11.01.2015 Views

No Rastro da Maniçoba - Fundação Museu do Homem Americano

No Rastro da Maniçoba - Fundação Museu do Homem Americano

No Rastro da Maniçoba - Fundação Museu do Homem Americano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A Pesquisa Histórica<br />

A pesquisa contextualizou <strong>da</strong><strong>do</strong>s históricos e<br />

arqueológicos. Inicialmente foi realiza<strong>da</strong> uma pesquisa<br />

nos Cartórios <strong>do</strong> 1º e 2º ofícios e no Arquivo <strong>da</strong> Diocese<br />

<strong>do</strong> município de São Raimun<strong>do</strong> <strong>No</strong>nato. Os <strong>do</strong>cumentos,<br />

permitiram identificar Modesto Vaz <strong>da</strong> Costa, como um<br />

importante proprietário de terras na região sudeste <strong>do</strong><br />

Piauí, no decorrer <strong>do</strong> século XIX. <strong>No</strong> inventário, com<br />

registro de 21 de agosto de 1881, entre os bens deixa<strong>do</strong>s<br />

por Modesto Vaz <strong>da</strong> Costa, estão as terras <strong>do</strong> sítio<br />

Boqueirãozinho, onde hoje está localiza<strong>da</strong> a Fazen<strong>da</strong><br />

Jurubeba, no valor de 1.000.000 réis. <strong>No</strong> registro de<br />

batismo de filhos de escravos <strong>da</strong> Diocese de São<br />

Raimun<strong>do</strong> <strong>No</strong>nato de 1878, o mesmo aparece como<br />

proprietário de escravos.<br />

Em entrevistas com antigos mora<strong>do</strong>res, foram obti<strong>da</strong>s<br />

informações sobre a segun<strong>da</strong> família proprietária <strong>da</strong> área,<br />

que a ocupou durante mais de 50 anos. A pesquisa<br />

conduziu à família Coelho, na pessoa <strong>do</strong> seu patriarca<br />

Manoel Coelho, avô de Nival<strong>do</strong> Coelho, um <strong>do</strong>s<br />

primeiros guias <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Homem</strong> <strong>Americano</strong>.<br />

<strong>No</strong> final <strong>do</strong> século XIX, o sudeste <strong>do</strong> Piauí viveu o apogeu<br />

<strong>da</strong> extração e cultivo <strong>da</strong> maniçoba. A maniçoba, além de<br />

nativa, foi também planta<strong>da</strong> em algumas proprie<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> região, destacan<strong>do</strong>-se as fazen<strong>da</strong>s Serra e Jurubeba,<br />

localiza<strong>da</strong>s ao sul <strong>da</strong> área que hoje forma o Parque<br />

Nacional Serra <strong>da</strong> Capivara. A produção <strong>da</strong> região era<br />

transporta<strong>da</strong> para a Bahia e, de lá, exporta<strong>da</strong> para<br />

Inglaterra e França, até 1913, e para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

nos anos 1940. A maior concentração de árvores<br />

encontrava-se em terras devolutas, que hoje estão<br />

dentro e no entorno <strong>do</strong> Parque Nacional Serra <strong>da</strong><br />

Capivara (Oliveira, 2001).<br />

As árvores de maniçoba (Fig.2) produziam um tipo de<br />

borracha, bastante conheci<strong>do</strong> comercialmente, cuja<br />

importância ficava atrás, apenas, <strong>da</strong> produção <strong>da</strong>s<br />

seringueiras na região norte <strong>do</strong> país. Sua produção,<br />

estava vincula<strong>da</strong> ao desenvolvimento <strong>da</strong> indústria<br />

automobilística, no exterior.<br />

Na região sudeste <strong>do</strong> Piauí, a maior concentração de<br />

árvores ficava em terras devolutas <strong>do</strong>s municípios de<br />

São Raimun<strong>do</strong> <strong>No</strong>nato, São João <strong>do</strong> Piauí, Caracol e<br />

Canto <strong>do</strong> Buriti.<br />

A árvore <strong>da</strong> maniçoba pertence ao gênero botânico<br />

Manihot, <strong>da</strong> família <strong>da</strong>s Euforbiáceas. São árvores<br />

resistentes à seca, que guar<strong>da</strong>m reservas nas raízes e<br />

nos caules. Na vegetação <strong>do</strong> Parque e áreas adjacentes,<br />

especialmente em áreas de chapa<strong>da</strong>, são encontra<strong>da</strong>s<br />

seis espécies de maniçoba: Manihot caerulescens<br />

ssp., Manihot catingae, Manihot glaziovii, Manihot<br />

heptaphylla, Manihot spp. e Manihot dichotoma. (Plano<br />

de Manejo <strong>do</strong> Parna, 1991)<br />

Na maniçoba planta<strong>da</strong> na Fazen<strong>da</strong> Jurubeba, utilizavase<br />

o sistema de barracão. O produto era compra<strong>do</strong> por<br />

preço inferior ao <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. O extrativismo <strong>da</strong><br />

maniçoba, trouxe a São Raimun<strong>do</strong> <strong>No</strong>nato trabalha<strong>do</strong>res<br />

rurais de alguns esta<strong>do</strong>s nordestinos, em especial <strong>da</strong><br />

Bahia, Alagoas, Ceará e Pernambuco. Mas foi de<br />

Pernambuco que partiu o maior contingente de<br />

trabalha<strong>do</strong>res que chegou à região sudeste <strong>do</strong> Piauí, tanto<br />

na primeira fase de desenvolvimento <strong>da</strong> maniçoba, que<br />

corresponde ao final <strong>do</strong> século XIX até 1913, como<br />

também nos anos 40, que representou um novo perío<strong>do</strong><br />

de desenvolvimento <strong>do</strong> produto.<br />

<strong>No</strong> início <strong>do</strong> século XX, chegou a São Raimun<strong>do</strong> <strong>No</strong>nato,<br />

provavelmente vin<strong>do</strong> de Pernambuco, Manoel Coelho<br />

Cavalcante (Neco) com sua esposa Ana e os filhos. Ele<br />

trabalhou, inicialmente, como escrivão na fazen<strong>da</strong> Serra<br />

<strong>do</strong>s Gringos, que pertencia ao industrial americano<br />

(segun<strong>do</strong> alguns informantes, seria um inglês) A<strong>do</strong>lpho<br />

Hirchs. Relatos de médicos <strong>do</strong> Instituto Oswal<strong>do</strong> Cruz,<br />

que passaram pela região em 1912 e visitaram a fazen<strong>da</strong><br />

Serra <strong>do</strong>s Gringos, citam a presença de mais de 400<br />

trabalha<strong>do</strong>res no que foi considera<strong>do</strong>, o maior<br />

empreendimento <strong>da</strong> região (Pena e Neiva, 1916). Neco<br />

Coelho adquiriu, posteriormente, outras proprie<strong>da</strong>des,<br />

dentre elas a fazen<strong>da</strong> Jurubeba, onde plantou cana de<br />

açúcar, árvores frutíferas e maniçoba.<br />

A Fazen<strong>da</strong> Jurubeba possuía <strong>do</strong>is engenhos, um para<br />

fabricação de aguardente e outro para rapadura, este<br />

movi<strong>do</strong> por tração animal. Havia também uma casa de<br />

farinha e grande quanti<strong>da</strong>de de árvores frutíferas, cuja<br />

produção era comercializa<strong>da</strong> em São Raimun<strong>do</strong> <strong>No</strong>nato<br />

e municípios vizinhos. A fazen<strong>da</strong> era conheci<strong>da</strong> pela<br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s laranjas, mangas, bananas e abacaxis<br />

colhi<strong>do</strong>s na Quinta <strong>da</strong> Lagoa, localiza<strong>da</strong> a nordeste <strong>da</strong><br />

casa de Neco Coelho. Além de produtos fabrica<strong>do</strong>s<br />

na região, a rapadura e a farinha eram e, ain<strong>da</strong> são,<br />

fun<strong>da</strong>mentais por fazerem parte <strong>da</strong> dieta alimentar <strong>do</strong><br />

sertanejo e, poderem ser armazena<strong>da</strong>s durante um<br />

longo perío<strong>do</strong>.<br />

Fig. 2 - Árvore <strong>da</strong> maniçoba<br />

“<strong>No</strong> <strong>Rastro</strong> <strong>da</strong> Maniçoba” 126<br />

FUMDHAMentos VIII 126

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!