

O curso tem uma carga horária de 80 h. É aconselhável acontecer num regime de imersão.<br />

Dependendo das circunstâncias do grupo, pode ser realizado em dois encontros de 40 h. Numa<br />

versão aplicada, o mesmo já foi trabalhado em empresas, com um encontro inicial de fim de<br />

semana, seguido de encontros semanais, de 3 horas, até completar uma carga horária mínima<br />

adequada ao contexto e aos objetivos a serem atingidos.<br />

O curso consta da uma programação que inclui dentre outros, os temas: a) refletindo os pilares<br />

da auto-estima; b) trabalhando o estresse e as tensões; c) trabalhando o centramento corpo /<br />

mente; d) resgatando a criança interior; e) trabalhando a integração do masculino e do feminino.<br />

As vivências obedecem a seguinte seqüência: Fase I: Acolhimento; Fase II: Explicação sobre<br />

a técnica utilizada; Fase III: Aquecimento; Fase IV: A atividade principal ou vivência propriamente<br />

dita; Fase V: Partilha.<br />

Quando o curso é realizado em Morro Branco, localidade próxima a Fortaleza, seu programa<br />

inclui massagens terapêuticas, banhos de mar, passeios e visita ao Projeto Quatro Varas, onde se<br />

participa de uma Roda de Terapia Comunitária.<br />

30


Na experiência de Barreto (2001:15), este procedimento terapêutico tem permitido:<br />

compreender que toda exclusão é auto-exclusão e todo abandono é<br />

auto-abandono; estimular o crescimento e a transformação de indiví<br />

duos e de grupos sociais; reforçar na pessoa tudo o que ela tem de<br />

belo, de admirável, levando-a a acreditar em si mesma; perceber a<br />

natureza humana, com suas possibilidades de erros e acertos, fato<br />

que leva a aceitação da diversidade, sem discriminação e<br />

preconceito.<br />

Resultado da pesquisa<br />

A Pesquisa foi realizada junto aos Terapeutas Comunitários vinculados ao Movimento Integrado<br />

de Saúde Comunitária de Minas Gerais – MISC Minas. Pólo Formador de Terapeutas Comunitários<br />

em parceria com a Associação Brasileira de Terapia Comunitária – ABRATECOM,<br />

cujos cursos são Certificados pela Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará - UFC.<br />

O tipo de pesquisa foi exploratória, com a aplicação de um questionário para verificar que<br />

atualizações têm favorecido aos profissionais aliviar tensões pessoais no exercício da profissão,<br />

bem como os benefícios que eles obtiveram participando da terapia “Cuidando do Cuidador”,<br />

além de explicitar o que os levou a participar desse programa.<br />

A amostra foi de 15 pessoas que participaram do “Cuidando do Cuidador” e que estavam atuando<br />

no V Módulo do Curso de Terapia Comunitária, realizado no período de 15 a 17/06/2007,<br />

em Ipatinga/MG. Dentre eles as profissões identificadas foram: 04 psicólogos, 03 Professores,<br />

02 Terapeutas holísticos, 01 dentista, 01 advogado, 01 religioso, 01 fiscal tributário e 02 estudantes<br />

de psicologia.<br />

Foi efetivada uma análise comparativa, qualitativa e quantitativa das respostas e elaborado<br />

um documento que representou as informações levantadas e que responderam ao problema da<br />

pesquisa. Neste trabalho, busca-se apresentar de forma sintética o resultado das questões consideradas<br />

relevantes para este artigo.<br />

À questão: “Você tem feito atualizações que aumentem sua competência Profissional? Cite<br />

quais”. Todos responderam SIM e na descrição aparecem as seguintes freqüências: 15, citaram o<br />

Curso Cuidando do Cuidador; 13, o Curso de Terapia Comunitária; 13, Roda de Terapia Comunitária;<br />

07, o Curso de Psicanálise e Psicanálise Aplicada à Educação; 03, o Curso de Psicologia;<br />

03, o Curso e grupo de Constelação Familiar e 02 citaram outras atualizações como leituras,<br />

Cursos de: Teatro, Massoterapia, Fito terapia e homeopatia<br />

31


À questão: “Essas atualizações conseguiram aliviar tensões pessoais, no exercício da profissão?”<br />

Todos responderam SIM e merecem destaque os comentários que se referiam ao “Cuidando do<br />

Cuidador”: “Consegui conhecer motivos profundos que provocavam tensões: culpas, boicotes,<br />

punições inconscientes. Ao torná-las consciente, ficou mais fácil lidar”; “Proporcionou recursos<br />

práticos para meu trabalho como psicoterapeuta”; “Percebi a vida como um processo, ao mesmo<br />

tempo em que aliviaram tensões do cotidiano, provocaram saltos evolutivos e encontrei novas<br />

questões”; “Descobri que não vou resolver todos os problemas da vida. Tem uns que é preciso<br />

deixar pra lá”; “Perceber que há mais de uma solução para os problemas me ajudou muito”;<br />

“Proporcionou-me melhor desempenho e segurança”<br />

À questão: “Quais outras atividades você tem feito visando o seu bem estar bio-psico-<br />

-social?” Percebe-se nesta questão uma diversidade de práticas voltadas para o entretenimento e<br />

cuidados pessoais, sobressaindo os itens: Meditação, oração, reflexão constituem prática de 12<br />

participantes; Caminhada, dança e exercícios físicos, 09; Horta, jardim e natureza, 03; Análise e<br />

psicoterapia, 02 participantes.<br />

À questão: “Que benefícios você obteve para aplicação em sua função de cuidador, ao participar<br />

do ‘Cuidando do Cuidador’?” Nesta questão, o aspecto que sobressai é “perceber e confiar<br />

na competência - entendida como a percepção dos valores adquiridos com a experiência”, apontada<br />

por 12 participantes, destacando, ainda: “Me senti descansada”, “sistematizar um trabalho<br />

comunitário e mobilizar as pessoas de um grupo”; ‘bem estar psicológico e centramento”; “Me<br />

conhecer enquanto ser humano me fez ‘descer’ cá para baixo e aproveitar os recursos da vida,<br />

aqui e agora. Com isso, me tornei mais tolerante e tranqüila. Tomei decisões importantes para<br />

minha vida”<br />

À questão: “Qual o aspecto mais relevante desse curso?” Foram apontados os seguintes<br />

aspectos: “Fazer uma reciclagem com Dr. Adalberto sobre qualidade de vida do terapeuta me<br />

fez bem”; “Confiar no meu potencial pessoal e do cliente”; “Descobrir que o outro é o meu espelho.<br />

O que vejo nele e me incomoda é o que eu mais repudio em mim”; “Desamarrar ‘nós’ que<br />

entravam minha vida”; “Capacitação para viver e conviver com as pessoas nas mais diversas situações<br />

, respeitando a cultura de cada uma”; “É descobrir que temos falhas, mas também temos<br />

competências”; “Descoberta e reconhecimento das minhas competências”; “Compreender que<br />

primeiro devo aprender a cuidar de mim”; “Reconhecer e resgatar a história pessoal me ajudou<br />

a perceber que tenho uma competência inata e assim pude potencializá-la”; “Pude perceber a dimensão<br />

do cuidar. Cuidando do outro resgato minha própria história. Do contrário, estou sendo<br />

‘tarefeiro’”;<br />

À questão: “Que motivo o levou a participar do ‘Cuidando do Cuidador’?” Dentre os motivos<br />

apresentados pelos participantes da pesquisa, destacam-se com maior freqüência as questões<br />

pessoais: Aprimoramento das habilidades para ser cuidador e cuidar-se, resgate da auto-estima,<br />

auto-conhecimento, melhorar relacionamentos, alívio das tensões, conhecer novas estratégias<br />

de cuidado, atualizações, saúde física e mental e como ferramenta para enriquecer a pratica<br />

profissional.<br />

32


Conclusão<br />

O Programa “Cuidando do Cuidador” pode ser considerado uma “terapia” constituída de um<br />

conjunto de vivências e procedimentos que visam trabalhar o estresse, as tensões e o centramento<br />

corpo / mente, enfim, prevenir as somatizações, além de se constituir num procedimento que<br />

favorece aos participantes “perceber e confiar na competência”, conforme mostra o resultado da<br />

pesquisa.<br />

Diante da hipótese: Profissionais que buscam atualizações e formas de se cuidar, exercem<br />

com mais eficiência e eficácia a sua função e favorece seu bem estar bio-psico-social, pode se<br />

verificar pelos depoimentos, que as atualizações fazem diferença para suas vidas e foram relatados<br />

diversos benefícios terapêuticos do “Cuidando do Cuidador”<br />

Embora a pesquisa tenha sido realizada com uma mostra pequena, pelos depoimentos e<br />

resultados obtidos, a partir, da pesquisa, leva-se a conclusão de que todos os profissionais envolvidos<br />

com práticas que envolvem cuidado se beneficiariam participando desse programa de<br />

vivências e partilhas de experiências que pode ser considerado uma terapia.<br />

Após a apresentação do resultado da pesquisa, a diretoria do MISC Minas se mobilizou para<br />

realizar um curso “Cuidando do Cuidador” e que entrou na programação de 2008. A primeira<br />

etapa aconteceu, de 18 a 21 de abril de 2008, e a segunda etapa aconteceu, de 11 a 14 de junho<br />

de 2009, sendo formados 30 multiplicadores, aproximadamente. Em desdobramento, vem ocorrendo<br />

semanalmente as Vivências Terapêuticas, na Sede do MISC Minas, como parte do estágio<br />

de capacitação.<br />

Referência bibliográfica<br />

BARRETO, A. P. Terapia Comunitária Passo a Passo. 3 ed. Fortaleza: LCR, 2008.<br />

______. O Índio que Vive em Mim. 1ª Ed. São Paulo: Terceira Margem, 2003.<br />

______. Manual do Cuidador. Fortaleza: 2001.<br />

BRANDEN, N. A Auto-estima e seus Seis Pilares. São Paulo: Saraiva, 1995.<br />

CORDIOLI, A. V. et al. Psicoterapias: abordagens atuais. São Paulo: Bookman, 2007.<br />

MIRADOR. Enciclopédia Mirador Internacional. São Paulo. Enciclopédia Britânica do Brasil<br />

Publicações, 1977.<br />

RATEY, J. O Cérebro: Um Guia para o Usuário. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002<br />

ROBERT, R. B. A Centelha dos Gênios. São Paulo. Nobel, 2001.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecimentos ao MISC Minas, através de seu presidente José Galvão da Silva Flávio,<br />

pela acolhida e por autorizar a realização da pesquisa dentre seus associados. Agradecimento,<br />

também aos participantes que colaboraram, respondendo as questões propostas. Agradecimentos,<br />

ainda, a Profa. Ms. Cláudia Cristina de Castro Alves, coordenadora do curso de Psicologia<br />

da Faculdade Pitágoras de Ipatinga e professora da disciplina Aprendizagem e Avaliação em<br />

Metodologia de Pesquisa, que orientou a realização deste trabalho e ao professor Jéferson Jersey<br />

Filho, co-orientador de pesquisa e exemplo profissional. Ao Professor Adalberto Barreto por este<br />

método tão original.<br />

33


A TERAPIA COMUNITÁRIA DENTRO DO PROJETO PEDAGÓGICO<br />

DO CURSO DE PSICOLOGIA<br />

Profa. Dra. Marta Fuentes Rojas 1<br />

RESUMO<br />

A participação do psicólogo na atenção primária implica numa preparação para este campo de<br />

trabalho. A terapia comunitária vem ao encontro oferecendo ao psicólogo um instrumento de trabalho<br />

de promoção e prevenção em saúde mental. Este resumo corresponde ao relato de experiência<br />

da autora no curso de psicologia de uma universidade de ensino superior. Na reformulação<br />

do currículo do curso, foi possível incluir a Terapia Comunitária na unidade temática Praticas<br />

Psicológicas I a partir do 2º semestre de 2005, com a finalidade de oferecer aos alunos (as) uma<br />

visão diferente em relação à promoção e a prevenção em saúde nas comunidades. Foi organizado<br />

um eixo temático correspondente a 60 h. aulas teóricas no 5º período e 80 h. no 6º período (sendo<br />

40h de estagio e 40h de supervisão). Nos quatro(4) semestres já cursados foi possível observar<br />

que: o aluno(a) no inicio das aulas apresentou-se desconfiado com a nova proposta, que de alguma<br />

forma vai contra o que já lhe foi passado na sua formação, relacionado com o poder que<br />

lhe outorga o conhecimento, quem sabe o que é melhor para o paciente é ele, percebe que não<br />

tem mais esse poder, logo não é mais um salvador e sem um facilitador. Nas aulas, através de<br />

uma metodologia participativa, os alunos(as) foram-se identificando com os conteúdos teóricos<br />

relacionando-os com a pratica; desenvolveram uma postura critica em relação ao uso das técnicas<br />

e sua contribuição no desenvolvimento das comunidades. Transformaram seu conceito de<br />

sujeito; sensibilizaram-se com a dor e o sofrimento da comunidade, re-significando seu próprio<br />

conceito de sofrimento; impressionaram-se com a transformação das pessoas. Na TC o aluno(a)<br />

desenvolveu habilidades e competências para saber escutar, fazer silencio, respeitar a historia do<br />

outro; perceber que seu papel é de cuidador/educador e deu menos ênfase ao tratamento e cura;<br />

na pratica testou seus conhecimentos, aprendeu a valorizar o saber da comunidade; compreender<br />

a teoria na pratica, visão do atendimento individual, eminentemente clinico, passa para um<br />

trabalho mais coletivo. Conclui-se que o conteúdo da terapia comunitária tem sido um pretexto<br />

para desmistificar o poder do Professional, desenvolver postura critica, mais humana e solidária.<br />

Além de permitir ao aluno(a) se ver como parte da comunidade, se identificar com o sofrimento<br />

humano e rever o seu papel como pessoa e profissional dentro de uma rede relacional.<br />

1 Psicóloga, Mestre em Educação, Doutora em Saúde Coletiva, Terapeuta Comunitária. Docente da Faculdade<br />

de Ciências Aplicadas da universidade Estadual de Campinas.<br />

34


A psicologia é uma profissão recentemente regulamentada no Brasil, com a lei 4.119 de 27 de<br />

agosto de 1962. Na década de 70 cria-se o Conselho Federal de Psicologia. Em princípios da década<br />

dos 70, a profissão do psicólogo começa a se estabelecer, apesar de ser duramente atacada<br />

pelos médicos. No Brasil a mudança na política de saúde mental, ocorrida no final da década dos<br />

70, é influenciada pela psiquiatria comunitária dos Estados Unidos. A inserção do psicólogo nos<br />

serviços de saúde ocorreu no momento em que o modelo médico entra em crise, e a constatação<br />

de que o psiquiatra não poderia modificar o quadro assistencial no nível público, gerou a necessidade<br />

de criar formas de trabalho multiprofissionais, onde o profissional da psicologia também<br />

fez parte. (BARROS e YAMAMOTO, 1997).<br />

Para estes autores, o psicólogo entra no serviço público, em decorrência da crise econômica que<br />

provoca diminuição no campo privado; da critica feita à psicologia clinica tradicional por não<br />

apresentar um significado social, motivando o surgimento de praticas alternativas socialmente<br />

mais relevantes e dessem conta da demanda social.<br />

Ao mesmo tempo, os hospitais e ambulatórios e os centros de saúde foram os lugares utilizados<br />

para a construção de novos espaços de atuação e, busca de uma inserção social mais significativa<br />

por parte do psicólogo. O impacto dessas novas propostas de formação do psicólogo têm<br />

sido insuficientes para mudar o perfil tradicional deste profissional, identificado com um modelo<br />

de intervenção clinica construído para uma clientela com poder aquisitivo mais elevado. A<br />

produção social da identidade do psicólogo, segundo Nader (1990) resulta da articulação entre<br />

a aplicação de determinado conteúdo teórico-técnico e no nível das representações sociais do<br />

psicólogo e da psicologia.<br />

A participação do psicólogo, na atenção primária, por exemplo, implica numa preparação para<br />

este novo campo de trabalho. Novo porque mesmo estando o psicólogo presente na atenção<br />

básica a sua ação tem sido fundamentalmente clinica e pouco comunitária. Benevides (2005)<br />

afirma que, a psicologia em relação com a saúde publica, e a inserção do trabalho do psicólogo<br />

no debate sobre novos modos de intervenção, além dos enquadres clássicos da clinica individual<br />

e privada, pouco se a preocupado. Talvez por isto o psicólogo não tenha conseguido sair do seu<br />

consultório para atuar no nível mais comunitário. Esta autora manifesta que cuidar do individuo<br />

é por si só emancipador quando voltado para o social, para a comunidade, mas o que se observa<br />

na pratica do psicólogo na saúde publica é a continuidade da clinica, não dando conta da demanda<br />

da comunidade.<br />

Pensar nas interfaces entre a psicologia e o Sistema Único de Saúde, torna-se de extrema importância,<br />

para Benevides (2005), problematizar o que podemos fazer, o que queremos fazer e o que<br />

fazemos para construir outro mundo possível e nele outra saúde possível.<br />

Campos (2000), diz que não é possível pensar praticas dos psicólogos, que não estejam comprometidas<br />

com o mundo, com o país em que vivemos, com as condições de vida da população, com<br />

o engajamento na produção de saúde.<br />

35


Benevides (2005), na sua reflexão sobre o papel da psicologia na saúde publica afirma que a psicologia<br />

é um campo de saber voltado para a subjetividade, se entendida como processo coletivo,<br />

não pode se separar a clinica da política, o individual do social, o singular do coletivo, os modos<br />

de cuidar dos modos de gerir, a macro e a micropolitica. É no método, no modo de operar, em<br />

que pode estar a maior contribuição da psicologia na saúde publica tornando-se indiscutivelmente<br />

num grande desafio para psicologia.<br />

Na fomentação de uma nova política de saúde, abrem-se campos de trabalho para a psicologia,<br />

que passa a problematizar a aplicação de praticas tradicionais, em novos cenários de atuação. O<br />

que implica necessariamente na construção de outras ferramentas de intervenção mais apropriadas<br />

para a efetiva inserção no trabalho na saúde pública. A psicologia da saúde, segundo Borges<br />

e Cardoso (2005), compreende em seus pressupostos, uma intervenção mais local e coletiva, e<br />

é um importante campo de conhecimento e pratica para construir formas diferenciadas de intervenção<br />

na saúde. O que deve levar a psicologia buscar uma assistência menos tecnicista e mais<br />

humanizada numa composição de saberes e fazeres.<br />

A Terapia Comunitária vem ao encontro desta necessidade do psicólogo que trabalha na saúde<br />

pública, oferecendo-lhe um instrumento de trabalho de promoção e prevenção em saúde mental.<br />

Que lhe permite ir alem da técnica para perceber o homem e seu sofrimento numa rede relacional.<br />

Um instrumento que lhe permite identificar não só a patologia, mas trabalhar o potencial das<br />

pessoas que estão em sofrimento. Ao mesmo tempo, a terapia comunitária lhe permita fazer da<br />

prevenção uma preocupação constante e uma tarefa de todos (Barreto, 2005)<br />

A Terapia Comunitária trás um novo olhar para o psicólogo porque o coloca frente a uma realidade<br />

totalmente diferente daquela percebida dentro do seu consultório, lhe permite uma nova<br />

leitura do sofrimento. Ao mesmo tempo, é um instrumento que permite aquecer e fortalecer as<br />

relações humanas, na construção de redes de apoio social. Perceber a força que a comunidade<br />

tem quando ela consegue agir onde muitas vezes a família e a políticas não dão conta. Valorizar<br />

o poder do coletivo, e suas interações no compartilhar, nas identificações com o outro, e no respeito<br />

às diferenças. (Barreto 2005).<br />

Realizar algumas reflexões sobre a experiência da Terapia Comunitária dentro do curso de psicologia<br />

na Universidade de Uberaba, do qual a autora fez parte, é o objetivo deste trabalho. Na<br />

reformulação do currículo do curso, dentro do projeto pedagógico do curso da psicologia na<br />

unidade temática Praticas Psicológicas I, foi possível incluir o conteúdo da Terapia Comunitária<br />

a partir do 2º semestre de 2005, com a finalidade de oferecer aos alunos (as) uma visão diferente<br />

em relação à promoção e a prevenção em saúde nas comunidades. Foi organizado um eixo temático<br />

correspondente a 60 h. aulas teóricas no 5º período e 80 h. no 6º período (sendo 40h de<br />

estagio e 40h de supervisão).<br />

Nos quatro (4) semestres já cursados foi possível observar que: o aluno(a) no inicio das aulas<br />

apresentou-se desconfiado com a nova proposta, que de alguma forma vai contra o que já lhe foi<br />

passado na sua formação, relacionado com o poder que lhe outorga o conhecimento, quem sabe<br />

o que é melhor para o paciente é ele, percebe que não tem mais esse poder, logo não é mais um<br />

salvador e sem um facilitador.<br />

36


Nas aulas, através de uma metodologia participativa, os alunos(as) foram-se identificando com<br />

os conteúdos teóricos relacionando-os com a pratica; desenvolveram uma postura critica em<br />

relação ao uso das técnicas e sua contribuição no desenvolvimento das comunidades.<br />

Alguns depoimentos dos alunos na avaliação da disciplina mostraram que:<br />

“a disciplina contribuiu bastante com o meu crescimento pessoal; “as teorias<br />

fizeram um exercício de reflexão muito grande em mim, o que me<br />

ajudou em diversos pontos”; “a pesar de não me identificar muito, acho a<br />

terapia comunitária muito importante e necessária,... ajuda a muitas pessoas”;<br />

“no começo tendo um pouco de resistência, tentei abrir mais a minha<br />

mente e procurei ver os pontos positivos que com certeza são muitos”;<br />

“passei a ler mais e entender o verdadeiro valor da terapia”. “trouxe grandes<br />

contribuições para o meu eu”; “a disciplina despertou em mim, um<br />

novo olhar para a comunidade, além de mudar a minha percepção sobre a<br />

necessidade do trabalho do psicólogo na saúde coletiva”.<br />

Transformaram seu conceito de sujeito; sensibilizaram-se com a dor e o sofrimento da comunidade,<br />

resignificando seu próprio conceito de sofrimento; impressionaram-se com a transformação<br />

das pessoas.<br />

Conforme é observado nos seus depoimentos:<br />

“a possibilidade de crescer enquanto o outro fala”; “cresce dentro da gente<br />

as experiências dos outros”; “perceber o grau dos problemas”; “contato<br />

com as minhas fraquezas”; “vivencia do não conhecido”; “desenvolveu<br />

confiança, aprendi a falar”; “calar para se escutar a si mesmo”; “não tinha<br />

imaginado que as pessoas sofriam dessa forma”; “quanto a gente fica<br />

longe das reais necessidades das pessoas”; “impressiona como as pessoas<br />

conseguem superar as suas dificuldades”; “chamou muito a atenção como<br />

as pessoas mesmo no sofrimento e na carência conseguem serem felizes”<br />

Na Terapia Comunitária o aluno(a) desenvolveu habilidades e competências para saber escutar,<br />

fazer silencio, respeitar a historia do outro; perceber que seu papel é de cuidador/educador e deu<br />

menos ênfase ao tratamento e cura; na pratica testou seus conhecimentos, aprendeu a valorizar<br />

o saber da comunidade; compreender a teoria na pratica, visão do atendimento individual, eminentemente<br />

clinico, passa para um trabalho mais coletivo.<br />

Os alunos(as), fazem uma avaliação do significado desta experiência para eles como pessoas e<br />

como profissionais da psicologia, entre os depoimentos temos:<br />

37


Os alunos(as), fazem uma avaliação do significado desta experiência para eles como pessoas e<br />

como profissionais da psicologia, entre os depoimentos temos:<br />

“na aula a gente exercita a escuta”; “não tinha dado tanta importância a<br />

parar e me ouvir a mim mesma”; “no inicio teve dificuldades em aceitar<br />

que não poderia interpretar o que a pessoa estava falando”; “sentia vontade<br />

de falar para a pessoa o que ela tinha que fazer, mas aprendi a esperar”;<br />

“ouvir os problemas dos outros ajudou a resignificar os meus”; “a terapia<br />

comunitária foi um exercício que serviu mais para mim que para os outros”;<br />

“ouvir a experiência da comunidade tem me ajudado a perceber o<br />

quanto as pessoas tem dentro delas a possibilidade de melhorar, eu não<br />

tinha enxergado isso, achava que eu tinha que ter todas as respostas, com a<br />

TC percebi que não preciso as respostas estão em cada um de nós”; “o tempo<br />

todo na terapia estou aprendendo com a dor do outro”; “percebi como<br />

as pessoas vão se transformando e como elas vão trazendo nos seus depoimentos,<br />

as mudanças no cotidiano delas”; “posso dizer que esta disciplina<br />

mudou minha visão, como psicóloga me colocou frente a frente com uma<br />

realidade que não conhecia, ampliou meu campo de visão sobre os outros,<br />

sobre meus próprio colegas; permitiu entrar em contato com meus colegas<br />

e não tinha valorizado a importância de parar para ouvir, o importante que<br />

foi para mim ser ouvida, resignificou o meu curso...”<br />

Os depoimentos dos alunos no final das aulas e do estagio, confirmaram que o conteúdo da<br />

Terapia Comunitária é um instrumento que permite desmistificar o poder do profissional, desenvolver<br />

postura critica, mais humana e solidária. Além de permitir ao aluno(a) se ver como<br />

parte da comunidade, se identificar com o sofrimento humano e rever o seu papel como pessoa<br />

e profissional dentro de uma rede relacional. Estamos cientes que numa sala de aula, podemos<br />

não atingir a todos os alunos, mas, nos depoimentos e na avaliação que fizeram da disciplina,<br />

foi possível perceber que pelo menos a uma boa parte deles a gente conseguiu. Acreditamos que<br />

é por este caminho que podemos trazer mudanças no fazer do profissional da saúde e a Terapia<br />

Comunitária é um instrumento que vai com certeza mudar e ampliar a visão do profissional<br />

diante sua pratica.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BARRETO, A. de P. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2005<br />

BARROS, D. C. & YAMAMOTO. O. H. Psicologia e políticas públicas de saúde: anotações<br />

para uma análise da experiência brasileira. Psicología para América Latina – revista de la Unión<br />

Latinoamericana de Psicología. Disponível em: www.psicolatina.org. Acesso em 2 de setembro<br />

de 2007.<br />

BENEVIDES, R. A psicologia e o sistema único de saúde: quais interfaces? Psicologia & Sociedade,<br />

17 (2):21-25: mai/agos. 2005.<br />

BORGES, C. C. & CARDOSO, C. L. A psicologia e a estratégia saúde da família: compondo<br />

saberes e fazeres. IN: Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, v.17(2), maio/agos/ 2005<br />

CAMPOS, G. W. S. Um método para analise e co-gestão de coletivos – a construção do sujeito, a<br />

produção de valor de uso e a democracia em instituições: o método da roda. São Paulo: Hucitec.<br />

2000.<br />

NADER, R. Psicologia e transformação. Caminhos para a pratica psic.. tese de doutorado. Pontifícia<br />

a universidade católica de São Paulo. São Paulo. 1990.<br />

38


CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COMUNITÁRIA<br />

PARA A UMA COMUNIDADE DA CIDADE DE UBERABA-MG<br />

Profa. Dra. Marta Fuentes-Rojas 1<br />

RESUMO<br />

O objetivo deste trabalho é relatar algumas contribuições da Terapia Comunitária na Unidade<br />

Básica de Saúde “George Chirrèe Jardim” do Bairro Alfredo Freire. Dar a conhecer a Terapia<br />

Comunitária na comunidade foi uma tarefa árdua. Talvez tenha sido por ser uma proposta diferente<br />

a aquelas que a população já estava acostumada. Cuidar é uma palavra difícil para as<br />

pessoas, terapia é uma palavra rejeitada por alguns por acreditar que somente pode participar<br />

aquele que esta doente. Aos poucos fomos convencendo não só à população mais os próprios<br />

colegas de trabalho. Grandes dificuldades foram apresentadas desde poucos usuários, encaminhamentos<br />

inadequados pelos profissionais, horário, entre outras. Mesmo assim, completamos<br />

quase dois anos de encontros semanais. Ainda com dificuldades mais com a certeza de ter realizado<br />

um trabalho de cuidado. Isto pode ser identificado nos depoimentos de alguns participantes,<br />

quando lhes foi perguntado o que os encontros de Terapia Comunitária significavam para eles.<br />

Manifestaram que é: “uma entidade que nos ajuda a equilibrar internamente”; “importante para<br />

aprender como as pessoas lidam com seus problemas”; “nos ensina a encontrar a felicidade<br />

onde menos esperamos”; “estar aqui me faz sentir bem compartir minhas experiências com as<br />

pessoas”; “aqui todo mundo é amigo”; “desde que participo sempre levo algo novo para casa”;<br />

“quando salgo de aqui me sento mais leve, mais tranqüilo”; aprendi a falar de mim e de meus<br />

problemas”; “aprendi que a solução de meus problemas esta em mi mesma”. Estes depoimentos<br />

mostram que a Terapia Comunitária consegue oferecer si um espaço de cuidado, de respeito e<br />

de apoio social para as pessoas que dela participam. Acreditamos que este tipo de cuidado muito<br />

tem a contribuir com a promoção da saúde da população. Muito ainda deverá ser investido para<br />

fortalecê-la na cidade, o primeiro passo já esta dado, agora é dar continuidade.<br />

Dar a conhecer a Terapia Comunitária na comunidade foi uma tarefa árdua. Talvez tenha sido<br />

por ser uma proposta diferente a aquelas que a população já estava acostumada, ao mesmo tempo<br />

a postura dos colegas profissionais da saúde diante a Terapia Comunitária, influenciaram a<br />

implantação e o desenvolvimento do espaço de cuidado dentro da unidade.<br />

Dentro dos programas oferecidos à população, foi proposto para a coordenação da Unidade<br />

Básica de Saúde “George Chirrèe Jardim” do Bairro Alfredo Freire, a Terapia Comunitária.<br />

Passaram-se 12 meses ou mais e não se conseguia a autorização para começar o trabalho com a<br />

comunidade que freqüenta a Unidade Básica de Saúde, em tanto era possível a abertura da TC<br />

na Unidade, foi feita uma divulgação com cartazes e elaborados convites para a comunidade.<br />

Foi contatado o padre do bairro por ser um líder da comunidade quem se aprontou a divulgar<br />

nos dias do culto religioso. Para a realização deste trabalho foram procuradas algumas parcerias<br />

dentro da comunidade e realizado o primeiro encontro de Terapia Comunitária no Programa de<br />

Saúde da Família do bairro Alfredo Freire. Recebida a autorização por parte da coordenação da<br />

unidade e as dificuldades do espaço físico no PSF e o interesse da população, foi necessário levar<br />

a TC na unidade, num local mais amplo e adequado.<br />

1 Psicóloga, Mestre em Educação, Doutora em Saúde Coletiva, Terapeuta Comunitária.<br />

Docente da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas.<br />

39


Uma das dificuldades percebidas na implantação da TC na comunidade estava no fato da comunidade<br />

participar de diferentes programas oferecidos na unidade de saúde o que levou a implantar<br />

a TC no horário menos freqüentado pelos usuários e que não interferi-se nos outros grupos,<br />

acontecendo dentro da unidade. Os programas desenvolvidos dentro da unidade fazem parte do<br />

programa do Ministério da Saúde para desenvolver ações de prevenção em saúde, estes grupos<br />

se caracterizam por ter como critério de participação possuir alguma doença ou situação especifica<br />

o que determina a participação dos usuários. Entre eles temos o programa de Hipertensos e<br />

Diabéticos, envelhecimento saudável, saúde da mulher, saúde da criança, saúde do adolescente.<br />

No caso da Terapia Comunitária como espaço aberto sem prescrição de doença, gênero, numero,<br />

idade e situação das pessoas, levantou suspeitas para alguns profissionais da mesma unidade,<br />

tendo ainda dificuldade de compreender a proposta e encaminhar as pessoas de forma adequada<br />

para os encontros de Terapia Comunitária.<br />

Na conquista por um espaço na Unidade Básica foi possível perceber as dificuldades que as<br />

pessoas têm de lidar com o imaginário e o que a palavra TERAPIA representa para o comum<br />

delas, assim como para os próprios profissionais da saúde. Conceito ligado a doença mental, e<br />

a tratamento psicoterapêutico especificamente e não ao CUIDADO, como é regatado pelo professor<br />

Adalberto Barreto.<br />

Esta relação permite compreender a dificuldade das pessoas em aceitar modelos que não concentram<br />

suas ações no combate ao patológico como objetivo da ação. Aceitar que o poder não é<br />

exclusivo do profissional da saúde, perceber o outro como um ser que sabe e compreende a sua<br />

ação, entender que o problema é da pessoa e a solução esta dentro dela, reconhecer que as dificuldades<br />

do cotidiano se encontram numa rede relacional e é nela que os indivíduos resignificam<br />

os seus sofrimentos e encontram suas próprias soluções. (Barreto, 2005)<br />

O citado anteriormente pode ser exemplificado nas diferentes manifestações dos usuários do serviço<br />

ao serem convidadas para a Terapia Comunitária. As pessoas manifestaram não ter tempo<br />

no momento para ficar na Terapia Comunitária, não estarem com nenhuma doença mental, não<br />

terem problemas de comportamento ou não estar no momento precisando de terapia.<br />

No geral, as pessoas que vêem na unidade estão em procura de atendimento médico ou odontológico,<br />

curativos ou participação nos diferentes programas. No entanto chamou muito a atenção<br />

a forma como as pessoas foram encaminhadas e o fato de muitas pessoas aparecerem na terapia<br />

trazendo suas crianças para serem tratadas dentro da Terapia Comunitária, conforme alguns<br />

depoimentos<br />

“eu vim trazer o meu filho para ver se a senhora consegue que ele melhore<br />

o seu comportamento”; “a minha filha esta com muitos problemas ai eu<br />

soube que aqui no grupo ela pode-se curar”; “o doutor me encaminhou<br />

para a terapia comunitária, e me diz que aqui iam solucionar todos os meus<br />

problemas”; “ultimamente tenho estado muito nervosa e o doutor me encaminhou<br />

para a Terapia Comunitária para me acalmar”; “eu não tenho<br />

nenhum problema só quero ouvir”.<br />

40


Aos poucos fomos convencendo não só à população mais os próprios colegas de trabalho. Grandes<br />

dificuldades foram apresentadas desde poucos usuários, encaminhamentos inadequados<br />

pelos profissionais, horário, entre outras situações. Mesmo assim, completamos dois anos de<br />

encontros semanais. Ainda com dificuldades mais com a certeza de ter realizado um trabalho de<br />

cuidado.<br />

Neste processo de construção percebemos que Cuidar é uma palavra difícil para as pessoas,<br />

sobre todo quando se pensa no cuidado de si mesmo, no desejo e no direito de ser cuidado e de<br />

cuidar-se. O conceito de cuidado entendido por Boff (1999) contribui para a Terapia Comunitária,<br />

no sentido que permite perceber que ele “é mais que um momento de atenção e de desvelo”<br />

nas palavras do autor “é mais que um ato é uma atitude”, o que significa que este “representa<br />

uma atitude de ocupação e preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o<br />

outro”. (p. 33).<br />

Este conceito permitiu de uma ou de outra forma compreender a postura tanto dos usuários e<br />

dos profissionais em relação à Terapia Comunitária como espaço de cuidado onde a escuta, o<br />

silencio, o respeito pela historia do o outro, a resignificação do sofrimento num clima acolhedor,<br />

amoroso e a identificação de seus pares, obriga a pessoa a rever a sua atuação no mundo e a<br />

promover mudanças no seu cotidiano.<br />

O cuidado, segundo Boff (1999), revela como os seres humanos são, porque é uma maneira<br />

própria de ser, de estruturar-se e dar-se a conhecer. E enfatiza que “se o ser humano não receber<br />

cuidado ao longo da sua vida e não fizer com cuidado tudo o que empreender ao longo da sua<br />

vida, acabara com prejudicar a si mesmo e por destruir o que esta a sua volta”. (p.34).<br />

Tanto para Boff (1999), como para Freire (1979) e Barreto (2005) o ser humano precisa refazer<br />

a sua experiência espiritual, a sua relação com a terra, a fim de recuperar as suas raízes e experimentar<br />

sua própria identidade.<br />

È por isso que o cuidado se torna um fenômeno que se mostra na experiência e molda a nossa<br />

pratica. Neste sentido para Boff (1999), o cuidado é inerente a nos, e deve ser pensado a partir<br />

de como ele é vivido e estruturado em nós.<br />

“No temos cuidado, nos somos cuidado” (p. 89). “O cuidado é o que nos<br />

faz humanos. No cuidado o ser humano coloca-se ao pé das coisas, junto<br />

delas e a elas sente-se unido. Não existe, co-existe com todos os outros. A<br />

relação não é de domínio sobre, mas de convivência. Não é pura intervenção<br />

é comunhão”. (p. 95)<br />

Para isto o ser humano precisa voltar-se sobre si mesmo e descobrir seu modo de ser cuidado.<br />

Nos seres humanos podemos acolher um amigo com problemas, oferecer-lhe um ombro amigo,<br />

consolá-lo, cuidá-lo na sua dor. Construímos o mundo a traves de laços afetivos, esses laços<br />

afetivos tornam as pessoas importantes para nos. Aquilo que passou por uma emoção, que evocou<br />

um sentimento profundo e provocou cuidado em nos, deixa marcas indeléveis e permanece.<br />

Conforme Barreto (2005), é necessário na Terapia Comunitária ajudar ás pessoas a passar da<br />

sensação para identificar as emoções, pensar nelas, tomar consciência para promover mudanças.<br />

Nestes anos de trabalho com a Terapia Comunitária foi possível perceber nos depoimentos das<br />

pessoas o significado das rodas de Terapia comunitária.<br />

41


Manifestaram que a Terapia Comunitária é:<br />

“uma entidade que nos ajuda a equilibrar internamente”; “importante para<br />

aprender como as pessoas lidam com seus problemas”; “nos ensina a encontrar<br />

a felicidade onde menos esperamos”; “estar aqui me faz sentir bem<br />

compartir minhas experiências com as pessoas”; “aqui todo mundo é amigo”;<br />

“desde que participo sempre levo algo novo para casa”; “quando salgo<br />

de aqui me sento mais leve, mais tranqüilo”; “aprendi a falar de mim e<br />

de meus problemas”; “aprendi que a solução de meus problemas esta em<br />

mi mesma”. “hoje me sento mais segura, sei que posso falar e não serei<br />

julgada”; “acreditava que não tinha saída e que o sofrimento era só meu”;<br />

“fico ansioso e espero o dia da terapia, ela é muito importante para mim”;<br />

“A terapia tem me ajudado a descobrir coisas que não conhecia de mim”;<br />

“aprendi a me colocar, antes meu marido não me dava valor, depois de<br />

estar aqui eu aprendi que posso falar não e não vai acontecer nada, ao contrario<br />

ele me respeita e me consulta”.<br />

Estes depoimentos mostram que a Terapia Comunitária é um espaço de promoção e prevenção<br />

em saúde, onde se oferece um espaço de cuidado, de respeito e de redes apoio social para as<br />

pessoas que dela participam. Muito ainda deverá ser investido para fortalecê-la na cidade, mas o<br />

primeiro passo já foi dado, agora é dar continuidade.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BARRETO, A. de P. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2005.<br />

BOFF, L. Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.<br />

FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1979.<br />

DANÇATERAPIA COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL<br />

OLIVEIRA, LÍVIA F. LOPES S. e RIBEIRO, R. WANDERLEI<br />

ONG Espaço Comenius 2007<br />

Resumo<br />

A comunidade da Favela do Sapé (SP) exposta, em grande parte a questões de violência doméstica,<br />

ao uso e abuso de álcool e outras drogas, além de uma diversidade de problemas emocionais<br />

e relacionais, demonstrou a importância da utilização de uma alternativa útil na inclusão psicossocial<br />

dos indivíduos em programa de promoção de saúde: a dançaterapia.<br />

A dança, como terapia, é baseada na premissa de que corpo e mente são inter-relacionados. Os<br />

problemas mentais e emocionais são freqüentemente sinalizados no corpo, na forma de tensão e<br />

padrões de movimentos rígidos. O estado corporal afeta as atitudes e sentimentos, tanto positiva<br />

quanto negativamente e o padrão de movimentos reflete o aspectos psicológicos de um indivíduo,<br />

fechando um ciclo.<br />

42


Abstract<br />

The population of Favela do Sapé and neighborhood – São Paulo – experience alcohol and other<br />

drugs abuse, emotional and relational problems and domestic violence. The search for means<br />

that could facilitate that those people come to treatment leaded to create an attractive method:<br />

dancetherapy. Dancing as therapy is based on the premise that body and mind are interrelated<br />

The emotional and mental problems are frequently imprinted into the body in the form of tension<br />

and though movement patterns. The body state affects the attitudes and the feelings either<br />

positive or negatively as well as the movement patterns reflects the psychological pattern of an<br />

individual in such a way that closes a cycle.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

Dançaterapia, abuso de substâncias, alcoolismo, violência doméstica.<br />

KEY WORDS<br />

Dancetherapy, substance abuse, alcoholism, domestic violence.<br />

Introdução<br />

Álcool, outras drogas e violência doméstica têm uma série de fatores em comum. As estatísticas<br />

referentes à prevalência da violência doméstica e do abuso de drogas demonstram que há uma<br />

forte relação destes fatores envolvendo as relações interpessoais.<br />

A pesquisa do Cebrid, da Universidade Federal de São Paulo (A Noto, 2005) em seu levantamento<br />

familiar revela que:<br />

Em 52% dos casos de violência doméstica o agressor estava alcoolizado.<br />

Em 6%, o agressor estava também sob o efeito de outras drogas.<br />

Em 4%, o agressor estava intoxicado por outras drogas.<br />

Segundo a OMS, violência, em seu aspecto geral, é definida como um uso intencional de poder<br />

ou força física, ameaçadores contra si mesmo/a, contra outra pessoa ou um grupo ou comunidade<br />

que tanto resulta, ou pode resultar, em danos, morte, abuso psicológico, subdesenvolvimento<br />

ou negligência.<br />

A violência pode ter muitas formas:<br />

Violência contra mulher – qualquer conduta de omissão, discriminação, agressão ou de coerção,<br />

ocorrida à mulher e que cause: dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual,<br />

moral psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Pode ocorrer em<br />

espaços públicos ou privados.<br />

Violência de gênero – sofre-se a violência por ser mulher, independente de raça, classe social,<br />

religião, idade ou qualquer outra condição. Sistema social subordinador do sexo feminino.<br />

Violência familiar – violência que ocorre dentro da família. Vínculos de parentesco: natural<br />

(mãe/pai/filha/etc); ou civil (marido/sogra/padrasto/outros); por afinidade (primo/ tio do marido);<br />

por afetividade (amigo/a que more na mesma casa).<br />

Violência institucional – “expressa na intolerância” por desigualdades (de gênero, étnico-raciais,<br />

econômicas etc), predominante em diferentes sociedades. Essas desigualdades formalizam-se e<br />

institucionalizam em diferentes organizações públicas ou privadas ou em diferentes grupos que<br />

constituem essas sociedades.<br />

43


Violência moral – ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da mulher.<br />

Violência patrimonial – ato de violência que implique dano, perda, subtração, destruição ou<br />

retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores.<br />

Dependência Química<br />

Refere-se ao uso disfuncional de substâncias psicoativas por um indivíduo.<br />

Dependência Química é doença<br />

- Modelo de doença:<br />

Transtorno primário e independente de outras condições; uma herdada suscetibilidade biológica<br />

aos efeitos do álcool e outras drogas.<br />

- Modelo de comportamento aprendido:<br />

Os comportamentos são aprendidos ou condicionados.<br />

Comportamentos, sentimentos e pensamentos que podem ser modificados pelos mesmos processos<br />

de aprendizagem que os criaram.<br />

- Fenômeno biopsicossocial<br />

Sociológicos, culturais e espirituais.<br />

Comparação entre violência doméstica e abuso de substâncias<br />

Para uma melhor compreensão da similaridade entre violência doméstica e abuso de drogas,<br />

Irons e Schneider apresentam uma lista de critérios do DSM IV resumidos e adaptados como<br />

seguem:<br />

1. perda de controle (critérios 3 e 4 );<br />

2. continuação do comportamento, apesar das conseqüências adversas (critérios 6 e 7);<br />

3. preocupação ou obsessão ( critério 5 )<br />

4. tolerância ( critério 1)<br />

5. estreitamento de repertório( critério 5 )<br />

No caso da violência doméstica, a perda de controle refere-se à raiva, não a perda de controle do<br />

uso da substância, e pode ser vista em um continuum, isto é, ela parece progredir e intensificar-<br />

-se no tempo. Dentro deste tempo, há períodos de pausa ou de relativa paz, ocasiões em que o<br />

agressor promete mudança de comportamento e que não mais usará de violência. O tempo entre<br />

tal promessa e o comportamento agressivo recorrente parece diminuir, da mesma forma que a<br />

tendência compulsiva de uso de substância.<br />

Poderíamos inferir que a inclusão do critério 2 do DSM-IV ( abstinência ) seria pertinente neste<br />

tempo de pausa e novo conflito. Este critério poderia ser entendido como uma ansiedade que há<br />

neste momento de pausa – isto é, já que o conflito é recorrente, de alguma forma espera-se que<br />

a pausa de paz vá terminar. Assim sendo, a ansiedade pode criar uma determinada fissura, mas,<br />

uma fissura, nem sempre pela briga, mas pela angústia de não saber o momento do próximo<br />

confronto. Neste ponto, muitas mulheres acabam provocando um conflito para passar logo pela<br />

briga e voltar ao tempo de paz.<br />

Tanto no abuso de substâncias, como na violência doméstica, o comportamento abusivo continua,<br />

apesar dos sintomas de estresse, intimidação, sofrimento emocional, danos físicos etc.<br />

Em termos de tolerância da violência doméstica, ocorre uma dessensibilização da vítima que<br />

passa a agüentar crescentes níveis de violência.<br />

O campo de preocupação com o conflito e com a droga torna-se quase que estritamente voltado<br />

às prioridades relacionadas respectivamente à violência e às drogas, em detrimento das demais<br />

preocupações, atividades e responsabilidades do dia- a -dia.<br />

44


Acreditamos que o paralelo acima descrito possa servir como um norteador de compreensão das<br />

situações, tanto de dependência química como de violência doméstica.<br />

Corpo e mente<br />

De acordo com R. Dahlke, os planos do corpo, da alma e da mente, dispostos verticalmente um<br />

sobre o outro, correspondem aos âmbitos da forma e do conteúdo. O corpo representa o aspecto<br />

formal, enquanto tanto a alma como o espírito formam o conteúdo. Como uma obra de arte, por<br />

exemplo, uma escultura de Michelangelo, apreciamos aquilo que ela expressa, isto é, por mais<br />

importante que seja o material, ele vem depois do conteúdo. A lâmpada de alerta que se acende<br />

em um aparelho técnico nos leva a investigar as causas subjacentes. O que a lâmpada acesa significa?<br />

Entretanto, quando o corpo expressa dolorosos sinais de alarme, muitas pessoas tentam<br />

subjugá-los com comprimidos, sem aprofundar-se em buscar as causas. Por que justamente os<br />

sinais do corpo não significariam nada? A saúde já estaria atendida se o corpo fosse tratado de<br />

maneira tão consciente como se faz com qualquer máquina.<br />

Ferreira, Tufik e Melo, em seu estudo sobre neuroadaptação e atividade física, relatam que o uso<br />

de substâncias psicoativas (cocaína, benzodiazepínicos e maconha), resulta em alterações nas<br />

principais vias nervosas, especialmente aquelas mediadas por catecolaminas, serotonina, GABA<br />

e acetilcolina, em áreas cerebrais como córtex, hipocampo, mesencéfalo, cerebelo, tronco cerebral,<br />

medula e nervos periféricos. Outros estudos, voltados à influência da atividade física no<br />

Sistema Nervoso, observaram que o aumento da exigência metabólica resulta na adaptação de<br />

diversas vias nervosas, destacando como os principais resultados uma taxa basal de catecolaminas,<br />

a normalização dos níveis de noradrenalina e dopamina nas áreas de atenção, memória e<br />

controle motor, aumento dos níveis de serotonina nas áreas do humor e diminuição nas áreas do<br />

controle motor e aumento de síntese e liberação de endorfinas.<br />

Dança como terapia<br />

A dança é uma linguagem universal desde tempos remotos. É uma expressão da sensibilidade,<br />

intensificada através de movimentos rítmicos, que fazem emergir uma percepção interna que<br />

estimula corpo e mente. Expressando esta percepção na forma de dança, as pessoas descontraem<br />

e tornam–se mais receptivas aos sentimentos positivos e saudáveis, favorecendo, desta forma, a<br />

uma atitude de possibilidade de transformação da pessoa em agente de recuperação.<br />

Um grupo de pessoas da comunidade, variando em torno dos 35 anos de idade, respondeu ao<br />

convite da ONG por um período de 08 meses, aproximadamente, para participar de sessões de<br />

aulas de dança de salão.<br />

As sessões de dança compreendem uma atividade prazerosa e integrativa e vão ao encontro<br />

do recomendável como ação reparadora, na reconstrução da auto-estima e na possibilidade de<br />

aprender novos padrões de expressão e de comportamento através dos passos.<br />

O repertório cultural brasileiro é valorizado com a escolha de forró e samba de gafieira, como<br />

motes de aprendizagem. A atividade, neste contexto, não foi designada especificamente para ser<br />

uma sessão psicoterapêutica clássica, porém há um efeito moderado em que se incluem falas<br />

psicoeducativas e reflexões sobre resolução de conflitos, à medida que afloram no âmbito individual<br />

e grupal.<br />

45


Considerações Finais<br />

As pessoas que procuram um posto de atendimento básico de saúde ou um atendimento especializado<br />

podem estar, e geralmente estão, psicologicamente incapazes de perceber que foram vítimas<br />

de violência doméstica. Algumas, ao denunciar a violência, imediatamente retiram a queixa,<br />

pois temem, entre outras suposições, que o agressor torne-se mais vingativo. Outras ainda relutam<br />

em admitir a violência sofrida, para não expor o agressor (seu marido, ou companheiro, ou<br />

pai de seus filhos) à situação de constrangimento e ou punição. Muitas estão emocionalmente<br />

bastante conectadas (codependência) ao agressor ou são economicamente dependentes. Todos<br />

estes aspectos são barreiras, conforme cita Brookfoff, não usualmente explorados nos atendimentos<br />

especializados e/ou outros a estes casos. Por outro lado, há ainda muito preconceito<br />

em relação ao dependente químico, seja ele usuário de álcool ou outras drogas. A falta de conhecimento<br />

destas questões pode levar à frustração que muitos médicos e outros profissionais<br />

expressam acerca da não aderência ao tratamento, por parte dos dependentes químicos e das<br />

vítimas de violência familiar. Assim, a alternativa da dança pode ser considerada uma forma,<br />

não apenas de ajudar na integração e tratamento, mas também trazer estas pessoas a tratamento,<br />

considerando a doença como uma corporalização problemática de um padrão disfuncional.<br />

Observando-se que tais padrões podem ter suas causas nos conflitos relacionados ao abuso de<br />

substâncias psicoativas ou relacionados às situações de violência doméstica, podemos perceber<br />

a postura comportamental e corporal rígida destes indivíduos. A dança entra como fator desestressante,<br />

é uma experiência bastante reforçadora de socialização e serve para romper com certas<br />

atitudes negativas.<br />

As sessões de dançaterapia foram bastante proveitosas nesta experiência. Mas estudos futuros<br />

com amostras maiores poderão fornecer mais subsídios para o tema.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BARRETO, Adalberto - Terapia Comunitária, 2005.<br />

BROOKOFF, D; O´Brien, KK; Cook, CS; Thompson, TD; Williams, C. Characteristics of participants<br />

in domestic violence: assessment at the scene of domestic assault. Journal of American<br />

Medical Association, 277 (17): 1369-1373, 1997.<br />

Caderno do 1o Fórum de Debates sobre Violência Doméstica e Familiar – Conhecer para<br />

Combater, 2006<br />

FERREIRA, S.E et alli Neuroadaptação: uma proposta alternativa de atividade física para usuários<br />

de drogas em recuperação, Revista Brasileira de Ciência e Mov., v.9,n.1, p. 31-39, Brasília<br />

2001<br />

FIGLIE, N et alli – Aconselhamento em Dependência Química, Rocca, São Paulo, 2004<br />

FLOYD, M. Ballroom dance lessons for geriatric depression: an exploratory study, The Arts in<br />

Psychotherapy, 2005<br />

IRONS, R & Scheneider, JP. When is domestic violence a hidden face of addiction ? Journal of<br />

Psychoative Drugs; Vol 29, pages 337-334, 1997.<br />

46


LEONARD, KE. Alcohohol´s role in domestic violence: a contribution cause or an excuse ?<br />

Acta Psychiatrica Scandinavica, 2002: 106 (Suplemento 412): 9-14, 2002.<br />

NOTO, AR, Fonseca; AM, Silva, EA; Galduróz, JCF. Violência domiciliar associada ao consumo<br />

de bebidas alcoólicas e de outras drogas: um levantamento no Estado de São Paulo – CE-<br />

BRID ( Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) Universidade Federal de<br />

São Paulo.<br />

Oliveira, Lívia F Lopes S. A violência contra mulheres e seus fatores psicológicos:a (co)dependência<br />

como aprisionamento da alma, Congresso Sul Mineiro de Medicina Psicossomática MG,<br />

2003.<br />

Oliveira, Lívia F Lopes S. Violência doméstica e álcool : duas faces da mesma moeda ?,Congresso<br />

da Associação Brasileira dos Estudos de Álcool e outras Drogas, ABEAD, Ouro Preto,<br />

MG, 2004.<br />

OLIVEIRA, Lívia F Lopes S. Violência Doméstica & Álcool , Comunidade & Prevenção –<br />

uma Proposta de Promoção de Saúde, UNIFESP, 2006<br />

47


EM BUSCA DO MOTE!<br />

Autoras: Liliana Beccaro Marchetti, Lia Fukui 1<br />

Resumo<br />

O mote é um tema intrigante, pela dificuldade que traz para a maioria dos terapeutas comunitários,<br />

principalmente os iniciantes nesta prática. No trabalho com os grupos, nas intervisões e nas<br />

capacitações de terapia comunitária de que o TCendo.sp participa, temos nos deparado sempre<br />

com a complexidade desta questão.<br />

A escolha do mote é o momento crucial de operacionalização da terapia comunitária. Por este<br />

motivo, a busca de um bom mote exige um método analítico e eficiente que permita o esclarecimento<br />

da situação. A qualidade do mote evidencia o entendimento do problema pelo terapeuta e<br />

traz eficácia para o grupo. A escolha do mote compreende dois momentos, a busca e a elaboração.<br />

Acreditamos também que um bom mote tenha, por si mesmo, um substancial impacto terapêutico<br />

e pode ser usado deliberadamente para disparar mudanças no protagonista, na família,<br />

nos integrantes do grupo, ou na comunidade.<br />

Palavras chave: terapia comunitária, perguntas, prática de terapia comunitária, mote, síntese.<br />

Introdução<br />

O que vem a ser um mote? Segundo os dicionários Houaiss e Aurélio mote significa tema,<br />

assunto, epígrafe, lema. Colocamos aqui então uma definição possível para os terapeutas comunitários:<br />

o mote é uma frase ou palavra, metafórica ou não, formulada pelo terapeuta durante a<br />

problematização da terapia comunitária que reflete a síntese do drama da situação vivida pelo<br />

protagonista daquele grupo.<br />

Pensando nesta definição, a busca do mote pelo terapeuta torna-se muito importante, sendo o<br />

momento crucial da terapia comunitária. É quando os participantes do grupo identificam nas<br />

suas vidas situações semelhantes àquela trazida pelo protagonista. A operacionalização acontece<br />

quando o mote consegue desvelar o drama do protagonista na vida dos integrantes do grupo e<br />

permite que todos possam compartilhar suas estórias e trocar soluções. Daí a importância de se<br />

buscar o melhor mote para aquela situação.<br />

No trabalho com os grupos, nas intervisões e nas capacitações de terapia comunitária de que<br />

o TCendo.sp participa, temos nos deparado com a dificuldade tanto dos iniciantes como dos<br />

terapeutas já capacitados para buscar um mote eficiente para a situação colocada no grupo. A<br />

compreensão desta dificuldade cria a possibilidade de superá-la, passo muito importante no desenvolvimento<br />

e trajetória de todo terapeuta comunitário.<br />

1 Liliana Beccaro Marchetti, psicóloga Ipq HC, terapeuta de família, terapeuta comunitária UFCe, lilibmarchetti@hotmail.com<br />

coordenadora do TCendo.sp SP; Lia Fukui, doutora em sociologia USP, terapeuta comunitária<br />

UFCe, liafukui@hotmail.com coordenadora do Tcendo.sp<br />

48


Este texto é o embasamento teórico da oficina apresentada no IV Congresso Brasileiro e I Encontro<br />

Internacional de Terapia Comunitária na cidade de Porto Alegre, RS, Brasil, 2007, na qual<br />

o TCendo.sp realiza um treinamento enriquecedor e ao mesmo tempo lúdico de busca do mote.<br />

Objetivo<br />

O que caracteriza a terapia comunitária é a simplicidade, a facilidade de um “script” com começo,<br />

meio e fim, mas complexo na sua elaboração e conteúdo.<br />

Nesta tônica, e baseadas nos pilares teóricos que ancoram esta prática, propomos uma reflexão<br />

teórica e uma atividade que tem por objetivo treinar de maneira lúdica, a busca e escolha do<br />

melhor mote naquela terapia comunitária, mas também calçando de maneira sólida o caminho<br />

a seguir.<br />

A prática é a essência desta atividade, que como um laboratório, permite a reflexão, elaboração<br />

e busca de alternativas na configuração da excelência naquele momento, sem deixar de lado o<br />

suporte e apoio teórico.<br />

Desenvolvimento<br />

Ao refletir sobre o mote pudemos verificar e elucidar a sua complexidade.<br />

Para isso foi necessário desmembrar o “script” da terapia comunitária, pensar, refletir. Então<br />

iniciamos pela contextualização e problematização, mas surpreendentemente ao fazê-lo, entendemos<br />

que o mote está sendo construído desde o início da terapia, quando estamos esclarecendo<br />

os problemas com os possíveis protagonistas, na escolha do tema, e quando o grupo escolhe<br />

aquele tema específico. Portanto, um processo mais complexo do que nos parecia inicialmente.<br />

A atenção do terapeuta, desde o primeiro contato com o grupo, permite a percepção do que o<br />

grupo está precisando discutir naquele dia, o que começa a se configurar desde o princípio. Estes<br />

detalhes serão discutidos oportunamente em outro texto elaborado pelo TCendo.sp.<br />

A busca do mote propriamente dito compreende dois momentos. Para ser didático será necessário<br />

separá-los e assim facilitar a nossa compreensão.<br />

Um primeiro momento é a busca de informações que permitam o entendimento e o esclarecimento<br />

da situação e do problema que o protagonista está sofrendo.<br />

A entrevista do protagonista é fundamental neste momento, pois permitirá obter informações necessárias<br />

e preparar o material para a elaboração do mote na etapa seguinte. Esta entrevista deve<br />

ser feita através um questionamento atento, direcionado e motivador para a mudança. Mas é<br />

importante salientar aqui, que a forma de perguntar é um diferencial na qualidade da informação.<br />

Pois permite a abordagem do real problema e da real necessidade do protagonista. Um exemplo<br />

é o que ocorre em muitas terapias comunitárias em que abordamos o alcoolismo ou problemas<br />

familiares, mas nem sempre colocamos o mote nestes termos. Por quê? Muito pelo contrário,<br />

somos levados por diversos caminhos, pois o que nos dirige são o sentimento e a necessidade<br />

do protagonista.<br />

Karl Tomm (1985) definiu ao que ele denomina de perguntas ou questões reflexivas. Segundo<br />

sua definição, são todas aquelas usadas pelo terapeuta durante o curso de uma entrevista (clinica),<br />

com a intenção de facilitar uma mudança produtiva num cliente, individualmente, ou numa<br />

família.<br />

Este processo de perguntar é chamado de questionamento reflexivo, implica num cuidadoso e<br />

provocador uso da palavra em forma de perguntas que capacitam o protagonista a identificar e<br />

dar-se conta de forma inusitada da situação e do sofrimento, para que tenha maior potencial de<br />

mudança.<br />

49


Esta forma de perguntar, tem em si mesma, um substancial impacto terapêutico. O questionamento<br />

reflexivo durante a contextualização é o aspecto da terapia comunitária mais importante<br />

para a busca do mote, além de criar a possibilidade de disparar mudanças no protagonista, numa<br />

família, nos integrantes do grupo ou na comunidade. O aproveitamento desta oportunidade de<br />

formular perguntas permite a elaboração de um mote eficiente.<br />

Na nossa terapia comunitária também aproveitamos nossos mais importantes colaboradores, os<br />

participantes do grupo, que funcionam como co-terapeutas fazendo as perguntas mais pontuais<br />

e incríveis das terapias. A pergunta, quando feita pelos integrantes do grupo, busca efetivamente<br />

a necessidade do protagonista e do grupo. Na nossa experiência, a coleta de informações fica<br />

ainda mais fidedigna.<br />

Um segundo momento acontece com a elaboração do mote. Esta parece ser a parte mais difícil.<br />

O que temos notado é que os terapeutas, principalmente os iniciantes, ficam muito receosos ao<br />

fazê-lo.<br />

Observamos alguns comportamentos que atrapalham e queremos compartilhar com o leitor. Um<br />

deles é a preocupação excessiva do terapeuta com o seu desempenho, um dos maiores obstáculos,<br />

que impede o terapeuta de olhar para o protagonista, tornando-se seu próprio alvo. Ou então<br />

a preocupação excessiva com o desenrolar da terapia, que o faz focar mais no “script”, tempo,<br />

ou busca de uma excelente pergunta. Estas situações distanciam o terapeuta do protagonista, o<br />

que dificulta a compreensão do sofrimento deste. Nestes casos, sugerimos que se faça o protagonista<br />

sentar ao lado de quem está dirigindo a terapia, para se evitar a distração que possa ocorrer.<br />

Sempre que o grupo for grande, consideramos que esta atitude de proximidade é aconselhada.<br />

Uma boa parte dos terapeutas tem dificuldade de lidar com pessoas que tem um comportamento<br />

perturbador (prolixos, ansiosos, agitados ou irreverentes), pois interferem com a direção do grupo<br />

e a elaboração do mote. Eles devem ser firmemente interrompidos, mas de forma cuidadosa,<br />

acolhedora e inclusiva.<br />

Além disso, alguns terapeutas apresentam tendência à interpretação do problema apresentado<br />

pelo protagonista, o que obscurece a visão da situação em si, fazendo-se pensar o sofrimento do<br />

protagonista como patologia e não com a situação existencial, o que ocorre também para situações<br />

em que o protagonista tenha um problema psiquiátrico. Na terapia comunitária trabalhamos<br />

com o sofrimento, tenha o protagonista uma patologia ou não. Vivenciamos uma situação<br />

exemplar, em que minha parceira, socióloga, num de nossos grupos freqüentados por pessoas<br />

com problemas psiquiátricos, experimentava o seu primeiro contato com a doença mental. Por<br />

conseguir restringir a sua visão a uma situação do cotidiano que fazia o paciente sofrer muito,<br />

fez o paciente sentir-se tão acolhido no seu sofrimento que este passou a freqüentar sistematicamente<br />

as terapias. Isto me ensinou a partir daquele momento que o sofrimento realmente é o<br />

olhar da terapia comunitária.<br />

Por fim, o medo de como perguntar também interfere, provocando uma situação circular que impede<br />

que o terapeuta exercite o perguntar, tal como, se não pergunta não aprende se não aprende<br />

não pergunta!<br />

Finalizando, dar-se conta das dificuldades permite administrá-las. Soma-se a isso estar atento ao<br />

protagonista, entender o seu sofrimento, buscar o sentimento. Isto ajudará o terapeuta a elaborar<br />

um mote eficiente para o grupo operacionalizar o sofrimento. Então se apresente e o mote surgirá<br />

naturalmente, pois toda informação do sofrimento do protagonista já está colocada, esperando<br />

apenas pela síntese do terapeuta.<br />

50


Conclusão<br />

Ao refletir sobre o mote podemos verificar, entender e elucidar a sua complexidade. Sentimos a<br />

necessidade de um treinamento que seja consistente, atento e focado na especificidade da terapia<br />

comunitária.<br />

A especificidade desta prática está num mote bem elaborado, que permita ao grupo a operacionalização<br />

daquela situação problemática de maneira compartilhada na sua singularidade e<br />

horizontalidade.<br />

O protagonista permite que o grupo vivencie suas estórias por ângulos inusitados. O terapeuta<br />

tem a obrigação de estar sensível para esta singularidade e generosidade, que somente poderá<br />

ser usufruída pelo grupo através de um mote bem elaborado e em sintonia com aquele problema.<br />

A elaboração do mote consiste em sentir o que o protagonista sente para poder entender seu<br />

sofrimento e usar o que ele tem de melhor para ser o curativo da sua ferida. Ater-se a como o<br />

protagonista está falando, seu vocabulário, sentimentos, motivação e sua reflexão permitem a<br />

formulação de uma síntese que constrói o mote de forma eficiente e consistente.<br />

Podemos dizer que é como encontrar a pérola de cada um. Esta impulsiona o desenvolvimento,<br />

a resiliência e a competência na vida. Parece mágico, mas não é! Como você, caro leitor, pode<br />

apreciar, existe um método e técnicas que nos ajudam a fazer este trabalho.<br />

Referências<br />

TOMM, K. Questionamento Reflexivo. Um modo produtivo de perguntar. Programa de Terapia<br />

Familiar. Universidade de Calgary. Manuscrito não publicado. 1985<br />

BARRETO, A. P. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza:Gráfica LCR. 2005.<br />

51


UMA PROPOSTA DE CURSO PARA INTERVISORES<br />

EM TERAPIA COMUNITÁRIA.<br />

Autoras: Lia Fukui, Liliana Beccaro Marchetti 1<br />

Resumo: Introdução. Objetivos. Desenvolvimento. Resultados. A motivação para trazer este<br />

tema para o congresso deveu-se pela nossa experiência no PIC - Programa de Intervisão Continuada<br />

do TCendo.sp. Este trabalho tem o objetivo apresentar uma proposta de capacitação<br />

de Intervisão, supervisão, para terapeutas comunitários. A proposta compreende um Formato,<br />

uma Metodologia e um Conteúdo Programático. Buscando aprimorar o conhecimento teórico-<br />

-prático-vivencial da terapia comunitária.<br />

Palavras chave: práticas de terapia comunitária, capacitação, intervisão, supervisão.<br />

Introdução<br />

A intervisão tem-se mostrado uma etapa crucial do aprendizado, para a fixação de uma nova maneira<br />

de abordar temas complexos em grupo, que surgem quando as etapas e o enfoque teórico<br />

específico da terapia comunitária estão sendo praticados.<br />

Esta comunicação tem por objetivo fazer uma explanação a partir da experiência do TCendo.sp<br />

na passagem da prática de terapeuta comunitário a intervisor desde 2003 nos seguintes grupos:<br />

1. Prefeitura de São Paulo - SM (zona sul e zona leste da capital) 2003/2004;<br />

2. Intervisão Continuada do TCendo.sp que inclui:a) Intervisão sistemática no NEMGE-USP<br />

desde 2001;b) “Tirando as Cangalhas” prática de vivências da formação de TC, 2005;c) PIC<br />

– Programa de Intervisão Continuada no NEMGE-USP, 2006; d) PICi – Programa de Intervisão<br />

Continuada Itinerante 2007. No caso específico do PIC e PICi os grupos de intervisão são<br />

aleatórios, recebemos pessoas que não estão engajadas em nenhuma capacitação e pessoas que<br />

nos encontram pela Internet, então uma peculiaridade é de que nunca os grupos são os mesmos.<br />

Entendemos que a diversidade da nossa experiência contribuiu para a aprendizagem e sedimentação<br />

dos conceitos que ao longo do tempo fomos adquirindo. A responsabilidade do intervisor<br />

recai tanto sobre a prática como terapeuta, assim como na capacidade de, ao adentrar os aportes<br />

teóricos da terapia comunitária, ser capaz de esclarecê-los, torna-los simples em sua complexidade<br />

para poder transmiti-los aos terapeutas.<br />

A intervisão tem-se mostrado uma etapa crucial do aprendizado, para a fixação de uma nova maneira<br />

de abordar temas complexos em grupo, que surgem quando as etapas e o enfoque teórico<br />

específico da terapia comunitária estão sendo praticados.<br />

Esta comunicação tem por objetivo fazer uma explanação a partir da experiência do TCendo.sp<br />

na passagem da prática de terapeuta comunitário a intervisor desde 2003 nos seguintes grupos:<br />

1. Prefeitura de São Paulo - SM (zona sul e zona leste da capital) 2003/2004;<br />

1 Lia Fukui, doutora em sociólogia USP, terapeuta comunitária UFCe, coordenadora do TCendo.sp liafukui@hotmail.com<br />

; Liliana Beccaro Marchetti, psicóloga, terapeuta de família, terapeuta comunitária UFCe, coordenadora do<br />

TCendo.sp lilibmarchetti@hotmail.com TCendo.sp São Paulo<br />

52


2. Intervisão Continuada do TCendo.sp que inclui:a) Intervisão sistemática no NEMGE-USP<br />

desde 2001;b) “Tirando as Cangalhas” prática de vivências da formação de TC, 2005;c) PIC<br />

– Programa de Intervisão Continuada no NEMGE-USP, 2006; d) PICi – Programa de Intervisão<br />

Continuada Itinerante 2007. No caso específico do PIC e PICi os grupos de intervisão são<br />

aleatórios, recebemos pessoas que não estão engajadas em nenhuma capacitação e pessoas que<br />

nos encontram pela Internet, então uma peculiaridade é de que nunca os grupos são os mesmos.<br />

Entendemos que a diversidade da nossa experiência contribuiu para a aprendizagem e sedimentação<br />

dos conceitos que ao longo do tempo fomos adquirindo. A responsabilidade do intervisor<br />

recai tanto sobre a prática como terapeuta, assim como na capacidade de, ao adentrar os aportes<br />

teóricos da terapia comunitária, ser capaz de esclarecê-los, torna-los simples em sua complexidade<br />

para poder transmiti-los aos terapeutas.<br />

Desenvolvimento<br />

Entende-se por intervisão o procedimento onde terapeutas comunitários, reunidos em grupo com<br />

um terapeuta mais experiente, compartilham suas dúvidas, seus desafios, levantam e exploram<br />

questões teóricas tendo por objetivo primeiro o aprimoramento da prática em terapia comunitária<br />

(TC).<br />

A intervisão acontece, de modo geral, em dois momentos.<br />

No primeiro momento, durante os cursos de capacitação, para terapeutas em formação, que<br />

contam com o auxilio de terapeutas comunitários mais experientes, capazes de dar aos formandos<br />

segurança, acolhimento e aperfeiçoamento nas diversas etapas de desenvolvimento de uma<br />

terapia comunitária. No segundo momento, num programa de intervisão continuada, terapeutas<br />

já capacitados e experientes reúnem-se para aprimorar-se, trocar informações, experiências e<br />

aprofundar-se em questões teóricas inerentes à prática da TC.<br />

Em ambos os momentos os mesmos pressupostos e a mesma metodologia orientam a pratica da<br />

intervisão distinguindo-se, num e noutro, o conhecimento e a prática de cada um referente ao<br />

exercício continuado da TC. No primeiro momento, enquanto iniciantes, a dúvida limita-se a<br />

questões como: formar grupos, entrar na comunidade; treinar e cumprir adequadamente as fases<br />

da TC até interiorizá-las, e, à discussão dos capítulos do livro base (1). No segundo momento,<br />

com participação de terapeutas já experientes, as questões referem-se às experiências, às necessidades<br />

de dominar os aportes sobre grupo, comunidade, resiliência, pensamento sistêmico,<br />

teoria da comunicação, e diversidade cultural.<br />

A proposta de um curso para intervisor exige auxiliar o terapeuta comunitário na sua incursão<br />

de terapeuta comunitário para a condição de intervisor. Uma tarefa delicada e merece nossa<br />

atenção. Algumas condições se fazem necessárias e suficientes. Quais pressupostos e qual a<br />

metodologia que orientam a pratica da Intervisão no TCendo.sp?<br />

Pressupostos<br />

Dois pressupostos orientam a pratica da intervisão: a horizontalidade, a singularidade. Entendemos<br />

por horizontalidade o estabelecimento de relações não autoritárias, considerando a hierarquia<br />

existente, mas não usufruindo deste privilégio no grupo. Por singularidade entendemos<br />

o fato de que cada pessoa é única em sua experiência de vida, em sua história pessoal, em sua<br />

formação, em sua prática enquanto terapeuta comunitário e nas suas dúvidas e conjecturas. Além<br />

disso, cada encontro de intervisão é também único, pela composição do grupo, pelo relato de<br />

experiência e pela troca de informações e vivências.<br />

53


Metodologia<br />

Dos pressupostos decorre a metodologia do trabalho fundamentada nas colocações de Paulo<br />

Freire mais especificamente em seu texto “Pedagogia do Oprimido” que são a base da nossa<br />

metodologia. Abaixo descrevemos.<br />

Pratica do diálogo – entendemos que a arte de fazer perguntas e despertar a interatividade dos<br />

terapeutas é fundamental na pratica da intervisão. O aprendizado só tem sentido com a expressão<br />

manifesta do aprendiz. Ao enunciar suas dúvidas e compartilhá-las com o grupo o aprendiz<br />

sente-se mais seguro ao ser ouvido, respeitado e acolhido.<br />

O cultivo da curiosidade – permite levantar questões e explicitar a diversidade de pontos de vista<br />

inerente a toda situação humana. Nenhum conhecimento é acabado, as soluções encontradas são<br />

momentâneas e pontuais, o que permite combater as generalizações, os estereótipos e as idéias<br />

feitas e - o mais importante - a certeza de que se tem muito a aprender, cultivando o interesse e<br />

a busca de saber que aprimoram o terapeuta.<br />

O aprendizado como ato de produção e reconstrução de saber – O aprender significa aprimorar-<br />

-se, aceitar a mudança, renovar-se em idéias e práticas abrindo-se para a complexidade da vida,<br />

buscando sempre níveis de entendimento mais profundos das questões humanas.<br />

Os pilares da TC serão os temas geradores 1 das praticas de intervisão e do treinamento para<br />

intervisores.<br />

A prática da liberdade – o exercício na intervisão e no treinamento para intervisores leva à co-<br />

-responsabilidade, à escolha, ao compromisso com a construção de uma pratica inovadora que<br />

junta o eu e o nós, o individual e o social, o pessoal e o coletivo.<br />

Veja quadro abaixo a operacionalização da metodologia de Paulo Freire na Terapia Comunitária<br />

de Adalberto Barreto<br />

Pedagogia da Autonomia<br />

Paulo Freire<br />

Prática do diálogo<br />

Cultivo da curiosidade<br />

Aprendizado como ato de produção e reconstrução<br />

do saber<br />

Temas geradores<br />

Prática de liberdade<br />

Terapia Comunitária<br />

Adalberto Barreto<br />

A arte de perguntar<br />

Permite combater estereótipos e generalizações<br />

Aprender significa aprimorar-se, aceitar<br />

mudança.<br />

Os cinco pilares da TC<br />

Auto-estima, escolha, responsabilidade consigo<br />

e com o outro.<br />

1 Temas geradores: relativos às aspirações, ao conhecimento empírico e à visão do mundo dos educandos, que<br />

estudados pelo educador tornam-se base para o conteúdo programático da educação dialógica de um grupo determinado.<br />

(Vasconcelos, 2006) Na TC os pilares são os temas geradores do aprimoramento prático.<br />

54


Modus Operandi<br />

“Todo fazer é um conhecer, E todo conhecer é um fazer”.<br />

Humberto Maturana<br />

Formato:<br />

I. A cada Módulo são discutidas com cada grupo suas necessidades.<br />

II. Todas as atividades são sempre em grupo, à maneira da TC, compreendendo seu roteiro,<br />

suas etapas. A utilização da metodologia de Paulo Freire, isto é, a valorização da experiência<br />

e do conhecimento do grupo buscando aprimorar competências. Conotação positiva. Horizontalidade.<br />

Foco e domínio do tempo.<br />

III. Ressaltar os pressupostos e o significado da teoria para a prática de TC em cada um dos<br />

cinco pilares.<br />

Cada encontro deverá obedecer ao seguinte roteiro:<br />

Parte I: Vivências de “Cuidando do cuidador”. Compartilhamento das vivências. Síntese do<br />

compartilhamento. Fundamentos da vivência. Como e em que momento aplicar a vivência numa<br />

terapia comunitária ou numa intervisão.<br />

Parte II: Programação do dia ou do módulo. Aquecimento. Levantamento e síntese da experiência<br />

pessoal de forma compartilhada. Leituras que ampliem a síntese. Reflexão conjunta dos<br />

participantes. Nova síntese com visão panorâmica do tema e suas implicações na terapia comunitária.<br />

Reflexão conjunta, apreciação, bibliografia. As atividades são sempre compartilhadas<br />

e referem-se ao tema em discussão para ampliar o foco tanto para o terapeuta como para o<br />

intervisor.<br />

Conclusão<br />

A Intervisão torna-se assim um processo de autoconhecimento, de sedimentação dos aportes<br />

teóricos e da segurança para os terapeutas comunitários, além de manter acesa a chama da construção<br />

de conhecimento sobre a terapia comunitária.<br />

A capacitação em intervisão apresenta-se, como um terceiro momento, que como descrito anteriormente,<br />

compreende: a) a pratica continuada; b) um trabalho em constante construção ao<br />

qual são acrescidos paulatinamente, reflexões sobre a prática, os pressupostos, a metodologia e<br />

o aprofundamento teórico. Procurando uma sedimentação que possibilite à multiplicação das<br />

experiências a ampliação do conhecimento de forma teórica e compartilhada.<br />

Segundo Paulo Freire “o sentido do saber [é] uma busca permanente”... “o saber se faz através<br />

da superação constante [...] Todo saber humano tem em si o testemunho do novo saber [...]” ...<br />

“o que se exige eticamente de educadoras e educadores progressistas é que, coerentes com seu<br />

sonho democrático, respeitem os educandos e jamais, por isso mesmo os manipulem”. Fazemos<br />

destas as nossas palavras e no que efetivamente acreditamos.<br />

Referências<br />

1. BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza. Editora<br />

Gráfica, LCR, 2005.<br />

2. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo. Editora Paz e Terra 45ª edição<br />

2005.<br />

3. VASCONCELOS, Maria Lucia Carvalho; BRITO, Regina Helena Pires de. Conceitos<br />

de educação em Paulo Freire. Petrópolis, RJ. Vozes. São Paulo, SP. Mack Pesquisa. Fundo Mackenzie<br />

de Pesquisa, 2006 (2ª edição).<br />

55


TERAPIA COMUNITÁRIA PARA EQUIPES DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA<br />

Autora: Raquel Martinho Ciancio<br />

Resumo: A Terapia Comunitária mostra-se excelente ferramenta facilitadora das relações entre<br />

os funcionários das equipes do Programa Saúde da Família (PSF) e destes com as comunidades<br />

que atendem. Apesar de um receio inicial em se expor, foi possível abordar diversos assuntos que<br />

eram temas de conflitos muitas vezes velados. Em ciclos de dez rodas de Terapia Comunitária<br />

com cada equipe temos, obtido retorno muito positivo, principalmente no tocante à auto-estima<br />

dos funcionários. Isto nos incentiva a partir para outros ciclos de rodas com as equipes, além do<br />

curso Cuidando do Cuidador e, com a formação dos profissionais em Terapia Comunitária, levar<br />

esta atividade para os usuários do Programa.<br />

Palavras-chave: Programa Saúde da Família (PSF), Terapia Comunitária (TC), auto-estima.<br />

Introdução<br />

Desde maio de 2003, sou funcionária da Prefeitura Municipal de Maricá, município situado<br />

a 60 km do Rio de Janeiro. Depois de dois anos atuando como psicóloga em uma unidade básica<br />

de saúde (UBS) do Programa Saúde da Família (PSF),fui convocada pelo coordenador para<br />

prestar apoio às equipes do Programa. Escolhi a Terapia Comunitária como ferramenta para este<br />

trabalho e recebi a companhia de meu colega Gilson Luiz de Andrade que assumiu a função de<br />

co-terapeuta, enquanto eu permanecia como terapeuta. Passamos a constituir a Assessoria Psicológica<br />

do Programa, visitando as equipes em suas próprias unidades.<br />

Chegamos a cada UBS com a proposta de fazermos 10 rodas de Terapia Comunitária, com<br />

uma avaliação quando chegássemos à quinta. As equipes concordaram e escolheram que os intervalos<br />

entre as rodas fossem de quinze dias. Nem todos apreciam muito a atividade e a média<br />

de presença é de 7 pessoas, mesmo em equipes grandes, que chegam a ter 15 funcionários.<br />

¹Graduada em Psicologia pela Universidade Santa Úrsula (USU), com especialização em Terapia<br />

Familiar Sistêmica Construtivista, pelo Instituto de Terapia de Família (atual MULTIVER-<br />

SA) e formação em Terapia Comunitária pela Universidade Federal do Ceará (UFC), através<br />

do pólo formador Instituto NOOS, no qual trabalha desde 2007 como membro da Equipe de<br />

Formação em Terapia Comunitária. Atua desde 2003 como Psicóloga da Prefeitura Municipal<br />

de Maricá-RJ.<br />

Dificuldades Encontradas<br />

Sendo assim temos que lidar com diferentes graus de participação e envolvimento e suportar<br />

longos minutos de silêncio durante a Escolha do Tema. Isto evidencia o medo de se expor e<br />

a grande dificuldade de obtermos a confiança de algumas destas pessoas, que nos veem como<br />

possíveis delatores de suas angústias para seus superiores.<br />

Nas equipes nas quais as pessoas têm mais escolaridade eu me sinto mais avaliada do que<br />

acolhida, aumentando minha insegurança enquanto terapeuta. Algumas vezes me perdi na Escolha<br />

do Tema, deixando-me levar pelo que mais aparecia no momento da identificação e não<br />

fazendo a votação. No final das rodas, eu saía com uma sensação de que a roda não tinha agradado<br />

tanto, que não tínhamos tocado no ponto certo. Quando notei minha falha, tratei de corrigir<br />

e tive mais retornos positivos sobre os temas escolhidos.<br />

56


Estratégias<br />

Diante do desconforto do silêncio – que eu insisto em suportar – comecei a dar conotações<br />

positivas para estes momentos, valorizando-os como oportunidades de pausa e reflexão. Acrescento<br />

algumas vezes uma frase conhecida - “Amigo é aquele com quem você se sente bem até<br />

em silêncio” – aproveitando para dizer que, se é possível ficar em silêncio, também é possível<br />

compartilhar alguns pensamentos e vivências que me perturbam, desde que me seja confortável<br />

esta partilha.<br />

No entanto, sempre aposto na utilização do Acolhimento como campo preparatório para a Escolha<br />

do Tema. Com a vantagem de ir conhecendo o perfil de cada equipe, eu e Gilson pensamos<br />

em dinâmicas que ajudem a trazer os temas à tona e às vezes levamos materiais de desenhos<br />

para desenhos temáticos, por exemplo. Levamos também contos de fadas e outras histórias,<br />

propomos a técnica da escultura e a dinâmica do telefone sem fio, que sempre ajuda a se tocar no<br />

assunto da fofoca – um dos temas que mais aparecem. A dinâmica chamada “Que bichinho meu<br />

colega seria?” dá abertura para falarmos um do outro com respeito e aprofundarmos as relações,<br />

construindo um ambiente mais íntimo.<br />

Temas Mais Frequentes<br />

Os quatro mais freqüentes são: a fofoca, a traição, os conflitos de opinião sobre o trabalho<br />

e as condições precárias de trabalho. Estes, quando aprofundados, sugerem outros, tais como:<br />

• Dificuldade no entendimento sobre o que é o PSF (tanto da equipe quanto da comunidade).<br />

Fica bem claro em todas as equipes a necessidade de maior cuidado no momento de<br />

implantação do Programa, principalmente quando o posto já era utilizado como posto de saúde<br />

convencional. É extremamente difícil explicar para a comunidade que naquele posto não se<br />

atende mais emergências e outras especificidades do Programa Saúde da Família sem haver uma<br />

prévia explicação pública por parte das autoridades.<br />

• Indicações políticas para os cargos (principalmente de agentes comunitários de saúde<br />

- ACSs). Por causa disto, muitos funcionários vão trabalhar sem saber onde estão pisando exatamente.<br />

Alguns encaram o trabalho como “bico” e não veem a proporção de sua responsabilidade.<br />

Confiando em seus “padrinhos” – os vereadores que lhes arranjaram tal emprego – atuam no<br />

posto como se fosse um posto de saúde convencional e não dão valor à promoção de saúde. Isto<br />

gera muitos conflitos com aqueles que têm uma visão mais clara do Programa.<br />

• Relação comunidade-equipe: demandas indevidas. Pela falta de conhecimento sobre o<br />

Programa, a comunidade traz demandas que não são da alçada dos ACSs nem dos médicos ou<br />

demais funcionários.<br />

• Educação em saúde feita pelos médicos e enfermeiros nas consultas individuais. A comunidade<br />

não é muito acostumada a ver um médico em uma palestra ou o enfermeiro na sala de<br />

espera e algumas pessoas entendem que eles estão querendo fugir do trabalho, chegando a fazer<br />

denúncias à Secretaria de Saúde. Assim resta a estes profissionais tratar as questões de prevenção<br />

e promoção de saúde em seu consultório, nas consultas individuais – o que toma muito do<br />

seu tempo.<br />

57


• “Salas de espera” pouco utilizadas. Parece-nos que a própria equipe não tem hábito de<br />

utilizar a sala de espera como oportunidade de promoção de saúde.<br />

• Temas familiares são bem acolhidos. É muito agradável quando alguém traz estes temas,<br />

pois a equipe acolhe a dor daquele colega com muito carinho e passa a compreendê-lo<br />

melhor.<br />

Resultados<br />

Apesar de muitas vezes nos sentirmos alvo de desconfiança, até agora acreditamos que<br />

as vantagens pesam mais que as desvantagens nesta empreitada. Esta conclusão vem a partir do<br />

retorno das equipes e de nossa própria observação de mudanças, tais como:<br />

• Melhora na integração da equipe: o ambiente acolhedor da TC estende-se para o dia-a-<br />

-dia e o aprofundamento das relações gera mais tolerância e intimidade e os conflitos escondidos<br />

na correria do trabalho podem vir à tona, recebidos com a proteção das regras.<br />

• Melhora na relação com a comunidade: sentimos as equipes mais interessadas e curiosas<br />

com as comunidades e mais abertas aos trabalhos em grupo.<br />

• Maior auto-estima do grupo: descoberta do valor de suas funções, tanto em relação à<br />

comunidade quanto aos outros membros da equipe. A TC certamente garante a horizontalidade<br />

nas relações, mesmo quando as diferenças sociais e hierárquicas são muito marcadas na equipe.<br />

Isto é um dos pontos cativantes da Terapia Comunitária, fato declarado na maioria dos encerramentos<br />

das rodas. No meio do balanço, o conforto de ter sido igualmente escutado, sendo<br />

médico, sendo auxiliar de limpeza.<br />

• Mais autoridade conquistada e reconhecida: torna-se mais fácil dizer “não” às demandas<br />

indevidas da comunidade, principalmente pelo apoio grupal, que se constrói na coesão do<br />

entendimento sobre suas funções.<br />

• Alívio de tensões individuais: além do benefício do desabafo, a TC é um momento de<br />

apoio dos colegas de trabalho, que passam a se conhecer e compreender melhor.<br />

• Aprendizado levado para a vida. Inúmeros profissionais compartilharam conosco que<br />

levaram um pouco da TC para suas casas e suas vidas – as regras, a coragem para falar e o respeito<br />

ao escutar são atitudes muito citadas.<br />

Conclusão<br />

Apesar das dificuldades citadas, estamos satisfeitos com os resultados que obtivemos até<br />

agora. Como tudo que é novo requer paciência e persistência conforta-nos lembrar que estamos<br />

na primeira rodada do processo e é animador perceber que testemunhamos a descoberta das<br />

equipes de sua capacidade de refletir, dialogar e de compartilhar em grupo. Logo, pretendemos<br />

ampliar a oportunidade das equipes exercerem essas capacidades através do “Cuidando do Cuidador”,<br />

que terá início em novembro deste ano de 2007.<br />

Também é fonte de conforto a esperança de que, através da sensibilização da equipe, poderemos<br />

levar a TC diretamente para a comunidade. Mas para isso, necessitamos de formação para<br />

os profissionais do Programa, de modo que eles mesmos deem conta desta função, o que seria<br />

impossível para apenas um terapeuta comunitário no município. Muitos se interessariam, pois já<br />

foram conquistados pela TC.<br />

58


Acreditar que as decepções e desencorajamentos são frutos do medo do desconhecido nos dá<br />

força para continuar desbravando as trilhas das falas contidas e dos abraços reprimidos. Cortando<br />

os matagais com suas músicas despretensiosas, suas histórias encantadoras e suas brincadeiras<br />

gentis, a Terapia Comunitária enche os ambientes de saúde e alegria, ajudando estes<br />

funcionários a realizarem de verdade as diretrizes do Sistema Único de Saúde brasileiro.<br />

Assim, devagar e sempre, vamos marcando o espaço da Terapia Comunitária neste município,<br />

confiando no velho ditado, que diz:<br />

“DE GRÃO EM GRÃO A GALINHA ENCHE O PAPO!”<br />

59


DA REFORMA PSIQUIÁTRICA AOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL<br />

(CAPS): DESAFIOS PRÁTICOS E EPISTEMOLÓGICOS FRENTE ÁS POLÍTICAS<br />

DE INCLUSÃO SOCIAL<br />

Najla Nassere<br />

Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC<br />

Introdução<br />

O processo da Reforma Psiquiátrica e concomitante os novos serviços no campo da saúde mental<br />

vem demonstrando alguns desafios práticos e epistemológicos no que se refere à inclusão<br />

social. Se por um lado tem-se evidenciado a tentativa de mudança e ruptura em relação ao antigo<br />

modelo hospitalocêntrico, por outro lado percebe-se dificuldades de integração entre as disciplinas<br />

atuantes nos novos dispositivos de saúde.<br />

Os impasses na construção de um novo paradigma que abandone práticas centralizadoras, focadas<br />

na doença e no biológico acarretam impasses na desmistificação da loucura como periculosidade.<br />

Este trabalho mostra, a partir da implementação das práticas dentro de um Centro<br />

de atenção psicossocial (CAPS) do interior do RS, como a Reforma Psiquiátrica do município<br />

vem se efetivando. No decorrer do trabalho, vão se apresentando as iniciativas, as mudanças,<br />

os desafios enfrentados pela equipe de profissionais, entre outras questões que dizem respeito<br />

a este processo tão necessário e ao mesmo tempo tão complexo da Reforma Psiquiátrica e da<br />

inclusão social.<br />

Da psiquiatrização e do desafio multidisciplinar<br />

Há apenas duas décadas, outros profissionais como: enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos,<br />

terapeutas ocupacionais, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogos, entre outros, passaram a atuar<br />

no âmbito da saúde mental, dividindo com o psiquiatra o espaço, o saber e o poder dentro dos<br />

serviços substitutivos ao manicômio. Este processo de mudança estrutural 1 e funcional 2 exigiu<br />

dos profissionais um novo modo de interação dentro do novo dispositivo CAPS. O desafio multidisciplinar<br />

relaciona-se ao fato de que, até então, todo o poder em relação ao tratamento aos “doentes<br />

mentais” encontrava-se nas mãos dos psiquiatras. A inserção de novas disciplinas implicou<br />

em novos olhares, novos conhecimentos e opiniões acerca dos conceitos até então construídos,<br />

que embasavam a prática dos psiquiatras. Este pode ser o motivo de tantas referências quanto as<br />

dificuldades de um relacionamento harmônico entre as novas disciplinas e a Psiquiatria.<br />

No processo de desconstrução do modelo asilar acreditava-se que o trabalho envolvendo diversos<br />

profissionais, seja ele, interdisciplinar, multidisciplinar, pluridisciplinar ou transdisciplinar,<br />

possibilitaria novos olhares acerca do “paciente” e a ruptura com o poder da psiquiatria. Deste<br />

modo, a atenção estaria voltada não somente à “doença”, mas ao ser humano como um todo em<br />

sua integralidade.<br />

1 Este termo foi utilizado para referir o processo de tentativa de ruptura com o modelo hospitalocêntrico e a<br />

construção dos novos serviços de assistência à saúde mental<br />

2 Refere-se à construção de novas práxis dentro do novo dispositivo de saúde mental.<br />

60


No que se refere aos CAPS do município estudado no interior do RS, os entrevistados afirmam<br />

que a multidisciplinaridade define o trabalho de suas equipes, visto que vários profissionais, com<br />

seus diferentes saberes, oferecem um olhar ao sujeito e a família que busca auxílio. Há referência,<br />

entre os mesmos, de que existe um espaço nas reuniões de equipe para que se possa fazer<br />

uma análise do funcionamento deste novo dispositivo de saúde mental, das práticas construídas<br />

e, a partir disto, avaliar e definir que tipo de equipe os mesmos estão construindo e reproduzindo.<br />

O conceito de multidisciplinaridade 1 , analisado por autores como Japiassu (1976), Almeida<br />

Filho (1997) e Vasconcelos (2002), compreende a existência de diversos profissionais, com os<br />

seus saberes e análises, mas sem que ocorra trocas entre eles, visto que cada disciplina possui o<br />

seu objetivo. As críticas, em direção a muldisciplinaridade, apontam que esta forma de trabalho<br />

acaba reproduzindo a fragmentação das práticas disciplinares. Em contrapartida, existe a consideração<br />

de que a multidiscplinaridade oportuniza que múltiplas dimensões de um fenômeno<br />

seja explorado.<br />

Contudo, os profissionais entrevistados referem momentos de trocas entre eles, mas reconhecem<br />

que ainda existem algumas limitações para que ocorra uma real circulação do discurso acerca<br />

dos saberes, como acontece na interdisciplinaridade. Devido a tal fato, consideram-se uma equipe<br />

multidisciplinar, mas com o objetivo de tornar-se interdisciplinar. Isto pode ser evidenciado<br />

na entrevista com a fonoaudióloga do CAPS infantil, no momento em que afirma “Acredito que<br />

somos uma equipe multidisciplinar, mas temos como objetivo a interdisciplinaridade. Estamos<br />

trabalhando para isto.” Do mesmo modo, a psicóloga do CAPS infantil menciona “Só pelo fato<br />

de termos vários profissionais, de várias áreas, já é um trabalho multidisciplinar. A questão maior<br />

é se é inter! Se a gente consegue fazer as trocas, discutir os casos, ter o olhar das várias áreas...<br />

fizemos um exercício para isto.”<br />

Vale lembrar que alguns teróricos como Japiassu (1976), Vilela e Mendes (2003), Dal’ Pizol<br />

et. al.(2003), construíram uma definição para a interdisciplinaridade. Segundo estes autores, a<br />

interdisciplinaridade refere-se a capacidade dos profissionais de se organizarem em torno de um<br />

mesmo objetivo e possibilitarem um espaço de circulação do discurso, de pecepções, de análises,<br />

baseados nos mais diversos saberes. A atuação interdisciplinar considera que através da<br />

integração de diversos saberes haverá uma maior compreensão acerca da muldimensionalidade<br />

do sujeito. Deste modo, as trocas de saberes, o reconhecimento da complexidade do ser humano<br />

e das limitações existentes em uma área de saber, são suas características.<br />

Para Vilela e Mendes (2003), a superação do modelo multidisciplinar e a construção de práticas<br />

interdisciplinares requer algumas características de personalidade dos próprios membros<br />

da equipe, como por exemplo: flexibilidade, confiança, paciência, sensibilidade, etc. Sem estas<br />

características, a equipe pode ser caracterizada apenas como um conjunto de pessoas com diferentes<br />

saberes. Além disto, a dificuldade de interação e relacionamento entre os membros de<br />

uma equipe podem facilitar a emersão de inúmeros conflitos entre os profissionais, dificultando<br />

o trabalho.<br />

1 Os conceitos acerca da multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade,<br />

encontram-se no segundo capítulo, mais precisamente no item 2.4.<br />

61


Os profissionais entrevistados salientam a importância dos relacionamentos interpessoais entre<br />

os membros da equipe para a constituição de uma equipe interdisciplinar. Em relação a isto, a<br />

assistente social do CAPS infantil argumenta:<br />

Interdisciplinaridade é poder delegar para o outro fazer e isto não acontece<br />

no nosso CAPS! Já tivemos supervisões institucionais, para resgatar<br />

a relação de confiança...estamos num processo de mudança em relação a<br />

isto, mas acho que temos grandes momentos de equipe multidisciplinar e<br />

grandes momentos de equipe interdisciplinar.<br />

Nesta fala, trabalhar interdisciplinarmente é admitir que o outro sabe tanto quanto eu e por isto<br />

posso confiar nele, posso escutá-lo, posso “delegar” tarefas, posso transmitir o que penso e o<br />

que sinto, sem bloqueios. “Confiar”, nesta fala, possui um duplo sentido: primeiro, de confiar<br />

no saber do outro; segundo, de confiar no seu próprio saber, sem sentir-se ameaçado frente ao<br />

saber do outro.<br />

Os profissionais entrevistados do CAPS adulto afirmam que sua equipe tem evoluído significativamente<br />

em direção à interdisciplinaridade. Um dos motivos, referido pelos entrevistados,<br />

relaciona-se ao fato de estarem a quase uma década em convivência. Em relação esta questão, a<br />

assistente social do CAPS adulto afirma:<br />

Pensamos que somos uma equipe multidisciplinar. Eu até brincava que<br />

éramos multi e as vezes inter, isto porque somos multi mas temos momentos<br />

de interdisciplinaridade. Acredito que estamos conseguindo evoluir.<br />

Estamos há nove anos juntos e trabalhamos com o seguinte princípio: o<br />

paciente não é do fulano, ele é do CAPS.<br />

Este “princípio” foi referido em quase todas as falas dos profissionais entrevistados, passando<br />

a denotar a existência do deslocamento do saber/poder disciplinar para o saber/poder do dispositivo.<br />

O “paciente” passa a ser considerado como um ser que pertence a instituição, ao equipamento,<br />

o que de certa forma, denota a idéia de posse. Esta estratégia de defesa contra a atuação<br />

fragmentadora do saber disciplinar e contra a hierarquia entre os profissionais, responsabiliza<br />

todos os membros da equipe pelo tratamento. Este apelo, em direção ao reconhecimento de que<br />

o “paciente” é do CAPS, configura-se como uma tentativa de integração da equipe. O “paciente”<br />

seria o objetivo primeiro a ser acolhido por todos. Pode-se pensar também que, uma frase como<br />

esta, teria a intenção de facilitar a construção de uma prática interdisciplinar.<br />

Em ambos os CAPS do município, os entrevistados referiram que estão construindo caminhos<br />

para chegar à interdisciplinaridade. Nesse sentido, multidisciplinaridade em processo de construção<br />

de uma prática interdisciplinar, parece ser o que define os CAPS do município estudado,<br />

pois todos os profissionais entrevistados referiram que possuem momentos de interdisciplinaridade.<br />

Cabe salientar que há um grande desejo de tornar-se uma equipe interdisciplinar, onde<br />

o discurso compreendendo diversos olhares e percepções possa circular, entre eles, sem receio.<br />

62


Alguns profissionais entrevistados afirmaram a existência da hierarquização entre as profissões<br />

atuantes nos CAPS, o que de certa forma, pode dificultar a possibilidade de maiores espaços de<br />

trocas e de uma maior horizontalidade entre eles. Contudo, os mesmos defendem-se, salientando<br />

que a hierarquia faz parte de todas as equipes profissionais. “Sabemos que é clássico que o<br />

médico é o ‘poderoso’, o médico é o ‘maior’. Então não é algo que a gente possa dizer que seja<br />

da nossa equipe”, comenta a terapeuta ocupacional do CAPS adulto. Os entrevistados destacam<br />

que a hierarquia existente não afeta tanto, visto que todos tem o “poder da palavra.” A psicóloga<br />

do CAPS adulto destaca “tudo o que acontece a gente diz ‘vamos discutir em equipe’, chega ser<br />

uma frase típica.”<br />

Os entrevistados parecem naturalizar a questão da hierarquia, como uma forma de não deixar<br />

que a mesma transpareça. Há um sentimento de ameaça de desintegração da equipe e, devido a<br />

isto, os mesmos optam em negar a influência da hierarquia nas práticas e nos relacionamentos<br />

entre os membros da equipe. Há de se considerar que ter o “poder da palavra” não significa que<br />

todos sentem-se autorizados para falar.<br />

A questão do status médico é apontado pelos entrevistados como uma construção social e cultural<br />

e, a comunidade retroalimenta este sistema ao continuar supervalorizando o papel ocupado<br />

pelo médico. Este fato é expresso com indignação pela assistente social do CAPS adulto:<br />

Há uma hierarquia, ainda muito forte na cabeça do paciente. Brincamos em<br />

relação ao fato de que o paciente pode conversar uma hora e meia contigo,<br />

mas no final pergunta... ‘eu não vou conversar com o médico’. Nos agradecimentos,<br />

nas festas de natal, tinha muito isto, ‘quero agradecer ao doutor<br />

fulano, doutora beltrana, doutor ciclano’. Só que o doutor pouco conversou<br />

com ele...quem conviveu com ele foi todo o resto da equipe!<br />

A psicóloga do CAPS adulto complementa:<br />

Tudo isto faz parte de uma cultura e, a realidade nos mostra que quando se<br />

fala em saúde, se pensa em médico. E aqui a gente sabe que os “doutores”<br />

são os médicos, então tem uma coisa do tipo, a agenda do psiquiatra tem<br />

que estar organizada, os prontuários dos psiquiatras tem que estar prontos.<br />

Então tem hierarquia, né! A gente percebe no dia-dia assim...até na nossa<br />

equipe tem... ‘ela é psiquiatra, ele é o psiquiatra, que medicam, que vão<br />

atender casos graves, é cultural, é da nossa realidade.<br />

Diante destes relatos questiona-se a possibilidade de um trabalho interdisciplinar. Como construir<br />

um espaço de trocas, de circulação discursiva e de confiança, se há um cenário de supervalorização<br />

de um único saber em detrimento da consideração de todos os outros saberes?<br />

As equipes dos CAPS possuem um coordenador, que é eleito pelos próprios profissionais, para<br />

representá-los. Mas, este fato não é referido por eles como uma hierarquia, pois em nenhum<br />

momento o coordenador impõe decisões. No CAPS adulto a coordenadora é uma assistente social<br />

e no CAPS infantil o coordenador do serviço é um psicólogo. Os entrevistados referem que<br />

há momentos de expressão do que se pensa, e que qualquer decisão, seja ela administrativa ou<br />

clínica, é pensada e discutida por todos os profissionais da equipe.<br />

63


A equipe tanto do CAPS adulto quanto a equipe do CAPS infantil reúne-se uma vez por semana,<br />

durante duas horas. No primeiro momento da reunião são abordados questões administrativas e<br />

após há uma reunião clínica. Participam deste encontro tanto a “equipe técnica” (profissionais de<br />

saúde mental) quanto a “equipe de apoio” (secretárias, segurança, motorista, servente). No entanto,<br />

os entrevistados referem que esta separação entre “equipe técnica” e a “equipe de apoio”<br />

deveria ser abolida, pois o comprometimento deve passar a ser de todos.<br />

A assitente social do CAPS adulto comenta:<br />

Quando discutimos os casos clínicos dos pacientes, acabamos liberando<br />

a equipe de apoio porque eles acabam indo embora. Então acho que esta<br />

é a dificuldade que ainda tem, de alguns papéis, de algumas pessoas desta<br />

equipe que não estão tão integradas quanto deveriam...<br />

O distanciamento da “equipe de apoio” é evidenciada pela própria denominação atribuída a ela.<br />

Seu sentido denota uma relevância menor se comparada ao saber da “equipe técnica”. O fato<br />

da “equipe de apoio” não permanecer nas reuniões para escutar e participar dos comentários<br />

em relação aos casos clínicos, parece provir do sentimento de não pertencimento em relação a<br />

equipe de cuidadores do CAPS, e/ou da intimidação em não ter o que dizer, por ser julgada ou<br />

julgar-se não possuidora de um saber clínico. Deve-se pensar até que ponto a “equipe técnica”<br />

oportuniza um espaço para que os mesmos também falem sobre suas tarefas diárias, afinal, a<br />

tão desejada integração, relatada pelos profissionais entrevistados, requer o reconhecimento de<br />

todos, enquanto sujeitos pensantes, atuantes, detentores de idéias, saberes, percepções, desejos<br />

e expectativas.<br />

A terapeuta ocupacional do CAPS adulto argumenta:<br />

Não dá para dizer que a abordagem é só dos técnicos, a abordagem é de<br />

todos. Desde o serviço de limpeza...se o paciente está no banheiro e a nossa<br />

servente vai lá lavar o banheiro, ela tem que ter toda uma abordagem também<br />

com este indivíduo, orientar na hora da comida a como melhor pegar o<br />

talher, comer devagarinho. Nós somos uma equipe, mas não só de técnicos,<br />

a equipe de apoio também deve estar junto!<br />

Apesar dos impasses quanto ao distanciamento entre a “equipe técnica” e a “equipe de apoio”,<br />

bem como a hierarquização da medicina, os profissionais entrevistados referem muitas vantagens<br />

em relação ao trabalho em equipe.<br />

Conforme a fonoaudióloga do CAPS infantil:<br />

O melhor de uma equipe são as trocas. Poder dividir com o colega, estar<br />

trocando experiências e percepções. Quando estamos sozinhos ficamos somente<br />

com a nossa visão, mas compartilhando, passamos a ter mais dados,<br />

ter mais informações. Além disto acabamos aprendendo um pouco de outras<br />

áreas.<br />

As “vantagens do trabalho em equipe”, descritas pela maioria dos profissionais entrevistados,<br />

revelam um forte desejo de que sua equipe atue de modo interdisciplinar. Há uma grande idealização<br />

quanto a este modelo de equipe, como se o mesmo possibilitasse a resolução de todos os<br />

problemas, salvando a assitência à saúde.<br />

64


A psicóloga do CAPS infantil, refere a existência de uma relação de compartilhamento entre os<br />

membros de sua equipe:<br />

Eu particularmente gosto muito de equipe, pois o trabalho que a gente faz<br />

não é um trabalho leve, exige muito que a gente esteja atenta, oferecendo<br />

o melhor e, as vezes, trabalhando sozinha acaba ficando muito pesado.<br />

Quando temos um colega para compartilhar, dá uma boa aliviada. Temos<br />

sorte de ter uma equipe que pega junto, que briga e batalha pelo que acha<br />

que é. Às vezes tem uns meio teimosos e o que acontece é que cada um<br />

quer defender a sua idéia. Então quando se quer tomar uma decisão é que<br />

se encurrala. Falta a objetividade, mas no geral, eu acho ótimo trabalhar<br />

em equipe.<br />

A maioria dos profissionais entrevistados referiram dificuldades de decisão e de resolução. Tais<br />

dificuldades, segundo eles, acabam retardando mudanças e decisões necessárias. Nas palavras<br />

da psicóloga do CAPS adulto este fato é evidenciado:<br />

Notamos que aqui a gente fala, fala, fala...mas temos dificuldade em decidir<br />

algo. Temos dificuldade de resolução, pois, as vezes, cada um tem uma<br />

opinião, uma idéia e, até tentar se chegar em um consenso...Eu acho que<br />

qualquer equipe tem estas características: não existe um único pensamento,<br />

linear e objetivo... a gente vai, a gente volta.<br />

Todavia, há de se considerar que a diversidade de opiniões em uma equipe pode, dependendo das<br />

relações interpessoais entre os profissionais que a ela pertencem, ou enriquecer as considerações<br />

acerca de um determinado caso ou, ser gerador de conflitos entre os seus membros.<br />

Em relação a esta questão, vale lembrar que autores como Botega e Dalgalarrondo (1997) alertam<br />

que o trabalho em equipe pode incitar um número maior de conflitos entre os profissionais,<br />

tornando aparente um ambiente de tensões e rivalidades.<br />

No que se refere aos CAPS do município estudado, pode-se pensar que a hierarquia de uma<br />

determinada profissão, como é o caso da Psiquiatria, pode ocasionar conflitos e competições,<br />

prejudicando espaços de troca e a execução do trabalho em equipe.<br />

A percepção acerca das vantagens do trabalho em equipe, relatadas pelos entrevistados, conduz<br />

a pensar que, por alguns momentos, os profissionais das equipes dos CAPS do município conseguem<br />

ir além do modo de atuação multidisciplinar, mas questões como a hierarquia da classe<br />

médica e o distanciamento existente entre a “equipe técnica” e “equipe de apoio”, consituem-se<br />

como os grandes desafios para a consolidação de práticas interdisciplinares.<br />

65


Das limitações da política pública de saúde mental à possibilidade de retorno ao modelo hospitalocêntrico<br />

No município estudado os profissionais dos CAPS referem que existe um distanciamento entre<br />

quem elabora as políticas de saúde mental e quem as executa. Desta relação fragmentada emergem<br />

as falhas do processo da Reforma Psiquiátrica, utilizadas como instrumentos poderosos por<br />

todos aqueles que desejam por fim a este processo.<br />

As críticas aos serviços substitutivos ao manicômio levantam questionamentos acerca da consolidação<br />

da Reforma Psiquiátrica. A estratégia de denunciar as falhas na política pública de saúde<br />

mental assegura a possibilidade de desconstrução dos discursos e das práticas propostas pela<br />

Reforma Psiquiátrica, visto que esta última vem tentando por fim a hegemonia da psiquiatria.<br />

Esta questão parece ser crucial, pois pode ocorrer de alguns profissionais atuarem dentro das<br />

instituições de assistência a saúde mental preconizadas pela Reforma Psiquiátrica, sem necessariamente<br />

ser a favor da mesma. No entanto, admitir tal fato poderia provocar inúmeros conflitos.<br />

Devido a isto, optam por enfatizar somente as precariedades dos serviços substitutivos ao<br />

manicômio e, raramente referem os benefícios dos mesmos. Pode haver inclusive a necessidade<br />

de manter o sistema de saúde mental precário, para que emerjam denúncias e reivindicações por<br />

mudanças no processo da Reforma Psiquiátrica. Sendo assim, as críticas quanto às precariedades<br />

na assistência à saúde mental podem até apontar uma realidade, mas o objetivo é que elas<br />

existam e sejam utilizadas para desconstruir este novo modelo de assistência que desconstruiu o<br />

lugar e o poder da psiquiatria.<br />

Cabe salientar, que tal conduta não é regra, mas sim uma possibilidade dentro do contexto da<br />

Reforma Psiquiátrica, pois esta visa rupturas com o paradigma psiquiátrico, o que de certa forma<br />

gera resistências às mudanças por parte de todos aqueles que sentem-se invadidos, agredidos e<br />

não encontram espaços para manifestar seus desejos de hegemonia e de legitimidade social. Os<br />

mesmos negam tais desejos, a fim de não parecer perversos, ou seja, não parecer distantes dos<br />

princípios éticos e sociais, baseados na igualdade, cidadania e liberdade. Por isto dirigir críticas<br />

a Reforma Psiquiátrica passa a ser a estratégia utilizada para desconstruí-la, pois é exatamente<br />

assim que sentem-se.<br />

Por outro lado, há de se considerar que muitas críticas podem ser consideradas propositivas, no<br />

sentido de melhorar o funcionamento dos serviços substitutivos em saúde mental, construindo<br />

novos caminhos e propostas de atuação, a fim de diminuir os obstáculos existentes. Neste sentido,<br />

os profissionais entrevistados referem a necessidade do governo investir em prioridades no<br />

âmbito de saúde mental e, o CAPS álcool e drogas (CAPSad) é uma necessidade no Brasil, visto<br />

que o índice de usuários de drogas lícitas e ilícitas é grande e acaba lotando os serviços.<br />

No entanto, no contexto da Reforma Psiquiátrica brasileira, os CAPS representam apenas uma<br />

das formas consideradas substitutivas ao modelo manicomial. Contudo, apesar de existirem<br />

outras formas substitutivas ao modelo manicomial, evidencia-se uma grande ênfase dada aos<br />

CAPS. Quanto a esta questão a Psicóloga do CAPS adulto observa:<br />

66


A reforma psiquiátrica não é Caps e, os serviços substitutivos não se limitam<br />

ao Caps. Existem os Serviços Residencias terapêuticos, tem Naps,<br />

hospitais gerais...que poderiam ser implantados aqui ou regionalmente.<br />

Mas acabou que foi criado o CAPS como se fosse a solução...e não é...a<br />

gente não tem pernas, a gente não consegue fazer tudo.<br />

A falta de investimentos em outros serviços substitutivos ao manicômio acaba acarretando em<br />

uma grande demanda para o CAPS. Tal fato pode incitar dúvidas quanto à desconstrução de<br />

estigmas, visto que, se uma instituição especializada torna-se a única referência de tratamento<br />

em um município, a mesma pode estar demarcando um espaço característico de “portadores da<br />

doença mental”, o que de certa forma não rompe com os pré-conceitos. Por isto a insistência do<br />

Ministério da Saúde quanto à necessidade de articulação entre os serviços CAPS e os postos de<br />

saúde, a fim de que os mesmos não se constituam como “mini-manicômios.”<br />

Esta “capsização” 1 , é apontada por Amarante (2006), como um grande risco do serviço distanciar-se<br />

das propostas da Reforma Psiquiátrica. Tal fato, pode inclusive constituir-se como objeto<br />

de questionamentos acerca de uma ruptura com o modelo de instituição centralizadora.<br />

A questão das semelhanças entre os CAPS e o modelo hospitalocêntrico têm provocado controvérsias<br />

no processo da Reforma Psiquiátrica. Apesar do CAPS não enclausurar, como ocorria<br />

nos grandes hospitais psiquiátricos, ele possui características de classificação por patologias,<br />

dificuldades de desconstruir a hierarquia da psiquiatria e criar novas relações entre as disciplinas<br />

atuantes, de modo que haja uma maior horizontalidade, entre os profissionais. Esta questão parece<br />

ser de fundamental importância, pois se houvesse uma maior tolerância das diferenças entre<br />

os diversos saberes, dentro da própria equipe de profissionais, talvez fosse mais fácil construir<br />

um espaço onde as diferenças deixassem de se constituir como obstaculizadoras do modo de<br />

viver e de se relacionar em sociedade.<br />

1 Proliferação de CAPS existentes no Brasil, como se fossem os únicos serviços substitutivos em saúde<br />

mental.<br />

67


A TERAPIA COMUNITÁRIA COMO INSTRUMENTO DE FORMAÇÃO INTEGRAL<br />

E DE CONSTRUÇÃO DE CIDADANIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA<br />

68<br />

Autora: Adriane Vieira Ferrarini 1<br />

Resumo:<br />

Em contextos de pobreza, o trabalho com famílias torna-se mais complexo. Não basta trabalhar<br />

as relações e conflitos familiares quando “não se tem o pão na mesa”. O trabalho apresenta uma<br />

experiência de extensão universitária que mostra a necessidade e a possibilidade da terapia comunitária<br />

dialogar com práticas emancipatórias de desenvolvimento local para a ampliação da<br />

participação da comunidade na identificação de suas dificuldades e na construção de alternativas<br />

sustentáveis.<br />

Palavras-chave: comunidade – participação – sustentabilidade<br />

Introdução<br />

O agravamento da questão social contemporânea se expressa pelo aumento da desigualdade social;<br />

comunidades se vêem assoladas pelo desemprego, violência, dependência química, gravidez<br />

precoce, doenças crônicas, tráfico de drogas, entre tantas outras expressões. São dificuldades<br />

de toda ordem que evidenciam a multidimensionalidade da pobreza e, em conseqüência, suscitam<br />

a necessidade de ações integradas para seu enfrentamento. Ações paliativas e fragmentadas<br />

têm sido crescentemente questionadas pelos diversos atores sociais, pois acabam por reproduzir<br />

o assistencialismo e a dependência.<br />

Neste artigo, apresentaremos a experiência que desenvolvemos na condição de docente e supervisora<br />

do curso de Serviço Social da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Trata-se<br />

do Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário que emerge na área da saúde e, ao se<br />

deparar com limites estruturais econômicos e ambientais para a efetividade do atendimento da<br />

população, volta-se para uma ação local integrada, tendo a terapia comunitária e o trabalho em<br />

rede como instrumentos fundamentais de atendimento às demandas coletivas e de mobilização<br />

comunitária, na perspectiva da integralidade na atenção à saúde.<br />

A responsabilidade social da Universidade no desenvolvimento da sociedade<br />

As últimas décadas trazem um quadro societário de grande complexidade. Por um lado, o desenvolvimento<br />

tecnológico trouxe a solução de muitos problemas que afligiam a humanidade,<br />

tais como a descoberta da cura de doenças e etc. Por outro lado, paradoxalmente, ampliou as<br />

desigualdades de toda ordem com conseqüência no aumento da pobreza e na degradação do<br />

meio ambiente de forma alarmante. Há cerca de dois terços da população mundial em condição<br />

de pobreza, morte de crianças por desnutrição, doenças evitáveis, esgotamento dos recursos naturais<br />

e catástrofes ambientais geradas pela ação humana que ameaçam cada vez mais o planeta.<br />

1 Graduada em Serviço Social pela ULBRA (Universidade Luterana do Brasil), com especialização em<br />

Terapia Familiar Sistêmica e Terapia Comunitária pelo Centro de Ensino e Atendimento Familiar (CAIF), mestre em<br />

Serviço Social pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e doutora em Sociologia pela<br />

UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Docente e supervisora do curso de graduação em Serviço Social<br />

da ULBRA e do curso de especialização em Intervenção Sócio-familiar. Docente e supervisora do CAIF (Centro<br />

de Ensino e Atendimento Familiar), do MISCRS (Movimento Integrado de Saúde Comunitária do Rio Grande do Sul)<br />

e colaboradora do CLIP (Instituto de Psicoterapia e Mediação).


A ciência tem papel fundamental na configuração da questão social, em primeiro lugar, por ter<br />

sido considerada como o único saber válido nas sociedades ocidentais ao longo dos últimos<br />

séculos. Em segundo lugar, a ciência oportunizou avanços e descobertas, em especial no campo<br />

das tecnologias, que revolucionaram a sociedade com extrema velocidade e intensidade e<br />

foram definidoras no modelo de desenvolvimento econômico, social e cultural da sociedade<br />

contemporânea globalizada, em especial nas últimas décadas. Além disso, destaca-se o papel<br />

da universidade - locus privilegiado do conhecimento científico - na formação dos profissionais<br />

que geralmente ocupam cargos de decisão, gestão e execução de organizações públicas e privadas<br />

nas diferentes áreas, bem como, no desenvolvimento de ações concretas voltadas para a<br />

comunidade. Tais funções correspondem ao chamado tripé do ensino superior: pesquisa, ensino<br />

e extensão.<br />

A era do conhecimento coloca a universidade como uma organização que tem importante contribuição<br />

a dar, não apenas no atendimento de problemáticas já instauradas, mas para a produção<br />

de formas e relações de desenvolvimento mais justo e sustentável, incorporando a dimensão<br />

ética que lhe fora extirpada sob o véu da neutralidade asséptica e assumindo as conseqüências<br />

de suas produções.<br />

A “Ciência Cidadã”, como vem sendo chamada, é vetor de contribuição<br />

para a diminuição do abismo entre o mundo científico e as necessidades do<br />

desenvolvimento social (BEZERRA e BURRSZTYN, 2000, p.14).<br />

Contudo, não é fácil nem imediato romper com a herança cartesiana ainda presente na especialização<br />

e fragmentação entre as áreas do saber. Porém, a realidade é sempre maior e mais dinâmica<br />

do que a teoria; é nas atividades de extensão universitária que e necessidade de mudança<br />

fica mais evidente. A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que<br />

articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre<br />

universidade e sociedade. A busca por ações condizentes com a complexidade das demandas<br />

dos múltiplas áreas do saber exige a eleição de critérios, tais como: participação efetiva dos<br />

envolvidos, intersetorialidade, sustentabilidade e territorialidade. Nesse sentido, o desenvolvimento<br />

local tem se mostrado uma estratégia fundamental para a materialização desses critérios<br />

na prática extensionista.<br />

O público-alvo prioritário dos programas comunitários da extensão universitária é a população<br />

de baixa renda. As altas taxas de desemprego, a falta de alimentação adequada, a grande incidência<br />

de doenças evitáveis, o aumento de violência doméstica e abuso sexual, o tráfico de drogas<br />

e outras atividades ilícitas como forma de sobrevivência, o uso de álcool e droga, as perdas<br />

e lutos, são situações cotidianas na vida das famílias de comunidades pobres.<br />

Cotidianamente, professores e alunos de diversas áreas se deparam com limitações da intervenção<br />

advindas da concepção fragmentada e individualizada dos conhecimentos e das metodologias,<br />

as quais aparecem de forma gritante através das desistências nos atendimentos, da não<br />

resolutividade, da reincidência, do paralelismo de ações profissionais, entre outras evidências.<br />

69


Essa realidade impôs-se para a autora desse trabalho a partir do ano de 2000 da ULBRA quando<br />

ela começou a desenvolver programas de atendimentos a indivíduos e famílias dentro do<br />

campus universitário, no Centro Multiprofissional (CMP) Núcleo Família e Redes Sociais do<br />

Curso de Serviço Social. O CMP oferece atendimentos de serviço social, fonoaudiologia, fisioterapia,<br />

psicologia, direito e optometria, bem como ações itinerantes em escolas, organizações<br />

não-governamentais e comunidades. No CMP eram recebidas famílias provenientes do Bairro<br />

Guajuviras, uma comunidade de baixa renda situada atrás campus da Universidade. Tais famílias<br />

vinham buscar atendimentos para todo o tipo de necessidades, mas em geral não permaneciam,<br />

mesmo quando necessitavam, devido à falta de recursos mínimos para o deslocamento e acompanhamento<br />

de um familiar.<br />

Em 2001, iniciamos uma aproximação com o Bairro Guajuviras para conhecermos os recursos<br />

existentes na tentativa de vincular as famílias à rede de serviços locais e estimular o fortalecimento<br />

de seus laços sociais. O contato com a realidade levou-nos a reconhecer o que já sabíamos:<br />

não adiantava tratar a saúde da família se não ela não tinha o pão na mesa ou tratar a criança<br />

com asma e desconsiderar o fato de que sua moradia não tinha saneamento básico e ficava em<br />

área de inundação em período de chuvas. As múltiplas expressões da questão social passavam<br />

também a ser objetos de intervenção dos profissionais. Os conflitos que indivíduos e famílias<br />

vivenciavam estavam profundamente relacionados a situações de vulnerabilidade social caracterizadas<br />

pela falta de trabalho e renda e pelo acesso precário a políticas, recursos e serviços<br />

básicos. A dignidade, o respeito e a solidariedade nas relações familiares são duramente afetados<br />

e redimensionados frente à necessidade de sobrevivência.<br />

O trabalho terapêutico era necessário, mas insuficiente. É comum aos profissionais que trabalham<br />

com famílias sentirem-se impotentes diante de tais circunstâncias e da escassez de recursos<br />

para revertê-las de forma efetiva. Entendíamos que a intervenção com famílias e grupos em<br />

situação de pobreza tinha de ir além da clínica e das salas de atendimento. Nesse momento, a<br />

intervenção terapêutica dialoga com práticas e políticas de combate à pobreza, a todo tipo de<br />

pobreza (econômica, humana, política, social, cultural e ambiental).<br />

Tal constatação levou-nos também a admitir a necessidade e a assumir o desafio de implementar<br />

um trabalho de extensão universitária com maior impacto na realidade da população através de<br />

uma estrutura diferenciada de atendimento que transpusesse os muros da universidade. Mesmo<br />

tendo claro que problemas estruturais não são de resolução imediata e que a universidade não<br />

tem a prerrogativa, capacidade ou intenção de substituir a ação do Estado no enfrentamento da<br />

questão social e no fomento ao desenvolvimento social, sabíamos da importância da construção<br />

de proposta metodológica que considerasse a existência desses problemas e contemplasse um<br />

espaço inicial de discussão e organização da comunidade na busca de construção de suas alternativas.<br />

O Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário teve início nesse repensar da concepção<br />

das atividades de extensão universitária a partir do princípio de integralidade, tanto na atenção<br />

à saúde, quanto na formação do aluno, que leva em consideração a necessidade de desenvolvimento<br />

de competências nas múltiplas dimensões: ético-política, teórico-metodológica e técnico-<br />

-operativa.<br />

70


Para Além dos Muros da Universidade<br />

A escolha do Bairro Guajuviras como locus do programa comunitário não ocorreu somente pela<br />

proximidade com a ULBRA e pela procedência de grande número de famílias, mas também<br />

porque já havia no Bairro um conjunto de experiências e recursos a serem potencializados.<br />

O Bairro Guajuviras, ou “Guaju”, como é popularmente conhecido, situa-se em Canoas, município<br />

que nas últimas décadas compõe a região com maior número de ocupações do Estado do<br />

Rio Grande do Sul. Diariamente, chegam famílias, até mesmo de outros Estados, que vão se alojando<br />

nas periferias do Bairro, sem infra-estrutura nem serviços básicos suficientes. Atualmente,<br />

segundo dados da Prefeitura de Canoas, o Bairro Guajuviras possui cerca de 70.000 habitantes,<br />

população maior do que a de muitos municípios do Estado; grande parte vive em condições de<br />

miséria e indigência.<br />

A motivação inicial de criação do programa comunitário foi descentralizar o atendimento, aproximando<br />

o serviço oferecido à localidade onde vivem. Não havia atendimento em saúde mental<br />

afora um psiquiatra em uma das duas unidades básicas de saúde, o qual fazia a prescrição de<br />

medicamentos. Apesar da evidência da necessidade dos serviços que tínhamos a oferecer, a conexão<br />

entre oferta e demanda não é um processo simples. Os técnicos têm um saber e um tipo<br />

de oferta, mas a população muitas vezes espera outra coisa, tem uma necessidade mais imediata<br />

e não está mobilizada para aquele serviço.<br />

Para Baremblitt (1996), as comunidades não possuem necessidades básicas indiscutíveis, naturais<br />

e espontâneas; em todas as organizações, a necessidade e a demanda são produzidas, mas<br />

os experts dizem o que elas necessitam, o que e como querem de acordo com critérios de legitimação<br />

do saber e do poder acadêmicos. Para evitar tal imposição, o primeiro passo foi o mapeamento<br />

das lideranças e dos recursos, visitas e contatos para conhecimento de suas potencialidades,<br />

necessidades e pontos de vista. Em outras palavras, escutar o que os moradores esperavam<br />

da Universidade e dizer-lhes o que ela tinha a oferecer, até porque o técnico também tem um<br />

saber que entra na relação. A escuta sensível é mais do que habilidade: é atitude que acompanha<br />

permanentemente o trabalho. Essa escuta significa promover processos de auto-análise, através<br />

dos quais as comunidades possam ser protagonistas de suas necessidades e demandas e possam<br />

enunciar, compreender e adquirir vocabulário próprio. Os processos auto-analíticos são produtores<br />

de um saber que envolve poder; é um saber coletivo, produzido, distribuído e exercitado na<br />

comunidade. Posteriormente, a Rede Local Integrada, espaço de discussão dos problemas locais<br />

e de articulação dos recursos entre entidades de todo tipo que atuam na comunidade (organizações<br />

não-governamentais, poder público e entidades privadas), foi criada para desempenhar a<br />

função de promover processos auto-analíticos capazes, inclusive, de nos dar feedback e informar<br />

novas demandas para a intervenção da universidade.<br />

Além disso, através do uso de metodologias participativas, como o planejamento estratégico,<br />

a Rede busca estimular processos autogestionários das lideranças e moradores do Bairro, visto<br />

que a auto-análise e autogestão, de acordo com Baremblitt (1996), são processos simultâneos e<br />

articulados. Isso porque a comunidade tem que se organizar em grupos de discussão, em assembléias<br />

e chamar aliados para colaborarem com ela. Ao mesmo tempo, tudo o que ela descobre<br />

neste processo de auto-conhecimento tem o objetivo de sua auto-organização para operar as<br />

transformações necessárias.<br />

71


Percebemos que a comunidade era heterogênea; havia grupos em situação de extrema pobreza<br />

que buscava atendimento de necessidades imediatas e materiais, assim como grupos organizados<br />

politicamente e com experiências inovadoras, tais como: o Troca-troca Solidário com moeda<br />

social, cooperativas, galpão de reciclagem, associações e grupos com participação das pastorais,<br />

promotoras legais populares para acesso de mulheres vítimas de violência aos seus direitos (formadas<br />

pela organização não-governamental Themis), entre outros.<br />

A aproximação com a comunidade durou cerca de um ano até a constituição de uma base local<br />

para a implantação de ações e inserção de alunos em campos de trabalho; foi uma caminhada<br />

lenta e cuidadosa, mas sólida do ponto de vista das relações com os moradores, lideranças e<br />

profissionais que ali atuam, pois fortemente baseada no respeito às diferenças, mas também na<br />

busca de mediação dessas diferenças com a finalidade de evidenciar interesses comuns e pautas<br />

coletivas de luta.<br />

Entendemos que a transparência e a atitude democrática, em permanente processo de construção<br />

e de vigilância epistemológica, contribuíram para a superação do estranhamento que em geral<br />

marca o ingresso ou a presença do professor universitário e dos alunos na comunidade. Por parte<br />

da comunidade, destacamos a abertura e politização das lideranças que nos acolheram, advindas<br />

de sua história de luta pelo território em que vivem.<br />

O conhecimento inicial da realidade nos mostrou que eram necessárias ações em duas perspectivas<br />

simultâneas: uma mais imediata, para atendimento de situações de vulnerabilidade e<br />

violação de direito, e outra mediata, para empoderamento comunitário. Para tanto, esboçamos<br />

o Programa Comunitário com esses dois focos de atuação, complementares, mas com ações<br />

diferenciadas. O primeiro é o de inclusão social e cidadania; atua no fortalecimento de indivíduos,<br />

grupos e famílias em situação de risco e vulnerabilidade social através do atendimento<br />

em saúde mental, atendimento sócio-familiar e orientação para o acesso a recursos, serviços e<br />

direitos. O segundo se refere ao desenvolvimento local e atua na dimensão sócio-organizativa<br />

para potencializar a comunidade no protagonismo da busca de alternativas, de forma coletiva<br />

e autogestionária. Ocorre através da Rede Local Integrada, do desenvolvimento de projetos em<br />

parceria com organizações internas e externas à comunidade e da assessoria a entidades locais.<br />

A terapia comunitária foi o principal instrumento para a operacionalização do primeiro foco de<br />

ação do Programa Comunitário, agregando-se outras modalidades de atendimento direto quando<br />

necessário (individual, familiar, visitas e atendimentos domiciliares). Existe um conjunto de<br />

razões para a opção pela terapia comunitária, as quais consideramos importante destacar, em primeiro<br />

lugar, o fato de ela ter início, meio e fim em um só encontro, prescindindo de mecanismos<br />

instituídos, burocratizadas e continuados de atendimento. Não que a continuidade não seja desejável,<br />

mas não é obrigatória. Em segundo lugar, a terapia comunitária se realiza com qualquer<br />

número de participantes e mesmo com grupos muito numerosos. Apesar de primarmos pela qualidade<br />

do trabalho desenvolvido, não podemos negar que, por um lado, a demanda é crescente<br />

por atendimentos na comunidade e, por outro, existe hoje a exigência de resultados quantitativos<br />

nos projetos sociais. Em terceiro lugar, a terapia comunitária possibilita uma politização das<br />

demandas, o que contribui para a busca de empoderamento, não apenas individual, mas também<br />

coletivo. Em quarto lugar, destaca-se a valorização do saber popular e da identidade local. Todas<br />

essas características conferem flexibilidade e adaptabilidade à terapia comunitária como instrumento<br />

de intervenção social.<br />

Em termos de diagnóstico local, identificamos que a maior causa das dificuldades da população<br />

era o desemprego ou a falta de alternativas de trabalho e renda, cuja busca sequer podia ser feita<br />

devido à falta de creche para os filhos, dependência química e doenças crônicas.<br />

72


A complexidade e interdimensionalidade dos problemas remeteram, em primeiro lugar, à busca<br />

de outros cursos da ULBRA que desenvolviam ações no Bairro Guajuviras com o intuito de<br />

integrar esforços e qualificar o atendimento. Na época, não houve interesse para uma ação integrada<br />

por parte dos cursos, salvo com o curso de enfermagem, que já mantinha um trabalho<br />

permanente no posto de saúde, tendo sido um dos espaços em que inserimos alunos estagiários<br />

e voluntários.<br />

Neste período, simultaneamente, fizemos incursões em diferentes áreas de estudo e participações<br />

em atividades e em políticas públicas voltadas para a economia solidária e para o desenvolvimento<br />

local integrado e sustentável. Viu-se a necessidade e a possibilidade de articular esses<br />

campos com o trabalho de família, terapia comunitária e de redes sociais, mostrando que as práticas<br />

de desenvolvimento econômico necessitam de maior investimento nos recursos e riquezas<br />

humanas e sociais e que as práticas de fortalecimento de indivíduos e das famílias em contexto<br />

de pobreza, por sua vez, carecem de articulação com alternativas econômicas que possibilitem<br />

sobrevivência digna.<br />

A implantação de trabalho continuado na comunidade através de estagiários de Serviço Social<br />

aconteceu em 2002, numa parceria com as promotoras legais populares que demandavam<br />

acompanhamento às mulheres vítimas de violência. Foi usado o mesmo espaço físico, pois não<br />

se tinha outro local disponível. Seis meses depois o local foi depredado, apesar dos inúmeros<br />

pedidos da comunidade ao poder público por segurança na região. Posteriormente, nos anos<br />

de 2003 e 2004 atuamos na Unidade Básica de Saúde Em 2005 houve parceria com uma organização<br />

não-governamental da área da assistência social, mas a redução de carga horária dos<br />

professores reduziu as ações, sendo suspensas em 2006 e retornando em 2007 com perspectiva<br />

mais animadoras. Hoje, estamos atuando no Galpão de Reciclagem, com grupo de terapia comunitária<br />

com os recicladores e com mulheres que estão em um programa de cesta básica. Até<br />

o momento, consideramos positivo o fato de não termos uma estrutura própria, mas trabalhar<br />

de forma itinerante, atendendo demandas distintas em determinados períodos e contribuindo<br />

com as organizações locais. A Rede Local Integrada foi implantada no primeiro ano de trabalho<br />

comunitário e tem acontecido através de reuniões mensais, nas quais emergem demandas conjuntas<br />

e integração dos serviços.<br />

Ao longo de três anos e meio de trabalho efetivo em campo foram realizados cerca de 5.000<br />

atendimentos, envolvendo aproximadamente 700 beneficiários. O trabalho foi realizado pela<br />

professora, autoria deste artigo, e por um grupo de alunos que se alterna a cada ano ou semestre,<br />

no total de 21 alunos vinculados de forma mais efetiva através de estágios curriculares ou extracurriculares<br />

e aproximadamente 120 alunos que desenvolveram ações eventuais e pontuais,<br />

ligadas a disciplinas do curso de Serviço Social e complementares ou subsidiárias ao programa<br />

comunitário, tais como: visita domiciliares, pareceres sociais, participação em eventos e reuniões<br />

e etc. Com relação à Rede, houve o envolvimento de cerca de cinqüenta entidades internas<br />

e externas ao Bairro Guajuviras, dezesseis reuniões, um conjunto de projetos integrados com<br />

captação de recursos, tais como: cinqüenta cestas básicas mensais para entidades gerenciarem,<br />

ações de educação ambiental, fomento de ações que não se tem como mensurar, visto que partiram<br />

dos contatos e articulações das reuniões da rede, que por vezes nem ficamos sabendo.<br />

73


Avaliando a caminhada<br />

A avaliação das ações desenvolvidas no Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário<br />

apresenta um cenário marcado por avanços e por limites, que precisa levar em conta inúmeras<br />

dificuldades, tais como: descontinuidades nas cargas horárias para atividades de extensão, falta<br />

de espaço físico para trabalhar, ausência de subsídios para divulgação, realização de eventos e<br />

apoio aos alunos voluntários, falta de parceria com outros cursos e necessidade de acompanhamento<br />

permanente aos alunos.<br />

Qualitativamente, no primeiro foco do programa, o fortalecimento dos indivíduos e famílias foi<br />

identificado ao longo dos meses de atendimento através dos seguintes indicadores: superação de<br />

situações de dependência química, violência doméstica, dificuldades de aprendizagem, retorno<br />

ao estudo, ingresso no mercado de trabalho, entre outras.<br />

No tocante ao desenvolvimento local, os resultados são lentos devido a um conjunto de razões,<br />

como, por exemplo, o fato de a rede local ser um processo de democracia participativa que vive<br />

os dilemas das ferramentas da adesão voluntária, ausência de hierarquia ou autoridade verticalizada<br />

e estrutura flexível. Por um lado, muitas vezes as pessoas se desestimulam porque não vêem<br />

resultados imediatos, por outro, apressar o passo na ânsia de trazer benefícios para a comunidade<br />

descaracteriza o processo coletivo. Um dos grandes problemas é a falta de participação do poder<br />

público que atua na comunidade através das escolas e postos de saúde, os quais poderiam se<br />

integrar mais, otimizando seu trabalho e fortalecendo as estruturas locais. Falta ainda avançar<br />

na visão de que os problemas são multidimensionais, portanto, as ações precisam ser integradas.<br />

A criança que chega na escola com marca de agressão provem de famílias que estão ou devem<br />

estar forma vinculadas à rede de serviços e poderão ser atendidas. É a mesma família que vive<br />

uma situação de desemprego e pode ser vinculada projetos de geração de renda. Basicamente,<br />

a rede permite a troca de informações, que pode parecer pouco, mas é muito, se considerarmos<br />

que informação e conhecimento movem o mundo contemporâneo e geram desenvolvimento.<br />

Com relação à terapia comunitária, os resultados nos surpreenderam ao longo dos encontros, e<br />

que num primeiro momento mostraram-se secundários, como o viés artístico-cultural e, em certa<br />

medida, corporal, através da utilização de músicas, de contos e de momento específicos em que<br />

se propõe ao grupo dar-se as mãos ou abraçar-se e fazer o “embalinho”, que funciona como um<br />

colo coletivo nos momentos de emoção ou de partilha de saberes e vivências do grupo. Na nossa<br />

experiência, o toque e a expressão têm se mostrado potentes dinamizadores da emoção contida<br />

e da solidariedade grupal, além de tornar o trabalho mais prazeroso.<br />

Ademais, passamos a compreender e vivenciar o valor metacomunicacional, ou seja, de acordo<br />

com Watzlawick (1993), mais do que o conteúdo, trata-se da forma como se estabelece a relação<br />

de comunicação a partir das regras básicas da terapia comunitária. Falar de si mesmo, não dar<br />

conselho bem sermão, ouvir o outro e cantar para aliviar e redefinir a dor são mais do que meras<br />

regras; instauram formas de relação e exercícios de protagonismo, identidade pessoal, resiliência<br />

e empoderamento grupal.<br />

Consideramos também como um resultado importante o fato de uma consultoria de avaliação<br />

dos programas de extensão universitária definir, em 2007, o Programa Comunitário Desenvolvimento<br />

Solidário como “carro-chefe” para a implantação de outro programa comunitário inovador,<br />

o Saúde da Família Acadêmico. Ele conta com doze áreas da saúde, sensíveis à necessidade<br />

de formar profissional generalista, ainda que isso não signifique negligenciar a formação do<br />

especialista, mas também prepará-lo para intervir na rede pública e com sensibilidade para a<br />

integralidade da saúde.<br />

74


O Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário partir do trabalho com famílias em situação<br />

de pobreza e foi, cada vez mais, se aproximando da realidade dessas famílias e contribuindo<br />

para alternativas mais emancipatórias de resolução das dificuldades.<br />

Entendemos que o mérito do Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário é a busca de<br />

maior impacto da ação da universidade através da ampliação da participação da população desde<br />

o planejamento até a execução e avaliação. Relacionamos esse impacto como ativação de recursos<br />

internos que permitam aos indivíduos, grupos e família caminharem com as próprias pernas<br />

após o término da intervenção.Aprende-se que a luta é permeada de desafios. O individualismo,<br />

a desarticulação, a competição, a falta de tempo, a falta de diálogo e os interesses políticos,<br />

econômicos, institucionais e de toda ordem estão presentes nas organizações, mas, ao invés<br />

de os vermos como obstáculos, os consideramos também objetos de atenção e de intervenção.<br />

É também nas relações de poder e de interesses que se intervém, estimulando a construção de<br />

relações mais solidárias e sustentáveis nos espaços em que é possível. Ao final, fica a certeza de<br />

que articular as necessidades de formação acadêmica às demandas e práticas sociais não é mera<br />

utopia: é uma possibilidade.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BAREMBLITT, Gregorio. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. Rio de<br />

Janeiro: Rosa dos Tempos, 1996.<br />

BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia comunitária passo a passo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2005.<br />

BEZERRA, Maria do Carmo e BURRSZTYN, Marcel (orgs.). Ciência e tecnologia para o desenvolvimento<br />

sustentável. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Naturais Renováveis; Consórcio CDS/UnB/Abipti, 2000.<br />

DABAS, Elina Nora. Red de redes - las prácticas de la intervención en redes sociales. Buenos Aires: Paidós,<br />

1995.<br />

DEMO, Pedro. Pobreza da pobreza. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.<br />

ESTIVILL, Jordi. Panorama da luta contra a exclusão social. Conceitos e estratégias. Genebra, Bureau<br />

Internacional do Trabalho, Programa Estratégias e Técnicas contra a Exclusão Social e a Pobreza, 2003.<br />

FERRARINI, Adriane Vieira. A construção social da terapia - uma experiência com redes sociais e grupos<br />

multifamiliares. Porto Alegre: Metrópole, 1999.<br />

______. Programa comunitário desenvolvimento solidário. Canoas: ULBRA, 2003.<br />

______. Relatórios anuais do programa comunitário desenvolvimento solidário. Canoas: ULBRA, 2003.<br />

FRANCO, Augusto de (org.). Desenvolvimento local integrado e sustentável. Leituras Selecionadas. Volume<br />

1, 1999.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.<br />

GOULART, Sueli e outros. Universidade e desenvolvimento local: uma abordagem institucional. Porto<br />

Alegre: Sagra Luzzatto, 2005.<br />

SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989.<br />

______. A crítica da razão indolente - contra o desperdício da experiência. Para um novo senso comum: a<br />

ciência, o direito e a política na transição paradigmática. Volume1:São Paulo: Cortez, 2000b.<br />

______(org.). Globalização: fatalidade ou utopia. Lisboa: Afrontamento, 2001.<br />

______(org.). Produzir para viver: os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização<br />

Brasileira, 2002.<br />

WATZLAWICK, Paul. Pragmática da Comunicação Humana. São Paulo: Cultrix, 1993.<br />

75


EDUCAÇÃO FAMILIAR E COMUNITÁRIA<br />

Abrindo Espaço para uma Cultura de Paz<br />

Marli Olina de Souza 1<br />

Resumo<br />

Transformar os valores da cultura de paz em realidade na vida cotidiana é um desafio diário para<br />

pessoas comprometidas com o respeito, a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminar<br />

nem prejudicar. Abrir espaço para a paz é não praticar violência ativa, repelindo-a em todas<br />

as formas: física, sexual, psicológica, econômica e social, em particular ante os mais fracos e<br />

vulneráveis, como as crianças e os adolescentes. Assim, a práxis nos levou a novas descobertas<br />

e a tentar construir uma educação voltada para a paz nas famílias, indivíduos ou comunidades.<br />

Palavras-Chave:<br />

Cultura da Paz - Direitos Humanos -Inclusão Social<br />

Abstract<br />

Transforming the values of a culture based on peace into reality in everyday life is a daily<br />

challenge for people committed to respect for the life and dignity of every individual, without<br />

discrimination or prejudice. To open up space for peace is to refrain from practicing active<br />

violence and rejecting it in all its forms: physical, sexual, psychological, economic and social,<br />

in particular toward the weakest and most vulnerable, such as children and teenagers. Thus, the<br />

practice led us to new discoveries and to attempt to create an education that aims to promote<br />

peace for families, individuals and communities.<br />

Key Words:<br />

Culture of Peace – Human Rights - Social Inclusion<br />

Através de nosso fazer profissional sustentado em objetivos que convergem em uma verdadeira<br />

estratégia educativa, percorremos um caminho no qual se confronta de maneira constante e progressiva<br />

uma prática preventiva e promocional do indivíduo, da família e da comunidade, com a<br />

reflexão e elaboração de marcos conceituais e referëncias teóricas que no decurso de tais ações<br />

tëm se revertido, aprimorando e incrementando com isso sua eficácia.<br />

Cabe destacar que, dadas as características de nosso trabalho com a comunidade, as famílias<br />

e os indivíduos, não foram as teorias nem os enfoques conceituais que nos permitiram chegar<br />

ao processo de estruturar um modelo de intervenção nessas instâncias. Foi a práxis “narrativa<br />

pessoal e profissional” que nos levou ao resultado, isto é, o fazer diário, fazer e refazer, escrever<br />

e reescrever as vivências compartilhadas com as pessoas que interferem em nossa realidade e as<br />

quais também influenciamos, no esforço comum de reconstruir realidades alternativas. Assim, a<br />

práxis nos levou a novas descobertas de ferramentas, possíveis de serem utilizadas em ambientes<br />

onde a violência se instalou, para promover espaço de paz.<br />

1 Profa. Ms., Ass. Social, Psicóloga, Terapeuta Familiar, Casal e Comunitária. Presidente do Movimento Integrado<br />

de Saúde Comunitária do RGS-MISC/RS. Diretora do Centro de Ensino e Atendimento Familiar – CAIF – em<br />

Porto Alegre<br />

76


Partindo da minha experiência profissional no campo da saúde comunitária e das reflexões surgidas<br />

ao longo dessa trajetória: provavelmente, muitas pessoas que, como eu, a partir do trabalho e<br />

da experiência se deparam com os limites e as possibilidades das suas profissões percebem como<br />

é difícil essa interface do aprendizado acadêmico e a prática dos campos de ação.<br />

Com tantas inquietações sobre minha ação profissional, surgiu a seguinte dúvida: se acredito<br />

na saúde, não posso esquecer a doença! Sem conhecer os aspectos causadores do sofrimento<br />

psíquico individual e coletivo. Como manejar tal aspecto? Esse estímulo aumentou a inquietude<br />

para investigar. Abri-me para outros campos de conhecimento teórico para melhorar minha prática.<br />

“Em geral, quando se muda o quadro de referência, não se abandona o termo original, mas<br />

incorpora-se a ele uma significação nova.” 1<br />

Assim, embasei a prática numa teoria condizente com meu sistema de crenças. A Teoria Familiar<br />

Sistêmica com a qual me propus a trabalhar foi impregnando meu fazer; ainda tinha inquietação<br />

quanto à psicopatologia encontrada no seio de muitas famílias, e isso instigou meu interesse em<br />

buscar maiores conhecimentos que dessem mais segurança à minha práxis, entendendo a mesma<br />

como composição da teoria e da prática. Assim, busquei o curso de Psicologia.<br />

Quando iniciei meus estudos em Psicologia, entrei em contato com outras teorias que descreviam<br />

o desenvolvimento do indivíduo, dando um “padrão” do saudável e do não saudável. No<br />

início, fiquei confusa. Qual o caminho a seguir? Felizmente minha maturidade, os professores<br />

e os supervisores que direcionaram o estudo flexibilizaram minha escolha. Estudar psicanálise?<br />

Comportamental? Não. Relaciono minha escolha como a descoberta do meu self 2 . Quis trabalhar<br />

com famílias e comunidades.<br />

É comum que os modelos teóricos estejam sobrepostos a nomes: estudei o modelo de Minuchin,<br />

com sua Teoria Estrutural; Haley, com o Estratégico; Barreto, com Formação de Redes e<br />

a Resiliência; White, com as conversas externalizadoras e a importância de re- autorias, Bowen,<br />

para exemplificar o inter-geracional, e assim por diante. Todos eles têm ou tiveram em comum a<br />

adoção de um pensamento sistêmico, inter-relacional apesar da especificidade de cada modelo.<br />

Durante a formação em Psicologia, estive em congressos e cursos que falavam nessa classificação<br />

ampliada, que refere Sluzki, a abordagem com Redes Sociais. Parecia que as lacunas<br />

estavam por se preencher, mas foi ilusão: aumentaram! Percebi que a teoria sistêmica, como a<br />

entendia, não mais satisfaz as exigências de um mercado cada vez mais sucateado, as pessoas,<br />

mesmo que em grupo de família, já não conseguem acessar um processo terapêutico. Comecei,<br />

então, a estudar os limites e as possibilidades da teórica sistêmica e acrescentei ao acervo de<br />

minha práxis a teoria de Paulo Freire, juntamente com a abordagem da Terapia Comunitária, de<br />

Adalberto de Paula Barreto.<br />

1 VASCONCELOS, Maria José. Terapia familiar sistêmica: bases cibernéticas. São Paulo: Psy II, 1995.<br />

2 “O SELF permite que uma pessoa individuada se auto-referencie, ou seja, que adquira distinção sujeito-<br />

-objeto.” Segundo MIERMONT, Jacques et al. Dicionário de terapias familiares. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.<br />

77


Atualmente adotei o paradigma da Cultura da Paz, tecendo redes solidárias a partir do viver<br />

cultural dos indivíduos inseridos em contextos de adversidades familiar, comunitária e social,<br />

promovendo resgate da competência interna dos indivíduos e formando multiplicadores para<br />

uma cultura de Paz. Aprendemos nessa trajetória a não separar o pensar teórico do agir, mesmo<br />

porque acreditamos ser impossível separar esses dois aspectos do agir sem nos alienarmos.<br />

Por exemplo: as teorias de aprendizagem social de Jean Piaget e Humberto Maturana, com o<br />

enfoque sistêmico, e do Dr. Adalberto Barreto, com as ferramentas para entender e desenvolver<br />

ações para o fortalecimento comunitário.<br />

Tais convergências, ao mesmo tempo em que enriqueceram e ampliaram o campo de possibilidades<br />

concretas de nosso trabalho, desenvolveram em nosso grupo um processo de reflexão<br />

e sínteses, colocando-nos na posição de contribuir com nossa experiência e os vislumbres de<br />

algumas interpretações para uma prática voltada à prevenção.<br />

A intenção deste artigo é a de assinalar esses contatos, perspectivas e objetivos, com a finalidade<br />

de convidar a todos os que se interessam por esses temas a iniciar um promissor processo de<br />

intercâmbio de experiências e de idéias. Em relação à aprendizagem social (Piaget e Maturana),<br />

pontuamos oito variáveis fundamentais representativas desta corrente, para mostrar nossa relação<br />

e posicionamento.<br />

O processo de ensino-aprendizagem: por ser um fenômeno dinâmico, implica a participação ativa<br />

do facilitador do processo e das pessoas envolvidas. Iniciamos a experiência física quando o<br />

sujeito da nossa ação se põe em contato com a realidade, fenômeno objeto do mesmo e o facilitador.<br />

A experiência social se dá pela interação e vínculo, que permite o aprendizado tanto a quem<br />

orienta como às pessoas que interagem no processo. O amadurecimento conceitual, ou seja, a reescrita<br />

da história ocorre quando as pessoas – depois de observarem, refletirem, desmistificarem<br />

o fato ou questão que paralisa, impedindo seu crescimento e até o domínio de Quem sou eu?<br />

Qual minha história? De onde vêm meus valores? Minha força? – estão mais livres para apreender<br />

uma nova cultura sobre si mesmas, seu contexto interno e externo, gerando a interiorização.<br />

Finalmente, o equilíbrio da re-autoria se alcança com um processo reflexivo que conduz à ação.<br />

O fato de que as pessoas interiorizem não garante uma inquietação que conduza a buscar novas<br />

alternativas de ação, que una o sistema familiar e o ecossistema no qual interagem. Portanto, a<br />

definição dos objetivos de re-autoria para uma Cultura de Paz a entendemos como ações concretas<br />

de benefício comum.<br />

A re-autoria como fator de mudança: certamente a re-autoria é um fator que influi junto com<br />

amadurecimento biológico e o equilíbrio, nas mudanças desejadas no desenvolvimento psicobiológico<br />

do indivíduo, assim como é verdadeiro que a ação se dá tanto na pessoa que participa<br />

no processo de ensino/aprendizagem, como também pode projetar-se e transformar o contexto<br />

no qual se movimenta.<br />

O aprendizado como vivência: não se concebe sessões educativas para paz efetivas sem a participação<br />

das pessoas. O processo que se vivencia no grupo é extensivo aos demais grupos aos<br />

quais pertencem.<br />

Fatores internos e externos que influenciam na re-autoria: nesse sentido, o agente educativo<br />

como facilitador da ação de aprendizado/ensino se preocupa e ocupa-se de todos os fatores<br />

propiciadores da nova cultura.<br />

78


A interação social: não a consideramos como mais uma instância no processo ensino/aprendizagem,<br />

mas como um instrumento que gera o aprendizado. Portanto, utilizamos algumas técnicas<br />

e trabalhamos em função da seguridade emocional das pessoas. Nosso agente, aqui intitulado<br />

terapeuta comunitário ou agente comunitário, é guia e facilitador dos processos.<br />

Dentro das categorias do conhecimento: consideramos que este é o produto da relação entre o<br />

fato, situação e fenômeno (objeto do aprendizado) e as pessoas (sujeito do aprendizado). De<br />

acordo com a intensidade da interação, esse conhecimento permanecerá ou não, e das formas de<br />

participação dependerá a efetividade do aprendizado.<br />

O processo metodológico empregado nos distancia daquela educação tradicional ou “formal”<br />

que não inicia seu processo a partir do estudo e do conhecimento da realidade social e que se<br />

contenta com a realidade vivida, sem propor mudanças verdadeiras, como por exemplo o conformismo,<br />

a esperança, a banalidade da violência, alienando-nos do saber fazer, do saber popular.<br />

É uma “fabrica de alienação” científica, acadêmica.<br />

Nossa proposta implica o reconhecimento do nosso aporte, aprendendo e ensinando, esclarecendo<br />

e sendo esclarecido, fortalecendo e sendo fortalecido, promovendo terapias e sendo tratado ao<br />

mesmo tempo, levando, por sua vez, um compromisso autêntico com as atividades propiciadas<br />

pelo mesmo processo de ensino/aprendizado: partimos da realidade, não somente porque isso é<br />

em essência o que interessa às pessoas, mas porque o objetivo final do processo é a transformação<br />

dessa realidade.<br />

O enfoque sistêmico e as demais teorias já referidas têm nos embasado para o entendimento<br />

das repetições culturais que as gerações repassam como verdadeiros legados, heranças, seguidas<br />

por várias gerações. Esse paradigma nos oferece significativos instrumentos nas ações que<br />

envolvem problemáticas familiares, individuais e comunitárias a nível terapêutico, preventivo<br />

e promocional. Deixa-nos confortável, facilitando a otimização dos recursos humanos no que<br />

concerne ao êxito pessoal e a eficácia nos vínculos de redes sociais. Sua universalidade enriquece<br />

nosso trabalho, temos confrontado alguns de seus enfoques e aportes práticos com os nossos:<br />

A autopoiese, enquanto enfatiza a capacidade dos seres vivos para gerar mecanismos de crescimento,<br />

desenvolvimento e conservação do sistema familiar. Nesse sentido, nossa estratégia<br />

educativa parte das experiências, normas e valores, necessidades, interesses e potencialidades<br />

das pessoas para entender e manejar sua realidade social peculiar.<br />

O espírito gregário, ao destacar a busca de inter-relação com outras pessoas e a valorização das<br />

experiências individuais e grupais, permite desencadear situações problemas da vida familiar e<br />

comunitária, buscando alternativas de solução.<br />

A re-autoria, como processo facilitador do aprendizado, implica que para “aprender a aprender”<br />

precisamos “aprender a pensar”. Defende-se aqui um “aprender-fazendo”, a partir das experiências<br />

vivenciadas como pais, filhos, irmãos ou casal, e refletir sobre seus lucros e as limitações<br />

destas vivências, a fim de clarear conceitos e concretizar alternativas, compromissos e tarefas<br />

que gerem mudanças intra e extra-familiares.<br />

A teoria dos sistemas, ao confrontá-la com nossa prática, nos propiciou elementos facilitadores<br />

para visualizar como se agrupam os subsistemas no processo de ensino/aprendizagem, seja pela<br />

identidade da problemática, pelas funções dentro do sistema familiar ou pelo interesse.<br />

79


Ao formar-se um novo sistema com suas características relacionadas por idade, normas, valores,<br />

papéis naturais e funcionais dos participantes, nossa intervenção profissional busca e consegue<br />

trabalhar a estrutura das relações para facilitar a abertura do aprendizado, o crescimento individual<br />

e grupal e a auto-gestão comunitária, assim como também as crises que geram aprendizados.<br />

Nesse contexto, os processos grupais não somente conseguem influenciar o interior do sistema<br />

dado, mas também o ecossistema ao identificar as pessoas facilitadoras da ação educativa, ao<br />

reforçar a tomada de decisões e gerar multiplicadores capazes de mudar em seu sistema familiar<br />

e de extrapolar as ações educativas a outros sistemas em que estão imersos.<br />

Um aspecto que desejo ressaltar é a totalidade que pontua a necessidade de trabalhar em equipe,<br />

onde o êxito ou a dificuldade não são responsabilidade de nenhum de seus membros em particular,<br />

e sim, de todo o grupo. Assim, reforça-se a prioridade dos interesses comuns que requerem<br />

uma designação e cumprimento de papéis específicos para alcançar o crescimento do grupo,<br />

nesse caso, familiar, amigos, trabalho e comunidade.<br />

Os conteúdos educativos em todos esses casos são integrais, a fim de permitir aos participantes<br />

a preparação para identificar as mudanças que se apresentam no transcurso de uma etapa à outra,<br />

reacomodar as regras de funcionamento, encontrar relações que permitam adaptarem-se a essas<br />

novas situações, em que as crises chegam também a ser situações de aprendizagem.<br />

Foi dentro desse pensamento que estamos “cavando” espaço para uma cultura voltada à paz.<br />

“Se aprendo a cultura da violência, posso aprender a cultura para a paz.” 1<br />

Os objetivos desse trabalho é a formação de jovens para uma cultura de paz, pressupondo que<br />

vale muito mais o que ele é do que o que ele sabe. Por isso, é importantíssimo construir itinerários<br />

formativos capazes de desenvolver competências em termos de habilidades básicas e de<br />

gestão:<br />

Mobilizar os jovens a planejar e aprender a lidar com pessoas, tempo, materiais e recursos financeiros;<br />

administrar o próprio tempo, aprendendo a dividir-se entre atividades de natureza distinta; dar e<br />

receber instruções, ordens e orientações; liderar e deixar-se liderar;<br />

criticar e ser criticado; coordenar atividades em grupo;<br />

aceitar diferentes pontos de vista e interesses; improvisar diante de situações imprevistas, agindo<br />

de acordo com os princípios, valores e interesses de seu grupo; e ainda discernir os valores<br />

implicados e vividos em uma determinada situação; buscar coerência entre teoria e prática;<br />

exercitar a transparência no uso dos recursos grupais; prestar conta de seus atos ao grupo, aos<br />

destinatários de suas ações e a seus educadores; assumir as conseqüências de suas ações positivas<br />

e negativas; desenvolver a tolerância para com as falhas e limitações humanas; aprender a<br />

lidar com êxitos e fracassos;<br />

decidir em grupo e de forma democrática; desenvolver espírito solidário e ação cooperativa.<br />

1 SOUZA, Marli Olina de. Projeto para agentes jovens de multiplicação de uma cultura para paz. Município<br />

de Pinhal/RS.<br />

80


Finalmente, a essas habilidades deverão ser acrescentadas aquelas específicas requeridas para o<br />

exercício de uma ocupação, serviço ou profissão no mundo do trabalho. À medida que formos<br />

capazes de atuar nessa linha para e com os jovens, estaremos contribuindo para a formação das<br />

pessoas, dos cidadãos e dos profissionais de que o município necessita para continuar seu desenvolvimento.<br />

Nos ensaios de desenvolvimento comunitário após vários anos de práxis neste campo constantemente<br />

realimentado pela mesma comunidade, encontramos convergências com as experiências<br />

básicas e postulados de alguns autores estrangeiros, como Sluski, White, mas é no autor<br />

brasileiro Adalberto Barreto que pude embasar minhas ações na mobilização da Cultura da Paz.<br />

Nessa ordem de idéias, nossa estratégia educativa se aproxima significativamente de uma possibilidade<br />

de ação comunitária denominada Educação de Jovens em situação de Vulnerabilidade<br />

Social. Nesta perspectiva, a população-objetivo é a que define as prioridades da ação, baseado<br />

nos interesses comuns e na conciliação das diferenças.<br />

Assim é o ritmo da realidade social, sendo que os valores e a cultura da sociedade marcam as<br />

pautas dessas prioridades; trata-se, conseqüentemente, de um processo interacional encaminhado<br />

à resolução de problemas. Facilito a ação de re-autoria considerando que, ao mesmo tempo,<br />

também faço parte do sistema.<br />

Não podemos pensar que o desenvolvimento na comunidade nos situe fora dela, somos susceptíveis<br />

de receber de outros e também de modificar nossa realidade. É um processo de crescimento<br />

e mudança recíproca.<br />

O sistema comunicativo é horizontal e requer consenso. Não da pressão de quem pode “falar<br />

mais alto” e supostamente em nome da comunidade, o verdadeiro termômetro do processo. A<br />

prioridade são os interesses comuns, implicando na delegação de tarefas específicas. É freqüente<br />

que, quando os propósitos são vagos, pouco mensuráveis e observáveis, o intento de desenvolvimento<br />

na comunidade se torna falho.<br />

Essa possibilidade de desenvolvimento tem um grande ingrediente na concepção da participação<br />

e das diferentes formas nas quais se dá. Por um lado, se perturba o ecossistema para que possa<br />

haver modificações nos requerimentos das famílias para garantir-lhes um maior bem-estar; mas<br />

ao mesmo tempo sabemos que a grande população está desprovida e tem restrições quanto a<br />

oportunidades.<br />

Evidentemente, a não participação contributiva tipifica a marginalidade, diferenciando-a do resto<br />

dos setores sociais, mas de modo algum isso leva implicitamente a que a marginalidade possa<br />

ser concebida como “um não pertencer”; é uma maneira básica de pertencer e participar no<br />

sistema social. Poderia se pensar que a marginalidade é uma situação social caracterizada basicamente<br />

por problemas de integração com o resto do sistema social suposto na análise dos modos<br />

de integração que prevalecem no sistema, portanto de forma alguma a exclusão no processo de<br />

desenvolvimento que se gera no sistema social.<br />

A experiência ensina que quanto mais heterogênea é a composição econômica e social de seus<br />

habitantes, o controle das organizações existentes, sejam estas estatais ou autonomamente geradas,<br />

tende a ficar mais nas mãos dos não marginalizados. Freqüentemente deixamo-nos seduzir<br />

por esses líderes, acreditando que são a voz da maioria da população e que facilitam nossa missão,<br />

no entanto, trata-se de uma mera tentação que devemos aprender a elucidar.<br />

81


Por outro lado, vimos que, quanto mais homogeneamente marginalizada for a população, maior<br />

será o controle dos marginalizados, maior a capacidade de participação coletiva, havendo maior<br />

coesão na organização comunitária. Portanto, o processo de mobilização e de organização na<br />

comunidade é mais efetivo e seus resultados perduráveis.<br />

Concluída essa retrospectiva, voltamos ao ponto de partida. Percorremos um caminho que, a<br />

partir das ações profissionais, nos levou a desenvolver algumas reflexões sobre as correntes teóricas,<br />

para – a partir do confronto de nossos feitos e reflexões com a vida – construir um espaço<br />

de paz para o nosso fazer profissional e para as pessoas com as quais trabalhamos. Essa trajetória<br />

resultou numa nova dimensão de possibilidades de prevenção e de promoção para o indivíduo, a<br />

família e a comunidade, como estratégia de re-autoria para uma cultura de paz.<br />

Acreditamos que este caminho apenas está começando; muito se tem a fazer.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ANDOLFI, Maurizio. Terapia familiar. Buenos Aires: Paidós, 1984.<br />

BARRETO, Adalberto de Paula. Manual do terapeuta comunitário. Fortaleza: [s.n.], 2004.<br />

BUSTOS, Félix. Una alternativa piagetiana sobre el aprendizaje. Bogotá: Editorial Libertad,<br />

1983.<br />

CARDOSO, Fernando. Estado y sociedad en América Latina: participação y marginalidad.<br />

[S.l.]: Editorial Siglo XX, 1969.<br />

MATURANA, Humberto. El árbol del conocimiento. Chile: Oficina de la Secretaria General de<br />

la OEA, 1984.<br />

MIERMONT, Jacques et al. Dicionário de terapias familiares. Porto Alegre: Artes Médicas,<br />

1994.<br />

MINUCHIN, Salvador. Família y terapia familiar. Buenos Aires: Compañía Impresora S.A.,<br />

1982.<br />

SOUZA, Marli Olina de. Projeto para agentes jovens de multiplicação de uma cultura para paz.<br />

Município de Pinhal/RS: [s.n., s.d.].<br />

VASCONCELOS, Maria José. Terapia familiar sistêmica: bases cibernéticas. São Paulo: Psy II,<br />

1995.<br />

VÁSQUEZ, Alberto. Teoria y practica familiar sistémica: apuntes en classe. Cartagena, 1985.<br />

82


RESUMOS DOS TRABALHOS<br />

CIENTIFICOS APRESENTADOS<br />

NO CONGRESSO<br />

83


84<br />

Curso Pré Congresso


Alcoologia, Adictologia e Terapia Comunitaria<br />

Dr Jean-Pierre Boyer<br />

Piou0545@free.fr<br />

Trata-se de formação e sensibilização aos fenômenos adictológicos, refletindo sobre a importância<br />

da Terapia Comunitária (TC) como forma de prevenção e acolhimento.<br />

O autor, Dr. Jean-Pierre Boyer, é responsável pelo Serviço Intersetorial de Alcoologia e de condutas<br />

aditivas. Desenvolve a realização da TC há 15 anos no hospidal e também na Associação<br />

ETECETRA, que tem como objetivo a reinserção social e a luta contra precaridade social, econômica<br />

e psicoafetiva. O referido autor escreveu junto com Adalberto Barreto, criador da TC, o<br />

livro « O indio que vive em mim ».<br />

O presente trabalho terá forma de um Minicurso sobre alcoologia e adictologia. Para isso será<br />

utilizado projetor de slides. Serão apresentados elementos para o conhecimento necessário para<br />

entender os fenômenos da adição. Desta forma mostrará uma nova compreensão da imagem da<br />

pessoa adicta, permitindo acreditar nas possibilidades de mudança. Os fenômenos aditivos são<br />

ligados à cultura, meio ambiente, relações familiares, dificuldades da vida, precaridade econômica,<br />

afetiva, solidão…etc. É necessário saber que uma adicção é uma procura de solução antes<br />

de tornar um problema . Precisamos igualmente saber que uma ajuda necessita de dedicar tempo,<br />

de não ficar sozinho e também de prestar sempre atenção ao fenômeno da ambivalência.<br />

A partir desses elementos podemos apreender a importância da experiência da TC na ajuda das<br />

pessoas implicadas nos fenômenos das adicção, suas famílias, trabalhadores sociais pacientes…<br />

e na prevenção desses fenômenos na comunidade. Varias experiências da TC mostram o interesse<br />

dessa abordagem e suas aplicações.<br />

Ao final do curso será possível e também muito interessante a troca de experiências com os<br />

participantes sobre interação entre TC e os fenômenos de dependência e consumo dos “produtos<br />

mágicos”.<br />

85


Bases Teóricas e Metodológicas do Trabalho Psico-Corporal<br />

Relacional na Terapia Comunitária.<br />

Coordenador:Mauro Elias Mendonça<br />

Modalidade: Teórico e Vivencial<br />

Mini-Currículo: psiquiatra, homeopata, psicoterapeuta e professor com pós-graduação em diversas<br />

abordagens psicológicas e psicoterápicas analíticas, corporais, fenomenológicas e sistêmicas,<br />

incluindo individuail, de grupo, familiar e comunitária, dentre elas: Análise Bioenergética,<br />

Psicologia e Psicoterapia Corporal - Reich, Psicoterapia Centrada no Corpo - Método Hakomi,<br />

Biodança, Terapia Familiar Sistêmica, Terapia Comunitária Sistêmica, Psicologia e Psicoterapia<br />

Transpessoal, Medicina Preventiva e Social. É professor da UFG-Universidade Federal de<br />

Goiás, estudioso das abordagens de medicina e psicologia do oriente e ocidente, da antiguidade<br />

à contemporaneidade. É membro da ABRAP-Associação Brasileira de Psicoterapia (criada pelo<br />

CFP-Conselho Federal de Psicologia e ABP-Associação Brasileira de Psiquiatria), da ABEP-<br />

-Associação Brasileira de Ensino de Psicologia, ABRATECOM, ABP, do IIBA-Instituto Internacional<br />

de Análise Bioenergética e outras entidades.<br />

86<br />

BIODANÇA & IOGA: A RECEITA DA FELICIDADE<br />

Prof. Luiz Augusto Talema<br />

www.talema.pro.br<br />

talema@talema.pro.br<br />

As técnicas da Ioga representam o mais poderoso recurso para encontrar serenidade na era da<br />

ansiedade. São técnicas psicofísicas e espirituais, comprovadas cientificamente, cujo objetivo é<br />

libertar o indivíduo do estresse e alcançar a paz interior.<br />

JUSTIFICATIVADO CURSO:<br />

Nos centros urbanos é significativa a procura pelas terapias corporais. Elas representam um<br />

novo enfoque na prevenção e no combate às doenças do estresse (80% das doenças) como a<br />

depressão, a ansiedade, a solidão, o suicídio, a violência, as drogas (incluindo os fármacos) e as<br />

doenças psicossomáticas. Podem também auxiliar na prevenção de problemas da coluna, insônia<br />

e obesidade.<br />

Enfim, o seu amplo espectro as credenciam a disputar o mercado de trabalho nas áreas da Saúde<br />

e da Educação, com as outras “Psico”, tanto verbais como medicamentosas, nas diferentes faixas<br />

etárias.<br />

Entre estas terapias corporais, desponta a BIODANÇA, pois, além do seu valor preventivo, destacamos<br />

também seu valor terapêutico, reabilitando o sistema imunológico, conquistando uma<br />

auto-estima mais elevada, recuperando a saúde e a qualidade de vida, sem efeitos colaterais nem<br />

contra indicações.<br />

Na minha opinião, a BIODANÇA representa uma nova pedagogia para a felicidade: uma pedagogia<br />

para o amor, para a paz e para a alegria. É urgente trazê-las para as Instituições de ensino<br />

e da saúde, tão carentes de vida, ternura e amorosidade.


OBJETIVOS:<br />

- Difundir a aplicação desta nova técnica e seus benefícios;<br />

- Proporcionar o autoconhecimento, a integração com os outros e com a natureza;<br />

- Estimular a elaboração de projetos de Biodança nas áreas da Educação e Saúde.<br />

FUNDAMENTOS TEÓRICOS:<br />

A BIODANÇA é um sistema de crescimento e desenvolvimento do potencial humano, baseado<br />

em vivências integrativas que se utiliza à música, da dança e dos exercícios de comunicação de<br />

grupo.<br />

Foi criada no final dos anos 60 pelo professor e poeta Rolando Toro, no Chile. Ele começou a<br />

investigar os efeitos terapêuticos da música e da dança em pacientes de hospitais psiquiátricos e,<br />

juntamente com outros professores, sistematizou estes conhecimentos. Se desenvolve nas linhas<br />

da afetividade, criatividade, sexualidade, transcendência e vitalidade.<br />

A afetividade é o amor indiscriminado pelo ser humano. Resgata a solidariedade, a fraternidade<br />

interpessoal, a ternura e a generosidade do coração.<br />

A linha da criatividade visa despertar o potencial expressivo do indivíduo, através da dança, do<br />

canto, da poesia, da modelagem com argila, da pintura, etc...<br />

A sexualidade procura resgatar o prazer de viver através dos exercícios de toque, jogos sensório-<br />

-motores, carícias, massagens, etc...<br />

A linha da transcendência estimula a conexão do indivíduo com a vida, com os quatro elementos,<br />

com a energia cósmica e com sua dimensão espiritual.<br />

A vitalidade está ligada às atividades físicas como a dança, as caminhadas e demais exercícios<br />

que favorecem o movimento, a auto-regulação,a saúde.<br />

A BIODANÇA reforça o lado positivo e saudável do ser. A sua ênfase se localiza na linha da<br />

afetividade, no amor. É uma verdadeira Pedagogia do Felicidade. Seus efeitos, comprovados<br />

cientificamente, melhoram a auto-estima, o vínculo afetivo, a qualidade de vida, a saúde, e,<br />

portanto, a felicidade autentica.<br />

RECURSOS TÉCNICOS:<br />

- Sala, preferencialmente com piso quente e aproximadamente 2 m/2 por pessoa;<br />

- Som profissional (CD) com microfone;<br />

- Computador(com leitor de DVD)e data-show;<br />

- Um colchonete por pessoa.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />

GÓIS, Cézar Wagner de Lima. Vivência: Caminho à Identidade. Fortaleza: Ed.Viver, 1995.<br />

JUNG, Gerson Paulo. Violeta: uma nova abordagem em saúde. Gravataí: Ed. Stévia, 1999.<br />

RIBAS, Ângela. Biodança- uma porta para a vida. São Paulo: Ed. Gente, 1995.<br />

TORO, Rolando. Biodanza. São Paulo: Ed. Olavobrás/Escola Paulista de Biodanza, 2002.<br />

TROTE Fº, Francisco.Fundamentos básicos em Biodança. Rio de Janeiro: Instituto de Biodança<br />

do Estado do Rio de Janeiro, 1983.<br />

WAISSMANN, Carla Coelho. Educação Biocêntrica Tecendo a Vida. Porto Alegre: Edição da<br />

autora, 1988.<br />

WALDEMAR, Luiz Augusto. Biodança:o abraço pode mudar o mundo. Porto<br />

87


Por uma Cultura de Paz<br />

Marli Olina de Souza 1<br />

marli@caifcom.com.br<br />

O curso prevê além do enfoque educativo para a paz, o despertar de ações reflexivas sobre o<br />

binômio paz / violência.<br />

A Cultura de Paz é a Paz no cotidiano; é o respeito aos direitos humanos no dia-a-dia; é um poder<br />

gerado por um triângulo interativo de paz, desenvolvimento e democracia. Enquanto cultura<br />

de vida trata-se de tornar diferentes indivíduos capazes de viverem juntos, de criarem um novo<br />

sentido de compartilhar, ouvir e zelar uns pelos outros, e de<br />

assumir responsabilidade por sua participação numa sociedade democrática que luta contra a<br />

pobreza e a exclusão; ao mesmo tempo em que garante igualdade política, eqüidade social e<br />

diversidade cultural.<br />

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE) sobre os indicadores sociais,<br />

lançadas no dia maio de 2006, mostram que os homicídios representam a maior causa de mortes<br />

externas (41%) de jovens de 15 a 24 anos. Especificamente para o sexo masculino, no período<br />

de 1992 a 2004, as taxas de mortalidade por homicídio mais que duplicaram, passando de 21,2<br />

para 49,7 óbitos por 100 mil habitantes, escancarando ainda um triste dado: hoje, são eles os que<br />

mais matam e os que mais morrem.<br />

O crescimento da violência nos centros urbanos é um grave problema que atinge a todos, especialmente<br />

a juventude, como vimos, que se vê ao mesmo tempo, como vítima e reprodutora<br />

desta mesma violência.<br />

Ultimamente, a emergência de episódios de violência na escola tem chamado a atenção dos<br />

governos e da sociedade para o problema da violência no meio escolar. A expressão “violência<br />

no meio escolar” é tanto violência na escola, quanto violência da escola. A violência na escola<br />

caracteriza-se por atos de indisciplina, brigas, agressões, intimidação de professores(as) e<br />

alunos(as) por pessoas de fora da escola, depredações do patrimônio, roubos, tráfico de drogas<br />

etc. A violência da escola é entendida como violência simbólica que consiste na tentativa de<br />

impor a interiorização de normas de conduta que não podem ser legitimadas, tendo em vista<br />

o processo de reestruturação social, completando-se com o exercício de práticas pedagógicas<br />

obsoletas e destituídas de interesse, mediatos ou imediatos, para os alunos.<br />

Uma saída comumente apontada por grande maioria da população, é o aumento do aparelho repressivo,<br />

a instituição da pena de morte, a redução da idade penal e o fortalecimento do aparato<br />

bélico.,Ideologicamente se entende a idéia de que se queres a paz, prepara-te para guerra.<br />

Convidados especiais para apresentação: Dr. Alfredo Moffatt (AR) e Dr. Luz de Bogotá(Colômbia)<br />

1 Psic., As. Social,Terapeuta Familiar e Comunitária, Presidente do Movimento Integrado de saúde Comunitária<br />

RS-MISC/RS<br />

88


RESUMOS CONVIDADOS INTERNACIONAIS<br />

Palestra de abertura<br />

A Terapia Comunitária: Uma reposta ao fracasso da intervenção<br />

social na França?<br />

Dr Nicole Hugon,<br />

C M S Saint Barnabé, 72 chemin de Fontainieu, 13014 Marseille.<br />

hugonn@wanadoo.fr<br />

Association AUTREMENT ? POURQUOI PAS !<br />

Desde 1946 as políticas sociais na França se debruçaram sobre a noção solidária de proteção<br />

social e de direitos sociais financiados pelas retiradas de dinheiro calculadas sobre o salário. O<br />

processo de globalização e a evolução dos modos de produção induziram a um desemprego em<br />

massa, durável, que atinge as categorias as mais desfavorecidas da população e leva ao aumento<br />

maciço do número de pessoas vivendo em precariedade durável e uma desqualificação social:<br />

passou-se da noção de titular de um direito para a de um assistido.<br />

As pessoas em situação precária acumulam dificuldades: fraca qualificação, fraco acesso à cultura,<br />

problemas de saúde, guetos, famílias fragmentadas, separadas, migrantes... Pouco a pouco,<br />

elas interiorizam sua própria desqualificação e se resignam a ficarem estagnadas no assistencialismo.<br />

O uso de drogas, o alcoolismo, a economia paralela e as explosões de violência são as<br />

conseqüências visíveis desta desqualificação.<br />

O trabalho social oscila entre a distribuição de alocações à pessoa e às tentativas de favorecer<br />

sua integração. Observa-se também uma tendência à psiquiatrização e ou criminalização da<br />

miséria. Infelizmente são mais raras as instituições que se consagram a reconstruir o laço social.<br />

Portanto, a exceção da cidade de Marseille (menos violência) se explica pelas atividades das<br />

associações que tecem e “re- tecem” o laço social nos bairros.<br />

A experiência da Terapia Comunitária (TC) em Saint Barnabé mostrou que ela é aplicável em<br />

nosso país. A TC poderá ajudar a dinamizar novamente o campo social reconstruindo solidariedades,<br />

facilitando as trocas entre populações culturalmente diferentes, mas, igualmente desvalorizadas<br />

a reencontrar o caminho da autonomia diante dos poderes públicos.<br />

89


Simpósio Internacional<br />

O desafio do trabalho comunitário - uma via para as transformações sociais<br />

Mudanças de atitude para desenvolver práticas emancipadoras de trabalho comunitário<br />

Riccardo Rodari r.rodari@bluewin.ch<br />

Haute Ecole de Travail Social – HETS, Genebra, Suíça<br />

Na atualidade, é muito forte na Europa a fomentação pelo liberalismo da idéia que é preciso<br />

responsabilizar o indivíduo com a conseqüência que quem vive um déficit de cidadania é designado,<br />

de fato, como responsável da própria situação. Desta forma, quem já é vítima deveria<br />

carregar também com a culpa do próprio estado, com o efeito de reforçar seu sentimento de<br />

precariedade e de ausência de valor. Esta postura visa a evacuar as implicações sistêmicas e políticas<br />

das crises sociais. Não existe problema social que seja meramente individual ou só sócio-<br />

-político. Todo problema social é problema de todos: do individuo, da coletividade e das políticas<br />

públicas. Reduzir a problemática a apenas um desses aspectos é fazer prova de uma miopia<br />

intelectual. Uma das preocupações essenciais do trabalho comunitário deve ser de reintroduzir<br />

as outras dimensões (sociais, educativas, políticas e pessoais) no enfrentamento de todo problema<br />

que surge na comunidade. Neste sentido, o trabalho comunitário deve permitir ampliar o<br />

campo de consciência dos atores populares, fomentando dispositivos de inteligência coletiva ao<br />

contrario das posturas que consistem em querer assistir, sensibilizar, orientar e dar conselhos e<br />

que reforçam a idéia que as soluções estão nos especialistas, que elas vêm de fora, desqualificando<br />

as competências das pessoas e da comunidade e gerando dependência e submissão. É preciso<br />

uma atitude do animador comunitário que faça dele um companheiro de caminhada e não uma<br />

pessoa que chefia, comanda ou dá lições. Esta postura ajuda os indivíduos e os grupos a terem<br />

mais autonomia, a encontrarem recursos neles mesmos e acreditar em si ao invés de buscar um<br />

salvador da pátria ou um qualquer líder. Então, o trabalho comunitário tem que ser sobretudo<br />

uma prática emancipadora, tanto para a comunidade, quanto para os animadores sociais. Mas<br />

estas práticas induzem uma postura que pede ao animador comunitário de sair dos holofotes e<br />

ficar na sombra, de renunciar ao prazer narcísico de se sentir protagonista. Mas, então, de onde o<br />

animador vai poder tirar a necessária retribuição simbólica, o seu salário afetivo? Que mudanças<br />

de postura seriam necessárias? São estas e outras questões que refletiremos.<br />

90


POSTER<br />

AVALIAÇÃO DA TERAPIA COMUNITÁRIA EM<br />

EM SAINT BARNABE MARSEILLE FRANCE<br />

ASSOCIATION AUTREMENT ? POURQUOI PAS ! (Marseille-France)<br />

Sabine Berkane<br />

O CMS Saint Barnabé é um estabelecimento de saúde de tratamento do alcoolismo.<br />

A Associação « Autrement ? Pourquoi pas ! » intervém uma vez por mês a fim de animar um<br />

grupo de Terapia Comunitária (TC), com o objetivo de permitir aos pacientes alcoólicos de<br />

renovar o diálogo e de recriar laços,vínculos com seu meio.<br />

A avaliação das práticas tornou-se uma obrigação incontornável na França. No setor de saúde<br />

a “mise en place” de la démarche qualidade é uma realidade, os certificações, acreditação são<br />

reconhecimentos por parte das autoridades de saúde francesas e são comunicadas ao grande<br />

público.<br />

Nosso trabalho de avaliação da TC se inscreve nesse movimento.<br />

Objetivos: avaliação do processo: desenvolvimento das sessões de Terapia Comunitária. Avaliação<br />

de resultados: impacto das sessões de TC a curto e médio prazo.<br />

Avaliação do processo:<br />

Nós elaboramos uma grade de avaliação do desenvolvimento da sessão de TC. Após cada sessão<br />

os terapeutas e a equipe que participou desta fazem uma auto-avaliação da sessão. Isso permitiu<br />

melhorar a dinâmica do grupo e facilitar o acesso à palavra dos participantes.<br />

Avaliação dos resultados:<br />

Nós procuramos indicadores pertinentes, confiáveis e simples, podendo seguir o impacto da TC<br />

a curto e médio prazo. Dois eixos foram observados: A mudança da percepção pelos pacientes<br />

da atitude do seu meio e as modificações dos laços sociais após a saída.<br />

Resultados :<br />

Nós pudemos notar uma melhora significativa da satisfação dos pacientes sobre a atenção prestada<br />

a seus próximos.<br />

Um grupo de pacientes saídos do CMS Saint Barnabé se formou para criar uma antena da<br />

Associação « Vie libre » em Aubagne. Eles retornam regularmente ao grupo de TC do estabelecimento<br />

e pediram para fazer uma formação afim de animar eles mesmos este tipo de grupo<br />

dentro de sua Associação.<br />

91


A Terapia Comunitária na Europa<br />

La Therapie Communautaire na Europa<br />

NASCIMENTO DA TERAPIA COMUNITÁRIA NO SUL DA FRANÇA<br />

Associação: Autrement? Pourquoi Pas (Marseille-France)<br />

Bruno Branchereau - bruno.branchereau@modulonet.fr<br />

A Associação Autrement ? Porqoui Pás ! nasceu em 22 de março de 2006 a partir da reunião de<br />

pessoas que intervêm no campo do alcoolismo e da drogadicção.<br />

O objetivo da Associação era de acompanhar pessoas com problemas de condutas aditivas e<br />

pessoas que desejavam se implicar nessas problemáticas.<br />

Essas condutas, se inscrevendo nos contextos familiares, sociais, profissionais justificam uma<br />

abordagem que integra as dimensões coletivas: sociais, culturais e antropológicas.<br />

A Terapia Comunitária (TC) nos pareceu ser uma importante ferramenta respondendo às nossas<br />

expectativas na reconstrução do laço entre o paciente alcoólico e seu meio.<br />

Os objetivos da TC correspondem aos objetivos da Associação, a saber: acolher, escutar, ajudar<br />

a elaborar um projeto de mudança, reencontrar a auto-estima e um lugar na sociedade, recriar<br />

laços. Adotamos então a TC e graças a ela, a Associação se abriu a outros campos. Decidimos<br />

desenvolve-la na região sul e conduzir ações de sensibilização e de formação, em parceria com<br />

a ABRATECOM e MISMEC.<br />

A Associação agrupa também os terapeutas comunitários a fim de lhes permitir trocar sobre suas<br />

práticas e garantir uma ética sobre a boa aplicação da metodologia.<br />

Até hoje existem três grupos de Terapia Comunitária:<br />

St Barnabé agrupa pacientes alcoólicos e seu meio (2005)<br />

Álcool Ação 83, grupo colocado em funcionamento nos moldes de uma associação de antigos<br />

bebedores (2007).<br />

Grupo dos monges de um convento colocado em funcionamento nos moldes de uma instituição<br />

para crianças com distúrbios de comportamento. (2006).<br />

Iniciamos sessões de supervisão e um ciclo de sensibilização em 2007. A difusão deste método<br />

desconhecido na França está só no começo. A principal dificuldade encontrada é, um certo ceticismo<br />

por parte das instituições, e nós nos servimos de nosso reconhecimento em adictologia<br />

para avançar.<br />

92


PRIMEIROS PASSOS DA TERAPIA COMUNITÁRIA NA<br />

FRANÇA<br />

Implantação da Terapia Comunitária na França e a Associação 4 Varas<br />

Christiane Fénéon cfeneon@laposte.net<br />

Em 1991, eu fui ao Brasil visitar amigos interessados como eu, pela “Teologia da libertação”.<br />

Estava também motivada para apoiar daqui da França, um projeto humanitário pensado e dirigido<br />

por Brasileiros. No dia 15 de Agosto de 1991, eu encontrei Adalberto e vivi minha primeira<br />

terapia comunitária, em Quatro Varas.No fim desta sessão, Adalberto me pediu para dizer uma<br />

palavrinha ao grupo ; do coração saiu espontaneamente como um grito: “Aqui vocês são ricos de<br />

tudo aquilo do que somos carentes na Europa: são ricos de muito calor humano, da inteligência<br />

do coração, de solidariedade. Ricos de muita coragem para enfrentar às dificuldades e que apesar<br />

de todos sofrimentos suportados, vocês têm uma profunda alegria de viver. Tudo isto, não<br />

somente o dinheiro não nos dará, mas em nosso país tudo foi destruído por ele mesmo. De todos<br />

vocês é esta imagem que levo comigo. Como gostaria de saber testemunhar tudo isto, voltando<br />

para França!...”Por causa da fé que Adalberto tem em todos os carentes e de sua preocupação<br />

indefectível de aproveitar dos recursos de cada um, eu aceitei o desafio a angariar na França o dinheiro<br />

necessário para comprar o terreno onde os “raizeiros” do Projeto Quatro Varas pudessem<br />

cultivar as plantas medicinais.Desde o começo, foi preciso ser claro sobre este tipo de relações<br />

que eu queria ter entre os autores do Projeto Quatro Varas e nós: não queria ter uma atitude de<br />

assistência mas viver um intercâmbio de reconhecimento da qualidade dos produtos do Projeto.<br />

A associação francesa “os Amigos de Quatro Varas” foi criada em 1996. Neste mesmo ano foi<br />

editado na França “O Indio que vive em mim” e nesta ocasião Adalberto e Jean-Pierre Boyer<br />

realizaram em Grenoble, a primeira conferência sobre a terapia comunitária.<br />

Os parceiros diversificaram-se com o passar dos anos. Escolas secundárias nos pediram para<br />

apresentar o Projeto Quatro Varas no âmbito do “Desenvolvimento duradouro”, os “Institutos<br />

de Formação de Enfermagem” no âmbito do módulo opcional “Abordagem intercultural de<br />

atenções primárias e comunitárias” A Prefeitura de Paris pediu uma conferência a Adalberto<br />

sobre o tema “Da exclusão à inserção social” e a UNESCO sobre “As doenças da alma no século<br />

XXI”. O “Centro de formação de abordagem sistémica” de Lyon e a ANPAA 13 (Associação<br />

de prevenção en Alcoologie et addictologie) de Marseille se interessaram pela “Experiência da<br />

terapia comunitária”. Osteopatas de Grenoble foram mais sensíveis ao trabalho corporal “Cuidar<br />

os cuidadores”.Por razões culturais, a terapia comunitária é praticada na França com o nome de<br />

“Grupo de escuta, de palavra e relacionamento”.Adalberto veio dar formações para animação<br />

destes grupos. Hoje, 25 pessoas estão formadas e 32 estão em formação. O IFTS (Instituto de<br />

Formação de Trabalhadores Sociais) de Grenoble e a ANPAA 13 de Marseille, 2 centros de<br />

formação homologados, são responsáveis dos estágios de formação. Onze “lugares de escuta,<br />

de palavra e de relacionamento” são abertos e funcionam regularmente.L’AETC (Associação<br />

Europeia de Terapia comunitária) foi criada em Janeiro de 2007. Na França a terapia comunitária<br />

interessou primeiro o mundo social por causa do desenvolvimento da segregação e da solidão<br />

que existe em nossa sociedade. Atualmente, a terapia comunitária interpela de mais em mais os<br />

protagonistas das ações de saúde ; estes profissionais sofrem tanto da decupagem e formatagem<br />

do indivíduo como do medo diante das considerações holísticas das pessoas que são logo acusadas<br />

de desvios sectários.<br />

93


TECENDO TEIAS NA SUÍÇA<br />

Implantação da Terapia Comunitária em Genebra<br />

Riccardo Rodari - Haute Ecole de Travail Social – HETS, Genebra, Suíça<br />

r.rodari@bluewin.ch<br />

O primeiro espaço de terapia comunitária na Suíça foi aberto num bairro popular de Genebra, em<br />

março de 2004. No inicio foi difícil. Vinham poucas pessoas, tinha muita desconfiança, alguns<br />

pensavam que era uma seita de iluminados, outros achavam que aquilo só podia funcionar no<br />

Brasil e que os suíços não iam querer falar de si diante de desconhecidos. Foi preciso uma certa<br />

persistência nossa e, pouco a pouco, a coisa começou a funcionar. Depois, mais espaços abriram<br />

em outros bairros, trás as capacitações dadas por Adalberto em Genebra. Além do primeiro espaço,<br />

que existe fora de qualquer âmbito institucional e é animado por voluntários, todos os demais<br />

espaços estão a cargo de trabalhadores sociais e são integrados nas atividades de instituições de<br />

ação social e saúde comunitária.<br />

O acolhimento da terapia comunitária em Genebra é bom: os que a freqüentam são muito contentes,<br />

há um interesse crescente por ela em instituições públicas e está sendo utilizada na formação<br />

de trabalhadores sociais.<br />

Porem, o bom acolhimento contrasta com a escassa participação nas rodas. Como explicar esta<br />

situação? Será que a terapia comunitária é realmente inadaptável à realidade suíça? Nossa hipótese<br />

é outra. Na Suíça, em particular nas cidades, os vínculos sociais são fracos, tem muita<br />

solidão e isolamento. Pensamos então que os habitantes da Suíça precisam justamente aprender<br />

a tecer vínculos, isto é, escutar com benevolência, falar de si sem medo e poder aceitar o outro<br />

com a sua diferença. Este processo demanda tempo e esforço, justamente porque as pessoas são<br />

carentes dessas faculdades e, por isso, são reticentes a entrar na roda. Através de alguns relatos,<br />

vou mostrar como os fatos estão contradizendo as intuições mais negativas em relação com a<br />

introdução da terapia comunitária na Suíça. É engraçado (e talvez algo profético) que o primeiro<br />

bairro onde se instalou a terapia comunitária tem justamente o nome de “Jonction” que significa<br />

“junção”...<br />

94


O ENCONTRO ENTRE A ALCOOLOGIA E A<br />

TERAPIA COMUNITÁRIA<br />

Sabine Berkane, Bruno Branchereau<br />

Association AUTREMENT ? POURQUOI PAS !<br />

autrementpourquoipas@yahoo.fr<br />

A Alcoologia e a Terapia Comunitária , duas disciplinas que deveriam fatalmente se encontrar :<br />

essa realidade nos pareceu desde nosso primeiro encontro com Adalberto Barreto.<br />

Todas as duas nasceram quando o saber médico se encontrava incapaz de dar um tratamento<br />

medicamentoso ao “doente”.<br />

Na Alcoologia são os grupos de antigos bebedores, ( A Cruz azul, Os Alcoólicos Anônimos)<br />

que abriram a via do tratamento , diante da incompetência da medicina em tratar a embriaguês,<br />

apresentada na época como uma calamidade social.<br />

Foi no seio dos grupos de palavra, segurança e apoio foram realmente os primeiros cuidados<br />

dados aos alcoólicos. Estes permanecem ainda uma ferramenta muito utilizada no campo do<br />

alcoolismo. No doente alcoólico, não há mais sujeito, ele se dissolve no álcool. Esta doença leva<br />

pouco a pouco a pessoa a se isolar, a perder os laços com a família, o meio. A marginalidade que<br />

se segue a isto leva a uma perda de referência e da auto-estima.<br />

O terapeuta em alcoologia é ao mesmo tempo um reservatório do saber científico e do saber<br />

das pessoas que ele acompanha. Ele se serve disso para permitir ao doente alcoólico de se re-<br />

-apropriar de sua história a fim de encontrar nele mesmo os recursos necessários para viver de<br />

outro modo.<br />

A transmissão dos saberes se faz dos pacientes aos terapeutas e do terapeuta a outros pacientes,<br />

é uma retransmissão das histórias de cada um.<br />

O objetivo do grupo de palavra em alcoologia é de ajudar os participantes a reencontrarem a<br />

esperança de cura e suas próprias soluções na partilha do saber e da experiência dos outros.<br />

O acompanhamento do alcoólico se faz no sentido da passagem da pessoa assistida, àquele de<br />

parceiro de seu tratamento.<br />

Jean Rainaut (alcoologista francês) tinha o hábito de dizer a seus estudantes que eles seriam<br />

eficazes quando eles soubessem que não poderiam nada fazer pelas pessoas que eles acompanhavam.<br />

Adalberto Barreto nos ensina que cada um é seu próprio doutor.<br />

95


MESAS DE DEBATE<br />

A Relação Pais –Bebê numa amostra<br />

populacional de Porto Alegre<br />

Autoras: Profa. Dra. Olga Garcia Falceto, Dra.. Carmen Luisa Fernandes<br />

Objetivo:<br />

Avançar o conhecimento sobre a influencia de fatores médicos e psico-sociais no estabelecimento<br />

da relação pais-bebê em uma amostra populacional.<br />

Método:<br />

Foram estudadas todas as famílias que tinham um filho nascido no decorrer do período de Nov<br />

1998 a Fev 2000 num bairro de Porto Alegre. Das 235 famílias identificadas apenas sete recusaram-se<br />

a preencher os dados de identificação. Cento e cinqüenta e três completaram o estudo.<br />

Foram visitadas quando os bebes tinham quatro meses de idade, em suas casas, por dois terapeutas<br />

de família. Foi realizada uma entrevista semi-estruturada e foram aplicados instrumentos:<br />

escala GARF para funcionamento do casal, família nuclear e relação com a família de origem,<br />

perguntas especificas para relação com a rede social, escala SRQ-20 para saúde mental dos pais,<br />

escala PIR-GAS para relação mãe-bebê e pai-bebê. Foi calculado o fator de prevalência para as<br />

diversas variáveis e realizada posterior análise de regressão logística pelo método stepwise com<br />

as variáveis selecionadas.<br />

Resultados:<br />

Encontrou-se associação significativa entre transtorno da relação mãe-bebê e problemas de moderados<br />

a graves na relação conjugal e pobre rede social. A relação pai-bebê demonstrou associação<br />

significativa apenas com a relação conjugal.<br />

Conclusão:<br />

A relação conjugal problemática é importante fator de risco para o estabelecimento de uma relação<br />

pais-bebê inadequada. No caso da mãe a relação com a rede social problemática também<br />

coloca o vínculo em risco. É necessária identificação precoce desses riscos pelo sistema de saúde<br />

e intervenção adequada.<br />

96


UNIVERSIDADE CONSTRUINDO CIDADANIA<br />

ATRAVÉS DA TERAPIA COMUNITÁRIA E DA<br />

REDE LOCAL INTEGRADA<br />

Adriane Vieira Ferrarini<br />

Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas/RS<br />

Na sua missão histórica da emancipação humana através do conhecimento, a ciência possibilitou<br />

avanços, mas também trouxe o aumento das desigualdades e a degradação do meio ambiente.<br />

Hoje, a universidade tem a tarefa de contribuir com conhecimentos e metodologias voltados para<br />

a inclusão social e o desenvolvimento sustentável. Com esse espírito, foi planejado o Programa<br />

Comunitário Desenvolvimento Solidário pelo Núcleo de Família e Redes Sociais do curso de<br />

Serviço Social da ULBRA, tendo sido implantado em 2003 no Bairro Guajuviras, município de<br />

Canoas (RS), que tem cerca de 70.000 habitantes.<br />

O Programa abarca dois campos de ação. O primeiro, de inclusão social e cidadania, atua no<br />

fortalecimento de indivíduos e famílias em situação de risco e vulnerabilidade social através do<br />

atendimento direto; tem a terapia comunitária como instrumento fundamental e estratégico, mas<br />

também oferece atendimentos individuais, familiares e domiciliares. O segundo campo atua na<br />

dimensão sócio-organizativa, incentivando a autonomia e o protagonismo da comunidade na<br />

identificação de dificuldades, de alternativas e na ativação dos recursos locais, de forma coletiva<br />

e autogestionária. Ocorre através da Rede Local Integrada, do desenvolvimento de projetos em<br />

parceria com organizações internas e externas à comunidade e da assessoria a entidades locais.<br />

Os resultados quantitativos e qualitativos revelam uma caminhada lenta, mas com passos sólidos<br />

na construção de relações mais solidárias e sustentáveis entre moradores, alunos, professores e<br />

agentes comunitários. Mostra também que, articular as necessidades de formação acadêmica às<br />

demandas sociais, é uma realidade possível.<br />

97


Terapia Comunitária para adolescentes e jovens numa escola municipal<br />

Maria Lucia de Andrade Reis<br />

Professora da Rede Municipal de Ensino e Terapeuta Comuintária<br />

Desde agosto de 2002 a Terapia Comunitária vem sendo utilizada como estratégia de<br />

intervenção no acompanhamento dos Projetos de vida dos adolescentes e jovens em<br />

situação de rua que estudam na Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre<br />

– EPA , localizada no centro da cidade de Porto Alegre/RS.<br />

A EPA, criada em 1995 é uma escola da Secretaria Municipal de Educação, modalidade<br />

Educação de Jovens e Adultos, que visa garantir a escolarização de jovens que se<br />

encontram em situação de sobrevivência da rua, expropriados do ensino e da aprendizagem<br />

formal. Constitui-se num espaço de acolhimento, organização e socialização<br />

dos saberes, que atende a escolarização formal vinculada ao trabalho e lazer enquanto<br />

princípio educativo e a geração de renda como forma de sustentabilidade dos jovens<br />

para além das práticas ilícitas e ou de mendicância a que estão expostos nas ruas.<br />

Inicialmente, no período de agosto de 2002 a 2004, a TC foi implantada em dois serviços<br />

da Prefeitura Municipal de Porto Alegre que atuam com adolescentes em situação<br />

de rua, , o CAPS Casa Harmonia e a EPA.<br />

Apesar de não contar mais com a parceria da saúde, essa atividade continua a ser desenvolvida<br />

na EMEF Porto Alegre e inclusive foi ampliada. Atualmente são oferecidas<br />

duas sessões de Terapia Comunitária, sendo uma semanal para os estudantes do Grupo<br />

3 e outra quinzenal para os participantes do Grupo de Gestão.<br />

Abaixo algumas falas significativas, trazidas pelos participantes da TC:<br />

“Não se pode confiar em ninguém na rua, ninguém é amigo de ninguém.”<br />

“Aqui é como se fosse uma família.”<br />

“Na rua ninguém dá bola pra gente. É bom a gente desabafar, sai aliviado.”<br />

“Aprendi a conversar nas horas difíceis.”<br />

“Vê se volta logo, cada semana sem Terapia é como se fosse dois séculos<br />

98


IMPLANTAÇÃO DA TC NA ZONA NORTE DE<br />

SÃO PAULO:<br />

TRANSFORMÇAO SOLIDÁRIA<br />

Ana Lucia Horta , Celina Daspett<br />

eryana.ops@terra.com.br<br />

Em 2004 iniciou-se no Departamento de Enfermagem/UNIFESP e Fundação Zerbini a capacitação<br />

de terapeutas comunitários com o objetivo de implantar a TC e formar multiplicadores que<br />

facilitassem a formação de novos grupos. Até 2007, 51 terapeutas, funcionários do PSF foram<br />

formados e atuam em cinco UBS localizadas na zona norte de SP que tem como característica<br />

os problemas sócio-econômicos observados em periferias de grandes cidades (violência, índices<br />

elevados de gestação na adolescência, prostituição infantil, alcoolismo, drogadicção, psicoses).<br />

Foram realizadas 446 sessões, com 5464 participantes, que trazem uma diversidade de temas<br />

que contemplam realidades pessoais, familiares, comunitárias e sociais. Neste estudo, apresentamos<br />

algumas adaptações e inclusão de estratégias para facilitar o processo de formação de<br />

terapeutas e mapeamos depoimentos de Terapeutas e os temas das sessões como uma possibilidade<br />

de diagnóstico dos sofrimentos dessa população e conseqüências na vida dos profissionais<br />

e usuários da TC.<br />

Os profissionais relatam terem a oportunidade de: questionar e refletir sobre a forma como vinham<br />

desenvolvendo seus vínculos familiares, entender o processo vida-crescimento-morte e<br />

vivenciar uma relação mais madura com as pessoas e com a vida; compreender a importância<br />

de quem cuida, necessidade de aprimorar a escuta; aceitar o ritmo e os limites dos colegas de<br />

trabalho; aceitar o outro a partir de sua história, não julgando sem conhecer. Os usuários vêm se<br />

apropriando dessa atividade, convivendo com as diferentes crenças e valores, forma de pensar<br />

das pessoas ou a forma de enfrentar os problemas possibilitando a compreensão e a transformação<br />

do sofrimento em crescimento. Concluímos assim, o quanto a TC tem resgatado na comunidade<br />

sentimento de solidariedade e acolhimento.<br />

99


TERAPIA COMUNITÁRIA: BASES TEÓRICAS E RESUL-<br />

TADOS PRÁTICOS DE SUA APLICAÇÃO<br />

Liz Verônica Vercillo Luisi<br />

lizluisi@uol.com.br<br />

INTERFACI –SP Instituto de Terapia: Família, Casal e Indivíduo.<br />

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –Núcleo de Família e Comunidade<br />

FORMAÇÃO E PESQUISA EM TERAPIA COMUNITÁRIA - QUESTÕES TEÓRICO-EPIS-<br />

TEMOLÓGICAS:<br />

A Terapia Comunitária (TC), criada e difundida pelo médico cearense, ADALBERTO BARRE-<br />

TO, é uma prática terapêutica que funciona como espaço comunitário de expressão e escuta do<br />

sofrimento humano motivado, principalmente, por desigualdade social, discriminação, preconceito<br />

e pobreza. A TC tem se mostrado uma poderosa ferramenta para o atendimento de grandes<br />

demandas na área da saúde e da educação, frente a desafios como a violência, o abuso de substâncias,<br />

conflitos familiares, problemas de saúde mental, entre muitos outros.<br />

Uma de suas principais características é favorecer, o empoderamento pessoal e comunitário e a<br />

construção de redes solidárias. Este trabalho, que se constituiu numa Dissertação de Mestrado,<br />

defendida em julho de 2006, na PUC-SP, representa uma firme sistematização teórica e histórica<br />

da TC até àquele período.O trabalho também apresenta alguns dos resultados de uma experiência<br />

que foi pioneira na cidade de São Paulo nos anos de 2002 a 2004. Estes representam uma<br />

forma de compreensão dos significados atribuídos à Terapia Comunitária por alguns participantes,<br />

utilizando um referencial narrativo. Foi utilizado o método de pesquisa qualitativa, com<br />

entrevistas semi-estruturadas. Da apresentação oral do trabalho, serão apresentados os aspectos<br />

epistemológicos, teóricos e metodológicos nortearam a pesquisa, bem como seus resultados.<br />

Palavras Chave: comunidade-empoderamento-redes solidárias.<br />

100


TERAPIA COMUNITÁRIA: BASES TEÓRICAS E RESUL-<br />

TADOS PRÁTICOS DE SUA APLICAÇÃO<br />

Liz Verônica Vercillo Luisi<br />

lizluisi@uol.com.br<br />

INTERFACI –SP Instituto de Terapia: Família, Casal e Indivíduo.<br />

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –Núcleo de Família e Comunidade<br />

FORMAÇÃO E PESQUISA EM TERAPIA COMUNITÁRIA - QUESTÕES TEÓRICO-EPIS-<br />

TEMOLÓGICAS:<br />

A Terapia Comunitária (TC), criada e difundida pelo médico cearense, ADALBERTO BARRE-<br />

TO, é uma prática terapêutica que funciona como espaço comunitário de expressão e escuta do<br />

sofrimento humano motivado, principalmente, por desigualdade social, discriminação, preconceito<br />

e pobreza. A TC tem se mostrado uma poderosa ferramenta para o atendimento de grandes<br />

demandas na área da saúde e da educação, frente a desafios como a violência, o abuso de substâncias,<br />

conflitos familiares, problemas de saúde mental, entre muitos outros.<br />

Uma de suas principais características é favorecer, o empoderamento pessoal e comunitário e a<br />

construção de redes solidárias. Este trabalho, que se constituiu numa Dissertação de Mestrado,<br />

defendida em julho de 2006, na PUC-SP, representa uma firme sistematização teórica e histórica<br />

da TC até àquele período.O trabalho também apresenta alguns dos resultados de uma experiência<br />

que foi pioneira na cidade de São Paulo nos anos de 2002 a 2004. Estes representam uma<br />

forma de compreensão dos significados atribuídos à Terapia Comunitária por alguns participantes,<br />

utilizando um referencial narrativo. Foi utilizado o método de pesquisa qualitativa, com<br />

entrevistas semi-estruturadas. Da apresentação oral do trabalho, serão apresentados os aspectos<br />

epistemológicos, teóricos e metodológicos nortearam a pesquisa, bem como seus resultados.<br />

Palavras Chave: comunidade-empoderamento-redes solidárias.<br />

REVITALIZAÇÃO DE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS<br />

UTILIZADAS EM ENCONTROS DE TERAPIA COMUNITÁ-<br />

RIA: TRADIÇÃO E TRANSFORMAÇÃO<br />

Autor: Sílvia de Azevedo Barretto Fix<br />

Instituição: CEAF – Centro de Estudos e Atendimento à Família<br />

O objetivo deste trabalho é refletir sobre as diversas raízes culturais da população brasileira, dos<br />

povos e nações indígenas, dos países e etnias européias, dos árabes e judeus, dos povos e nações<br />

africanas, e de outras etnias formadoras da nossa população: festas, músicas, danças, rituais,<br />

comidas, brincadeiras, ditados, mitos, ritos, lendas e histórias populares. Tendo em vista as etapas<br />

da formação histórica do Brasil, nos interessam as raízes culturais que possam servir como<br />

referencial para posterior entendimento das ações e relações sociais de todos nós, participantes<br />

de encontros de Terapia Comunitária: a sabedoria das fontes das diversas culturas; alguns elementos<br />

culturais formadores das nossas identidades; a busca de significados que só aparecem à<br />

luz do contexto do passado, no contexto do presente e nas esperanças e previsões do futuro, no<br />

fado (destino) às vezes aprisionador de cada um de nós; a busca de significados transformadores<br />

que possam permitir a saída do fatalismo, e a construção do nosso destino.<br />

101


Titulo :Transformando Sofrimento em Competência através de<br />

“REDE DE APOIO SOCIAL”<br />

Autoras:<br />

Celoi Araújo dos Santos Costa - Psicóloga , Neusa Maria Carvalho – Psicopedagoga Clínica<br />

e Institucional, Maria da Graça Pereira Rodrigues – CRESS 4406 - Assistente Social, Mare<br />

Ecila Homem dos Santos – Nutricionista<br />

RESUMO INSCRIÇÃO CONGRESSO<br />

O Balneário Pinhal, município do Litoral Norte/RS, possui 900 famílias cadastradas, 390 famílias<br />

beneficiárias do Programa Bolsa Família, atendendo atualmente 50 crianças no Programa de<br />

Erradicação do Trabalho Infantil – PETI. O Poder Executivo Municipal comprometido com o<br />

enfrentamento da pobreza, da fome e da exclusão social, implementa o Projeto Rede de Apoio<br />

Social como estratégia de promoção das potencialidades das famílias e da comunidade, para<br />

superação das situações de pobreza, sofrimento, angústia e vulnerabilidade psicossocial.<br />

Desta forma, considerando que os beneficiários do PBF de nossa comunidade, somado a situação<br />

de vulnerabilidade, apresentam patologias clínicas como depressão, ansiedade, alcoolismo,<br />

drogadição, abuso e violência intra-familiar; faz-se necessário um projeto embasado em uma<br />

teoria - Terapia Comunitária do autor Adalberto Barreto- na busca de novas alternativas para<br />

o coletivo através de um trabalho intersetorial, com a estruturação e emancipação dos sujeitos,<br />

oportunizando a inclusão produtiva e a geração de renda, o fortalecimento da família e da comunidade<br />

como um todo.<br />

Assim, o Projeto “Rede de Apoio Social” atende os usuários da Política Socioassistencial, o<br />

atendimento das famílias acontece em grupos de Terapia Comunitária. Os mesmos são formados<br />

de acordo com o zoneamento: Sede, abrangendo os bairros Pontal das Figueiras, Sindipolo e<br />

Parque Sete, distrito do Magistério e distrito do Túnel Verde, a partir da relação do Programa<br />

Bolsa Família, visando transformar o sofrimento em crescimento, a carência em competência.<br />

Contamos com o apoio das Agentes Comunitárias dos PSF’s, do Serviço de Orientação Escolar<br />

das escolas da Rede Municipal de Ensino e de Técnicos da Sec. Municipal de Assistência Social.<br />

102


A TERAPIA COMUNITÁRIA COMO ESTRATÉGIA DE<br />

FORTALECIMENTO DA AUTO-ESTIMA DE UM GRUPO<br />

DE MULHERES DOS COMPLEXOS DE MANGUINHOS E<br />

MARÉ.<br />

Eliane Cardoso; Elaine Savi<br />

eliane@ensp.fiocruz.br<br />

Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/ FIOCRUZ<br />

O trabalho ora apresentado tem como proposta relatar a experiência da Terapia Comunitária<br />

com um grupo de mulheres moradoras das comunidades dos complexos de Manguinhos e Maré/<br />

Rio de Janeiro, no período de agosto a dezembro de 2006. Essa experiência tem início com os resultados<br />

da pesquisa denominada “Vigilância civil da saúde na atenção básica: uma proposta de<br />

ouvidoria coletiva na AP3. 1/Rio de Janeiro”, durante o ano de 2004. Reunidos em fóruns mensais<br />

de ouvidoria coletiva, lideranças comunitárias e religiosas e profissionais de saúde puderam<br />

expressar suas percepções acerca das dificuldades, das angústias, e do sofrimento no cotidiano<br />

desses indivíduos - moradores das comunidades de Manguinhos e Maré -, e as estratégias para<br />

superá-los. Nosso objetivo é apresentar os relatos das conquistas das participantes durante os<br />

encontros de Terapia Comunitária. No último encontro do ano sugerimos uma terapia temática<br />

para que as mulheres pudessem relatar suas conquistas durante as sessões de Terapia Comunitária,<br />

realizadas semanalmente, por um período de cinco meses. Como resultados temos verificado<br />

o crescimento da auto-estima, que leva as mulheres a se fortalecerem e a buscarem dentro de<br />

si, recursos para superarem suas angústias, dificuldades, conflitos familiares e da comunidade.<br />

Constatamos uma melhoria na qualidade de vida e saúde dessas mulheres quando relatam que<br />

conquistaram a paz, a confiança, a coragem, a amizade, e a alegria de “viver” nos encontros da<br />

Terapia Comunitária.<br />

103


POSTER<br />

UM PASSO PARA A INTEGRAÇÃO DA TERAPIA COMUNITÁRIA (TC)E DA MEDICINA<br />

DE FAMÍLIA E COMUNIDADE( MFC.): O EVENTO DE DIVULGAÇÃO DA M.F.C. NO<br />

PARQUE IBIRAPUERA EM SÃO PAULO. Turcotte, S. Associação Paulista de Medicina de<br />

Família e Comunidade(APMFC)<br />

INTRODUÇÃOComo parte da campanha de divulgação da especialidade de MFC, a APMFC<br />

promoveu atividades comunitárias no Parque Ibirapuera de São Paulo, no dia 9 de dezembro<br />

2006.Uma das atividades desenvolvidas, em colaboração ao Centro de Assistência a Família<br />

(CEAF), foi a TC.<br />

OBJETIVO:Relatar a experiência de organização e aplicação da TC como técnica e meio de<br />

divulgação das especificidades da MFC.<br />

METODOLOGIA:O projeto foi elaborado integrando várias atividades de cunho grupal que<br />

podem ser desenvolvidas por MFC junto às comunidades. A atividade de TC foi apresentada a<br />

população através de um texto por uma MFC convidando a populacão transeunte a participar<br />

mais tqrde a atividade de TC.<br />

RESULTADOS:Um grupo de 32 pessoas se apresentou. O mote escolhido contemplou as ansias<br />

das pessoas presentes como demostraram os testemunhos espontaneos levantados. Esta forma de<br />

atuação despertou tambem a curiosidade dos participantes quanto a especialidade e suas formas<br />

específicas de atuação.<br />

DISCUSSÃO:A T.C;, tem apresentado indícios alentadores para aproximação das doenças psicossomaticas<br />

e mentais em grupo,em populações sem acesso a intervenção psicológica individual<br />

Os transeuntes demostraram interesse em experimentar esta intervenção de grupo A experiëncia<br />

contribuiu a demostrar o potencial da T.C; como instrumento de trabalho comunitário<br />

para ajudar o MFC. a atender as comunidades brasileiras. Contribuiu também a demostrar as<br />

especificidades de atuação do MFC.diferentes do atendimento médico individual, tradicionalmente<br />

divulgado e hegemonicamente conhecido.<br />

104


TERAPIA COMUNITÁRIA NA REDE DE PROTEÇÃO DA<br />

ASSISTÊNCIA SOCIAL<br />

Autor(es)<br />

Larissa Witkowski Karlec, Prefeitura Municipal de Senador Salgado Filho e Fundação Educacional<br />

Machado de Assis<br />

Resumo<br />

O Município de Senador Salgado Filho tem um projeto pioneiro na região, que se chama Terapia<br />

Comunitária. A busca por este método de trabalho se deu devido a grande necessidade de buscar<br />

algo que iria trabalhar o sofrimento das pessoas, estimulando a partilha, no mesmo e possibilitando<br />

a construção de uma rede apoio.A Terapia Comunitária busca melhorar a auto-estima das<br />

pessoas, sendo que esta é a chave que nos possibilita sair desta situação de sofrimento, aparentemente<br />

sem solução. Ela é a chave de nossa felicidade ou infelicidade, pode nos encorajar ou<br />

desencorajar nossos pensamentos e sentimentos a nosso próprio respeito e não o que uma pessoa<br />

sente e pensa de nós. “A auto-estima é realmente, a reputação que temos diante dos nossos<br />

próprios olhos”. (BRANDEM, 1997). Nesse sentido, a TC é realizada em todos os programas<br />

e projetos que a Assistência Social dispõe, ou seja, com crianças e adolescentes(do Programa<br />

de Erradicação do Trabalho Infantil) idosos, mulheres depressivas, famílias contempladas com<br />

programas habitacionais e demais cidadãos do referido município. A TC é um excelente instrumento<br />

para a promoção e inclusão social, onde a satisfação e a melhoria da qualidade de vida é<br />

ascendente e expressiva em toda a rede de proteção do Município de Senador Salgado Filho, RS,<br />

o qual conta com menos de 3 mil habitantes. Este projeto é semelhante ao trabalho da aranha, a<br />

qual tece teias invisíveis, porém fortíssimas. Essa terapia tem se tornado um espaço de expressão<br />

para os que sofrem, tem sido suporte e apoio que permite, a muitos, nutrirem-se do que ali se<br />

constrói.<br />

105


QUANDO A RESPONSABILIDADE COMEÇA CEDO: UM<br />

DIA NA VIDA DE IRMÃOS QUE CUIDAM DE IRMÃOS<br />

Letícia Lovato Dellazzana e Lia Beatriz de Lucca Freitas<br />

leticiadellazzana@hotmail.com<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul<br />

Este trabalho teve como objetivo descrever como adolescentes de famílias de baixa renda lidam<br />

com a situação de serem responsabilizados pelo cuidado de seus irmãos menores. Foram realizadas<br />

entrevistas individuais com oito adolescentes com idades entre 12 e 18 anos, cujas famílias<br />

são atendidas pelo Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) de Porto Alegre. Os adolescentes<br />

descreveram um dia típico de suas vidas e foram questionados sobre suas atividades com<br />

seus irmãos menores. Para a análise dos dados, os participantes foram divididos em dois grupos.<br />

O primeiro grupo foi formado por quatro irmãos que cuidam de irmãos e o segundo foi um grupo<br />

de comparação, formado por quatro adolescentes do mesmo nível socioeconômico, que não<br />

exercem regularmente a função de cuidadores de seus irmãos. As informações coletadas foram<br />

analisadas qualitativamente através de análise de conteúdo. Através da análise do dia de vida,<br />

foi possível identificar não apenas o cuidado dispensado em relação aos irmãos menores, mas<br />

também o desempenho de tarefas domésticas.<br />

Os resultados revelaram que os adolescentes que exercem a função de cuidar de seus irmãos<br />

menores regularmente, também executam muitas funções relacionadas ao trabalho doméstico.<br />

Além disso, foi observado que não há tempo para momentos de lazer durante o dia desses adolescentes,<br />

uma vez que eles passam a maior parte do tempo dando conta dos cuidados dos irmãos<br />

e da casa. Somente nos finais de semana, quando suas mães assumem o controle da casa, é que<br />

os adolescentes conseguem realizar atividades mais relacionadas a sua faixa etária, como sair<br />

para se encontrar com amigos.<br />

106


TERAPIA COMUNITÁRIA E REDE SOLIDÁRIA<br />

EM SANTO ANDRÉ<br />

Sandra Maria Siraque - Prefeitura Municipal de Santo André<br />

Eliane Lima Guerra Nunes - Pólo ABC<br />

O Projeto de Terapia Comunitária foi implantado em novembro/2006, a partir da criação da coordenação<br />

do programa pela Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Santo André/SP. A<br />

cidade tem aproximadamente 690 mil/hab. e na década de 80 teve seu perfil econômico modificado,<br />

passando de predominantemente industrial para prestadora de serviços. As políticas públicas<br />

da cidade tiveram que ser adaptadas tanto ao impacto causado pelo desemprego como pelo<br />

aumento da demanda de serviços de saúde. Deseja-se relatar a trajetória dessa implantação e o<br />

perfil de atendimento realizado pelos terapeutas comunitários, formados pelo Pólo ABC. Através<br />

do mapeamento e relatos dos terapeutas comunitários, as principais queixas apresentadas<br />

pela população foram: medo, angústia, depressão, dependência química, desemprego, violência,<br />

entre outras. A inclusão dos terapeutas comunitários nos locais de maior vulnerabilidade social<br />

e urbana, onde existem os projetos do programa de Saúde da Família - PSF, Unidade Básica de<br />

Saúde - UBS ainda se constitui um dos maiores desafios a serem enfrentados, tanto pela falta de<br />

verba como pelo preconceito e dificuldade de entendimento sobre essa nova metodologia, principalmente<br />

pelos profissionais da saúde, tanto daqueles que são os responsáveis pelos encaminhamentos<br />

dos usuários do SUS, como daqueles que são os responsáveis pela sua implantação.<br />

Uma das estratégias que estamos investindo é a criação de espaços dentro de veículos de comunicação<br />

como boletins, jornais, com uma linguagem mais adequada tanto para os gestores como<br />

para a comunidade. A TC para ser porta de entrada para os serviços existentes e um excelente<br />

recurso para a criação de redes de solidariedade na comunidade, requer estratégias adequadas<br />

para a sensibilização dos diferentes interlocutores e gestores como secretários, gerentes, coordenadores<br />

de programa, entre outros, além de financiamento pelo Sistema Único de Saúde - SUS.<br />

Formação e Pesquisa em Terapia Comunitária<br />

QUAL A MAGIA QUE ACONTECE NOS ENCONTROS DE TERAPIA<br />

COMUNITÁRIA?<br />

Autor: Selma Guarinon Kuperman<br />

sandrasiraque@yahoo.com.br<br />

Instituição: CEAF – Centro de Estudos e Assistência à Família<br />

Com base em alguns conceitos da Física Quântica – mente, cérebro, energia, ondas, consciência<br />

– pretendo fazer algumas reflexões: a interligação mente-cérebro, o cérebro como energia; a<br />

mente-cérebro emite e recebe ondas; a energia se manifesta e reverbera em cada pessoa a partir<br />

do olhar e da fala, da intencionalidade, da permeabilidade e da espiritualidade; as energias entrelaçadas<br />

formam pontos de intersecção, pontos de encontro que possibilitam saltos transformadores<br />

de auto-conhecimento.<br />

107


A consciência se dá através da troca de energias no contato com o outro e a magia acontece<br />

no contexto da Cultura: a força das mitologias indígenas, dos orixás afro-brasileiros, etc. O<br />

sofrimento como distância do propósito da própria vida, da falta de consciência de si mesmo,<br />

geradora de vulnerabilidades. A energia do grupo na Terapia Comunitária; a energia a partir do<br />

reconhecimento de pertencimento; as falas que propiciam a consciência de si, consciência do<br />

próprio saber, que geram competência e capacidade de ação.<br />

TERAPIA COMUNITÁRIA: UMA DAS ESTRATÉGIAS NA CONSTRU-<br />

ÇÃO DA REDE ESCOLA DE CUIDADO À<br />

SAÚDE NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS.<br />

Denise Martins Gualtieri<br />

Maria Helena Pereira Rosalini<br />

Marilda Siriani de Oliveira<br />

Secretaria Municipal de Saúde<br />

Universidade Federal de São Carlos<br />

Em São Carlos o modelo de atenção à saúde vem sendo reorientado pela Secretaria Municipal<br />

de Saúde no sentido de uma transformação progressiva, adotando a Estratégia Saúde da Família<br />

como eixo estruturante da Rede de Atenção Básica. Os pressupostos do modelo adotado: garantia<br />

do acesso; o estabelecimento de uma nova relação “instituição-usuário”, humanizada e<br />

acolhedora; o acesso à informação desde o ponto de vista individual até o coletivo buscando a<br />

autonomia do usuário; a eqüidade e a responsabilização sanitária pelas equipes na preservação,<br />

recuperação e a promoção da saúde dos cidadãos que vivem ou trabalham em seu território de<br />

abrangência. A articulação ensino-serviço se dá através de parceria entre a Secretaria Municipal<br />

de Saúde e a Universidade Federal de São Carlos, numa gestão compartilhada, orientada para<br />

a construção da rede escola de cuidado à saúde. O Departamento de Medicina oferta o curso<br />

de especialização em saúde da família e comunidade, bem como a residência médica e multiprofissional<br />

em saúde da família e comunidade, fortalecendo o desenvolvimento do trabalho<br />

em equipe e a troca de saberes que configuram as estratégias de um novo paradigma em saúde<br />

coletiva. A Terapia Comunitária está sendo inserida nas equipes das Unidades de Saúde da Família.<br />

A primeira etapa da implantação consiste em atividades de apresentação e divulgação aos<br />

gestores e equipes, bem como da realização de TC nas comunidades dos territórios de abrangência<br />

das USF. A segunda etapa consistirá na realização da primeira capacitação prevista para<br />

40 profissionais das USF e Residentes da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e<br />

Comunidade, com previsão para a imediata continuidade do processo de capacitação, bem como<br />

do acompanhamento dos trabalhos implantados durante a capacitação.<br />

108


O IDOSO DEPENDENTE DE CUIDADOS: A AUSÊNCIA DE CUIDADORES E A<br />

OMISSÃO DA FAMÍLIA.<br />

Franciele M. Barbosa; Janaina C.Amaral.-Ms. Mª. Dvanil D. Calobrizzi.- (Instituição Toledo<br />

de Ensino - ITE – Faculdade de Serviço Social de Bauru.).<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Afirma-se que o envelhecimento é uma fase natural da vida humana, no entanto, se torna muito<br />

delicado quando se trata do envelhecimento com dependência. Portanto o presente estudo trata<br />

sobre o idoso em situação de dependência, a ausência de cuidadores e a omissão da família na<br />

prestação dos cuidados. O objetivo proposto foi desvelar as possíveis causas de omissão da<br />

família frente à necessidade de cuidados do idoso. O estudo deu-se no período de fevereiro a<br />

outubro de 2006, com idosos atendidos no CRADI- Centro de Atenção a Pessoa com Defciencia<br />

e idosos – Bauru /SP.<br />

2 O ENVELHECIMENTO COM DEPENDÊNCIA<br />

Falar em envelhecimento é abordar também suas conseqüências, é comum que a velhice traga<br />

consigo um declínio das funções, físicas, psicológicas e sociais, e como isso cause no idoso a<br />

dependência de cuidados. Sendo assim, pressupõe que alguém assuma a tarefa de cuidar. Os<br />

fatores que influenciam a escolha do cuidador são quatro: 1- o grau de parentesco com o idoso,<br />

2. o gênero do cuidador, 3.- a proximidade entre cuidador e idoso, 4- a afetividade. A freqüência<br />

das doenças crônicas e a longevidade atual dos brasileiros são as duas principais causas do crescimento<br />

das taxas de idosos portadores de incapacidades. Explica Rodrigues, Diogo e Barros<br />

(1996, p. 26) O assistente social no atendimento ao idoso torna-se extremamente importante na<br />

medida em que ele é o responsável em detectar as necessidades (aparentes ou camufladas), do<br />

usuário. A atuação do assistente social enquanto membro da equipe atua como “facilitador” nas<br />

relações interpessoais: família, equipe e cuidador.<br />

3 CONCLUSÂO<br />

Os resultados apontaram que a dependência é causada por questões de saúde e do processo de<br />

envelhecimento; os cuidados não são prestados pela família pela ausência de informação/capacitação<br />

do responsável e há um desconhecimento dos sujeitos sobre o trabalho desenvolvido pelo<br />

Serviço Social.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BEAUVOIR, S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.<br />

CAMARANO, A. A.; GHAOURI, S. K. Idosos brasileiros que dependência é essa? In: CAMA-<br />

RANO, A. A. (Org.), Muito Além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: Ipea. 1999.<br />

109


DEBERT, G. G. A Reinvenção da velhice. São Paulo: Fapesp, 1999. 226 p.<br />

CALDAS, C.P. Envelhecimento com dependência: responsabilidades e demandas da família.<br />

2002. Disponível. http://www. Scielo.br/scielo.php?scrip=sci_arttex&pid=SO102. Acessado em<br />

15 de maio de 2006.<br />

FALEIROS, V. P. Estratégias em Serviço Social. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2001.<br />

FERRARI, M; KALOUSTIAN, S. M. A importância da família. In: KALOUSTIAN, S. M.<br />

(Org.). Família Brasileira, a base de tudo. 4.ed. Brasília: Cortez, 2000.<br />

JACOB FILHO, W. Saúde na terceira idade: 1997. Disponível em 1997. Acessado em<br />

25/08/2006. http://www.saudetotal.com/artigos/idoso/terceiraidade.asp.<br />

IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho de formação profissional.<br />

São Paulo: Cortez, 2001.<br />

IBGE lança perfil dos idoso responsáveis pelo domicilio. 2000. Disponível em 25 de junho de<br />

2002. Acessado em 15 de maio de 2006. http://www. Ibge. Gov. br/home/presidencia/noticias.<br />

IDOSOS dependentes: famílias e cuidadores. 2002. Disponível em 21 de fevereiro de<br />

2003. Acessado em 08 de maio de 2006. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_<br />

arttext&pid=SO102s&nrm=isso.<br />

KARSCH, U. M. S. (Org.). Envelhecimento com dependência: revelando cuidadores. São Paulo:<br />

Edusc.1998.<br />

______.Cuidadores familiares de idosos: parceiros da equipe de saúde. Serviço Social & Sociedade,<br />

São Paulo, n. 7, p. 103-113, 2003.<br />

______. Porque pesquisar cuidadores de idosos frágeis e dependentes? 2006. Disponível em<br />

http://www.portadoenvelhecimento.net/pforum/cid1.html. Acessado em 22 de setembro de<br />

2006.<br />

LAKATOS, E.M e Marconi, M.D. Metodologia do trabalho científico. 6.ed. São Paulo:<br />

Atlas,2001.<br />

LEGISLAÇÃO Brasileira de Serviço Social. São Paulo: Cress, 2002.<br />

LEME, L.E.G.; SILVA, P.S.C.P. O idoso e a família, In: PAPALEO, N.M. Gerontologia: a velhice<br />

e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Atheneu, 1996.<br />

LOURENÇO, R. Avaliação do idoso pelo cuidador. In: CALDAS, C.P. (Org). Saúde dos Idosos:<br />

a arte de cuidar. Rio de Janeiro: Uerj, 1998.<br />

MARTINELLI, M.L. Pesquisa Qualitativa: um instigante desafio. São Paulo: Veras, 1999.<br />

MARTINEZ, W.N. Direito dos idosos. São Paulo: LTr, 1997.<br />

MENICUCCI, L. Revista Serviço Social e Sociedade. nº87. 2006. Política de saúde no Brasil:<br />

entraves para universalizaçãoe igualdade da assistência no contexto de um sistema.p. 58-75.<br />

MORAGAS, R.M Gerontologia social: envelhecimento e qualidade de vida. São Paulo: Paulinas,<br />

1997.<br />

MOTTA, L. B. O que determina nosso envelhecimento? O que é envelhecimento? In: CAL-<br />

DAS, C. P. (Org.). A saúde do idoso: a arte de cuidar. Rio de Janeiro: Unati, 1998.<br />

110


Lançando Redes - O Percurso da Terapia Comunitária na Bahia<br />

Autor(es)<br />

Maria das Graça Farani López, MISC-BA<br />

Resumo<br />

Apresentar o percurso que o MISC-BA vem realizando na divulgação e na formação da TC na<br />

Bahia em 2006 - 2007. Tem-se buscado conquistar espaço da TC nos mais variados segmentos<br />

sociais. A formação do Terapeuta Comunitário encontra como parceiros; Pastoral Carcerária<br />

com 25 voluntários de Salvador e municípios visinhos; SETRAS(Secretaria do Trabalho e Ação<br />

Social e Esporte), com 61 técnicos e parceiros responsáveis por casas de recuperação de dependentes<br />

químicos; Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio de Jesus (CAPS), com integrantes<br />

da equipe do CAPS, equipes de Saúde da Família e liderança comunitária, totalizando<br />

48 em formação; UNEB (Universidade Estadual da Bahia), realização de palestra e oficina. Este<br />

trabalho tem sido construído com determinação por perceber o grito de uma sociedade que tem<br />

potencial e deseja participar de um processo de mudança em busca de justiça social, fraternidade<br />

e mais apoio às famílias. O MISC-BA tem lançado suas redes e tem ido ao encontro do povo<br />

baiano que em si já é rico na sua diversidade de raça, credo e costumes. O MISC-BA tem possibilitado<br />

aumentar o número de participantes, tornando-se sujeito de transformação da História.<br />

TERAPIA COMUNITÁRIA NA ZONA RURAL NO MUNICÍPIO DE PEDRAS DE<br />

FOGO: RELATO DE EXPEIÊNCIA.<br />

Maria de Oliveira Ferreira Filha<br />

Edlene de Freitas Lima Rocha<br />

Francliene Figueiredo da Silva Pascoal<br />

Renata Ligia de Macedo Viana de Andrade<br />

Pedras de Fogo /PB - UFPB<br />

O município de Pedras de fogo localizado a 59 km de João Pessoa - PB. Possui uma população<br />

de 26.111 habitantes, sendo 11.703 habitantes na área rural. Fora observado nos usuários durante<br />

a vivência dos profissionais do Programa de Saúde da Família na área rural, uma baixa estima;<br />

dificuldade de identificação de sentimentos; carência de espaço fala e escuta e de opções de<br />

entretenimento. Tendo em vista essas peculiaridades, somado a necessidade de promover a co-<br />

-participação e responsabilidade da saúde coletiva e individual dos usuários e a prevenção do<br />

sofrimento psíquico, os profissionais buscaram junto à gestão uma metodologia de cuidado e de<br />

transformação social - a Terapia Comunitária (TC).<br />

Nesse estudo temos como objetivo relatar a experiência na prática da TC na zona rural. Para a<br />

coleta de dados foram utilizados como instrumento as Fichas de Organizações das Informações<br />

da TC que nos proporcionou visualizar como principais problemas para a realização da TC: a<br />

extensão territorial, mudanças climáticas e o cronograma da equipe; Como estratégia de superação:<br />

apoio de toda equipe de saúde, da comunidade e de outras instituições e perseverança dos<br />

terapeutas.<br />

111


Foi possível observar com esta investigação relevante impacto social, obtendo o envolvimento<br />

da comunidade, fortalecimento de vínculos (institucional, pessoal e espiritual), proporcionado<br />

um espaço de fala e escuta sensível, a descoberta da capacidade de transformação pessoal e<br />

social e uma opção de laser aos participantes. Este estudo nos permitiu conhecer e refletir acerca<br />

da prática da TC na zona rural, contribuindo para que essa tecnologia do cuidado seja ampliada,<br />

possibilitando um espaço de cuidado humanizado integral voltado para uma melhor qualidade<br />

de vida dos habitantes rurais.<br />

TEMAS LIVRES<br />

IMIGRAÇÃO E AUTO-ESTIMA:<br />

O PAPEL DA TERAPIA COMUNITÁRIA<br />

Psic. Blanca de Souza Viera Morales<br />

Doutora/UFRGS. Coolaboradora do CIBAI Centro Ítalo-Brasileiro de Auxilio<br />

ao Imigrante.<br />

O fenômeno da imigração é marcada pela existência de um acontecimento muitas<br />

vezes doloroso em que as raízes do imigrante são arrancadas com o deslocamento<br />

voluntário ou forçado para fora do país. As pessoas que emigram deixam,<br />

não somente uma terra, uma casa, uma língua, mas especialmente familiares,<br />

amigos, instituições e serviços que constituem a sua rede. Com isso um impacto<br />

acontece na sua subjetividade. Enquanto novas redes não são constituídas o imigrante<br />

pode ser vulnerável à exclusão, discriminação e dificuldades múltiplas. A<br />

Terapia Comunitária como um espaço onde são trabalhados sentimentos como<br />

os de temor e separação se constitui em um instrumento na construção de novas<br />

redes. O presente trabalho, ao relatar uma experiência com imigrantes na Igreja<br />

Pompéia, organizada pelo CIBAI discute o impacto da imigração na auto-estima<br />

do imigrante e o papel da Terapia Comunitária no seu resgate. Discutimos também<br />

esse impacto no contexto do Brasil, onde, como diz Bonassi (2000), as<br />

desigualdades se acentuam cada vez mas e o povo continua, na sua maioria, a ser<br />

excluído dos direitos básicos, por isso sustentamos com a autora que a acolhida<br />

ao estrangeiro, ao diferente, pode ajudar a derrubar barreiras internas, processo<br />

no qual a Terapia Comunitária tem muito a contribuir.<br />

Autores: Carlos Guarnieri e Maurício 1<br />

1 Redutores de Danos e Terapeutas Comunitários no município de POA.<br />

112


Titulo : Terapia Comunitária de Rua com a Aldeia Tabajara<br />

Palavras Chaves:<br />

Auto- organização, Protagonismo e Redução de Danos<br />

A humanidade sempre usou substâncias psicoativas das mais diversas com um grande leque de<br />

finalidades, indo do seu emprego lúdico, com fins estritamente prazerosos, até o desencadeamento<br />

de estados de êxtase místico/religioso.<br />

Essa política, apesar de adotar como justificativa a preservação da saúde pública, continua a<br />

dar importância secundária às reais atuações farmacológicas das substâncias, atendendo mais a<br />

critérios de ordem política e econômica, dando um caráter criminalizador.<br />

Essa criminalização desempenha inúmeras funções que variam no tempo e no espaço. Em resposta<br />

aos problemas surgidos, especialmente a epidemia de HIV entre usuários de drogas injetáveis,<br />

paises de todos os continentes começam a implementar estratégias de redução de danos em<br />

suas políticas de prevenção à infecção pelo HIV, entre os usuários de drogas injetáveis. Estas,<br />

além de se mostrarem mais eficazes na prevenção à aids e outras doenças transmissíveis por fluidos<br />

corporais, favorecem ao resgate da auto-estima e da cidadania de usuários de drogas ilícitas<br />

e induzem à criação de novas formas de conceber o uso de drogas e suas implicações para o individuo<br />

e a sociedade. Por isso é que entendemos que a Redução de Danos, em lugar da repressão<br />

pura e simples do ato de usar substâncias psicoativas, compõe um conjunto de estratégias mais<br />

eficazes para a inclusão social do usuário de drogas, e, principalmente, para a composição de<br />

uma proposta responsável de enfrentamento do “fenômeno drogas”, em sua extensão.<br />

Pretendemos mostrar a origem da Terapia Comunitária de Rua em porto Alegre com adolescentes<br />

e jovens adultos, em situação de rua / moradia. Destacar a capacidade de auto-organização,<br />

identificação e hierarquização dos próprios problemas, buscando com protagonismo a solução<br />

dos mesmos.<br />

113


TERAPIA COMUNITÁRIA COM FAMÍLIAS NO PROGRAMA DE PROTEÇÃO ES-<br />

PECIAL DE MÉDIA COMPLEXIDADE.<br />

Autora: Tania Passos Anastácio Ferroni<br />

Instituição: Centro Comunitário do Jardim Santa Lúcia<br />

O Jardim Santa Lúcia, bairro da periferia de Campinas-SP, conta com uma população que enfrenta<br />

no dia-a-dia, as desigualdades sociais. Dentro dessa realidade o Centro Comunitário tem<br />

procurado exercer a co-responsabilidade num duplo trabalho com crianças e adolescentes O<br />

diagnóstico da região apresenta um número considerável de violência doméstica contra crianças<br />

e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco. A família, enquanto ideal de espaço da<br />

sociabilidade primária, tem se transformado em cenário de dramas privados, a qual raramente é<br />

o núcleo de proteção. As crianças e os adolescentes são tratados, como objetos e não indivíduos,<br />

legitimando a violência no núcleo familiar. É nesse contexto que o Centro Comunitário procurou<br />

intervir, por acreditar que o investimento na família seja a melhor opção para proteger crianças<br />

e adolescentes em situação de violação de seus direitos. Por ser um fenômeno transgeracional,<br />

crianças que foram abusadas e agredidas muitas vezes tornam-se adultos agressores e/ou negligentes,<br />

é o vivido como repetição de padrões aprendidos, perpetuando-se assim num círculo<br />

vicioso. O Centro Comunitário investiu na Terapia Comunitária como instrumento de apoio ao<br />

restabelecimento de vínculos saudáveis dentro das famílias, oportunizando a reestruturação das<br />

redes de reciprocidade social, compartilhando soluções e mobilizando recursos individuais e da<br />

comunidade na resolução dos problemas e na construção solidária da cidadania, atuando dessa<br />

forma no combate a violência doméstica.<br />

114


A INCLUSÃO DA TERAPIA COMUNITÁRIA NA QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO<br />

NO CAPS-CENTRO DE NOVO HAMBURGO-RS<br />

Autor(es)<br />

Jacqueline Picoral Dal Molin, Prefeitura Municipal de Canoas-RS - Secretaria da Assistência<br />

Social e Cidadania Eduardo Lomando e Simone Bernd<br />

Resumo<br />

O trabalho a seguir tem como finalidade expor o funcionamento do Centro de Atenção Psicossocial<br />

CAPS-Centro na cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, e como a Terapia Comunitária<br />

está entrelaçada na dinâmica dos atendimentos aos Grupos Multifamiliares. O CAPS,<br />

criado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e instalado na cidade de Novo Hamburgo é um dos<br />

setores do governo responsável pelo cuidado à saúde mental desta área. O CAPS conta com<br />

diversos serviços que têm como objetivos cuidar da saúde mental de seus usuários, assim como<br />

dos familiares ou membros das redes envolvidos nos cuidados dos mesmos. Foi com este objetivo<br />

que pensamos em realizar grupos que não fossem somente focados no atendimento dos<br />

familiares, mas sim grupos onde usuários e familiares pudessem estar juntos para conversar sobre<br />

estes difíceis momentos que estão passando nas suas vidas. A partir disso, iniciados em 2006<br />

por uma Assistente Social, Residente em Saúde Mental, e depois continuados pelos Psicólogos<br />

do Centro, foram criados os Grupos Multifamiliares com enfoque na Terapia Comunitária. Atualmente<br />

disponibilizamos de 03 encontros semanais, em média de uma hora e meia de duração,<br />

onde utilizamos não só o entendimento teórico, mas também algumas técnicas propostas pela<br />

Terapia Comunitária. Temos obtido resultados muito satisfatórios, como melhor adesão ao tratamento,<br />

não só de usuários, mas também de seus familiares, espaço para a terapia familiar em<br />

grupo e melhor entrosamento e ampliação da rede de apoio dos usuários.<br />

115


TERAPIA COMUNITÁRIA E A VISÃO SISTÊMICA NO ATENDIMENTO AS FAMI-<br />

LIAS E PORTADORES DE DEFICIÊNCIA FISICA.<br />

Vivências Comunitárias – AACD/RS<br />

As. Social Glacy Lucaura<br />

Resumo:<br />

Este artigo, mostra o limite da pessoa portadora de alguma deficiência física, a perda de identidade,<br />

a baixo auto-estima e os vínculos de apego e desapego das famílias .<br />

O grupo busca entender o sentimento de isolamento do ser humano, frente as dificuldades enfrentadas<br />

no seu cotidiano em busca de melhor qualidade de vida. A vivência acontece semanalmente<br />

com duração de duas horas com as mães dos portadores de dificiência e eventualmente<br />

junto com os filhos.<br />

Quando o grupo de Vivências Comunitárias foi implantado, a sala de convivência apresentava<br />

dificuldades de relação inter-pessoal entre as famílias mostrada de forma velada.<br />

O nosso objetivo é criar condições para que as mães relatem suas dificuldades emocionais, ouvindo<br />

os relatos de vida e entendo os sentimentos de ansiedade e incertezas na fala de cada mãe.<br />

Nossos primeiros encontros de TC foram dificeis, pois observamos mudança no cotidiano da<br />

sala que causou expectativa e insegurança trazida nos relatos das mães e que também é um<br />

sentimento nosso.(ambivalência).<br />

A vivência de TC acontece nas possibilidades do espaço físico,entre aquecer as mamadeiras, as<br />

mães se alimentarem a troca de fraldas das crianças. È a metáfora do caracol feita pelas próprias<br />

mães.<br />

Nossa experiência nos permite avaliar até o momento a alegria que estas mães relatam na motivação<br />

de levar os seus filhos até a instituição e ter um espaço de vivências., onde a demanda<br />

surge nas questões do apego, despego, família e individuação.<br />

116


A evolução da terapia comunitária na ubs.<br />

Dr.Augusto l.a.Galvâo<br />

A terapia comunitária (TC) iniciou na região em 2004 com o primeiro curso de formação UNI-<br />

FESP/ Enfermagem. Em abril de 2006, a segunda turma em formação assumiu a TC. Esta é<br />

formada por duas ACD, 01 auxiliar de enfermagem, 01 agente comunitária, e um profissional<br />

de Saúde Mental. Realizamos até abril/07, 43 encontros, totalizando 503 pessoas. Vivenciamos<br />

várias dificuldades: o local e o horário para a realização dos encontros e pouca aceitação dos<br />

profissionais em indicarem a TC. Divulgamos por meio de cartazes e convite pessoal e ouvíamos<br />

frases de desvalorização de colegas. Uma outra dificuldade foi o trabalho em equipe. Percebemos<br />

que isto influenciava no nosso desempenho. Decidimos nos unir e buscar soluções para<br />

cada um dos obstáculos. À medida que os módulos de capacitação foram ocorrendo, íamos nos<br />

fortalecendo e construindo estratégias para re-implantação e continuidade do trabalho de TC.<br />

Isto fez com que finalmente no planejamento para 2007, conseguíssemos garantir local e horário<br />

semanal no horário de trabalho. Paramos de nos preocupar com a quantidade de participantes,<br />

priorizando a qualidade dos encontros. Aos poucos alguns colegas começaram a fazer a divulgação.<br />

A participação dos usuários e suas transformações foram sendo visíveis pela UBS que<br />

passou a respeitar e aderir mais o trabalho. Com este nosso esforço, insistência, coragem, fé e<br />

trabalho estamos aos poucos consolidando o grupo e montando nossa teia. Descobrimos como é<br />

difícil trabalhar em equipe e a necessidade de conhecer e respeitar as diferenças. Poder viver e<br />

pensar sobre isso foi importante para a busca de autonomia, mas também descobrimos a importância<br />

que a intervisão tem nesse trabalho, pois é onde podemos encontrar embasamento para o<br />

que estamos realizando enquanto terapeutas comunitários e oportunidade de sermos cuidados.<br />

117


Terapia Comunitária: um valor precioso nos caminhos da Humanização<br />

para o Hospital Geral de São Mateus de São Paulo<br />

Grunemberg,R.S; Ferreira, V.C.; Nascimento,M. S.; Ribeiro,R. G.;Macedo, H. J.<br />

Pólo de Formação em Terapia Comunitária Uakti Ara<br />

Os conceitos bem estar e de saúde incluem a maximização da qualidade de vida de qualquer<br />

indivíduo através do desenvolvimento do total potencial humano.A qualidade de vida no trabalho<br />

representa um conjunto de ações interligadas que abrange as melhorias e inovações<br />

gerenciais,tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho visando as condições plenas do<br />

desenvolvimento humano.A atividade assistencial se constitui, para os profissionais da saúde,<br />

em fonte de gratificação e estresse. São fatores gratificantes: diagnosticar e tratar corretamente<br />

; curar; prevenir; ensinar; aconselhar; educar; sentir-se competente; receber conhecimento. São<br />

fatores estressantes: o contato constante com a dor e sofrimento; lidar com as expectativas dos<br />

clientes e familiares; acolher clientes“difíceis”; lidar com as limitações do conhecimento científico<br />

e principalmente com a ausência de uma gestão eficiente de pessoas.Os profissionais de<br />

saúde, por se submeterem, em sua atividade, a tensões provenientes de várias fontes, precisam<br />

também receber cuidados; cuidar de quem cuida é condição sine qua non para o desenvolvimento<br />

de projetos e ações em prol da humanização da assistência.Além disto, o contato direto com<br />

os seres humanos coloca o profissional diante de sua própria vida, saúde ou doença, dos próprios<br />

conflitos e frustrações. A Terapia Comunitária foi introduzida no Hospital Geral de São Mateus<br />

através do Programa de Humanização em parceria com o Pólo de formação em Terapia Comunitária<br />

Uakti Ara com o intuito de buscar continua e permanente aprimorar a capacidade relacional<br />

de todos os envolvidos no atendimento, usuários, famílias, comunidade e trabalhadores. A escuta<br />

ativa, o acolhimento e a forma horizontal das relações humanas propostos na Terapia Comunitária<br />

incentivou o Hospital a investir na formação de 29 funcionários, acreditando que o êxito<br />

deste Projeto, como política de Recursos Humanos poderá, mediante parcerias,transformar-se<br />

em uma experiência exitosa no acolhimento de quem cuida.<br />

118


APLICABILIDADE DA TERAPIA COMUNITÁRIA COMO CUIDANDO DO CUIDA-<br />

DOR NA CAPACITAÇÃO EM SAÚDE MENTAL NA SECRETARIA DE<br />

SAÚDE DO DF<br />

Maria Henriqueta Camarotti henriquetac@uol.com.br<br />

Perlucy dos Santos perlucysantos@bol.com.br<br />

Karla Carvalho Rocha krla.rocha@hotmail.com<br />

Coordenação de Saúde Mental do DF/ Secretaria de Saúde do DF<br />

Introdução:Os autores apresentam a aplicabilidade da Terapia Comunitária como instrumento<br />

de cuidando do cuidador num trabalho de capacitação de saúde mental para os profissionais das<br />

ações básicas de saúde na Regional de São Sebastião em Brasilia<br />

Objetivo: 1)Capacitar os profissionais da rede básica de saúde no olhar da saúde mental 2)<br />

Instrumentalizar as equipes básicas de saúde para atuar na integração do atendimento à saúde<br />

mental nos diversos níveis de atenção; 3) Otimizar a promoção e prevenção da saúde mental;<br />

4) Promover a humanização e a resolutividade do atendimento; 5) Trabalhar com dinâmicas do<br />

cuidando do cuidador os profissionais envolvidos na capacitação, possibilitando assim maior<br />

saúde e qualidade emocional dos mesmos.<br />

Desenvolvimento: Foram realizadas 5 rodas de terapia comunitária num período de cinco semanas<br />

de forma quinzenal (108 horas de curso). Essas rodas foram realizadas intercaladas com as<br />

aulas teóricas do curso e com as discussões das tarefas supervisionadas.<br />

Resultados: Descrevemos alguns pontos que foram ressaltados nessa proposta 1) Muito boa adesão<br />

dos alunos nas atividades de terapia comunitária; 2) melhor engajamento no próprio curso<br />

da saúde mental; 3) compreensão dos dificuldades e resiliências pessoais como instrumento de<br />

acolhimento no trabalho realizado nos serviços de saúde; 4) sentimento de ser cuidado por parte<br />

da equipe organizadora do curso.<br />

MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA: FORTALECENDO O (CON)VIVER<br />

Marilene Marodin, Rejane Beatriz Grillo Martins, Lisiane Lindenmeyer Kalil, Deise Maria<br />

Ramos Cunha, Fabiana Galperim, Tania Marilda Cortinovi, Anna Rosa Fortis Faillace, Claudia<br />

Pereira e Stella Breitman. - marodin@terra.com.br<br />

Clínica de Psicoterapia e Instituto de Mediação – CLIP<br />

Trata-se de um projeto de Mediação Comunitária, elaborado com a intenção de participar da<br />

construção de “um mundo de paz e de convivências saudáveis”. Cria-se, assim, um mecanismo<br />

que favoreça a participação dos envolvidos no processo de resolução de seus conflitos, implicando-os<br />

em uma co-construção de soluções e estabelecimentos de uma situação pautada pela noção<br />

de cidadania de cada um dos participantes.<br />

119


Desta forma, propõe-se a prestação de capacitação e atendimentos às pessoas de uma comunidade<br />

que enfrentam disputas e que aceitem participar de um processo de Mediação. A Mediação de<br />

Conflitos é um novo paradigma de intervenção na atual cultura e tem o objetivo de transformar<br />

resoluções litigiosas em acordos de paz, buscando a construção de um mundo melhor. São apresentadas<br />

ações e intervenções, a partir do levantamento da realidade social da comunidade, de<br />

reuniões de sensibilização e mobilização, além da proposta de instalação do núcleo de Mediação<br />

Comunitária “Fortalecendo o (Con)viver”. A metodologia utilizada nesse projeto tem uma abordagem<br />

quantitativa e qualitativa descritiva. Os mediadores serão, em um primeiro momento,<br />

alunos do Curso de Mediação da CLIP, supervisionados por profissionais dessa mesma instituição<br />

e, posteriormente, será realizada a capacitação de facilitadores da própria comunidade.<br />

O público-alvo é a população de residentes em uma determinada comunidade de Porto Alegre,<br />

selecionada através de parcerias com outras instituições.<br />

MEDIAÇÃO DO SABER POPULAR EM RELAÇÃO Á AUTONOMIA<br />

DA COMUNIDADE NO CULTIVO DA SAÚDE<br />

RESUMO<br />

Ao longo da história dos povos, as ervas medicinais sempre foram utilizadas e manipuladas<br />

por pessoas de reconhecimento e prestígio na sociedade. A magia das plantas, historicamente<br />

ligada aos mitos, em diferentes culturas corroborou para a compreensão da natureza humana.<br />

A diversidade cultural presente na história do Brasil possibilitou no processo de constituição do<br />

povo brasileiro, que este saber, principalmente do negro e do índio, chegasse aos dias atuais.<br />

O conhecimento popular tomou vulto com o interesse e o intercâmbio entre as culturas brasileiras,<br />

africanas e européias que resultou numa etnodiversidade de plantas que passaram a ser<br />

usadas na medicina popular nas comunidades. No entanto, a disseminação desse conhecimento<br />

generalizado até o século XIX, foi se perdendo à medida que a indústria farmacêutica foi tomando<br />

conta. Hoje, especialmente nos movimentos de saúde popular mas também na academia,<br />

busca-se resgatar esse saber acumulado ao longo da história, em benefício da população.<br />

No Bairro Alvorada – Cuiabá/MT, viemos realizando, desde 1995, o estudo e uso das plantas<br />

medicinais na comunidade. Os dados coletados nesse processo nos mostram a importância da<br />

utilização correta de cada planta assim como o incentivo ao cultivo das mesmas nos quintais,<br />

visando a autonomia da comunidade nos cuidados com a própria saúde.<br />

120


A PRATICA DA TERAPIA COMUNITÁRIA NA UBS VILA RAMOS –<br />

ZONA NORTE DE SÃO PAULO.<br />

Andréia de Oliveira Silva, Cicera Velozo Kersch de Oliveira, ElizabethRodrigues, Celina Daspett,<br />

Ana Lucia Horta.<br />

A Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Ramo da Zona Norte de São Paulo – parceria com UNI-<br />

FESP – Departamento de Enfermagem<br />

A Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Ramos está situada numa região da Zona Norte de São<br />

Paulo muito habitada onde predomina a violência, o desemprego, desestimulo para mudança<br />

pessoal e da comunidade, pessoas com necessidades especiais e com distúrbios mentais e psiquiátricos.<br />

Observando estas necessidades, em 2004 percebemos que a terapia comunitária seria<br />

de grande valia como um instrumento de transformação para esta população. Inicia-se então os<br />

encontros de terapia comunitária na unidade de saúde Vila Ramos com o objetivo de atingir o<br />

maior número de pessoas possíveis que pudessem participar de sessões abertas para encontros de<br />

escuta, fala e trocas. A população já atingida de 2004 a 2007, em 118 terapias, foram 1082 participantes.<br />

Principais tema apresentados foram: conflitos familiares, ansiedade, tristeza, medo<br />

(solidão, perdas, desemprego), insegurança, saudade, problemas de saúde, angustia, falta de<br />

escuta, traição, alegria e satisfação. Principais motes apresentados: “Como fez ou vem fazendo<br />

para resolver seu conflitos familiares?” “ Quem já perdeu algo na vida e como fez para superar?<br />

“ “Quem já teve uma grande decepção na vida e como fez para superar? “ “ Quem já teve medo<br />

de algo e o que fez ou esta fazendo para resolver? “ “ Quem já se sentiu triste por não conseguir<br />

expressar sua real vontade e como fez para resolver? “ “ Quem já se sentiu alegre por ter<br />

superado dificuldades e como fez para conseguir? “ “ Quem já viveu uma situação difícil de<br />

saúde e como enfrentou? “. A terapia comunitária neste contexto se propõe a ser um instrumento<br />

de aquecimento e fortalecimento das relações humanas, na construção de redes solidárias e de<br />

apoio social.<br />

121


A CHEGADA DA TERAPIA COMUNITARIA NO BAIRRO JOSÉ AMÉRICO – JOÃO<br />

PESSOA/PB: RELATO DE EXPERIÊNCIA<br />

Autores: BRAGA, Lucineide Alves Vieira; MACEDO, Kalina Cicera, VIGARANI, Ana.<br />

Instituição: Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa/ Associação de Terapeutas Comunitários<br />

da Paraiba<br />

O Bairro do José Américo, esta localizado na região Oeste da cidade de João Pessoa, composto<br />

por 5 Equipes de Saúde da Família. A Terapia Comunitária começou acontecer no bairro em<br />

fevereiro de 2007. A formação de um grupo dos profissionais da estratégia Saúde da Família em<br />

TC se constitui hoje uma ação da política de saúde desenvolvida pela Prefeitura que tem como<br />

propósito criar uma opção de espaço de fala e escuta amorosa para que as pessoas possam cuidar<br />

da sua dor/sofrimento do cotidiano e ainda criar e fortalecer vínculos entre profissionais e comunidade,<br />

incluindo no processo de cuidar as diferentes formas de saber popular, saber cientifico<br />

e saber político. Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar as estratégias utilizadas<br />

para implantação da TC no bairro. O material empirico foi produzido a partir da experiência dos<br />

terapeutas e da utilização das informações contidas nas Fichas de Organização das Informações<br />

e Fichas de Apreciação da TC, realizadas no período de fevereiro a junho de 2007, que totaliza<br />

24 encontros. Inicialmente foram realizados encontros de TC como estratégia de sensibilização<br />

dos outros profissionais das cinco equipes PSF da localidade com o propósito de incluir e fortalecer<br />

a TC na porta de entrada do SUS no município. Assim, após os encontros foi utilizado o<br />

envio de cartas convites aos moradores distribuídos nas unidades e nas residências pelos Agentes<br />

Comunitários; foi realizado distribuição de cartões de participação nos encontros após a<br />

freqüência de 6 encontros com a finalidade de tornar os participantes parceiros desta construção.<br />

O Padre da Paróquia local se sensibilizou com a força da estratégia da TC e passou a convidar<br />

os participantes nas celebrações para participar e ainda cede o espaço para realização dos encontros.<br />

TC hoje é uma atividade que acontece no bairro todas as quartas-feiras à tarde. Todas<br />

essas estratégias foram utilizadas com o propósito de criar e fortalecer vínculos na comunidade<br />

em busca da formação de redes sociais de apoio, na tentativa de contribuir com a diminuição do<br />

sofrimento das pessoas aumentando o seu poder resiliente.<br />

122


A CHEGADA DA TERAPIA COMUNITARIA NO BAIRRO JOSÉ AMÉRICO – JOÃO<br />

PESSOA/PB: RELATO DE EXPERIÊNCIA<br />

Autores: BRAGA, Lucineide Alves Vieira; MACEDO, Kalina Cicera, VIGARANI, Ana.<br />

Instituição: Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa/ Associação de Terapeutas Comunitários<br />

da Paraiba<br />

O Bairro do José Américo, esta localizado na região Oeste da cidade de João Pessoa, composto<br />

por 5 Equipes de Saúde da Família. A Terapia Comunitária começou acontecer no bairro em<br />

fevereiro de 2007. A formação de um grupo dos profissionais da estratégia Saúde da Família em<br />

TC se constitui hoje uma ação da política de saúde desenvolvida pela Prefeitura que tem como<br />

propósito criar uma opção de espaço de fala e escuta amorosa para que as pessoas possam cuidar<br />

da sua dor/sofrimento do cotidiano e ainda criar e fortalecer vínculos entre profissionais e comunidade,<br />

incluindo no processo de cuidar as diferentes formas de saber popular, saber cientifico<br />

e saber político. Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar as estratégias utilizadas<br />

para implantação da TC no bairro. O material empirico foi produzido a partir da experiência dos<br />

terapeutas e da utilização das informações contidas nas Fichas de Organização das Informações<br />

e Fichas de Apreciação da TC, realizadas no período de fevereiro a junho de 2007, que totaliza<br />

24 encontros. Inicialmente foram realizados encontros de TC como estratégia de sensibilização<br />

dos outros profissionais das cinco equipes PSF da localidade com o propósito de incluir e fortalecer<br />

a TC na porta de entrada do SUS no município. Assim, após os encontros foi utilizado o<br />

envio de cartas convites aos moradores distribuídos nas unidades e nas residências pelos Agentes<br />

Comunitários; foi realizado distribuição de cartões de participação nos encontros após a<br />

freqüência de 6 encontros com a finalidade de tornar os participantes parceiros desta construção.<br />

O Padre da Paróquia local se sensibilizou com a força da estratégia da TC e passou a convidar<br />

os participantes nas celebrações para participar e ainda cede o espaço para realização dos encontros.<br />

TC hoje é uma atividade que acontece no bairro todas as quartas-feiras à tarde. Todas<br />

essas estratégias foram utilizadas com o propósito de criar e fortalecer vínculos na comunidade<br />

em busca da formação de redes sociais de apoio, na tentativa de contribuir com a diminuição do<br />

sofrimento das pessoas aumentando o seu poder resiliente.<br />

123


TERAPIA COMUNITÁRIA COMO PRÁXIS QUE POSSIBILITA<br />

AÇÕES COLETIVAS TRANSFORMADORAS<br />

Dóris Schuck, Juliana Valduga, Luciane Azevedo<br />

Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de<br />

Deficiência e Altas Habilidades do Rio Grande do Sul, FADERS<br />

Este artigo apresenta a Terapia Comunitária como instrumento que possibilitou reconhecer e<br />

dar identidade pessoal e profissional aos envolvidos no trabalho, resultando na construção coletiva<br />

comunitária, sob a luz de uma política pública inclusiva. Este projeto inicia como ação<br />

pedagógica de uma professora de escola especial da região metropolitana de Porto Alegre, que<br />

percebe que sua intervenção deve ir além do pedagógico, para responder à necessidade da população<br />

atendida. Para tanto, convoca outros atores, buscando construir ações que envolvam<br />

aquela comunidade escolar, trabalhando com as questões de saúde e educação de forma mais<br />

contextualizada e afetivamente construída, pelo viés da Terapia Comunitária. Na implantação do<br />

projeto, houve cuidado no preparo do terreno para que a semente ali plantada germinasse. Este<br />

cuidado resultou na construção de uma rede de sustentação e proteção do trabalho, garantindo a<br />

efetividade do projeto. Ações concretizadas na comunidade: Grupo de Terapia Comunitária com<br />

pais dos alunos da professora que viabilizou o projeto, sendo ampliado para outras turmas; apresentação<br />

dos alicerces teóricos da Terapia Comunitária aos professores; vivência da Terapia Comunitária<br />

com professores e funcionários da escola; institucionalização da Terapia Comunitária<br />

como proposta para cuidar dos professores e funcionários desta escola; articulação deste projeto<br />

junto à Secretaria de Educação e do Meio Ambiente do Município de Cachoeirinha-RS. Concluímos<br />

que a experiência da Terapia Comunitária vivenciada por três profissionais de distintas<br />

áreas que têm a interdisciplina como crença e forma de intervenção, deu voz, vida, qualificação,<br />

emoção e identidade aos seus projetos de trabalho, assim como os fundamentos norteadores das<br />

construções pessoais e profissionais muitas vezes questionados e desqualificados encontraram<br />

representatividade nesta teoria.<br />

124


INCLUSÃO SOCIAL DO GRUPO DA 3ª IDADE A PARTIR DA TERAPIA COMUNI-<br />

TÁRIA NA UBS VILA RAMOS – ZONA NORTE / SP<br />

Andréia de Oliveira Silva, Cicera Velozo Kersch de Oliveir, ElizabethRodrigues, Ana Lucia<br />

Horta, Celina Daspett<br />

UBS VILA RAMOS – DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM UNIFESP<br />

Observando o grau de exclusão da nossa região, e tendo como referência a<br />

desigualdade social, o racismo, falta de oportunidade, de lazer e o analfabetismo; o nosso objetivo<br />

enquanto trabalhadores do PSF é promover a integralidade. Buscamos estratégias que possibilitou<br />

a integração alem das atividades de grupo realizada por essa equipe. Nesta busca encontramos<br />

a terapia comunitária como uma das alternativas possíveis para promover o encontro da<br />

comunidade em espaço de escuta, fala e troca dos participantes onde com o tempo percebemos<br />

que os terapeutas mesmo estando ainda em formação também foram beneficiados nesta proposta<br />

de cuidado. Hoje a terapia comunitária é realizada na unidade de saúde Vila Ramos por: agente<br />

comunitário de saúde, auxiliar de enfermagem e enfermeiro semanalmente. A TC é realizada nos<br />

grupos de caminhada, lian gong, grupos de hipertensos, diabéticos, gestantes, obesos, no coral,<br />

em reunião de comunidade, nas creches, nas igrejas e residências. Essas pessoas eram convidadas<br />

para participarem de programas de educação em saúde; mas neste momento acreditamos<br />

ser mais produtivo cuidar das pessoas em relação a sua auto-estima e busca pela potencialidade<br />

e por isso propomos a TC neste espaço o que tem sido bem acolhido por todos. Vivenciamos vários<br />

momentos de efetividade na atividade da TC e continuaremos a proposta com esses grupos<br />

promovendo a inclusão como exercício da cidadania.<br />

125


“QUANTIDADE E QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO; UMA ARTE DE RECRIAR O<br />

PASSADO CONTANDO A HISTÓRIA DE VIDA”<br />

Vera Terezinha Maluly Pacheco<br />

CEAF - Centro de Estudos e Assistência à Família /<br />

vera.pacheco@terra.com.br<br />

Resumo:<br />

Qualquer investigação confirmará que a percepção popular sobre o início do processo do envelhecimento<br />

apontará, dentre outros, para diversos marcos biológicos, psíquicos ou sociais, tais<br />

como: a menopausa para as mulheres a andropausa para os homens, o momento do nascimento,<br />

a aposentadoria, quando o indivíduo não se sente mais capaz de amar, ou de se sentir útil, ou de<br />

criar, ou de participar da vida, ou quando o corpo já não atende adequadamente às exigências da<br />

mente. Assim como eu, outros interessados no estudo do envelhecimento vem se dedicando a demonstrar<br />

que esse processo não precisa ser tratado de forma pessimista. Dos problemas inerentes<br />

ao envelhecimento, tais como maior prevalência de doenças crônico-degenerativas e aquelas geradoras<br />

e incapacitantes, que repercutem em outros problemas sociais, políticos e econômicos,<br />

podem ser em sua maior parte, contornáveis, que levarão, a um envelhecimento bem sucedido<br />

para a maioria das pessoas. Ou seja, atualmente, as soluções que estão sendo encontradas apresentam<br />

as várias visões sobre o processo de envelhecimento, ou seja, biológica, psicológica e<br />

social. O velho não é uma pessoa que atrapalha as outras. Não é alguém que perdeu a dignidade<br />

e a cidadania. Velhice é apenas mais uma etapa do ciclo vital e assim como as outras, tem suas<br />

características e adequações. A Terapia Comunitária foi um marco significativo, pois contribuiu<br />

para a quebra de paradigmas do nosso mundo moderno.<br />

126


TERAPIA COMUNITÁRIA E PESQUISA QUALITATIVA<br />

Autor(es)<br />

Carla Moura Pereira Lima, Escola Nacional de Saúde Pública – Fiocruz<br />

Maria Beatriz Guimarães, Nacional de Saúde Pública – Fiocruz<br />

Resumo<br />

O presente trabalho objetiva discutir os primeiros resultados da Terapia Comunitária (TC) com<br />

Agentes Comunitários de Saúde (ACS) no âmbito da pesquisa Ouvidoria Coletiva das condições<br />

de vida e saúde na região da Leopoldina/RJ, realizada na Escola Nacional de Saúde Pública/<br />

Fiocruz. O trabalho possui como principais objetivos o acolhimento dos sofrimentos pessoais<br />

e profissionais dos ACS e a coleta de dados qualitativos acerca das suas condições de vida e de<br />

trabalho. Nesse contexto, o ACS se caracteriza como o trabalhador que possui maior conhecimento<br />

empírico da área onde atua, o que traz para si múltiplos sofrimentos. Os resultados<br />

apontam que morar na comunidade auxilia no diagnóstico dos problemas de saúde locais, mas as<br />

adversidades das condições de vida num contexto de extrema pobreza e violência, aliado às dificuldades<br />

enfrentadas nos serviços públicos de saúde, têm potencializado o sofrimento dos ACS.<br />

Os discursos expressam frustração e impotência diante dos problemas da população – carências<br />

alimentares, materiais e emocionais, que extrapolam o seu âmbito de atuação. Somam-se a isto<br />

os baixos salários e o excesso de trabalho. Eles carecem de apoio psicológico e de assistência<br />

social para enfrentar as situações-limite vivenciadas no exercício profissional. Observa-se que<br />

os ACS necessitam ser cuidados e de maior dignidade nas suas condições de trabalho. Além de<br />

contribuir para uma formação profissional que melhor se adeqüe à realidade enfrentada por esses<br />

profissionais, colocando os resultados em diálogo com formadores, já são observadas modificações<br />

na relação dos ACS com a população, segundo eles, melhorando sua escuta, estabelecendo<br />

novas redes de apoio e educação permanente baseada no diálogo, aumentando assim a auto-<br />

-estima e o protagonismo local dos ACS.<br />

127


TERAPIA COMUNITÁRIA: INTEGRANDO SABERES NO MUNICIPIO DE SANTO<br />

ANTÔNIO DE JESUS -BA.<br />

Márcia Reis Rocha Rosa - Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antonio de Jesus<br />

Silvia Barreto Brito Malta - Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antonio de Jesus<br />

Maria das Graças Farani Lopéz - Movimento Integrado de Saúde Comunitária (MISC - BA)<br />

merosa@mma.com.br<br />

No ano de 2005 houve grande ampliação da atenção básica no município de Santo Antônio de<br />

Jesus. Por um lado, os profissionais que passaram a integrar as equipes de saúde da família não<br />

estavam preparados para o trabalho comunitário. Ao se instalarem em comunidades com grandes<br />

demandas sociais passaram a apresentar grandes dificuldades articulação de saberes e na construção<br />

de vínculos com a população. Por outro lado, as pessoas esperavam encontrar, nas unidades<br />

implantadas próximo às suas residências, o antigo modelo de atenção à saúde, numa postura<br />

de dependência prejudicial à proposta de promoção da saúde. Buscando estratégias alternativas<br />

para enfrentar tais dificuldades, a Secretaria Municipal de Saúde, em articulação com o Ministério<br />

da Saúde e com o Movimento Integrado de Saúde Comunitária (MISC), conseguiu implantar<br />

a TC. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de implantação de uma pratica emergente<br />

em um município da Bahia no ano de 2006. Metodologia: Para proceder-se esse relato utilizaram-se<br />

os instrumentos de avaliação propostos pela própria TC e o memorial recordatório dos<br />

coordenadores envolvidos no processo de implantação. Resultados: Foram selecionadas 40 pessoas<br />

entre agentes comunitários de saúde, profissionais das USF e lideranças das comunidades.<br />

O curso de formação dos terapeutas inciou em março de 2006 e foram realizadas até fevereiro<br />

de 2007 297 sessões atingindo 5.940 pessoas/sessão de todas as faixas etárias. Discussão: No<br />

processo de implantação houve dificuldades e facilidades, mas TC já se configura como pratica<br />

exitosa. Ainda em fase de implantação muito ainda tem que se fazer para a continuidade do processo<br />

em construção na mudança do modelo de atenção à saúde.<br />

128


Rosana Conceição Alkmim de Souza<br />

OFICINAS<br />

OFICINA DE MÚSICA<br />

Universidade de Uberaba – Curso de extensão em Terapia Comunitária<br />

A história musical que descreve nossa história de vida abre caminho para o corpo relembrar,<br />

resgatar, repensar, resolver o que não ficou resolvido. As canções não só revelam como também<br />

restabelecem a alma humana - a espiritualidade – que representa o sentido da própria existência.<br />

Sou psicóloga da Rede Pública de Uberaba e uso a música como recurso terapêutico há mais de<br />

dez anos. Utilizei deste recurso em pacientes psiquiátricos, crianças e adolescentes em sofrimento<br />

emocional, e atualmente em equipes do Programa de Saúde da Família e funcionários do Canil<br />

Municipal. Sempre recorro à música, no trabalho com essas equipes, não só como aquecimento<br />

ou dinâmica, mas pela excelente ferramenta de resgate, conscientização, alívio, desbloqueio e de<br />

satisfação que ela promove. Quando iniciei o curso de Terapia Comunitária na Universidade de<br />

Uberaba, não imaginei que já havia uma forma de atenção e ajuda ao sofrimento que valorizasse<br />

a música e a utilizasse com tanta propriedade diferentemente da musicoterapia. A terapia comunitária<br />

veio de encontro a uma postura frente à vida e ao processo de ajuda em que eu acredito<br />

e utilizava com muito critério e entusiasmo. Somos mais de vinte profissionais da Secretaria<br />

de Saúde com mais de 30 grupos em atendimento. É muito gratificante aplicar um modelo de<br />

ajuda que vai de encontro com nossas convicções e filosofia de vida percebendo que muito se<br />

ganha com esta técnica. As pessoas estabelecem rede de apoio e não se sentem ameaçadas ou<br />

inquiridas, pois a abordagem na TC não estabelece hierarquia e nem poder. Todos podem ocupar<br />

espaços de ajuda e a música é elo e expressão para nossas angústias e fardos existenciais. Espero<br />

que a TC seja reconhecida como política pública pelo Ministério da Saúde. Desta maneira, em<br />

minha cidade, seremos um grupo pioneiro e as ações da Secretaria Municipal de Saúde ganharão<br />

maior qualidade e resolutividade, diminuindo filas de espera e elevando a expectativa de vida<br />

do cidadão uberabense.<br />

129


TERRITÓRIO DE VIVÊNCIAS COMUNITÁRIAS<br />

Autora: Vanda Aparecida Orenha<br />

I – Introdução<br />

A apresentação dessa experiência neste Congresso justifica-se em razão da necessidade de relatar<br />

esse trabalho, como assistente social de um Centro de Referência, órgão da Secretaria Municipal<br />

de Assistência Social, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, realizado ao longo de 03<br />

anos na comunidade do Morro Azul, localizada no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro.<br />

II – Objetivos<br />

Resgatar os vínculos comunitários que possam potencializar, reforçar e ampliar o patrimônio<br />

sócio-cultural desta comunidade, demonstrando que a favela é locus de produção de conhecimentos,<br />

de formação de lideranças, de construção de redes e vínculos afetivos que possam dar<br />

suporte às potencialidades de seus moradores, re-ativando todo processo de ações coletivas, dos<br />

chamados “mutirões” que sempre marcaram a urbanização da comunidade do Morro Azul.<br />

III – Desenvolvimento<br />

A concepção e prática metodológica dessa experiência está alicerçada numa abordagem da antropologia<br />

cultural, dentro da política de assistência social e numa visão transdisciplinar, construída<br />

de forma coletiva com todos os atores envolvidos tendo como ponto de partida, a compreensão<br />

da lógica da comunidade atendida.<br />

IV - Resultados<br />

Os resultados que ora apresentamos é fruto da avaliação da equipe do Centro de Referência do<br />

Morro Azul realizado no período de 2004/2007 e visa apresentar algumas referências de avanços<br />

e desafios postos hoje, na área do território deste Centro que se adequem as novas exigências<br />

de uma realidade social extremamente dinâmica, onde novas demandas e expressões da questão<br />

social.<br />

Dessa forma, a construção do referencial conceitual do Sistema Único de Assistência Social que<br />

passa a ser implantado a partir de novembro de 2004, quando é definida a Política Nacional,<br />

estabelece a forma de gestão desta política de forma organizada e descentralizada. Assim, essa<br />

organização concebe a gestão através de serviços assistenciais seguindo as 03 referências: vigilância<br />

social, proteção social e defesa social e institucional.<br />

130


O RESGATE DA CRIANÇA E AS ORDENS DO AMOR.<br />

Freitas, S. F.; Ortega, M. M.; Ruiz, J. E. L.; Souza, T. B.; Teixeira, M. E. L.; Zaniolo, L. O.<br />

CENPE : Centro de Pesquisas da Infância e da Adolescência “Dante Moreira Leite”– Unidade<br />

Auxiliar da Faculdade de Ciências e Letras - UNESP – Araraquara – Pólo Formador em Terapia<br />

Comunitária. Telefone: (16) 3301-6225 – FAX: (16) 3301-6228. Endereço: Rodovia Araraquara/<br />

Jaú – Km 1 – CEP – 14.800-901 – Araraquara – SP.<br />

Descrição de Atividade: Consideramos que o AMOR atua por trás de todo comportamento e sintoma<br />

das pessoas e é regido por quatro princípios básicos: 1º Pertinência, todo ser humano tem<br />

o direito de pertencer ao sistema que o colocou no mundo; 2º Inocência e Culpa, por um amor<br />

inocente aos pais, as crianças assumem para si culpas e responsabilidades deles com objetivo de<br />

manter o sistema unido; 3º Dar e Receber, os pais têm obrigação de dar e os filhos têm o direito<br />

de receber e tomar para si aquilo de que precisam para sobreviver; e 4º Tempo, este é o fator que<br />

estabelece ordem no sistema familiar. Esta Oficina visa oferecer aos participantes, o encontro<br />

com a sua criança interior, propondo um novo olhar para as necessidades não supridas. Por meio<br />

do questionamento reflexivo e das quatro ordens do amor os participantes terão oportunidade<br />

de ressignificar sua história construindo novos e conscientes decretos. Desenvolvimento 1o<br />

Momento. Sensibilização: Resgate da criança e identificação de necessidades não supridas; 2o<br />

Momento: Questionamento Reflexivo – registro por escrito; 3o Momento: Em pequenos grupos<br />

partilhar as várias descobertas do AMOR; 4a Momento: Ritual de Celebração de Nossa Criança<br />

– Confecção de um presente e elaboração de um Decreto por escrito - Devolutiva ressignificada<br />

pelo próprio participante das necessidades encontradas de sua criança; 5o Momento: Fechamento<br />

- Roda: Confraternização e O que eu quero levar daqui...<br />

Freitas, S. F.; Ortega, M. M.; Ruiz, J. E. L.; Souza, T. B.; Teixeira, M. E. L.; Zaniolo, L. O.;<br />

Materiais necessários: Sala ampla sem cadeiras, 25 colchonetes, aparelho de som - CD, 1 pacote<br />

de 50 balas, 50 bexigas coloridas, 50 pirulitos, 50 chicletes, 15 tesouras sem ponta, 100 folhas<br />

de sulfite, 5 estojos de canetas hidrocor.<br />

131


Título: “Técnicas Meditativas e de Auto-Cuidado: uma via de auto-conhecimento”<br />

Autora: Ana Cláudia Judice Alleotti<br />

Instituto Helion- Núcleo Mennefer- Florianópolis<br />

Resumo:<br />

Esta oficina teórico-prática pretende transmitir aos participantes um conjunto de técnicas meditativas<br />

e de auto-cuidado que auxiliam a pessoa a lidar com várias situações do cotidiano, tais<br />

como estresse, desânimo, depressão, dificuldades de relacionamento e também em seu processo<br />

de auto-conhecimento.<br />

Nosso referencial teórico, no que diz respeito às técnicas, é a Kabbalah, tradição sapiencial originalmente<br />

vinculada ao judaísmo, que possui um vasto campo de conhecimentos, tanto filosóficos<br />

quanto práticos. Trata-se de uma tradição genuinamente oral e seus saberes são transmitidos<br />

na relação mestre-discípulo.<br />

A Kabbalah Meditativa/ Prática faz uso da sabedoria da combinação de letras hebraicas para obter,<br />

através da concentração mental nas diversas combinações, efeitos específicos no praticante.<br />

Dessa forma, serão ensinadas técnicas oriundas desta tradição oral, para conseguir lidar com<br />

estados depressivos e ansiosos; fortalecer a auto-estima; viver em conexão com sua essência,<br />

estabelecer um nível de comunicação amoroso, integrar-se com a natureza, atingir estados de<br />

ampliação da consciência, entre outras.<br />

O objetivo desta oficina é oferecer ao participante uma técnica complementar que auxilie em seu<br />

processo de auto-conhecimento e também, capacitá-lo para que possa fazer uso destas técnicas e<br />

de seu potencial de transformação pessoal e social na condução da Terapia Comunitária.<br />

Durante a oficina será feita uma introdução teórica, que contextualizará a Kabbalah, enquanto<br />

tradição oral e os pressupostos que deram origem às técnicas. Após esta introdução, os participantes<br />

aprenderão as técnicas e poderão praticá-las em grupo, sob a supervisão da facilitadora.<br />

132


Yoga e Massagem Terapêutica<br />

O corpo: tão próximo e tão estranho!<br />

Coordenadora: Suely Corrêa de Oliveira<br />

Dr. José Carlos Leite<br />

Carlos Silveira<br />

Adriana Carmo<br />

Thereza Sales Escame<br />

Luzia<br />

Cuiabá, abril de 2007.<br />

1. PROPOSTA DE VIVENCIA EM MASSAGEM TERAPÊUTICA<br />

A proposta visa desenvolver um programa de cuidados com a saúde, tendo como base o que denominamos<br />

as “relações do corpo”.Relações do Corpo é um método terapêutico que vem sendo<br />

utilizado no Extremo Oriente há mais de cinco mil anos e está baseado no princípio de que todas<br />

as partes do corpo estão relacionadas entre si. Trata-se de técnicas simples e acessíveis à leigos<br />

e profissionais.Nosso corpo fala, como nos recorda Pierre Weil. Produz sinais, signos para os<br />

quais muitas vezes permanecemos surdos e cegos. Assim, há semioses (signos ou sinais, índices)<br />

em nosso corpo e elas “nos dizem coisas”, nos informam sobre nosso estado geral de saúde, ou<br />

de enfermidade para os quais, muitas vezes, não prestamos atenção, ou não sintonizamos nessas<br />

informações. Parece que deixamos de pertencer a um corpo, ou que nos esquecemos de que<br />

somos em um corpo.Não entraremos em pormenores a respeito do processo de esquecimento da<br />

corporeidade, fruto de uma educação secular, que é de origem grega (tendo sido Platão e Aristóteles<br />

seus principais formuladores), bem como medieval, quando imperavam as proposições<br />

cristãs que negavam o corpo e exaltava a alma. Mesmo com o advento da modernidade, que<br />

buscou valorizar os dois aspectos do humano (o corpo e alma), continuamos hoje a ser tratados<br />

com seres divididos – entre corpo e alma - e aquele continua ainda sendo esquecido, ou mesmo<br />

ignorado.Somente nos últimos anos (após a década de 80) é que assistimos um descobrimento<br />

do corpo. Tal descobrimento se deve à nova percepção da realidade que se instaura a partir da<br />

década citada onde os processos de integração passaram a predominar sobre aqueles que via o<br />

mundo – e nele os seres humanos – como estando divididos. Por isso hoje a conquista de um<br />

corpo saudável, que por sua vez, proporcionaria e ajudaria a construção de uma mente (ou alma<br />

para os que crêem) também saudável, passou a ser o objetivo de muitas pessoas.<br />

Parece tratar-se agora de uma ‘reconquista do corpo”que foi ao longo do tempo negado (mundo<br />

medieval), ou excessivamente castigado e disciplinado (modernidade) e apresenta-se, hoje,<br />

sinais de exaustão, sendo a LER (lesão pro esforço repetitivo) e o stress uma de suas manifestações<br />

mais visíveis. A proposta que apresentamos têm a Yoga e o Shiatsu como técnicas ou<br />

práticas que ajudam a “descobrir” ou “conquistar” o corpo. Tais técnicas ou práticas, longe de<br />

considerar o corpo como o cárcere ou a custódia da alma ou da mente, considera que ambos são<br />

ou estão integrados, e formam um todo, cujas partes se afetam mutuamente.<br />

133


Titulo: TECENDO REDES SOCIAIS DE SOLIDARIEDADE E<br />

FORMANDO MULTIPLICADORES<br />

Des-cobrindo Competências através da Resiliência<br />

Palavras Chaves:<br />

Resiliência- Redução de Danos –Vulnerabilidade Social<br />

Objetivos:<br />

Trazer o resultado de uma pesquisa com Redutores de Danos que trabalham com uma clientela<br />

em situação de rua no município de Porto Alegre/RS. Mostraremos como se deu a troca saberes,<br />

a minha contribuição com um saber pratico-científico e a deles um saber fazer uso de competências.<br />

Nos resultado mostramos que eles portavam problemas, mas também a solução. Foi uma<br />

pesquisa qualitativa que trás os participantes para a visibilidade, mobiliza as intenções para levá-<br />

-las ás ações. Os objetivos perseguidos pelos participantes da pesquisa, segundo os mesmos, têm<br />

a ver com a dimensão da perda de saúde e dignidade humana enfrentada pelos indivíduos objetos<br />

de sua atenção, relatam à dor de vivenciarem a sua própria exclusão, através do abandono sofrido<br />

por essas pessoas. O fenômeno que desejo dar maior destaque é o processo de promoção<br />

de resiliência que executam ao externalizarem suas histórias e, abraçando a causa de reduzir<br />

danos. No segundo momento, haverá uma prática com os participantes dessa oficina, coordenado<br />

pelo RD Carlos que abrirará um espaço para reflexão sobre prazeres, os prejuízos causados<br />

pelos mesmos, e as possibilidades de modificarem suas histórias de vidas re-autorizando-se a<br />

mudar de rota.<br />

Essa é uma oficina que vem sendo aplicada pelos redutores de danos a jovens e adulto em<br />

situação e exclusão social e também aplicado á jovens do projeto Agente Jovem no Balneário<br />

Pinhal em nosso estado em excelente resultado aos que participam.<br />

Autores: *Marli Olina de Souza, e** Carlos Guarnieri.<br />

*As. Social, Psicóloga e Terapeuta Familiar e Comunitária,<br />

Presidente do MISCRS - Movimento Integrado de Saúde Mental do RGS.<br />

**Redutor de Danos e Terapeuta Comunitário no município de POA, participante<br />

da pesquisa.<br />

134


TRABALHANDO COM NARRATIVAS<br />

INSTITUIÇÃO PROPONENTE - INTERFACI – Pólo Formador em Terapia Comunitária – SP<br />

RESPONSÁVEL – Marilene Grandesso<br />

11 3054 9540 / 11 8584 0466<br />

Rua Princesa Isabel, 414 – ap.9<br />

e-mail – mgrandesso@uol.com.br<br />

JUSTIFICATIVA DA PROPOSTA E DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE<br />

De acordo com a teoria narrativa, considerada a partir de um referencial sistêmico, vivemos nossas<br />

vidas através de histórias. As histórias não só organizam a experiência vivida, mas determinam<br />

a que eventos damos destaque em detrimento de tantos outros que deixamos passar. Como<br />

a experiência vivida é muito mais rica que quaisquer histórias que possamos construir sobre ela,<br />

entendo que na possibilidade de narrar as histórias, temos inúmeras fontes de transformação não<br />

só das possibilidades existenciais, mas da visão de si mesmo e das construções de futuro.<br />

Partindo do entendimento da Teoria Narrativa como um eixo teórico útil para a prática da Terapia<br />

Comunitária, esta oficina tem como objetivos:<br />

• Fundamentar a importância das idéias e práticas narrativas para a Terapia Comunitária<br />

• Desenvolver exercícios vivenciais de tal forma que os participantes possam experimentar<br />

possibilidades de uso das práticas narrativas, com ênfase especial nas técnicas de questionamento,<br />

conversações externalizadoras, conversações de re-autoria e uso de testemunhas externas<br />

na construção de protagonismo e de visão apreciativa sobre si mesmo (técnicas essas usuais em<br />

quaisquer trabalhos narrativos)<br />

• Refletir sobre a inclusão de práticas narrativas na Terapia Comunitária<br />

DESENVOLVIMENTO – A autora se propõe a expor e fundamentar brevemente as idéias narrativas<br />

como um eixo teórico para a TC e desenvolver atividades em pequenos grupos com vivência<br />

de exercícios sobre técnicas narrativas, deixando em evidência como essas idéias podem<br />

ser usadas na Terapia Comunitária.<br />

MATERIAL NECESSÁRIO – Data show para favorecer a economia de tempo para apresentação<br />

da fundamentação teórica, equipamento multimídia para apresentação de DVD e sala com<br />

cadeiras móveis (essencial).<br />

135


DO SENTIR AO RESIGNIFICAR<br />

INSTITUIÇÃO: MISMEC DF<br />

AUTORES: ANA MARIA GOMES SOARES (responsável)<br />

PERLUCY DOS SANTOS<br />

Identificação : Em sua necessidade com o medo o sem humano começou a criar bloqueios que<br />

limitam a sua consciência. A pulsação energética universal, que se extende a todos os seres vivos,<br />

contém, em sua forma primitiva, as funções que irão se desenvolver na evolução da vida. O<br />

germe da consciência está contido na equação em que a pulsação energética produz uma pulsação<br />

plasmática e, ao mesmo tempo, uma percepção. A energia pulsa, movendo o plasma vital e<br />

a vida se percebe ao se mover... Na evolução dos seres vivos a pulsação plasmática originou os<br />

movimentos: os externos que são efetuados pelos músculos estriados resultando em forma e movimentos<br />

corporais e os internos: efetuados pelos músculos lisos e pelo músculo cardíaco de sua<br />

ação resulta a circulação interna. A percepção propriamente dita, manifesta-se através dos cinco<br />

sentidos do equilíbrio postural e da percepção energética. A função mental é responsável pelo<br />

pensamento, raciocínio, memória, fantasias, etc. A auto-percepção inclui a percepção externa, as<br />

sensações corporais, os movimentos e os pensamentos e significados pessoais.<br />

.<br />

Objetivo: ampliar a consciência<br />

Material necessário: flip chart e pincéis coloridos<br />

Duração : 45m. (quarenta e cinco minutos)<br />

As sessões devem obedecer nas seguintes etapas:<br />

1. Exposição Teórica do Assunto;<br />

2. Movimentação, Aquecimento;<br />

3. Repetir as mesmas fases anteriores procurando identificar se houve avaliação, julgamento,<br />

distinguindo do que sente do pensa, do que interpreta o que eu desejo expressar. Etc.;<br />

4. Compartilhar suas vivências com pequeno grupo;<br />

5. Avaliação final, conclusões e depoimentos.<br />

ANA MARIA GOMES SOARES, MISMEC-DF.<br />

veetana@ hotmail.com.<br />

PERLUCY DOS SANTOS, MISMEC-DF.<br />

perlucysantos@bol.com.br<br />

136


Título da Atividade: PULSANDO COM A VIDA<br />

“Curando minha criança ferida”<br />

Organização/Instituição proponente: Terapeuta autônoma<br />

Responsável: DANIELE QUEIROZ RIBAS<br />

E-mail: danieleoly@yahoo.com.br<br />

Materiais necessários e ambiente: 1 aparelho de som portátil, colchonetes p/ 80 pessoas, sala<br />

grande fechada com cortinas.<br />

Descrição da atividade (Descrição, objetivos, desenvolvimento):<br />

PULSANDO COM A VIDA<br />

“Curando minha criança ferida”<br />

A evolução de nosso ser essencial parece ser uma grande missão. A harmonia e o equilíbrio do<br />

corpo, da mente e da alma são um apelo constante. Como seres imperfeitos que somos, buscamos<br />

de forma permanente a integridade das partes. Esse processo de desenvolvimento interior exige<br />

sensibilidade, percepção, domínio de energia. Requer também um elevado nível de consciência<br />

no caminho do domínio espiritual. Ser quem somos é uma proposição aparentemente simples,<br />

mas que impõe uma evolução contínua. Só assim, o nosso ser essencial pode ser projetado para o<br />

mundo exterior acrescentando algo maior à humanidade. O afloramento dos valores, a realização<br />

do potencial interior em seu sentido mais amplo, a conciliação da espontaneidade infantil e a<br />

racionalidade expressa através dos gestos como manifestação da vida. Esse é o movimento da<br />

alma. Grandioso, Soberano e Essencial. Este é o “Pulsando com a Vida”, Oficina proposta por<br />

Daniele Ribasey neste IV Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária. Nos traduz os conceitos<br />

e as técnicas do Curso/Treinamento “Cuidando do Cuidador . As vivências são momentos mágicos<br />

de profunda liberação interior. A criatividade explorada, a percepção do ritmo e do repouso,<br />

a catarse pelo gestual, a música e o ambiente resgatam potenciais dos esconderijos da alma. O<br />

paraíso fica mais próximo nos momentos de relaxamento e concentração.. Através de minha<br />

sensibilidade criei uma síntese de exercícios já conhecidos e os adaptei às técnicas do “cuidando<br />

do cuidador” e agora ofereço generosamente a todos. Se a vida é equilíbrio em movimento,<br />

“Pulsando com a Vida” possibilita um profundo mergulho interior capaz de fazer a alma brilhar.<br />

Esta Oficina tem como objetivo principal, proporcionar o Resgate da Auto-estima da pessoa,<br />

fortalecendo assim a sua Integridade Pessoal, se auto valorizando, acreditando no seu potencial<br />

e a partir daí, CURANDO SUA CRIANÇA FERIDA.<br />

É uma Oficina/Vivência que se desenvolve em 5 etapas: O Mergulho em si mesmo, Descobrindo<br />

quem SOU EU, Reconhecendo minhas imperfeições, Aceitando minha criança ferida e<br />

Assumindo meu SER INTEGRAL.As técnicas utilizadas são: Pulsation (técnica do “Cuidando<br />

do cuidador”) e uma síntese de treinamentos taoístas, relaxamento e respiração.<br />

137


RESUMOS VIDEOS<br />

Vídeo Documentário “Orai Roxa! Viva São Gonçalo!”<br />

Numa perspectiva de resgate e valorização da cultura nacional, Orai Roxa! Viva São Gonçalo!<br />

apresenta uma manifestação cultural muito presente na região nordeste a Roda de São Gonçalo<br />

em cumprimento a uma promessa. Retrata a importância dos ritos religiosos para populações<br />

menos favorecidas e como esses podem se transformar em instrumentos capazes de elevar a<br />

auto-estima e estimular a criação de redes de solidariedade.<br />

Duração : 28 minutos<br />

Direção:<br />

Anna Paula Uchôa (jornalista, servidora da Senad/GSI/PR)<br />

Maria Luíza Rabello (jornalista)<br />

Produção:<br />

Doralice Oliveira (psicóloga, servidora da Senad/GSI/PR)<br />

TERAPIA COMUNITÁRIA – ENCONTRO GRAVADO PELA TV ASSEMBLÉIA<br />

Autores: Maria da Salete Leite Vianna e Equipe do CEAF<br />

Instituição: CEAF – Centro de Estudos e Assistência à Família –São Paulo– Pólo Formador<br />

em Terapia Comunitária<br />

silviafix@uol.com.br<br />

Fomos procurados no CEAF por uma jornalista, para a realização de uma gravação de um encontro<br />

de Terapia Comunitária. Foi feita uma proposta de que ela comparecesse inicialmente a<br />

um encontro de Terapia Comunitária para um primeiro contato. Na semana seguinte ela participou<br />

ativamente do encontro, dando inclusive depoimentos pessoais. Na outra semana veio uma<br />

equipe de gravação da TV Cultura composta por dois técnicos e um repórter. Após um pedido de<br />

autorização aos participantes da roda de Terapia Comunitária, a gravação foi realizada. A equipe<br />

de gravação entrou em contato com o Prof. Adalberto Barreto, fundador da Terapia Comunitária,<br />

e colheu um depoimento dele, que foi anexado ao vídeo. A equipe fez gravação de outro encontro<br />

no CEAF, para completar o registro, entrando em contato com alguns participantes e pedindo<br />

autorização para gravar em algumas residências, colhendo vários depoimentos. O vídeo tem sido<br />

apresentado inúmeras vezes na TV Assembléia em São Paulo. Ele tem a duração de 30 minutos,<br />

mas foi reduzido para 10 minutos para ser apresentado no Congresso de Terapia Comunitária.<br />

Muitas pessoas que tem assistido a esse vídeo pela televisão nos tem telefonado e comparecido<br />

aos encontros de Terapia Comunitária nas quintas-feiras, às 17h00.<br />

138


TERAPIA COMUNITÁRIA. UM PONTO DE VISTA<br />

Autor(es) Lia Freitas Garcia Fukui, TCendo.sp<br />

Liliana Beccaro Marchetti, TCendo.sp<br />

Resumo<br />

Este vídeo tem por objetivo mostrar a singularidade da terapia comunitária no conjunto dos trabalhos<br />

com grupos. A terapia comunitária vem se mostrando uma possibilidade de atendimento<br />

básico à população em grandes grupos na comunidade. O aspecto público deste trabalho é primordial.<br />

Através de uma seqüência específica, um “script” característico da terapia comunitária,<br />

oferece a oportunidade de resolução de problemas, formação de redes de apoio com solidariedade<br />

e desenvolvimento da auto-estima. Para isto o TCendo.sp - Nemge – USP elaborou este vídeo<br />

com o intuito de mostrar para as pessoas terem uma idéia concisa e completa desta abordagem.<br />

O TCendo.sp - Nemge – USP é um Pólo Fomentador de Terapia Comunitária na cidade de São<br />

Paulo cuja missão é desenvolver, difundir e fortalecer a terapia comunitária. Palavras Chave: terapia<br />

comunitária, prática de terapia comunitária, propostas em terapia comunitária, divulgação,<br />

roteiro, script, depoimentos.<br />

O curta “Fala, Maria!”<br />

É fruto de uma parceria entre as Facudades Integradas Teresa D’Ávila, de Lorena-SP, onde leciono<br />

a cadeira de Psicologia para o curso de Comunicação Social, e a Prefeitura Municipal de<br />

Barra do Piraí-RJ. Ele insere-se dentro das propostas de um grupo de pesquisas coordenado por<br />

mim, cuja temática é: “Comunicação, Cultura Popular, Identidades e Subjetividades”.<br />

Anna Patrícia Chagas<br />

patchagas@uol.com.br<br />

O curta-metragem trata da identidade de mulheres de origem popular, suas histórias, suas vidas,<br />

suas casas, suas crenças, como elas se vêem, como falam de si, do amor...Elas foram filmadas em<br />

suas casas, no caminho de casa, no projeto da prefeitura, em uma festa popular, nas suas vidas<br />

cotidianas na comunidade. É um novo olhar oferecido sobre a vida e o espaço de origem popular,<br />

que se afasta da lógica da mídia e dos meios de comunicação, que em geral oferecem um olhar<br />

estigmatizante, preconceituoso, sobre estas populações e sobre seus espaços de moradia.<br />

São mulheres moradoras de um distrito rural, chamado “Vargem Alegre”, na cidade de Barra do<br />

Piraí, interior do Rio de Janeiro (ao lado de Volta Redonda). Chegamos até estas mulheres através<br />

de um projeto social da prefeitura de Barra do Piraí, no qual, inclusive, iseriram-se algumas<br />

sessões de Terapia Comunitária. Partes delas estão inseridas no Curta. O tema central, portanto,<br />

é a identidade destas mulheres, e o Curta destina-se, depois, a ser também projetado para elas,<br />

para uma discussão mais ampla, sobre como elas se vêem retratadas.<br />

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TERAPIA COMUNITÁRIA. UM PONTO DE VISTA<br />

Autor(es) Lia Freitas Garcia Fukui, TCendo.sp<br />

Liliana Beccaro Marchetti, TCendo.sp<br />

Resumo<br />

Este vídeo tem por objetivo mostrar a singularidade da terapia comunitária no conjunto dos trabalhos<br />

com grupos. A terapia comunitária vem se mostrando uma possibilidade de atendimento<br />

básico à população em grandes grupos na comunidade. O aspecto público deste trabalho é primordial.<br />

Através de uma seqüência específica, um “script” característico da terapia comunitária,<br />

oferece a oportunidade de resolução de problemas, formação de redes de apoio com solidariedade<br />

e desenvolvimento da auto-estima. Para isto o TCendo.sp - Nemge – USP elaborou este vídeo<br />

com o intuito de mostrar para as pessoas terem uma idéia concisa e completa desta abordagem.<br />

O TCendo.sp - Nemge – USP é um Pólo Fomentador de Terapia Comunitária na cidade de São<br />

Paulo cuja missão é desenvolver, difundir e fortalecer a terapia comunitária. Palavras Chave: terapia<br />

comunitária, prática de terapia comunitária, propostas em terapia comunitária, divulgação,<br />

roteiro, script, depoimentos.<br />

O curta “Fala, Maria!”<br />

É fruto de uma parceria entre as Facudades Integradas Teresa D’Ávila, de Lorena-SP, onde leciono<br />

a cadeira de Psicologia para o curso de Comunicação Social, e a Prefeitura Municipal de<br />

Barra do Piraí-RJ. Ele insere-se dentro das propostas de um grupo de pesquisas coordenado por<br />

mim, cuja temática é: “Comunicação, Cultura Popular, Identidades e Subjetividades”.<br />

Anna Patrícia Chagas<br />

patchagas@uol.com.br<br />

O curta-metragem trata da identidade de mulheres de origem popular, suas histórias, suas vidas,<br />

suas casas, suas crenças, como elas se vêem, como falam de si, do amor...Elas foram filmadas em<br />

suas casas, no caminho de casa, no projeto da prefeitura, em uma festa popular, nas suas vidas<br />

cotidianas na comunidade. É um novo olhar oferecido sobre a vida e o espaço de origem popular,<br />

que se afasta da lógica da mídia e dos meios de comunicação, que em geral oferecem um olhar<br />

estigmatizante, preconceituoso, sobre estas populações e sobre seus espaços de moradia.<br />

São mulheres moradoras de um distrito rural, chamado “Vargem Alegre”, na cidade de Barra do<br />

Piraí, interior do Rio de Janeiro (ao lado de Volta Redonda). Chegamos até estas mulheres através<br />

de um projeto social da prefeitura de Barra do Piraí, no qual, inclusive, iseriram-se algumas<br />

sessões de Terapia Comunitária. Partes delas estão inseridas no Curta. O tema central, portanto,<br />

é a identidade destas mulheres, e o Curta destina-se, depois, a ser também projetado para elas,<br />

para uma discussão mais ampla, sobre como elas se vêem retratadas.<br />

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TERAPIA COMUNITÁRIA. UM PONTO DE VISTA<br />

Autor(es) Lia Freitas Garcia Fukui, TCendo.sp<br />

Liliana Beccaro Marchetti, TCendo.sp<br />

Resumo<br />

Este vídeo tem por objetivo mostrar a singularidade da terapia comunitária no conjunto dos trabalhos<br />

com grupos. A terapia comunitária vem se mostrando uma possibilidade de atendimento<br />

básico à população em grandes grupos na comunidade. O aspecto público deste trabalho é primordial.<br />

Através de uma seqüência específica, um “script” característico da terapia comunitária,<br />

oferece a oportunidade de resolução de problemas, formação de redes de apoio com solidariedade<br />

e desenvolvimento da auto-estima. Para isto o TCendo.sp - Nemge – USP elaborou este vídeo<br />

com o intuito de mostrar para as pessoas terem uma idéia concisa e completa desta abordagem.<br />

O TCendo.sp - Nemge – USP é um Pólo Fomentador de Terapia Comunitária na cidade de São<br />

Paulo cuja missão é desenvolver, difundir e fortalecer a terapia comunitária. Palavras Chave: terapia<br />

comunitária, prática de terapia comunitária, propostas em terapia comunitária, divulgação,<br />

roteiro, script, depoimentos.<br />

O curta “Fala, Maria!”<br />

É fruto de uma parceria entre as Facudades Integradas Teresa D’Ávila, de Lorena-SP, onde leciono<br />

a cadeira de Psicologia para o curso de Comunicação Social, e a Prefeitura Municipal de<br />

Barra do Piraí-RJ. Ele insere-se dentro das propostas de um grupo de pesquisas coordenado por<br />

mim, cuja temática é: “Comunicação, Cultura Popular, Identidades e Subjetividades”.<br />

Anna Patrícia Chagas<br />

patchagas@uol.com.br<br />

O curta-metragem trata da identidade de mulheres de origem popular, suas histórias, suas vidas,<br />

suas casas, suas crenças, como elas se vêem, como falam de si, do amor...Elas foram filmadas em<br />

suas casas, no caminho de casa, no projeto da prefeitura, em uma festa popular, nas suas vidas<br />

cotidianas na comunidade. É um novo olhar oferecido sobre a vida e o espaço de origem popular,<br />

que se afasta da lógica da mídia e dos meios de comunicação, que em geral oferecem um olhar<br />

estigmatizante, preconceituoso, sobre estas populações e sobre seus espaços de moradia.<br />

São mulheres moradoras de um distrito rural, chamado “Vargem Alegre”, na cidade de Barra do<br />

Piraí, interior do Rio de Janeiro (ao lado de Volta Redonda). Chegamos até estas mulheres através<br />

de um projeto social da prefeitura de Barra do Piraí, no qual, inclusive, iseriram-se algumas<br />

sessões de Terapia Comunitária. Partes delas estão inseridas no Curta. O tema central, portanto,<br />

é a identidade destas mulheres, e o Curta destina-se, depois, a ser também projetado para elas,<br />

para uma discussão mais ampla, sobre como elas se vêem retratadas.<br />

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CRIANDO GRUPOS COLABORATIVOS NA COMUNIDADE: UMA EXPERIENCIA<br />

DO INSTITUTO DA FAMILIA E DA REDE DE ECOLOGISTAS DE PORTO ALEGRE<br />

Dr. Ovídio Waldemar<br />

O Instituto da Família, atendendo à necessidade de um grupo de ecologistas de Porto Alegre de<br />

se reunir de uma forma mais organizada, ofereceu 7 sessões de ensino e vivência do método<br />

Council. Esta técnica é bem conhecida nos USA como método de se conseguir consenso e foi<br />

adaptada no caso para oferecer uma nova vivência de participação e liderança grupais. Seu objetivo<br />

é ser eficiente e ao mesmo tempo criar laços positivos entre os participantes do grupo (em<br />

média de cinco a vinte pessoas). Sendo uma nova experiência é importante seguir as regras para<br />

que o aprendizado aconteça. Orientações para o grupo:<br />

1. fala só quem tem o bastão, que fica colocado no centro do círculo. O processo de decisão<br />

procura o consenso e evitam-se as votações, mesmo que isso leve mais tempo.<br />

2. ser conciso, possibilitando a todos participar mais de uma vez .<br />

3. escutar profundamente, procurando abrir mão das idéias preconcebidas. Escutar profundamente<br />

significa evitar conversas colaterais ou ficar pensando no que se vai falar a seguir.<br />

4. falar a favor e não contra, procurando ser espontâneo. Ao invés de falar sobre o que<br />

está errado e quem tem quem consertar, buscar mudar a perspectiva para “o que é possível e<br />

quem se importa, quem se interessa pela mudança”.<br />

5. falar dos sentimentos, uma opinião é uma idéia sem a estória e a experiência por detrás<br />

dela.<br />

6. Evitar mencionar quem não está presente, se alguém for mencionado não deveria se<br />

ofender se estivesse escutando.<br />

O coordenador do grupo e um dos participantes apresentarão o trabalho que vem ilustrado com<br />

a avaliação em vídeo dos resultados dos encontros.<br />

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