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Relatorio_Final_CNV_Parte_4

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foi despido, ficando apenas de calção. Havia uma arma de fogo na sua calça, deixada nas proximidades,<br />

fato não percebido pelos agentes. Levaram o pai para o barracão e o penduraram por uma corda, de<br />

cabeça para baixo, e com socos, golpes de armas e ameaças de morte exigiram saber o paradeiro do<br />

filho Zequinha (que acompanhava Lamarca).<br />

86. O relator do caso de Otoniel na CEMDP, Luís Francisco Carvalho Filho, escreveu em<br />

seu voto: Reuel Pereira da Silva, soldado e morador no município, deu dois depoimentos à Justiça<br />

Militar, um em 1972 e outro em 1979. No primeiro dos depoimentos, além de esclarecer que se engajou<br />

na equipe de repressão, confirma que Otoniel já estava detido, sob sua guarda, antes de morrer, e<br />

esclarece que naquele momento o pai dos rapazes havia sido conduzido, algemado, para um barracão.<br />

Diz que foi surpreendido e atingido de raspão pelo tiro dado por Otoniel (informação desmentida pelo<br />

relatório da Operação Pajussara, que não registra vítimas, e por ele próprio, no depoimento de 1979).<br />

O depoente não conseguiu segurar Otoniel, apesar de sair em seu encalço, sendo que outros agentes o<br />

perseguiram, ouvindo depois diversos disparos.<br />

87. No depoimento à <strong>CNV</strong> e à CEV Rubens Paiva de São Paulo, Olival Barreto disse que:<br />

Eles enterraram os corpos de meu irmão, Otoniel, e de Santa Bárbara, que era o<br />

Roberto, nosso professor, que o Zequinha tinha levado para lá, para dar aula para<br />

nós. Eu me lembro que eles enterraram os corpos dos dois lá no Buriti Cristalino, no<br />

cemitério do lugar. E, logo em seguida, umas duas, três horas depois, eles mandaram<br />

arrancar os corpos deles, né Acho que veio uma ordem de Salvador, que tinha<br />

que levar os corpos para lá. Durante este período levaram meu pai para cima e para<br />

baixo, fazendo aquelas buscas ali, né Eles queriam mesmo era pegar o Cirilo, eles<br />

chamavam o Lamarca de Cirilo, [...] as pessoas do lugar sentiram muito medo, eu<br />

mesmo cheguei a ir na casa de pessoas que bateram a porta na minha cara.<br />

comissão nacional da verdade – relatório – volume i – dezembro de 2014<br />

O cara que fez o caixão do Zequinha e do Lamarca, eles pediram para fazer um<br />

caixão só para os dois... e o rapaz que fez o caixão disse que “eles estavam muito<br />

magrinhos” [...] porque o Lamarca não estava mais aguentando, muita gente da<br />

região viu o Zequinha carregá-lo nas costas.<br />

No dia 8, 9 de setembro eles voltaram a invadir nossa casa. A Dolores, minha irmã,<br />

tinha 15 anos... ela não podia ficar em casa, ficou fugida, porque eles falavam que iam<br />

estuprar ela quando pegassem meu pai. [diziam] “Vou dormir com ela essa noite”, nossa!<br />

eles fizeram uma miséria lá, vocês não imaginam o horror que fizeram com a gente.<br />

88. Olderico Barreto identificou o agente do DOI da Bahia, Emanoel Cerqueira. Ele foi<br />

testemunha de acusação em seu processo, na auditoria em Salvador. Ele disse que Emanoel Cerqueira<br />

foi o responsável pelo levantamento da área e por conduzir os corpos de Otoniel e Santa Bárbara até<br />

Salvador. Olival lembra-se de um cabo Pascoal, do Rio de Janeiro, que bateu na cara do seu pai e andou<br />

amedrontando as pessoas do lugar.<br />

89. Por volta de 16h30 do dia 17 de setembro de 1971, os agentes da Operação Pajussara finalmente<br />

localizaram Lamarca e Zequinha Barreto, no povoado de Pintada, em Ipupiara. Em seguida,<br />

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