17.04.2013 Views

A04 - Tópicos de História da Mecânica - parte 2 - juliana hidalgo

A04 - Tópicos de História da Mecânica - parte 2 - juliana hidalgo

A04 - Tópicos de História da Mecânica - parte 2 - juliana hidalgo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

DISCIPLINA<br />

<strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

<strong>Tópicos</strong> <strong>de</strong> <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Mecânica</strong><br />

– Parte 2<br />

Autores<br />

Juliana Mesquita Hi<strong>da</strong>lgo Ferreira<br />

André Ferrer P. Martins<br />

aula<br />

04


Coor<strong>de</strong>nadora <strong>da</strong> Produção dos Materiais<br />

Vera Lucia do Amaral<br />

Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Revisão<br />

Giovana Paiva <strong>de</strong> Oliveira<br />

Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Edição<br />

Ary Sergio Braga Olinisky<br />

Projeto Gráfi co<br />

Ivana Lima<br />

Revisores <strong>de</strong> Estrutura e Linguagem<br />

Eugenio Tavares Borges<br />

Janio Gustavo Barbosa<br />

Jeremias Alves <strong>de</strong> Araújo<br />

José Correia Torres Neto<br />

Luciane Almei<strong>da</strong> Mascarenhas <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

Thalyta Mabel Nobre Barbosa<br />

Revisora <strong>da</strong>s Normas <strong>da</strong> ABNT<br />

Verônica Pinheiro <strong>da</strong> Silva<br />

Revisores <strong>de</strong> Língua Portuguesa<br />

Cristinara Ferreira dos Santos<br />

Emanuelle Pereira <strong>de</strong> Lima Diniz<br />

Janaina Tomaz Capistrano<br />

Kaline Sampaio <strong>de</strong> Araújo<br />

Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />

Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República<br />

Luiz Inácio Lula <strong>da</strong> Silva<br />

Ministro <strong>da</strong> Educação<br />

Fernando Had<strong>da</strong>d<br />

Secretário <strong>de</strong> Educação a Distância<br />

Carlos Eduardo Bielschowsky<br />

Reitor<br />

José Ivonildo do Rêgo<br />

Vice-Reitora<br />

Ângela Maria Paiva Cruz<br />

Secretária <strong>de</strong> Educação a Distância<br />

Vera Lucia do Amaral<br />

Secretaria <strong>de</strong> Educação a Distância (SEDIS)<br />

Divisão <strong>de</strong> Serviços Técnicos<br />

Revisoras Tipográfi cas<br />

Adriana Rodrigues Gomes<br />

Margareth Pereira Dias<br />

Nourai<strong>de</strong> Queiroz<br />

Arte e Ilustração<br />

A<strong>da</strong>uto Harley<br />

Carolina Costa<br />

Heinkel Hugenin<br />

Leonardo Feitoza<br />

Roberto Luiz Batista <strong>de</strong> Lima<br />

Diagramadores<br />

Elizabeth <strong>da</strong> Silva Ferreira<br />

Ivana Lima<br />

José Antonio Bezerra Junior<br />

Mariana Araújo <strong>de</strong> Brito<br />

Priscilla Xavier<br />

A<strong>da</strong>ptação para Módulo Matemático<br />

Joacy Guilherme <strong>de</strong> A. F. Filho<br />

Catalogação <strong>da</strong> publicação na Fonte. Biblioteca Central Zila Mame<strong>de</strong> – UFRN<br />

Todos os direitos reservados. Nenhuma <strong>parte</strong> <strong>de</strong>ste material po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>da</strong> ou reproduzi<strong>da</strong><br />

sem a autorização expressa <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (UFRN)


1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

Apresentação<br />

Nesta aula, <strong>da</strong>remos sequência à abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> elementos específi cos <strong>de</strong> <strong>História</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Mecânica</strong>. Na aula anterior, ao apresentarmos as discussões sobre movimento<br />

realiza<strong>da</strong>s por Aristóteles, vimos algumas concepções <strong>de</strong>sse fi lósofo sobre o universo.<br />

Voltaremos aqui a essas i<strong>de</strong>ias e outras posteriores a ele, a fi m <strong>de</strong> que possamos enten<strong>de</strong>r o<br />

“sistema <strong>de</strong> mundo aristotélico-ptolomaico”. Esse sistema era o mais aceito às vésperas <strong>da</strong><br />

Revolução Científi ca inicia<strong>da</strong> no século XVI, que foi marca<strong>da</strong> por aspectos como a mu<strong>da</strong>nça<br />

<strong>de</strong> visão do cosmo, a qual será um dos temas <strong>de</strong>sta aula.<br />

O contato com esse pano <strong>de</strong> fundo histórico será fun<strong>da</strong>mental para compreen<strong>de</strong>rmos<br />

as contribuições <strong>de</strong> Galileu Galilei à mecânica, que visavam fun<strong>da</strong>mentalmente respon<strong>de</strong>r à<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> criar uma “nova física” sobre a qual o sistema copernicano se apoiaria. Daremos<br />

início à apresentação <strong>da</strong>s contribuições <strong>de</strong> Galileu nesta aula e prosseguiremos na aula seguinte,<br />

quando falaremos também sobre Descartes e Newton.<br />

Objetivos<br />

Mostrar algumas características dos sistemas <strong>de</strong> mundo<br />

aristotélico-ptolomaico e copernicano.<br />

Refl etir sobre a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> visão do cosmo na Revolução<br />

Científi ca.<br />

Apresentar aspectos <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Galileu Galilei,<br />

situando-as nesse contexto.<br />

Refl etir sobre a visão a respeito <strong>de</strong>sse personagem nos<br />

ambientes escolares.<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

1


2<br />

Na Revolução Científi ca,<br />

a mu<strong>da</strong>nça na visão do cosmo<br />

Iniciaremos esta aula tratando <strong>de</strong> algumas características dos sistemas <strong>de</strong> mundo<br />

anteriores ao aristotélico-ptolomaico. Apresentaremos os caminhos que levaram ao surgimento<br />

<strong>de</strong>sse sistema no século II e refl etiremos sobre o que teria contribuído para a sua aceitação<br />

por quase quatorze séculos.<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

Em segui<strong>da</strong>, mostraremos algumas motivações que teriam <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado a proposta<br />

<strong>de</strong> Nicolau Copérnico. Discutiremos algumas características do sistema copernicano, e<br />

refl etiremos sobre em que medi<strong>da</strong> a aceitação <strong>de</strong>sse sistema por Galileu estava relaciona<strong>da</strong><br />

às contribuições <strong>de</strong>sse pensador à compreensão do movimento.<br />

Os antece<strong>de</strong>ntes ao<br />

sistema aristotélico-ptolomaico<br />

Na Grécia Antiga, muitas observações astronômicas eram realiza<strong>da</strong>s. As estrelas pareciam<br />

estar sempre nas mesmas posições umas em relação às outras. Costumava-se imaginar que<br />

elas estavam fi xas sobre uma esfera que girava em torno <strong>de</strong> um “eixo celeste” passando pela<br />

Terra. Havia também “estrelas que vagavam”, isto é, planetas. Esses possuíam movimentos<br />

complicados em relação às estrelas. Ao longo do ano, iam, voltavam e <strong>da</strong>vam “laça<strong>da</strong>s”.<br />

Figura 1 – Trajetória <strong>de</strong> Marte em relação às estrelas fi xas<br />

Fonte: . Acesso em: 28 out. 2009.


Eram conhecidos Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno. Observava-se que os planetas<br />

<strong>de</strong>spendiam períodos diferentes para percorrer as constelações do Zodíaco. Vênus e Mercúrio<br />

levavam um ano e nunca se afastavam muito (angularmente) do Sol. Por isso, nem sempre<br />

eram visíveis. Marte <strong>de</strong>morava dois anos, Júpiter doze e Saturno, trinta.<br />

Não era possível saber quais planetas estavam mais próximos e mais distantes <strong>da</strong> Terra.<br />

Supunha-se que os mais lentos em relação às estrelas fi xas estivessem mais longe. Geralmente<br />

se consi<strong>de</strong>rava que Mercúrio e Vênus estavam mais próximos <strong>da</strong> Terra do que o Sol. Eram ditos<br />

“planetas inferiores”. Marte, Júpiter e Saturno estariam mais distantes. Eram os chamados<br />

“planetas superiores”.<br />

O Sol parecia <strong>de</strong>screver um movimento circular em torno <strong>da</strong> Terra em ca<strong>da</strong> dia e ia<br />

percorrendo, ao longo do ano, as constelações do Zodíaco. Observava-se que a direção em<br />

que o Sol nascia e se punha ia mu<strong>da</strong>ndo, e a duração do dia e <strong>da</strong> noite também mu<strong>da</strong>va ao<br />

longo do ano. A Lua também parecia se <strong>de</strong>slocar em relação às estrelas fi xas, embora muito<br />

mais rapi<strong>da</strong>mente do que o Sol.<br />

Sabemos que muitas observações e estudos (por exemplo, sobre eclipses) já haviam<br />

sido realizados por mesopotâmios e egípcios. No entanto, esses povos não <strong>de</strong>senvolveram<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> universo que explicassem os movimentos observados dos astros. Esse nível <strong>de</strong><br />

sofi sticação, que iria muito além dos fenômenos observados, ocorreria na Grécia Antiga.<br />

A contribuição pitagórica ao associar a matemática à cosmologia e enfatizar a importância<br />

dos números e <strong>da</strong> harmonia seria fun<strong>da</strong>mental para a proposta <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los geométricos<br />

(LOPES, 2003, p. 27-29). A partir <strong>de</strong> Platão certos critérios guiariam o trabalho astronômico: os<br />

movimentos circulares uniformes eram consi<strong>de</strong>rados perfeitos; to<strong>da</strong> a aparente irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

dos movimentos celestes <strong>de</strong>veria ser explica<strong>da</strong> por uma composição <strong>de</strong>sses movimentos<br />

(DUHEM, 1984, p. 7).<br />

No século IV a. C., Eudoxo, discípulo <strong>de</strong> Platão, propôs um mo<strong>de</strong>lo matemático <strong>de</strong><br />

esferas homocêntricas para explicar os movimentos dos planetas, sem se interessar pelas<br />

causas <strong>de</strong>sses movimentos. Nesse mo<strong>de</strong>lo, cascas invisíveis encaixa<strong>da</strong>s umas nas outras,<br />

transportavam os astros. Ca<strong>da</strong> esfera ou casca girava em torno <strong>de</strong> um eixo diferente e estava<br />

encaixa<strong>da</strong> na localiza<strong>da</strong> acima <strong>de</strong>la. O movimento <strong>de</strong> um único planeta era resultado <strong>da</strong><br />

combinação <strong>da</strong>s rotações <strong>de</strong> diversas esferas. Quatro esferas <strong>de</strong>screveriam o movimento <strong>de</strong><br />

Júpiter e Saturno, cinco eram necessárias para os outros planetas (LOPES, 2003, p. 59/96).<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Eudoxo explicava as laça<strong>da</strong>s, mas tinha alguns problemas signifi cativos.<br />

Se as esferas se encaixavam umas nas outras <strong>de</strong>veria haver interferência entre movimentos<br />

<strong>de</strong> esferas superiores e inferiores.<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência 3


4<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

P<br />

X<br />

A<br />

B<br />

Figura 2 – Mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong>s esferas concêntricas <strong>de</strong> Eudoxo.<br />

O<br />

No século IV a. C., Aristóteles, que havia tal como Eudoxo frequentado a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

Platão, tentou resolver esse problema. Aumentou ain<strong>da</strong> mais o número <strong>de</strong> esferas, introduzindo<br />

esferas “compensadoras” que anulavam a interferência dos movimentos <strong>da</strong>s esferas entre si.<br />

Mas a contribuição mais signifi cativa <strong>de</strong> Aristóteles nesse caso foi outra. Ele se<br />

interessou pelas causas dos movimentos dos planetas e fun<strong>da</strong>mentou fi sicamente a teoria<br />

geocêntrica, tal como vimos na aula passa<strong>da</strong>. Propôs assim uma concepção sofi stica<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

universo, intrinsecamente relaciona<strong>da</strong> ao seu próprio entendimento sobre a natureza dos<br />

corpos e o movimento.<br />

O sistema aristotélico-ptolomaico<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> esferas homocêntricas apresentava, no entanto, um problema que Aristóteles<br />

não tentou resolver. De acordo com esse mo<strong>de</strong>lo, os planetas estavam a uma distância fi xa <strong>da</strong><br />

Terra. Mas a observação do céu revelava diferenças <strong>de</strong> brilho dos planetas ao longo do ano, o<br />

que parecia sugerir variações <strong>de</strong> suas distâncias em relação à Terra. As veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>s angulares<br />

dos planetas em relação à Terra também pareciam variar.<br />

A solução viria a partir do século II a.C., quando surgiu o esquema epiciclo-<strong>de</strong>ferente.<br />

Já outras características do universo aristotélico (como a dicotomia entre os mundos sub e<br />

supralunar e a imobili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Terra) seriam questiona<strong>da</strong>s <strong>de</strong> modo enfático somente entre os<br />

séculos XVI e XVII.<br />

Y<br />

Fonte: . Acesso<br />

em: 28 out. 2009.


Figura 3 – Sistema com epiciclo e <strong>de</strong>ferente<br />

Parece ter sido então no século II a. C. que o matemático Apolônio <strong>de</strong> Rho<strong>de</strong>s introduziu<br />

esses novos recursos matemáticos, isto é, epiciclos e <strong>de</strong>ferentes, para explicar os movimentos<br />

dos planetas e <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s variações <strong>de</strong> distância e <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> angular aparente em relação<br />

à Terra (LOPES, 2003, p. 1; DUHEM, 1984, p. 9). Um astro que se mova em torno <strong>da</strong> Terra<br />

em um círculo excêntrico com veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> constante parece ter uma veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> variável. Um<br />

astro que se mova em um epiciclo que se <strong>de</strong>sloca sobre um círculo <strong>de</strong>ferente com veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

constantes (como na Figura 3) parece ter movimento irregular. O uso <strong>de</strong> epiciclos permite<br />

explicar as “i<strong>da</strong>s e voltas” dos planetas.<br />

No século II a.C., o astrônomo Hiparco <strong>de</strong> Nicéia utilizou todos os recursos já empregados<br />

por Apolônio e <strong>de</strong>u novas contribuições à astronomia: montou um catálogo <strong>de</strong> estrelas, estudou<br />

<strong>de</strong>talhamente os movimentos do Sol e dos planetas e <strong>de</strong>screveu a precessão dos equinócios.<br />

Apolônio e Hiparco conseguiram <strong>de</strong>screver bastante razoavelmente os fenômenos.<br />

Somente no século II d. C. surgiriam outras contribuições tão signifi cativas. Nessa época,<br />

Cláudio Ptolomeu partiu <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias anteriores, realizou novas observações astronômicas e<br />

<strong>de</strong>senvolveu o mais completo sistema astronômico <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>. Embora boa <strong>parte</strong> do<br />

que Ptolomeu escreveu tenha se perdido, sua principal obra astronômica, o Almagesto<br />

(“o maior” em árabe), foi conserva<strong>da</strong> (sobre o Almagesto ver comentários <strong>de</strong> MARTINS apud<br />

COPÉRNICO, 2003).<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> obter uma melhor concordância entre a teoria e as observações,<br />

Ptolomeu inicialmente introduziu epiciclos sobre epiciclos e epiciclos sobre excêntricos. Mesmo<br />

com esses recursos, julgava não ter conseguido uma concordância sufi cientemente boa. Por<br />

isso criou um novo recurso matemático: o “equante”.<br />

No caso do mo<strong>de</strong>lo que usava excêntricos com equantes, a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> angular do centro<br />

do epiciclo era constante em relação a um ponto fi ctício, o “equante”, que estava <strong>de</strong>slocado do<br />

centro. Assim, simplifi ca<strong>da</strong>mente (ver Figura 4), po<strong>de</strong>mos dizer que os planetas percorriam<br />

epiciclos, cujos centros, por sua vez, percorriam <strong>de</strong>ferentes. A Terra não estava no centro do<br />

<strong>de</strong>ferente, mas sim ligeiramente <strong>de</strong>sloca<strong>da</strong>. Os planetas não tinham movimento uniforme em<br />

relação ao centro do <strong>de</strong>ferente, nem em relação à Terra, mas sim em relação ao equante.<br />

Fonte: .<br />

Acesso em: 28 out. 2009.<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência 5


6<br />

Figura 4 – Sistema aristotélico-ptolomaico. Os epiciclos não fi cavam no mesmo plano do <strong>de</strong>ferente, o que permitia<br />

explicar as “laça<strong>da</strong>s” nos movimentos dos planetas.<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

Com a composição <strong>de</strong> círculos excêntricos e epiciclos e o uso <strong>de</strong> equantes, os mo<strong>de</strong>los<br />

se tornaram mais complexos. Isso, no entanto, não parecia ser problema para Ptolomeu. A<br />

complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema po<strong>de</strong>ria ser necessária para representar a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente os<br />

fenômenos (DUHEM, 1984, p. 16).<br />

E, <strong>de</strong> fato, os cálculos <strong>de</strong>senvolvidos por Ptolomeu correspondiam às observações e cobriam<br />

todos os fenômenos astronômicos conhecidos. Esse sistema geostático, também conhecido<br />

como aristotélico-ptolomaico, era coerente com a física aristotélica e teve mais <strong>de</strong> 1300 anos<br />

<strong>de</strong> aceitação. Era complicado, mas não mais do que futuramente seria o mo<strong>de</strong>lo copernicano.<br />

Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> 1<br />

Na primeira aula <strong>de</strong>ssa disciplina, mostramos como a <strong>História</strong> <strong>da</strong> Ciência procura<br />

interpretar os conhecimentos científi cos do passado. Na presente aula, vimos alguns <strong>de</strong>talhes<br />

sobre o sistema aristotélico-ptolomaico. A partir do que discutimos nessas duas etapas, discuta<br />

o seguinte comentário sobre esse sistema extraído <strong>de</strong> um livro.<br />

[...] um malabarismo <strong>de</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. [...] é quase inacreditável a aceitação que teve<br />

esta soma <strong>de</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, algumas sem qualquer sentido. Tudo isto para manter a<br />

Terra no centro do Universo. (GONÇALVES-MAIA, 2006, p. 36).<br />

Fonte: .<br />

Acesso em: 28 out. 2009.


O sistema copernicano<br />

Des<strong>de</strong> a Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, a maior <strong>parte</strong> dos astrônomos preferia a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a Terra estava<br />

para<strong>da</strong> e os planetas giravam ao seu redor. Procuravam, a partir disso, explicar os <strong>de</strong>talhes dos<br />

movimentos dos astros, isto é, “salvar os fenômenos”. Alguns autores, no entanto, conceberam<br />

sistemas diferentes.<br />

Entre os séculos IV e III a.C., o pensador grego Aristarco havia proposto um mo<strong>de</strong>lo<br />

heliostático <strong>de</strong> universo, cujos <strong>de</strong>talhes hoje são <strong>de</strong>sconhecidos. Sabe-se que ele <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u que<br />

o Sol estava parado e a Terra e os outros planetas se moviam em torno <strong>de</strong>le, o que explicava o<br />

movimento aparente do Sol e dos planetas. A Terra também girava sobre si, o que explicava o<br />

dia e a noite. Esse mo<strong>de</strong>lo também permitia explicar por que Mercúrio e Vênus não se afastavam<br />

muito (angularmente) do Sol.<br />

Havia, no entanto, muitas difi cul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para aceitá-lo. Os infl uentes argumentos <strong>de</strong><br />

Aristóteles apoiavam o mo<strong>de</strong>lo geostático. A concepção heliostática <strong>de</strong> Aristarco contrariava<br />

a tradição e não havia evidências a favor do movimento <strong>da</strong> Terra. Além disso, se a Terra girasse<br />

ao redor do Sol, as estrelas <strong>de</strong>veriam apresentar paralaxe (mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> posição aparente em<br />

função <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> posição do observador), mas isso não era observado. Esses fatores<br />

po<strong>de</strong>m ter contribuído para a rejeição às i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Aristarco (LOPES, 2004, p. 106-113).<br />

Algo semelhante ganharia força apenas ao longo dos séculos XVI e XVII. Mesmo nesse<br />

caso as oposições foram <strong>de</strong> cunho bastante similar às <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, e não apenas resultado<br />

<strong>de</strong> dogmatismo religioso, como se costuma dizer.<br />

Em 1510, num curto texto manuscrito chamado Commentariolus e, em 1543, na obra<br />

As Revoluções <strong>da</strong>s Orbes Celestes, Nicolau Copérnico apresentou sua teoria heliostática. A<br />

aceitação <strong>de</strong>ssa concepção <strong>de</strong> modo algum foi instantânea. Muito pelo contrário, a polêmica<br />

se prolongou por mais <strong>de</strong> um século. O próprio Galileu apenas em 1595 passou a aceitar o<br />

sistema <strong>de</strong> Copérnico, após estu<strong>da</strong>r as marés e convencer-se <strong>de</strong> que elas eram produzi<strong>da</strong>s<br />

pelo movimento <strong>da</strong> Terra (essa interpretação posteriormente seria rejeita<strong>da</strong>).<br />

Nicolau Copérnico não se baseou em novas informações e observações astronômicas<br />

para propor o seu sistema. A motivação <strong>de</strong> Copérnico tinha raízes muito antigas e, po<strong>de</strong>-se<br />

dizer que in<strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> olhar para o céu (MARTINS, 1994, p. 79-81).<br />

Copérnico não consi<strong>de</strong>rava o sistema aristotélico-ptolomaico inefi ciente, mas sim o via<br />

como um afronte ao i<strong>de</strong>al grego <strong>de</strong> perfeição. Repudiou o “equante”, alegando ser inconcebível<br />

que um planeta se movesse <strong>de</strong> modo não uniforme em relação ao centro <strong>de</strong> suas trajetórias.<br />

A justifi cativa para o trabalho <strong>de</strong> Copérnico, portanto, seguia a mesma linha <strong>de</strong> pensamento<br />

astronômico <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> na Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que indica a forte infl uência dos i<strong>de</strong>ais gregos na<br />

Revolução Científi ca (COPÉRNICO, 2003; LOPES, 2003, p. 5).<br />

Deve-se notar, no entanto, que o fato <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>scontente com o sistema ptolomaico,<br />

não justifi cava a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Copérnico <strong>de</strong> colocar justamente o Sol no centro do sistema.<br />

Segundo historiadores <strong>da</strong> ciência, a origem <strong>de</strong>ssa hipótese estava em tradições neoplatônicas<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência 7


8<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

revigora<strong>da</strong>s no Renascimento. Essas <strong>de</strong>legavam a posição central do universo ao Sol,<br />

consi<strong>de</strong>rando-o seu astro mais importante, a fonte <strong>da</strong> luz e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Também Johannes Kepler,<br />

infl uenciado pela mesma tradição, <strong>da</strong>ria justifi cativas metafísicas para situar no Sol (chamado<br />

por ele “Rei dos planetas”, “coração do mundo”, “mora<strong>da</strong> do próprio Deus”) o centro dos<br />

movimentos dos planetas (SILVEIRA; PEDUZZI, 2006, p. 29-30).<br />

Como foi a aceitação do sistema heliostático?<br />

Geralmente vemos o sistema copernicano retratado <strong>de</strong> modo bastante simplifi cado em<br />

fi guras: o Sol no centro e os planetas girando ao redor. Isso nos dá a ilusão <strong>de</strong> que este sistema<br />

era mais simples do que o ptolomaico. Nicolau Copérnico adotou órbitas circulares para os<br />

planetas, mas acabou tendo que manter epiciclos e <strong>de</strong>ferentes para “salvar os fenômenos”,<br />

isto é, <strong>da</strong>r conta dos movimentos dos planetas (só posteriormente Kepler introduziria órbitas<br />

elípticas e <strong>de</strong>scartaria os epiciclos). Em princípio, portanto, o sistema <strong>de</strong> Copérnico não era<br />

menos complicado do que o ptolomaico, e suas previsões para os movimentos dos planetas<br />

eram igualmente razoáveis. Era difícil angariar a<strong>de</strong>ptos.<br />

Contra essa nova teoria havia também, na época <strong>de</strong> Galileu Galileu, fortes objeções<br />

astronômicas. Algumas previsões <strong>de</strong>corriam <strong>de</strong>ssa teoria, mas não eram corrobora<strong>da</strong>s<br />

empiricamente: Marte e Vênus <strong>de</strong>veriam sofrer modifi cações no seu tamanho aparente<br />

quando observados <strong>da</strong> Terra; Vênus <strong>de</strong>veria ter fases (como a Lua); estrelas <strong>de</strong>veriam<br />

apresentar paralaxes.<br />

Em 1610, Galileu publicou suas observações astronômicas com o uso do telescópio na<br />

obra Si<strong>de</strong>rius Nuncius. Já copernicano convicto, notou variações nos tamanhos aparentes <strong>de</strong><br />

Marte e Vênus e fases em Vênus. Contestou a perfeição (aristotélica) do mundo supralunar<br />

ao i<strong>de</strong>ntifi car irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s na superfície <strong>da</strong> lua, manchas no Sol e “orelhas” em Saturno.<br />

Os satélites <strong>de</strong> Júpiter, também notados por ele, sugeriam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos<br />

circulares em torno <strong>de</strong> outros corpos além <strong>da</strong> Terra.<br />

Deve-se notar, no entanto, que essas observações nem sempre convenciam os críticos do<br />

novo sistema. Os telescópios eram rudimentares e seu próprio uso era questionado na época.<br />

Afi nal, quem garantia que o que se via era real e não uma modifi cação aparente causa<strong>da</strong> pelas<br />

lentes? Além disso, partindo do pressuposto <strong>de</strong> que a física do mundo sublunar era diferente <strong>da</strong><br />

física do mundo supralunar, quem podia dizer que o que era observado correspondia a algo que<br />

podia ser expresso em termos do que se conhecia na Terra, como “manchas”, por exemplo?<br />

Algumas <strong>da</strong>s novas evidências astronômicas obti<strong>da</strong>s eram previstas também pelo sistema<br />

misto <strong>de</strong> Tycho Brahe, mas isso não interessava a Galileu. Para Kepler e ele, essas evidências<br />

corroboravam o sistema copernicano, e ponto fi nal (SILVEIRA; PEDUZZI, 2006).


Figura 5 – Sistema copernicano (simplifi cado) e sistema <strong>de</strong> Brahe, no qual Vênus e Mercúrio eram “satélites” do Sol<br />

(algo semelhante foi proposto por Herácli<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Pontos cerca <strong>de</strong> 1800 anos antes).<br />

Havia ain<strong>da</strong> outras sérias difi cul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para aceitar o sistema copernicano. As evidências<br />

dos sentidos eram (e são) favoráveis à hipótese geostática. Além disso, a física aristotélica,<br />

aceita na época, era coerente com o sistema ptolomaico. Que física <strong>da</strong>ria conta do sistema<br />

copernicano? Como explicar a que<strong>da</strong> dos corpos “graves”? Como li<strong>da</strong>r com o argumento<br />

Aristotélico contra o movimento <strong>da</strong> Terra (ver aula 3, <strong>parte</strong> 1)?<br />

Galileu se empenhou em discutir essas questões e, a partir <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias já existentes,<br />

procurou caminhos para uma nova ciência dos movimentos terrestres.<br />

Galileu Galilei e<br />

o novo sistema <strong>de</strong> mundo<br />

Como vimos na aula passa<strong>da</strong>, para os aristotélicos, os corpos “graves” caíam <strong>de</strong>vido à<br />

tendência <strong>de</strong> se dirigem para o centro do universo, no qual estava a Terra.<br />

Ao escrever o manuscrito Commentariolus, em 1510, Copérnico afi rmou: “O centro <strong>da</strong><br />

Terra não é o centro do mundo, mas apenas o <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> e do orbe lunar” (COPÉRNICO,<br />

2003, p. 114). Por retirar a Terra do centro do universo, esperar-se-ia <strong>de</strong> Copérnico uma nova<br />

explicação para a que<strong>da</strong> dos corpos, pois nesse caso não mais valeria a explicação aristotélica<br />

para esse fenômeno. Como explicá-lo no novo sistema?<br />

Para Copérnico, os corpos cairiam para a Terra on<strong>de</strong> quer que ela estivesse, mas ele não<br />

explicou por que isso ocorreria.<br />

Fontes: ; . Acesso em: 28 out. 2009.<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência 9


10<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

Na obra Diálogo sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo, <strong>de</strong> 1632, a conversa<br />

entre os personagens Salviati (representante <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Galileu), Sagredo (leigo inteligente<br />

disposto a ouvir sobre novos conhecimentos) e Simplício (<strong>de</strong>fensor <strong>da</strong> tradição aristotélica),<br />

foi construí<strong>da</strong> por Galileu Galilei para abor<strong>da</strong>r problemas que, tal como o exposto no parágrafo<br />

anterior, eram fun<strong>da</strong>mentais no âmbito <strong>da</strong>s oposições ao sistema copernicano.<br />

Costumava-se dizer que se a Terra estivesse em rotação: um objeto não po<strong>de</strong>ria cair<br />

verticalmente (vimos na aula passa<strong>da</strong> como esse argumento foi usado por Aristóteles); o<br />

alcance <strong>de</strong> um projétil não po<strong>de</strong>ria ser o mesmo para leste e para o oeste; nuvens, pássaros e<br />

tudo o que estivesse no ar fi caria para trás; os corpos <strong>de</strong>veriam ser expulsos <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong><br />

Terra (argumento <strong>de</strong> extrusão). Como nenhuma <strong>de</strong>ssas coisas ocorria, argumentava-se que<br />

a Terra <strong>de</strong>veria estar em repouso.<br />

Figura 6 – Folha <strong>de</strong> rosto <strong>da</strong> obra Diálogo sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo.<br />

Copérnico já havia tentado se opor a esse tipo <strong>de</strong> argumentação. No entanto, não estava<br />

preocupado com questões físicas e não foi muito longe nesse <strong>de</strong>bate. Alegou que, como a<br />

Terra tinha movimento circular natural (note aqui a infl uência aristotélica), os corpos ligados<br />

a ela <strong>de</strong> alguma forma compartilhavam <strong>de</strong>ssa natureza e acompanhavam o seu movimento<br />

(ZYLBERSZTAJN, 2009, p. 10).<br />

Galileu, ao contrário <strong>de</strong> Copérnico, <strong>de</strong>dicou-se mais profun<strong>da</strong>mente a essas questões<br />

(GALILEU, 2004, p. 207). Afi rmou que uma pedra solta do alto do mastro <strong>de</strong> um barco em<br />

movimento caía exatamente ao pé do mastro porque ela conservava o movimento horizontal<br />

que tinha antes <strong>de</strong> ser solta, quando então se movia com a mesma veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> do barco.<br />

Galileu usou, assim, uma concepção inercial e a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> movimentos.<br />

Observando a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> pedra num navio em águas tranquilas seria impossível dizer se o navio<br />

estava em repouso ou movimento. Desse modo, concluía-se que “movimentos compartilhados<br />

pelo móvel e pelo observador não são operativos do ponto <strong>de</strong> vista observacional, isto é, não<br />

são perceptíveis” (ZYLBERSTAJN, 2009, p. 11-12).<br />

Fonte:. Acesso em: 28 out. 2009.


A partir disso, pensando numa pedra solta do alto <strong>de</strong> uma torre, era possível <strong>de</strong>squalifi car<br />

os argumentos contra a mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Terra. A pedra cairia ao pé <strong>da</strong> torre quer a Terra estivesse<br />

em movimento ou não.<br />

P<br />

Q<br />

O<br />

Figura 7 – On<strong>de</strong> cai a pedra solta do alto do mastro (O) <strong>de</strong> um navio que se afasta do cais? Essa questão fez<br />

<strong>parte</strong> do vestibular <strong>da</strong> UERJ em 1999. Muitos alunos respon<strong>de</strong>ram que a pedra cairia nos pontos P, R e S<br />

Galileu recorreu a exemplos do cotidiano para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que nenhum experimento realizado<br />

na Terra permitiria concluir acerca do movimento ou do repouso <strong>da</strong> própria Terra. Comparou a<br />

Terra a um navio. Alguém trancado numa cabine <strong>de</strong>sse navio, inicialmente parado, observava<br />

moscas voando no seu interior, peixes na<strong>da</strong>ndo em aquários, um recipiente alto gotejando<br />

água em outro logo abaixo. Em segui<strong>da</strong>, quando o navio era posto em movimento em águas<br />

tranquilas, nenhuma diferença era nota<strong>da</strong> pelo mesmo observador no que dizia respeito ao<br />

que ocorria <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> cabine. Os peixes na<strong>da</strong>vam com igual facili<strong>da</strong><strong>de</strong> para um lado e para o<br />

outro. O mesmo ocorria com as moscas voando. A água continuava a cair <strong>de</strong>ntro do recipiente<br />

(GALILEU, 2004, p. 268). Assim como para o observador no navio, tudo se passava como<br />

se este estivesse em repouso, também para o observador na Terra, tudo se passava como se<br />

esta estivesse em repouso.<br />

Note que Galileu Galilei, especifi camente nessa argumentação, não procurou mostrar que<br />

a Terra <strong>de</strong> fato estava em movimento. Procurou sim rebater os argumentos que negavam<br />

a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ela estar em movimento. Já a afi rmação do seu movimento foi realiza<strong>da</strong><br />

por ele na terceira jorna<strong>da</strong> do Diálogo. Mas outros questionamentos <strong>de</strong>corriam <strong>da</strong> situação<br />

<strong>de</strong> retirar a Terra do centro do universo. Galileu pensou que apenas uma “nova” física po<strong>de</strong>ria<br />

superar essas difi cul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>da</strong>r suporte à teoria copernicana.<br />

Como vimos na aula passa<strong>da</strong>, Jean Buri<strong>da</strong>n e seu discípulo Nicole Oresme já haviam<br />

empregado a noção <strong>de</strong> ímpeto para os corpos celestes. De certo modo, pareciam ir contra a<br />

divisão aristotélica entre os mundos sub e supralunar. A unifi cação dos fenômenos celestes e<br />

terrestres, com a sua <strong>de</strong>scrição por leis comuns, adviria <strong>da</strong> contribuição <strong>de</strong> pensadores como<br />

Galileu. Veremos a seguir mais alguns aspectos <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>sse autor, que agiu em apoio ao<br />

novo sistema <strong>de</strong> mundo no qual acreditava.<br />

R<br />

S<br />

Cais<br />

Fonte: Caruso (2008).<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

11


12<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> 2<br />

Ora, quando tiver<strong>de</strong>s visto to<strong>da</strong>s essas experiências, e que esses movimentos, embora<br />

aci<strong>de</strong>ntais, mostram o mesmo resultado, tanto durante o movimento do navio quando se<br />

ele está parado, não <strong>de</strong>ixareis <strong>de</strong> duvi<strong>da</strong>r que o mesmo <strong>de</strong>ve acontecer em torno do globo<br />

terrestre, sempre que o ar caminhe junto com ele? E ain<strong>da</strong> mais, porque esse movimento<br />

universal, que no navio é aci<strong>de</strong>ntal, nós o colocamos na Terra e nas coisas terrestres<br />

como o seu movimento próprio e natural (GALILEU, 2004, p. 268).<br />

Na citação acima, temos o comentário <strong>de</strong> Galileu Galilei que se segue à sua famosa<br />

discussão dos fenômenos na cabine do navio. A partir do que vimos nesta aula, explique<br />

o exemplo usado por Galileu, comente sobre o que ele procurava resolver e que conclusão<br />

tentava sustentar.<br />

A que<strong>da</strong> dos corpos e o plano<br />

inclinado Críticas à visão<br />

empirista <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Galileu<br />

No século XIX, o físico e fi lósofo positivista Ernst Mach <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u que Galileu Galilei foi<br />

um empirista que rompeu com a tradição até então reinante tanto em termos <strong>de</strong> conteúdo<br />

quanto <strong>de</strong> metodologia (ZYLBERSZTAJN, 1988; SILVEIRA; PEDUZZI, 2006).<br />

Ain<strong>da</strong> atualmente Galileu costuma ser lembrado em livros didáticos e materiais <strong>de</strong><br />

divulgação científi ca como um gran<strong>de</strong> “empirista”, o pai do “método científi co” e o responsável<br />

por <strong>de</strong>rrubar a física aristotélica. Através <strong>de</strong> seus experimentos, ele teria indutivamente chegado<br />

a importantes leis <strong>da</strong> natureza. Geralmente se diz, por exemplo, que através dos experimentos<br />

com o plano inclinado, ele concluiu que o movimento era uniformemente acelerado. Não<br />

somente as conclusões, mas a própria ênfase experimental e a fun<strong>da</strong>mentação <strong>de</strong> suas teorias<br />

em <strong>da</strong>dos empíricos marcariam sua diferença em relação a Aristóteles, o qual seria um fi lósofo<br />

essencialmente especulativo.<br />

Essa visão empirista <strong>da</strong> obra e do personagem Galileu costuma ser a única presente<br />

no contexto educacional, mas é justamente a que tem sido consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a menos apropria<strong>da</strong><br />

pelos historiadores (ZYLBERSZTAJN, 1988).


Múltiplas interpretações surgiram nas últimas déca<strong>da</strong>s na <strong>História</strong> <strong>da</strong> Ciência a respeito<br />

<strong>de</strong> Galileu e sua obra. Estudiosos reconhecem que ele foi importante pela utilização <strong>da</strong><br />

argumentação fi losófi ca, juntamente com a matemática e a experimentação. Por outro lado,<br />

muitos consi<strong>de</strong>ram que ele não foi o primeiro a fazer experimentos, não fez experimentos<br />

<strong>de</strong> modo sistemático e que muitas <strong>de</strong> suas experiências foram “experiências pensa<strong>da</strong>s”,<br />

isto é, teóricas.<br />

Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1930, Alexandre Koyré e, posteriormente, Paul Feyerabend (algumas i<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong>sse fi lósofo serão discuti<strong>da</strong>s nessa disciplina), na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, procuraram enfatizar os<br />

aspectos racionalistas e antiempiristas no discurso <strong>de</strong> Galileu (ZYLBERSZTAJN, 2009; ARAÚJO<br />

FILHO, 2008). Segundo essa interpretação, a <strong>de</strong>scrição empirista não encontraria respaldo<br />

nas palavras <strong>de</strong> Galileu.<br />

Koyré <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u que os experimentos <strong>da</strong> Torre <strong>de</strong> Pisa nunca teriam sido realizados pelo<br />

pensador (SILVEIRA; PEDUZZI, 2006; para uma discussão <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> Koyré ver<br />

ARAÚJO FILHO, 2008). Segundo essa interpretação, esses experimentos seriam um mito.<br />

Galileu não realizaria um experimento, <strong>de</strong>ixando cair juntos <strong>de</strong> uma torre dois objetos, para<br />

<strong>de</strong>monstrar empiricamente que o mais pesado chegaria simultaneamente com o mais leve,<br />

pois sabia que o pesado se adiantaria em relação ao outro (DIJKSTERHUIS, 1961, p. 335).<br />

Tinha uma teoria qualitativa para a que<strong>da</strong> em meios resistivos que previa que se duas<br />

esferas <strong>de</strong> mesma <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> fossem <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong>s cair simultaneamente do topo <strong>de</strong> uma torre, a<br />

esfera maior se adiantaria, ain<strong>da</strong> que muito pouco, em relação à menor. Esse “adiantar” era<br />

mesmo tão sutil que Salviati (porta voz <strong>de</strong> Galileu), na obra Discursos sobre as Duas Novas<br />

Ciências, consi<strong>de</strong>rava razoável afi rmar que uma bola <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> cem libras e uma <strong>de</strong> uma libra<br />

chegavam ao solo “ao mesmo tempo” (GALILEU, 1988, p. 63). No vácuo, os corpos cairiam<br />

exatamente com a mesma aceleração.<br />

Em relação ao plano inclinado, as próprias palavras <strong>de</strong> Galileu na obra Diálogo sobre<br />

os Dois Máximos Sistemas do Mundo indicariam que ele não teria chegado a <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s<br />

concepções indutivamente por meio <strong>de</strong> experimentos:<br />

Quando, portanto, observo uma pedra que cai <strong>de</strong> certa altura a partir do repouso e adquire<br />

novos acréscimos <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>, por que não posso pensar que tais acréscimos ocorrem<br />

segundo a proporção mais simples e óbvia? Se consi<strong>de</strong>rarmos atentamente o problema,<br />

não encontraremos nenhum acréscimo mais simples que aquele que sempre se repete<br />

<strong>da</strong> mesma maneira. [...] concebemos no espírito que um movimento é naturalmente<br />

acelerado [...] (GALILEU apud SILVEIRA; PEDUZZI, 2006, p. 33-34, grifos nossos).<br />

Na citação acima, apenas a especulação teórica, isto é, a razão parece ser invoca<strong>da</strong><br />

por Galileu. Ele não teria afi rmado que um experimento havia lhe mostrado que o movimento<br />

<strong>de</strong> que<strong>da</strong> dos graves era um movimento com aceleração constante. Sua conclusão se<br />

relacionava ao pressuposto, explicitamente indicado nesse trecho, <strong>de</strong> que a natureza seguia<br />

as regras mais fáceis, simples e imediatas.<br />

Obra<br />

Em Ar<strong>de</strong>n (1988) e Araújo<br />

Filho (2008) são discuti<strong>da</strong>s<br />

várias possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

interpretação <strong>da</strong> obra <strong>de</strong><br />

Galileu.<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência 13


14<br />

A importância dos antece<strong>de</strong>ntes<br />

para as contribuições <strong>de</strong> Galileu<br />

A maior <strong>parte</strong> <strong>da</strong>s contribuições <strong>de</strong> Galileu adviria não <strong>de</strong> novos experimentos e<br />

observações, mas sim <strong>de</strong> reinterpretações <strong>da</strong>s mesmas observações que já embasavam a<br />

física <strong>de</strong> sua época.<br />

Como vimos na aula passa<strong>da</strong>, autores como Philoponos já haviam criticado a concepção<br />

<strong>de</strong> Aristóteles <strong>de</strong> que uma pedra mais pesa<strong>da</strong> cairia mais rapi<strong>da</strong>mente do que uma mais leve,<br />

segundo veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>s relaciona<strong>da</strong>s diretamente aos respectivos pesos. Posteriormente, no<br />

século XVI, Simon Stevin havia realizado um experimento no qual <strong>de</strong>ixou cair sobre uma tábua<br />

a partir <strong>de</strong> certa altura duas pedras, uma pequena e outra maior. Segundo o relato <strong>de</strong> Stevin,<br />

ouvia-se praticamente o som <strong>de</strong> um único impacto, o que indicava a que<strong>da</strong> praticamente<br />

simultânea dos dois corpos (ARAÚJO FILHO, 2008, p. 15). A proposta <strong>de</strong> Galileu tinha,<br />

portanto, fortes antece<strong>de</strong>ntes.<br />

Ain<strong>da</strong> sobre a que<strong>da</strong> dos corpos, como mencionamos na aula anterior, os medievais já<br />

haviam apontado que tal fenômeno era um movimento uniformemente acelerado. Sabe-se<br />

que Galileu conhecia essa informação. Desse modo, é ina<strong>de</strong>quado dizer que ele chegou a essa<br />

conclusão através dos experimentos com o plano inclinado.<br />

Outros antece<strong>de</strong>ntes também foram importantes para que Galileu Galilei propusesse<br />

suas i<strong>de</strong>ias. Galileu chegou à sua teoria do movimento <strong>de</strong> que<strong>da</strong> dos graves rompendo com a<br />

tradição <strong>da</strong> análise do movimento pelas suas causas. Como vimos na aula anterior, o pensador<br />

medieval William <strong>de</strong> Ockham já havia sugerido esse tipo <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gem. De acordo com essa<br />

linha <strong>de</strong> raciocínio, em 1638, na obra Discursos sobre as Duas Novas Ciências, Galileu afi rmou<br />

que não iria investigar a causa do movimento natural. Não queria falar sobre a causa <strong>de</strong>sse<br />

movimento, mas sim sobre como ele ocorria (DIJKSTERHUIS, 1961, p. 336-337).<br />

No início do século XVII, Galileu já havia começado a estu<strong>da</strong>r que<strong>da</strong> dos corpos.<br />

Possivelmente infl uenciado pelos medievais, acreditou que a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> aumentava <strong>de</strong><br />

modo proporcional ao espaço percorrido. Em segui<strong>da</strong>, passou a supor que a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> era<br />

proporcional ao tempo. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>ssa interpretação, po<strong>de</strong>ria haver na que<strong>da</strong> dos corpos<br />

graves uma proporção entre os espaços percorridos e o quadrado dos tempos. Essa mu<strong>da</strong>nça<br />

<strong>de</strong> interpretação <strong>de</strong> Galileu é evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> no texto <strong>da</strong> terceira jorna<strong>da</strong> dos Discursos, quando o<br />

personagem Salviati se refere ao próprio autor ter por certo tempo cometido aquele “engano”.<br />

A nova interpretação é apresenta<strong>da</strong> por ele na Proposição II do Teorema II dos Discursos<br />

(ARAÚJO FILHO, 2008, p. 59-60).<br />

Para estu<strong>da</strong>r essa hipótese, Galileu havia <strong>de</strong>senvolvido experimentos com o plano<br />

inclinado para “diluir” a rapi<strong>de</strong>z <strong>da</strong> que<strong>da</strong> e medir distâncias e tempos. Ao contrário dos<br />

experimentos <strong>da</strong> Torre <strong>de</strong> Pisa, geralmente se consi<strong>de</strong>ra que os experimentos com o plano<br />

inclinado provavelmente ocorreram, pois o próprio Galileu os <strong>de</strong>screve. Essa teria sido a<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência


sua gran<strong>de</strong> contribuição, nesse caso, pois, como mencionamos, a que<strong>da</strong> dos corpos já era<br />

compreendi<strong>da</strong> como um movimento uniformemente acelerado.<br />

Os experimentos teriam permitido a Galileu estu<strong>da</strong>r os movimentos que diminuíam <strong>de</strong><br />

veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> ao subir e aumentavam ao <strong>de</strong>scer. Segundo ele, já os corpos que se moviam<br />

numa superfície horizontal (esférica, pois como veremos na próxima aula, nesse caso, ele<br />

pensava na superfície <strong>da</strong> Terra) tinham a tendência <strong>de</strong> se manter com veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> constante<br />

(GALILEU, 2004, p. 229-233). Assim, esses experimentos teriam, então, uma função diferente<br />

<strong>da</strong> sustenta<strong>da</strong> pela história empirista.<br />

Ain<strong>da</strong> sobre visões pouco a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s a respeito <strong>de</strong> Galileu, <strong>de</strong>ve-se ressaltar que ele<br />

também não po<strong>de</strong> ser dito um franco oponente <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as concepções aristotélicas. Muito pelo<br />

contrário, tais concepções também foram antece<strong>de</strong>ntes fun<strong>da</strong>mentais para suas contribuições.<br />

De fato, em suas obras, o recurso retórico do diálogo evi<strong>de</strong>nciava a disputa <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias entre<br />

Salviati, que o representava, e Simplício, seguidor <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Aristóteles. No entanto, em<br />

vários pontos, Galileu manteve-se fi el às concepções aristotélicas tradicionais. Contrapondose<br />

às evidências empíricas <strong>de</strong> Tycho Brahe, Galileu ridicularizou adversários que <strong>de</strong>fendiam<br />

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os cometas eram corpos celestes, e argumentou que esses eram fenômenos<br />

atmosféricos, tal como acreditava Aristóteles (SILVA, 2006). Além disso, adotava a concepção<br />

<strong>de</strong> que o universo era fi nito e fechado, o que o levou a um conceito <strong>de</strong> “inércia circular”<br />

(BAPTISTA; FERRACIOLI, 1999), como veremos na próxima aula.<br />

1<br />

2<br />

Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> 3<br />

Sagredo – ‘[...] a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> adquiri<strong>da</strong> por um corpo que cai quatro cúbitos seria o dobro<br />

<strong>da</strong> adquiri<strong>da</strong> ao cair dois cúbitos e essa última veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> seria o dobro <strong>da</strong> adquiri<strong>da</strong> no<br />

primeiro cúbito [...]’.<br />

Salviatti – ‘[...] sua proposição parece tão altamente provável que o nosso próprio<br />

autor admitiu [...] que ele havia por algum tempo compartilhado do mesmo engano’.<br />

(MAGIE, 1969, p. 2).<br />

O trecho acima foi extraído <strong>da</strong> terceira jorna<strong>da</strong> dos Discursos sobre as duas novas<br />

ciências. O cúbito era uma antiga uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>. Equivalia à distância do cotovelo ao<br />

<strong>de</strong>do médio (entre 45 e 52 cm). Com base no que vimos nesta aula, respon<strong>da</strong>:<br />

Que tipo <strong>de</strong> movimento está sendo discutido na citação acima? A que fenômeno se<br />

faz referência?<br />

A que concepção se refere Sagredo?<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

15


16<br />

3<br />

4<br />

Resumo<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

O que indicam as palavras <strong>de</strong> Salviati a respeito <strong>da</strong> posição <strong>de</strong> Galileu em relação a<br />

essa concepção?<br />

O que Galileu propôs?<br />

Nesta aula, vimos alguns aspectos <strong>da</strong>s profun<strong>da</strong>s transformações sofri<strong>da</strong>s<br />

pela astronomia durante a chama<strong>da</strong> “Revolução Científi ca”. Como procuramos<br />

mostrar, essas transformações estiveram intrinsecamente relaciona<strong>da</strong>s às<br />

alterações sofri<strong>da</strong>s pela dinâmica no mesmo período. Galileu Galilei, a partir <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ias já existentes que seriam fun<strong>da</strong>mentais para suas propostas colaboraria<br />

no sentido <strong>de</strong> impulsionar uma nova concepção para os movimentos terrestres.<br />

Na aula seguinte, discutiremos o papel <strong>de</strong> Galileu no estabelecimento do elo <strong>de</strong><br />

ligação entre a teoria do ímpeto e a dinâmica inercial, e apresentaremos algumas<br />

contribuições <strong>de</strong> René Descartes e Isaac Newton.<br />

Autoavaliação<br />

A partir do que vimos nesta aula, redija um pequeno texto a respeito <strong>de</strong> como<br />

as rupturas ocorri<strong>da</strong>s no período conhecido como “Revolução Científi ca” tanto<br />

em termos <strong>da</strong> astronomia, quanto <strong>da</strong> mecânica, foram essencialmente marca<strong>da</strong>s<br />

também pela retoma<strong>da</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> muitos pensamentos já existentes.<br />

Referências<br />

ARAÚJO FILHO, W. D. <strong>de</strong>. A gênese do pensamento galileano. São Paulo: Livraria <strong>da</strong> Física,<br />

2008.<br />

BAPTISTA, J. P.; FERRACIOLI, L. A evolução do pensamento sobre o conceito <strong>de</strong> movimento.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Física, v. 21, n. 1, p. 187-194, 1999.


CARUSO, F. A que<strong>da</strong> dos corpos e o aristotelismo: um estudo <strong>de</strong> caso do vestibular. Física na<br />

escola, v. 9, n. 2, p. 7-9, 2008.<br />

COPÉRNICO, N. Commentariolus. Trad. <strong>de</strong> R. <strong>de</strong> A. Martins. São Paulo: Livraria <strong>da</strong> Física<br />

Editora, 2003.<br />

DIJKSTERHUIS, E. J. The mechanization of the world picture. Trad. <strong>de</strong> C. Dikshoorn. Oxford:<br />

Clarendon Press, 1961.<br />

DUHEM, P. Salvar os fenômenos. Trad. <strong>de</strong> R. <strong>de</strong> A. Martins. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> <strong>História</strong> e Filosofi a<br />

<strong>da</strong> Ciência, n. 3, p. 1-105, 1984.<br />

GALILEU, G. Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano.<br />

Trad. <strong>de</strong> P. R. Maricon<strong>da</strong>. São Paulo: Discurso editorial Imprensa Ofi cial, 2004.<br />

GALILEU, G. Duas novas ciências. Trad. <strong>de</strong> P. R. Maricon<strong>da</strong>. São Paulo: Nova Estela, 1988.<br />

GONÇALVES-MAIA, R. O legado <strong>de</strong> Prometeu: uma viagem na história <strong>da</strong>s ciências. Lisboa:<br />

Escolar Editora, 2006.<br />

LOPES, M. H. A retrogra<strong>da</strong>ção dos planetas e suas explicações. 2003. Dissertação (Mestrado)<br />

- Pontifícia Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 2003.<br />

MAGIE, W. F. A source book in Physics. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1969.<br />

MARTINS, R <strong>de</strong> A. O universo: teorias sobre sua origem e evolução. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 1994.<br />

SILVA, C. C. A natureza dos cometas e o escorregão <strong>de</strong> Galileu. Scientifi c American <strong>História</strong><br />

– Gran<strong>de</strong>s erros <strong>da</strong> ciência, p. 20 - 25, out. 2006.<br />

SILVEIRA, F. L.; PEDUZZI, L. O. Q. Três episódios <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta científi ca: <strong>da</strong> caricatura<br />

empirista a uma outra história. Ca<strong>de</strong>rno Brasileiro <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Física, v. 23, p. 27-55, 2006.<br />

TAKIMOTO, E. <strong>História</strong> <strong>da</strong> física na sala <strong>de</strong> aula. São Paulo: Livraria <strong>da</strong> Física Editora, 2009.<br />

ZYLBERSZTAJN, A. A evolução <strong>da</strong>s concepções sobre força e movimento. Disponível em:<br />

. Acesso em: 28 out. 2009.<br />

______. Galileu: um cientista e várias versões. Ca<strong>de</strong>rno Catarinense <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Física, v.<br />

5, p. 36-48, 1988.<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência 17


18<br />

Anotações<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência


Anotações<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência<br />

19


20<br />

Anotações<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!