A06 - Tópicos de História do Vácuo - parte 1
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Po<strong>de</strong>-se dizer, no entanto, que algumas respostas <strong>de</strong> Aristóteles na Física eram <strong>de</strong> certo<br />
mo<strong>do</strong> fracas, ten<strong>do</strong> em vista fenômenos observa<strong>do</strong>s no cotidiano. Uma bexiga sujeita a<br />
variações <strong>de</strong> temperatura, por exemplo, podia sim aumentar e diminuir <strong>de</strong> tamanho sem que<br />
aparentemente nada entrasse ou saísse <strong>de</strong>la.<br />
Sobre a dilatação, para se contrapor aos atomistas, Aristóteles acrescentou que as coisas<br />
podiam aumentar sem a entrada <strong>de</strong> algo, mas sim por uma mudança qualitativa, tal como a água<br />
ao se transformar em ar. Essa resposta inicial apresentada na Física foi completada no primeiro<br />
capítulo da obra Sobre geração e corrupção. Aristóteles explicou uma alteração qualitativa na<br />
água, po<strong>de</strong>ria implicar em mudanças nas proprieda<strong>de</strong>s da matéria, como o volume.<br />
O filósofo chegou até mesmo a admitir a penetrabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s corpos para não ter que aceitar<br />
a hipótese <strong>do</strong> vácuo. Na Física, afirmou que os corpos podiam crescer sem adição <strong>de</strong> um corpo<br />
e que podiam sim existir <strong>do</strong>is corpos no mesmo lugar. Buscava, assim, vencer o argumento<br />
atomista <strong>de</strong> que o crescimento implicava na existência <strong>de</strong> vácuo: como <strong>do</strong>is corpos não podiam<br />
ocupar o mesmo local ao mesmo tempo, o alimento (corpóreo) <strong>de</strong>veria ocupar um lugar vazio.<br />
Outro fenômeno aponta<strong>do</strong> pelos atomistas como evidência da existência <strong>de</strong> vácuo era<br />
o fato <strong>de</strong> que corpos <strong>de</strong> mesmo volume podiam ter pesos diferentes. Como supunham to<strong>do</strong>s<br />
os átomos igualmente “cheios”, a diferença entre os corpos estaria na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaços<br />
vazios no interior <strong>de</strong>les. Na obra Sobre os céus, Aristóteles questionaria o ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong>s<br />
atomistas, apontan<strong>do</strong> que aquela explicação não dava conta da “leveza absoluta”, isto é, da<br />
tendência <strong>de</strong> certos corpos (como o fogo) a subirem (movimentos naturais).<br />
A controvérsia entre Aristóteles e atomistas abrangeu, também, aspectos relaciona<strong>do</strong>s à<br />
natureza da luz. Essa questão importante na história da Física esteve em disputa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong>.<br />
Os atomistas <strong>de</strong>fendiam a existência <strong>de</strong> pequenos vazios intersticiais frequentes,<br />
regulares, próximos e alinha<strong>do</strong>s em fila nos corpos transparentes para permitir a passagem<br />
<strong>de</strong> luz e <strong>do</strong> som pela matéria. Segun<strong>do</strong> esse ponto <strong>de</strong> vista, era possível ver através da água<br />
<strong>de</strong> um aquário, justamente porque espaços vazios <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> aquário permitiam a propagação<br />
da luz, sen<strong>do</strong> essa <strong>de</strong> natureza corpuscular.<br />
Mas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as concepções <strong>de</strong> Aristóteles sobre a luz e o som, esses não eram<br />
argumentos váli<strong>do</strong>s para sustentar a existência <strong>do</strong> vácuo. Para ele, a luz e o som não eram<br />
corpos materiais e, portanto, não precisavam <strong>de</strong> espaços vazios para atravessar os corpos.<br />
Além <strong>de</strong> refletir sobre o conceito <strong>de</strong> espaço e examinar uma a uma as i<strong>de</strong>ias <strong>do</strong>s atomistas,<br />
Aristóteles apontou novos argumentos para sustentar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Universo totalmente<br />
cheio <strong>de</strong> matéria. Como vimos na primeira aula <strong>de</strong> história da Mecânica, os argumentos<br />
apresenta<strong>do</strong>s por Aristóteles na obra Física estavam interliga<strong>do</strong>s à sua teoria <strong>do</strong>s movimentos:<br />
to<strong>do</strong> movimento precisava <strong>de</strong> uma causa, e no vácuo não havia essa causa; no vácuo não podia<br />
haver movimento (COHEN; DRABKIN, 1958, p. 204-206). Além disso, para ele, a existência <strong>do</strong><br />
vácuo tornaria incompreensíveis alguns aspectos <strong>do</strong> movimento e levaria a absur<strong>do</strong>s:<br />
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Aula 06 História e Filosofi a da Ciência