16.02.2015 Views

Sustentabilidade e Saúde do Trabalhador Elisabete Maniglia ...

Sustentabilidade e Saúde do Trabalhador Elisabete Maniglia ...

Sustentabilidade e Saúde do Trabalhador Elisabete Maniglia ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

1<br />

<strong>Sustentabilidade</strong> e Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r<br />

<strong>Elisabete</strong> <strong>Maniglia</strong> 1<br />

Resumo<br />

O presente trabalho versa sobre uma breve reflexão <strong>do</strong> termo<br />

sustentabilidade amplamente contempla<strong>do</strong> na literatura acadêmica e<br />

na sociedade hodierna como um to<strong>do</strong>. A partir deste estu<strong>do</strong> busca-se<br />

estabelecer uma conexão entre sustentabilidade e saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r<br />

manipulan<strong>do</strong> as variáveis sociais, econômicas geográficas ambientais<br />

e políticas. A visão atribuída se reveste aos aspectos de direito,<br />

garantias legais e deveres <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em propiciar uma vida com<br />

dignidade e inclusão social ao trabalha<strong>do</strong>r em especial, o rural que<br />

esteve por longo tempo sem amparo. Conclui-se que a<br />

sustentabilidade deve ser tomada em conta, simultaneamente em seus<br />

aspectos completos, todavia isto não é suficiente, a fiscalização e as<br />

denuncias de insustentabilidade devem ser geradas por conta de toda<br />

sociedade, a fim de eliminar as diversidades e estabelecer condições<br />

para um trabalho que valorize e dignifique o homem.<br />

Palavras Chave: sustentabilidade, saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, meio rural,<br />

justiça social.<br />

Abstract<br />

The present work deals with a brief reflection of the term<br />

sustainability in scientific and academic literature in society today as a<br />

whole. From this study we seek to establish a connection between<br />

sustainability and workers’ health considering the social, economic,<br />

geographical, environmental and political variables. It refers to the<br />

aspects of law, legal guarantees and obligations of the State in<br />

providing a life with dignity and social inclusion, particularly, the<br />

rural workers that for a long time were destitute. It is concluded that<br />

sustainability must be taken into account in full aspects, however this<br />

is not enough, a monitoring and complaints of unsustainability must<br />

be generated on behalf of the whole society, to put an end to<br />

inequalities and establish conditions for a job that values and respects<br />

the human beings<br />

.<br />

Key words: sustainability, health-rural, social justice.<br />

Introdução<br />

A palavra mais usada neste século tem si<strong>do</strong> sustentabilidade. Quer nas ciências<br />

sociais, quer na linguagem jornalística, nas rodas acadêmicas na pesquisa, o tema<br />

sustentável passou a ser aquilo que se designa como politicamente correto.<br />

Ideologicamente sustentável pode adquiri conotações diferenciadas, às vezes mais<br />

1 Prof. Dra. Livre Docente. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, UNESP-Franca. E-mail<br />

manigliaelisabete@gmail.com


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

2<br />

radicais por parte de uns, num tom capitalista para outros, mas, integra desde a extrema<br />

esquerda a extrema direita. Passa ser quase um mantra 2 falar em sustentabilidade entre<br />

os povos. A sustentabilidade entra como um direito humano incluso na terceira<br />

dimensão onde a preocupação com meio ambiente a solidariedade e a paz entre os<br />

homens estão vinculadas ao que Boaventura Santos (1997) denomina de democracia<br />

sem fim com uma intensa participação <strong>do</strong>s cidadãos considera<strong>do</strong>s individual ou<br />

coletivamente.<br />

Portanto é extraí<strong>do</strong> numa primeira lição que sustentabilidade deriva de um<br />

processo de justiça perene, cujo objeto é aquele que permite que o direito opere como<br />

instrumento de democracia e justiça social para aqueles que mais carecem e, é também<br />

o processo que continuamente reinventa os sujeitos de direitos no seio de formações<br />

sociais em constante mudança, sen<strong>do</strong> os movimentos sociais imprescindíveis para a<br />

realização destas situações de alternâncias.<br />

<strong>Sustentabilidade</strong> é, portanto, bem mais, que meio ambiente saudável, luta pela<br />

defesa <strong>do</strong> mico leão <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>, proibição de caça às baleias ou economia de energia<br />

elétrica. Pode ser também estas lutas, mas seu senti<strong>do</strong> é complexo e envolvem Esta<strong>do</strong>s,<br />

redes jurídicas, processos democráticos, realidades locais, passa<strong>do</strong>s históricos culturais,<br />

políticas publicas, relações sociais, empresas, capitalismo, consumo e tantas outras<br />

variáveis a serem entrelaçadas.<br />

A partir desta expressão o presente ensaio passa discutir situações de<br />

sustentabilidade e saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, envolven<strong>do</strong> aspectos econômicos, sociais<br />

políticos, geográficos e ambientais. A composição da sustentabilidade a partir destes<br />

critérios vai influenciar diretamente a saúde física e mental tanto daquele que trabalha<br />

no meio rural quanto urbano. À miséria, a fome decorrente da situação econômica<br />

precária, gera a desnutrição, a má alimentação que desencadeia em <strong>do</strong>enças de toda<br />

ordem. A ausência de fiscalização trabalhista, o desrespeito as normas legais <strong>do</strong> direito<br />

<strong>do</strong> trabalho desencadeiam stress, <strong>do</strong>enças mentais, instabilidade, processos alérgicos e<br />

<strong>do</strong>enças cardiovasculares. O meio ambiente degrada<strong>do</strong> é o causa<strong>do</strong>r da multiplicidade<br />

de sintomas às vezes rotula<strong>do</strong>s como virose e <strong>do</strong>enças de contaminação. A geografia<br />

que por vezes segrega trabalha<strong>do</strong>res ou os desrespeita em suas características gera<br />

2 O termo em sânscrito ou Mantra OM, alude a linguagem como emanação ou expressão <strong>do</strong> Manas, a<br />

Mente. Um Mantra é um instrumento da Mente, <strong>do</strong> Pensamento. Na filosofia Hindu, um texto Sagra<strong>do</strong>,<br />

uma oração, um verso, uma palavra ou um simples Som pode ser um Mantra. Ao referir Mantra, estamos<br />

citan<strong>do</strong> a palavra não só como veículo de informação, mas como Poder e Movimento.


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

3<br />

desequilíbrios físicos e alterações mentais e por fim a ausência de uma política pública<br />

conduz o trabalha<strong>do</strong>r para um esta<strong>do</strong> de mal estar geral.<br />

O presente trabalho aqui não se esgota e caminha principalmente voltan<strong>do</strong> sua<br />

preocupação para o trabalha<strong>do</strong>r rural por vezes tão esqueci<strong>do</strong>. Outros ensaios<br />

complementarão esta reflexão.<br />

Desenvolvimento<br />

A origem <strong>do</strong> termo desenvolvimento sustentável, iniciou-se com a Conferência<br />

de Estocolmo, em 1972 que preconizou o equilíbrio entre meio ambiente e<br />

planejamento <strong>do</strong> desenvolvimento, Posteriormente uma equipe de cientistas <strong>do</strong> Instituto<br />

de Tecnologia de Massachusetts, encaminhou ao Clube de Roma em 1974 o relatório<br />

denomina<strong>do</strong> The limits to growth, também conheci<strong>do</strong> como relatório Mea<strong>do</strong>ws nome da<br />

chefe que o encabeçou, teve grande repercussão mundial Considera<strong>do</strong> extremamente<br />

radical, este <strong>do</strong>cumento trouxe uma observação considerada fundamental,<br />

desenvolvimento e meio ambiente eram ti<strong>do</strong>s como antagônicos. Dez anos depois a<br />

assembléia da ONU convocou nova conferência para tratar <strong>do</strong> tema meio ambiente e,<br />

este trabalho foi chefia<strong>do</strong> por Gro Harlem Brundtland, primeira ministra da Noruega,<br />

que elaborou um relatório designa<strong>do</strong> a posteriori de Brundtland, cujos objetivos se<br />

firmavam em: propor estratégias ambientais de longo prazo, para obter um<br />

desenvolvimento sustentável, recomendar maneiras para que a preocupação com o meio<br />

ambiente se traduza em maior cooperação entre os países em desenvolvimento com<br />

objetivos comuns e interliga<strong>do</strong>s, e que os trabalhos tenham eficiência, com uma agenda<br />

de trabalho para a mudança de atitudes em nível internacional.<br />

O relatório de Brundtland como ficou conheci<strong>do</strong>, teve como mérito a<br />

cristalização <strong>do</strong> principio <strong>do</strong> desenvolvimento sustentável entendi<strong>do</strong> como: “Aquele que<br />

atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das futuras<br />

gerações de terem suas próprias necessidades atendidas” Conforme Granziera (2009), o<br />

alcance <strong>do</strong> desenvolvimento sustentável não ocorre apenas com palavras e teorias, mas<br />

com uma transformação no mo<strong>do</strong> de vida das pessoas e <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, alteran<strong>do</strong> os<br />

processos de consumo e a forma de exploração de recursos naturais. Nessa linha é<br />

necessário um grande esforço e vontade política para alterar os quadros atuais<br />

implantan<strong>do</strong>, de fato o principio <strong>do</strong> desenvolvimento sustentável.


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

4<br />

Na convenção <strong>do</strong> Rio de Janeiro em 92, o Relatório Brundtland foi discuti<strong>do</strong><br />

e a expressão desenvolvimento sustentável, passou a permear to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos<br />

correlatos. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento assim<br />

manifestou: O senti<strong>do</strong> de sustentável passou a ser bem mais que um esta<strong>do</strong> de<br />

harmonia, mas sim um processo de mudança, na qual a exploração <strong>do</strong>s recursos, a<br />

orientação <strong>do</strong>s investimentos, os rumos <strong>do</strong> desenvolvimento tecnológico e a mudança<br />

institucional estão de acor<strong>do</strong> com as necessidades atuais e futuras. Sabe-se que não é<br />

um processo fácil sem tropeços. Escolhas difíceis terão que ser feitas. Assim o<br />

desenvolvimento sustentável depende <strong>do</strong> apoio político.<br />

A partir de então houve um fortalecimento da preocupação com o Meio<br />

Ambiente e a idéia de sustentabilidade passou a incluir todas as pautas políticas e legais.<br />

O difícil entrave estava em conciliar desenvolvimento e sustentabilidade, pois os países<br />

periféricos necessitavam crescer e multiplicar sua economia e a discussão se<br />

aperfeiçoou nos setores econômicos, sociológicos e jurídicos, buscan<strong>do</strong> um<br />

denomina<strong>do</strong>r comum para este desafio. É preciso entender primeiramente, o que é<br />

desenvolvimento, tema que foi trabalha<strong>do</strong> exaustivamente por diferentes autores entre<br />

eles Veiga, Sachs, Dupas, Abramovay, autores estes que traçam múltiplas discussões<br />

acerca <strong>do</strong> tema, mas como não é este o objetivo maior deste ensaio, opta-se em<br />

apresentar o que Celso Furta<strong>do</strong> (2004, p. 484), coloca como fórmula sintética para dizer<br />

o que é desenvolvimento:<br />

O crescimento econômico tal qual o conhecemos, vem se fundan<strong>do</strong> na<br />

preservação <strong>do</strong>s privilégios das elites que satisfazem seu afã de<br />

modernização, já o desenvolvimento se caracteriza pelo seu projeto social<br />

subjacente. Dispor de recursos para investir esta longe de ser condição<br />

suficiente para preparar um melhor futuro para a massa da população. Mas<br />

quan<strong>do</strong> o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições de vida<br />

dessa população, o crescimento se metamorfoseia em desenvolvimento.<br />

Desse mo<strong>do</strong> como ensina Veiga (2006), desenvolvimento não é sinônimo de<br />

crescimento econômico, se assim o fosse bastaria medir o Produto interno per capita.<br />

Nem ao menos como diz este autor, correto seria dizer que desenvolvimento não passa<br />

de reles ilusão, crença, mito ou manipulação ideológica. Considerar esta idéia é tratar o<br />

desenvolvimento sustentável como uma nova quimera original, com nova roupagem.<br />

No entender <strong>do</strong> autor, o correto realmente e a terceira via que diz que o<br />

desenvolvimento nada tem de quimérico e nem pode ser amesquinha<strong>do</strong> como<br />

crescimento econômico. Seria, pois a idéia de desenvolvimento sustentável, que altera<br />

diferentes variáveis, o ideal, para mensurar o desenvolvimento.


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

5<br />

Amartya Sen, cita<strong>do</strong> por Sachs (2004, p. 13) sempre trouxe a idéia da<br />

aproximação da economia da ética, sem deixar a política. Segun<strong>do</strong> ele:<br />

O desenvolvimento, distinto <strong>do</strong> crescimento econômico cumpre este<br />

requisito, na medida em que os objetivos <strong>do</strong> desenvolvimento vão<br />

bem além da mera multiplicação da riqueza material. O crescimento é<br />

uma condição necessária, mas, de forma alguma suficiente (muito<br />

menos é um objetivo em si mesmo) para se alcançar a meta de uma<br />

vida melhor mais feliz mais completa para to<strong>do</strong>s.<br />

Em trabalhos posteriores Sen (2002), reconceituou desenvolvimento na forma<br />

de apropriação efetiva das três dimensões de direitos humanos: políticos, civis e cívicos.<br />

Direitos econômicos, sociais e culturais entre eles, o direito ao trabalho digno,<br />

criticamente importante, por motivos intrínsecos e instrumentais, e os direitos coletivos<br />

ao meio ambiente e ao desenvolvimento.<br />

Porém a definição de desenvolvimento sustentável num processo evolutivo foi<br />

melhor trabalhada por Ignacy Sachs (2002 e 2004), que anexan<strong>do</strong> os conceito de<br />

desenvolvimento com as questões pontuais <strong>do</strong> meio ambiente criou um ético de<br />

solidariedade sincrônica com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as<br />

gerações futuras e assim construiu os cinco pilares <strong>do</strong> desenvolvimento sustentável,<br />

assim descritos a seguir.<br />

O social, fundamental, por motivos intrínsecos, quanto instrumentais, por<br />

causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaça<strong>do</strong>ra sobre muitos<br />

lugares problemáticos <strong>do</strong> nosso planeta. Este critério almeja um patamar razoável de<br />

homogeneidade social com distribuição de renda justa, emprego pleno e ou autônomo,<br />

com qualidade vida decente e ainda igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais.<br />

O ambiental com suas duas dimensões: os sistemas de sustentabilidade da vida<br />

com prove<strong>do</strong>res de recursos e como recipientes para a disposição de resíduos. Neste<br />

item repousa a questão ecológica com a preservação <strong>do</strong> potencial <strong>do</strong> capital da natureza,<br />

na sua produção de recursos renováveis e ainda na limitação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s recursos não<br />

renováveis.<br />

O territorial relaciona<strong>do</strong> com a distribuição espacial <strong>do</strong>s recursos, das<br />

populações e das atividades. O balanceamento <strong>do</strong>s espaços rurais com melhorias para<br />

este setor por meio de investimentos públicos visan<strong>do</strong> atrair ou fazer permanecer neste<br />

local as populações aptas a viver e trabalhar neste setor. A melhoria <strong>do</strong> setor urbano<br />

deflagran<strong>do</strong> com situações de risco e perigo. A superação das disparidades regionais e


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

6<br />

ainda estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas<br />

ecologicamente frágeis.<br />

O econômico sen<strong>do</strong> a viabilidade econômica a conditio sine qua non para que<br />

as coisas aconteçam, decorre <strong>do</strong> desenvolvimento econômico intersetorial equilibra<strong>do</strong>,<br />

da segurança alimentar, da capacidade de modernização continua <strong>do</strong>s instrumentos de<br />

produção, razoável nível de autonomia na pesquisa cientifica e tecnológica, e, inserção<br />

soberana na economia internacional.<br />

Política, a governança democrática é um valor funda<strong>do</strong>r e um instrumento<br />

necessário para fazer as coisas acontecerem e a liberdade faz a diferença. Ainda é<br />

preciso pensar na apropriação universal <strong>do</strong>s direitos humanos no desenvolvimento da<br />

capacidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para implementar o projeto nacional em parceria com to<strong>do</strong>s os<br />

empreende<strong>do</strong>res e um nível razoável de coesão social. Em nível internacional é preciso<br />

que haja eficiência num sistema de prevenção de guerras da ONU, na garantia da paz e<br />

na promoção da cooperação internacional. Controle institucional efetivo <strong>do</strong> sistema<br />

internacional financeiro e de negócios, favorecimento ao parceiro mais fraco e sistema<br />

de cooperação ao meio ambiente.<br />

Para se progredir simultaneamente nessas cinco dimensões muita coisa tem<br />

que ocorrer de fato. As políticas são fundamentais para que os pilares sustentáveis sejam<br />

viáveis. Tu<strong>do</strong> depende de uma vontade política na escolha de suas ações, no<br />

empreendimento a ser construí<strong>do</strong>, com a política de arrecadação e ao destino destas<br />

verbas. É fundamental que haja a consciência na busca <strong>do</strong> desenvolvimento e o preparo<br />

para enfrentar criticas e falácias <strong>do</strong> capitalismo, frente à crise ambiental que não ocorre<br />

somente devi<strong>do</strong> aos problemas da natureza ou <strong>do</strong> desgaste <strong>do</strong>s recursos naturais.<br />

Fola<strong>do</strong>ri (2001) comenta que o capitalismo mostrou sua incoerência com o<br />

desenvolvimento sustentável, prova disto é o agravamento da crise na África colocan<strong>do</strong><br />

35 milhões de pessoas em situação de risco, matan<strong>do</strong> talvez 1 milhão. Cerca de 60<br />

milhões de pessoas morreram de enfermidades diarréicas relacionadas à água<br />

contaminada e a desnutrição, sen<strong>do</strong> a maioria, trabalha<strong>do</strong>res rurais. E, acrescen<strong>do</strong> a<br />

estes da<strong>do</strong>s desola<strong>do</strong>res hoje temos um mun<strong>do</strong> avança<strong>do</strong> tecnologicamente, mas que<br />

revela a crueldade de milhões de pessoas passan<strong>do</strong> fome, fazen<strong>do</strong> por vezes uma<br />

refeição a cada três dias conforme da<strong>do</strong>s da FAO.<br />

Não se pode reconhecer sustentabilidade mundial e a situação é agravada pela<br />

crise internacional que arrasta as pessoas ao desemprego mesmo nos países de<br />

desenvolvimento racional. No aspecto da territorialidade os ciclos econômicos e as


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

7<br />

crises provocam as migrações em busca de emprego. Fola<strong>do</strong>ri (2001) atribui a esta<br />

situação as contradições entre migrantes trabalha<strong>do</strong>res e nativos o que gera o levante<br />

<strong>do</strong>s movimentos nacionalistas o ressurgimento <strong>do</strong> racismo e a exploração da força ilegal<br />

de trabalho. Neste caminho também há a migração <strong>do</strong> campo para a cidade<br />

desencadean<strong>do</strong> a aglomeração das cidades, com consequências para a saúde, moradia,<br />

meio ambiente e emprego. Assim não há que se falar em sustentabilidade deixan<strong>do</strong> este<br />

paradigma cada vez mais distante.<br />

Alia<strong>do</strong> a estes problemas há de se falar que o consumismo crescente motiva<strong>do</strong><br />

pela mídia faz com que a idéia de progresso seja rotulada pela aquisição cada vez mais<br />

crescente de aparatos tecnológicos que no dizer de Dupas (2006) faz com que os<br />

indivíduos acreditem que ele será muito mais feliz à medida que estes produtos sejam<br />

cada vez mais substituí<strong>do</strong>s, ainda que custe dez vezes mais. A ilusão trazida pela lógica<br />

<strong>do</strong> capital destrói a sustentabilidade porque inviabiliza a pessoa economicamente,<br />

motiva o consumo, que traz o aumento <strong>do</strong> lixo poluin<strong>do</strong> o meio ambiente, não<br />

engrandece o sujeito politicamente, ao contrario muitas vezes provoca a alienação pelo<br />

uso abusa<strong>do</strong> da máquina e ainda, o deixa fora geograficamente da sua ocupação<br />

funcional, motivan<strong>do</strong> na busca de outros espaços regionais.<br />

É, pois, a redefinição de valores que vai nortear a premissa de produzir sem<br />

degradar o meio ambiente, utilizan<strong>do</strong> o mínimo possível de recursos naturais<br />

delimitan<strong>do</strong> o parâmetro para o consumo e para a densidade populacional. Assim na<br />

linguagem de Montibeller (2008) o desenvolvimento sustentável surge para a economia<br />

ambiental como o paradigma capaz de dar conta da qualidade de vida da população,<br />

sem comprometimento ambiental.<br />

A medição da sustentabilidade possui variáveis múltiplas como vimos acima e<br />

depende de políticas públicas conjuntas, porém alguns aspectos são essenciais para se<br />

aferir qualidade ambiental é: eles população servida de água potável, população<br />

atendida com esgoto sanitário, produção de resíduos <strong>do</strong>mésticos, emissão de dióxi<strong>do</strong> de<br />

carbono e enxofre, esta<strong>do</strong> de uso da terra (desmatamento, florestas, fins agrícolas, etc.)<br />

contabilidade das fontes de água potável, quadro de perda de biodiversidade. Este rol<br />

corresponde ao que se denominam indica<strong>do</strong>res físico-sociais da condição ambiental.<br />

Outros custos são aponta<strong>do</strong>s por Montibeller (2008) que atribui os custos sociais<br />

ecológicos e o dano deles decorrentes dividin<strong>do</strong>-os em:<br />

Custos sociais ecológicos: poluição <strong>do</strong> ar, poluição da água, <strong>do</strong> Solo e<br />

extração de matérias primas que ocasionam destruição florestal, contaminação da área


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

8<br />

urbana, corrosão com deterioração de produtos danos à agricultura e a saúde.<br />

Mortandade de peixes e recursos marinhos com danos a produção alimentar e à saúde.<br />

Destruição da fauna e flora deterioração conseqüente <strong>do</strong>s produtos com danos a saúde e<br />

destruição de paisagem e das estruturas regionais com esgotamento de recursos naturais.<br />

Num segun<strong>do</strong> momento a sustentabilidade é negada quan<strong>do</strong> há custos sociais<br />

trabalhistas com condições de trabalho precárias, mudanças no emprego/desemprego,<br />

exaustão e extinção de empregos, o que produz queda de produtividade, danos à saúde,<br />

tempo de treinamento, salários baixos, danos à saúde, queda na expectativa de vida,<br />

queda no valor da produção e gastos com treinamento.<br />

Por fim existem os custos sociais econômicos, com capacidades ociosas, má<br />

alocação intersetorial, disfunção intra-setorial, disfunção espacial e obsolescência<br />

planejada que gera destruição <strong>do</strong> capital real, subutilização sobrecapacidades,<br />

subcapacidades, barreira ao acesso de novos capitais sobrecapacidade, resultantes de<br />

concentrações, aglomeração, transporte, queda de renda, danos a saúde,<br />

empobrecimento regional e substituição prematura.<br />

A visão acima exposta decorre da interpretação da segunda contradição <strong>do</strong><br />

capitalismo que revela haver um conflito moral ou suicida entre a sociedade capitalista e<br />

a natureza. A relação capital e natureza apresentam tendência cada vez mais antagônica<br />

nos sucessivos estágios <strong>do</strong> capitalismo. A ética interna <strong>do</strong> capitalismo é a conquista da<br />

natureza em nome <strong>do</strong> desenvolvimento, este visto como aumento de produção.<br />

(BURKETT, 1995) No capitalismo expandi<strong>do</strong> a ética é da <strong>do</strong>minação da natureza no<br />

senti<strong>do</strong> de subjugá-la ao capital (WILLIAMS, 1995) Desta feita há de se afirmar a<br />

intima relação, entre produção consumo, capital e natureza com suas contradições, que<br />

põem em xeque a questão <strong>do</strong> desenvolvimento sustentável.<br />

Sob a ótica empresarial o mun<strong>do</strong> hoje se volta ao repensar <strong>do</strong> papel<br />

desenvolvimentista. É preciso um repensar sobre o modelo tradicional <strong>do</strong> modelo de<br />

desenvolvimento que já se demonstrou esgota<strong>do</strong>. As sucessivas crises financeiras que se<br />

tem alastra<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> são no dizer de Mazur e Milles (2010), o resulta<strong>do</strong> da<br />

exploração <strong>do</strong>s ecossistemas, da sociedade injusta, da maquiagem das informações, da<br />

falta de transparência no agir, que empurram milhares de pessoas ao desemprego<br />

produzin<strong>do</strong> uma nova onda de xenofobia e intolerância, sem contar que todas as<br />

economias estão em conexão e onde existe uma crise os respingos desta se propagarão<br />

em outros países, o que implica numa necessária articulação das lideranças globais.


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

9<br />

Na agenda <strong>do</strong>s gestores há pontos interconecta<strong>do</strong>s que devem ser trabalha<strong>do</strong>s:<br />

diminuição <strong>do</strong>s riscos, inovação de produtos e serviços, fortalecimento de marca e<br />

reputação, melhoria de imagem da empresa, estimulo ao progresso social, preservação<br />

ambiental comprovada, relacionamento bom com a mídia e com órgãos <strong>do</strong> governo. Da<br />

relação destes pontos começa e termina a relação sustentável que proporá novas<br />

condutas e melhoria comercial. Não se abstém de incluir a sustentabilidade, em to<strong>do</strong>s os<br />

vetores da vida social, pois os seus feitos estão presentes em qualquer segmento.<br />

É certo que a noção de sustentabilidade permeia a realidade mundial em<br />

tempos de séc. XXI. É primordial para a sobrevivência global e <strong>do</strong> planeta e que de uma<br />

forma ou de outra to<strong>do</strong>s sem exceção estão fazen<strong>do</strong> deste paradigma uma bandeira de<br />

luta em nível sistêmico. A busca da sustentabilidade foi gerada em principio pelos<br />

ambientalistas mais radicais, mas hoje se associa ao movimento democrático social, na<br />

luta pelo fim das desigualdades, na luta pelo espaço legislativo de criar e amparar leis<br />

que realmente atendam a luta pelos direitos humanos.<br />

Num senti<strong>do</strong> social, a sustentabilidade deveria a principio ter se torna<strong>do</strong> uma<br />

alavanca para a melhoria da vida <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res. Ser sustentável implica em atender<br />

to<strong>do</strong>s os itens acima relaciona<strong>do</strong>s e desta atitude deriva as boas consequências de poder<br />

desfrutar de selos internacionais que permitem aos produtores depositar em seus<br />

produtos o valor agrega<strong>do</strong> pelo cumprimento destas praticas saudáveis. Do valor<br />

agrega<strong>do</strong> deriva a confiabilidade <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, o respeito no merca<strong>do</strong> nacional e<br />

internacional, e, sobretu<strong>do</strong> a consciência da realização de praticas coerente com a<br />

efetividade <strong>do</strong>s direitos humanos. O lucro é o resulta<strong>do</strong> destas variáveis.<br />

Todavia, a emissão de selos de sustentabilidade não tem segui<strong>do</strong> uma prática<br />

séria que permita o confronto entre teoria e realidade. Muitas situações induzem a<br />

favorecimento de selos sustentáveis, sem a devida verificação, principalmente no meio<br />

rural. Em recente reportagem trazida pela mídia jornalística, foi constata<strong>do</strong> que pelo<br />

menos 60 das 169 usinas de açúcar e álcool <strong>do</strong> país que receberam o selo Empresa<br />

Compromissada – iniciativa <strong>do</strong> Governo Federal para melhorar as condições de trabalho<br />

<strong>do</strong> campo, no cultivo manual de cana de açúcar e que facilita a exportação de etanol<br />

nacional - estão responden<strong>do</strong> a processos envolven<strong>do</strong> irregularidades nas relações<br />

trabalhistas. Não há respeito a descanso <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, intervalos entre as jornadas,<br />

falta de equipamentos de proteção, ausência de área de descanso, refeitórios e sanitários<br />

e, são elas acusadas de dano moral coletivo.


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

10<br />

O objetivo <strong>do</strong> selo que tinha como escopo livrar as usinas <strong>do</strong> estigma de<br />

explora<strong>do</strong>res de mão de obra recebeu apoio <strong>do</strong> Governo Federal por meio inclusive da<br />

presidenta, mas foi concedi<strong>do</strong> sem tomar em conta, o trabalho <strong>do</strong>s órgãos legais<br />

responsáveis pela legislação trabalhista e fiscalização. Uma das empresas premiada pelo<br />

selo contava com 350 ações trabalhistas em curso, algumas inclusive com condenação<br />

em segunda instância.<br />

Decorre deste descumprimento que nem sempre aquilo que deveria ser<br />

sustentável na integra pode ser confiável. Ademais é preciso raciocinar que a<br />

insustentabilidade implica em uma serie de seqüelas que reproduzem na saúde <strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>r. Aqui repousa a grande conexão entre os temas, que acumulam nuances que<br />

propiciam a fragilidade física e metal <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, em especial <strong>do</strong> rural, que traz uma<br />

história adversa marcada pelo desrespeito aos direitos e garantias fundamentais.<br />

A história <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r rural foi cruel no Brasil e em muitos locais continua<br />

sen<strong>do</strong>. A tardia libertação da escravatura construiu uma política perversa em termos<br />

legais e de realidade agrária. Muito embora as pressões internacionais via Organização<br />

Internacional <strong>do</strong> Trabalho (OIT), órgão que tem agi<strong>do</strong> com maestria no setor de<br />

vigilância <strong>do</strong> trabalho escravo, ainda é acumulativo, os processos que acusam essa<br />

prática no meio rural. O setor rural fere profundamente a dignidade de seu trabalha<strong>do</strong>r<br />

com os fatos que se cumulam em situação inusitadas, e não encontradas no setor urbano<br />

devi<strong>do</strong> à constante fiscalização, que inexiste ou parcamente é oferecida no meio rural. A<br />

ausência de carteiras assinadas, as condições precárias e a degradante situação de<br />

muitos trabalha<strong>do</strong>res, que sem a chance de se ocupar em lotes de reforma agrária ou em<br />

trabalhos que são cada dia mais diminuto, vivem em péssimas condições sociais.<br />

O resulta<strong>do</strong> destes problemas é manifesto nas <strong>do</strong>enças psíquicas causadas pelo<br />

stress, ansiedade e até pelo alcoolismo como meio de fuga de uma realidade cruel.<br />

A estrutura fundiária erigida na forma da monocultura emprega muito pouca<br />

mão de obra, ou se utiliza <strong>do</strong> recurso de mão de obra sazonal, que desarticula a<br />

formação de empregos estáveis e, pior, acumula um potencial de trabalha<strong>do</strong>res sem<br />

identidade, que trabalham no meio rural e moram nas periferias das cidades. Hoje a<br />

máquina substituiu grande parte desse contingente que então, sem alternativa de<br />

trabalho (nem ao menos trabalho penoso como o corte de cana) vive nas cidades, sem<br />

qualquer chance de emprego, viven<strong>do</strong> <strong>do</strong>s expedientes mais varia<strong>do</strong>s, inclusive a<br />

violência. Caminham para a marginalização e atingem índices abaixo da linha da<br />

pobreza. Ladislau Dowbor (1996) atribui grande parte dessa situação aos acor<strong>do</strong>s


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

11<br />

triangulares, firma<strong>do</strong>s entre os proprietários, o governo e as empresas multinacionais de<br />

implementos e insumos agrícolas que geraram ilhas de agricultura mecanizada,<br />

dispon<strong>do</strong> de computa<strong>do</strong>res e aviões. Continua o autor afirman<strong>do</strong> que, também a<br />

monopolização <strong>do</strong> solo agrícola como reserva de valor expulsou o trabalha<strong>do</strong>r rural <strong>do</strong><br />

campo, impedin<strong>do</strong>-os de criar médias e pequenas propriedades rurais.<br />

Compartilhan<strong>do</strong> das idéias citadas e ainda discutin<strong>do</strong> que afora esses fatores,<br />

existe a omissão <strong>do</strong>s juristas em difundir e fazer cumprir o real significa<strong>do</strong> da função<br />

social da propriedade. Dessa forma, corroboraram para que as ilhas de riqueza se<br />

instalassem no mar de pobreza rural. As intervenções mundiais, por parte <strong>do</strong>s<br />

organismos como a OIT e FAO clamam por intervenções firmes, tanto no setor urbano<br />

como rural, sen<strong>do</strong> que este deve seguir orientações voltadas para a estruturação da<br />

agricultura familiar.<br />

Todavia, numa perspectiva econômica, a agricultura familiar transparece como<br />

um óbice ao progresso e desenvolvimento nacional. Por força da interpretação errônea<br />

da lei, que reduz, em grande parte a análise da função social da propriedade, aos limites<br />

de produtividade e à grande economia de produção em escala, os proprietários rurais,<br />

volta<strong>do</strong>s para a obtenção fatorial <strong>do</strong>s lucros, permanecem na monocultura e a defendem<br />

como único meio de manutenção da economia rural para países em vias de<br />

desenvolvimento. Ao seu turno, o Esta<strong>do</strong> entusiasma<strong>do</strong> com os lucros advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

superávit da balança comercial, incentiva esses empresários rurais, que produzem safras<br />

recordes, canalizadas para a exportação e deixam perecer os pequenos proprietários e<br />

assenta<strong>do</strong>s, que ao desalento deixam suas terras em busca de outras atividades, geran<strong>do</strong><br />

um ciclo de conflito social, desemprego, baixa produção de alimentos para o consumo<br />

interno, conseqüente aumento nos preços, o que decorre em pobreza, desnutrição e to<strong>do</strong><br />

tipo de <strong>do</strong>enças físicas e mentais.<br />

José Eli da Veiga (2000) constata que a pobreza é proporcionalmente maior no<br />

meio rural de todas as regiões brasileiras, com especial destaque para o Nordeste.<br />

Comenta o autor que essa singela constatação parece ao menos estranha, num país onde<br />

se registrou uma das mais drásticas experiências de êxo<strong>do</strong> em direção as cidades. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, isso indica que a manutenção <strong>do</strong> mesmo padrão de crescimento econômico,<br />

mesmo que venha reduzir bastante à pobreza urbana <strong>do</strong> Nordeste, poderá não ter efeito<br />

equivalente sobre sua pobreza rural, a qual representa sozinha, <strong>do</strong>is terços da pobreza<br />

rural brasileira e um quinto da pobreza total. Não despreza o autor a análise da pobreza<br />

rural no segmento mais desenvolvi<strong>do</strong> <strong>do</strong> país, chaman<strong>do</strong> a atenção que essa pobreza tem


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

12<br />

fortíssima ligação com a agropecuária, que emprega muito pouco, se caracterizan<strong>do</strong> de<br />

forma patronal. Novamente a repetição <strong>do</strong> modelo monocultural latifundiário é visto<br />

com um atraso na realidade rural, precisan<strong>do</strong> ser combati<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> à insustentabilidade<br />

gerada.<br />

Caso fosse efetivada uma política de reforma agrária, esta não seria apenas boa<br />

para o desenvolvimento econômico local, mas também constituiria numa política social<br />

mais efetiva, <strong>do</strong> que permitir ao merca<strong>do</strong> continuar expulsan<strong>do</strong> os pobres de áreas rurais<br />

para cidades superpopulosas. Rosset (2006). Na mesma linha Mazoyer e Roudart (2010)<br />

concordam que, nos países que não realizaram reforma agrária recente, a maioria destes<br />

camponeses mal equipa<strong>do</strong>s são mais ou menos destituí<strong>do</strong>s de terra pelos grandes<br />

estabelecimentos agrícolas de milhares e milhares de hectares que tem natureza publica<br />

ou privada, ou em vias de privatização. Estes trabalha<strong>do</strong>res são obriga<strong>do</strong>s a procurar<br />

trabalho nos grandes estabelecimentos, viver de parcos salários ou migrar para as<br />

cidades em busca de ao menos tentar se alimentar. Os preços <strong>do</strong>s produtos agrários são<br />

extremamente baixos para permitir os trabalha<strong>do</strong>res viverem de seu trabalho e renovar<br />

seus meios de produção e enfrentar a concorrência. Sem apoio <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> a tendência é<br />

aumentar a fome e a miséria. Com má alimentação em quantidade e qualidade os<br />

trabalha<strong>do</strong>res rurais ficam vulneráveis as mais diferentes <strong>do</strong>enças como a desnutrição<br />

que tem influência direta no aprendiza<strong>do</strong>, a infecções, a obesidade que reflete nos<br />

problemas cardio vasculares, diabetes, afora os processos alérgicos decorrentes <strong>do</strong> uso<br />

constante com agrotóxicos.<br />

Por muito tempo, pensou-se que a preocupação fosse com a produção <strong>do</strong>s<br />

alimentos, que estes pudessem faltar e o mun<strong>do</strong> poderia perecer pela ausência de<br />

comida. Todavia, a tecnologia se aperfeiçoou, aumentou-se a produção e se descobriu o<br />

mais grave: que a fome no mun<strong>do</strong> é decorrência da ausência de recursos financeiros<br />

para se adquirir produtos alimentares. Em outras palavras, a fome é decorrência da<br />

ganância <strong>do</strong>s ricos, das políticas <strong>do</strong>s países desenvolvi<strong>do</strong>s no comércio internacional, da<br />

falta de solidariedade, da ausência <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que toma o la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s grandes grupos<br />

econômicos para negociar favores. A miséria é fruto das corrupções políticas,<br />

principalmente, onde a democracia é fraca: as oportunidades são desiguais, os salários<br />

são baixos e o povo não se organiza para exigir <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> seus direitos básicos. O Brasil<br />

tem melhora<strong>do</strong>, lentamente, seus índices de desenvolvimento, porque decidiu criar<br />

mecanismos de ajuda aos que passam fome. O Bolsa Família é um programa dentre os<br />

muitos que existiram e ainda busca tentar recuperar as pessoas que mal se alimentam. É


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

13<br />

uma prática paliativa, que não altera as estruturas, que não provoca mudanças radicais;<br />

portanto, resume-se numa assistência emergencial. O resgate da dignidade <strong>do</strong>s pobres,<br />

da saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, perpassa pela colaboração da sociedade, pelas mudanças<br />

econômicas, pela discussão daqueles que podem lutar por políticas que convertam a<br />

efetiva e verdadeira sustentabilidade.<br />

Considerações Finais<br />

Este não é um trabalho concluso, pois o Direito é mutável o que faz das suas<br />

consequências meras constatações temporárias. Porém no Brasil rural há tempos, a<br />

mesma política favorável ao grande proprietário vem sen<strong>do</strong> mantida, corroboran<strong>do</strong> para<br />

que a situação de miséria fome e discriminação social se instalem.<br />

Por mais que o Direito dentro da perspectiva humanista tenha evoluí<strong>do</strong> em<br />

termos legislativos e tenha posto em sua carta magna, elementos da sustentabilidade que<br />

tecem os fundamentos para o cumprimento da vida digna com igualdade de<br />

oportunidades, quan<strong>do</strong> se depara com a realidade percebe-se o ranço, secular imposto<br />

por uma <strong>do</strong>minação escravocrata monocultural, latifundiária que não só é mais perversa<br />

devi<strong>do</strong> às organizações internacionais que cobram insistentemente providências <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s. Os movimentos sociais atuam como agentes de pressão no combate as<br />

desigualdades. A academia clama por providências utilizan<strong>do</strong> o expediente das<br />

denuncias e ensinan<strong>do</strong> a busca da isonomia, por meio da igualdade de oportunidades.<br />

A tão almejada sustentabilidade clama, como bem diz Duarte (2011), o caráter<br />

emancipatório <strong>do</strong> direito e <strong>do</strong> seu atual e possível papel, nas lutas contra hegemônicas,<br />

fazen<strong>do</strong>-se valer <strong>do</strong>s movimentos sociais, das ONGs e de to<strong>do</strong>s aqueles que possam<br />

representar a sociedade. O alcance <strong>do</strong> direito emancipatório se traduz em luta constante,<br />

luta vinda <strong>do</strong> povo que vai muito além da crise ambiental, mas que compreende a<br />

sustentabilidade como um to<strong>do</strong> social, econômico, geográfico e político. Para tal fim<br />

que o direito deve caminhar, realizan<strong>do</strong> seu objetivo maior que é a justiça social,<br />

festejada em senti<strong>do</strong> lato com irradiações globais.<br />

Referencias<br />

BURKETT, Paul. Capitalization versus socialization of nature. Capitalism, nature<br />

socialism. v. 6, n.4, p. 92-100, dec. 1995.


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

14<br />

DOWBOR, Ladislau; BAVA, Sílvio Caccia. Políticas Municipais de Emprego. Revista<br />

Polis, São Paulo, n.25, p. 7-28, 1996.<br />

DUPAS, Gilberto. O mito <strong>do</strong> progresso. São Paulo: Editora UNESP, 2006.<br />

FOLADORI, Guillermo. Limites <strong>do</strong> Desenvolvimento Sustentável. Campinas: Editora<br />

UNICAMP, 2001.<br />

FURTADO, Celso. Os desafios da nova geração. Revista de Economia Política, v. 24,<br />

n. 4 (96), p. 483-486, out.-dez., 2004.<br />

GRANZIERA, Maria Luisa Macha<strong>do</strong>. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009.<br />

DUARTE, Madalena. Movimentos na Justiça. Coimbra: Almedina, 2011.<br />

MANIGLIA <strong>Elisabete</strong>. O trabalho rural sob a ótica <strong>do</strong> direito agrário: uma opção<br />

ao desemprego no Brasil. Franca: UNESP, 2002.<br />

MANIGLIA <strong>Elisabete</strong>. As interfaces entre o Direito Agrário, os Direitos humanos e<br />

a segurança alimentar. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.<br />

MAZOIER, Marcel; ROUDART, Laurence. História das Agriculturas no mun<strong>do</strong>. São<br />

Paulo/Brasília: Editora UNESP/NEAD, 2010.<br />

MAZZUR, Laura; MILLES, Louella. Conversas com os mestres da sustentabilidade.<br />

São Paulo: Editora Gente, 2010.<br />

MONTIBELLER FILHO, Gilberto. O mito <strong>do</strong> desenvolvimento sustentável. 3. ed.<br />

Florianópolis: Editora da UFSC, 2008.<br />

RODRIGUES, Lino. Compromisso para gringo ver: Denúncias trabalhistas atingem um<br />

terço das usinas de cana com selo de empresa responsável. Disponível em: <<br />

http://oglobo.globo.com/economia/compromisso-para-gringo-ver-5549753>. Acesso<br />

em:17, ago., 2012.<br />

ROSSET, Peter. Alternativa à política fundiária de merca<strong>do</strong> reforma agrária e soberania<br />

alimentar. In: SAUER, Sergio, PEREIRA, João Marcio. Capturan<strong>do</strong> a terra. São<br />

Paulo Expressão Popular, 2006.<br />

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 4. ed. Rio de<br />

Janeiro: Garamond, 2002.<br />

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável sustenta<strong>do</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Garamond, 2004.<br />

SANTOS, Boaventura Sousa, Pela mão de Alice: O social e o político na pós<br />

modernidade. 6 ed. Porto: Afrontamento, 1997.<br />

SEN, Amartya. A decade of Human Development. In: Journal of Human<br />

Development, v.1, n.. 1, p.17-23, 2000.


VIII Seminário de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (em continuidade ao VII Seminário de Saúde <strong>do</strong><br />

Trabalha<strong>do</strong>r de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/<br />

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.<br />

15<br />

VEIGA, Jose Eli da. Desenvolvimento sustentável o desafio <strong>do</strong> séc. XXI. 2. ed. Rio<br />

de Janeiro: Garamond, 2006.<br />

VEIGA, Jose Eli da. Pobreza rural, Distribuição de riqueza e Crescimento: a<br />

Experiência Brasileira. In. Revista Nead, n.2, Brasília: Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento<br />

Agrário, 2000.<br />

WILLIAMS, Raymond. Socialism and ecology. Capitalism, nature, socialism. v.6,<br />

n.1, p.41-57, mar. 1995.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!