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edição 211 impresso pdf - Jornal Copacabana

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ANUNCIE: 2549-1284 / copa@jornalcopacabana.com.br<br />

Especial<br />

Oscar Niemeyer<br />

Fotos: Divulgação<br />

Por Renata Moreira Lima<br />

e Alexandre Luiz Rocha<br />

Considerado o maior nome da arquitetura do mundo, nasceu no Rio de Janeiro em 1907. Sua brilhante trajetória<br />

se iniciou cedo, no escritório do renomado Lúcio Costa, após se formar em Belas Artes. Logo sobressaiu com<br />

seus traços curvilíneos e voluptuosos quebrando a rigidez das linhas retas que então predominavam o cenário da<br />

arquitetura.<br />

Niemeyer deixou a sua marca impressa em várias obras importantes espalhadas pelo mundo.<br />

No Brasil é autor do projeto do Palácio da Alvorada (Brasília), o conjunto arquitetônico da Pampulha (Belo Horizonte)<br />

e do Ibirapuera e COPAN (São Paulo), Obra do Berço, Hospital do Fundão, no Rio de Janeiro, e o MAC em<br />

Niterói, entre outros. No exterior a Universidade de Constantine (Argélia), a sede da Editora Mandadori (Itália) e o<br />

Espaço Niemeyer, em Le Havre (França) são algumas de suas obras mais admiráveis.<br />

Além de construções erguidas em várias partes do mundo, o trabalho de Niemeyer já mereceu títulos, condecorações,<br />

prêmios e homenagens na Argentina, Bulgária, Chile, Cuba, Estados Unidos, França, Itália, México, Peru,<br />

Polônia, Portugal, Rússia e Venezuela. (Entrevista ao <strong>Jornal</strong> <strong>Copacabana</strong> reallizada em 2005).<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Copacabana</strong>: Sua ligação com<br />

<strong>Copacabana</strong> provavelmente não se restringe<br />

ao fato de ali manter seu escritório:<br />

poderia citar fatos de sua história<br />

pessoal que se entrelacem com o bairro<br />

Oscar Niemeyer: Quando garoto, passava<br />

alguns meses em <strong>Copacabana</strong>. Como<br />

gostava de passar as manhãs na praia, de<br />

ir cedo assistir os pescadores a trazerem<br />

os seus peixes do mar! E, mais velho um<br />

pouco, a correr para furar as ondas ou com<br />

elas descer em jacaré até à areia. Depois,<br />

já adulto, lembro o Clube dos Marimbás, o<br />

Carlos Niemeyer, meus amigos Cavalcanti,<br />

Linhares, Chico Brito, um ambiente de<br />

boemia e solidariedade que nunca esqueci.<br />

Agora olho a praia da janela... como <strong>Copacabana</strong><br />

é bonita!<br />

J. C: Mesmo com a forma tremendamente<br />

especulativa como se deu a ocupação<br />

de <strong>Copacabana</strong>, opção de moradia de<br />

milhares de pessoas, qual seria sua proposta<br />

para a revitalizar nosso bairro<br />

O.N.: Qualquer solução urbanística desejável<br />

seria cara demais. O melhor é nos<br />

adaptarmos tranqüilamente.<br />

Um dia, escrevi sobre <strong>Copacabana</strong> e lembrei<br />

que, em vez deste correr de prédios<br />

todos grudados uns nos outros, se os tivessem<br />

construído sobre pilotis de modo que<br />

da Avenida Nossa Senhora de <strong>Copacabana</strong><br />

a vista se estendesse sob estes até o mar,<br />

seria sem dúvida muito melhor.<br />

Reclamei das modificações que tomaram a<br />

praia mais curta, as ondas menores a baterem<br />

fracamente contra a areia.<br />

Mas para que reclamar, se <strong>Copacabana</strong><br />

continua belíssima e as mulheres tão lindas<br />

quanto antes!<br />

J.C: Quantos projetos de sua autoria<br />

existem em <strong>Copacabana</strong><br />

O.N: Em <strong>Copacabana</strong>, nenhum projeto<br />

importante, ou melhor, há o prédio do<br />

Centro Cultural do SESC, na rua Domingos<br />

Ferreira.<br />

J.C: Quais são os locais de sua preferência<br />

em <strong>Copacabana</strong><br />

O.N: O importante em <strong>Copacabana</strong> é tudo<br />

que está ligado ao mar e à praia.<br />

Lembro que um dia Darcy Ribeiro comentou<br />

que o peitoril das varandas de seu apartamento<br />

era tão alto que não se via o mar,<br />

e eu suspendi 20 cm do piso de seu apartamento.<br />

E o meu amigo ficou feliz vendo o<br />

mar entrar pela sala adentro.<br />

JC:. Como vê o futuro do Rio de Janeiro:<br />

acha possível um resgate das características<br />

que a fizeram Cidade Maravilhosa<br />

O.N: A Barra transformou o Rio num corredor,<br />

e o tráfego de <strong>Copacabana</strong> ficou<br />

congestionado. Esse é um dos maiores<br />

problemas a resolver num futuro próximo.<br />

J.C: Que convicções mantém vivas dentre<br />

aquelas que marcam seu posicionamento<br />

ideológico, como militante socialista<br />

O.N: A idéia de que a vida é injusta e é<br />

preciso mudar e criar uma sociedade mais<br />

humana, sem pobres nem ricos.<br />

J.C: Com quase um século de vida, o<br />

senhor presenciou uma série de acontecimentos<br />

históricos. Concordaria em<br />

avaliar as mudanças do Brasil ao longo<br />

desses anos<br />

O.N: Foram tantas! E é com revolta que<br />

vejo que muito pouca coisa mudou: a burguesia<br />

nos seus apartamentos de luxo e<br />

os nossos irmãos mais pobres pendurados<br />

pelas favelas da cidade. Um dia tudo vai<br />

se modificar. Eles representam a maioria,<br />

estão revoltados e têm razão.<br />

J.C: Como o senhor explica as ousadas<br />

curvas do concreto, traço marcante na<br />

sua obra que influenciou gerações de arquitetos<br />

no Brasil e no mundo<br />

O.N: Um dia André Malraux declarou:<br />

“Tenho o meu museu particular onde guardo<br />

tudo que vi e amei na vida.’ E o mesmo<br />

acontece comigo.<br />

J.C: Qual foi a importância do contato<br />

com Le Corbusier no projeto para<br />

construção da Cidade Universitária em<br />

1936<br />

O.N: O projeto que ele fez para a Cidade<br />

Universitária não foi levado a sério nem<br />

construído.<br />

É claro que tivemos contatos quando da<br />

criação do edifício -sede do Ministério da<br />

Educação e Saúde. Mas Le Corbusier gostava<br />

do ângulo reto e eu da curva, e seguimos<br />

caminhos diferentes.<br />

J.C: A importância de JK na sua trajetória<br />

profissional foi decisiva para a<br />

construção da Pampulha e de Brasília.<br />

Fale-nos um pouco sobre ele.<br />

O.N: Pampulha foi o início de Brasília.<br />

A primeira obra de JK como homem público,<br />

o meu primeiro projeto, a primeira<br />

construção coordenada pelo engenheiro<br />

Marco Paulo Rabelo. A mesma correria de<br />

Brasília, as mesmas angústias, o mesmo<br />

entusiasmo, a mesma preocupação em terminar<br />

a obra no prazo fixado. E o sucesso<br />

de Pampulha a influir na determinação de<br />

JK de construir a nova capital.<br />

Lembro-o, anos depois, a me procurar na<br />

minha casa das Canoas: “Oscar, fizemos<br />

Pampulha, agora vamos construir a nova<br />

capital.” Era o seu sonho predileto que começava<br />

a se concretizar.

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