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Relatorio_Final_CNV_Parte_4

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4. A Operação Radar (1973-1976): a dizimação de lideranças do PCB<br />

O DOI-CODI/II Exército analisando a estrutura e funcionamento do PCB, organizou<br />

uma relação de membros do CC [Comando Central] que, pela atuação e<br />

posição no partido, se presos, causariam com suas “quedas” danos irreparáveis, a<br />

curto e médio prazo, a essa organização de esquerda. 85<br />

127. A perseguição a lideranças do PCB vinha de longo tempo, desde antes da ditadura<br />

militar. Com o golpe de 1964, vários militantes e dirigentes do PCB foram monitorados, perseguidos<br />

e torturados, alguns sendo executados ou mortos depois de sessões de tortura. Essas perseguições, nos<br />

primeiros anos pós-golpe, com prisões, torturas e mortes, justificavam-se pela importância e abrangência<br />

que tinha o partido naqueles anos e pela doutrina do anticomunismo que sustentou a implantação<br />

da ditadura, no contexto de tensão da Guerra Fria. 86 Informe confidencial do Cenimar nº 481/70, de<br />

6 de agosto de 1970, identificava, para difusão no sistema nacional de informações, os 42 membros do<br />

Comitê Central do PCB, entre efetivos e suplentes. 87 No entanto, no final de 1973 a investida da repressão<br />

sobre o PCB passaria a ser muito mais intensa e sistemática. Na passagem do governo Médici para<br />

Ernesto Geisel, a luta armada contra a ditadura resumia-se a grupos da esquerda armada derrotados,<br />

que tiveram militantes mortos, banidos ou exilados; e o que restava dos guerrilheiros estava disperso<br />

em colunas que foram dizimadas aos poucos. Com a vitória da repressão, pelo menos do ponto de<br />

vista da eliminação de opositores, toda a estrutura montada, com uma lógica de atuação que vinha de<br />

anos de colaboração, com poderes, tráfico de influência, vantagens de cargos e gratificações de diárias<br />

e, principalmente, a impunidade, parecia não fazer mais sentido.<br />

comissão nacional da verdade – relatório – volume i – dezembro de 2014<br />

128. Marival Chaves Dias do Canto, ex-sargento do Exército que trabalhou no DOI do II<br />

Exército sob comando do major André Leite Pereira Filho, disse que:<br />

para o público interno, notadamente para as chefias desses órgãos, era necessário<br />

manter o DOI ativo, com o objetivo de mostrar aos escalões superiores que a oposição<br />

armada estava latente e que a escalada “subversivo-terrorista”, não obstante os<br />

reveses sofridos, ainda seria capaz de oferecer riscos à segurança nacional. 88<br />

129. O inimigo escolhido como a bola da vez foi o Partido Comunista Brasileiro (PCB), cuja opção<br />

contrária à luta armada era notória, inclusive com a reprovação pública de movimentos armados. Havia,<br />

no entanto, um conteúdo ideológico nessa escolha que, se fazia correlação com o sentimento anticomunista<br />

que marcou a chegada dos militares ao poder, estava também ligado ao crescente movimento de oposição,<br />

cada vez mais contundente, representado na política institucional do MDB, onde o PCB tinha influência.<br />

Os comunistas se destacavam na oposição à ditadura, tanto na divulgação internacional das graves violações<br />

de direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro, quanto no dia a dia da política, nos sindicatos, na imprensa,<br />

e também na política partidária, por meio do apoio ao MDB. Mais adiante, o PCB teria sua parcela<br />

de contribuição com a ampla vitória do partido de oposição nas eleições de 1974, quando ganhou 16 das 22<br />

cadeiras em disputa no Senado. Foram vitoriosos, por exemplo, Orestes Quércia (SP), Teotônio Vilela (AL),<br />

Itamar Franco (MG), Leite Chaves (PR), Marcos Freire (PE), Saturnino Braga (RJ) e Paulo Brossard (RS).<br />

No Congresso, o MDB saltou de 87 para 165 deputados federais e de 7 para 20 senadores, no que pode ser<br />

considerada uma das primeiras demonstrações de força da oposição à ditadura militar.<br />

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