Relatorio_Final_CNV_Parte_4
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cou pelo codinome Laecato Boa Morte] e segurou melhor [Onofre Pinto]. O Alberi<br />
me disse que eles queriam o Negão [Onofre] vivo. 77<br />
Dominado e algemado, Onofre foi colocado no banco de trás da Rural. Otávio e Alberi o conduziram<br />
até Foz do Iguaçu, seguidos por um comboio de carros com militares à paisana do CIE. Durante o<br />
trajeto, Alberi tentou “cantar” Onofre para ele passar a trabalhar para a repressão. Segundo Otávio,<br />
o Alberi falou para ele [Onofre Pinto]: “Negão [Onofre Pinto], a coisa já caiu, eu já<br />
estou em outra, passa para o nosso lado que você vai ficar vivo”. O Negão [respondeu]:<br />
“Não, eu não vou, eu não sou que nem você, quinta coluna, não”. 78<br />
120. Em Foz do Iguaçu, Onofre foi levado para uma casa de passagem do Exército, usada<br />
como hospedagem de militares, nas proximidades do hotel Cassino. Nessa casa, teria sido submetido a<br />
interrogatório por oficiais do Exército, como Paulo Malhães, além de agentes como Camarão e Laecato.<br />
Rainolfo diz que levou Onofre para a agência dos Correios da avenida Brasil, no centro de Foz do<br />
Iguaçu, para passar um telegrama para a esposa, Idalina Maria Pinto. A ordem aos oficiais do CIE teria<br />
sido tentar convencer Onofre a colaborar com o Exército. No entanto, enquanto estavam na casa, teria<br />
chegado nova ordem, de um superior do CIE, dessa vez para “levantar acampamento”, ou seja, encerrar<br />
a missão, com a execução do preso. Desde março de 1974, o chefe do CIE era o general de Brigada<br />
Confúcio Danton de Paula Avelino, que havia sucedido o general de Brigada Milton Tavares de Souza.<br />
O tenente-coronel Cyro Guedes Etchegoyen atuou como chefe da Seção de Contrainformações do CIE<br />
até julho, quando assumiu o comando do 13º Grupo de Artilharia de Campanha, em Cachoeira do Sul<br />
(RS). O tenente-coronel Carlos Sérgio Torres era chefe da Seção de Operações do CIE.<br />
comissão nacional da verdade – relatório – volume i – dezembro de 2014<br />
121. Onofre teria sido morto após receber injeção de Shelltox, um inseticida. Cortaram<br />
seu corpo e inseriram uma peça de câmbio de automóvel. Em seguida, foi levado no porta malas de<br />
um Opala preto, seguido por vários carros, para a antiga estrada de acesso a Guaíra (PR) e, antes de<br />
chegarem a Santa Helena, pararam na ponte e o jogaram nas águas do rio São Francisco Falso. Essa<br />
região, anos depois, foi inundada para formar o lago de Itaipu.<br />
122. Paulo Malhães confirmou a participação de Laecato e Camarão na ação dentro do<br />
Parque Nacional do Iguaçu. 79 O êxito da operação clandestina montada pelo CIE, de atração e<br />
eliminação do grupo de Onofre Pinto, teria dado a Paulo Malhães e José Brant Teixeira, majores<br />
do CIE, grande prestígio dentro dos órgãos de repressão política. É possível que o então capitão<br />
Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, também tenha participado do planejamento da operação.<br />
80 O então capitão Areski de Assis Pinto Abarca era o capitão chefe da 2ª Seção do 1º Batalhão<br />
de Fronteira de Foz do Iguaçu e foi o responsável local pela operação. Estavam na 2ª Seção do<br />
Batalhão de Foz do Iguaçuos militares Aramis Ramos Pedrosa, Jamil Jomar de PaulaMario Espedito<br />
Ostrovski, o sargento Vanderlei Batista e o cabo Maciel do Rosário. O tenente-coronel José Pessoa<br />
Guedes era o comandante do Batalhão.<br />
123. A operação teve êxito devido à atuação de colaboradores da repressão que se passavam<br />
por militantes de grupos de oposição, especialmente, nesse caso, ao ex-sargento Alberi Vieira dos<br />
Santos. Segundo Cyro Guedes Etchegoyen, chefe de Contrainformação do CIE e que comandou os<br />
majores do CIE Paulo Malhães, José Brant Teixeira e Rubens Paim Sampaio,<br />
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