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Já na primeira sessão, falou da perda do irmão assassinado em Dezembro de 2005, sem que a<br />

família tomasse conhecimento dos motivos e da autoria. Após a perda do irmão de forma trágica,<br />

sua mãe “ficou muito desgostosa e deixou de se cuidar” (sic), sendo que já apresentava<br />

problemas de hipertensão e dependência química a bebidas alcoólicas. Sua mãe veio a falecer<br />

em dezembro de 2006 após queda com traumatismo craniano. A paciente encontrava-se sozinha<br />

na sala de espera do hospital quando lhe deram a notícia da morte da mãe e achou muito ruim a<br />

sensação de se sentir só num momento como este. Passou então a “preparar” seus outros familiares<br />

para a morte dela, Adriana, o que segundo seu pressentimento deveria ocorrer em dezembro<br />

de 2007, mês em que completaria a terceira década de vida e, tal como a mãe e irmão, faleceria.<br />

Paciente revelou que se sentiu culpada pela morte da mãe, pois tentou ajudá-la cuidando de seus<br />

problemas de saúde, mas desistiu já que esta não lhe dava atenção, afirmando que desejava morrer.<br />

No dia da morte da mãe, a paciente deu andamento a uma festa de batizado de sua filha que<br />

já estava programada. Ouvindo censuras de seu marido por isto.<br />

Após estes fatos, paciente passou a apresentar sintomas psicossomáticos. Sentiu-se sobrecarregada,<br />

pois o marido estava desempregado e era ela quem trabalhava e cuidava de tudo e de todos<br />

com o salário de empregada doméstica. Falava que sua patroa era muito compreensiva com suas<br />

crises, mas não aceitava as faltas ao trabalho, orientado-a a pedir afastamento. Em uma de suas<br />

crises de fim-de-semana buscou atendimento na emergência psiquiátrica, onde lhe foi prescrito,<br />

segundo ela, que aumentasse a dose de fluoxetina.<br />

Freqüentou a TC durante todo o ano de 2008, apresentando lentas melhoras desde seu início.<br />

Seu retorno após os feriados de fim de ano de 2007 emocionou a todos no grupo. Durante os encontros<br />

foi refletindo sobre sua vida de “resolvedora de tudo” (sic) na família e tomou a decisão<br />

de se cuidar. Aliou a terapia medicamentosa e TC às caminhadas e meditações ao mesmo tempo<br />

em que foi percebendo o quanto era útil ao grupo, orientando e protegendo os mais velhos.<br />

Descobriu que estava repetindo na UBS a dinâmica de “resolvedora” dos problemas dos outros<br />

e tomou novamente a decisão de priorizar suas necessidades. A cada encontro de TC utilizava<br />

sua trajetória de vida para dar em depoimento aos outros participantes. Diminuíram seus sintomas.<br />

O marido percebeu suas mudanças e neste momento iniciam-se as brigas entre o casal. Ela<br />

mudou o rumo de suas narrações para o tema do relacionamento amoroso. Propôs ao marido<br />

separarem-se, mas este ameaçou matar-se, caso ela o deixasse. O casal separou-se por três meses<br />

retomando a convivência marital de forma harmoniosa. Os sintomas, já quase inexistentes no<br />

final de 2008, lhe permitiram voltar a estudar e deixar a função de empregada doméstica para<br />

iniciar a carreira em telemark.<br />

A partir destes exemplos, ressaltamos o quanto a implantação do projeto de Matriciamento em<br />

Saúde mental no Ipiranga reverteu a lógica do re-encaminhamento ao especialista como estratégia<br />

prioritária e a equipe da UBS pôde responsabilizar-se pelos pacientes de seu território,<br />

seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde. Na UBS jardim Seckler a união<br />

do apoio matricial à Terapia Comunitária favoreceu o aumento do atendimento da demanda que<br />

anteriormente mantinha-se reprimida. Como resultado, os pacientes vincularam-se à Unidade,<br />

aderiram à medicação quando esta se fez necessário, questionando-a também em outros momentos<br />

e buscaram novos projetos de ação em seu cotidiano. Esta experiência confirmou a idéia<br />

de que a terapia comunitária não é apenas preventiva, mas também uma efetiva abordagem de<br />

tratamento, que aliada a outras técnicas desenvolve o empoderamento, ao permitir a condução<br />

autônoma deste tratamento por parte do paciente.<br />

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