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O herói negro do Martín Fierro - Grupo de Estudos em Literatura ...

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164 Alexandre SilvaQue no se armara pen<strong>de</strong>ncia,Se pusieron <strong>de</strong> por medioY la cosa quedó quieta.<strong>Martín</strong> <strong>Fierro</strong> y los muchachos,Evitan<strong>do</strong> la contienda,Montaron y paso a paso,Como el que mie<strong>do</strong> no lleva,A la costa <strong>de</strong> un arroyoLlegaron a echar pie a tierra (La vuelta, 4523-34, grifos nossos).Ao aludir à sua família unida e amorosa (<strong>em</strong> franca oposição à <strong>de</strong> <strong>Martín</strong><strong>Fierro</strong>) e também aos seus nove irmãos, o Moreno está indican<strong>do</strong> assim queo ciclo da vingança po<strong>de</strong> prosseguir infinitamente. Mesmo que <strong>Martín</strong> <strong>Fierro</strong>mate o Moreno como matou o Negro, não faltará qu<strong>em</strong> lhe vinge. Será porisso que <strong>Fierro</strong> não só <strong>de</strong>clina o duelo como também combina se separar<strong>do</strong>s filhos e que mu<strong>de</strong>m to<strong>do</strong>s <strong>de</strong> nome? Ángel Núñez, entretanto, <strong>em</strong> umartigo sobre a heroicida<strong>de</strong> <strong>do</strong> gaúcho, afirma que <strong>Martín</strong> <strong>Fierro</strong> não foge<strong>do</strong> duelo, mas simplesmente coloca-se acima <strong>de</strong>le. Cumprirá seu <strong>de</strong>stino elutará, se for necessário – mas esse duelo não é: “en la economía <strong>de</strong>l relato,ya es un héroe, ya ha cumpli<strong>do</strong> sus pruebas” 31 . Núñez ainda afirma que,para ele, o fato <strong>de</strong> os especta<strong>do</strong>res da payada se colocar<strong>em</strong> entre <strong>Fierro</strong> e oMoreno, impedin<strong>do</strong> o duelo, significaria o reconhecimento <strong>de</strong> <strong>Fierro</strong> como<strong>herói</strong> 32 . Entretanto, as últimas palavras <strong>de</strong> <strong>Martín</strong> <strong>Fierro</strong> <strong>de</strong>ixam claro quenão haverá duelo; os populares não precisavam ter intervi<strong>do</strong>: além disso,nos parece completamente oposto ao caráter gaúcho (ao menos ao carátergaúcho como é mostra<strong>do</strong> na literatura gauchesca) que um público <strong>de</strong> gaúchos<strong>em</strong> uma pulperia, ao ver seu <strong>herói</strong> sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>safia<strong>do</strong> para um duelo porum adversário que clararamente também era um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> valor, apart<strong>em</strong>a briga, ao invés <strong>de</strong> formar um círculo para melhor apreciar um duelo queseguramente seria lendário e, talvez, digno <strong>de</strong> uma canção.Por fim, para Josefina Ludmer, <strong>em</strong> seu livro sobre o gênero gauchesco, agran<strong>de</strong> mudança entre ambas as partes <strong>do</strong> <strong>Martín</strong> <strong>Fierro</strong> está na questão dalei: <strong>em</strong> La ida, vale a lei oral <strong>do</strong> gaúcho; <strong>em</strong> La vuelta, vale a lei escrita, ditacivilizada. Se o enfrentamento físico com o Negro foi o ápice <strong>de</strong> La ida, o31 Núñez, “La heroicidad <strong>de</strong> <strong>Martín</strong> <strong>Fierro</strong> y <strong>de</strong>l pueblo argentino”, p. 796.32 Id., ibid.

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