Prevalência do estrabismo na craniossinostose coronal ... - ABCCMF
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Prevalência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> <strong>na</strong> <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Prevalência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> <strong>na</strong> <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l<br />
unilateral. Há benefício com a cirurgia craniofacial<br />
Prevalence of strabismus in unilateral coro<strong>na</strong>l synostosis. Is there a<br />
benefit with craniofacial surgery<br />
Cassio Eduar<strong>do</strong> Raposo-<strong>do</strong>-Amaral 1 , Cesar Augusto Raposo-<strong>do</strong>-Amaral 2 , Marcelo de Campos Guidi 3 , Celso Luiz Buzzo 4<br />
RESUMO<br />
Introdução: Os objetivos <strong>do</strong> presente trabalho foram:<br />
1. Identificar a prevalência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> nos pacientes<br />
diagnostica<strong>do</strong>s com <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral<br />
(CCU); 2. Estabelecer a associação <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> com o<br />
torcicolo muscular congênito nos pacientes com CCU; 3.<br />
Verificar a eficácia da cirurgia óssea <strong>na</strong> evolução e <strong>na</strong> cura<br />
<strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong>. Méto<strong>do</strong>: Trata-se de estu<strong>do</strong> retrospectivo<br />
realiza<strong>do</strong> entre o perío<strong>do</strong> de janeiro de 2000 a janeiro de<br />
2010, no qual foram estuda<strong>do</strong>s pacientes submeti<strong>do</strong>s ao tratamento<br />
da <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral, com idades<br />
entre 3 e 6 meses. A presença <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> foi identificada<br />
durante o protocolo de exame clínico inicial, corroborada<br />
pela inspeção das fotografias <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> pré-operatório.<br />
Resulta<strong>do</strong>s: Dos 14 pacientes identifica<strong>do</strong>s que atenderam<br />
aos critérios de inclusão <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>, 10 apresentavam<br />
<strong>estrabismo</strong> (71% <strong>do</strong>s pacientes). Nove pacientes foram<br />
diagnostica<strong>do</strong>s com CCU à direita e cinco à esquerda. Oito<br />
pacientes apresentaram a combi<strong>na</strong>ção torcicolo congênito<br />
e <strong>estrabismo</strong>. Conclusão: Existe importante correlação<br />
entre o diagnóstico <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> e o torcicolo congênito<br />
<strong>na</strong>s CCU. As alterações ósseas <strong>na</strong> <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l<br />
unilateral, principalmente <strong>na</strong> região fronto-orbitária, são<br />
provavelmente responsáveis por lesões definitivas <strong>na</strong> musculatura<br />
oblíqua superior ou inferior <strong>do</strong> olho, que não são<br />
revertidas com a cirurgia craniofacial.<br />
Descritores: Craniossinostose. Torcicolo muscular.<br />
Estrabismo.<br />
SUMMARY<br />
Introduction: Unilateral coro<strong>na</strong>l synostosis is a premature<br />
fusion of the coro<strong>na</strong>l suture and may carry an increased<br />
prevalence for ophthalmologic diseases such as strabismus.<br />
The aim of this study was: 1. Identify the prevalence of strabismus<br />
in unilateral coro<strong>na</strong>l synostosis; 2. Establish an association<br />
between strabismus and congenital muscular torticollis<br />
in unilateral coro<strong>na</strong>l synostosis; 3. Verify the efficacy of bony<br />
surgery on cure and outcomes of strabismus. Methods: This<br />
is a retrospective study with patients who underwent treatment<br />
of unilateral coro<strong>na</strong>l synostosis (age ranging from 3 to 6<br />
months), between 2000 and 2010. Manifest strabismus was<br />
also identified in the preoperative photographs. Results:<br />
Fourteen patients met the inclusion criteria of this study. Ten<br />
patients had had strabismus, which corresponded to 71 % of<br />
our cohort. Nine had right unilateral coro<strong>na</strong>l synostosis and<br />
5 had left unilateral coro<strong>na</strong>l synostosis. Eight patients had<br />
had congenital muscular torticollis. All of them did present<br />
strabismus. Conclusion: An important correlation between<br />
strabismus and congenital muscular torticollis was seen in this<br />
study. The bony malformations in unilateral coro<strong>na</strong>l synostosis,<br />
especially in fronto-orbital region might be responsible<br />
for definitive injuries on either superior or inferior oblique<br />
muscles, which were not improved by craniofacial surgery.<br />
Descriptors: Craniosynostoses. Muscular torticollis.<br />
Strabismus.<br />
1. Médico cirurgião plástico. Vice-presidente <strong>do</strong> Hospital SOBRAPAR.<br />
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e<br />
Associação Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial (<strong>ABCCMF</strong>). Regente<br />
<strong>do</strong> Capítulo de Cirurgia Craniofacial da SBCP.<br />
2. Médico cirurgião plástico. Membro Associa<strong>do</strong> da Sociedade Brasileira<br />
de Cirurgia Plástica.<br />
3. Médico cirurgião plástico. Diretor clínico <strong>do</strong> Hospital SOBRAPAR. Membro<br />
Titular da SBCP e <strong>ABCCMF</strong>.<br />
4. Médico cirurgião plástico. Chefe <strong>do</strong> Serviço de Cirurgia Plástica Craniofacial<br />
<strong>do</strong> Hospital SOBRAPAR. Membro Titular da SBCP e <strong>ABCCMF</strong>.<br />
Correspondência: Cassio E. Raposo-<strong>do</strong>-Amaral<br />
Rua Alameda das Palmeiras, 25 – Bairro Grama<strong>do</strong> – Campi<strong>na</strong>s, SP, Brasil<br />
– CEP 13094-776.<br />
E-mail: cassioraposo@hotmail.com; cassioeduar<strong>do</strong>@sobrapar.com.br<br />
Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(2): 73-7<br />
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Raposo-<strong>do</strong>-Amaral CE et al.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral (CCU) ocorre<br />
devi<strong>do</strong> à fusão prematura da sutura coro<strong>na</strong>l e apresenta incidência<br />
aproximada de 1 para cada 10.000 <strong>na</strong>sci<strong>do</strong>s vivos.<br />
Tem si<strong>do</strong> descrita como a segunda mais frequente sinostose<br />
identificada em centros de referência para o tratamento das<br />
deformidades craniofaciais 1 . Patologicamente difere-se da<br />
plagiocefalia deformacio<strong>na</strong>l não sinostótica. As características<br />
de ambas as situações clínicas foram recentemente<br />
descritas por da Silva Freitas et al. 2 , que enfatizaram as<br />
potenciais causas para a ocorrência de duas entidades que,<br />
embora semelhantes, são completamente distintas.<br />
A extensa maioria <strong>do</strong>s pacientes porta<strong>do</strong>res de CCU é<br />
representada por alterações morfológicas derivadas de um<br />
mecanismo de compensação <strong>do</strong> crescimento cerebral sobre<br />
o esqueleto craniano (lei de Virchow), normalmente em<br />
direção às suturas que estão abertas, levan<strong>do</strong> a uma deformidade<br />
em 3 dimensões, desvio significativo da base <strong>do</strong> crânio<br />
em seu eixo sagital (observa<strong>do</strong> durante o exame físico pela<br />
posição discrepante das orelhas, que no la<strong>do</strong> acometi<strong>do</strong> está<br />
mais alta e anteriormente posicio<strong>na</strong>da), desvio da raiz <strong>na</strong>sal<br />
para o la<strong>do</strong> acometi<strong>do</strong> e da ponta <strong>na</strong>sal para o la<strong>do</strong> contralateral,<br />
acompanhan<strong>do</strong> o eixo de rotação da base <strong>do</strong> crânio.<br />
A região fronto-parietal ipsilateral à sutura acometida está<br />
deprimida, levan<strong>do</strong> a uma bossa contralateral compensatória.<br />
A sobrancelha é sempre mais alta no la<strong>do</strong> afeta<strong>do</strong>. O mento<br />
está desvia<strong>do</strong> para o la<strong>do</strong> contralateral. A região da maxila<br />
e zigoma pode estar em posição mais anterior em relação<br />
ao la<strong>do</strong> contralateral à sinostose, acompanhan<strong>do</strong> a rotação<br />
tridimensio<strong>na</strong>l da base <strong>do</strong> crânio 3,4 .<br />
Muito se tem debati<strong>do</strong> a respeito da implicação clínica<br />
da rotação da base <strong>do</strong> crânio <strong>na</strong>s CCU, e acredita-se que<br />
esta possa ser responsável por to<strong>do</strong>s os acha<strong>do</strong>s clínicos<br />
da CCU. A órbita em Arlequim é um si<strong>na</strong>l característico<br />
das CCU e, como descrito por da Silva Freitas et al. 2 , é<br />
consequente ao posicio<strong>na</strong>mento discrepante da asa maior<br />
<strong>do</strong> esfenóide no la<strong>do</strong> acometi<strong>do</strong>. A fusão prematura da<br />
sutura coro<strong>na</strong>l pode estar associada à displasia craniofronto<strong>na</strong>sal,<br />
à síndrome de Saethre-Chotzen e à mutação FGFR3<br />
PRO250R, também conhecida como mutação Muenke. As<br />
características clínicas variam conforme a mutação genética<br />
identificada e pode envolver os membros superiores 5 .<br />
Um acha<strong>do</strong> clínico frequentemente pouco relata<strong>do</strong> <strong>na</strong><br />
CCU é a ocorrência de malformações oftalmológicas, como<br />
o <strong>estrabismo</strong>. Existe <strong>na</strong> literatura uma discordância entre<br />
a incidência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> <strong>na</strong>s CCU (varian<strong>do</strong> de 29% a<br />
90%), e também a implicação da cirurgia óssea no tratamento<br />
<strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> 6-10 . Muitos pacientes diagnostica<strong>do</strong>s<br />
com a fusão prematura da sutura coro<strong>na</strong>l podem apresentar<br />
torcicolo congênito provavelmente decorrente da fibrose<br />
<strong>do</strong> músculo esternoclei<strong>do</strong>mastoídeo. Na presença <strong>do</strong> torcicolo<br />
congênito, o tratamento da CCU tor<strong>na</strong>-se bastante<br />
desafia<strong>do</strong>r, uma vez que mesmo após o reposicio<strong>na</strong>mento<br />
ósseo, com ou sem avanço fronto-orbitário, a deformidade<br />
tende a apresentar recorrência principalmente em relação<br />
à evolução da distopia orbitária vertical 11 .<br />
O presente estu<strong>do</strong> teve como objetivos: 1. Identificar<br />
a prevalência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> nos pacientes diagnostica<strong>do</strong>s<br />
com CCU; 2. Estabelecer a associação <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> nos<br />
pacientes porta<strong>do</strong>res da indesejável associação de CCU<br />
e torcicolo muscular congênito; 3. Verificar se a cirurgia<br />
óssea, realizada em pacientes com idade varian<strong>do</strong> de 3<br />
a 6 meses, apresentou impacto terapêutico <strong>na</strong> evolução<br />
favorável <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> no perío<strong>do</strong> de acompanhamento<br />
pós-operatório.<br />
MÉTODO<br />
Trata-se de estu<strong>do</strong> retrospectivo realiza<strong>do</strong> entre o<br />
perío<strong>do</strong> de janeiro de 2000 a janeiro de 2010, no qual<br />
foram estuda<strong>do</strong>s os pacientes submeti<strong>do</strong>s ao tratamento<br />
da <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral com idade de 3 a 6<br />
meses. Foram excluí<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os pacientes opera<strong>do</strong>s com<br />
idade maior que 6 meses, os pacientes não opera<strong>do</strong>s, com<br />
tempo de seguimento pós-operatório menor <strong>do</strong> que 1 ano<br />
ou com ausência de <strong>do</strong>cumentação fotográfica adequada<br />
para a comprovação <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong>.<br />
Foram incluí<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os pacientes fotografa<strong>do</strong>s em<br />
estúdio fotográfico com posições padronizadas, que<br />
incluíam frontal, lateral e oblíqua, além de fronto-basal<br />
com o paciente deita<strong>do</strong> sobre o colo <strong>do</strong>s pais. A presença<br />
<strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> foi identificada durante o protocolo de exame<br />
clínico inicial e corrobora<strong>do</strong> pela inspeção das fotografias<br />
<strong>na</strong>s várias posições.<br />
Técnica Operatória<br />
Com o paciente posicio<strong>na</strong><strong>do</strong> em decúbito <strong>do</strong>rsal, sob<br />
anestesia geral, a cirurgia inicia-se com a incisão coro<strong>na</strong>l<br />
e descolamento subgaleal <strong>do</strong> retalho frontal. Subsequentemente,<br />
um retalho de periósteo é eleva<strong>do</strong> desde a sutura<br />
coro<strong>na</strong>l até o teto das órbitas. Identifica-se o feixe vásculonervoso<br />
supra-orbitário, que é cuida<strong>do</strong>samente eleva<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
Figura 1 – (A) Fotografia intra-operatória de paciente com<br />
<strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral esquerda. Nota-se visível<br />
achatamento da região fronto-parietal ipsilateral. (B) Fotografia<br />
intra-operatória da região frontal óssea elevada com si<strong>na</strong>is da<br />
“prata batida”, demonstran<strong>do</strong> evidências clínicas de hipertensão<br />
intracrania<strong>na</strong>. (C) Fotografia intra-operatória <strong>do</strong> mesmo paciente<br />
após o reposicio<strong>na</strong>mento ósseo para remodelação da região fronto-parietal<br />
e descompressão da base <strong>do</strong> crânio (direita, abaixo).<br />
A<br />
B<br />
C<br />
Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(2): 73-7<br />
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Prevalência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> <strong>na</strong> <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral<br />
osso frontal junto com a periórbita. Com acesso ao interior<br />
da órbita em plano subperiostal, fi<strong>na</strong>liza-se o descolamento<br />
peri-orbitário.<br />
A craniotomia é realizada através da fontanela, que<br />
fornece acesso seguro à região intracrania<strong>na</strong>. O osso<br />
craniano é facilmente descola<strong>do</strong> e recorta<strong>do</strong> com instrumento<br />
saca-boca<strong>do</strong>, tesoura de Jackson ou serra vai-vem.<br />
A remodelação <strong>do</strong> osso craniano (cranioplastia) é realizada<br />
<strong>na</strong> mesa cirúrgica. A base anterior <strong>do</strong> crânio é descolada <strong>na</strong>s<br />
porções centrais e laterais, com amplo descolamento da asa<br />
maior <strong>do</strong> esfenóide. Inicia-se osteotomias <strong>na</strong> região da asa<br />
maior <strong>do</strong> esfenóide em direção à parede lateral da órbita. A<br />
região basilar é descomprimida com adequada proteção das<br />
estruturas nobres com auxílio de instrumento denomi<strong>na</strong><strong>do</strong><br />
“maleável”. O rápi<strong>do</strong> e intenso crescimento cerebral no<br />
primeiro ano de vida faz com que as estruturas orbitárias<br />
adquiram simetria, sem a necessidade <strong>do</strong> avanço frontoorbitário.<br />
Reservamos a cirurgia de avanço fronto-orbitário<br />
para os pacientes com CCU em idade avançada, principalmente<br />
após o primeiro ano de vida. Crianças menores que<br />
1 ano de vida apresentam uma favorável combi<strong>na</strong>ção de<br />
maleabilidade óssea e possibilidade de grande expansão<br />
cerebral durante o crescimento <strong>do</strong> esqueleto craniofacial.<br />
Esta combi<strong>na</strong>ção possibilita a realização desta cirurgia, sem<br />
a utilização de capacetes modela<strong>do</strong>res e sem a necessidade<br />
de avançar as estruturas das órbitas (Figura 1). Os drenos<br />
de sucção são deixa<strong>do</strong>s por 24 a 48 horas. Os curativos são<br />
utiliza<strong>do</strong>s até 12 horas após a retirada <strong>do</strong>s drenos. O couro<br />
cabelu<strong>do</strong> é sutura<strong>do</strong> com fio de nylon 4-0 3 .<br />
Figura 3 – Tomografia computa<strong>do</strong>rizada demonstran<strong>do</strong><br />
a fusão da sutura coro<strong>na</strong>l direita, deformidade <strong>do</strong> crânio<br />
e bossa contralateral à sutura fundida, rotação da órbita<br />
no la<strong>do</strong> ipsilateral à sutura fundida, desvio <strong>do</strong> <strong>do</strong>rso <strong>na</strong>sal,<br />
mandíbula e mento. A <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral<br />
provoca uma deformidade craniofacial em 3 dimensões.<br />
RESULTADOS<br />
Os pacientes estuda<strong>do</strong>s foram submeti<strong>do</strong>s à mesma<br />
técnica cirúrgica com a realização de cranioplastia e<br />
Figura 2 – (A) Fotografia pré-operatória de paciente<br />
com o diagnóstico de <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral<br />
direita. (B) Fotografia pós-operatória <strong>do</strong> mesmo paciente<br />
após 1 ano da cirurgia para a correção da <strong>craniossinostose</strong>.<br />
Observa-se a melhora significativa <strong>do</strong> contorno da<br />
região frontal e correção da distopia orbitária, obtida com<br />
a rápida expansão cerebral normalmente presente em<br />
pacientes submeti<strong>do</strong>s à cirurgia antes <strong>do</strong>s 6 meses de vida.<br />
A<br />
B<br />
Figura 4 – (A) Fotografia pré-operatória de paciente<br />
com diagnóstico de <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral<br />
direita, <strong>estrabismo</strong> associa<strong>do</strong> ao torcicolo muscular congênito.<br />
(B) Fotografia pós-operatória <strong>do</strong> mesmo paciente<br />
após 1 ano da cirurgia para a correção da <strong>craniossinostose</strong>.<br />
Nota-se melhora significativa <strong>do</strong> contorno da região<br />
frontal e da distopia orbitária.<br />
A<br />
B<br />
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Raposo-<strong>do</strong>-Amaral CE et al.<br />
Tabela 1 – Acha<strong>do</strong>s clínicos em pacientes com <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral.<br />
Iniciais Sexo La<strong>do</strong> da CCU Estrabismo Torcicolo Congênito Outros Acha<strong>do</strong>s<br />
AT F Esquer<strong>do</strong> Esquer<strong>do</strong> Presente -<br />
DC F Direito Direito Ausente -<br />
EC F Direito Ausente Ausente -<br />
EC M Direito Direito Ausente Ptose palpebral bilateral<br />
IT F Direito Esquer<strong>do</strong> Presente -<br />
MS F Esquer<strong>do</strong> Esquer<strong>do</strong> Presente Ptose palpebral bilateral<br />
OA M Direito Ausente Ausente -<br />
AC F Esquer<strong>do</strong> Direito Presente -<br />
LC F Esquer<strong>do</strong> Esquer<strong>do</strong> Presente -<br />
RS F Esquer<strong>do</strong> Ausente Ausente -<br />
RA F Direito Direito Presente -<br />
VA F Direito Direito Presente -<br />
NS M Direito Ausente Ausente -<br />
MF F Direito Direito Presente -<br />
descompressão da base <strong>do</strong> crânio. A descompressão da base<br />
<strong>do</strong> crânio normalmente oferece espaço suficiente para o<br />
crescimento cerebral. Dentre os 14 pacientes identifica<strong>do</strong>s<br />
que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão <strong>do</strong><br />
presente estu<strong>do</strong>, 11 eram <strong>do</strong> sexo feminino e 3, <strong>do</strong> sexo<br />
masculino. Dez pacientes apresentavam <strong>estrabismo</strong>, o que<br />
correspondeu a 71% <strong>do</strong>s pacientes. Nove pacientes foram<br />
diagnostica<strong>do</strong>s com <strong>craniossinostose</strong> à direita e 5 com<br />
<strong>craniossinostose</strong> à esquerda. Oito pacientes apresentaram<br />
<strong>estrabismo</strong> no la<strong>do</strong> ipsilateral à sutura coro<strong>na</strong>l fundida.<br />
Dois pacientes apresentaram <strong>estrabismo</strong> no la<strong>do</strong> contralateral<br />
à sutura coro<strong>na</strong>l fundida. Oito pacientes apresentaram<br />
torcicolo congênito. To<strong>do</strong>s eles apresentaram <strong>estrabismo</strong>.<br />
Houve uma importante correlação entre a presença <strong>do</strong><br />
<strong>estrabismo</strong> e <strong>do</strong> torcicolo congênito. A cirurgia não exerceu<br />
nenhum efeito positivo no tratamento <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong>, ou<br />
seja, todas as crianças que eram estrábicas no perío<strong>do</strong><br />
pré-operatório permaneceram estrábicas, mesmo após a<br />
cirurgia óssea. Dois pacientes apresentaram ptose palpebral<br />
bilateral (Tabela 1, Figuras 2 a 4).<br />
DISCUSSÃO<br />
Nossos acha<strong>do</strong>s clínicos corroboram com outros<br />
advin<strong>do</strong>s da literatura, que demonstram uma importante<br />
correlação entre as CCU e a presença <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> que é,<br />
em sua grande maioria, de caráter vertical 9 . A fusão unilateral<br />
da sutura coro<strong>na</strong>l leva à angulação da parede lateral<br />
da órbita ipsilateralmente à sinostose. O diâmetro vertical<br />
da órbita está normalmente aumenta<strong>do</strong>, e <strong>na</strong> presença <strong>do</strong><br />
torcicolo congênito há uma significativa distopia orbitária,<br />
com diferença entre as posições <strong>do</strong> ligamento cantal medial<br />
poden<strong>do</strong> variar de 1 a 3 mm. Essas alterações da a<strong>na</strong>tomia<br />
da órbita podem levar ao encurtamento da musculatura<br />
extrínseca <strong>do</strong> olho, mais especificamente <strong>do</strong> músculo<br />
oblíquo superior, com atividade compensatória reacio<strong>na</strong>l<br />
<strong>do</strong> músculo oblíquo inferior 12 . Seguin<strong>do</strong> esta linha de raciocínio,<br />
acreditávamos, assim como alguns autores, que as<br />
condições primárias para a presença <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> <strong>na</strong> CCU<br />
seriam a posição anômala das estruturas a<strong>na</strong>tômicas da<br />
órbita, de forma que, ao corrigir cirurgicamente a posição<br />
anômala <strong>do</strong> esqueleto craniofacial, haveria uma implicação<br />
positiva sobre a musculatura extrínseca <strong>do</strong> olho e, consequentemente,<br />
no <strong>estrabismo</strong> 9 . Ao observar cuida<strong>do</strong>samente<br />
nossos da<strong>do</strong>s, verificamos que nenhum paciente porta<strong>do</strong>r de<br />
CCU associa<strong>do</strong> ao <strong>estrabismo</strong> apresentou qualquer melhora<br />
ou cura da <strong>do</strong>ença oftalmológica como consequência da<br />
intervenção cirúrgica no esqueleto craniofacial. Com base<br />
nessas evidências clínicas, sugerimos que a rotação da<br />
órbita em senti<strong>do</strong> oblíquo secundário à fusão prematura da<br />
sutura coro<strong>na</strong>l pode causar lesões definitivas ao músculo<br />
oblíquo superior e inferior, que são somente reparáveis com<br />
a intervenção direta <strong>na</strong> musculatura extrínseca <strong>do</strong>s olhos.<br />
Alguns autores acreditam que a plagiocefalia posicio<strong>na</strong>l<br />
presente em alguns pacientes com CCU pode ser decorrente<br />
<strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong>. Os pacientes em uma tentativa de compensar<br />
o eixo visual anômalo a<strong>do</strong>tam uma postura anômala oblíqua<br />
da cabeça 9 . Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s no presente estu<strong>do</strong> demonstraram<br />
a persistência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> mesmo após a cirurgia<br />
óssea, corroboran<strong>do</strong> com os acha<strong>do</strong>s clínicos de outras<br />
séries, <strong>na</strong>s quais os pacientes foram submeti<strong>do</strong>s ao avanço<br />
fronto-orbitário 9 . Ao contrário <strong>do</strong> que foi postula<strong>do</strong> por<br />
Gosain, não acreditamos que o <strong>estrabismo</strong> possa ter resolução<br />
espontânea e também não observamos este fenômeno<br />
em nossa série 6 . A deformidade óssea ocasio<strong>na</strong> uma lesão<br />
definitiva que somente é revertida com a cirurgia oftalmológica.<br />
Algumas deformidades ósseas ainda persistem<br />
após a cirurgia; como a elevação <strong>do</strong> assoalho da órbita,<br />
desvio da base <strong>do</strong> crânio e da asa menor <strong>do</strong> esfenóide. Por<br />
outro la<strong>do</strong>, a cirurgia precoce oferece espaço para que o<br />
intenso crescimento cerebral, que ocorre antes de 1 ano<br />
Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(2): 73-7<br />
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Prevalência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> <strong>na</strong> <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral<br />
de idade, atue diretamente no reposicio<strong>na</strong>mento ósseo<br />
das estruturas envolvidas, possibilitan<strong>do</strong> maior simetria<br />
das estruturas da base <strong>do</strong> crânio e da órbita. Entretanto,<br />
mesmo com as modificações ósseas, o <strong>estrabismo</strong> persistiu<br />
no perío<strong>do</strong> pós-operatório. Acreditamos que a persistência<br />
<strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> se deve a lesões definitivas da musculatura<br />
extrínseca <strong>do</strong> olho e não à manutenção de deformidades<br />
ósseas pós-operatórias que, segun<strong>do</strong> Lee et al. 9 , podem<br />
contribuir diretamente para a manutenção <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong>.<br />
Interessantemente, os pacientes porta<strong>do</strong>res de CCU que<br />
não possuíam <strong>estrabismo</strong> no perío<strong>do</strong> pré-operatório não<br />
desenvolveram a anomalia no perío<strong>do</strong> pós-operatório.<br />
CONCLUSÃO<br />
Foi observa<strong>do</strong> em nosso estu<strong>do</strong> a presença <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong><br />
em 71 % <strong>do</strong>s pacientes com <strong>craniossinostose</strong><br />
coro<strong>na</strong>l unilateral. Oito pacientes apresentaram torcicolo<br />
congênito. To<strong>do</strong>s eles apresentaram <strong>estrabismo</strong>. Existe uma<br />
importante correlação entre o diagnóstico <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong><br />
e torcicolo congênito <strong>na</strong>s CCU. As alterações ósseas <strong>na</strong><br />
<strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral, principalmente <strong>na</strong><br />
região fronto-orbitária são provavelmente as responsáveis<br />
por lesões definitivas <strong>na</strong> musculatura extrínseca <strong>do</strong> olho,<br />
que não são revertidas com a cirurgia craniofacial.<br />
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Trabalho realiza<strong>do</strong> no Hospital SOBRAPAR, Campi<strong>na</strong>s, SP.<br />
Artigo recebi<strong>do</strong>: 9/2/2010<br />
Artigo aceito: 2/5/2010<br />
Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(2): 73-7<br />
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