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Relatorio_Final_CNV_Parte_4

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Moralmente encontro-me no mesmo estado de sempre, apesar de tudo. As pessoas<br />

que me conhecem bem sabem qual é. Na verdade, amargura-me somente o fato de<br />

haver sido entregue às autoridades pelo indivíduo Edu Rodrigues, no qual depositei<br />

alguma confiança que liquidou minha liberdade.<br />

Desconheço totalmente os nomes e apelidos referidos por escrito. Não sei de quem<br />

se tratam e muito menos das atividades destas pessoas, se é que elas existem mesmo.<br />

Minha condição de preso e a verdade obrigam-me a desconfiar de tudo e de todos.<br />

Meus companheiros, como já declarei nos interrogatórios, perfazem 75 milhões de<br />

brasileiros. Deles não sei os nomes e morrerei por eles se preciso for.<br />

Estou ainda no pleno gozo da saúde mental, não perdi a calma nem a razão que meu<br />

temperamento determina.<br />

Ouvi dizer no DOPS que eu fui o detido mais “tratado” até hoje dos que lá<br />

passaram. Que mais posso temer Temor servil, pois, não tenho. Ainda não foi<br />

necessário demonstrar que não temo nem a morte. Talvez, em breve, isto venha a<br />

acontecer. O tempo dirá.<br />

Não fui ouvido em nenhum IPM. Mandaram-me para esta ilha-presídio na manhã<br />

do dia 19 de março e não mais me ouviram até hoje, apesar de estarem as<br />

autoridades sempre e sempre tentando obter informações que não tenho, por meio<br />

dos mais sutis e insidiosos artifícios.<br />

comissão nacional da verdade – relatório – volume i – dezembro de 2014<br />

Estou preso e incomunicável em meio de delinquentes comuns (ladrões, criminosos,<br />

viciados em tóxico etc.). Negam-me o direito de ter contato com minha família,<br />

bem como o de ser visitado por um oculista ou advogado.<br />

Mais uma vez repito aqui, agora, as linhas gerais das respostas que dei nos interrogatórios,<br />

bem como as circunstâncias de minha prisão:<br />

– Fui preso às 17h35 do dia 11 de março de 1966, sexta-feira, em frente ao auditório<br />

Araújo Vianna, depois de ter tido contato pessoal com o indivíduo Edu<br />

Rodrigues. Eu portava, na ocasião, uma bolsa preta de vulcouro e fecho ecler, a<br />

qual continha cerca de 2 mil recortes de jornais com inscrições de caráter político.<br />

Dois policiais à paisana seguraram o meu braço, enfiaram-me em um táxi<br />

DKW verde com tampo creme e conduziram-me para o quartel da 6 a Cia. de<br />

Polícia do Exército. Ali, debaixo de cruel massacre, no qual se destacaram o primeiro-tenente<br />

Nunes e o segundo-sargento Pedroso, iniciaram o interrogatório<br />

cujas respostas mantenho agora, novamente:<br />

– Eu estava em Porto Alegre a fim de conseguir emprego e normalizar a vida destruída<br />

pela revolução a 1 o de abril; cheguei a Porto Alegre no dia 26 de janeiro de<br />

1965 e regressei ao Rio de Janeiro no dia 6 de março; no dia 29 de setembro de 1965<br />

fui procurado em minha residência na Guanabara pelo colega Leony Lopes, que me<br />

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