15.03.2015 Views

Edição 10 - Revista PIB

Edição 10 - Revista PIB

Edição 10 - Revista PIB

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Cultura<br />

Um<br />

xodó<br />

novo<br />

Cresce o número de estrangeiros<br />

que estudam o português do Brasil<br />

F L AV I O D E C A R VA L H O S E R PA<br />

Hannah<br />

Mallinckrodt,<br />

Nos jardins<br />

do King´s<br />

College, de<br />

Londres:<br />

“Adoro dançar<br />

o forró”<br />

ERIKA TAMBKE<br />

Como efeito colateral da<br />

crescente exposição do<br />

Brasil na mídia internacional,<br />

o “brasileiro”, ou<br />

o “Brazilian Portuguese”,<br />

vem ganhando adeptos mundialmente.<br />

O interesse global, antigamente<br />

alimentado apenas por música<br />

e esportes, ganhou novo alento com<br />

a presença relevante do país entre<br />

os chamados Brics e pela escolha do<br />

Rio de Janeiro como sede dos Jogos<br />

Olímpicos de 2016 e do Brasil para a<br />

Copa do Mundo de Futebol de 2014.<br />

O Brasil, que quase só comparecia<br />

no noticiário internacional por<br />

causa de mazelas da distribuição<br />

de renda e outros males da estagnação,<br />

agora frequenta o noticiário<br />

positivamente. Os americanos não<br />

confundem mais a capital brasileira<br />

com Buenos Aires, como no passado.<br />

Até ensaiam uma familiaridade com<br />

a língua portuguesa, adotando algumas<br />

palavras sem traduzi-las, como<br />

fez recentemente o Wall Street Journal<br />

num artigo sobre o futebol brasileiro:<br />

“The paradinha (pronounced<br />

par-a-JEEN-ya) is a technique of<br />

taking a penalty kick designed to<br />

throw off the goalkeeper’s timing”.<br />

Além do interesse despertado espontaneamente<br />

pela maior presença<br />

do Brasil no noticiário, também o<br />

Ministério das Relações Exteriores<br />

busca incentivar o aprendizado do<br />

português. Atualmente, o departamento<br />

cultural do Itamaraty coordena<br />

e remunera as atividades de 53 leitorados,<br />

nome dado aos professores<br />

que recebem subsídios do ministério<br />

para trabalhar no exterior. Em 2008,<br />

eles eram 45 em 36 países (eram 30<br />

em 2006). No ano passado, o Itamaraty<br />

registrou 27 292 estudantes<br />

matriculados em todo o mundo. A<br />

expansão da rede de leitorados é um<br />

bom exemplo do êxito dessa modalidade<br />

de promoção da língua portuguesa<br />

e da cultura brasileira. Ela<br />

atinge uma parcela qualificada das<br />

populações locais, em especial no<br />

âmbito das comunidades acadêmicas<br />

e formadoras de opinião.<br />

Como não poderia deixar de ser,<br />

o “Brazilian Portuguese” também<br />

está presente nas redes sociais da<br />

internet, verdadeiros dínamos disseminadores<br />

de modismos – mas<br />

também de serviços muito práticos.<br />

No Facebook, a maior dessas redes,<br />

acaba de ser criado um grupo chamado<br />

Learn Brazilian Portuguese<br />

que, em poucas semanas, já conta<br />

com quase 700 membros de todas as<br />

partes do mundo. Um levantamento<br />

entre os usuários sobre as razões<br />

de seu interesse no português brasileiro<br />

revela motivações variadas.<br />

Entre os adeptos figuram garotas<br />

apaixonadas pela música ou capoeira,<br />

estudantes que se preparam para<br />

o trabalho acadêmico de campo no<br />

Brasil e profissionais em busca de<br />

oportunidades de negócio. A professora<br />

Megwen Loveless, uma das<br />

criadoras do grupo Por aqui, também<br />

dedicado à propagação do idioma,<br />

fez seu doutorado sobre forró e<br />

hoje leciona português em Princeton,<br />

em Nova Jersey, uma das universidades<br />

de elite dos Estados Unidos.<br />

O interesse pela cultura brasileira<br />

foi captado quase que no ar pela<br />

dramaturga paulista Jhaira, nome<br />

artístico que significa<br />

“rio de mel”<br />

Os alunos de<br />

Português da<br />

Georgetown<br />

University<br />

saltaram de<br />

70 para 200<br />

em tupi. “É coisa<br />

de índio mesmo,<br />

sem sobrenome”,<br />

ela brinca. Após<br />

uma temporada de<br />

imersão na dramaturgia<br />

britânica,<br />

em Londres, Jhaira<br />

passou a coordenar<br />

o projeto Com a palavra,<br />

um programa na internet que<br />

se propõe a unir plateias em países<br />

diferentes por meio do português. O<br />

projeto conta com o apoio entusiasmado<br />

do King’s College, instituição<br />

que figura entre as 25 melhores universidades<br />

do mundo e é a quarta<br />

mais antiga da Inglaterra. De fato,<br />

é no ambiente acadêmico que essa<br />

tendência pode ser notada mais claramente.<br />

Em 2002, a Universidade<br />

de Georgetown, em Washington, tinha<br />

apenas 70 alunos de português<br />

por ano. Hoje, esse número aumentou<br />

para mais de 200. De acordo<br />

com Bryan McCann, diretor do<br />

Programa de Estudos Brasileiros da<br />

universidade, a crescente presença<br />

do Brasil no cenário internacional<br />

vem aumentando o interesse pelo<br />

país. “Tivemos de nos adequar a<br />

essa demanda crescente”, diz Bryan.<br />

“Atualmente, oferecemos três cursos<br />

para estudantes de graduação<br />

e pós-graduação sobre cultura, política<br />

e história brasileira, e ainda<br />

cinco turmas de português.”<br />

No passado, gerações dos chamados<br />

brazilianists costumavam<br />

concluir o curso sem nem ao menos<br />

dominar a língua portuguesa,<br />

pois assistiam a todas as aulas em<br />

inglês. Isso não acontece mais na<br />

Georgetown: “Somos a única universidade<br />

americana que oferece<br />

aulas de história e política brasileira<br />

em português”, gaba-se Bryan. Uma<br />

das mais destacadas universidades<br />

norte-americanas,<br />

particularmente na<br />

área de relações internacionais,<br />

a Georgetown<br />

é uma espécie de<br />

celeiro da política internacional<br />

e diplomacia<br />

norte-americanas.<br />

Tem cerca de 6 mil<br />

alunos em seus cursos<br />

de graduação e outros<br />

1 500 matriculados em<br />

pós em relações internacionais.<br />

O interesse por nosso idioma<br />

estende-se ao Canadá, outra ilha da<br />

excelência internacional. Andréa Pacheco<br />

Pacífico, professora de Direito<br />

e Relações Internacionais no Brasil<br />

na York University, Toronto, testemunha:<br />

“A crescente importância<br />

do Brasil nos fóruns internacionais<br />

desperta cada vez mais a vontade de<br />

estrangeiros de conhecer o país”, ela<br />

diz. São estudantes interessados em<br />

fazer negócios com o país, aprender<br />

a cultura brasileira e, especialmente,<br />

o idioma. Como há pouca informação<br />

em inglês para o estudo de determinadas<br />

áreas, os acadêmicos começam<br />

seu aprendizado pela língua, a<br />

fim de poderem ler obras publicadas<br />

32 P I B P I B 33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!