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Indicadores e Metas Gerais - Ministério da Cultura

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<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong> / Fecamp<br />

Projeto: “Perspectivas <strong>da</strong> Economia <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong>: um modelo de análise<br />

do caso brasileiro”<br />

Área: <strong>Indicadores</strong> para Política <strong>Cultura</strong>l no Campo <strong>da</strong> Arte<br />

Contemporânea<br />

Nota Técnica<br />

Coordenação: Márcia Ferran<br />

Colaboradores: Ana Letícia Fialho, Ilana Goldstein e Raquel Garbelotti<br />

Campinas<br />

Janeiro de 2012<br />

1


Sumário<br />

1. Introdução 4<br />

2. Recortes sobre indicadores e políticas culturais 4<br />

2.1 Política <strong>Cultura</strong>l 5<br />

3. Sistema, seus componentes e singulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> recepção <strong>da</strong> Arte Contemporânea 9<br />

3.1 O Sistema <strong>da</strong> Arte Contemporânea 9<br />

3.2 O sistema de arte contemporânea e o cenário internacional 11<br />

3.3 Especifici<strong>da</strong>des do sistema de arte no Brasil 14<br />

3.4 Fragili<strong>da</strong>de institucional e inserção internacional 15<br />

3.5 Valor <strong>da</strong> arte e economia <strong>da</strong> cultura 16<br />

3.6 Arte Contemporânea e seus Usos: Fatores exógenos ao campo específico <strong>da</strong> arte:<br />

políticas urbanas. Interrelações entre: territórios e eventos nacionais e internacionais de arte<br />

contemporânea. 17<br />

3.6.1 Os espaços discursivos <strong>da</strong> Arte e suas relações com as ci<strong>da</strong>des e suas economias 20<br />

4. “Economia(s)” <strong>da</strong> cultura: plurali<strong>da</strong>de de economias decorrente dos diversos circuitos de<br />

valoração e legitimação <strong>da</strong> Arte Contemporânea 22<br />

4.1 Recortes possíveis 26<br />

4.2 Espaços independentes e residências artísticas 28<br />

4.3 As produtoras 28<br />

4.4 Mecanismos de financiamento para arte contemporânea (editais, prêmios-<br />

residência, prêmios para produção, prêmios para aquisição, etc.) 29<br />

4.5 O mercado 29<br />

4.6 Editoras que têm foco na arte contemporânea 30<br />

4.7 Curadores independentes 30<br />

5. O Sistema <strong>da</strong> Arte Contemporânea e sua Inserção Internacional 30<br />

6. Conclusão 36<br />

6.1 O Sistema <strong>da</strong> Arte Contemporânea e seus Principais Agentes 39<br />

6.1.1 Os artistas: base <strong>da</strong> cadeia produtiva 39<br />

6.1.2 As instituições e espaços expositivos voltados à arte contemporânea 39<br />

6.1.3 O terceiro agente, cerne <strong>da</strong>s políticas públicas de cultura: a socie<strong>da</strong>de,<br />

comuni<strong>da</strong>des, público-alvo 43<br />

7. Bibliografia 44<br />

7.1 Artigos de referência sobre o tema, de autoria de Ana Letícia Fialho 44


7.2 Bibliografia geral 45<br />

7.3 Dissertações e Teses - Lei Rouanet 49<br />

7.4 Sites consultados 50


1. Introdução<br />

O presente documento tem a finali<strong>da</strong>de de apresentar algumas direções possíveis para<br />

a construção de metas e indicadores para Política <strong>Cultura</strong>l em arte contemporânea. Contém<br />

notas teórico-metodológicas relativas ao campo <strong>da</strong> arte contemporânea no Brasil, basea<strong>da</strong>s<br />

em uma revisão bibliográfica, bem como apontamentos de obstáculos prováveis e questões<br />

em aberto que precisam ser explora<strong>da</strong>s em etapas subsequentes a este trabalho.<br />

O foco, aqui, é deslin<strong>da</strong>r as instâncias, os atores e as dimensões que devem ser<br />

analisados a fim de estabelecer, futuramente, um modelo econômico que permita descrever o<br />

funcionamento geral do setor de Arte Contemporânea no Brasil, assim como o encadeamento<br />

de suas sub-áreas específicas (campo institucional, <strong>da</strong> formação, <strong>da</strong> produção, <strong>da</strong> crítica, do<br />

mercado e mais recentemente os espaços de experiência/convivência, como residências e<br />

ateliers) para reflexão e desenvolvimento de projetos e relações). Ele se baseia também na<br />

necessi<strong>da</strong>de específica de se compreender o campo subjetivo <strong>da</strong> Arte Contemporânea e suas<br />

conseqüências para a criação e ampliação de público como meta intrínseca ao papel do poder<br />

público no setor cultural. Este estudo preliminar deve ser compreendido como um<br />

instrumental que possa contribuir para a formulação de indicadores e subsequentemente para<br />

o desenvolvimento de políticas públicas para o setor.<br />

2. Recortes sobre indicadores e políticas culturais<br />

Schuster (2002) alerta que “deve-se considerar que os indicadores e as estatísticas não<br />

são neutros, dependem do contexto no qual são construídos e dos objetivos aos quais servem.<br />

Além disso, o simples fato de medir pode influenciar o que está sendo medido”.<br />

Transcrevemos parte do artigo de Rosimeri Carvalho <strong>da</strong> Silva na Revista Observatório 1<br />

para nos balizar criticamente sobre pertinência e obstáculos para <strong>Indicadores</strong>.<br />

Pfenniger (2004) afirma que indicador é uma ferramenta desenha<strong>da</strong> basea<strong>da</strong> em<br />

<strong>da</strong>dos que dão sentido e facilitam a compreensão <strong>da</strong> informação. Portanto, uma<br />

primeira consideração importante deve chamar atenção para o fato de que indicadores<br />

não são <strong>da</strong>dos puros, estatísticas puras, mas <strong>da</strong>dos processados a fim de <strong>da</strong>r sentido às<br />

informações obti<strong>da</strong>s nos levantamentos estatísticos (…)<br />

1 <strong>Indicadores</strong> culturais: reflexões para construção de um modelo brasileiro. In: Revista Observatório Itaú <strong>Cultura</strong>l /<br />

OIC - n. 4, (jan./mar. 2008). – São Paulo, SP: Itaú <strong>Cultura</strong>l, 2008. p. 44-58.


2.1 Política <strong>Cultura</strong>l<br />

Van Bellen (2005, p. 41), discutindo indicadores de sustentabili<strong>da</strong>de, afirma que “as<br />

definições mais comuns e a terminologia associa<strong>da</strong> a essa área são particularmente<br />

confusas”. O autor abor<strong>da</strong> a perspectiva de diversos autores para a definição de<br />

indicador tal como a de Chevalier, para quem um indicador pode ser compreendido<br />

como uma variável que está relaciona<strong>da</strong> hipoteticamente com outra variável estu<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

que não pode ser diretamente observa<strong>da</strong>. Assim, é importante entendermos variável,<br />

que para o autor é “uma representação operacional de um atributo (quali<strong>da</strong>de,<br />

característica, proprie<strong>da</strong>de) de um sistema”. Ou seja, “ela não é o próprio atributo ou<br />

atributo real mas uma representação” (Van Bellen, 2005, p. 42)… Ou seja, para Van<br />

Bellen um indicador é uma variável que agrega informações diversas <strong>da</strong>ndo sentido a<br />

elas. Nesse sentido, pode-se observar na maioria <strong>da</strong>s bases que têm sido chama<strong>da</strong>s de<br />

bases de indicadores culturais no mundo que o que encontramos são <strong>da</strong>dos a respeito<br />

de algumas ativi<strong>da</strong>des culturais. Dados “são medi<strong>da</strong>s, ou observações no caso de<br />

<strong>da</strong>dos qualitativos, dos valores <strong>da</strong> variável em diferentes tempos, locais, população ou<br />

a sua combinação”. Os <strong>da</strong>dos são necessários para a construção de indicadores, mas<br />

um <strong>da</strong>do não é em si um indicador.<br />

Num livro sobre a gênese <strong>da</strong> gestão pública no âmbito <strong>da</strong> cultura, Vincent Dubois<br />

apressa-se em sublinhar os obstáculos mais frequentes com que se deparam os candi<strong>da</strong>tos a<br />

qualquer emprego <strong>da</strong> expressão "política cultural", pois<br />

a análise desta gênese revela, com efeito, que é ao preço de uma "grande<br />

transformação 2 " – tomando de empréstimo a expressão de Karl Polanyi – que a cultura<br />

se constituiu enquanto uma categoria de intervenção pública, e é precisamente destas<br />

condições particulares de sua emergência que se originam as definições desta<br />

categoria. 3<br />

O traço de objeto heteróclito que se impõe aos investigadores é enfatizado por<br />

Dubois, quando ele se dedica nesta obra a traçar uma conjuntura histórica que emana, ao<br />

mesmo tempo, <strong>da</strong> política central e dos interesses de agentes sociais extremamente<br />

comprometidos que são os artistas. Vejamos a seguir de que maneira ele coloca esta "marca<br />

de nascença":<br />

2 Optamos por traduzir o termo “révolution” como transformação, pois é deste modo que é emprega<strong>da</strong> na tradução<br />

brasileira do livro aludido de Karl Polanyi A Grande Transformação – as origens de nossa época. Rio de Janeiro:<br />

Editora Campus, 1980.<br />

3 DUBOIS, Vincent. La politique culturelle: genèse d’une catégorie d’intervention publique. Paris, Belin, 1999; p.10.


O fato de a política cultural se estabilizar de uma forma flui<strong>da</strong>, sempre em busca de<br />

definição, encontra assim uma primeira explicação: os problemas culturais foram<br />

construídos, historicamente, por artistas e intelectuais contra o Estado sobre um modo<br />

globalizante, e a instituição <strong>da</strong> cultura como categoria de Estado operou-se<br />

reproduzindo o caráter abun<strong>da</strong>nte e flutuante destas construções pré-existentes. 4<br />

Uma segun<strong>da</strong> explicação para a difícil definição de política cultural pública seria a de<br />

que as condições <strong>da</strong> tal transformação presidindo a constituição <strong>da</strong> cultura como categoria,<br />

levam a:<br />

eufemismos e esquivas que esmaecem as fronteiras desta categoria: <strong>da</strong>r forma a uma<br />

tal política supõe <strong>da</strong>r corpo, neste caso pôr as formas, inscrever nas suas formas<br />

mesmas a ausência de uma definição vinculativa do campo cultural, e as garantias de<br />

flexibili<strong>da</strong>de e a<strong>da</strong>ptação à inovação nas relações com este espaço social que se dá<br />

como lugar de um movimento perpétuo. 5<br />

Philippe Urfalino 6 , retraçando o que considera "a invenção <strong>da</strong> política cultural" no livro<br />

de título homônimo na França, alerta primeiro que uma emergente análise <strong>da</strong>s políticas<br />

públicas em ciência política fala antes <strong>da</strong>s "políticas culturais" colocando a tônica sobre<br />

programas setoriais. Ponto de vista semelhante no Brasil já era sustentado por Machado 7 que<br />

considerava inadequado pressupor uma política cultural única tal como é o caso para uma<br />

política econômica de comando centralizado; ao invés disto ele sustentava a existência de<br />

várias políticas culturais.<br />

Afirmando que foi com Malraux em 1959 e a sua política <strong>da</strong>s Casas de <strong>Cultura</strong> que<br />

nasceu uma política cultural, tal como é conheci<strong>da</strong> e historiografa<strong>da</strong> hoje, Urfalino explica que:<br />

Neste livro, a noção de política cultural tem por referente um momento de<br />

convergência e de coerência entre, por um lado, representações do papel que o Estado<br />

pode fazer desempenhar à arte e a cultura em relação à socie<strong>da</strong>de e, por outro lado, a<br />

organização de uma ação pública. 8<br />

Admitindo que esta coerência depende de uma outra coerência sempre temporal<br />

entre ação e idéias na ação pública, Urfalino situa o movimento de apreensão e rearranjo<br />

intelectual e prático deste equilíbrio como a própria problematização de ca<strong>da</strong> período de<br />

"política cultural". Nestes termos a política cultural seria, por conseguinte, "objeto compósito<br />

4 Idem, p.13.<br />

5 Ibid, p.15.<br />

6 URFALINO, P. L’invention de la Politique Culturelle. Paris: La Documentation Française, 1996. p.13.<br />

7 Mario Brockmann MACHADO. “Notas sobre a política cultural no Brasil.” In: MICELI, Sérgio (Org). Estado e cultura<br />

no Brasil. São Paulo: Difel, 1984. p.55.<br />

8 URFALINO, P. Op. Cit, p.13.


oriundo tanto <strong>da</strong> história <strong>da</strong>s idéias e <strong>da</strong>s representações sociais quanto de uma história do<br />

Estado". 9<br />

De acordo com a mesma lógica, Urfalino situa também o esgotamento desta coerência<br />

na França, ou seja, o fim <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de desta compreensão de política cultural no início dos<br />

anos 1990. Este final seria conseqüência do esgotamento de um dos pilares fun<strong>da</strong>dores desta<br />

política, aquele relativo à idéia central de oposição entre, por um lado, a política cultural como<br />

um projeto social, estético e reformador e, por outro lado, a idéia de instituição.<br />

Num texto mais recente, Dubois e Urfalino 10 sublinham, além disso, que uma diferença<br />

importante que sucede ao “fim” <strong>da</strong> política cultural na França tem a ver com um certo vazio,<br />

que substituiu os desafios que anteriormente a socie<strong>da</strong>de exigia <strong>da</strong> ação do Estado frente a<br />

arte.<br />

No Brasil a formatação institucional federal <strong>da</strong> área cultural teve seus grandes<br />

momentos vinculados a governos totalitários e, no seu conteúdo, esteve muito atrela<strong>da</strong> à<br />

visão do Brasil enquanto país em fase de desenvolvimento, de frágil identi<strong>da</strong>de nacional e,<br />

conseqüentemente, num estado de coisas onde a política cultural encontrava sua maior<br />

legitimação enquanto asseguradora do patrimônio legitimamente brasileiro em detrimento <strong>da</strong><br />

produção mais especificamente artística, temi<strong>da</strong> pelo seu potencial contestador.<br />

No Brasil <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1950, déca<strong>da</strong> que viu a criação do <strong>Ministério</strong> dos Assuntos<br />

<strong>Cultura</strong>is na França, alguns direcionamentos influiriam no perfil específico <strong>da</strong> política cultural<br />

brasileira. Assim Botelho cita que:<br />

No Iseb – Instituto de Estudos Brasileiros – (1955) formulou-se a ideologia do nacional-<br />

desenvolvimentismo, proposta nacionalista que vê como saí<strong>da</strong> para os impasses do<br />

desenvolvimento nacional a participação do Estado na economia. A industrialização<br />

seria a possibili<strong>da</strong>de de superação do subdesenvolvimento. Nesses casos, geralmente,<br />

a política para o setor cultural é defini<strong>da</strong> a partir de um conceito antropológico de<br />

cultura, diretamente liga<strong>da</strong> à noção de desenvolvimento global do país, diferente de<br />

uma “política para as artes”, tal como se vê nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha,<br />

por exemplo. 11<br />

Em 1982, Mário Machado, então dirigente cultural do MEC – <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação e<br />

<strong>da</strong> <strong>Cultura</strong> –, expõe os limites do emprego <strong>da</strong> expressão “política cultural” segundo os<br />

9<br />

URFALINO, P. Op.Cit, p.14.<br />

10<br />

Vincent DUBOIS et Philippe URFALINO. L’Epopée culturelle en sédiments. In: Culture Publique. Opus1.<br />

l’imagination au pouvoir. Paris: Skite-Sens&Tonka, 2004. p. 67-84.<br />

11<br />

BOTELHO, Isaura. Romance de formação: FUNARTE e Política cultural, 1976-1990. Rio de Janeiro: Edições Casa de<br />

Rui Barbosa, 2000. nota 15, p.55.


parâmetros de to<strong>da</strong> política pública: comando centralizado, metas defini<strong>da</strong>s e aferição de<br />

resultados. A respeito <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des brasileiras inerentes ao campo <strong>da</strong> política cultural,<br />

temos uma explicação por ocasião do seminário “Estado e <strong>Cultura</strong>” em 1982:<br />

o fato de inexistirem diretrizes claras sobre os limites <strong>da</strong> intervenção do Estado na área<br />

cultural, o fato de inexistir uma ideologia, democraticamente aceitável, que possa<br />

legitimar e orientar essas ações, o que provoca, em muitos casos, ou um confronto<br />

aberto de posições radicalmente antagônicas levando à paralisia decisória, ou a uma<br />

certa tendência a evitar projetos mais ousados e a privilegiar um grande número de<br />

pequenas ações, que se não aju<strong>da</strong>m muito o desenvolvimento cultural, também não<br />

prejudicam demais... 12<br />

Cientes de to<strong>da</strong>s as precauções <strong>da</strong>s quais aqueles autores alertam-nos e cujos assuntos<br />

(polissemia e caráter compósito <strong>da</strong> palavra "cultura", as sutilezas <strong>da</strong>s ideologias) merecem<br />

consagrar estudos inteiros, decidimos empregar aqui uma definição antes operacional de<br />

política cultural, convencidos que é desta maneira que é invoca<strong>da</strong> pelos atores com quem<br />

entramos em contacto.<br />

Esclareçamos esta noção antes operacional de "política cultural" que empregaremos:<br />

A política cultural pode definir-se como uma visão estratégica do papel do Estado no<br />

campo do cultural de uma socie<strong>da</strong>de inseri<strong>da</strong> no mundo globalizado, traduzi<strong>da</strong> em<br />

planos de ações gerais e específicas para os diversos segmentos culturais, <strong>da</strong>s<br />

populações, geográficos.<br />

Isto dito, uma discussão sobre esta temática stricto sensu deveria levar em conta o<br />

fenômeno específico pelo qual a política apropria-se do "cultural" simultaneamente<br />

abrangendo-o de novos sentidos. Este fenômeno está ligado aos aspectos ideológicos<br />

intensificados no caso <strong>da</strong> cultura, mas também presentes em outras políticas públicas. Com<br />

efeito, a noção de cultura, por demasiado flexível, torna-se facilmente instrumentalizável<br />

conforme Hannah Arendt 13 já sublinhou, a propósito <strong>da</strong> aproximação entre o político e o<br />

artista, no ensaio "A crise <strong>da</strong> cultura".<br />

12 Citado por DURAND, José Carlos. Política e gestão cultural: Brasil, USA e Europa. São Paulo: EAESP-FGV, 2000.<br />

Relatório de pesquisa n. 13/2000. p.15.<br />

13 ARENDT, Hannah. La crise de la culture. Paris: Gallimard, 1972.


3. Sistema, seus componentes e singulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> recepção <strong>da</strong> Arte<br />

Contemporânea<br />

3.1 O Sistema <strong>da</strong> Arte Contemporânea<br />

Segundo Anne Cauquelin (2005), a arte moderna, que emergiu no final do século XIX e<br />

início do XX, era marca<strong>da</strong> pelo desejo de novi<strong>da</strong>des formais e pela recusa aos cânones e regras<br />

do passado. Por isso mesmo, a arte moderna levou à crise <strong>da</strong>s rígi<strong>da</strong>s Academias de Belas-<br />

Artes. Ao longo do século XX, a arte, liberta <strong>da</strong> Academia, passou a ser vista como um produto<br />

a ser consumido e o status dos artistas passou a depender do reconhecimento dos<br />

consumidores, <strong>da</strong> visibili<strong>da</strong>de adquiri<strong>da</strong> nos museus e galerias e do julgamento proferido pela<br />

crítica especializa<strong>da</strong>. Instaurou-se, assim, o que Cauquelin chama de Sistema <strong>da</strong> Arte,<br />

composto por uma diversi<strong>da</strong>de de atores: galeristas, marchands, críticos, curadores,<br />

colecionadores, conservadores, espaços expositivos e instituições museológicas, além dos<br />

próprios artistas. A todos esses, vieram somar-se mais recentemente, na era <strong>da</strong>s novas<br />

tecnologias, os profissionais <strong>da</strong> comunicação e <strong>da</strong> informação, e, no caso específico do Brasil,<br />

as produtoras, agentes fun<strong>da</strong>mentais do sistema.<br />

Raymonde Moulin (1992), que formou com Pierre Bourdieu o eminente grupo de<br />

pesquisa que tornou a sociologia <strong>da</strong> arte um dos principais instrumentos para as políticas<br />

públicas de cultura na França, se dedicou ao estudo do sistema <strong>da</strong>s artes, e de seus três pilares<br />

fun<strong>da</strong>mentais: o artista, a instituição e o mercado. Moulin aponta para a forte<br />

interdependência existente entre as diferentes instâncias, apesar de uma suposta autonomia<br />

ser frequentemente reivindica<strong>da</strong> pelos seus agentes.<br />

Hoje, quando falamos em arte contemporânea, estamos nos referindo a uma<br />

produção cronologicamente situa<strong>da</strong> <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do século XX até hoje, pauta<strong>da</strong> por<br />

rupturas muitas vezes mais radicais do que aquelas propostas pela arte moderna –<br />

questionamentos éticos, políticos e até a implosão do próprio conceito de arte ou artista -,<br />

mas acima de tudo, estamos mirando obras que têm grande circulação, ultrapassando<br />

fronteiras territoriais e disciplinares.<br />

Em síntese, arte contemporânea é essencialmente algo que se dá num “território<br />

global” e que se entende como linguagem internacional 14 .<br />

14 A exemplo <strong>da</strong> curadoria de Adriano Pedrosa no MAM de São Paulo no Panorama de Arte Brasileiro, que tinha<br />

como pressuposto expor artistas nacionais que transitam e dialogam com outros contextos (internacionais),


A curadora Kiki Mazuchelli em texto para a Revista Tatuí descreve sua própria<br />

experiência, de ser uma brasileira basea<strong>da</strong> há dez anos em Londres e trabalhando em diversos<br />

contextos. Em sua hipótese está neste trânsito o valor atual ou a economia <strong>da</strong>s artes nesta<br />

déca<strong>da</strong>.<br />

Parto do pressuposto de que, justamente nesta déca<strong>da</strong>, houve uma expansão dos<br />

fluxos, trocas e intercâmbios no contexto <strong>da</strong> arte contemporânea para regiões além do<br />

eixo Europa-Estados Unidos, bem como sua intensificação nos países onde já ocorriam,<br />

o que ocasionou uma maior inserção <strong>da</strong> arte brasileira no circuito internacional.<br />

Internamente, no Brasil este foi também um período de aceleração de um processo<br />

interno de expansão do campo <strong>da</strong> arte contemporânea, em que se observou não<br />

apenas o surgimento de novas galerias comerciais – representando principalmente<br />

artistas jovens –, como também a ampliação regional do circuito, que passa a incluir<br />

outros importantes centros urbanos além de Rio de Janeiro e São Paulo. Embora sejam<br />

o produto de diferentes conjunturas cuja análise deman<strong>da</strong>ria um ensaio mais extenso,<br />

observamos nesses dois movimentos de intensificação de fluxos um processo de<br />

descentralização tanto no âmbito externo, quanto interno. 15<br />

Conforme analisa também Roberto de Magalhães Veiga:<br />

A arte contemporânea parece ter se convertido numa linguagem universal, cujo<br />

domínio revela-se um trunfo inestimável num mundo extremamente competitivo.<br />

Objetos e desempenhos sendo polissêmicos, seu “virtuosismo semiótico” (Canclini,<br />

1999) permite-lhes ser também a materialização de todo um potencial altamente<br />

positivo creditado à atuali<strong>da</strong>de e ao futuro. Enquanto discurso privilegiado sobre o<br />

real, o controle/posse <strong>da</strong> produção artística contemporânea torna-se indispensável na<br />

construção de imagens no processo de elaboração/reinvenção de identi<strong>da</strong>des<br />

valoriza<strong>da</strong>s ao extremo. Marcar as alteri<strong>da</strong>des, as fronteiras, as hierarquias <strong>da</strong>s<br />

identi<strong>da</strong>des relacionais torna-se uma função ca<strong>da</strong> dia mais notória – sem prejuízo <strong>da</strong>s<br />

demais – para a produção estética contemporânea. 16<br />

Levando a sério essa questão do fluxo e <strong>da</strong> circulação e, ao mesmo tempo, a noção de<br />

Sistema de Arte, acima menciona<strong>da</strong>s, iremos trabalhar com os diversos atores que constituem<br />

o campo dialógico de uma arte contemporânea internacional, ain<strong>da</strong> que produzi<strong>da</strong> em<br />

provocando o alargamento do pensamento sobre território, nacionali<strong>da</strong>des e identi<strong>da</strong>des, sem com isto tratar<br />

destes temas como pressupostos a priori, mas pelo diálogo estético <strong>da</strong>s obras.<br />

15 MAZUCHELLI, Kiki. LADO B| NÃO SEJA MARGINAL, NÃO SEJA HERÓI: a arte brasileira no exterior em tempos de<br />

mobili<strong>da</strong>de acelera<strong>da</strong>. Revista Tatuí. Disponível em:<br />

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:FBqc_CRdpUJ:revistatatui.com/revista/tatui-11/nao-sejamarginal-nao-seja-heroi-a-arte-brasileira-no-exterior-em-tempos-demobili<strong>da</strong>deacelera<strong>da</strong>/+kiki+mazuchelli+revista+tatu%C3%AD&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br.<br />

Acesso em 15/10/20011.<br />

16 Roberto de Magalhães Veiga


território brasileiro. Nesse contexto, dimensões como visibili<strong>da</strong>de, circulação, comercialização,<br />

parcerias e itinerâncias revelam-se fun<strong>da</strong>mentais na análise <strong>da</strong> produção artística<br />

contemporânea e de seu impacto econômico. Num contexto onde as instituições não são o<br />

pilar mais forte e estável do sistema, como o caso brasileiro, a instância que vem assumindo<br />

um papel ca<strong>da</strong> vez mais importante como propulsora desses processos é o mercado. Em<br />

contraponto, a atuação de espaços independentes e residências artísticas se multiplicam e<br />

contribuem para a construção de redes dinâmicas que escapam <strong>da</strong> lógica comercial e <strong>da</strong><br />

morosi<strong>da</strong>de institucional. Importante, portanto, estabelecer indicadores para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

instâncias, pois embora interdependentes, ca<strong>da</strong> qual possui dinâmicas próprias e interferem<br />

diferentemente no funcionamento do sistema.<br />

3.2 O sistema de arte contemporânea e o cenário internacional<br />

Para melhor compreender a inserção <strong>da</strong> arte contemporânea brasileira no cenário<br />

internacional, e assim melhor direcionar as políticas públicas nessa área, é necessário<br />

considerar as determinantes de uma mu<strong>da</strong>nça do mapa mundial <strong>da</strong>s artes, observa<strong>da</strong> a partir<br />

dos anos 80.<br />

Segundo Ana Letícia Fialho,<br />

podemos identificar pelo menos duas fases bastante distintas no processo de expansão<br />

do mapa <strong>da</strong> arte contemporânea em escala global: a primeira se situa entre o final dos<br />

anos 1980 e o começo dos anos 1990, quando ocorre uma renovação controla<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

oferta (MOULIN, 2000), com a expansão de fronteiras do mapa <strong>da</strong>s artes a partir do<br />

“centro” e com um foco na produção artística; a segun<strong>da</strong> começa no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />

de 1990 e ain<strong>da</strong> se encontra em curso, na qual observamos o início de uma<br />

descentralização e <strong>da</strong> multiplicação dos circuitos de legitimação 17 .<br />

A pesquisadora observa que, no final dos anos 1980, agentes <strong>da</strong> cena artística<br />

internacional, centraliza<strong>da</strong> no eixo Europa Ocidental-Estados Unidos, começam a integrar ca<strong>da</strong><br />

vez mais artistas de regiões “periféricas” em seus discursos e práticas.<br />

Fora do eixo central, Bienais e outros eventos, assim como instituições de arte<br />

contemporânea começam a se multiplicar, e agentes que atuavam em escala regional<br />

passam a buscar visibili<strong>da</strong>de e inserção internacional, pressionando as fronteiras até<br />

então bem delimita<strong>da</strong>s do mainstream internacional. Num contexto histórico mais<br />

17 FIALHO, Ana Letícia. O Brasil está no mapa? Reflexões sobre a inserção e a visibili<strong>da</strong>de do Brasil no mapa<br />

internacional <strong>da</strong>s artes. Texto publicado em: FUNDAJ (org.), Depois do Muro, Fun<strong>da</strong>ção Joaquim Nabuco/Editora<br />

Massagana, 2010.


amplo, vive-se o fim <strong>da</strong> Guerra Fria, a globalização econômica e a expansão <strong>da</strong><br />

internet, fenômenos que mu<strong>da</strong>m de forma radical as noções de tempo, de distância e<br />

de fronteira. A intensi<strong>da</strong>de e a veloci<strong>da</strong>de com que pessoas, bens e informações<br />

passam a circular trazem oportuni<strong>da</strong>des e desafios para regiões que, até então, não<br />

tinham voz no debate internacional” 18 .<br />

Tal mu<strong>da</strong>nça no cenário mundial está intrinsecamente relaciona<strong>da</strong> às transformações<br />

de ordem geopolítica e a ascensão econômica de determinados países como Brasil e China.<br />

Para alguns autores, como Veiga 19 , a emergência econômica <strong>da</strong> China remodelou a<br />

“engrenagem” no cenário mundial <strong>da</strong> arte contemporânea, no entanto, embora esteja<br />

movimentando um volume de negócios significativo, assumindo a 4 a ou 6 a posição mundial em<br />

volume de negócios (dependendo do autor), o país permanece pouco permeável à produção<br />

internacional e é considerado um mercado eminentemente nacional e nacionalista, além de<br />

não diferir claramente o mercado de bens de luxo do mercado de arte, e ain<strong>da</strong> menos o<br />

mercado de arte contemporânea. Nesse sentido, diferencia-se significativamente do modelo<br />

brasileiro.<br />

O mercado de artes em economias emergentes tem chamado a atenção de<br />

pesquisadores em diversos países. Vale a pena ressaltar o projeto coordenado pelo<br />

pesquisador holandês Olav Velthuis, “The Globalization of High Culture: How Markets for<br />

Contemporary Art Develop in Brazil, Russia, India and China”, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Amsterdã.<br />

Velthuis justifica o interesse em analisar os quatro países <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />

“eles são as 4 maiores economias emergentes e que apresentam crescimento mais<br />

rápido, neles, o número de galerias e marchands estão entre os maiores do mercado<br />

“não-ocidental”, o campo <strong>da</strong>s artes nesses países está em expansão desde os anos 90,<br />

os artistas originários desses países estão atraindo a atenção <strong>da</strong>s instituições<br />

ocidentais. 20 ”<br />

Velthuis, autor de importante livro a respeito <strong>da</strong> formação do valor <strong>da</strong> arte<br />

contemporânea 21 , esteve pela primeira vez no Brasil em 2010, e na<strong>da</strong> conhecia do sistema <strong>da</strong>s<br />

artes brasileiro, mas deverá coordenar o grupo de pesquisa que terá o Brasil como objeto de<br />

análise.<br />

18 Idem.<br />

19<br />

20 Ver: http://www.aissr.uva.nl/dynamics/projects.cfm/58799F11-37CA-4630-BED1C40DA676AB0B, última consulta<br />

em 10/12/2011.<br />

21 Velthuis, Olav. Talking prices…


Mas o Brasil só logrará participar como player importante no cenário internacional, no<br />

âmbito <strong>da</strong> arte contemporânea, se houver o fortalecimento do sistema <strong>da</strong>s artes como um<br />

todo, o que passa necessariamente por um mapeamento e diagnóstico do setor, realização de<br />

estudos aprofun<strong>da</strong>dos de to<strong>da</strong> a cadeia produtiva, a implementação de políticas públicas<br />

coerentes e de longo prazo. Pouco eficientes são as iniciativas isola<strong>da</strong>s, fragmenta<strong>da</strong>s, por<br />

vezes redun<strong>da</strong>ntes e quase que na totali<strong>da</strong>de dos casos, sem continui<strong>da</strong>de, como observa<strong>da</strong>s<br />

recentemente na esfera pública.<br />

Sem uma estratégia de inserção internacional, o Brasil corre o risco de manter-se<br />

numa posição de desvantagem no plano internacional. Mazuchelli, referindo-se à Inglaterra,<br />

um dos centros <strong>da</strong> arte contemporânea no cenário internacional, aponta que se por um lado<br />

artistas brasileiros têm circulado ca<strong>da</strong> vez mais, por outro lado, as linhas curatoriais ain<strong>da</strong><br />

resvalam em clichês e a preferência é <strong>da</strong><strong>da</strong> a nomes já consagrados:<br />

É a partir de meados dos anos 2000, quando o Brasil se torna o foco <strong>da</strong> mídia<br />

internacional, com uma economia estável e em expansão (tendo quitado a dívi<strong>da</strong> com<br />

o FMI um ano antes do previsto, em 2005), que a arte contemporânea brasileira<br />

adquire uma representativi<strong>da</strong>de sem precedentes em algumas <strong>da</strong>s mais importantes<br />

instituições mainstream britânicas, definitivamente ocupando um lugar de destaque<br />

em relação a outros países com produções artísticas igualmente fecun<strong>da</strong>s. Em 2006, o<br />

Barbican recebe a mostra itinerante Tropicália, com curadoria de Carlos Basualdo; a<br />

Tate Modern, por sua vez, apresenta individuais de Hélio Oiticica (2007) e Cildo<br />

Meireles (2008-09); em 2010 é a vez de Ernesto Neto na Hayward. Foi ain<strong>da</strong> neste<br />

mesmo período (2006-10) que o Arts Council (espécie de <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong>),<br />

juntamente com o British Council, lançou a segun<strong>da</strong> edição do programa Artist Links,<br />

que promoveu residências artísticas entre o Brasil e o Reino Unido (o projeto piloto foi<br />

com a China, de 2002-06), com um investimento de 450.000 libras (aproxima<strong>da</strong>mente<br />

1.200.000 reais). Além disso, seria possível citar inúmeras participações de artistas<br />

brasileiros em projetos de exposição de menor escala, tanto em instituições públicas,<br />

quanto em galerias comerciais – geralmente com uma abor<strong>da</strong>gem mais sofistica<strong>da</strong> do<br />

que os shows <strong>da</strong>s grandes instituições –, bem como sua participação em residências<br />

artísticas independentes do Artist Links. Hoje, essa diversi<strong>da</strong>de de manifestações<br />

começa a criar espaços para além <strong>da</strong> mera reprodução de clichês e <strong>da</strong> formatação de<br />

projetos mais palatáveis para o público estrangeiro, que reiteram um discurso que<br />

promove uma única matriz neoconcreta para tudo o que é arte contemporânea<br />

brasileira. Ain<strong>da</strong> assim, o clichê prevalece: vide o “Festival Brazil” (2010) promovido<br />

pelo South Bank Centre (que incluiu a exposição de Neto na Hayward) ou o festival<br />

“Brazil Contemporary”, promovido pelo Museum Boijmans Van Beuningen, em


Amsterdã (2009). Em ambos os casos, as curadorias optaram, mais uma vez, por trilhar<br />

o caminho neoconcretista para discutir arte brasileira, seja selecionando um artista já<br />

reconhecido e que bebe diretamente nessa fonte (Neto na Hayward) ou explicitamente<br />

tomando Oiticica como a maior influência contemporânea (e mostrando, além dele, os<br />

trabalhos de Ricardo Basbaum, Cao Guimarães, Rivane Neuenschwander e, claro,<br />

Ernesto Neto)” 22 .<br />

Tal perigo foi também observado por Ana Letícia Fialho, em análise feita em 2005 a<br />

respeito de exposições internacionais dedica<strong>da</strong>s à produção contemporânea brasileira:<br />

A fim de participar <strong>da</strong> cena internacional, os agentes brasileiros estão, em geral,<br />

sempre prontos para fazer concessões excessivas: aceitar e/ou participar na promoção<br />

de estereótipos <strong>da</strong> cultura brasileira; pagar caro, muitas vezes com dinheiro público, o<br />

‘aluguel’ de espaços de legitimação; aprender a sua própria história com os agentes<br />

internacionais mal informados; abrir a cena nacional para agentes internacionais<br />

oportunistas, etc. É necessário ter consciência para, eventualmente, reverter essa<br />

tendência. É necessário ultrapassar o sentimento de orgulho nacionalista que nos dá<br />

uma imagem <strong>da</strong> cultura brasileira que não corresponde à imagem <strong>da</strong><strong>da</strong> pela maior<br />

parte dos eventos realizados no exterior.<br />

E isso passa sobretudo pela definição de uma política cultural visando à participação<br />

mais efetiva de nossos pesquisadores, professores, críticos, curadores nos projetos<br />

internacionais. Do contrário, sempre haverá um especialista internacional, em geral<br />

europeu ou americano a nos explicar o que é a arte brasileira.<br />

É necessário se construir um banco de <strong>da</strong>dos em que possam ser acessa<strong>da</strong>s as<br />

informações sobre esses eventos, passados e futuros, para que se evite a repetição dos<br />

mesmo erros. Nesse sentido, pesquisas de campo são também fun<strong>da</strong>mentais para se<br />

evitar as análises intuitivas ou de cunho nacionalista. A construção e atualização de<br />

indicadores consubstancia-se assim ferramenta fun<strong>da</strong>mental para a construção de<br />

políticas públicas coerentes e eficazes 23 .<br />

3.3 Especifici<strong>da</strong>des do sistema de arte no Brasil<br />

Existe um desequilíbrio significativo entre as diferentes instâncias do sistema <strong>da</strong>s artes.<br />

No Brasil o campo institucional, que em outros países é um pilar fun<strong>da</strong>mental do sistema, local<br />

de fomento, visibili<strong>da</strong>de e vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> produção contemporânea, é frágil e sofre com uma<br />

22 Id.;. Ibid. http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:FBq-c_CRdpUJ:revistatatui.com/revista/tatui-<br />

11/nao-seja-marginal-nao-seja-heroi-a-arte-brasileira-no-exterior-em-tempos-de-mobili<strong>da</strong>deacelera<strong>da</strong>/+kiki+mazuchelli+revista+tatu%C3%AD&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br<br />

>Acesso em 15/10/20011.<br />

23 Fialho, Ana Leticia. As exposições internacionais de arte brasileira....


série de deficiências, e não logra acompanhar, e muito menos colecionar a produção<br />

contemporânea, conforme aponta a pesquisa “Economia <strong>da</strong>s exposições de arte<br />

contemporânea”.<br />

Nessa conjuntura, não causa espanto que a produção brasileira contemporânea<br />

encontre-se representa<strong>da</strong> em importantes museus do Hemisfério Norte e também <strong>da</strong> Ásia e<br />

do Oriente Médio, enquanto os acervos institucionais brasileiros não conseguem acompanhar<br />

tal internacionalização.<br />

Percebe-se uma defasagem entre o circuito institucional, o pólo <strong>da</strong> produção e o<br />

mercado de arte. Esse fenômeno apenas se anunciou na pesquisa supra-referi<strong>da</strong> e está sendo<br />

explorado em mais detalhe pela pesquisa sobre o mercado de arte contemporânea ABACT-<br />

APEX. Embora os resultados desse segundo estudo ain<strong>da</strong> estejam em fase de consoli<strong>da</strong>ção,<br />

não poderíamos deixar de mencionar que o mercado parece assumir, ca<strong>da</strong> vez mais, papel<br />

estruturante no sistema brasileiro de arte contemporânea (FIALHO, 2010). Galerias comerciais<br />

e colecionadores particulares fomentam ativamente a produção e a circulação <strong>da</strong>s obras,<br />

participam de sua vali<strong>da</strong>ção, realizam sua catalogação, organizam debates e publicações sobre<br />

elas e capitaneiam sua inserção internacional. Incorporam, portanto, algumas <strong>da</strong>s funções que,<br />

tradicionalmente, estavam concentra<strong>da</strong>s nas instituições do circuito expositivo institucional.<br />

3.4 Fragili<strong>da</strong>de institucional e inserção internacional<br />

As diversas instâncias do mundo <strong>da</strong>s artes no Brasil ambicionam uma inserção<br />

internacional, mas que o grau e a capaci<strong>da</strong>de de internacionalização de ca<strong>da</strong> uma delas difere<br />

significativamente. De um lado, o campo <strong>da</strong> produção artística e do mercado, com uma<br />

crescente internacionalização, e, no outro extremo, as instituições públicas que atuam, em sua<br />

maioria, num contexto local/regional e têm baixa inserção internacional.<br />

Um exemplo: a única instituição que coleciona e exibe, de forma permanente, um<br />

panorama <strong>da</strong> arte brasileira atual em diálogo com a produção internacional é o Instituto de<br />

Arte Contemporânea de Inhotim, fun<strong>da</strong>ção priva<strong>da</strong> que recebe recursos públicos por meio <strong>da</strong>s<br />

leis de incentivo fiscal e que abriga a coleção do industrial Bernardo Paz 24 .<br />

Já os museus públicos enfrentam uma grande dificul<strong>da</strong>de na formação de coleções que<br />

contemplem a produção contemporânea internacional. Na ver<strong>da</strong>de, nem mesmo a produção<br />

24 O instituto tem três curadores: o brasileiro Rodrigo Moura, Allan Schwartzman, um dos fun<strong>da</strong>dores do New<br />

Museum e consultor de coleções priva<strong>da</strong>s nos Estados Unidos, e Jochen Voltz, que trabalhou quatro anos na galeria<br />

Neugerriemschneider, uma <strong>da</strong>s mais importantes de Berlim. Essa galeria, aliás, representa alguns dos artistas que<br />

hoje fazem parte <strong>da</strong> coleção <strong>da</strong> instituição.


nacional está bem representa<strong>da</strong> nas coleções públicas. Grande parte <strong>da</strong>s instituições não<br />

consegue estabelecer uma política clara de aquisições, nem possui recursos suficientes para<br />

atuar no mercado internacional. É por meio de exposições temporárias que tais instituições<br />

apresentam a produção internacional, muitas vezes com projetos curatoriais importados e de<br />

custos elevados. Tanto no que se refere a suas coleções e programação quanto a sua<br />

visibili<strong>da</strong>de e reconhecimento em escala internacional.<br />

A ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> coleção de Adolfo Leirner para o Museu de Belas Artes de Houston, em<br />

2007, é uma triste evidência <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituições brasileiras: nenhuma delas foi capaz<br />

de oferecer ao colecionador uma proposta melhor do que a feita pela instituição norte-<br />

americana, e aqui a referência não é somente ao preço, mas também às condições de exibição,<br />

conservação e pesquisa que envolvem a coleção.<br />

3.5 Valor <strong>da</strong> arte e economia <strong>da</strong> cultura<br />

Para precisar a especifici<strong>da</strong>de do valor <strong>da</strong>s obras de arte contemporâneas, voltemos a<br />

Roberto Magalhaes Veiga:<br />

Se a arte é um juízo de valor e o preço é a expressão/sintoma de uma época, as obras<br />

que já passaram pelos crivos sucessivos de filtros/juízos de valor diacrônicos gozam de<br />

uma legitimi<strong>da</strong>de reitera<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong>de de compradores e de vendedores<br />

profissionais que compõem o centro do mercado de arte e pautam critérios, ordenam e<br />

dão sentido às desigual<strong>da</strong>des e estabelecem os consensos coletivos (...). As<br />

desigual<strong>da</strong>des de preço, que para alguns beiram o despropósito, e a inconsistência do<br />

juízo de valor emitido e de sua confirmação futura – a curto termo, o que conta não é o<br />

que as coisas serão, mas o que os atores econômicos pensam que elas serão (Moulin,<br />

1997), soma<strong>da</strong>s ao papel dos especuladores e às práticas abusivas, levantam as<br />

questões de praxe sobre embuste e manipulações acintosos. O resultado é a dúvi<strong>da</strong> no<br />

lugar <strong>da</strong> confiança. A margem de tempo para produção, circulação e apropriação <strong>da</strong>s<br />

peças é muito curta, não há um recuo para existir uma avaliação consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

sobretudo de uma arte que não é necessariamente feita para durar.(...)<br />

Concomitantemente, assiste-se a uma preocupação com a contemporanei<strong>da</strong>de que<br />

começa a fazer sombra à procura e à coleção <strong>da</strong>s formas tradicionais do patrimônio<br />

artístico e histórico, que, se ao contrário de perderem seu valor e seu preço observam a<br />

maré montante de ambos para as peças de destaque, veem as novas estrelas do<br />

ultracontemporâneo despontarem num mercado próprio ca<strong>da</strong> dia mais estimulante,<br />

atraente e midiatizado. Artistas com as características de Damien Hirst e Jeff Koons<br />

encarnam à perfeição essa vertente.


À medi<strong>da</strong> que as obras de arte se tornam mercadorias e eventualmente alternativas de<br />

investimento visando lucro a curto e médio prazo, ganham uma dimensão econômica que vem<br />

se somar e mesclar a seu valor simbólico.<br />

Por outro lado, não se pode esquecer que a arte sempre terá duas dimensões distintas<br />

de valor: uma simbólica e outra financeira. E que o funcionamento do sistema de arte depende<br />

de uma série de escolhas e mecanismos que vão além <strong>da</strong>s questões orçamentárias. É por isso<br />

que propomos, no âmbito de nosso estudo, falar em economias <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> arte no plural.<br />

3.6 Arte Contemporânea e seus Usos: Fatores exógenos ao campo específico <strong>da</strong> arte:<br />

políticas urbanas. Interrelações entre: territórios e eventos nacionais e internacionais de arte<br />

contemporânea 25 .<br />

O termo arte contemporânea conforma uma plurali<strong>da</strong>de de sentidos. O que pôde ser<br />

mapeado como questão comum aberta por esta pesquisa para estes tantos sentidos é o que<br />

denomina-se arte na atuali<strong>da</strong>de por trans-territoriali<strong>da</strong>de. 26<br />

Segundo Raquel Garbelotti e Jorge Menna Barreto,<br />

A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 do século passado, as práticas orienta<strong>da</strong>s para um lugar<br />

específico começaram a operar a partir de perspectivas de impermanência,<br />

descontinui<strong>da</strong>de, ambigüi<strong>da</strong>de e desterritorializações. O lugar e a obra transcendem a<br />

sua noção identitária, fixa e sedentária e adquirem um modelo nômade e itinerante<br />

cujas fronteiras são de difícil visibili<strong>da</strong>de. O exercício de pertencimento <strong>da</strong> obra em<br />

relação a esse lugar ganha novos contornos num território que é agora fluído e<br />

disperso. O lugar <strong>da</strong> obra deixa de ser somente um local literal e torna-se um<br />

informational site como caracteriza o autor James Meyer, que inclui desde o lugar<br />

físico (sem priorizá-lo), até fotografias, textos, vídeos e objetos que não se encontram<br />

25 A palestra de Micael Herschmann apontou um processo que deverá também ser analisado no nosso grupo de<br />

pesquisa: os efeitos turísticos e de gentrificação acarretados pelas “vocações artísticas” num território. Se<br />

Herschman apontou em sua fala, a pesquisa sobre a evolução e consoli<strong>da</strong>ção do fenômeno musical <strong>da</strong> seresta na<br />

ci<strong>da</strong>de de Conservatória, julgamos que não estamos muito distantes <strong>da</strong> experiência de Porto Alegre com a Bienal do<br />

Mercosul como paradigma de potencial de “ci<strong>da</strong>de criativa” onde o elemento motor é a Arte Contemporânea.<br />

Assim, outras cama<strong>da</strong>s de elementos já começaram a ser acrescenta<strong>da</strong>s, como mais elementos explicativos para a<br />

dinâmica dos atores decisórios numa política pública para arte contemporânea tais como: Fatores exógenos ao<br />

campo específico <strong>da</strong> arte: políticas urbanas e Interrelações entre: territórios e eventos nacionais e internacionais de<br />

arte contemporânea.<br />

26 Termo cunhado por Raquel Garbelotti a partir dos três paradigmas site-specific de Miwon Kwon. Ver: KWON,<br />

Miwon. One place after another: notes on site specificity. October 80, spring 1997. © October Magazine, Ltd. and<br />

Massachusetts Institute of Technology. Tradução de Jorge Menna Barreto. Arte & Ensaios: Revista do Programa de<br />

Pós-Graduação em Artes Visuais EBA - UFRJ, número 17, dezembro de 2008, Rio de Janeiro.


confinados a uma locali<strong>da</strong>de específica e nem literal e que remetem a outros lugares e<br />

situações num exercício infinito de associações e encadeamentos 27 .<br />

Para a teórica em arte Miwon Kwon, a arte contemporânea que se coloca sob a lógica<br />

do território está estreitamente identifica<strong>da</strong> com a categoria site-specific e o contexto Norte<br />

Americano. Kwon determina três modelos paradigmáticos para a compreensão <strong>da</strong> arte sob<br />

esta lógica do Lugar, sendo o primeiro o paradigma fenomenológico, <strong>da</strong>s práticas artísticas<br />

calca<strong>da</strong>s historicamente na ambiência em que se colocavam – caso dos Minimalistas. E é nesse<br />

contexto em que ocorre a estreita relação entre espaço especializado (museu e galeria)<br />

consoli<strong>da</strong>do no Modernismo, mas aqui potencializado em sua maturi<strong>da</strong>de na Pós-<br />

Moderni<strong>da</strong>de dos anos de 1960/70.”<br />

Como descreve Kwon:<br />

O trabalho site-specific em sua primeira formação, então, focava no estabelecimento<br />

de uma relação inextricável, indivisível entre o trabalho e sua localização, e<br />

deman<strong>da</strong>va a presença física do espectador para completar o trabalho. A (nova-<br />

vanguardista) aspiração de exceder as limitações <strong>da</strong>s linguagens tradicionais, como<br />

pintura e escultura, tal como seu cenário institucional; o desafio epistemológico de<br />

realocar o significado interno do objeto artístico para as contingências de seu contexto;<br />

a reestruturação radical do sujeito do antigo modelo cartesiano para um modelo<br />

fenomenológico <strong>da</strong> experiência corporal vivencia<strong>da</strong>; e o desejo autoconsciente de<br />

resistir às forças <strong>da</strong> economia capitalista de mercado, que faz circularem os trabalhos<br />

de arte como mercadorias transportáveis e negociáveis – todos esses imperativos<br />

juntaram-se no novo apego <strong>da</strong> arte à reali<strong>da</strong>de do site 28 .<br />

O segundo paradigma apontado por Kwon seria aquele de crítica institucional, caso de<br />

projetos realizados nos anos de 1980/90, em que aspectos institucionais dos espaços (caso de<br />

Bienais, galerias etc.) eram, to<strong>da</strong>via, trazidos para a visuali<strong>da</strong>de e produção de sentido <strong>da</strong><br />

exposição. Neste segundo paradigma, o espectador, carregaria consigo suas percepções sobre<br />

27 Ver: GARBELOTTI, Raquel e MENNA BARRETO, Jorge. Especifici<strong>da</strong>de e (in) traduzibili<strong>da</strong>de. In: XIII Encontro<br />

Nacional <strong>da</strong> Associação Nacional dos Artistas Plásticos (ANPAP), Arte em pesquisa: especifici<strong>da</strong>des, Universi<strong>da</strong>de de<br />

Brasília, de 10 a 13/11/04, 2004, Brasília DF. Arte em Pesquisa: especifici<strong>da</strong>des. Brasília DF: Editora <strong>da</strong> Pós-<br />

Graduação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Brasília, 2004. v. 1. p. 111-115. Na leitura de Menna Barreto e Garbelotti: “O termo<br />

site-specific tem sido usado maciçamente por instituições de arte e discursos do meio artístico, não só na sua língua<br />

de origem como em outras línguas. O uso indiscriminado do termo, assim como o desconhecimento do contexto<br />

histórico em que emergiu, parece amortecer a sua intenção crítica inicial e diluir o seu conceito como se fosse<br />

apenas mais uma categoria <strong>da</strong> arte contemporânea. Uma tradução literal do termo site-specific provavelmente<br />

originaria algo como sítio específico no português. Tal literali<strong>da</strong>de corre sérios riscos, como, por exemplo, a<br />

confusão em relação à obra e ao lugar. No inglês, a expressão é usa<strong>da</strong> como um adjetivo para caracterizar a<br />

especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> obra de arte. A expressão sítio específico em português qualificaria o lugar como sendo específico,<br />

e não necessariamente a obra, pois funciona como um substantivo”.<br />

28 Op. Cit. pág. 167.


classe e gênero na produção de sentido <strong>da</strong>s obras. Neste momento a arte estaria interessa<strong>da</strong><br />

em problematizar o lugar em que se instalava, conforme a lógica do lugar que apresenta, não<br />

apenas pelos possíveis deslocamentos sobre o espaço em direção de uma fenomenologia<br />

como experiência <strong>da</strong> obra, mas no sentido de leitura crítica por parte do espectador; sob as<br />

condições em que a arte estava aporta<strong>da</strong> - seus interesses políticos e suas estratégias invisíveis<br />

nos projetos calcados não mais em relações puramente estéticas.<br />

Segundo Kwon:<br />

Informa<strong>da</strong>s pelo pensamento contextual do Minimalismo, várias formas de crítica<br />

institucional e arte conceitual desenvolveram um modelo diferente de site-specificity<br />

que implicitamente desafiou a “inocência” do espaço e a concomitante pressuposição<br />

de um sujeito/espectador universal (apesar de possuidor de corpo físico) tal como<br />

defendia o modelo fenomenológico. Artistas como Michael Asher, Marcel Broodthaers,<br />

Daniel Buren, Hans Haacke e Robert Smithson, tal como muitas artistas mulheres,<br />

incluindo Mierle Laderman Ukeles, de forma variável conceberam o lugar não só em<br />

termos físicos e espaciais, mas como uma estrutura cultural defini<strong>da</strong> pelas instituições<br />

de arte 29 .<br />

Finalmente o terceiro e último paradigma apontado por Kwon, seria aquele que está<br />

relacionado à esfera pública e consequentemente orienta<strong>da</strong>s para um conteúdo discursivo <strong>da</strong><br />

obra – como em casos <strong>da</strong> arte basea<strong>da</strong> em comuni<strong>da</strong>de (como última forma de atualizar<br />

práticas artísticas calca<strong>da</strong>s na categoria site-specific). Neste caso, o público se estenderia a<br />

comuni<strong>da</strong>de de um local em que e com que o artista trabalha, mas também para o público dos<br />

espaços <strong>da</strong> arte, pelo projeto orientado para o espaço especializado. Neste sentido a arte<br />

ganharia uma transitorie<strong>da</strong>de e consequentemente uma trans-territoriali<strong>da</strong>de pelo formato<br />

discursivo, que pode ser apresentado em distintos locais e contextos. Para Kwon este último<br />

paradigma avançaria sobre a questão dos lugares e <strong>da</strong>s operações dos artistas um lugar após o<br />

outro. Desse modo, na tese de Kwon, a crítica que deve ser estabeleci<strong>da</strong> para as formas de<br />

operar, no capitalismo tardio: seria pelo estabelecimento de metas e relações com o lugar e ou<br />

território, em que a arte se colocaria por contingências de longo prazo 30 .<br />

29 Id;. ibid. pág. 3.<br />

30 Aqui podemos pensar sobre a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s residências artísticas (caso do Programa CAPACETE (RJ/ SP) ou de<br />

projetos como Ateliê 397 (SP). Estas plataformas trabalham na direção aponta<strong>da</strong> por Kwon e tem muito a contribuir<br />

para a produção de um novo modelo de gestão cultural. Neste sentido torna-se urgente pensar como apoiar estes<br />

espaços criando, por exemplo, editais que contemplem este modelo de produção e difusão <strong>da</strong> cultura. Seria este<br />

um relevante indicador <strong>da</strong>s políticas culturais na arte contemporânea.


3.6.1 Os espaços discursivos <strong>da</strong> Arte e suas relações com as ci<strong>da</strong>des e suas economias<br />

Algumas questões podem ser desdobra<strong>da</strong>s destes projetos de formato discursivo<br />

apontado por Kwon, o caso dos trabalhos de artistas itinerantes, aqueles residentes em<br />

diversos países - os trabalham sob a lógica de adequação de pesquisas em seus projetos<br />

individuais ao lugar (ci<strong>da</strong>de) em que realizam as residências. Estes deslocamentos de contexto<br />

promovem, portanto, trocas e produção de cultura imaterial, dificilmente mensurável. Este é o<br />

caso de plataformas como CAPACETE (RJ/ SP) 31 que gera uma economia participativa com os<br />

países que mantêm relações - através dos artistas estrangeiros que enviam seus projetos para<br />

esta plataforma no Brasil.<br />

Para Garbelotti e Menna Barreto:<br />

Tal ampliação tornou a noção de site mais inclusiva e complexa, alterando também a<br />

maneira como a obra se relacionaria com esse lugar. Aspectos sociais, econômicos,<br />

históricos e políticos tornam-se assim ingredientes importantes dessa relação. A partir<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 do século passado, as práticas orienta<strong>da</strong>s para um lugar específico<br />

começaram a operar a partir de perspectivas de impermanência, descontinui<strong>da</strong>de,<br />

ambigui<strong>da</strong>de e desterritorializações. […] O lugar <strong>da</strong> obra deixa de ser somente um<br />

lugar literal e torna-se um informational site como caracteriza o autor James Meyer,<br />

que inclui desde o lugar físico (sem priorizá-lo), até fotografias, textos, vídeos,<br />

objetos etc. que não se encontram confinados a uma locali<strong>da</strong>de específica nem literal<br />

e que remetem a outros lugares e situações num exercício infinito de associações e<br />

encadeamentos 32 .<br />

Lugares como Ateliê 397 33 (São Paulo/ Brasil), geram sua própria receita, tanto por<br />

meio de editais do MinC, como pela colaboração e financiamentos próprios, gerados por<br />

exemplo, pela ven<strong>da</strong> de trabalhos dos artistas colaboradores deste espaço. Esta plataforma<br />

apresenta exposições de artistas de diversos locais do Brasil e também publicações, além de<br />

debates e conversas entre diferentes autores.<br />

Este modelo de espaço de produção artística, pôde ser evidenciado também na 8 a<br />

Bienal do Mercosul 34 - que operou em distintos níveis de produção de obras e de<br />

conhecimento, desdobrando a experiência <strong>da</strong> arte em espaço museológico (Galpões <strong>da</strong><br />

31 Para maiores informações do CAPACETE: http:/www.capacete.net < último acesso em 28/11/2011><br />

32 GARBELOTTI, Raquel e MENNA BARRETO, Jorge. Op. Cit p. 111-115.<br />

33 Ver: http://atelie397.com/ < último acesso em 28/11/2011><br />

34 Para maiores informações <strong>da</strong> 8 a Bienal do MERCOSUL: http://www.bienalmercosul.art.br/ .


Bienal), para os projetos <strong>da</strong> Casa M 35 – um lugar de encontro e debates, apresentações de<br />

projetos e workshops, que contemplava o formato discursivo <strong>da</strong> arte, como arena para a<br />

abertura à outros públicos em distintos formatos.<br />

No exemplo <strong>da</strong> Casa M, temos, no entanto, uma economia gera<strong>da</strong> pelo MinC, através<br />

<strong>da</strong> Bienal do Mercosul; embora esta plataforma tenha apresentado um formato<br />

conceitualmente calcado em espaços independentes de arte, como o caso do CAPACETE. De<br />

certa forma, podemos pensar aqui na institucionalização de um modelo econômico de cultura.<br />

Um outro exemplo pôde ser verificado durante a 29 a Bienal de São Paulo 36 , em que a<br />

mesma trabalhou em parceria com o projeto CAPACETE, porque viabilizou financeiramente,<br />

durante esta edição <strong>da</strong> Bienal, esta plataforma nas mesmas bases conceituais que o programa<br />

já contempla, dinamizando por assim dizer, um misto de economias (a imaterial, como por<br />

exemplo, os contatos com curadores e artistas nacionais e internacionais com os quais seu<br />

gestor Helmut Batista mantém contato e a economia gera<strong>da</strong> pelo MinC, através do<br />

financiamento deste programa na duração <strong>da</strong> 29a Bienal de São Paulo).<br />

Para Kwon:<br />

397, no Brasil.<br />

[…] Mas além dessa expansão dual <strong>da</strong> arte na cultura, que obviamente diversifica o<br />

site, a característica marcante <strong>da</strong> arte site-oriented hoje é a forma como tanto a<br />

relação do trabalho de arte com a localização em si (como site) como as condições<br />

sociais <strong>da</strong> moldura institucional (como site) são subordina<strong>da</strong>s a um site determinado<br />

discursivamente que é delineado como um campo de conhecimento, troca intelectual<br />

ou debate cultural. Além disso, diferente dos modelos anteriores, esse site não é<br />

definido como pré-condição, mas antes é gerado pelo trabalho (freqüentemente como<br />

“conteúdo”), e então comprovado mediante sua convergência com uma formação<br />

discursiva existente 37 .<br />

Seriam os casos dos exemplos citados acima, como do Projeto CAPACETE e do Ateliê<br />

35 Ver: http://bienalmercosul.art.br/blog/casa-m-de-mercosul/ .<br />

36 O programa CAPACETE realizou uma série de palestras e debates, assim como projetos no Teatro Arena em São<br />

Paulo durante todo o ano em que houve a 29 a Bienal. Como artista convi<strong>da</strong><strong>da</strong> Raquel Garbelotti pode testemunhar<br />

diferentes formas de produção colaborativa neste formato.<br />

37 Id;. ibid. Pág. 6.


4. “Economia(s)” <strong>da</strong> cultura: plurali<strong>da</strong>de de economias decorrente<br />

dos diversos circuitos de valoração e legitimação <strong>da</strong> Arte<br />

Contemporânea 38<br />

Conforme citado por Catherine David em palestra no Instituto Goethe em Porto Alegre<br />

em outubro de 1998, a arte contemporânea ain<strong>da</strong> enfrenta três paradigmas her<strong>da</strong>dos do<br />

pensamento clássico e que também se aplicariam à arte moderna. Seriam eles:<br />

1) a ilusão de ubiqui<strong>da</strong>de, que se refere à noção de que uma obra terá o mesmo<br />

significado independente de onde ela se encontre;<br />

2) a ilusão de transparência, que diz respeito à noção de que o significado de uma<br />

obra está contido todo nela mesma e que ela fala por si;<br />

3) a ilusão de permanência, que nos diz que uma obra tem a sua importância fixa<br />

independente do seu contexto histórico. A autonomia <strong>da</strong> obra, que é gera<strong>da</strong> a<br />

partir desses três paradigmas, facilita o sistema de mercantilização <strong>da</strong> mesma.<br />

De acordo com Douglas Crimp no seu livro On the Museums Ruins, a dependência do<br />

lugar e <strong>da</strong> situação <strong>da</strong>s primeiras obras site specific tinham uma intenção crítica em relação ao<br />

comércio de arte por sua recusa de mobili<strong>da</strong>de e circulação. Assim, a insistência <strong>da</strong> arte na<br />

especifici<strong>da</strong>de poderia ser considerado um dos eixos importantes de crítica que o pensamento<br />

contemporâneo exerce em relação a alguns aspectos do projeto moderno.<br />

[…] a noção de site expandiu-se e passou a incluir outros aspectos do lugar até então<br />

não considerados. […] Aspectos sociais, econômicos, históricos e políticos tornam-se assim<br />

ingredientes importantes dessa relação 39 .<br />

De acordo com o que desenvolvem os autores é possível ampliar estes aspectos<br />

políticos, no sentido do pensamento do território <strong>da</strong> cultura, como de seu lugar de difusão e<br />

troca, diversificando os modelos já existentes e já entendidos como parâmetro do que é o<br />

mercado em arte contemporânea.<br />

Segundo o documento realizado pela Uni<strong>da</strong>de de Inteligência Comercial – Apex-Brasil,<br />

de 2008 de autoria de Suelma Rosa dos Santos 40 :<br />

38 Item desenvolvido pela artista e professora Raquel Garbelotti.<br />

39 Trecho retirado de: GARBELOTTI, Raquel e MENNA BARRETO, Jorge. Especifici<strong>da</strong>de e (in) traduzibili<strong>da</strong>de. In: XIII<br />

Encontro Nacional <strong>da</strong> Associação Nacional dos Artistas Plásticos (ANPAP), Arte em pesquisa: especifici<strong>da</strong>des,<br />

Universi<strong>da</strong>de de Brasília, de 10 a 13/11/04. 2004, Brasília DF. Arte em Pesquisa: especifici<strong>da</strong>des. Brasília DF: Editora<br />

<strong>da</strong> Pós-Graduação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Brasília, 2004. v. 1. p. 111-115.<br />

40 Ver: ROSA DOS SANTOS, Suelma. Mercado de Arte Contemporânea na China. Apex-Brasil. 2008.


Existem duas formas possíveis de mensurar as estatísticas de ven<strong>da</strong>s de obras de arte:<br />

o registro de ven<strong>da</strong>s dos leilões e o registro de importação e exportação dos países.<br />

Em relação a ven<strong>da</strong>s e leilões, o Brasil encontra-se no quarto grupo de países com<br />

menores ven<strong>da</strong>s em leilões. O número faz referência à ven<strong>da</strong> de obras de arte em geral<br />

[…] 41 .<br />

Para a autora:<br />

As exportações brasileiras de artes visuais segundo o registro do SICOMEX/ MDI para<br />

os quatro SH6, anteriormente mencionados, concentram-se em mercados de destino<br />

como Estados Unidos (37%), Reino Unido (26%) e Suiça (17%). Os demais países<br />

representam apenas 20% dos destinos <strong>da</strong>s exportações brasileiras 42 .<br />

Fonte: MDIC. Elaboração UIC/ Apex-Brasil<br />

Nos gráficos que seguem fica possível acompanhar esta distribuição <strong>da</strong>s exportações<br />

de obras de arte para outros países segundo as categorias: pintura e desenho, escultura e<br />

gravura e litografia. Estes são os vetores formais para a avaliação <strong>da</strong> economia <strong>da</strong> Arte de um<br />

país.<br />

41 Id.; ibid. Pág. 9.<br />

42 Id.;. ibid. Pág.10.


Fonte: MDIC. Elaboração: UIC/ Apex-Brasil.<br />

Fonte: MDIC. Elaboração: UIC/ Apex-Brasil.


Fonte: MDIC. Elaboração: UIC/ Apex-Brasil.<br />

Portanto, segundo o documento realizado pela Uni<strong>da</strong>de de Inteligência Comercial –<br />

Apex-Brasil, de 2008 de autoria de Suelma Rosa dos Santos:<br />

A retração no Mercado <strong>da</strong>s ações em decorrência <strong>da</strong> crise imobiliária norte americana<br />

não afetou como esperado o Mercado <strong>da</strong>s artes internacional. Segundo o Artprice, o<br />

principal responsável pela manutenção dos preços e do nível de consumo de arte foi o<br />

crescente interesse dos mercados emergentes em artes, em especial, China, Emirados<br />

Árabes Unidos e India 43 .<br />

Este continua sendo como dito anteriormente, um vetor formal de identificação <strong>da</strong>s<br />

economias de um país em âmbito do cultural, mais especificamente <strong>da</strong> arte-contemporânea -<br />

<strong>da</strong>do o que vimos nos exemplos de espaços independentes de arte, temos também<br />

atualmente uma economia de trocas entre os países, porém de forma dificilmente mensurável,<br />

mas não por isto menos importante. Torna-se por isto de suma importância pensarmos sobre<br />

o papel <strong>da</strong>s Bienais de São Paulo/ Mercosul, etc. (contextos 44 especializados <strong>da</strong> arte), como<br />

também o papel de artistas e gestores independentes; na produção uma Esfera Pública nos<br />

debates <strong>da</strong>s formas de produção de cultura em artes visuais; para formarmos assim, uma idéia<br />

de representações e identi<strong>da</strong>des na discussão do atual estado <strong>da</strong> arte contemporânea.<br />

43 Id.; ibid. Pág. 5.<br />

44 A 28 a Bienal de São Paulo realizou um ciclo de palestras/ relatos, intitulado: “Memória e Projeção”, organizado<br />

por Ivo Mesquita, Ana Paula Cohen e Luisa Duarte. Neste ciclo - artistas, curadores e outros agentes <strong>da</strong> arte<br />

contemporânea foram convi<strong>da</strong>dos a pensar e também testemunhar sobre o papel e importância <strong>da</strong> Bienal em suas<br />

formações/ carreiras individuais, de modo a retomar também sob a perspectiva discursiva, a memória do Arquivo<br />

Wan<strong>da</strong> Svevo. Neste sentido foi possível pensar nos tantos projetos realizados nas Bienais também como contexto<br />

imaterial <strong>da</strong> cultura.


4.1 Recortes possíveis<br />

O campo <strong>da</strong> arte contemporânea é composto por diferentes instâncias – de formação,<br />

produção, circulação, legitimação e comercialização - ca<strong>da</strong> qual com dinâmicas próprias,<br />

embora muitas vezes próximas e mesmo interdependentes. To<strong>da</strong>s elas podem existir/atuar em<br />

diferentes planos – local, regional, nacional, internacional - de forma permanente, ou, mais<br />

comumente, em espaços/tempos determinados.<br />

Para que a construção de metas e indicadores para o setor seja precisa e pertinente, e<br />

sirva para orientar políticas públicas eficientes, devemos considerar instâncias e contextos<br />

específicos, assim como organizar informações e alinhar diferentes iniciativas, no plano<br />

governamental e para-governamental, a fim de somar esforços e não incorrer em<br />

redundâncias.<br />

Por exemplo: o mercado de arte contemporânea hoje tem um papel fun<strong>da</strong>mental no<br />

funcionamento do sistema <strong>da</strong>s artes no Brasil, não só porque permite a comercialização de<br />

parte <strong>da</strong> produção, mas porque atua como legitimador e promotor dessa produção no âmbito<br />

internacional, além de contribuir para formação e profissionalização de artistas, acompanhar e<br />

registrar sua produção, fomentar publicações, apoiar exposições institucionais, etc.<br />

Trata-se de um setor em expansão e com tendência à profissionalização, tendo hoje<br />

uma associação representativa (Associação Brasileira de Galerias de Arte Contemporânea) e<br />

um programa específico voltado à internacionalização (Programa Setorial Integrado Apex-<br />

Brasil), promovendo ações que visam contribuir para a melhoria do ambiente para os negócios<br />

(no plano <strong>da</strong>s políticas públicas e tributárias), aumentar o volume de negócios no plano<br />

nacional e internacional e promover ações de promoção <strong>da</strong> visibili<strong>da</strong>de e reconhecimento <strong>da</strong><br />

produção brasileira no plano internacional.<br />

Existem indicadores sobre volume de exportações, países que mais consomem a<br />

produção brasileira (<strong>da</strong>dos APEX) e uma pesquisa mais detalha<strong>da</strong> sobre o setor está em<br />

an<strong>da</strong>mento, iniciativa conjunta <strong>da</strong> ABACT e APEX-Brasil, sob a coordenação de Ana Letícia<br />

Fialho 45 . Cabe avaliar em conjunto com essas instituições quais <strong>da</strong>dos poderiam ser produzidos<br />

de forma a complementar a pesquisa em curso.<br />

45 Pesquisa sobre o mercado de arte contemporânea - ABACT/APEX. A pesquisa, coordena<strong>da</strong> por Ana Letícia Fialho,<br />

visa coletar e organizar <strong>da</strong>dos sobre o Mercado de arte contemporânea, e tem foco nas galerias que fazem parte do<br />

programa setorial integrado (PSI) gerenciado pela ABACT e apoiado pela APEX. Dois aspectos desse Mercado estão<br />

sendo analisados de forma prioritária por este estudo:<br />

a) o tamanho e a profissionalização <strong>da</strong>s galerias de arte contemporânea.


O amplo levantamento realizado pelo IBRAM, Museu em números, também oferece<br />

subsídios a essa reflexão. O IBRAM também está desenvolvendo, sob a coordenação de<br />

Leandro Valiatti, um estudo sobre a cadeia produtiva dos museus.<br />

O Sistema Estadual de Museus <strong>da</strong> Secretaria Estadual de <strong>Cultura</strong> do Estado de São<br />

Paulo também realizou pesquisa extensiva sobre os museus do Estado. Como no caso do<br />

Museus em números do IBRAM, o estudo <strong>da</strong> SEC/SP tem um escopo mais abrangente e não<br />

traz um enfoque específico para os museus de arte contemporânea, mas constitui um ponto<br />

de parti<strong>da</strong> a ser considerado.<br />

estudos.<br />

A análise de tais pesquisas, já realiza<strong>da</strong>s, deve ser o ponto de parti<strong>da</strong> para novos<br />

Especial ênfase deve ser <strong>da</strong><strong>da</strong> também às Bienais, pois elas são eventos importantes<br />

de vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> produção contemporânea e espaços privilegiados de articulação entre os<br />

agentes locais e internacionais. Cabe também avaliar o seu impacto econômico para além do<br />

sistema <strong>da</strong>s artes, pois tais eventos geram emprego, ren<strong>da</strong>, atraem turistas, dão visibili<strong>da</strong>de à<br />

ci<strong>da</strong>de.<br />

Sugestão: análise <strong>da</strong>s Bienais de São Paulo e MERCOSUL.<br />

Um outro aspecto que poderia ser aprofun<strong>da</strong>do diz respeito à inserção internacional<br />

<strong>da</strong>s instituições brasileiras. Alguns indicadores parecem-nos fun<strong>da</strong>mentais para avaliar tal<br />

inserção:<br />

- organização de exposições internacionais, identificando o que é concebido no<br />

Brasil e o que é “importado”;<br />

- exportação de exposições concebi<strong>da</strong>s pelas instituições brasileiras;<br />

Exemplos de questões levanta<strong>da</strong>s: volume de negócios, regime fiscal, número de funcionários, tipo de vínculo<br />

funcional, tipo de relação estabeleci<strong>da</strong> com o artista (contrato, artista pj ou pf)? Quais os pontos considerados<br />

gargalos para desenvolvimento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de? etc.<br />

b) Mapeamento <strong>da</strong> inserção internacional <strong>da</strong>s galerias, seus agentes e seus artistas.<br />

Exemplos de questões levanta<strong>da</strong>s: quais artistas representados pela galeria x estão em coleções internacionais e<br />

quais coleções? A galeria tem parcerias internacionais? Seus artistas são representados por galerias fora? A galeria<br />

tem clientes internacionais, onde? etc.<br />

O estudo terá três desdobramentos importantes:<br />

- criação de ferramentas de promoção comercial que a associação e as galerias poderão utilizar para<br />

melhorar seus negócios (ex. Plataforma online com <strong>da</strong>dos sobre a internacionalização, mostrando os<br />

pontos onde estamos no mapa)<br />

- fornecer informações para ajustes e melhor desenvolvimento do programa de exportação e para as<br />

ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ABACT<br />

- fornecer informações objetivas, organiza<strong>da</strong>s e confiáveis aos agentes do sistema <strong>da</strong> arte, agentes<br />

públicos, patrocinadores, investidores e demais interessados sobre o setor <strong>da</strong> arte contemporânea.


- participação <strong>da</strong>s instituições e seus agentes (diretores/curadores/educadores,<br />

etc.) em exposições, publicações, seminários e outras ativi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s à<br />

arte contemporânea no exterior;<br />

- colecionismo internacional (identificar quais instituições estão conseguindo<br />

constituir coleções internacionais).<br />

4.2 Espaços independentes e residências artísticas<br />

Setor a ser mapeado e estu<strong>da</strong>do, pois atuam fortemente como plataformas de<br />

inovação e internacionalização para o sistema de arte contemporânea. As residências artísticas<br />

são locais de troca e articulação entre local e o internacional. Observação participativa indica<br />

uma grande expansão desses espaços e a sua participação fun<strong>da</strong>mental na dinamização do<br />

sistema de arte contemporânea no Brasil. Enquanto os espaços independentes foram objeto<br />

de uma publicação estavam constituindo uma rede 46 , as residências ain<strong>da</strong> não foram<br />

mapea<strong>da</strong>s.<br />

<strong>Indicadores</strong>: número, localização, ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s/ano, orçamento anual<br />

(receita/despesas), fontes de financiamento, parcerias, número de empregados, faixa salarial,<br />

serviços terceirizados contratados, produtos/serviços oferecidos.<br />

Para as residências, além <strong>da</strong>s questões anteriores: descrição do processo seletivo,<br />

número de residentes, perfil de residentes, benefícios oferecidos aos residentes, ativi<strong>da</strong>des<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s pelos residentes, ativi<strong>da</strong>des abertas ao público, follow up com ex-residentes,<br />

desdobramentos.<br />

4.3 As produtoras<br />

Agentes quase invisíveis do sistema <strong>da</strong>s artes, as produtoras têm, no entanto, papel<br />

fun<strong>da</strong>mental no desenvolvimento e realização de projetos museológicos e expositivos.<br />

Empresas com vocação comercial desenvolvem e gerenciam projetos em parceria com<br />

instituições culturais, beneficiam-se dos mecanismos de incentivo fiscal e captam recursos<br />

junto à iniciativa priva<strong>da</strong>. Trabalham em colaboração com outros agentes <strong>da</strong> cadeia produtiva,<br />

como transportadoras especializa<strong>da</strong>s, montadores, museógrafos, despachantes, empresas de<br />

logística, seguros, etc. O estudo do modelo de negócio e <strong>da</strong>s produtoras permita identificar<br />

46 Encontro dos espaços culturais independentes. Ver: http://www.casa<strong>da</strong>ribeira.com.br/ieei2011/www/, última<br />

consulta 06/12/2011.


com precisão os diversos agentes envolvidos na realização de exposições, e também<br />

estabelecer parâmetros de valores praticados para os principais serviços contratados.<br />

4.4 Mecanismos de financiamento para arte contemporânea (editais, prêmios-<br />

residência, prêmios para produção, prêmios para aquisição, etc.)<br />

Os editais, por exemplo, assumiram um papel fun<strong>da</strong>mental no fomento à produção<br />

artística e também à realização de exposições e constituição de acervo, sobretudo para<br />

instituições e espaços voltados à arte contemporânea de pequeno porte.<br />

O levantamento dos principais mecanismos de financiamento <strong>da</strong> produção artística e<br />

para ativi<strong>da</strong>des do circuito <strong>da</strong> arte contemporânea, e uma análise do seu impacto e<br />

desdobramentos parece-nos fun<strong>da</strong>mental para o aprimoramento e expansão dos mesmos.<br />

4.5 O mercado<br />

Algumas tentativas de estudos do mercado brasileiro já foram feitas, no entanto ain<strong>da</strong><br />

não existe um diagnóstico do setor que apresente <strong>da</strong>dos objetivos e confiáveis, sobretudo em<br />

relação ao mercado primário (composto pelas galerias que representam artistas e<br />

comercializam obras de arte que estão entrando no mercado pela primeira vez).<br />

Artigos e estudos existentes até hoje trazem <strong>da</strong>dos do mercado externo, sobretudo<br />

com base em bancos de <strong>da</strong>dos existentes sobre transações feitas em casas de leilão, e/ou<br />

informações qualitativas/parciais sobre o mercado nacional (Sá Earp, VEIGA). O tema foi<br />

objeto <strong>da</strong> tese de doutorado de Ana Letícia Fialho, cuja pesquisa de campo chegou até 2006, e<br />

foi atualiza<strong>da</strong> parcialmente em artigos posteriores (2010). Recentemente, provavelmente <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

a expansão do mercado nacional e de uma maior inserção internacional <strong>da</strong> produção<br />

brasileira, o tema vem interessando também jovens pesquisadores e dissertações e teses de<br />

doutorado a respeito estão em an<strong>da</strong>mento 47 .<br />

Para suprir essa lacuna, A ABACT, em parceria com a APEX-Brasil, está desenvolvendo<br />

uma pesquisa sob a coordenação de Ana Letícia Fialho sobre o mercado de arte<br />

contemporânea no Brasil. O estudo visa dimensionar o tamanho do negócio, o grau de<br />

profissionalização e de internacionalização <strong>da</strong>s galerias brasileiras de arte contemporânea. Tal<br />

47 Daniela Stocco (Doutoran<strong>da</strong> do Departamento de Sociologia <strong>da</strong> UFRJ), Tatiane Elias (Doutoran<strong>da</strong> na Staatliche<br />

Akademie der Bildenden Künste Stuttgart), Mariana Albuquerque (Pós-graduação FGV/RJ), Camille Labanca<br />

(Graduação em artes visuais, UERJ), para citar exemplos recentes de pesquisadores que entraram em contato com<br />

Ana Letícia Fialho para solicitar informações sobre o tema.


pesquisa abrange somente as galerias associa<strong>da</strong>s à ABACT e ao Programa Setorial Integrado<br />

ABACT-APEX-Brasil, que hoje chegam a 40.<br />

Seria interessante estabelecer um diálogo com essas duas instituições para<br />

compartilhamento de informações e metodologia, e também a fim de definir em diálogo com<br />

o setor outros aspectos a serem estu<strong>da</strong>dos, complementando o diagnóstico do setor já<br />

iniciado.<br />

ABACT-APEX:<br />

Alguns outros aspectos a serem analisados, que não estão contemplados na pesquisa<br />

- Mercado secundário (galerias, escritórios de arte, casas de leilão que<br />

trabalham com obras que já foram comercializa<strong>da</strong>s anteriormente);<br />

- Novíssimas galerias e associações/espaços independentes que vem obras de<br />

arte;<br />

- Fundos de investimento;<br />

- Impacto econômico <strong>da</strong>s feiras de arte realiza<strong>da</strong>s no Brasil: ArtRio e SP Arte.<br />

4.6 Editoras que têm foco na arte contemporânea<br />

Levantamento <strong>da</strong>s editoras que publicam conteúdo sobre a produção contemporânea<br />

e sobre o sistema <strong>da</strong> arte, identificação <strong>da</strong>s publicações bilíngues e <strong>da</strong>s editores que têm<br />

distribuição internacional; mapeamento <strong>da</strong> mídia impressa e sites que produzem conteúdo<br />

relevante; identificação dos gargalos do setor, que tornam a publicação<br />

4.7 Curadores independentes<br />

5. O Sistema <strong>da</strong> Arte Contemporânea e sua Inserção Internacional 48<br />

Recentemente o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong>, por meio de sua Secretaria <strong>da</strong> Economia<br />

Criativa, manifestou interesse em avaliar a inserção internacional <strong>da</strong> arte contemporânea<br />

brasileira. Sem dúvi<strong>da</strong>, uma análise objetiva de tal inserção é fun<strong>da</strong>mental para que o<br />

<strong>Ministério</strong> entender a posição que o Brasil ocupa no cenário internacional e,<br />

consequentemente, melhor direcionar esforços e recursos para ativi<strong>da</strong>des, ações, programas<br />

que de fato contribuam para que o Brasil conquiste, mantenha e amplie seu lugar no mapa<br />

internacional <strong>da</strong>s artes. Mas para tanto é preciso também delimitar o que se entende por<br />

48 Item desenvolvido pela pesquisadora Ana Letícia Fialho.


inserção internacional (do ponto de vista geopolítico), assim como quais aspectos dessa<br />

inserção serão prioritariamente abor<strong>da</strong>dos/avaliados.<br />

A inserção internacional pode ser pensa<strong>da</strong> de acordo com as diferentes instâncias já<br />

referi<strong>da</strong>s: inserção no circuito institucional (de exposições como bienais e documenta,<br />

exposições em museus e outras instituições e ain<strong>da</strong> entra<strong>da</strong> em coleções internacionais de<br />

referência), inserção no plano <strong>da</strong> história e <strong>da</strong> crítica (teses, publicações, artigos na mídia<br />

especializa<strong>da</strong> internacional); inserção de artistas no mercado internacional (representativi<strong>da</strong>de<br />

em galerias internacionais, presença em leilões); participação de agentes do mercado<br />

brasileiro no mercado internacional (participação de galerias em feiras internacionais,<br />

participação de galeristas em boards de feiras internacionais e fóruns de debates). Outros<br />

desdobramentos possíveis dessa análise: inserção de artistas e curadores nos circuitos de<br />

residências internacionais; participação de curadores brasileiros em projetos de exposições<br />

internacionais; participação de curadores, artistas e outros agentes nacionais em publicações,<br />

fóruns e debates internacionais, etc.<br />

Uma análise abrangente desse tema foi desenvolvi<strong>da</strong> em pesquisa realiza<strong>da</strong> por Ana<br />

Letícia Fialho, e que resultou na sua tese de doutorado defendi<strong>da</strong> na Ecole des Hautes Etudes<br />

em Sciences Sociales/Paris, em 2006: L’insertion internationale de l’art Brésilien. Une analyse<br />

de l’insetion internationale de l’art Brésilien <strong>da</strong>ns les institutions et <strong>da</strong>ns le marché.<br />

Nela, Fialho faz uma análise <strong>da</strong> inserção internacional <strong>da</strong> arte contemporânea<br />

brasileira nas instituições e no mercado a partir dos anos 1990, quando o circuito internacional<br />

<strong>da</strong> arte contemporânea, até então centrado no eixo Europa-Estados Unidos, começa a<br />

flexilibilizar suas fronteiras e integrar a produção de outras regiões até então considera<strong>da</strong>s<br />

“periféricas”. A pesquisa de campo chegou até o ano de 2005, tendo sido atualiza<strong>da</strong><br />

parcialmente no que se refere a algumas instituições/eventos internacionais e aos leilões.<br />

A metodologia e os <strong>da</strong>dos produzidos por Ana Letícia Fialho em sua tese para medir a<br />

inserção internacional <strong>da</strong> produção brasileira poderiam servir de base para a criação de<br />

indicadores a serem alimentados e atualizados periodicamente, por equipe designa<strong>da</strong> para<br />

este fim.<br />

Exemplos de indicadores:<br />

1) Representação brasileira nas principais bienais e eventos equivalentes de arte<br />

contemporânea<br />

Exemplo:


Presença brasileira na Documenta de Kassel 1959-2007 49<br />

Documenta II<br />

1959<br />

Documenta III<br />

1964<br />

Documenta IV<br />

1968<br />

Arthur Luiz Piza (1928) Almir Mavigner (1925) Almir Mavigner (1925)<br />

Fayga Ostrower (1920-2001)<br />

Sérgio<br />

1990)<br />

de Camargo (1930-<br />

Documenta IX<br />

1992<br />

Curador: Jan Hoet<br />

Waltércio Cal<strong>da</strong>s (1946)<br />

Documenta X<br />

1997<br />

Curadora:<br />

Catherine David<br />

Lygia Clark (1937-<br />

1980)<br />

Cildo Meireles (1948) Tunga (1952)<br />

Jac Leirner (1961) Cabelo (1967)<br />

José Resende (1945)<br />

Saint Clair Cemin (1951)<br />

Hélio Oiticica<br />

(1937-1980)<br />

Documenta XI<br />

2002<br />

Curador:<br />

Okwui Enwezor<br />

Arthur Barrio<br />

(1945)<br />

Cildo Meireles<br />

(1948)<br />

Documenta XII<br />

2007<br />

Diretores artísticos:<br />

Roger Bruegel/Ruth<br />

Noak<br />

Dias & Riedweg<br />

Iole de Freitas(1945)<br />

Luis Sacilotto (1924-<br />

2003)<br />

Mira Schendel (1919-<br />

1988)<br />

Ricardo Basbaum<br />

(1961)<br />

Informações complementares interessantes de serem coleta<strong>da</strong>s dizem respeito ao<br />

impacto <strong>da</strong> participação em tais eventos, altamente legitimadores e de grande visibili<strong>da</strong>de,<br />

sobre a carreira dos artistas e, sobretudo, sobre sua valorização comercial. Se tal indicador for<br />

aplicado, poder-se-ia fazer também um acompanhamento <strong>da</strong> carreira dos artistas, ver que<br />

desdobramentos e que oportuni<strong>da</strong>des foram gera<strong>da</strong>s, assim como contato com as galerias que<br />

os representam para saber o impacto do evento no valor <strong>da</strong>s obras e em sua comercialização.<br />

visibili<strong>da</strong>de<br />

2) Presença brasileira em coleções internacionais de instituições que têm alta<br />

Exemplo:<br />

49 Tabela extraí<strong>da</strong> de tese de doutorado: Ecole des Hautes Etudes em Sciences Sociales/Paris, em 2006: L’insertion<br />

internationale de l’art Brésilien. Une analyse de l’insetion internationale de l’art Brésilien <strong>da</strong>ns les institutions et<br />

<strong>da</strong>ns le marché. Paris, 2006, e atualiza<strong>da</strong> até 2007.


Artistas brasileiros na coleção do MoMA (1980-2005) 50<br />

1980-1989<br />

Ano<br />

Nº de<br />

obras<br />

Artista Forma de entra<strong>da</strong> na coleção<br />

1980 2 Nair Benedicto (1940) The Family of Man Fund<br />

1981 1 Anna Bella Geiger (1933) Cossio del Pomar Fund<br />

1986 1 Fayga Ostrower (1922) Doação do artista<br />

1988 8 Oscar Niemeyer (1907) Don Hester Diamond<br />

1990-1999<br />

Ano<br />

Nº de<br />

obras<br />

Artista Forma de entra<strong>da</strong> na coleção<br />

1990 1 Sebastião Salgado (1944) The Fellows of Photography Fund<br />

Roblee McCarthy, Jr. Fund and<br />

1991 3 Burle Marx (1909-1994)<br />

Lily Auchincloss Fund (2), Roberto<br />

Burle Marx Fund e aquisição do<br />

departamento (1)<br />

Doação do artista (1), David<br />

1991 2 Jac Leirner (1961)<br />

Rockefeller for Latin America<br />

1993 7 Cildo Meireles (1948)<br />

Fund and Brazil Fund (1)<br />

Doação de Paulo Herkenhoff<br />

1994 1 Valdir Cruz Doação de Barbara Foshay-Miller<br />

Doação de Gilberto<br />

1995 1 Waltércio Cal<strong>da</strong>s (1946)<br />

Chateaubriand (em memória de<br />

Monroe Wheeler, Francisco<br />

Masjuan e John Brady)<br />

1996 2 Mario Cravo Neto (1947) Doação do artista<br />

4<br />

Hélio Oiticica<br />

(1937-1980)<br />

Compra subvenciona<strong>da</strong> por<br />

Patricia Cisneros (2), doação <strong>da</strong><br />

família Oiticica (2)<br />

The Fellows of Photography Fund<br />

1997<br />

8 Vik Muniz (1961)<br />

and Anonymous Purchase Fund<br />

(1), doação de Tricia Collins (2),<br />

doação do Contemporary Arts<br />

Council of the MoMA (2), doação<br />

do artista (3)<br />

1 Waltércio Cal<strong>da</strong>s (1946) Doação de Lilian Tone<br />

Compra subvenciona<strong>da</strong> por Maria<br />

de Lourdes Eugydio Villela (1),<br />

1998 4 Hélio Oiticica (1937-1980) compra subvenciona<strong>da</strong> por<br />

Gilberto Chateaubriand e M.F.<br />

Nascimento Brito (1), doação <strong>da</strong><br />

50 Uma análise extensiva <strong>da</strong> presença brasileira na coleção do MoMA foi feita na tese de doutorado (FIALHO, 2006)<br />

e sintetiza<strong>da</strong> no artigo “Brazil in the MoMA Collection. An analysis of the insertion of Brazilian art in an international<br />

art institution.” Springerin, Viena, março de 2005. O interessante dos <strong>da</strong>dos que trazemos aqui é a crescente<br />

presença brasileira, exatamente a partir dos anos 1990, e a participação de diversos agentes brasileiros que fizeram<br />

doações nesse período. Só muito recentemente observamos um investimento direto do museu na aquisição <strong>da</strong>s<br />

obras.


Ano<br />

1999<br />

1999<br />

2000-2005<br />

Nº de<br />

obras<br />

Artista Forma de entra<strong>da</strong> na coleção<br />

família Oiticica (2)<br />

Doação coletiva: Manuel<br />

1 Waltércio Cal<strong>da</strong>s (1946)<br />

Francisco do Nascimento Brito,<br />

Beatriz Pimenta Camargo,<br />

Gilberto Chateaubriand, Joachim<br />

Esteve, José Mindlin, Maria de<br />

Lourdes Egydio Villela (1)<br />

1 Vik Muniz (1961) Doação de Margaret Weston<br />

4 Fernando Campana (1961) Doação de Patricia de Cisneros<br />

Doação do Friends of<br />

5 Leonilson (1955)<br />

Contemporary Drawing (3),<br />

doação do espólio do artista<br />

Leonilson (2)<br />

Waltércio Cal<strong>da</strong>s (1946)<br />

Doação de<br />

Hollan<strong>da</strong><br />

Luiz Buarque de<br />

1 Cildo Meireles (1948) Doação de Paulo Herkenhoff<br />

1 Hélio Oiticica (1937-1980) Doação <strong>da</strong> família Oiticica<br />

1 Mira Schendel (1919-1988)<br />

Doação de<br />

Hollan<strong>da</strong><br />

Luiz Buarque de<br />

Ano Nº de obras Artista Forma de entra<strong>da</strong> na coleção<br />

10 Almir Mavigner (1925) Doação do artista<br />

Doação anônima (1), compra<br />

2000<br />

8 Vik Muniz (1961)<br />

através do Frances Keech Fund<br />

(7)<br />

1 Lygia Pape (1932-2004) Doação de Patricia de Cisneros<br />

1 Helio Oiticica (1937-1980) Doação <strong>da</strong> família Oiticica<br />

2 Willys de Castro (1926-1988) Doação de Hercules Barsotti<br />

30 Anna Maria Maiolino (1942)<br />

Compra (29), doação de Michel<br />

Maiolino (1)<br />

9 Iran do Espirito Santo (1963) Compra<br />

2 Mira Schendel (1919-1988) Doação de Luisa Strina<br />

2001 1 Leonilson (1957-1993) Doação de Carmen Bezerra Dias<br />

1 Cildo Meireles (1948) Doação de Luisa Strina<br />

1 Vik Muniz (1961) Doação do artista<br />

1 Lygia Pape (1932-2004) Doação de Patricia de Cisneros<br />

1 Hércules Barsotti (1914)<br />

Doação de Sylvio Nery <strong>da</strong> Fonseca<br />

Escritório de Arte Lt<strong>da</strong><br />

1 Beatriz Milhazes (1960)<br />

Compra subvenciona<strong>da</strong> por Ricki<br />

Conway<br />

1 Ernesto Neto (1964) Compra<br />

2002<br />

Compra subvenciona<strong>da</strong> por Agnes<br />

Gund e Nina and Gordon Bequest<br />

2 Beatriz Milhazes (1960)<br />

Fund (1), doação do Library<br />

Council of The Museum of<br />

2004<br />

2<br />

2<br />

Hélio Oiticica (1937-1980)<br />

Lygia Clark (1920-1988)<br />

Modern Art (1)<br />

Doação de Patricia de Cisneros<br />

Doação de Patricia de Cisneros<br />

4 Hércules Barsotti (1914) Compra<br />

2005<br />

1 Fernando Campana (1961)<br />

Doação de Jo Carole e Ronald S.<br />

Lauder


Ano Nº de obras Artista Forma de entra<strong>da</strong> na coleção<br />

3 Willys de Castro (1926-1988) Compra<br />

5 Lygia Clark (1920-1988)<br />

Compra subvenciona<strong>da</strong> pela<br />

Edward John Noble Foun<strong>da</strong>tion<br />

3 Iran do Espírito Santo (1963) Compra<br />

28 Mira Schendel (1919-1988)<br />

Compra através do Scott Burton<br />

Fund (1), compra (27)<br />

6 Alfredo Volpi (1896-1988)<br />

Compra (5), compra através do<br />

Joanne M. Stern Fund (1)<br />

1 (a-m) Rivane Neuenschwander (1967)<br />

Compra através do Fund for the<br />

Twenty First Century<br />

Informações complementares interessantes a serem obti<strong>da</strong>s dizem respeito à<br />

proveniência <strong>da</strong>s obras e seu valor de compra, comparando o valor de mercado com o valor<br />

praticado na negociação com as instituições.<br />

Uma iniciativa interessante foi a publicação, em 2011, pelo <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong>s Relações<br />

Exteriores, do livro/catálogo Arte Brasileira nos Museus de Nova York. Embora não exaustivo,<br />

nem compreendendo detalhes sobre a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s obras nas coleções, o livro apresenta uma<br />

seleção de obras, com ficha técnica e imagens de alta quali<strong>da</strong>de. Uma iniciativa positiva, a ser<br />

aprimora<strong>da</strong> e replica<strong>da</strong> talvez em outras ci<strong>da</strong>des.<br />

3) Exposições individuais e retrospectivas de artistas brasileiros em instituições<br />

internacionais de grande visibili<strong>da</strong>de<br />

4) Publicações sobre a produção brasileira (catálogos, livros, ensaios, artigos, teses)<br />

5) Publicação sobre arte contemporânea de autores brasileiros no exterior<br />

6) Participação de curadores brasileiros em curadorias internacionais<br />

7) Presença de galerias brasileiras em feiras internacionais<br />

Exemplo:<br />

Galerias brasileiras na feira Art Basel 1999-2011 51<br />

Art Basel Art Basel Art Basel Art Basel Art Basel Art Basel<br />

1999<br />

2000 2001 2002 2003 2004<br />

Camargo<br />

Vilaça<br />

Camargo<br />

Vilaça<br />

Camargo<br />

Vilaça<br />

Fortes Vilaça Fortes Vilaça Fortes Vilaça<br />

Luisa Strina Luisa Strina Luisa Strina Luisa Strina Luisa Strina Luisa Strina<br />

Brito Cimino Brito Cimino Brito Cimino Brito Cimino Brito Cimino<br />

Millan<br />

51 Tabela elabora<strong>da</strong> a partir de análise dos catálogos <strong>da</strong> feira e <strong>da</strong> mídia especializa<strong>da</strong>.


Art Basel<br />

2005<br />

Camargo<br />

Vilaça<br />

Art Basel<br />

2006<br />

Art Basel<br />

2007<br />

Art Basel<br />

2008<br />

Art Basel<br />

2009<br />

Fortes Vilaça Fortes Vilaça Fortes Vilaça Fortes<br />

Vilaça<br />

Luisa Strina Luisa Strina Luisa Strina Luisa Strina Luisa Strina<br />

Millan Millan Millan<br />

Nara<br />

Roesler<br />

Marilia<br />

Razuk<br />

8) Artistas brasileiros representados por galerias internacionais<br />

Elementos para a construção de <strong>Indicadores</strong>:<br />

6. Conclusão<br />

Art Basel<br />

2010<br />

Fortes<br />

Vilaça<br />

A gentil<br />

carioca<br />

Art Basel<br />

2011<br />

Fortes<br />

Vilaça<br />

A gentil<br />

carioca<br />

Luisa Strina Luisa Strina<br />

Millan Millan Millan<br />

1) Compilar e manter acessível para consulta o resultado de ven<strong>da</strong>s dos leilões<br />

no Brasil (existem serviços pagos: no Brasil: www.catalogo<strong>da</strong>sartes.com.br e<br />

para o mercado internacional: www.artprice.com );<br />

2) Acompanhar o fluxo de importações e exportações para arte contemporânea,<br />

junto à APEX e ao MDIC, e desenvolver políticas de fomento tendo esses <strong>da</strong>dos<br />

em consideração.<br />

Algumas escolhas e premissas precisam ser explicita<strong>da</strong>s sobre o presente trabalho,<br />

premissas estas que embasaram o recorte e a necessária coerência teórica e política para<br />

aplicabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s indicações aqui resultantes a título de conclusão.<br />

Em primeiro lugar nosso foco é o campo <strong>da</strong>s Políticas Públicas de <strong>Cultura</strong> e isto quer<br />

dizer que priorizaremos o horizonte de um funcionamento desejável e em consonância com a<br />

especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Política de <strong>Cultura</strong> do Brasil, levando em conta os desafios que sagraram-se<br />

como foco na primeira déca<strong>da</strong> dos anos 2000. Estabelecemos assim um recorte espaço-<br />

temporal que singulariza os potenciais e os obstáculos <strong>da</strong> criação de <strong>Indicadores</strong> para políticas<br />

públicas em Arte Contemporânea. Diferenciando assim o papel <strong>da</strong>s instâncias públicas do<br />

papel <strong>da</strong>s instâncias priva<strong>da</strong>s, que, no entanto, estão empiricamente atrela<strong>da</strong>s. Concor<strong>da</strong>mos<br />

assim com duas grandes “funções” políticas na esfera <strong>da</strong> cultura, quais sejam: diversi<strong>da</strong>de<br />

cultural e participação nas decisões. Por outro lado, alertamos sobre a singulari<strong>da</strong>de e a “mise-<br />

en abîme” que a Arte Contemporânea provoca nestas duas funções; como já disse Jean Luc<br />

Go<strong>da</strong>rd: ‘A cultura é a regra e a arte é a exceção”.


De antemão desenha-se aí uma análise complexa se pensarmos que ao Estado cabe<br />

ação de mediador num campo que aqui é <strong>da</strong> produção simbólica e <strong>da</strong> fruição basea<strong>da</strong> em<br />

critérios subjetivos e movediços.<br />

Em termos <strong>da</strong> vocação <strong>da</strong> política cultural no Brasil também cabe circunscrever alguns<br />

parâmetros. Desde a Constituição de 1988 o poder público está mais comprometido com o<br />

direito à democracia cultural, ao mesmo passo que li<strong>da</strong> com o desafio de orquestrar seus<br />

orçamentos e ações sobre uma base territorial diferencia<strong>da</strong> historicamente com fortes<br />

assimetrias. Decorrem <strong>da</strong>í diferentes forças em diferentes CIRCUITOS CULTURAIS, definidos<br />

como base de um Desenvolvimento <strong>Cultura</strong>l.<br />

Macro-circuitos culturais são expressos na Constituição Federal e devem ser<br />

transformados em políticas educacionais, comunicação de massa, industriais e de Mercado,<br />

livro, imprensa, indústria fonográfica, televisão, cinema, serviços audiovisuais, além <strong>da</strong> ARTE.<br />

Fica claro, ao contemplarmos a questão educacional no rol dos elos do CIRCUITO, que<br />

o Mercado não é a única força no jogo! Poder público e socie<strong>da</strong>de também hierarquizam e<br />

refazem sistemas de valores, criando consensos ou novas legitimações e novos públicos. Estes<br />

mecanismos convivem e nem sempre atuam complementarmente! Crucial aqui é destacar esta<br />

tríade, ain<strong>da</strong> que simplifica<strong>da</strong>mente, como forças <strong>da</strong> política cultural e atuantes no campo <strong>da</strong><br />

ARTe: Estado, mercados e “comuni<strong>da</strong>des” (onde se alternam especialistas, leigos, produtores<br />

artísticos, dealers, diretores de instituições, etc.).<br />

Em segundo lugar e em relação ao parágrafo anterior, priorizaremos outro aspecto<br />

contemporâneo <strong>da</strong> política cultural que é a Transversali<strong>da</strong>de com outras políticas e nesta<br />

direção <strong>da</strong>remos destaque a potencial sinergia entre Política <strong>Cultura</strong>l e Política Urbana.<br />

Uma equação específica, portanto, é necessária para intermediar dois esquemas:<br />

modelo triangular (museu, galeria e artista) e o esquema específico de política cultural:<br />

agentes, mercado e socie<strong>da</strong>de.<br />

Cabe hierarquizar as cama<strong>da</strong>s de Mercado e simultaneamente relativizar a meta de<br />

“internacionalização” como prioritária. Recolocar as questões simbólicas que estão<br />

“naturaliza<strong>da</strong>s” e por isto acabam por induzir uma necessi<strong>da</strong>de que extrapola o campo <strong>da</strong><br />

Política <strong>Cultura</strong>l e adentra prerrogativas de programas de comércio exterior.<br />

Em contraste com exemplos díspares como França com fundos públicos já estáveis ou<br />

China, com uma tardia, mas forte valorização nacional <strong>da</strong> Arte contemporânea, estamos<br />

falando de um “setor” que tem se desenvolvido no Brasil à margem <strong>da</strong>s ações públicas e à<br />

margem de grandes platéias.


Antes então de focar na Internacionalização, (tarefa pouco mensurável em qualquer<br />

dos eixos de política cultural tal como concebi<strong>da</strong> e posta em prática hoje, e mais abarcável<br />

pelos índices de Política de comércio Externa pela APEX) como critério para criação de<br />

<strong>Indicadores</strong>; mister se faz coadunar os eixos já correntes de monitoramento do<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s políticas culturais brasileiras tais como especifici<strong>da</strong>des territorial e<br />

histórica que condicionaram o dinâmica de construção material e imaterial no país, já<br />

detecta<strong>da</strong> pelo IPEA, IBGE.<br />

Um dos riscos de se fomentar privilegia<strong>da</strong>mente a Internacionalização em detrimento<br />

<strong>da</strong>s etapas de Criação, Difusão e Formação de plateias seria um anacronismo e retorno à<br />

POLÍTICA <strong>da</strong>s ARTES ao invés de uma POLITICA CULTURAL singular como tem sido<br />

reconceitualiza<strong>da</strong> na primeira déca<strong>da</strong> dos anos 2000, focando a diversi<strong>da</strong>de e a educação.<br />

Ou seja, de acordo com as contribuições e indicações dos especialistas e pesquisadores<br />

consultados, uma <strong>da</strong>s primeiras constatações é de um desconhecimento interno no Brasil<br />

sobre os códigos estéticos influindo no escopo e reconhecimento <strong>da</strong> arte contemporânea, com<br />

a respectiva valoração financeira, afetando assim o que seria um saudável “sistema <strong>da</strong>s artes”.<br />

Sobre indicadores cabe aqui retornar a Rosimeri Carvalho <strong>da</strong> Silva 52 :<br />

Allaire (2006) mostra um indicador simples utilizado no sistema de informações<br />

culturais do Quebec, a razão entre o número de trabalhadores culturais e o conjunto de<br />

trabalhadores. No entanto, o autor discute que essa medi<strong>da</strong> não mostra grande coisa<br />

se não for acompanha<strong>da</strong> dos elementos que lhe dão sentido e que orientam sua<br />

interpretação. Os indicadores podem ser classificados, com relação à função, como<br />

indicadores sistêmicos e de performance. Os indicadores sistêmicos estão<br />

fun<strong>da</strong>mentados em referenciais técnicos. Ou seja, há suficiente conhecimento<br />

desenvolvido pela comuni<strong>da</strong>de científica que pode embasar a adoção de parâmetros<br />

desejáveis para determina<strong>da</strong> situação do sistema. Devido à complexi<strong>da</strong>de dos aspectos<br />

culturais, estamos longe de poder estabelecer, como o fazem os especialistas do<br />

desenvolvimento ambiental sustentável, indicadores sistêmicos para a área cultural. Os<br />

indicadores que deverão predominar, então, serão aqueles de performance, que,<br />

segundo Van Bellen, “são ferramentas para comparação, que incorporam<br />

indicadores descritivos e referências a um objetivo político específico. Fornecem aos<br />

tomadores de decisão informações sobre o grau de sucesso na realização de metas<br />

locais, regionais, nacionais ou internacionais. São utilizados dentro de diversas escalas<br />

52 Rosimeri Carvalho <strong>da</strong> Silva; <strong>Indicadores</strong> culturais: reflexões para construção de um modelo brasileiro. In: Revista<br />

Observatório Itaú <strong>Cultura</strong>l / OIC - n. 4, (jan./mar. 2008). – São Paulo, SP: Itaú <strong>Cultura</strong>l, 2008. p. 44-58.


no campo <strong>da</strong> avaliação política e no processo decisório. (Van Bellen, 2005, p.<br />

48).”(grifo nosso)<br />

Buscando assim o que seriam os “indicadores de performance”de acordo com a autora<br />

cita<strong>da</strong> Rosimeri Carvalho <strong>da</strong> Silva alguns aspectos do sistema <strong>da</strong>s artes merecem pesquisas<br />

específicas:<br />

6.1 O Sistema <strong>da</strong> Arte Contemporânea e seus Principais Agentes<br />

6.1.1 Os artistas: base <strong>da</strong> cadeia produtiva<br />

Estudos sobre a formação e sobre a profissionalização dos artistas são recorrentes no<br />

campo <strong>da</strong> sociologia <strong>da</strong> arte (MENGER, 1999), mas ain<strong>da</strong> não foram suficientemente<br />

desenvolvidos no Brasil. No entanto, os artistas são a base do sistema <strong>da</strong> arte, seria, portanto,<br />

indicado que se realizassem estudos específicos sobre esse agente-chave do sistema.<br />

Sabemos empiricamente que mesmo artistas consagrados enfrentam dificul<strong>da</strong>des em<br />

viver somente do seu trabalho como artista, desenvolvendo uma série de ativi<strong>da</strong>des conexas –<br />

design, ensino, mediação, montagem, etc. – a fim de financiar sua produção e garantir uma<br />

estabili<strong>da</strong>de financeira.<br />

Mas qual o perfil dos artistas atuantes no campo <strong>da</strong> arte contemporânea? Que outras<br />

ativi<strong>da</strong>des desempenham? Quais suas fontes de ren<strong>da</strong>? Qual seu nível de profissionalização?<br />

Qual o impacto econômico de suas ativi<strong>da</strong>des? Trabalham de forma colaborativa? Geram<br />

outros empregos? Possuem empresa?<br />

O atelier dos artistas que têm inserção mercado de artes deve ser um dos temas de<br />

um estudo a ser realizado pela ABACT (Associação Brasileira de Galerias de Arte<br />

Contemporânea), com apoio do SEBRAE Nacional, em 2012. Sugerimos um diálogo com essas<br />

instituições a fim de obter informações sobre a metodologia adota<strong>da</strong>, e também avaliar<br />

possibili<strong>da</strong>des de colaboração e/ou complementação.<br />

6.1.2 As instituições e espaços expositivos voltados à arte contemporânea<br />

Fun<strong>da</strong>mental o mapeamento e o diagnóstico dos espaços expositivos voltados à arte<br />

contemporânea. Algumas iniciativas avançaram nesse sentido. O projeto piloto A economia<br />

<strong>da</strong>s exposições de arte contemporânea, parceria entre o MINC, a Fun<strong>da</strong>ção Iberê Camargo e o<br />

Fórum Permanente, foi a tentativa de realizar um primeiro mapeamento dos espaços voltados<br />

à arte contemporânea, e deman<strong>da</strong> complementação e desdobramentos, conforme observado


em relatório encaminhado à Secretaria <strong>da</strong> Economia Criativa. Cabe lembrar aqui algumas<br />

recomen<strong>da</strong>ções para elaboração de políticas públicas volta<strong>da</strong>s a esse âmbito, aponta<strong>da</strong>s pelo<br />

estudo:<br />

- Realização de estudos periódicos sobre o setor e atualização anual de <strong>da</strong>dos, a<br />

fim de preencher lacunas e possibilitar a análise de séries históricas.<br />

- Criação de uma rede que permita uma maior colaboração entre os<br />

equipamentos, para itinerâncias, co-produção de exposições, intercâmbio,<br />

indicação de profissionais, etc.<br />

- Divulgação de diretrizes e eventualmente concessão de subsídios para<br />

aprimorar ou implementar políticas de memória e documentação.<br />

- Constituição de banco de <strong>da</strong>dos aberto à consulta, permitindo acesso a<br />

informações sobre as instituições, acervo, programação, publicações, etc.<br />

- Incentivo à aquisição de acervo, dentro de uma política clara, coerente e<br />

transparente.<br />

- Incentivo a desdobramentos <strong>da</strong>s exposições para além do tempo/espaço <strong>da</strong><br />

mostra (catálogo e ativi<strong>da</strong>des extras).<br />

Respeitando a dinâmica específica <strong>da</strong> Política <strong>Cultura</strong>l no Brasil desde os anos 2000,<br />

prováveis indicadores para programas e projetos em Arte Contemporânea, devem ser<br />

pensados à luz <strong>da</strong>s conclusões indica<strong>da</strong>s nas instancias dos colegiados 53 . Ali estão presentes<br />

metas que produzem indicadores “úteis” para além <strong>da</strong> internacionalização dirigi<strong>da</strong><br />

hegemonicamente pelo mercado! Vejamos:<br />

- Mapeamento <strong>da</strong>s cadeias e arranjos produtivos de setores inseridos no campo<br />

<strong>da</strong>s artes;<br />

- Articulação conjunta para constituição de uma comissão para atuar junto à<br />

Receita Federal, <strong>Ministério</strong> do Planejamento, <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong>s Relações<br />

Exteriores, <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Justiça, demais instâncias para buscar soluções para<br />

os gargalos <strong>da</strong> circulação de artes visuais no exterior em relação à alíquota de<br />

importação, entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong> de obras de arte do país;<br />

- Realização de programas conjuntos no fomento ao mercado de bens e serviços<br />

criativos;<br />

53 Período de Realização: maio a junho de 2011. Participantes: Secretaria de políticas <strong>Cultura</strong>is (SPC), Secretaria do<br />

Audiovisual, (SAV), Secretaria de Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e Diversi<strong>da</strong>de, <strong>Cultura</strong>l (SCDC), Secretaria de Fomento, e Incentivo à<br />

<strong>Cultura</strong> (SEFIC), FUNARTE -, Fun<strong>da</strong>ção Nacional <strong>da</strong>s Artes, IPHAN – Instituto; do Patrimônio Histórico e Artístico,<br />

Nacional, IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus, Fun<strong>da</strong>ção <strong>Cultura</strong>l Palmares Fun<strong>da</strong>ção, Casa de Rui Barbosa,<br />

Diretoria de Relações Internacionais (DRI) e Representações Regionais.


- Difusão <strong>da</strong> arte contemporânea brasileira no país com vistas à formação de<br />

mercado para suas múltiplas linguagens por meio de programas, veículos de<br />

comunicação, redes virtuais.<br />

- Desenvolver ações estratégicas para incentivar a aquisição de obras de artes<br />

pela iniciativa priva<strong>da</strong>, instituições que detêm espaços públicos urbanos,<br />

museus, escolas, bancos, grandes empresas nacionais e multinacionais.<br />

- Desenvolver programas de capacitação profissional com vistas à inserção no<br />

mercado de trabalho artistas e demais profissionais criativos.<br />

- Estimular ações transversais com demais ministérios e órgãos do Governo<br />

Federal na realização de programas e ações para inserção <strong>da</strong>s diversas<br />

linguagens artísticas nas realizações governamentais em todos os campos de<br />

produção e projetos de desenvolvimento.<br />

Conjugar o desafio de difundir a própria noção e reconhecimento de Arte<br />

contemporânea ao desafio de experimentar singulares formas de Ci<strong>da</strong>de Criativa pode ser<br />

uma proposta para as capitais do sudeste do Brasil em consonância com a vin<strong>da</strong> de eventos<br />

internacionais e assim obter-se um período de observação privilegiado.<br />

Dentre outras coisas caberia também analisar especificamente os discursos<br />

institucionais de museus e galerias municipais que legitimam alguns investimentos públicos<br />

contemplando simultaneamente política urbana e política cultural a partir do foco nos<br />

equipamentos culturais (tais como definidos em pesquisa do IBGE).<br />

Ao buscar indicadores, cabe lembra que o Poder Público pode ser muitas <strong>da</strong>s vezes,<br />

simultaneamente “sujeito e objeto”. Ora, no campo <strong>da</strong>s políticas culturais, antes de pensarmos<br />

na Internacionalização cujo termômetro seja o mercado, pensemos no primeiro receptor que<br />

deveriam ser as “comuni<strong>da</strong>des” em sua plurali<strong>da</strong>de e recorramos ao alerta de Teixeira Coelho:<br />

Essa pesquisa pode ser ain<strong>da</strong> mais importante quando considera<strong>da</strong> a existência de um<br />

banco de <strong>da</strong>dos sob o prisma do empoderamento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de que ele permite. Se o<br />

objetivo de um banco de <strong>da</strong>dos for o de informar políticas culturais descentraliza<strong>da</strong>s e<br />

de desconcentração, como é a tendência atual de democratização <strong>da</strong> cultura nas<br />

socie<strong>da</strong>des abertas, uma priori<strong>da</strong>de deve ser concedi<strong>da</strong> para a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, o<br />

primeiro e mais importante cenário <strong>da</strong> existência humana e diante do qual as<br />

reali<strong>da</strong>des do Estado (esta parcela <strong>da</strong> divisão político-administrativa do país) e <strong>da</strong>


Nação são, para os efeitos práticos, distantes virtuali<strong>da</strong>des, quando não puras<br />

ficções. 54<br />

De fato, desde 1980, temos visto um número crescente de secretarias municipais de<br />

cultura, que de maneiras diversifica<strong>da</strong>s, procuram inserir suas ci<strong>da</strong>des num “mapa<br />

internacional” cujo tom de disputa é inquestionável, através <strong>da</strong> construção de edifícios de<br />

funções cultural e de lazer (em geral mescla<strong>da</strong>s numa só rubrica). Após um certo aplauso<br />

consensual sobre vários modelos destes investimentos, temos um rol de análises críticas 55 a<br />

partir de 1990 apontando o caráter seletivo, como fazem Ferran&Silveira (2001) e mesmo<br />

indutor de novas segregações, uma “zona livre de cultura”, como faz Lucchini, ou ain<strong>da</strong> Vaz e<br />

Jacques (2001) que alertam para uma “gentrificação cultural” além de uma gentrificação sócio-<br />

espacial.<br />

Se nos anos 70 discutia-se o modelo Paris, nos anos 80, o modelo Barcelona, nos anos<br />

90, o modelo Bilbao, ca<strong>da</strong> vez mais ci<strong>da</strong>des menores vêm se preocupando não só em<br />

dinamizar a campo <strong>da</strong> política cultural como requisito de quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> 56 mas também<br />

tentando equilibrar o desenvolvimento econômico com o social e o cultural.<br />

Uma política cultural pública atual deve ser necessariamente transversal e territorial,<br />

assim investir na circulação de mostras de arte contemporânea em locais não habituais pode<br />

ser uma agen<strong>da</strong> urgente nas políticas culturais municipais. Em termos de execução desta<br />

política transversal e urbana, indicadores nas três escalas conformariam uma hierarquização<br />

espacial: territórios no Brasil em três escalas: local, municipal e nacional (em alguns países<br />

como a China, a criação de “clusters criativos” passou a oferecer uma plataforma para<br />

investimentos cruzados à visibilização <strong>da</strong> arte contemporânea). Ou seja, para serem úteis no<br />

esquema geral previsto pelo Sistema Nacional de <strong>Cultura</strong> e par ao SNIIC, os indicadores para<br />

Arte Contemporânea devem também abarcar índices <strong>da</strong>s escalas municipal e estadual.<br />

Mecanismos correntes em outros setores seriam construtivos para a Arte<br />

Contemporânea?<br />

- Cota para Arte Contemporânea (assim como a Cota de tela no cinema, espécie<br />

de protecionismo à cinematografia nacional)?<br />

54 COELHO, Teixeira. «Banco de <strong>da</strong>dos: do inerte cultural à cultura <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”. In: UNESCO, Políticas culturais para o<br />

desenvolvimento. Brasília: Escritório <strong>da</strong> Unesco no Brasil, 2003, p. 217- 232.<br />

55 Dentre as críticas a estes projetos e às suas consequências podemos destacar Bianchini & Parkinson (1993), Boyer<br />

(1994) que critica a instrumentalização <strong>da</strong> história nestes projetos e Sanchez (1999) que alerta para o marketing<br />

inserido nestes processos.<br />

56 No contexto europeu, já existem estudos mostrando que o saldo positivo está mais na reconstrução <strong>da</strong> imagem<br />

positiva <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e do turismo cultural do que de criação de empregos.


- Mecanismos de política pública em outros países: Criação de Fundos e<br />

Acervos, (caso <strong>da</strong> França onde existem Fundos nacionais, departamentais,<br />

regionais e municipais de Arte Contemporânea).<br />

6.1.3 O terceiro agente, cerne <strong>da</strong>s políticas públicas de cultura: a socie<strong>da</strong>de, comuni<strong>da</strong>des,<br />

público-alvo<br />

Questão importante é a política de formação de acervo como incentivo a cultura,<br />

cabendo aqui citá-lo para o entendimento <strong>da</strong>s bases econômicas formais na arte<br />

contemporânea. O MAM de SP, por exemplo, realiza através de um Conselho, a escolha <strong>da</strong>s<br />

aquisições para o museu, depois realiza<strong>da</strong> pelo MinC. Importa aqui ressaltar que no momento<br />

<strong>da</strong> aquisição o museu necessita de um laudo <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> aquisição <strong>da</strong> obra, que é<br />

realiza<strong>da</strong> por três diferentes galerias de arte. Aqui podemos voltar para a questão de como o<br />

mercado conserva-se calcado neste modelo triangular (museu, galeria e artista).<br />

A inclusão de plataformas como CAPACETE e Ateliê 397 trariam uma perspectiva mais<br />

complexa para o mercado e consequentemente para o pensamento <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong> cultura,<br />

quem sabe até diversificando o modelo de aquisições de obra e formação de acervo.<br />

Apenas após a criação, instalação e operacionalização de Acervos e <strong>da</strong> implementação<br />

de Fundos Públicos no Brasil, poder-se-ia iniciar uma fase de monitoramento <strong>da</strong> Evolução de<br />

vários aspectos que tentem compreender o 3 o agente além do Mercado e do Artista, qual seja<br />

o público-alvo, seja ele especializado ou leigo.<br />

Para isto indicadores terão que se basear em pesquisas aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s sobre:<br />

- receptivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mostras e manifestações de Arte Contemporânea em<br />

relação a outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de Artes Visuais;<br />

- Motivos de rejeição à Arte Contemporânea – Índice de rejeição por regiões<br />

geográficas:<br />

- Diversificação dos artistas presentes na aquisição de acervo ao longo de uma<br />

déca<strong>da</strong>.<br />

- Comparação entre as dinâmicas dos fundos públicos com os acervos privados e<br />

perfil dos frequentadores.<br />

- Indicador de aceitação e rejeição, reconhecimento estético <strong>da</strong> Arte<br />

Contemporânea (tangenciando assim a reflexão antes teci<strong>da</strong> acerca dos<br />

códigos necessários na fruição <strong>da</strong> Arte Contemporânea).


- Pesquisas inspira<strong>da</strong>s na metodologia <strong>da</strong> sociologia <strong>da</strong> Arte tal como<br />

inaugura<strong>da</strong> por Bordieu, a fim de se afinar a compreensão <strong>da</strong>s platéias no<br />

Brasil.<br />

Vislumbrando fases urgentes para a sinergia entre Política <strong>Cultura</strong>l e Política Urbana,<br />

indicamos as seguintes fases como prioritárias metodologia:<br />

7. Bibliografia<br />

1) Utilização dos resultados do IDECULT por municípios com o recorte dos 50<br />

municípios de melhores índices, como prioritários para criação de PÓLOS,<br />

CLUSTERS, FUNDOS de Arte Contemporânea.<br />

2) Após o mapeamento de plataformas culturais existentes e anteriormente<br />

menciona<strong>da</strong>s, a produção por parte do MinC, de uma inteligência (seja através<br />

de editais ou programas de apoio de suas estruturas pelo financiamento<br />

destes projetos), como novo modelo de política de trocas (nacionais e<br />

internacionais) – par além <strong>da</strong>quelas dos mercados formais (museus, galerias) 57 .<br />

7.1 Artigos de referência sobre o tema, de autoria de Ana Letícia Fialho<br />

FIALHO, Ana Letícia. Mercado as Artes: Global e Desigual, Revista Trópico, 2005. Disponível em:<br />

.<br />

FIALHO, Ana Letícia. As exposições internacionais de arte brasileira: discursos, práticas e interesses em<br />

jogo, Revista Socie<strong>da</strong>de e Estado, Brasília, v. 20, n. 3, p. 689-713, set./dez. 2005. Disponível em:<br />

.<br />

FIALHO, Ana Letícia. O Brasil na coleção do MoMA: Análise <strong>da</strong> inserção <strong>da</strong> arte brasileira numa<br />

instituição internacional, Fórum Permanente e Revista Springerin, 2005. Disponível em:<br />

.<br />

57 O Minc já contempla artistas e coletivos pelo edital, Bolsa Funarte de Estímulo à Criação Artística em Artes visuais:<br />

Ver: http://www.cultura.gov.br/site/2010/04/13/bolsa-funarte-de-estimulo-a-criacao-artistica-em-artes-visuais/ Este<br />

modelo, deve-se ressaltar, é de grande importância -porém não contempla as plataformas cita<strong>da</strong>s, as que uso como<br />

base para a formação de novos indicadores. Este modelo estaria mais próximo de um edital que contemple as<br />

plataformas cita<strong>da</strong>s como base para os indicadores, porém, podemos pensar que a política de editais neste caso,<br />

seria uma constante aplicação por parte dos gestores envolvidos. Como trata-se de programas de longo prazo, estas<br />

plataformas necessitariam de, por exemplo - no caso de um edital, que o mesmo pudesse se comprometer com<br />

uma certa continui<strong>da</strong>de.


FIALHO, Ana Letícia. O peso do mercado secundário no processo de formação de valores artísticos no<br />

sistema <strong>da</strong>s artes – o exemplo <strong>da</strong> Sotheby’s, Fórum Permanente, 2010. Disponível em:<br />

.<br />

FIALHO, Ana Letícia. O Brasil está no mapa? In: Depois do Muro, Ed. Massagana/Fun<strong>da</strong>j, Recife, 2010.<br />

FIALHO, Ana Letícia. École des Hautes Études em Sciences Sociales/Paris, em 2006: L’insertion<br />

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<strong>da</strong>ns les institutions et <strong>da</strong>ns le marché. Paris, 2006. (Tese de Doutorado).<br />

7.2 Bibliografia geral<br />

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Doutorado. Universi<strong>da</strong>de Federal Fluminense - Ciências <strong>da</strong> Informação. Orientador(es): Maria<br />

Néli<strong>da</strong> González de Gómez.


ALONSO, Arlete de Lourdes. Marketing cultural: um estudo sobre a produção cultural a partir <strong>da</strong>s leis<br />

de incentivo em uma socie<strong>da</strong>de de mercado. 1v. 303p. Mestrado. Universi<strong>da</strong>de de São Paulo -<br />

Ciências <strong>da</strong> Comunicação. Orientador(es): Maria Cristina Castilho Costa.<br />

OLIVIERI, Cristiane Garcia. O incentivo fiscal federal à cultura e o fundo Nacional de <strong>Cultura</strong> como<br />

política cultural do Estado: usos <strong>da</strong> Lei Rouanet (1996-2000). 1v. 192p. Mestrado.<br />

Universi<strong>da</strong>de de São Paulo - Ciências <strong>da</strong> Comunicação. Orientador(es): Luiz Roberto Alves.<br />

ANDRADE, Julia Santos Cossermelli de. Território e <strong>Cultura</strong>. Uma Problemática para a Política dos<br />

Incentivos Fiscais e o Marketing <strong>Cultura</strong>l. 1v. 263p. Mestrado. Universi<strong>da</strong>de de São Paulo -<br />

Geografia (Geografia Humana). Orientador(es): Maria Adélia Apareci<strong>da</strong> de Souza.<br />

SILVA, Liliana Sousa e. O público e privado: a política cultural brasileira no caso dos institutos Moreira<br />

Salles e Itaú <strong>Cultura</strong>l. 1v. 197p. Mestrado. Universi<strong>da</strong>de de São Paulo - Ciências <strong>da</strong><br />

Comunicação. Orientador(es): José Teixeira Coelho Netto.<br />

7.4 Sites consultados<br />

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governo Lula. Observatório do Direito à Co- municação. Disponível em:<br />

. Publicado em: 8 nov. 2007. Acesso em: 17/10/2011.<br />

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Portal do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong>. Disponível em: . Acesso em 17/10/2011.<br />

Políticas culturais do governo Lula. REIS, Paula Félix. Políticas culturais do governo Lula: desafios do<br />

primeiro man<strong>da</strong>to e priori<strong>da</strong>des para um segundo. Apresentado no III Enecult – Encontro de<br />

Estudos Multidisciplinares em <strong>Cultura</strong> na Facul<strong>da</strong>de de Comunicação/UFBA, em maio de 2007,<br />

Salvador/BA. Disponível em: . Acesso<br />

em: 17/10/2011.<br />

Sistema de Informações e <strong>Indicadores</strong> <strong>Cultura</strong>is 2003-2005. Dispõe sobre reconhecimento central e a<br />

organização sistêmica de informações relaciona<strong>da</strong>s ao setor cultural brasileiro. Portal do<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong>. Dispo- nível em: . Publicado em: jan. 2007. Acesso em:<br />

17/10/2011.

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