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Prevalência do estrabismo na craniossinostose coronal ... - ABCCMF

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Raposo-<strong>do</strong>-Amaral CE et al.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral (CCU) ocorre<br />

devi<strong>do</strong> à fusão prematura da sutura coro<strong>na</strong>l e apresenta incidência<br />

aproximada de 1 para cada 10.000 <strong>na</strong>sci<strong>do</strong>s vivos.<br />

Tem si<strong>do</strong> descrita como a segunda mais frequente sinostose<br />

identificada em centros de referência para o tratamento das<br />

deformidades craniofaciais 1 . Patologicamente difere-se da<br />

plagiocefalia deformacio<strong>na</strong>l não sinostótica. As características<br />

de ambas as situações clínicas foram recentemente<br />

descritas por da Silva Freitas et al. 2 , que enfatizaram as<br />

potenciais causas para a ocorrência de duas entidades que,<br />

embora semelhantes, são completamente distintas.<br />

A extensa maioria <strong>do</strong>s pacientes porta<strong>do</strong>res de CCU é<br />

representada por alterações morfológicas derivadas de um<br />

mecanismo de compensação <strong>do</strong> crescimento cerebral sobre<br />

o esqueleto craniano (lei de Virchow), normalmente em<br />

direção às suturas que estão abertas, levan<strong>do</strong> a uma deformidade<br />

em 3 dimensões, desvio significativo da base <strong>do</strong> crânio<br />

em seu eixo sagital (observa<strong>do</strong> durante o exame físico pela<br />

posição discrepante das orelhas, que no la<strong>do</strong> acometi<strong>do</strong> está<br />

mais alta e anteriormente posicio<strong>na</strong>da), desvio da raiz <strong>na</strong>sal<br />

para o la<strong>do</strong> acometi<strong>do</strong> e da ponta <strong>na</strong>sal para o la<strong>do</strong> contralateral,<br />

acompanhan<strong>do</strong> o eixo de rotação da base <strong>do</strong> crânio.<br />

A região fronto-parietal ipsilateral à sutura acometida está<br />

deprimida, levan<strong>do</strong> a uma bossa contralateral compensatória.<br />

A sobrancelha é sempre mais alta no la<strong>do</strong> afeta<strong>do</strong>. O mento<br />

está desvia<strong>do</strong> para o la<strong>do</strong> contralateral. A região da maxila<br />

e zigoma pode estar em posição mais anterior em relação<br />

ao la<strong>do</strong> contralateral à sinostose, acompanhan<strong>do</strong> a rotação<br />

tridimensio<strong>na</strong>l da base <strong>do</strong> crânio 3,4 .<br />

Muito se tem debati<strong>do</strong> a respeito da implicação clínica<br />

da rotação da base <strong>do</strong> crânio <strong>na</strong>s CCU, e acredita-se que<br />

esta possa ser responsável por to<strong>do</strong>s os acha<strong>do</strong>s clínicos<br />

da CCU. A órbita em Arlequim é um si<strong>na</strong>l característico<br />

das CCU e, como descrito por da Silva Freitas et al. 2 , é<br />

consequente ao posicio<strong>na</strong>mento discrepante da asa maior<br />

<strong>do</strong> esfenóide no la<strong>do</strong> acometi<strong>do</strong>. A fusão prematura da<br />

sutura coro<strong>na</strong>l pode estar associada à displasia craniofronto<strong>na</strong>sal,<br />

à síndrome de Saethre-Chotzen e à mutação FGFR3<br />

PRO250R, também conhecida como mutação Muenke. As<br />

características clínicas variam conforme a mutação genética<br />

identificada e pode envolver os membros superiores 5 .<br />

Um acha<strong>do</strong> clínico frequentemente pouco relata<strong>do</strong> <strong>na</strong><br />

CCU é a ocorrência de malformações oftalmológicas, como<br />

o <strong>estrabismo</strong>. Existe <strong>na</strong> literatura uma discordância entre<br />

a incidência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> <strong>na</strong>s CCU (varian<strong>do</strong> de 29% a<br />

90%), e também a implicação da cirurgia óssea no tratamento<br />

<strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> 6-10 . Muitos pacientes diagnostica<strong>do</strong>s<br />

com a fusão prematura da sutura coro<strong>na</strong>l podem apresentar<br />

torcicolo congênito provavelmente decorrente da fibrose<br />

<strong>do</strong> músculo esternoclei<strong>do</strong>mastoídeo. Na presença <strong>do</strong> torcicolo<br />

congênito, o tratamento da CCU tor<strong>na</strong>-se bastante<br />

desafia<strong>do</strong>r, uma vez que mesmo após o reposicio<strong>na</strong>mento<br />

ósseo, com ou sem avanço fronto-orbitário, a deformidade<br />

tende a apresentar recorrência principalmente em relação<br />

à evolução da distopia orbitária vertical 11 .<br />

O presente estu<strong>do</strong> teve como objetivos: 1. Identificar<br />

a prevalência <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> nos pacientes diagnostica<strong>do</strong>s<br />

com CCU; 2. Estabelecer a associação <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> nos<br />

pacientes porta<strong>do</strong>res da indesejável associação de CCU<br />

e torcicolo muscular congênito; 3. Verificar se a cirurgia<br />

óssea, realizada em pacientes com idade varian<strong>do</strong> de 3<br />

a 6 meses, apresentou impacto terapêutico <strong>na</strong> evolução<br />

favorável <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> no perío<strong>do</strong> de acompanhamento<br />

pós-operatório.<br />

MÉTODO<br />

Trata-se de estu<strong>do</strong> retrospectivo realiza<strong>do</strong> entre o<br />

perío<strong>do</strong> de janeiro de 2000 a janeiro de 2010, no qual<br />

foram estuda<strong>do</strong>s os pacientes submeti<strong>do</strong>s ao tratamento<br />

da <strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral com idade de 3 a 6<br />

meses. Foram excluí<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os pacientes opera<strong>do</strong>s com<br />

idade maior que 6 meses, os pacientes não opera<strong>do</strong>s, com<br />

tempo de seguimento pós-operatório menor <strong>do</strong> que 1 ano<br />

ou com ausência de <strong>do</strong>cumentação fotográfica adequada<br />

para a comprovação <strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong>.<br />

Foram incluí<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os pacientes fotografa<strong>do</strong>s em<br />

estúdio fotográfico com posições padronizadas, que<br />

incluíam frontal, lateral e oblíqua, além de fronto-basal<br />

com o paciente deita<strong>do</strong> sobre o colo <strong>do</strong>s pais. A presença<br />

<strong>do</strong> <strong>estrabismo</strong> foi identificada durante o protocolo de exame<br />

clínico inicial e corrobora<strong>do</strong> pela inspeção das fotografias<br />

<strong>na</strong>s várias posições.<br />

Técnica Operatória<br />

Com o paciente posicio<strong>na</strong><strong>do</strong> em decúbito <strong>do</strong>rsal, sob<br />

anestesia geral, a cirurgia inicia-se com a incisão coro<strong>na</strong>l<br />

e descolamento subgaleal <strong>do</strong> retalho frontal. Subsequentemente,<br />

um retalho de periósteo é eleva<strong>do</strong> desde a sutura<br />

coro<strong>na</strong>l até o teto das órbitas. Identifica-se o feixe vásculonervoso<br />

supra-orbitário, que é cuida<strong>do</strong>samente eleva<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Figura 1 – (A) Fotografia intra-operatória de paciente com<br />

<strong>craniossinostose</strong> coro<strong>na</strong>l unilateral esquerda. Nota-se visível<br />

achatamento da região fronto-parietal ipsilateral. (B) Fotografia<br />

intra-operatória da região frontal óssea elevada com si<strong>na</strong>is da<br />

“prata batida”, demonstran<strong>do</strong> evidências clínicas de hipertensão<br />

intracrania<strong>na</strong>. (C) Fotografia intra-operatória <strong>do</strong> mesmo paciente<br />

após o reposicio<strong>na</strong>mento ósseo para remodelação da região fronto-parietal<br />

e descompressão da base <strong>do</strong> crânio (direita, abaixo).<br />

A<br />

B<br />

C<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(2): 73-7<br />

74

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