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Retalho ascendente de trapézio: relato de caso - ABCCMF

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<strong>Retalho</strong> <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> <strong>de</strong> trapézio: <strong>relato</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong><br />

RELATO DE CASO<br />

<strong>Retalho</strong> <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> <strong>de</strong> trapézio: <strong>relato</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong><br />

Ascen<strong>de</strong>nt trapezius flap: case report<br />

Roberto Junqueira Polizzi 1 , Sérgio Moreira da Costa 2 , José Maria Porcaro Salles 3 , Paulo Roberto da Costa 4 ,<br />

Alexandre <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Sousa 5 , Jomar Rezen<strong>de</strong> Carvalho 6 , Guilherme <strong>de</strong> Souza Silva 7<br />

RESUMO<br />

Introdução: O retalho <strong>de</strong> músculo trapézio como<br />

<strong>de</strong>scrito por Demergasso e Baek apresentou altas taxas <strong>de</strong><br />

complicação, o que motivou seu abandono. A melhor compreensão<br />

da anatomia vascular da região dorsal possibilitou<br />

a realização <strong>de</strong> um retalho <strong>de</strong> músculo trapézio baseado no<br />

segmento <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong>, que permite a confecção <strong>de</strong> cobertura<br />

cutânea para diversos <strong>de</strong>feitos na região da cabeça e<br />

pescoço, com baixa morbida<strong>de</strong> da área doadora. Relato<br />

do Caso: Nesse artigo, relatamos o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> um paciente<br />

do sexo masculino, 66 anos, submetido a transferência <strong>de</strong><br />

um retalho miocutâneo do segmento <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> do trapézio<br />

para promover a cobertura <strong>de</strong> um <strong>de</strong>feito pós-ablativo<br />

em região craniofacial lateral. Conclusão: Queremos<br />

<strong>de</strong>monstrar a confiabilida<strong>de</strong> e aplicabilida<strong>de</strong> do uso do<br />

retalho <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> do trapézio para cobertura <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos<br />

complexos em região craniofacial.<br />

Descritores: Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos.<br />

<strong>Retalho</strong>s cirúrgicos. Cirurgia plástica/métodos. Neoplasias<br />

<strong>de</strong> cabeça e pescoço/cirurgia. Músculos do pescoço.<br />

abstract<br />

Introduction: The trapezius muscle flap as <strong>de</strong>scribed<br />

by Baek and Demergasso showed high complication rates,<br />

which caused its abandonment. A better un<strong>de</strong>rstanding of<br />

vascular anatomy of the dorsal region enabled the <strong>de</strong>velopment<br />

of a trapezius muscle flap based on the ascending<br />

segment, which allows the production of skin coverage for<br />

various <strong>de</strong>fects in the head and neck with low morbidity of<br />

the donor area. Case Report: In this paper, we report a<br />

case of a male patient, 66 years, who un<strong>de</strong>rwent a transfer<br />

of a flap of the ascending segment of the trapezius to<br />

promote coverage of a <strong>de</strong>fect in post-ablative craniofacial<br />

region. Conclusion: We <strong>de</strong>monstrate the reliability and<br />

applicability of the trapezius flap to cover complex <strong>de</strong>fects<br />

in the craniofacial region.<br />

Key words: Reconstructive surgical procedures. Surgical<br />

flaps. Surgery, plastic/methods. Head and neck neoplasms/<br />

surgery. Neck muscles.<br />

1. Membro Especialista da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Cirurgia Plástica<br />

(SBCP), Preceptor do Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais (UFMG), Membro do Serviço <strong>de</strong><br />

Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça e Pescoço do Instituto Alfa <strong>de</strong> Gastroenterologia (IAG)<br />

do Hospital das Clínicas da UFMG (HC/UFMG) – Belo Horizonte, MG.<br />

2. Professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFMG, Membro titular fundador<br />

da Associação Brasileira <strong>de</strong> Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial (<strong>ABCCMF</strong>),<br />

Membro Titular da SBCP, Coor<strong>de</strong>nador da Clínica <strong>de</strong> Cirurgia Plástica do<br />

Hospital Felício Rocho – Belo Horizonte, MG.<br />

3. Professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFMG, Coor<strong>de</strong>nador do Grupo<br />

<strong>de</strong> Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça e Pescoço do IAG do HC/UFMG, Membro da<br />

Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça e Pescoço.<br />

4. Membro titular da SBCP, Professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFMG,<br />

Preceptor do Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da UFMG.<br />

5. Membro da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça e Pescoço, Preceptor<br />

do Grupo <strong>de</strong> Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça e Pescoço do IAG do HC/UFMG.<br />

6. Membro da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça e Pescoço, Preceptor<br />

do Grupo <strong>de</strong> Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça e Pescoço do IAG do HC/UFMG.<br />

7. Resi<strong>de</strong>nte do Grupo <strong>de</strong> Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça e Pescoço do IAG do HC/<br />

UFMG.<br />

Correspondência: Roberto Junqueira Polizzi<br />

Rua Juvenal Melo Senra, 395/408 – Belve<strong>de</strong>re – Belo Horizonte, MG,<br />

Brasil – CEP 30320-660<br />

E-mail: robertopolizzi@yahoo.com<br />

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Polizzi RJ et al.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Atualmente, a reconstrução complexa <strong>de</strong> cabeça e pescoço<br />

secundária à ablação <strong>de</strong> tumores ou traumas craniofaciais é<br />

realizada preferencialmente com a utilização <strong>de</strong> retalhos livres<br />

microvascularizados, uma vez que <strong>de</strong>terminam melhores<br />

resultados funcionais e estéticos 1 . Entretanto, existem situações<br />

que impe<strong>de</strong>m a utilização das opções microcirúrgicas,<br />

como em <strong>caso</strong> <strong>de</strong> perdas sequenciais múltiplas <strong>de</strong> retalhos<br />

livres, pacientes gravemente <strong>de</strong>bilitados e com curta expectativa<br />

<strong>de</strong> vida. Algumas opções <strong>de</strong> retalhos pediculados<br />

fornecem bons resultados, como os retalhos miocutâneos dos<br />

músculos peitoral maior e gran<strong>de</strong> dorsal.<br />

A utilização <strong>de</strong> retalho trapézio, como <strong>de</strong>scrito inicialmente<br />

por Demergasso & Piazza 2 e, posteriormente, por Baek<br />

et al. 3 , apresentou altas taxas <strong>de</strong> complicação nas reconstruções<br />

<strong>de</strong> cabeça e pescoço. Concomitantemente, diversas<br />

controvérsias relativas ao seu suprimento sanguíneo e as<br />

possíveis sequelas funcionais na área doadora <strong>de</strong>terminaram<br />

seu abandono como uma opção inicial.<br />

Entretanto, a melhor compreensão da vascularização<br />

cutânea obtida com o <strong>de</strong>senvolvimento dos retalhos perfurantes<br />

e <strong>de</strong> estudos anatômicos da região do dorso tornou a<br />

utilização <strong>de</strong>ste retalho mais confiável.<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é relatar um <strong>caso</strong> <strong>de</strong> utilização do<br />

retalho miocutâneo da parte <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> do músculo trapézio.<br />

Anatomia<br />

O músculo trapézio é um músculo superficial <strong>de</strong> formato<br />

triangular que se esten<strong>de</strong> da linha nucal até o processo espinhoso<br />

<strong>de</strong> T12. Fixa-se na escápula, clavícula e acrômio. É<br />

dividido em três segmentos:<br />

• <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte ou superior: surge no ligamento nucal e<br />

processos espinhosos das vértebras cervicais até C7 e se<br />

insere no terço lateral da clavícula. Sua irrigação é predominantemente<br />

proveniente <strong>de</strong> ramos da artéria occipital;<br />

• transverso ou médio: surge nos processos espinhosos <strong>de</strong> T1<br />

a T5 e se insere no acrômio. A artéria cervical superficial<br />

(ramo superficial da artéria cervical transversa) é a principal<br />

fonte <strong>de</strong> irrigação arterial. Encontra-se superficialmente aos<br />

músculos romboi<strong>de</strong>s e levantador da escápula. É acompanhado<br />

pelo nervo espinhal acessório.<br />

• <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> ou inferior: surge nos processos espinhosos <strong>de</strong><br />

T6 a T12 e se insere na espinha da escápula. É irrigado<br />

pela artéria escapular dorsal (ramo profundo da artéria<br />

cervical transversa), a qual se encontra profundamente<br />

aos músculos rombói<strong>de</strong> menor e levantador da escápula.<br />

Participa ativamente da elevação e estabilização do ombro,<br />

seja pela sua ação direta ou indireta na mobilização da articulação<br />

gleno-humeral e da escápula.<br />

O conhecimento anatômico <strong>de</strong> outros músculos também é<br />

fundamental para a correta confecção do retalho <strong>de</strong> trapézio.<br />

Os músculos romboi<strong>de</strong>s maior e menor surgem, respectivamente,<br />

nos processos espinhosos entre T1-T4 e C6-C7 e se<br />

inserem na margem medial da escápula. Atuam na elevação e<br />

retração da escápula. São um importante referencial, uma vez<br />

que a irrigação arterial do segmento <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> ou inferior do<br />

músculo trapézio atravessa por entre os mesmos para atingir<br />

o músculo trapézio e a pele adjacente.<br />

O músculo levantador da escápula surge dos processos<br />

transversos das vértebras <strong>de</strong> C1 a C4 e se insere no ângulo<br />

superior da escápula. Age na elevação da escápula.<br />

O retalho do segmento <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> ou inferior do músculo<br />

trapézio baseia-se na irrigação miocutânea local proveniente<br />

<strong>de</strong> ramos da artéria escapular dorsal.<br />

A marcação da ilha cutânea <strong>de</strong>ve ser realizada em posição<br />

ortostática. A marcação concomitante das referências anatômicas<br />

locais (musculatura romboi<strong>de</strong> e escápula) facilita a<br />

correta <strong>de</strong>limitação da ilha <strong>de</strong> pele. Deve-se respeitar o limite<br />

inferior <strong>de</strong> 10 cm do ângulo inferior da escápula. Pelo menos<br />

um terço da ilha cutânea <strong>de</strong>ve sobrepor o músculo trapézio.<br />

O pivot <strong>de</strong> rotação do retalho encontra-se entre os músculos<br />

romboi<strong>de</strong> maior e menor.<br />

RELATO DO CASO<br />

Paciente J.C.A., gênero masculino, leuco<strong>de</strong>rma, 66 anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, compareceu ao ambulatório <strong>de</strong> Cirurgia <strong>de</strong> Cabeça<br />

e Pescoço do Instituto Alfa <strong>de</strong> Gastroenterologia do Hospital<br />

das Clínicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />

queixando-se <strong>de</strong> múltiplas lesões <strong>de</strong> pele em face e tronco, as<br />

quais apresentaram crescimento progressivo e assintomático.<br />

Ao exame físico, observava-se, além <strong>de</strong> lesões pequenas<br />

em dorso nasal e tronco, uma extensa lesão úlcero-infiltrativa<br />

em pavilhão auricular direito com extensão a pele retroaural,<br />

sem linfoa<strong>de</strong>nopatia regional associada. Foi realizada biopsia<br />

incisional das lesões que diagnosticaram Carcinoma basoespinocelular.<br />

Optou-se, portanto, pela ressecção local com<br />

reconstrução imediata.<br />

Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009, o paciente foi submetido a<br />

ressecção oncológica e, <strong>de</strong>vido à i<strong>de</strong>ntificação per-operatória<br />

<strong>de</strong> extensa coleção purulenta local retrotumoral, optou-se pela<br />

reconstrução tardia da área cruenta residual. No pós-operatório,<br />

foi realizada antibioticoterapia com ciprofloxacina e<br />

metronidazol e cuidados locais com curativos diários <strong>de</strong> sulfadiazina<br />

<strong>de</strong> prata 1%. No sétimo dia <strong>de</strong> pós-operatório, com<br />

a melhora das condições locais, foi indicada a reconstrução<br />

com retalho miocutâneo <strong>de</strong> músculo trapézio para cobertura<br />

<strong>de</strong> extensa área cruenta (14x11 cm), com exposição óssea em<br />

região craniofacial lateral direita (Figura 1).<br />

O procedimento cirúrgico foi realizado com o paciente<br />

em <strong>de</strong>cúbito lateral esquerdo. Realizou-se previamente a<br />

marcação <strong>de</strong> uma ilha cutânea em região dorsal <strong>de</strong> 14 x 11<br />

cm, com limite inferior da marcação sendo 10 cm do ângulo<br />

inferior da escápula (Figura 2). O pivot <strong>de</strong> rotação do retalho<br />

encontra-se entre os músculos romboi<strong>de</strong> maior e menor. Não<br />

foi realizada previamente a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> vasos perfurantes<br />

para a ilha cutânea com uso <strong>de</strong> doppler vascular.<br />

Iniciou-se o procedimento com incisão circunferencial<br />

na ilha <strong>de</strong> pele com i<strong>de</strong>ntificação da fáscia sobre o músculo<br />

gran<strong>de</strong> dorsal, do vaso perfurante da artéria escapular<br />

dorsal (penetrando na margem superior do retalho cutâneo).<br />

Proce<strong>de</strong>u-se ao <strong>de</strong>scolamento subfascial do retalho em sentido<br />

caudal-cranial, com i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> músculo trapézio no terço<br />

proximal da ilha cutânea. Associou-se uma incisão cutânea<br />

longitudinal em direção ao pivot <strong>de</strong> rotação do retalho,<br />

seguida <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolamento cutâneo local, visando à exposição<br />

da musculatura dorsal e do ramo para o músculo trapézio da<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(4): 259-62<br />

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<strong>Retalho</strong> <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> <strong>de</strong> trapézio: <strong>relato</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong><br />

artéria escapular dorsal. Confeccionou-se o retalho contendo<br />

uma pequena extensão da porção <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> do músculo<br />

trapézio, contendo o ramo muscular e septocutâneo da artéria<br />

escapular dorsal, até o pivot <strong>de</strong> rotação do mesmo (Figura 3).<br />

Com o intuito <strong>de</strong> transferir o retalho para a área receptora,<br />

foi realizado um túnel subcutâneo na região dorsal supraescapular,<br />

com aproximadamente 6 cm <strong>de</strong> largura.<br />

Após a revitalização da área receptora, o retalho miocutâneo<br />

trapézio foi suturado utilizando-se, concomitantemente,<br />

pontos <strong>de</strong> ancoragem na fáscia temporal profunda e SMAS.<br />

A área doadora foi aproximada parcialmente com um extenso<br />

<strong>de</strong>scolamento cutâneo, e <strong>de</strong>vido à posição dorsocaudal optouse<br />

pela cicatrização por segunda intenção. Drenos <strong>de</strong> sucção<br />

a vácuo foram posicionados da área receptora.<br />

Orientou-se o paciente a evitar <strong>de</strong>cúbito dorsal e lateral<br />

direito durante 10 dias. No pós-operatório, não se evi<strong>de</strong>nciou<br />

sofrimento vascular do retalho, embora tenha sido i<strong>de</strong>ntificada<br />

uma coleção purulenta local com pequena <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> pele<br />

em ponto <strong>de</strong> drenagem, a qual teve resolução a<strong>de</strong>quada com<br />

antibioticoterapia e cuidados locais (Figura 4).<br />

Não houve limitação ao exame clínico, realizado em<br />

acompanhamento pós-operatório, dos movimentos <strong>de</strong> retração<br />

e estabilização da escápula. Manteve-se a elevação do ombro<br />

ipsilateral inalterada.<br />

Figura 2 - Marcação do retalho <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> <strong>de</strong> trapézio.<br />

Figura 3 - Confecção do retalho.<br />

DISCUSSÃO<br />

O conhecimento das mais variadas opções reconstrutivas<br />

é fundamental para cirurgiões plásticos envolvidos em<br />

reconstruções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>. Embora a técnica<br />

microcirúrgica ofereça um gran<strong>de</strong> leque <strong>de</strong> opções para resolução<br />

<strong>de</strong> uma sequela ablativa ou traumática, ocasionamente,<br />

<strong>de</strong>paramos-nos com situações que necessitam da utilização<br />

<strong>de</strong> métodos convencionais.<br />

O retalho <strong>de</strong> trapézio, como <strong>de</strong>scrito por Demergasso<br />

& Piazza 2 e Baek et al. 3 , possibilitou, principalmente, a<br />

confecção <strong>de</strong> cobertura cutânea na região da cabeça e pescoço.<br />

Entretanto, a falta <strong>de</strong> conhecimento anatômico vascular da<br />

região conduziu a um número elevado <strong>de</strong> <strong>relato</strong>s <strong>de</strong> insucessos<br />

com a utilização <strong>de</strong>sse retalho.<br />

Figura 1 - Extensa área cruenta craniofacial lateral com<br />

exposição <strong>de</strong> calota craniana.<br />

Figura 4 - Pós-operatório <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> retalho<br />

<strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> <strong>de</strong> trapézio.<br />

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Polizzi RJ et al.<br />

Somente após estudos da vascularização cutânea realizados<br />

por Taylor & Palmer 4 , e <strong>de</strong> estudos anátomo-clínicos<br />

da região dorsal conduzidos por Weiglen et al. 5 , Haas et<br />

al. 6 , e Tan & Tan 7 , é que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a confiabilida<strong>de</strong> do<br />

retalho da parte <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> do músculo trapézio (enten<strong>de</strong>-se<br />

como confiabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um retalho a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir<br />

uma cobertura estável <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada ferida <strong>de</strong>vido à<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confecção, promover a substituição por tecidos<br />

semelhantes e ter uma fácil reprodutibilida<strong>de</strong>). Compreen<strong>de</strong>use<br />

a importância da artéria escapular dorsal na irrigação da<br />

parte inferior do músculo trapézio e da pele adjacente, bem<br />

como se <strong>de</strong>finiu o seu trajeto usual. Verificou-se que, em 54%<br />

das dissecções anatômicas, a artéria escapular dorsal surgia em<br />

um tronco comum cervicodorsal (juntamente à artéria cervical<br />

superficial) ou em um tronco cervicodorsoescapular (com as<br />

artérias cervical superficial e supraescapular). Em 34% das<br />

vezes, surgia diretamente da artéria subclávia.<br />

Posteriormente, Angrigiani et al. 8 observaram a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> realização <strong>de</strong> um retalho perfurante da artéria<br />

escapular dorsal com a preservação do músculo trapézio, o<br />

que propiciaria menor morbida<strong>de</strong> na área doadora do retalho.<br />

Esses autores realizaram transferência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s retalhos<br />

dorsais após expansão prévia. Alguns anos <strong>de</strong>pois, em 2006,<br />

Angrigiani 9 confirmou a possibilida<strong>de</strong>, já apresentada por<br />

Gregor & Davidge-Pitts 10 , <strong>de</strong> transferência associada <strong>de</strong> um<br />

segmento ósseo da margem medial da escápula baseado no<br />

ramo profundo da artéria escapular dorsal, com o objetivo <strong>de</strong><br />

reconstruir um segmento mandibular lateral.<br />

A partir <strong>de</strong>sses <strong>relato</strong>s iniciais, observou-se maior aceitação<br />

e difusão <strong>de</strong> da indicação <strong>de</strong>sse retalho. Ocorreu a<br />

reintegração do retalho <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> do músculo trapézio no<br />

armamentário do cirurgião reconstrutor.<br />

Esse retalho é indicado principalmente para cobertura<br />

cutânea na região occipital, região lateral da face, região<br />

cervical anterior (até o mento), terço médio facial e região<br />

orbitária. Existem <strong>relato</strong>s da sua utilização para cobertura <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>feitos viscerais na região jugal, base <strong>de</strong> língua, hipofaringe<br />

e esôfago cervical 11 , sendo isso possível pelo incremento<br />

do tamanho do pedículo do retalho e arco <strong>de</strong> rotação ao se<br />

progredir na dissecção através dos músculos romboi<strong>de</strong> menor<br />

e levantador da escápula.<br />

Uma morbida<strong>de</strong> aceitável na área doadora do retalho<br />

ocorre, pois somente a parte inferior do músculo é atingida.<br />

O segmento transverso mantém parcialmente as funções <strong>de</strong><br />

retração e <strong>de</strong>pressão da escápula. Não há prejuízo da elevação<br />

do ombro. O nervo espinhal acessório não é sacrificado nessa<br />

opção <strong>de</strong> retalho, como po<strong>de</strong> ocorrer quando é realizado um<br />

retalho da parte transversa <strong>de</strong>sse músculo.<br />

Uma <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> sua realização é a escassez <strong>de</strong> vasos<br />

perfurantes e o calibre reduzido dos mesmos, o que dificulta<br />

a realização <strong>de</strong> retalhos perfurantes e a elevação <strong>de</strong> ilhas <strong>de</strong><br />

pele distais.<br />

CONCLUSÃO<br />

O retalho <strong>ascen<strong>de</strong>nte</strong> <strong>de</strong> trapézio é uma boa opção para<br />

reconstruções complexas na região da cabeça e pescoço, principalmente<br />

para pacientes sem condições <strong>de</strong> serem submetidos<br />

a reconstruções microcirúrgicas. Ele permite a confecção <strong>de</strong><br />

coberturas cutâneas e revestimentos viscerais, com baixa<br />

morbida<strong>de</strong> na área doadora e com boa confiabilida<strong>de</strong>.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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technique & clinical applications.1 st ed. St. Louis:Quality;2006.<br />

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10. Gregor RT, Davidge-Pitts KJ. Trapezius osteomyocutaneous flap for<br />

mandibular reconstruction. Arch Otolaryngol. 1985;111(3):198-<br />

203.<br />

11. Haas F, Weiglein A. Trapezius flap. In: Wei FC, Mardini S, eds.<br />

Flaps and reconstructive surgery. 1 st ed. Phila<strong>de</strong>lphia: Saun<strong>de</strong>rs<br />

Elsevier;2009. p.249-69.<br />

Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.<br />

Artigo recebido: 15/5/2010<br />

Artigo aceito: 11/8/2010<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(4): 259-62<br />

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