JORNAL BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA - Sociedade Brasileira ...
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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia<br />
Todo oftalmologista deve ter informações sobre retina<br />
Mesmo o não especialista deve estar ciente dos recentes avanços diagnósticos em retina<br />
Autoridade reconhecida nacional e internacionalmente na área de retina,<br />
ex-presidente da <strong>Sociedade</strong> <strong>Brasileira</strong> de Retina e Vítreo, vice-presidente regional<br />
(MG) da SBO, Roberto Abdalla Moura mostra na entrevista abaixo a<br />
importância de todo oftalmologista, inclusive o generalista, conhecer as indicações<br />
cirúrgicas atualizadas da subespecialidade e os prós e contras de cada uma<br />
Jornal Brasileiro<br />
de Oftalmologia-<br />
O nosso<br />
objetivo hoje é o<br />
de informar ao oftalmologista<br />
geral,<br />
o generalista<br />
em oftalmologia,<br />
os conceitos atuais<br />
e avanços na<br />
área de retina. É<br />
claro que o exame<br />
Roberto Abdalla Moura* de fundo de olho<br />
é parte muito importante<br />
na consulta de um paciente no dia<br />
a dia, mesmo para aqueles que vêm para<br />
um simples exame refracional. De uma maneira<br />
geral, como podemos fazer a análise<br />
destes avanços e conceitos?<br />
Roberto Abdalla Moura- Agradecendo<br />
esta oportunidade e o convite da SBO, desde<br />
algum tempo a retina tem se dividido em retina<br />
clínica e retina cirúrgica. Ambas interessam ao<br />
oftalmologista que o professor Hilton Rocha,<br />
mestre de todos nós, chamava de generalista.<br />
Mesmo que não opere casos de retina é<br />
imprescindível estar ciente dos avanços diagnósticos<br />
e das indicações cirúrgicas atualizadas,<br />
e de uma maneira geral os prós e contras de<br />
cada situação. O “seu” paciente vai confiar mais<br />
em você do que em um médico estranho, apesar<br />
de ser um superespecialista, a não ser que<br />
você o endosse como tal.<br />
A retinopatia diabética é um bom exemplo<br />
de uma doença retiniana que pode ser<br />
tratada clinicamente, com a ajuda do<br />
endocrinologista, pode ser acompanhada<br />
pelo oftalmologista geral, e ser tratada pelo<br />
especialista em retina que só faça retina clínica,<br />
e pelo especialista que cuide dos complexos<br />
casos cirúrgicos que possam ocorrer<br />
nesta enfermidade multidisciplinar.<br />
Estima-se que 3 a 7% da população brasileira<br />
sejam afetadas pela diabetes e que de<br />
30 a 40% irão desenvolver alguma forma ou<br />
tipo de retinopatia durante suas vidas. Isto<br />
significa que o oftalmologista geral irá examinar,<br />
sem duvida, vários pacientes diabéticos<br />
durante seu exercício profissional.<br />
A retina clínica cuida especialmente dos<br />
vários diagnósticos de enfermidades<br />
retinianas que possam ocorrer e de enfermidades<br />
gerais que se reflitam na retina.<br />
Alguns diagnósticos são complexos ,<br />
como é o caso das vasculites , que afetam o<br />
indivíduo como um todo, e que às vezes podem<br />
se diagnosticados com a ajuda de um<br />
exame de fundo de olho e uma<br />
angiofluoresceinografia .O pneumologista<br />
e o nefrologista ficarão surpresos e agradecidos<br />
se você os ajudar, por exemplo, no diagnóstico<br />
de uma granulomatose de Wegener,<br />
ou o hematologista, em uma leucemia.<br />
Outros diagnósticos são mais fáceis, como<br />
alguns casos de descolamentos serosos centrais<br />
da retina. Qual o diagnóstico? É uma<br />
serosa central , um descolamento de retina ou<br />
um descolamento exsudativo mais amplo?<br />
Será preciso referir o paciente ao especialista?<br />
Como fazê-lo sem inquietar seu paciente<br />
em demasia, mas assegurando que tenha um<br />
atendimento que você mesmo gostaria de ter?<br />
Devemos prescrever a refração atual para<br />
que possa melhorar sua visão ou aguardar<br />
uma avaliação mais adequada após o tratamento?<br />
E assim por diante.<br />
JBO – Sabemos da existência de vários<br />
medicamentos que agora são injetados<br />
na cavidade vítrea e estão “na moda”<br />
por assim dizer, especialmente para o<br />
tratamento da DMRI (Degeneração<br />
Macular Relacionada à Idade).<br />
Quais os avanços nesta área? Os medicamentos<br />
são comparáveis?<br />
RAM - Antes de responder, deixe-me<br />
exemplificar com um caso, recentemente ocorrido,<br />
de um paciente com 36 anos de idade,<br />
que recebeu 10 injeções de um medicamento<br />
antiangiogêncio, em cada olho, após um<br />
edema macular ter sido diagnosticado logo<br />
em seguida a uma operação de catarata.<br />
Quando o paciente veio a meu consutório<br />
para tentar resolver este problema crônico,<br />
na anamnese, perguntei o que o incomodava<br />
mais. A resposta foi que sua visão era ruim<br />
o tempo todo, mas que piorava muito à noite.<br />
Ora, era de se esperar que com um edema<br />
macular a visão melhorasse à noite pela dilatação<br />
das pupilas; um campo visual levantou<br />
a suspeita e o ERG confirmou ter o paciente<br />
retinose pigmentar e que o edema<br />
macular não era um edema pós- cirurgia de<br />
catarata, um “ Irvine-Gass” e sim um edema<br />
complicando a retinose pigmentar, com tratamentos<br />
e abordagens diferentes.<br />
-O “seu” paciente vai confiar mais em você do que em um médico estranho,<br />
apesar de ser um superespecialista, a não ser que você o endosse como tal.<br />
Em muitos casos, como na retinopatia diabética, tratada clinicamente, o<br />
paciente pode ser acompanhado por um generalista, apoiado por um<br />
endocrinologista, exemplifica Roberto Abdalla Moura.<br />
Voltando aos medicamentos antiangiogênicos,<br />
muito em voga, inegavelmente<br />
trouxeram o tratamento da DMRI a um novo<br />
patamar.<br />
Tanto o Avastin (bevacizumabe) quanto<br />
o Lucentis (ranibizumabe) nos dão a oportunidade<br />
de diminuir ou estacionar a evolução<br />
da doença, bem como em um terço dos casos<br />
melhorar a visão inicial. É claro que quanto<br />
mais cedo o diagnósticio, melhor a oportunidade<br />
de salvar visão que seja útil para o<br />
paciente. Este diagnóstico precoce é<br />
“sacramentado” e colocado em evidência pela<br />
tomografia de coerência óptica espectral, o<br />
OCT Espectral, que nos ensinou muito como<br />
olhar a mácula de uma maneira especial. Literalmente<br />
com “novos olhos”.<br />
O OCT-espectral foi o maior avanço da<br />
especialidade para diagnóstico e tratamento<br />
(seguimento e resultados) para doenças<br />
maculares, paramaculares, discais e para<br />
discais e doenças secundárias a oclusões<br />
vasculares venosas.<br />
Estamos atentos a alterações mínimas que<br />
antes não dávamos muita atenção.<br />
E estamos no limiar do uso de outros medicamentos<br />
para a DMRI e o edema macular<br />
secundário às oclusões venosas. O VEGEF-<br />
TRAP e o Aflibercept (Eylea da Regeneron<br />
Pharmaceuticals) são exemplos de medicamentos<br />
que em breve serão aprovados no Brasil<br />
para tais tratamentos e ampliarão a nossa<br />
escolha para cada caso em particular.<br />
Gostaria ainda de mencionar outro grande<br />
avanço diagnóstico que é a autofluorescência.<br />
Voltada à patologia macular, especialmente, permite<br />
evidenciar alterações precoces em muitas<br />
situações, inclusive na DMRI seca , não<br />
proliferativa, na própria DMRI exsudativa, buracos<br />
maculares, maculopatias medicamentosas,<br />
etc.etc. Alterações estas que se manifestam antes<br />
mesmo de afetar outras funções visuais.<br />
JBO- Na área de laser, alguma novidade?<br />
RAM – Sim. Estamos tratando com mais<br />
precisão e com menos potência , em<br />
geral.Existem vários lasers não térmicos , que<br />
não coagulam as proteínas retinianas, mas, por<br />
assim dizer, “exitam” o epitélio pigmentado<br />
da retina, e que são usados em maculopatias,<br />
retinopatias e alguns tipos de glaucoma de<br />
ângulo aberto .Os grupos de Araraquara,<br />
Riberão Preto e da Unifesp (SP) têm trabalhado<br />
nesse sentido com lasers no modo<br />
subliminar na retinopatia diabética. É só procurar<br />
na literatura.<br />
Quando completos os protocolos e com<br />
melhor “follow-up” mostrarão se a eficácia<br />
será comprovada.<br />
JBO- O que esperar para o futuro ?<br />
RAM-Mecanicamente os avanços cirúrgicos<br />
de vitrectomias com incisões pequenas 23,25<br />
e 27 gauge , diminuem o trauma cirúrgico e<br />
facilitam a recuperação do paciente. São comparáveis<br />
às microincisões da cirurgia de catarata<br />
atual. A maior disponibilidade de instrumentos<br />
nestes moldes aumentarão o seu uso. O uso<br />
do Bion e da visualização ampla com lentes de<br />
não contato, com iluminação ampla, na infusão,<br />
o chamado “chandelier”, facilitará certos aspectos<br />
para o retinologista cirúrgico, se bem que às<br />
vezes complicando certas manobras para os casos<br />
complexos de retinopexia e vitrectomias combinados,<br />
mas nada que não se possa superar. Cada<br />
cirurgião tem o seu cardápio cirúrgico individualizado<br />
e de sua preferência.<br />
A anestesia local, a não ser para crianças,<br />
politraumatizados e paciente s mentais, facilita<br />
a recuperação e diminui as complicações<br />
sistêmicas pós-operatórias.<br />
O grande desafio da especialidade ainda<br />
é medicamentoso para enfermidades clínicas<br />
e cirúrgicas. Por exemplo, medicamento que<br />
iniba completamente a PVR - Proliferação<br />
Vítreorretiniana.<br />
Terapia genética, célula s tronco, “chips”<br />
retinianas, regeneração e proteção neural estão<br />
por vir.<br />
Novos tratamentos tumorais também.<br />
Transplantes celulares, e assim por diante.<br />
JBO- Algum conselho para os jovens<br />
que queiram seguir a especialidade?<br />
RAM- Usem o seu período de treinamento,<br />
com estudo e prática supervisionados por<br />
bons professores e instrutores. Não existem exames<br />
que precluam outros. Todos são complementares<br />
e dependem do juízo do avaliador de<br />
que os analisa. O que é melhor? Examinar um<br />
paciente na lâmpada de fenda por 30 minutos<br />
ou mais ou com o oftalmoscópio indireto pelo<br />
mesmo tempo? Depende de sua habilidade<br />
pessoal! Mas não deixe de treinar mais aquilo<br />
que exige mais trabalho de você!!! Não fuja<br />
daquilo que é mais laborioso, só por isto. Mantenha<br />
a concentração sempre em alto nível!<br />
*Vice-presidente regional (MG) da SBO