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Fev - Sociedade Brasileira de Oftalmologia

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ANÚNCIOCONGRESSOFOTOLITO NAGRÁFICA69


Sumário - ContentsEditorialCartas ao EditorAlterações oculares em pacientessubmetidos à hemodiálise*EditorialCartas ao EditorOcular changes inhaemodialysed patientsDavid Dorigo 7778João Jorge Nassaralla Jr.,Maria Cristina Peres Bernardini, 80Perfil do atendimentooftalmológico <strong>de</strong> urgênciaProfile of ophthalmologicalattendance of emergencyJosé Cavalcanti Campos Júnior89A mo<strong>de</strong>l for the natural historyof retinoblastoma accordingto its cellular differentiationAvaliação quantitativado astigmatismo irregularutilizando a análise <strong>de</strong> FourierValidação <strong>de</strong> versão emlíngua portuguesa do questionárioNEI-RQL como instrumento<strong>de</strong> avaliação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida relacionada à visão, emcandidatos a cirurgia refrativaParesia do nervo oculomotorsecundária a aneurismaintracavernoso da artériacarótida internaPrevenção da cegueira porRetinopatia da Prematurida<strong>de</strong>em hospital da re<strong>de</strong>privada em Porto AlegreNivel <strong>de</strong> conhecimento<strong>de</strong> pacientes diabéticossobre a retinopatia diabéticaRegressão espontâneado retinoblastoma:Relato <strong>de</strong> 3 casosA mo<strong>de</strong>l for the natural historyof retinoblastoma accordingto its cellular differentiationQuantitative evaluationof irregular astigmatismwith Fourier analysisValidation of a Portuguese-languageversion of the NEI-RQL(National Eye Institute RefractiveError Quality of Life)instrument in refractivesurgery candidatesOculomotor nerve paresiscaused by the intracavernousaneurysms of the internalcarotid artery.Prevention of blindnessfor Retinopathy of Prematurityin a private hospitalof Porto AlegreLevel of awareness aboutdiabetic retinopathyamong diabetic patientsSpontaneous regression ofretinoblastoma:Case-report of 3 casesCarlos G. Arce MD,Clélia M. Erwenne MD,Leda B. Saba MD 93Murilo Barreto Souza,Fabrício Witzel <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros,Vivian Onoda Tomikawa,Bráulio Folco Telles <strong>de</strong> Oliveira,Milton Ruiz Alves 105Larissa Ma<strong>de</strong>ira Nunes,Vitor Cortizo,Paulo Schor 110Ricardo F. R. Reis,José A. <strong>de</strong> Freitas Munia,Rubens Camargo Siqueira 120João Borges Fortes Filho 125Augusto Adam Netto;Sabrina <strong>de</strong> Pellegrini Trinda<strong>de</strong> 130Vanessa Gomes <strong>de</strong> Moraes Dutra,Fernando Queiroz Monte,Islane Castro Verçosa 140Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 75.75


76ANÚNCIORESTASISFOTOLITO NAGRÁFICA


EditorialUm ou dois olhos? Esta é a questão.Um dos problemas mais instigantes que ocorrem na pesquisa oftalmológica é o donúmero <strong>de</strong> olhos ou <strong>de</strong> pacientes a<strong>de</strong>quado a um <strong>de</strong>terminado estudo. Esse problema temaparecido com freqüência na literatura especializada e, em conseqüência, gerado gran<strong>de</strong>discussão entre bioestatísticos e pesquisadores em oftalmologia.Minha visão do problema é a <strong>de</strong> que ele <strong>de</strong>ve ser tratado, em princípio, como umproblema <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineamento do estudo em questão, seja este um ensaio clínico aleatório ouum estudo observacional. Em ciência, problemas básicos <strong>de</strong>vem ser tratados a partir <strong>de</strong>princípios básicos. Em oftalmologia, uma área importante da pesquisa médica, o procedimentonão <strong>de</strong>ve ser diferente.Assim sendo, e <strong>de</strong>ixando inicialmente <strong>de</strong> lado os métodos estatísticos que <strong>de</strong>verãoser utilizados na análise <strong>de</strong> dados do estudo, po<strong>de</strong>mos sugerir então algumas recomendaçõesrelacionadas ao <strong>de</strong>lineamento do estudo em si. Inicialmente, o pesquisador <strong>de</strong>ve listar asprincipais variáveis <strong>de</strong> interesse da pesquisa, tais como: pressão ocular, cor da íris, diâmetroda pupila, etc. Em seguida, com base em dados da literatura ou em dados da própriaexperiência do pesquisador, ele precisa <strong>de</strong> ter uma idéia a respeito do coeficiente <strong>de</strong> correlaçãoentre o olho direito e olho esquerdo para cada uma das variáveis importantes do estudo.Lembrar que numa pesquisa médica diversas variáveis po<strong>de</strong>m ocorrer e, portanto, opesquisador <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>cidir <strong>de</strong> imediato qual ou quais (2 ou 3) variáveis serão realmenteimportantes. A seguir lembrar que:1º) Se a correlação <strong>de</strong>ssa variável principal entre o olho esquerdo e o olho direito forgran<strong>de</strong> (acima <strong>de</strong>, digamos, R = 0,80), então basta observar apenas um dos olhos - porexemplo, olho direito - já que a informação medida no olho esquerdo, em virtu<strong>de</strong> da altacorrelação entre ambos, não acrescentará nenhuma informação inferencial à análise estatísticados dados.2º) Se a correlação, ao contrário, for pequena (digamos, abaixo <strong>de</strong> R = 0,50) então<strong>de</strong>ve-se medir a variável principal e <strong>de</strong>mais outras, em ambos os olhos.Uma vez estabelecido este critério básico <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineamento da pesquisa, po<strong>de</strong>-se<strong>de</strong>terminar, em seguida, o número <strong>de</strong> pacientes a<strong>de</strong>quado ao estudo utilizando as fórmulasestatísticas usuais <strong>de</strong> tamanho amostral. Lembrar que em ensaios clínicos (experimentos)comparativos on<strong>de</strong> três ou mais tratamentos <strong>de</strong>verão ser comparados, fórmulas <strong>de</strong> tamanhoamostral apropriadas <strong>de</strong>vem ser utilizadas para <strong>de</strong>terminar o número <strong>de</strong> pacientes do estudoem questão, embora a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida seja o olho (direito, esquerdo ou ambos).Em seguida, uma vez obtidos os dados das variáveis observadas, <strong>de</strong>ve-se obter uma<strong>de</strong>scrição quantitativa dos mesmos através <strong>de</strong> medidas usuais: média, <strong>de</strong>svio padrão,coeficiente <strong>de</strong> variação, etc. para cada um dos olhos ou para ambos, conjuntamente.Finalmente, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos objetivos do estudo propriamente, faz-se a análise dos dadostestando as hipóteses nulas apropriadas através dos métodos usuais: correlação intraclasse,análise <strong>de</strong> variância, regressão logística, etc.O objetivo principal <strong>de</strong>ste trabalho é o <strong>de</strong> alertar o pesquisador da área <strong>de</strong> oftalmologiasobre um dos principais problemas que ele <strong>de</strong>verá enfrentar ao realizar uma pesquisa.Problemas específicos <strong>de</strong> cada pesquisa, no que concerne à análise <strong>de</strong> dados, <strong>de</strong>vem contarcom o auxílio <strong>de</strong> um bioestatístico ou analista <strong>de</strong> dados.David DorigoProfessor <strong>de</strong> BioestatísticaFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Clínicas Médicas / UERJe-mail: daviddorigo@hotmail.comRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 77.77


Cartas ao EditorREVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIAIlmo Sr. Editor Chefe Dr. Paulo Augusto <strong>de</strong> Arruda Mello e Editores associadosPrezados Colegas:Venho por meio <strong>de</strong>sta minuta <strong>de</strong>stacar o texto intitulado “Síndrome <strong>de</strong> Crouzon - Relato <strong>de</strong> Caso”,assinado pelo Dr. José Cavalcanti Campos Júnior, o qual <strong>de</strong>screve um interessante caso sobre estadoença. Entretanto, o referido texto se olvida <strong>de</strong> citar em sua referências bibliográficas uma mesmapublicação científica sobre esta disostose intitulado: “Doença <strong>de</strong> Crouzon - Relato <strong>de</strong> Dois Casos.”, publicadona Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> (Rev. Bras. Oftalmol. - 47(6); 359 - 63, 1988), <strong>de</strong> minha autoria e doDr. João Antonio Sales Caldas.Apesar <strong>de</strong> ser uma publicação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10 anos, creio ainda manter-se atualizada <strong>de</strong>correnteda rarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> haver pouca mudança sobre patogenia, meios <strong>de</strong> diagnóstico etratamento <strong>de</strong> complicações.Acredito que a leitura do nosso trabalho, abrilhantaria ainda mais esta recente publicação, até emreconhecimento ao mérito e empenho <strong>de</strong> todos aqueles que pesquisam e publicam superando dificulda<strong>de</strong>s,somando esforços para manter um padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da publicação científica em oftalmologia. Nomesmo ensejo, <strong>de</strong>stacar publicações nacionais, ainda mais da Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>, ésalientado como obrigatorieda<strong>de</strong> na seção <strong>de</strong> Normas Editoriais aos autores para este periódico.Certo <strong>de</strong> estar contribuindo com esta afamada revista, agra<strong>de</strong>ço <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já sua atenção.Atenciosamente,Dr. Eduardo <strong>de</strong> França DamascenoÀ REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIAManaus, 16 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004Prezado editor chefe da RBO, Dr. Paulo Augusto <strong>de</strong> Arruda Mello,Recebi o fax enviado a RBO do Dr. Eduardo França Damasceno a respeito do artigo por mimpublicado na RBO <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2003 intitulado: Síndrome <strong>de</strong> Crouzon - Relato <strong>de</strong> Caso, elogiando omesmo, entretanto, ratificando a não referência no artigo <strong>de</strong> outro trabalho similar publicado por ele e o Dr.João Antônio Sales Caldas, em 1988, na nossa RBO. Fiquei honrado pela observação e preocupaçãotanto da RBO quanto ao nobre colega Eduardo pelo enriquecimento bibliográfico do artigo, e que infelizmentenão os referenciei <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> não dispô-lo à época da elaboração. Imediatamente solicitei cópia doartigo dos colegas e constatei que apesar <strong>de</strong> 16 anos transcorridos, o mesmo permanecera bem atual<strong>de</strong>vido a rarida<strong>de</strong> da doença.Sem mais <strong>de</strong>longas, agra<strong>de</strong>ço e solicito minhas<strong>de</strong>sculpas pelo esquecimento aos colegas Eduardo e João,José Cavalcanti Jr.78Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 78.


ALTERAÇÕES OCULARES EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE*ABSTRACTOcular changes in haemodialysed patientsPurpose: To study the ocular changes in patients with chronic renal failuresubmitted to haemodialysis.Place: Instituto <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Goiânia, Goiás.Patients and Methods: Ophthalmologic evaluation was done in 43 patients(86 eyes) with renal failure submitted to haemodialysis three times per weekduring 4 hours/session. Ocular changes were evaluated and correlated, whenpossible, to the patient’s systemic disease.Results: Besi<strong>de</strong>s the ocular changes due to diseases such as Diabetes Mellitusor Arterial Hypertension (cataract, diabetic retinopathy, hypertensiveretinopathy), those related to the calcium metabolism disturbance were notedand an elevated number of eyes (08 eyes - 9.3%) that presented a cup-discratio more than 0.3 and normal intraocular pressure.Conclusion: Patients with chronic renal failure frequently submitted tohaemodialyses presented ocular changes due to their systemic disease andcalcium metabolism disturbance. We found 08 normal tension eyes (9.3%) witha cup-disc ratio more than 0.3 and we question if haemodinamic changes orserum osmolarity oscillation occurred during the dialytic process are responsiblefor this finding.Keywords: Haemodialyses, ocular complications, retina, glaucoma.INTRODUÇÃOOs pacientes com Insuficiência RenalCrônica (IRC) apresentam uma síndrome<strong>de</strong> retenção dos produtos dometabolismo, além <strong>de</strong> sal e água. Os processosdialíticos realizam a tarefa <strong>de</strong> eliminar o excesso<strong>de</strong> água e solutos que esses pacientesapresentam por meio da transferência dos solutosdo plasma urêmico para o banho <strong>de</strong> diálise pormeio dos processos <strong>de</strong> difusão (condução) eultrafiltração (convecção) 1 .O tratamento dialítico crônico está indicadoquando o paciente começa a apresentar taxa <strong>de</strong>filtração glomerular menor que 5-7 ml/min esintomas urêmicos neurológicos e do tratogastrointestinal 1 . A hemodiálise é a modalida<strong>de</strong><strong>de</strong> tratamento dialítico mais aceita universalmentee consiste na fabricação <strong>de</strong> uma fístula arteriovenosaem membro superior ou inferior <strong>de</strong> modoa permitir a circulação extracorpórea do sanguedo paciente até um dialisador, on<strong>de</strong> ocorre aalmejada troca <strong>de</strong> solutos do plasma urêmico ebanho <strong>de</strong> diálise.Por ser, atualmente, um recurso tãoempregado e difundido em todo Brasil, e mais, porpermitir aumentar a longevida<strong>de</strong> dos pacientes aele submetidos, questionamos se seu uso a longoprazo po<strong>de</strong> induzir à alguma <strong>de</strong>sorganizaçãoespecífica na estrutura tecidual ocular. O objetivo<strong>de</strong>ste trabalho foi estudar as alterações ocularesem pacientes submetidos à hemodiálise.PACIENTES E MÉTODOSOs 43 pacientes que participaram doestudo foram encaminhados <strong>de</strong> 2 serviços <strong>de</strong>hemodiálise <strong>de</strong> referência na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Goiânia -GO. Os pacientes foram examinados em dias quenão coincidiam com os que eram submetidos àhemodiálise, <strong>de</strong>vido ao estado <strong>de</strong>bilitado em quese encontravam após esse processo, o quepo<strong>de</strong>ria alterar a resposta dos mesmos ao exameocular.Os pacientes respondiam a umquestionário que os caracterizava quanto ao sexo,raça e grupo etário, informavam-nos a respeito dotempo/freqüência que realizavam a hemodiálise,acuida<strong>de</strong> visual antes e após o início dahemodiálise e sobre o uso ou não <strong>de</strong> drogas antihipertensivas,hipoglicemiantes orais, insulina ouRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 80-87.81


ALTERAÇÕES OCULARES EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE*outras drogas. Estes medicamentos seriamadicionais ao arsenal básico <strong>de</strong> medicamentos jáusados por praticamente todos os hemodialisados[carbonato <strong>de</strong> cálcio, Rocaltrol ® (calcitriol sintético),Eprex ® (eritropoietina sintética) e sulfato ferroso].A doença <strong>de</strong> base, ou seja, a causa dafalência renal foi por nós averiguada em seuspróprios prontuários dos centros <strong>de</strong> hemodiálise,dado o <strong>de</strong>sconhecimento ou incerteza dodiagnóstico por parte da maioria absoluta dospacientes.O exame oftalmológico consistiu naaferição da acuida<strong>de</strong> visual sem e com correção(AVsc e AVcc), exame refracional dinâmico eestático (sob o efeito <strong>de</strong> tropicamida 1% e cloridrato<strong>de</strong> ciclopentolato 1%) realizado com o auxílio <strong>de</strong>refrator e projetor Bausch & Lomb - USA , examebiomicroscópico em aparelho <strong>de</strong> lâmpada <strong>de</strong> fendae aferição da pressão intra-ocular (Po) realizadocom tonômetro <strong>de</strong> aplanação, ambos da marcaHaag-Streit -Suíça, biomicroscopia <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong>olho com lente <strong>de</strong> 90 dioptrias (Superfield, VOLK -USA) e oftalmoscopia direta (Welch-Allyn - USA)ou binocular indireta (OBI) (Heine Omega 150 -Alemanha). Alguns pacientes foram submetidosainda à avaliação por meio da ecografia ocular(ecógrafo Alcon, Dig. B - 4000 - USA),angiofluoresceínografia (Sistema <strong>de</strong> AngiografiaDigital - Winstation 1024 - USA) e campimetriacomputadorizada (Humphrey Inc. - USA) –programa 24-2.A tonometria foi aferida nos períodosmatutino ou vespertino <strong>de</strong> acordo com ascondições físicas ou financeiras dos pacientes,que geralmente necessitavam <strong>de</strong> acompanhantesou carona para se <strong>de</strong>slocar à clínica. Assim, aimpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z nos horários <strong>de</strong> aferiçãoda pressão intra-ocular (Po) não permitiu umapadronização dos mesmos.A OBI foi realizada em todos os pacientese a biomicroscopia <strong>de</strong> fundo ou oftalmoscopiadireta apenas nos casos que houve necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> melhor <strong>de</strong>talhamento do pólo posterior.A ecografia ocular foi indicada nos casos<strong>de</strong> opacida<strong>de</strong> dos meios (leucoma, opacificaçãocristaliniana <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>) queimpossibilitou uma a<strong>de</strong>quada avaliaçãofundoscópica; e a angiofluoresceínografia foirealizada em dois pacientes diabéticos comsuspeita <strong>de</strong> e<strong>de</strong>ma macular.A campimetria foi realizada apenas nosolhos dos pacientes que apresentaram escavaçãopapilar maior que 0,3 e Po entre 10 e 21 mmHg ,com o auxílio do programa 24-2.RESULTADOSDos 43 pacientes estudados, 12 (27,9%)eram do sexo feminino e 31 (72,1%) do sexomasculino. Houve equivalência na distribuiçãoentre as raças branca e negra e a distribuição etáriaseguiu a seguinte or<strong>de</strong>m: 1ª década - 0 pacientes;2ª década - 5 pacientes; 3ª e 4ª décadas - 13pacientes; 5ª e 6ª décadas - 22 pacientes; 6ª e 7ªdécadas - 10 pacientes; 8ª década - 1 paciente.Os pacientes foram submetidos àhemodiálise 3 vezes/semana durante um período<strong>de</strong> 4 horas e ao longo <strong>de</strong> um tempo que variou <strong>de</strong>4 meses a 10 anos. 11 pacientes (26%) realizaramhemodiálise há no máximo 11 meses, a maioria(26 pacientes – 60,4%) submeteu-se ao tratamento<strong>de</strong> 1 a 5 anos e 6 pacientes (14%) o fez entre 6 aNº <strong>de</strong> pacientes302520151050até 11 meses <strong>de</strong> 1 a 5 anos <strong>de</strong> 6 a 10 anos > 10 anosSeqüência 1Tempo <strong>de</strong> hemodiáliseTempoFigura 1- Distribuição dos pacientes segundo o tempo que foramsubmetidos ao tratamento hemodiálitico, avaliados no Instituto <strong>de</strong>Olhos <strong>de</strong> Goiânia – Goiânia, 1999.10 anos. Nenhum paciente realizou hemodiálisehá mais <strong>de</strong> 10 anos. (Fig. 1)Além dos medicamentos usualmenteutilizados por todos os pacientes hemodialisados(carbonato <strong>de</strong> cálcio, calcitriol sintético, eritripoietinasintética e sulfato ferroso), 32 pacientes faziam uso<strong>de</strong> anti-hipertensivo (1 ou 2 associados), 1 pacienteutilizava hipoglicemiante oral e um outro,prednisona oral (<strong>de</strong>vido ao quadro <strong>de</strong> lupus82Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 80-87.


ALTERAÇÕES OCULARES EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE*eritematoso sistêmico (LES)).A doença <strong>de</strong> base responsável pela falênciarenal apresentou a seguinte distribuição: 25,58%(11 pacientes) glomerulonefrite crônica, 25,58%(11 pacientes) nefroesclerose, 11,6% (5 pacientes)nefropatia diabética, 9,30% (4 pacientes)pielonefrite crônica, 4,65% nefrite nas doençascolagenosas (1 paciente com esclero<strong>de</strong>rmia eNefropat. Diabética12%In<strong>de</strong>rterminada23%Esclero<strong>de</strong>rmiaPielonefrite 2%9%Nefrite Lúpica2%GNC26%Glomeruloesclerose26%Figura 2 - Distribuição percentual das patologias responsáveis pelafalência renal dos pacientes em tratamento hemodialítico avaliadosno Instituto <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Goiânia – Goiânia, 1999.outro com LES) e 23,25% (10 pacientes) <strong>de</strong> causain<strong>de</strong>terminada. (Fig 2)Quanto à sintomatologia oftalmológica apartir do início do tratamento hemodialítico, 48,8%acusaram piora da acuida<strong>de</strong> visual, 25,5%negaram alterações e apenas 2 pacientes (4,6%)referiram melhora da mesma.Dos 43 pacientes estudados, 10 (23,2%)não lembravam seu passado oftalmológico e outros10 pacientes nunca haviam realizado exameoftalmológico prévio.A AVcc da maioria dos olhos examinados(64 olhos – 74,4%) alcançou o nível compreendidoentre 20/20 e 20/40, na escala <strong>de</strong> optótipos <strong>de</strong>Snellen , estando a imagem projetada em anteparoa 20 pés (6 metros) do paciente. A acuida<strong>de</strong> dos<strong>de</strong>mais apresentou distribuição com valoressemelhantes nos diversos níveis estipulados(Tabela 1).O exame biomicroscópico reveloualterações não relacionadas à hemodiálise comoTabela 1Acuida<strong>de</strong> Visual dos pacientes submetidos à hemodiálisee número <strong>de</strong> olhos por grupo(Instituto <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Goiânia – Goiânia, 1999)Acuida<strong>de</strong> visual nº <strong>de</strong> olhos (%)20/20 a 20/40 64 (74,4%)20/60 a 20/80 06 (6,97%)20/100 a 20/200 05 (5,81%)< 20/200 07 (8,13%)pinguécula (17,4% dos olhos), pterígio (22%),melanose conjuntival subepitelial (4,6%), leucoma(6,9%), bem como alterações típicas <strong>de</strong> pacientesque apresentam <strong>de</strong>sequilíbrio do metabolismo <strong>de</strong>cálcio (calcificações conjuntivais em 11,6% ecorneanas em 5,6%).A catarata estava presente em 30 olhos,sob suas diversas formas: esclerose nuclear (14olhos), esclerose cortical (02 olhos), opacificaçãoTabela 2Achados biomicroscópicos dos pacientes submetidos àhemodiálise e número <strong>de</strong> olhos com alterações(Instituto <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Goiânia – Goiânia, 1999)Alterações conjuntivais rotineiras 15 (17,44%)Depósito <strong>de</strong> Cálcio conjuntival 10 (11,62%)Depósito <strong>de</strong> Cálcio corneano 05 (5,81%)Leucoma 06 (6,97%)Catarata 30 (34,88%)subcapsular posterior (12 olhos) e anterior (02olhos) (Tabela 2).Os valores da Po <strong>de</strong> 84 olhosapresentaram-se em níveis normais 2 . Apenas 02olhos do mesmo paciente apresentaramPo>21mmHg (24 e 38 mmHg), o que requereutratamento a<strong>de</strong>quado.O exame fundoscópico revelou alteraçõesfundoscópicas condizentes com a doença <strong>de</strong> base.Foram observados: estreitamento arteriolar,hemorragias em chama <strong>de</strong> vela, exsudatos durose algodonosos e cruzamentos arteriovenosospatológicos condizentes com o quadro <strong>de</strong>hipertensão arterial sistêmica (HAS) 3 em 49 olhos(56,9%). Dos 5 pacientes diabéticos, 4 mostraramalterações fundoscópicas bilaterais (08 olhos –9,3%) características da retinopatia diabéticaproliferativa (RDP) 4 : neovasculariazação (tanto <strong>de</strong>disco quanto ao longo das arcadas vascularesRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 80-87.83


ALTERAÇÕES OCULARES EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE*temporais) além das micro-hemorragias,exsudatos duros e algodonosos e dilataçõesvenosas presentes em estágios evolutivosanteriores. O 5º paciente diabético apresentava<strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> retina em ambos os olhos.Foram observadas alterações retinianasgeralmente <strong>de</strong>correntes do processo <strong>de</strong>envelhecimento ocular 5como <strong>de</strong>generaçãomacular (02 olhos), drusas (08 olhos),<strong>de</strong>scolamento vítreo posterior (04 olhos) e<strong>de</strong>generação vítrea (01 olho). Outras alteraçõesfundoscópicas como cicatrizes coriorretinianas (06olhos), rarefação do epitélio pigmentado (04 olhos)Tabela 3Achados oftalmoscópicos dos pacientes submetidos àhemodiálise e número <strong>de</strong> olhos com alterações (Instituto<strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Goiânia – Goiânia, 1999)Retinopatia Hipertensiva 49 (56,97%)Drusas 08 (9,32%)Reliquat Hemorrágico 01 (1,16%)Microhemorragia Intrarretiniana 03 (3,48%)Membrana Epiretiniana 02 (2,32%)Cicatriz <strong>de</strong> Coriorretinite 06 (6,97%)Degeneração Vítrea 01 (1,16%)Moscas Volantes 07 (8,13%)Descolamento Vítreo 04 (4,65%)Rarefação do EPR 04 (4,65%)RDP 08 (4,65%)Escavação aumentada <strong>de</strong> Papila 10 (11,62%)Fundo Tigrado 04 (4,65%)Descolamento <strong>de</strong> Retina 02 (2,32%)Degeneração Macular 02 (2,32%)Papila com contornos irregulares 01 (1,16%)* RDP - retinopatia diabética proliferativa * EPR - epitéliopigmentado da retinaTabela 4Número <strong>de</strong> olhos dos pacientes submetidos à hemodiálisecom retinopatia hipertensiva (classificação <strong>de</strong> Scheie)à oftalmoscopia binocular indireta(Instituto <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Goiânia – Goiânia, 1999)A 0H 120 (40,81%) A 0H 203 (6,12%) A 1H 001 (2,04%)A 1H 101 ( 2,04%) A 1H 203 (6,12%) A 2H 002 (4,08%)A 2H 113 (26,53%) A 2H 204 (8,32%) A 3H 102 (4,08%)* As combinações não citadas são as que não enquadramosnenhum pacientee fundo tigrado (4 olhos) também estavampresentes. (Tabelas 3 e 4).Observamos ainda um número elevado <strong>de</strong>olhos (08 olhos – 9,3%) que apresentaramescavação papilar >0.3 e Po <strong>de</strong>ntro dos níveisnormais <strong>de</strong> pressão (entre 10 e 21 mmHg) 2,6 . Taisescavações foram observadas binocularmente em04 pacientes, <strong>de</strong> forma aproximadamente simétricano mesmo paciente e seus valores variaram <strong>de</strong>0,4 a 0,9. Todos os 4 pacientes apresentavam odiagnóstico clínico <strong>de</strong> nefroesclerose e faziam uso<strong>de</strong> drogas anti-hipertensivas orais. O tempo <strong>de</strong>hemodiálise para esses pacientes variou <strong>de</strong> 10meses a 6 anos e a dimensão da escavação nãoapresentou relação direta com o fator tempo. Aacuida<strong>de</strong> visual <strong>de</strong>sses pacientes variou <strong>de</strong> 20/20a 20/40.O campo visual do paciente comescavação discretamente aumentada (0,4 AO)mostrou alteração compatível com lesãoglaucomatosa em OD e normal em OE. Já opaciente com escavação glaucomatosa importanteAO (0,7-0,8 em OD e 0,8-0,9 em OE) apresentouambos campos visuais com alteraçõescompatíveis com glaucoma 5 (início <strong>de</strong> escotomaarqueado em OD e <strong>de</strong>grau nasal superior e inferiorem OE). O campo visual do 3º pacienteapresentou-se <strong>de</strong>ntro dos limites habituais emambos os olhos apesar da escavação 0,6-0,7 emOD e 0,6 em OE. O 4º paciente, que apresentavaescavação papilar 0,5 em OD e 0,6 em OE, faleceuantes que pu<strong>de</strong>sse realizar a campimetria.DISCUSSÃOO maior conhecimento a respeito <strong>de</strong> umapatologia nos possibilita melhores propedêuticase resultado. Sendo assim, quanto mais se estudare <strong>de</strong>scortinar as relações causais entre os achadosoftalmológicos e as alterações hemodinâmicas/<strong>de</strong>sequilíbrio metabólico a que os pacienteshemodialisados estão sujeitos, maior a chance <strong>de</strong>sucesso terapêutico.O fator tempo <strong>de</strong> hemodiálise (que emnosso trabalho variou <strong>de</strong> 4 meses a 10 anos) nãomostrou interferir na capacida<strong>de</strong> visual, estandoesta diretamente relacionada com a severida<strong>de</strong>da doença <strong>de</strong> base. No nosso trabalho um pacientehemodialisado há 6 anos, <strong>de</strong>vido à falência renalpor nefroesclerose, apresentou acuida<strong>de</strong> visualcom correção <strong>de</strong> 20/20 e outro, diabético <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ainfância, submetido à hemodiálise há 10 meses,84Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 80-87.


ALTERAÇÕES OCULARES EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE*visão <strong>de</strong> vultos em ambos os olhos.A hipertensão sistêmica não controlávelapenas com a hemodiálise foi um achado comumem praticamente todos os pacientes, acarretandoo uso <strong>de</strong> 1 ou 2 anti-hipertensivos associados. Essahipertensão em pacientes com IRC costuma servolume <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, mas, nos casos em que elanão ce<strong>de</strong> ao uso <strong>de</strong> diuréticos ou diálise, há anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se recorrer aos vasodilatores ealfa-bloqueadores. Atribui-se essa HAS àssubstâncias vasoativas (angiotensina), déficit <strong>de</strong>substâncias hipotensoras (prostaglandinas) ealterações do sistema nervoso autônomo. 1Já os pacientes diabéticos, em geral,conseguiam manter seus níveis glicêmicossomente com o processo dialítico. Apenas umapaciente fazia uso <strong>de</strong> hipoglicemiante oral e,ocasionalmente, insulina para conter o diabetesmellitus (DM). Uma paciente lúpica utilizavaprednisona.A maioria absoluta dos pacientes fazia usoregular <strong>de</strong> suportes medicamentosos comocarbonato <strong>de</strong> cálcio, eritropoietina sintética,calcitriol sintético e sulfato ferroso. Durante oprocesso <strong>de</strong> hemodiálise, todos os pacientesrecebiam um total <strong>de</strong> 1,5 a 2 ml <strong>de</strong> heparina [1 ml(5.000 unida<strong>de</strong>s) no início + 0.5 a 1 ml após 2horas]. Tal dose mantém o paciente totalmenteheparinizado durante o processo dialítico mas nãochega a ocasionar hemorragias em vasos compare<strong>de</strong>s íntegras. O achado em nosso trabalho <strong>de</strong>microhemorragias intrarretinianas isoladas emapenas 03 olhos vem a corroborar tal asserção, jáque tais olhos apresentavam também lesões<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> DM (02 olhos) e HAS (01 olho).A HAS foi consi<strong>de</strong>rada responsável pelafalência renal quando havia um diagnósticohistológico <strong>de</strong> nefrosclerose ou uma históriapregressa <strong>de</strong> HAS maligna. A glomerulonefritecrônica respon<strong>de</strong>u pela insuficiência renal damaioria dos pacientes jovens, juntamente com apielonefrite crônica.Os casos consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> etiologiain<strong>de</strong>terminada <strong>de</strong>vem-se ao fato <strong>de</strong> o pacienteapresentar, à primeira consulta médica, o quadroclínico <strong>de</strong> insuficiência renal + HAS e <strong>de</strong>sconhecerseus níveis pressóricos pregressos. O diagnósticohistológico para esses pacientes seria dispensável(fim meramente acadêmico) em seu tratamento,além <strong>de</strong> onerar ainda mais o serviço público queos acolheu.Os achados biomicroscópicos <strong>de</strong>calcificação córneo-conjuntival nesses pacientescom falência renal crônica eram já esperados, dadoo relato <strong>de</strong> estudos a esse respeito 7 . Porter eCrombie 8 <strong>de</strong>terminaram um sistema <strong>de</strong> graduaçãoda calcificação corneana e conjuntival e avaliaramo efeito da hemodiálise regular sobre esses<strong>de</strong>pósitos ao longo <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> 1 a 4 anos.Mostraram que a maioria dos pacientesapresentou progressão da calcificação corneoconjuntivalapesar do tratamento hemodialítico.Não observamos o quadro <strong>de</strong> hiperemiaconjuntival/subconjuntival aguda sem sinais <strong>de</strong>infecção que po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong>correntes da altaconcentração <strong>de</strong> cálcio sérico - “red eyes of renalfailure” <strong>de</strong>finido por Klaassen-Broekema 9 .As cataratas notificadas estavampresentes em pacientes com DM ou com ida<strong>de</strong>mais avançada, fatores sabidamente relacionadosa cataratogênese; o primeiro <strong>de</strong>vido à hiperhidrataçãoosmótica do cristalino 10 e o segundotendo como base física às alterações locais <strong>de</strong>distribuição das proteínas <strong>de</strong>ntro da lente, levandoao efeito <strong>de</strong> dispersão da luz. 11,12A paciente com LES não apresentoualterações cutâneas palpebrais, ceratoconjutivitesicca, lesões neuroftalmológicas nem os exsudatosalgodonosos e hemorragias intrarretinianas, querepresentam a forma mais comum <strong>de</strong>acometimento oftálmico no LES 13 . Apresentouapenas opacificação subcapsular posterior, queestaria relacionada à ingestão <strong>de</strong> corticosterói<strong>de</strong>rotineiramente pela paciente 14 . A paciente comesclero<strong>de</strong>rmia apresentou apenas início <strong>de</strong>esclerose nuclear em ambos os olhos, não sendoobservado esclero<strong>de</strong>rmia das pálpebras,telangectasia conjuntival nem ceratoconjuntivitesicca ou alteração da motilida<strong>de</strong> ocular, possíveisachados nesses pacientes. 13 A única alteraçãoencontrada está possivelmente relacionada à ida<strong>de</strong>da paciente (52 anos), já que é geralmente aceitoque não há alterações específicas do cristalino naesclerose sistêmica. 14Apenas 02 olhos do mesmo pacientediabético apresentavam valores <strong>de</strong> pressão intraocularacima do valor estabelecidoconvencionalmente como normal pela literatura(


ALTERAÇÕES OCULARES EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE*observamos as alterações tapetorretinianascaracterizadas por “<strong>de</strong>spigmentação em placasfinas, pequenas, <strong>de</strong> distribuição proteiforme, emzonas <strong>de</strong> preferência temporal, em pólo posteriorou média periferia” <strong>de</strong>scritas e interrogadas porChiavegat 15como sendo específicas danefrodiálise.Dos achados fundoscópicos, a escavaçãopapilar maior que 0,3 encontrada bilateralmenteem 4 pacientes (08 olhos) com pressão normalaferida no momento da consulta merece especialatenção, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> a hemodiálise ocasionaralterações na osmolarida<strong>de</strong> sérica que po<strong>de</strong>mpromover oscilações na Po 16 .Há na literatura trabalhos interessantessobre a variação da Po e da osmolarida<strong>de</strong> duranteo processo hemodialítico. Sitprija e cols 17<strong>de</strong>terminaram um aumento <strong>de</strong> 5,9mmHg no valormédio da Po ao longo <strong>de</strong> 3 horas <strong>de</strong> hemodiálisee sugeriram a correspondência <strong>de</strong>sse achado coma queda da osmolarida<strong>de</strong> sanguínea em 37,6mOsm.Porém, em trabalho semelhante, Leiba ecols 16 encontraram um aumento não significativoestatisticamente (0,35 mmHg ) na média da Poapós o processo dialítico e estabeleceram que aalteração da pressão intra-ocular correlaciona-sebem com a diminuição da osmolarida<strong>de</strong> sangüínea.Acrescentam ainda que a melhoria nas técnicas<strong>de</strong> hemodiálise contribuíram para a manutenção<strong>de</strong>sse nível estável da pressão intra-ocular, aocontrário do que ocorria antigamente com astécnicas mais precárias.Wakim 18 <strong>de</strong>screveu a fisiopatologia dasalterações clínicas (cefaléia, náuseas, vômitos,turvação visual), apresentadas por algunspacientes <strong>de</strong>vido ao e<strong>de</strong>ma cerebral <strong>de</strong>correnteda diminuição <strong>de</strong>sigual da concentração <strong>de</strong> uréiae osmolarida<strong>de</strong> havida entre o líquor e o sangue.Desse modo, haveria um <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> águado compartimento sangüíneo (menos concentrado<strong>de</strong>vido ao processo dialítico) para o subaracnói<strong>de</strong>o,ocasionando o aumento da pressão intracraniana.Por analogia, o aumento da pressão intra-ocularestaria igualmente relacionado às alteraçõesosmóticas sanguíneas ocorridas durante ahemodiálise, dado à semelhança das barreirashemato-encefálica e hemato-retiniana.Em recente trabalho, Chiavegat 15comprovou aumento da Po em 16 olhos (<strong>de</strong> umtotal <strong>de</strong> 58 olhos), sendo que em 03 olhos a Poapresentou valores entre 20 e 25 mmHg duranteo processo hemodialítico. Além <strong>de</strong>sse achado, háreferência a algum grau <strong>de</strong> vasoespasmo retinianodifuso, observado na maioria dos casos, que foicorrelacionado às alterações hemodinâmicasocorridas durante a hemodiálise.Tais variáveis - osmolarida<strong>de</strong> sangüínea ealterações vasoespásticas - po<strong>de</strong>riam respon<strong>de</strong>rpelo achado <strong>de</strong> escavação maior que 0.3observada em 08 olhos (9,3%) <strong>de</strong> nosso trabalho,não nos <strong>de</strong>vendo, porém, esquecer dapossibilida<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> glaucoma <strong>de</strong>pressão normal nesses pacientes. Isso porque taispacientes apresentam fator <strong>de</strong> risco, como HAS,para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> arterioloesclerose eformação <strong>de</strong> placas ateromatosas, cuja ação<strong>de</strong>letéria seria intensificada frente às pequenasflutuações recorrentes <strong>de</strong> Po 16 ocorridas durante ahemodiálise.Os anti-hipertensivos do tipo betabloqueadorese inibidores da enzima conversorada angiotensina administrados por via sistêmicatêm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir a Po em olhos <strong>de</strong>animais 19 e humanos (normais eglaucomatosos) 20,21,22 . Assim sendo, o uso dosmesmos pelos pacientes com escavação papilaraumentada po<strong>de</strong>ria explicar a obtenção <strong>de</strong> umaPo normal ao exame.Os pacientes <strong>de</strong> nosso trabalho com taisalterações papilares pertenciam a 5ª e 6ª décadas,eram submetidos à hemodiálise entre 10 meses e6 anos e todos apresentavam a nefroesclerose(clinicamente diagnosticada) como responsávelpela falência renal. O paciente que apresentou omenor tempo <strong>de</strong> hemodiálise (10 meses) já haviase submetido anteriormente à diálise peritonealpor 2 meses. À oftalmoscopia, as alterações vítreoretinianasencontradas nesses pacientesjuntamente com o aumento da escavação papilarconsistiram em drusas, <strong>de</strong>scolamento vítreo ealterações retinianas conseqüentes à HAS:tortuosida<strong>de</strong> e estreitamento dos vasos,cruzamentos patológicos e microhemorragiasintra-retinianas (2 olhos). 3CONCLUSÃOCom exceção da calcificação corneoconjuntivalprogressiva e das alterações papilaresencontradas em 4 pacientes, não diagnosticamoslesões oculares outras do que as relacionadas àdoença <strong>de</strong> base do paciente (HAS ou DM), à ida<strong>de</strong>dos mesmos ou ainda aquelas comuns àpopulação <strong>de</strong> um modo geral. Novos trabalhos86Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 80-87.


ALTERAÇÕES OCULARES EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE*<strong>de</strong>vem ser realizados com o objetivo <strong>de</strong> comprovaros achados e especulações diagnósticas queexpliquem o aumento da escavação papilarobservado nesse estudo.En<strong>de</strong>reço para correspondência:João Nassarallar. L, 53 # 1200Setor Oeste – Goiânia – GO – 74120-050e-mail: nassaral@terra.com.brREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1.Draibe SA. Diálise Crônica. In: Prado FC, RamosJA, Valle JR do, Atualização Terapêutica. SãoPaulo: Livraria Editora Artes Médicas Ltda,1993; capítulo 5.2.Shields MB. Aspectos básicos do Glaucoma. In:Glaucoma. São Paulo: Editorial MédicaPanamericana, 1989; 47-138.3.Becker RA. Hypertension and Arteriolosclerosis.In: Tasman W, Jaeger EA, eds. Duane’s ClinicalOphthalmology. Phila<strong>de</strong>lphia: JB Lippincott,1995; 3(13): 1-6.4.Benson WE, Tasman W, Duane TD. DiabetesMellitus and the eye. In: Tasman W, Jaeger EA,eds. Duane’s Clinical Ophthalmology.Phila<strong>de</strong>lphia: JB Lippincott, 1995; 3 (30): 4-13.5.McDonald HR, Schatz H, Johnson, RN, Ma<strong>de</strong>iraD. Acquired Macular Disease. In: Tasman W,Jaeger EA, eds Duane’s ClinicalOphthlamology. Phila<strong>de</strong>lphia: JB Lippincott,199; 3 (23): 1-10.6.Sampaolesi R. Epi<strong>de</strong>miologia do Glaucomasimples. In: Glaucoma. Buenos Aires: EditorialMédica Panamericana, 1974; 17-22.7.Cal<strong>de</strong>ira JAF, Sabaga E, Lanhez IE. Conjuntivaland corneal changes in renal failure. Brit. J.Ophthal 1970; 54: 399.8.Porter R, Crombie AL. Corneal and conjunctivalcalcification in chronic renal failure. Brit. J.Ophthal 1973; 57: 339-43.9.Klassen-Broekema N, Bijsterveld OPvan. Re<strong>de</strong>yes in renal failure. Brit.J. Ophthal 1992; 76:268-71.10.Morris DA. Cataract and Systemic Disease. In:Tasman W, Jaeger EA, eds. Duane’s ClinicalOphthalmology. Phila<strong>de</strong>lphia: JB Lippincott,1995; 5 (41): 1-8.11.Luntz MH. Clinical Types of Cataract. In: TasmanW, Jaeger EA, eds. Duane’s ClinicalOphthalmology. Phila<strong>de</strong>lphia: JB Lippincott,1995; 1(73): 1-11.12.Sperduto RD. Epi<strong>de</strong>miologic Aspects of AgeRelated Cataract. In: Tasman W, Jaeger EA, eds.Duane’s Clinical Ophthalmology. Phila<strong>de</strong>lphia:JB Lippincott, 1995; 1 (73 A): 1-5.13.Jabs DA. Ocular Manifestations of theRheumatic Diseases. In: Tasman W, Jaeger EA,eds. Duane’s Clinical Ophthalmology.Phila<strong>de</strong>lphia: JB Lippincott, 1995; 5 (26): 1-16.14.Michels RG. Ocular Manifestations in connectivetissue disor<strong>de</strong>rs. In: Ryan SJ, Smith RE, Theeye in systemic disease . New York: Grune andStration, 1974; cap. 19.15.Chiavegat UM. Evaluación oftalmológica <strong>de</strong>pacientes nefrodializados. Arch. Chil. Oftal1993; 50: 25-2816.Leiba H, Oliver M, Shimsharii M, Bar-Khaylm Y.Intraocular pressure fluctuations during regularhemodialysis ultrafiltration. ACTA.OPH 1990;68: 320-322.17.Sitprija V, Holmes J, Ellis PP. Intraocular pressurechanges during artificial kidney therapy. Arch.Ophthalmol 1964; 72: 626-631.18.Wakim KG. The pathophysiology of the dialysisdisequilibrium syndrome. Mayo Clin Proc 1969;44: 406-429.19. Hashimoto M, Silva MRBM, Neto FJT. Efeito<strong>de</strong> drogas utilizadas no tratamento <strong>de</strong>hipertensão arterial sobre a pressão intraocular:estudo experimental no cão. Arq. Bras.Oftalmol 2002; 65: 229-33.20. Phillips CI, Howitt G, Rowlands DJ. Propranololas ocular hypotensive agent. Br. J. Ophthalmol.1967; 51: 222-6.21. MacDonald MJ, Cullen PM, Philips CI. Atenololversus propranolol – A comparison of ocularhypotensive effect of an oral dose. Br. J.Ophthalmol. 1976; 60: 789-91.22. Williamson J, Atta HR, Kennedy PA, Muir JG.Effect of orallly administered nadolol on theintraocular pressure in normal volunteers.Br.J. Ophthalmol. 1985; 69: 39-40.Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 80-87.87


88ANÚNCIOMERCKFOTOLITO NAGRÁFICA


Perfil do atendimentooftalmológico <strong>de</strong> urgênciaJosé Cavalcanti Campos Júnior*RESUMOForam examinados prospectivamente no período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2001 a junho<strong>de</strong> 2003, 1228 prontuários na Clínica Visomed com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar asprincipais causas <strong>de</strong> atendimento oftalmológico <strong>de</strong> urgência, clínico e cirúrgico,correlacionando-os com sexo, e faixa etária dos pacientes.Houve predominância do sexo masculino (66,2%) sobre o feminino (33,8%),sendo que a faixa etária mais acometida foi a <strong>de</strong> 21 a 30 anos (22,1%),seguida da faixa <strong>de</strong> 41 a 50 anos (21,0%) e a <strong>de</strong> 0 a 10 anos (16,3%).A maior causa <strong>de</strong> atendimento foi conjuntivite aguda (24,1%) seguida <strong>de</strong> corpoestranho extra-ocular (17,9%). Quanto ao tratamento instituído, a terapia clínicaprevaleceu em 78,7% contra a cirúrgica 21,33%.ABSTRACTProfile of ophthalmological attendance of emergencyWere 1228 atten<strong>de</strong>d patients file at the Visomed Clinic between October 2001to June 2003 with objective to <strong>de</strong>termine the main causes of urgency inophthalmic attendance clinic or surgical, relating them to sex and age.We had a predominance in adults were more affected in males (66,2%) thanfemales (33,8%). The ages range more affected were from 21-30 (22,1%), 41-50 (21%) and 0 to 10 (16,3%).The main cause attendance were acute conjunctivitis with (24,1%) followed by aforeign body extra ocular (17,9%). Regarding to the treatment proposed to thosepatients, clinic therapy was indicated in 78,7% against indicated for surgery 21,3%.* Oftalmologista da Clínica Visomed e Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 89-91.89


PERFIL DO ATENDIMENTO OFTALMOLÓGICO DE URGÊNCIAINTRODUÇÃOAs urgências oftalmológicas são inerentesao nosso cotidiano. O oftalmologista <strong>de</strong>veestar preparado para o atendimento <strong>de</strong>urgência ocular, pois um tratamento equivocadopo<strong>de</strong> custar a perda da capacida<strong>de</strong> visual <strong>de</strong> umpaciente.A National Society to Prevent Blindness dosEstados Unidos calcula que um terço da perda <strong>de</strong>olhos na primeira década <strong>de</strong> vida é causada porlesões traumáticas 1 . O trauma e as queimadurasoculares ocorridos em qualquer ida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong>serem uma tragédia pessoal, representa um sérioprejuízo em termos econômicos para o<strong>de</strong>senvolvimento do país quando provocam a perda<strong>de</strong> visão 2 . Mesmo quando não são tão graves,requerem cuidados médicos especializados etratamento, por vezes, prolongado, principalmentequando há perfuração ocular 2 .Por outro lado, processos inflamatórios einfecciosos da conjuntiva e córnea e distúrbios dasglândulas <strong>de</strong> Meibomius são extremamentecomuns no atendimento diário. Em uma parcelados casos, mesmo sem o tratamento clínicoa<strong>de</strong>quado, há resolução do processo <strong>de</strong>vidoserem autolimitados.Com o objetivo <strong>de</strong> pesquisar as principaiscausas <strong>de</strong> atendimento, faixa etária e tipo <strong>de</strong>atendimento (clínico e/ou cirúrgico) prestado,efetuou-se um estudo do perfil dos pacientesatendidos numa instituição privada cre<strong>de</strong>nciadapelo Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS), objetivandometas <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> visual.MATERIAL E MÉTODOSRealizou-se um estudo prospectivo <strong>de</strong> 1228pacientes do setor <strong>de</strong> urgência, atendidos noperíodo <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2001 a junho <strong>de</strong> 2003. Osdados foram obtidos dos prontuários do primeiroatendimento dos pacientes do SUS, realizados naVisomed, uma clínica privada cre<strong>de</strong>nciada pelosistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na prestação <strong>de</strong>atendimento oftalmológico. O estudo foi aprovadosem restrições ao comitê <strong>de</strong> ética da instituição.A amostra foi analisada quanto ao sexo, afaixa etária e diagnóstico, além do tipo <strong>de</strong>tratamento prestado (clínico e/ou cirúrgico). Emrelação à faixa etária, para efeito <strong>de</strong> estudo, ospacientes foram divididos em 8 grupos etários: até10 anos, <strong>de</strong> 11 a 20 anos, <strong>de</strong> 21 a 30 anos, <strong>de</strong> 31a 40 anos, <strong>de</strong> 41 a 50 anos, <strong>de</strong> 51 a 60 anos, <strong>de</strong>61 a 70 e com mais <strong>de</strong> 70 anos.RESULTADOSDentre os 1228 pacientes atendidos, houvepredomínio do sexo masculino em 813 casos(66,2%) sobre o feminino com 415 pacientes(33,8%), <strong>de</strong>terminando assim, proporção <strong>de</strong> 2:1,aproximadamente.As faixas etárias mais acometidas foram<strong>de</strong> 0 a 10, 21 a 30 e 41 a 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>srepresentando respectivamente, 16,3%, 22,1% e21% que correspon<strong>de</strong>ram a 730 casos, ou seja,59,4% do total dos pacientes atendidos (tabela I).Ida<strong>de</strong>sTabela IDistribuição dos pacientes segundo a faixa etária noatendimento <strong>de</strong> urgências ocularesQuantida<strong>de</strong>0 - 10 anos 200 (16,3%)11 - 20 anos 131 (10,7%)21 - 30 anos 272 (22,1%)31 - 40 anos 258 (21,0%)41 - 50 anos 143 (11,6%)51 - 60 anos 99 (8,1%)61 - 70 anos 66 (5,4%)> 70 anos 59 (4,8%)Total 1228 (100%)Fonte: Prontuários médicos, 2001-2003.As maiores prevalências foram <strong>de</strong>conjuntivite aguda, com 296 casos representando24,1% do total, seguidos <strong>de</strong> corpo estranho extraocularcom 220 casos ou 17,9%, e trauma ocular(mecânico e químico) com 12,3%. Estes 3 tipos<strong>de</strong> atendimentos totalizaram 667 pacientes quecorrespon<strong>de</strong>ram a 54,3% <strong>de</strong> todos osatendimentos realizados (tabela II).As queimaduras oculares com 24 casos(1,9%) foram agrupadas em relação ao agente causalem físicas com 7 casos e químicas com 17. Com osquadros <strong>de</strong> hipertensão ocular e/ou glaucoma agudoencontramos 70 pacientes (5,7%). A catarata e opterígio estavam presentes em 46 pacientes (3,8%).A dor ocular inespecífica e a uveíte atingiramrespectivamente 45(3,6%) e 39(3,2%) pacientes.Quanto ao tratamento proposto para os90Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 89-91.


PERFIL DO ATENDIMENTO OFTALMOLÓGICO DE URGÊNCIADiagnósticoTabela IIDistribuição dos pacientes quanto ao diagnósticodas urgências ocularesNúmero<strong>de</strong> casos PercentualConjuntivite 296 24,1%Corpo estranho extra-ocular 220 17,9%Trauma Ocular 151 12,3%Doenças da Pálpebra 130 10,6%Doenças da Córnea 77 6,3%Hipertensão Ocular/Glaucoma agudo 70 5,7%Hemorragia Subconjuntival 51 4,2%Dor Ocular 45 3,6%Uveíte 39 3,2%Queimadura 24 1,9%Pterígio 24 1,9%Catarata 22 1,8%Celulite Periorbitária 12 1,0%Outras Doenças da Conjuntiva 11 0,9%Outros 56 4,6%Total 1228 100%Fonte: Prontuários médicos, 2001-2003.pacientes, a terapia clínica prevaleceu em 996casos (78,67%) contra 262 casos <strong>de</strong> naturezacirúrgica (21,33%).DISCUSSÃOA freqüência <strong>de</strong> urgências oculares nesteServiço é alta, sobretudo <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> sermos,uma das oito clínicas do Estado cre<strong>de</strong>nciadas aoSUS na prestação do atendimento oftalmológico.Ao redor <strong>de</strong> 16% (200 pacientes) dos casosforam representados por crianças até 10 anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>, concordando com alguns trabalhos 3,4 querepresentaram 17,6 % sugerindo a susceptibilida<strong>de</strong>das crianças, principalmente às lesões traumáticasoculares em ambientes domésticos.Em relação aos adultos, as urgências maisfreqüentes foram no sexo masculino e a faixa etáriaentre 20 e 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foram mais freqüentes,corroborando com outro trabalho 5 .Foram freqüentes os diagnósticos <strong>de</strong>lesões oculares consi<strong>de</strong>radas leves e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>radagravida<strong>de</strong>, envolvendo a conjuntiva, córnea epálpebra - 996 pacientes (78,7%) - cujo tratamentonecessitou <strong>de</strong> terapia exclusivamente clínica.Quanto ao tratamento cirúrgico foi indicado em 262pacientes (21,3%), sendo referenciadas as clínicas<strong>de</strong> maior porte, pois não se dispunha <strong>de</strong> CentroCirúrgico no local.Todos os pacientes foram selecionadospreviamente por funcionárias treinadas emreconhecer urgências oftalmológicas, mas mesmoassim foram atendidos casos que não seenquadravam como urgência, <strong>de</strong>monstrando anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atualização e reciclagem contínuadas aten<strong>de</strong>ntes.CONCLUSÃOExiste uma alta freqüência <strong>de</strong> urgênciasoculares no Serviço, principalmente <strong>de</strong> adultos dosexo masculino entre 20 a 45 anos, exatamente afaixa etária da população economicamente ativa.A maioria dos atendimentos <strong>de</strong>mandouintervenção somente clínica, corroborando anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma constante atualização doespecialista no diagnóstico e tratamento, fator<strong>de</strong>cisivo na prevenção <strong>de</strong> seqüelas e complicações.Com o intuito <strong>de</strong> atingir maisfi<strong>de</strong>dignamente metas <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong>incapacida<strong>de</strong> ocular e fornecer subsídios paraelaborar um perfil epi<strong>de</strong>miológico das urgênciasem oftalmologia, faz-se mister em futurostrabalhos, uma análise mais completa dos casos,colhendo dados referentes à natureza da lesãoocular, ambiente on<strong>de</strong> ocorreu o aci<strong>de</strong>nte, tempo<strong>de</strong>corrido até o primeiro atendimento, utilização ounão <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> segurança individual eproteção ocular, acuida<strong>de</strong> visual inicial e final apóso tratamento e seqüelas.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. National Society To Prevent Blindness: Visionsproblems in United States. New York, 1980.p.32-3.2. Haber S, Abreu JR. Traumas oculares: nosologia<strong>de</strong> 1171 casos. Arq. Bras. Oftal. 58: 105-11, 1995.3. Rapaport I, Romem M, Koval R et al. Eye injuriesin children in Israel. Arch. Ophthalmol. 108 (3):376-79, 1990.4. Arca RS, Hedro FM, Boni D, Moraes N.S, FreitasD. Causas <strong>de</strong> atendimento oftalmológico <strong>de</strong>urgência <strong>de</strong> crianças em serviço <strong>de</strong> referência.Arq. Bras. Oftal. 59: 351-2, 1996.5. Ruiz A, Kara José N, Prado J, Solange Usuba F,Mara Onclinx T. Ferimento perfurante ocular:400 casos. Arq. Bras. Oftal. 58: 342-5, 1995.Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 89-91.91


92ANÚNCIOMED SERVFOTOLITO NAGRÁFICA


A mo<strong>de</strong>l for the natural historyof retinoblastoma accordingto its cellular differentiationCarlos G. Arce MD*, Clélia M. Erwenne MD**, Leda B. Saba MD***RESUMOObjetivo: Estudar a correlação entre a diferenciação celular do retinoblastoma, suaorigem genética, estadiamento, ida<strong>de</strong> do paciente e <strong>de</strong>mora no tratamento.Métodos: O padrão histopatológico <strong>de</strong> 282 casos (271 pacientes) com retinoblastomaintra-ocular e extra-ocular enucleados (como primeiro tratamento) foi retrospectivamenterevisado. Os casos bem diferenciados tiveram rosetas <strong>de</strong> Flexner-Wintersteiner e Homer-Wright, os pouco diferenciados somente rosetas <strong>de</strong> Homer-Wright e os indiferenciadosnenhuma roseta. Os hereditários-germinais tiveram história familiar ou apresentaçãobilateral-multifocal. Os não hereditários-esporádicos foram unilaterais. Foram realizadasanálises mutifactoriais com os testes Chi 2 , G e Kruskal-Wallis.Resultados: Houve 116 (41%) casos germinais, 166 (59%) esporádicos; 184 (65%) intraoculares,94 (33%) extra-oculares; 59 (21%) bem diferenciados, 55 (20%) poucodiferenciados, 141 (50%) indiferenciados. Origem, estadiamento e diferenciação celularforam <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes entre si (p


A MODEL FOR THE NATURAL HISTORY OF RETINOBLASTOMA ACCORDING TO ITS CELLULAR DIFFERENTIATIONABSTRACTPurpose: To study the correlation among retinoblastoma cell pattern, patient’s age,lateness of treatment, genetic origin and stage of disease.Design: Observational case series.Methods: The histopathologic pattern of 282 intraocular or extraocular retinoblastomacases (271 patients) that un<strong>de</strong>rwent enucleation as first treatment was retrospectivelyreviewed. Well differentiated tumors had Flexner-Wintersteiner and Homer-Wrightrosettes, poorly differentiated tumors had only Homer-Wright rosettes, andundifferentiated tumors had not rosettes. Hereditary-germinal cases were bilateral,multifocal and/or had family history. Non-hereditary cases were unilateral. Multifactorialanalysis was ma<strong>de</strong> using Chi 2 , G, and Kruskal-Wallis tests.Results: Cases were 116 (41%) hereditary, 166 (59%) non-hereditary, 184 (65%) intraocular,94 (33%) extraocular, 59 (21%) well differentiated, 55 (20%) poorly differentiated, and 141(50%) undifferentiated. Origin, staging, and cellular pattern were <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt on each other(p


A MODEL FOR THE NATURAL HISTORY OF RETINOBLASTOMA ACCORDING TO ITS CELLULAR DIFFERENTIATIONwell differentiated pattern was <strong>de</strong>fined whenFlexner-Wintersteiner and Homer-Wright rosetteswere found, a poorly differentiated pattern had onlyHomer-Wright rosettes, and an undifferentiatedhad not rosettes. Fleurettes, apoptotic, or mitoticfigures were not inclu<strong>de</strong>d in the analysis. Phthisiceyes and cases with signs of regression or withincomplete data were grouped apart. Detailedinformation of patients was previously reported. 15Multivariate statistical analysis was ma<strong>de</strong>combining the histopathologic pattern, the assumedgenetic origin of the disease, its staging, thepatient’s age (when first signs of disease wereobserved and when enucleation was performed),and the lateness of treatment. Enucleation of theeye established the age at histopathologicdiagnosis. Lateness of treatment was <strong>de</strong>fined asthe time lapsed between the age at presenting signsand the age at enucleation. Square Chi partitiontest was used for bifactorial analysis, and G test ofin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce for trifactorial association. No casefrom the phthisis/regression group, or with someunknown data was inclu<strong>de</strong>d in the G test. Thepatient’s age at onset of signs and at enucleation,and the lateness of the treatment were compared,for each histopathologic pattern and for acombination of variables, using the Kruskal-Wallisnonparametric analysis. They were also divi<strong>de</strong>d inintervals for each pattern and their distributioncompared using the square Chi partition test. TheKruskal-Wallis test, the G test, and 2xN tables hadp


A MODEL FOR THE NATURAL HISTORY OF RETINOBLASTOMA ACCORDING TO ITS CELLULAR DIFFERENTIATIONTable 1The cellular pattern of RB according to its genetic origin and stagingGenetic origin Total StageHereditary Non-hereditary Intraocular Extraocular UnknownCellular pattern (%) n (%) (%) n (%) (%) n (%) (%) n (%) (%) n (%) (%) n (%)Well differentiated (32) 37 (63) (13) 22 (37) (21) 59 (100) (29) 53 (90) (5) 5 (8) (25) 1 (2)Poorly differentiated (21) 24 (44) (19) 31 (56) (20) 55 (100) (19) 35 (64) (21) 20 (36) (0) 0 (0)Undifferentiated (35) 41 (29) (60) 100 (71) (50) 141 (100) (41) 76 (54) (67) 63 (45) (50) 2 (1)Phthisis/Regression (5) 6 (50) (4) 6 (50) (4) 12 (100) (5) 10 (83) (2) 2 (17) (0) 0 (0)No data/Unknown (7) 8 (53) (4) 7 (47) (5) 15 (100) (5) 10 (67) (4) 4 (27) (25) 1 (7)Total (100) 116 (41) (100) 166 (59) (100) 282 (100) (100) 184 (65) (100) 94 (33) (100) 4 (1)Percentage (%) at left of number of cases (n) is related to the column; percentage (%) at right is related to the line.Cell pattern vs genetic origin: Chi 2 = 20.395, p


A MODEL FOR THE NATURAL HISTORY OF RETINOBLASTOMA ACCORDING TO ITS CELLULAR DIFFERENTIATIONTable 3The age at presenting signs, the age at enucleation, and the lateness of treatmentMean ageMean intervalCellular pattern At first signal At enucleationWell differentiated 8.66 ±9.84 14.02 ±9.91 5.70 ±7.09Poorly differentiated 18.36 ±17.75 26.18 ±17.46 7.71 ±7.33Undifferentiated 22.66 ±25.76 32.81 ±23.83 9.87 ±9.42General mean 17.81 ±21.46 26.45 ±20.54 8.61 ±8.71Kruskal-Wallis analysis p0.05.Well differentiated cases vs undifferentiated cases: Chi 2 = 29.3, p0.5.well differentiated cases were fewer andundifferentiated cases were more frequent until 24months old (p0.05). After 3 yearsold, 35 (74.5%) of 47 cases were undifferentiated(figure 1). Poorly differentiated cases had not differentage distribution of treatment than well differentiatedcases (p≅0.01, alpha risk=0.00833), but they weretreated at younger age than undifferentiated cases(p0.2), for welldifferentiated and undifferentiated cases (p≅0.01,alpha risk=0.00833), or for poorly differentiated andundifferentiated cases (p>0.5).DISCUSSIONThe importance genetic origin and age hason RB has been so well studied in the past thattheir relationship yiel<strong>de</strong>d to theories about theFigure 1: Distribution of the histopathologic patterns of RBaccording to the patient’s age at first treatment.genetics of cancer. 11The association betweendifferentiation and origin, 16and among origin,staging, and age, 17 has also been reported. As far15, 18we know, we were the first to statistically verifythat RB histopathologic patterns change accordingRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 93-103.97


A MODEL FOR THE NATURAL HISTORY OF RETINOBLASTOMA ACCORDING TO ITS CELLULAR DIFFERENTIATIONTable 5The age at enucleation (age at histopathologic diagnosis)Cellular pattern Age interval (in months) Total (%)< 6 7-12 13-18 19-24 25-30 31-36 > 36Well differentiated (ARF) n (DPI) (31) 18 (75) (49) 11 (38) (70) 12 (32) (85) 9 (18) (92) 4 (8) (98) 4 (9) (100) 1 (2) 59 (21)Poorly differentiated (ARF) n (DPI) (7) 4 (17) (16) 5 (17) (38) 12 (32) (55) 9 (18) (71) 9 (19) (86) 8 (17) (100) 8 (17) 55 (20)Undifferentiated (ARF) n (DPI) (0) 0 (0) (5) 7 (24) (11) 8 (22) (32) 30 (59) (55) 32 (67) (75) 29 (63) (100) 35 (75) 141 (50)Phthisis/Regression n 2 3 2 3 0 1 1 12No data/Unknown n 0 3 3 0 3 4 2 15Total (ARF) n (DPI) (9) 24 (100) (19) 29 (100) (32) 37 (100) (50) 51 (100) (67) 48 (100) (83) 46 (100) (100) 47 (100) 282 (100)ARF: Accumulated relative frequency; DPI: Distribution in percentage by interval; n: Number of cases; Alpha risk = 0.00833.Well differentiated cases vs poorly differentiated cases: Chi 2 = 19.744, p≤0.01.Well differentiated cases vs undifferentiated cases: Chi 2 = 84.391, p0.05.Well differentiated cases vs undifferentiated cases: Chi 2 = 29.3, p0.5.to patient’s age, 5, 19-20 and to show that cellulardifferentiation, staging, and genetic origin are also<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt on each other. In a general view, wefound that well differentiated cases appear earlier.The ol<strong>de</strong>r the child, their fewer frequency and thehigher the number of undifferentiated cases. Poorlydifferentiated cases had a constant proportion atall ages. Undifferentiated cases also tend to bemore frequent when the mean <strong>de</strong>lay of treatmentwas longer. Hereditary cases were either welldifferentiated or undifferentiated in similarfrequency, but non-hereditary cases had 4.5 timesmore probabilities to be undifferentiated. Finally,chances to find Flexner-Wintersteiner rosetteswere higher in both hereditary and intraocularcases, hereditary cases were more likelihood tobe intraocular and extraocular cases to beundifferentiated,As it was expected, hereditary cases hadtheir histopathologic diagnosis ma<strong>de</strong> at a youngermean age than non-hereditary cases. However, asimple mean age did not reflect properly whathappened with all cases in each group. When wecombined variables 12 sub-groups were i<strong>de</strong>ntified(table 2 and figure 2), each one with its own meanage and frequency. Thus, intraocular hereditarycases were the more common in younger childrenbut among them, well differentiated, poorlydifferentiated, and undifferentiated had significantdifferent mean ages. Similarly, well differentiated,poorly differentiated, and undifferentiatedintraocular non-hereditary cases were morefrequent in ol<strong>de</strong>r children. The well differentiate<strong>de</strong>xtraocular non-hereditary sub-group had thefewest number of cases. Poorly differentiated andundifferentiated extraocular non-hereditary cases98Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 93-103.


A MODEL FOR THE NATURAL HISTORY OF RETINOBLASTOMA ACCORDING TO ITS CELLULAR DIFFERENTIATIONFig. 2: Distribution of the histopathologic patterns of RB accordingto the genetic origin and the stage (100% = 282 cases).were those treated at the ol<strong>de</strong>st age. Grouping ourcases by this way (histopathology, origin, andstage) helped us to un<strong>de</strong>rstand the disease,however there are other factors that were notanalyzed in our study. Certainly anysocioeconomic, cultural, or medical reason thatdiscourage early referral in younger children maycause <strong>de</strong>lay of the proper treatment, 17 more riskof extraocular disease, 12, 15, 17 and therefore, a longerperiod for tumor <strong>de</strong>veloping. A glance over theliterature showed a ten<strong>de</strong>ncy to find smaller tumorsin younger children in <strong>de</strong>veloped countries, 21-22 andmore advanced disease in ol<strong>de</strong>r children incountries with fewer resources. 23-26 Our series ofcases seems to be located somewhere in themiddle and consequently it might be reflectingbetter the natural history of the disease.The relationship and <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce of cellulardifferentiation with age, origin, or staging is stillcontroversial. Although the malignant behavior hasbeen directly associated with the predominantcellular type, 3, 7-9 clinicians or pathologists use togive little importance to the <strong>de</strong>gree of differentiationprobably because 90-95% of patients withintraocular RB survive, 12 no matter which type ofcell predominates. 27 However, mortality is very highwhen cases are already extraocular, 12, 17, 28 and, aswe showed in our analysis, less differentiatedcases are more frequent in this stage. A multivariateanalysis of cases showed that the two mostimportant risk factors for <strong>de</strong>ath were invasion tooptic nerve and ocular coats. Less important riskfactors were bilaterality, cataract, and failure ofclinical diagnosis. Nonsignificant risk factorsinclu<strong>de</strong>d <strong>de</strong>gree of differentiation, size of the tumor,and age of the patient. 29Even though findinganaplastic cells is not a risk factor for extraoculardisease and <strong>de</strong>ath, it is evi<strong>de</strong>nt that finding Flexner-Wintersteiner rosettes is a good sign for prognosisbecause it means that the disease is mostly (90%)still intraocular.In 1864, Virchow 30 was the first to suggestthat the cell pattern changes during the evolution30of RB tumors. Glioma, gliosarcoma,neuroepithelioma, 31 or retinocytoma 5were someof the multiple historical names the diseasereceived in the past helping to hi<strong>de</strong> ormisun<strong>de</strong>rstand Virchow’s suggestion. By 1941, forexample, RB was consi<strong>de</strong>red a glioma originatedthrough <strong>de</strong>differentiation or anaplasia of glial retinalcells. 9 In 1953, Dollfus and Auvert, without statisticanalysis, were the first to show that RB cases withrosettes (that they called “rétinocytomes avecstéphanocytes” following J. Mawas classification of1922) predominated in younger patients and thosewithout rosettes (or “rétinoblastomes”) were morefrequent in ol<strong>de</strong>r children. 5Between 1956 and1966, several authors 32-34 found that the RB maybe more anaplastic with the time of evolution,however Taktikos 6 , without mentioning anystatistical analysis, conclu<strong>de</strong>d that the <strong>de</strong>gree ofdifferentiation and the tumor size were not relatedwith its malignancy or with its invasion to the opticnerve, the choroid, or the sclera; and that thecellular pattern of a RB tumor arises as suchremaining uniform during all its evolution. More12, 17recently, undifferentiated cases were foundmore common when the signs of disease were firstnoticed in ol<strong>de</strong>r children. After we initially presentedour results, 15, 18 other groups 19-20, 35 have publishedinformation suggesting that the cellularpredominant type is one of few inter-connectedvariables that may modulate the evolution of RBtumors (figure 3).Characteristics of initial tumor cells shouldbe <strong>de</strong>terminant for a fixed differentiation patternor a fickle pattern during the life of a patient withRB. At present, it is known that the disease istriggered by the lack of a regulatory functionrelated to the RB-gene that happens after asecond mutation in the chromosome 13. 11 The<strong>de</strong>velopment of tumors is normally inhibited bya family of RB proteins 36 and kinases (the RBpathway)37 interacting as antiproliferative agents.When they are inactivated or not available, cellsanswer abnormally to environmental signals thatmodulate differentiation or regulate their cycle,Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 93-103.99


A MODEL FOR THE NATURAL HISTORY OF RETINOBLASTOMA ACCORDING TO ITS CELLULAR DIFFERENTIATIONFig. 3: Interaction of variables in the proposed mo<strong>de</strong>l for the naturalhistory of RB tumors.preserving their proliferative capacity. 38 It is alsobelieved that RB tumors arise in the neuralepithelium of the retina, from primitive7, 39multipotential embryonic retinal cells, whentheir final maturation is blocked in someintermediary stage making easier their neoplastictransformation. 40 Offspring from first predisposedcells (with only one mutation) and neoplastic cells(with already two mutations) may result in atumor <strong>de</strong>pending on physical (light and darkness15), biochemical (hormones, transforming growthfactors, 41 neurotransmitters, neurotrophins, 42cyclic nucleoti<strong>de</strong>s, 43-44 or RB-proteins 36, 40 ),apoptotic 45-46 or immunologic environmentalfactors that may influence their survival andgrowing.Presently, there is controversy when orhow RB cellular differentiation patterns areestablished, however, it is well accepted thatgenetic origin is related to the time when thedisease begins, as well as stage is related to thetime it lasts. According to Knudson 11 and mostrelated literature, hereditary cases are diagnosedin younger children because a second mutationhappened earlier. This theory alone is insufficientto explain why some non-hereditary cases (i.e.:well differentiated intraocular non-hereditary subgroup)were diagnosed and treated within thesame age range, and even earlier than manyhereditary cases. To un<strong>de</strong>rstand why this mayhappen, we divi<strong>de</strong>d the mean age at the end pointof RB tumor natural evolution (i.e.: the age athistopathologic diagnosis <strong>de</strong>termined by theenucleation as first treatment) of all sporadic (nonhereditary)cases (31.26 months) by the samemean age of all germinal (hereditary) cases (19.58months). This so called S/G relationship 15 had avalue around 1.6. Following Knudson´shypothesis, 11 we may assume that the relationshipbetween the mean ages at second mutation (thebeginning of RB tumor evolution) in both groupsshould be close to such S/G value. In other words,if hereditary cases have a second genetic eventduring the last trimester of pregnancy, nonhereditarycases should have it between the firstand the eighth month after birth, and by then, theretina is already anatomically <strong>de</strong>veloped.Alternatively, if non-hereditary cases have asecond mutation at the end of pregnancy,hereditary cases should have it within the 15thand the 22nd week of fetal life. Following thisreasoning, our findings are paradoxical becauseinitial cell(s) in a hereditary case (that may befound either well differentiated or undifferentiated)would be originated at earlier fetal or perinatalage and would belong to a more primitive scalein the retinal <strong>de</strong>velopment. On the other hand,clones in non-hereditary cases (that just <strong>de</strong>velopeasier undifferentiated tumors) would arise fromonly one and a more mature retinal cell.This paradox might be solved if lessdifferentiated tumors are in fact later stages ofthe same disease, as many pioneer authorssuggested according to the knowledge at theirtime. The very little inci<strong>de</strong>nce of well differentiate<strong>de</strong>xtraocular cases, the higher frequency ofundifferentiated non-hereditary cases, and thedisappearance of well differentiated cases atages when undifferentiated cases increase theirnumber, might be consequences of a phenotypictransformation process which begins with tumorswith more differentiated cells and ends withtumors mostly undifferentiated. It does notnecessarily mean that a <strong>de</strong>differentiation oranaplastic process of original tumoral cells takesplace, as it was suggested in the past. 9 After all,apoptosis was found more evi<strong>de</strong>nt within rosettes47making more feasible their disappearance,and the more mitotic rate of less differentiatedanaplastic cells should make them predominantafter a while.In this mo<strong>de</strong>l, a larger interval between bothmutations would <strong>de</strong>termine a larger population ofcells with one mutation in some non-hereditary casesleading to the eventuality of multifocal unilateralsporadicRB. After birth, the initial more differentiatedpattern of RB tumors would change according tothe biological activity the retinal environment hasand to the length of evolution (i.e: the patient’s age)100Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 93-103.


A MODEL FOR THE NATURAL HISTORY OF RETINOBLASTOMA ACCORDING TO ITS CELLULAR DIFFERENTIATIONbut faster growing tumors, originated from moreprimitive cells, may not have enough time to betotally undifferentiated if treatment comes first.Tumors with slower growth rate, that begin to evolvefrom only one more mature tumor cell in anotherwise normal retina, would take a longer periodto be clinically evi<strong>de</strong>nt, time enough to be discoveredas undifferentiated in ol<strong>de</strong>r patients. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntlyor coinci<strong>de</strong>ntly with any other socioeconomic,cultural, or medical reason, the outcome of theirlonger sub-clinical evolution may be worst stages(i.e.: extraocular disease).This mo<strong>de</strong>l helps to explain why nonhereditarycases have worst prognosis when theyare compared with hereditary RB withoutassortment by age, as well as why age and <strong>de</strong>layof treatment have such a good correlation withpatient survival. 12, 17, 21, 48 It also predicts that patientswith non-hereditary RB should have a bettersurvival rate than bilateral-family cases if they arecompared within the same age range and with thesame treatment, and highlights the importance ofearly referral of these cases. It is important to noticethat our results might influence our approach withseveral methods of treatment. Since moredifferentiated tumors are more resistant toradiotherapy, 4, 8 probabilities of failure with episcleralplaque 49or external beam radiotherapy 50 mightbe increased in very young children. Perhaps inthese patients, cryotherapy, photocoagulation, 51or other treatments 52 should always be consi<strong>de</strong>red.On the other hand, for the same reason,radiotherapy might have better indication in ol<strong>de</strong>rpatients, especially in those with more than 2.5years old or with extraocular disease.Corresponding author:Carlos G. Arce, M.D., Rua Expedicionários 427,Sousas, Campinas, SP 13105-008, Brazil.Telephone & fax: (55-19) 3258-3444e-mail: cgarce@mpc.com.brFinancial disclosure:Authors do not have financial interests.Acknowledgment:This study was done at the A.C. CamargoHospital Antônio Pru<strong>de</strong>nte Foundationwith the financial supportof the National Council for Scientific andTechnologic Development of Brazil (CNPQ).REFERENCES1.Ts’o MOM, Zimmerman LE, Fine BS. The nature ofretinoblastoma. I. Photoreceptor differentiation: aclinical and histological study. Am J Ophthalmol1970; 69:339-349.2.Zimmerman LE. Retinoblastoma andretinocytoma. In: Spencer WH, editor.Ophthalmic pathology. An atlas and textbook.3rd edition. Phila<strong>de</strong>lphia: WB Saun<strong>de</strong>rs Co; 1985.v.2, c.8, p.1292-1351.3. Reesse AB. Tumors of the eye. 3rd edition. NewYork: Harper & Brothers; 1976. c.3, p.90-1244.Ts’o MOM, Zimmerman LE, Fine BS, EllsworthRM. A cause of radioresistance in retinoblastoma:photoreceptor differentiation. Trans Am AcadOphthalmol Otolaryngol 1970; 74:959-969.5.Dollfus MA, Auvert B. Le gliome <strong>de</strong> la rétine(rétinoblastome) et les pseudogliomes. Étu<strong>de</strong>clinique, génétique et thérapeutique. Paris: Massonet Cie; 1953. p.1-17.6.Taktikos A. Investigations of retinoblastoma withspecial reference to histology and prognosis. BritJ Ophthalmol 1966; 50:225-234.7.Duke-El<strong>de</strong>r S, Dobree JH. Cysts and tumors of theretina. In: Duke-El<strong>de</strong>r S, editor. Diseases of theretina. System of ophthalmology. St. Louis: CVMosby Co; 1967. v.X, c.VI, p.667-769.8.Tsukahara I. A histopathologic study on theprognosis and radiosensitivity of retinoblastoma.Arch Ohthalmol 1960; 63:1005-1008.9.Parkhill EM, Benedict WL. Gliomas of the retina. Ahistopathologic study. Am J Ophthalmol 1941;24:1354-1373.10.Li D, Song X, Gao Y. The relationship between theprognosis of retinoblastoma and proliferating cellnuclear antigen and argyrophilic protein atnucleolus organizer regions. Chung Hua Yen KoTsa Chih 1997; 33:293-296.11.Knudson AG. Mutation and cancer: statistical studyof retinoblastoma. Proc Natl Acad Sci USA 1971;68:820-823.12.Erwenne CM. Relação genético-clínica emretinoblastoma [thesis]. São Paulo, Brazil;Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo; 1987.13.Ellsworth RM. Current concepts in the treatment ofretinoblastoma. In: Peyman GA, Apple DJV,San<strong>de</strong>rs DR, editors. Intraocular tumors. New York:Appleton/Century/Crofts; 1977. c.20, p.335-355.14.Wolf JA, Boesel C, Ellsworth R, Gallie B, Maurer H,Tretter P, Wara W, Leikin S, Dyment P, Sather H,Hammond D. Protocol CCSG-962: extraocularretinoblastoma (RB). New York: Children CancerStudy Group, 1978.Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 93-103.101


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104ANÚNCIOACRYSOFTFOTOLITO NAGRÁFICA


Avaliação quantitativa doastigmatismo irregular utilizandoa análise <strong>de</strong> FourierMurilo Barreto Souza*, Fabrício Witzel <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros*, Vivian Onoda Tomikawa*, Bráulio Folco Telles <strong>de</strong>Oliveira**, Milton Ruiz Alves***RESUMOObjetivo: Avaliar quantitativamente a relação entre o astigmatismo irregular,obtido através da utilização da análise <strong>de</strong> Fourier, e a acuida<strong>de</strong> visual alcançadacom a utilização <strong>de</strong> óculos, em pacientes com ceratocone.Métodos: Foram avaliados 15 olhos <strong>de</strong> 9 pacientes portadores <strong>de</strong> ceratocone.Todos os pacientes foram atendidos no Setor <strong>de</strong> Córnea e Doenças Externasdo Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo. Apenas os olhos que apresentavam acuida<strong>de</strong> visual igual ou melhor que20/20, com uso <strong>de</strong> lente <strong>de</strong> contato e rígida, e acuida<strong>de</strong> visual menor que 20/20, utilizando óculos, foram incluídos neste estudo. Todos os pacientes foramsubmetidos à avaliação da topografia corneana. Os dados numéricos, relativosas miras 2 a 5, correspon<strong>de</strong>ntes aos 3mm centrais da córnea foram estudadosatravés da análise <strong>de</strong> Fourier.Resultados: Foram avaliados dados <strong>de</strong> 9 pacientes. Destes 4 eram do sexofeminino, e 5 do sexo masculino, com ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 27 anos (± 2,8). A acuida<strong>de</strong>visual média, em LogMAR, com a utilização <strong>de</strong> óculos foi <strong>de</strong> 0,41. Através daanálise <strong>de</strong> regressão linear múltipla o astigmatismo irregular mostrou umacorrelação negativa com a acuida<strong>de</strong> visual corrigida com óculos (R 2 -0,894 ,p


AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DO ASTIGMATISMO IRREGULAR UTILIZANDO A ANÁLISE DE FOURIERABSTRACTQuantitative evaluation of irregular astigmatism with Fourier analysisPurpose: Evaluate the relation between irregular astigmatism and best spectaclecorrectedvisual acuity.Methods: Fifteen eyes of 9 patients with keratoconus were evaluated. Eyeswere inclu<strong>de</strong>d in the study only if visual acuity, corrected with a hard contactlens, was 20/20 or better, and less than 20/20 when corrected with spectacles.Refractive power on rings 2 through 5, measured with computerizedvi<strong>de</strong>okeratography were <strong>de</strong>composed, using Fourier series harmonic analysis.A weighted average was calculated by using the Stiles-Crawford effect on thebasis of the radius of each ring of each eye.Results: In the results of multiple regression analysis, the irregular astigmaticcomponent was significantly correlated with best spectacle-corrected visual acuity(R 2 0.894 , p


AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DO ASTIGMATISMO IRREGULAR UTILIZANDO A ANÁLISE DE FOURIERirregulares, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composta em uma série <strong>de</strong>componentes sinusoidais, que quando somadosponto a ponto, restituem a onda original. Hjordtalet al. (3) e Raasch (2) , utilizando a análise <strong>de</strong> Fourier,<strong>de</strong>screveram um método para a <strong>de</strong>composição doscomponentes do po<strong>de</strong>r corneano em po<strong>de</strong>r esférico,astigmatismo regular e irregular. Neste estudo éavaliada a relação entre estes componentes e aacuida<strong>de</strong> visual obtida com a utilização <strong>de</strong> óculos,utilizando a análise <strong>de</strong> Fourier.MÉTODOSForam avaliados 15 olhos <strong>de</strong> 9 pacientesportadores <strong>de</strong> ceratocone, atendidos no Setor <strong>de</strong>Córnea e Doenças Externas do Hospital dasClínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong><strong>de</strong> São Paulo. Todos os olhos apresentavamacuida<strong>de</strong> visual <strong>de</strong> 20/20 com a utilização <strong>de</strong> lente<strong>de</strong> contato rígida, e acuida<strong>de</strong> visual menor que20/20 com uso <strong>de</strong> óculos. Os pacientes foramdiagnosticados após o exame clínico e avaliaçãoda topografia corneana.Todos pacientes foram submetidos àavaliação da topografia corneana, utilizando oEyeSys 2000 (EyeSys Laboratories, Houston,EUA). Os exames foram repetidos até a obtenção<strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> satisfatória, focadae sem artefatos. Os dados numéricos, relativos asmiras 2 a 5, correspon<strong>de</strong>ntes aos 3mm centraisda córnea (4) foram utilizados para análise. Atravésda análise <strong>de</strong> Fourier, os valores correspon<strong>de</strong>ntesa estas miras, foram convertidos em componentestrigonométricos da seguinte forma:Fi (ó) = a 0 +c 1 cos(ó-á 1 ) + c 2 cos2(ó-á 2 )+ ... + c n cosn(ó-á n )On<strong>de</strong> a 0correspon<strong>de</strong> ao equivalenteesférico, c 1a <strong>de</strong>centração, c 2o astigmatismoregular, e c 3... no astigmatismo irregular (2,3) . Foicalculada a média pon<strong>de</strong>rada dos anéis utilizandoo efeito Stiles-Crawford baseado no raio <strong>de</strong> cadamira (2) . Para a análise matemática foi utilizado oMatlab versão 6.5 (MathWorks Inc.).A análise <strong>de</strong> regressão linear múltipla foirealizada para investigar a correlação entre aacuida<strong>de</strong> visual e as <strong>de</strong>mais variáveis analisadas.As variáveis testadas foram: ida<strong>de</strong>, astigmatismorefrativo, po<strong>de</strong>r esférico, astigmatismo regular eastigmatismo irregular. O método da eliminaçãoretrógrada foi utilizado para i<strong>de</strong>ntificação dasvariáveis explanatórias.RESULTADOSA ida<strong>de</strong> média dos pacientes foi <strong>de</strong> 27 anos(± 2,8). Quatro eram do sexo masculino e cinco dosexo feminino. A acuida<strong>de</strong> visual média em LogMAR,com a utilização <strong>de</strong> óculos, foi <strong>de</strong> 0,41. Utilizando ométodo da eliminação retrógrada, apenas oastigmatismo irregular mostrou uma correlaçãonegativa com a acuida<strong>de</strong> visual corrigida com óculos(Tabela 1). As <strong>de</strong>mais variáveis não mostraramcontribuição estatisticamente significante (Tabela1).A acuida<strong>de</strong> visual corrigida com óculos po<strong>de</strong> serprevista com a fórmula: acuida<strong>de</strong> visual = 0,928 -0,101 x astigmatismo irregular, obtida através daregressão linear simples, apresentando um valorR 2 ajustado <strong>de</strong> 0,833 (p


AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DO ASTIGMATISMO IRREGULAR UTILIZANDO A ANÁLISE DE FOURIERdiversos estudos para avaliação <strong>de</strong> olhos normais,após procedimentos cirúrgicos, e para a avaliação<strong>de</strong> exames complementares (5-8) .O EyeSys 2000 computa 360 pontos, emcada um dos 16 anéis. Para a utilização da análise<strong>de</strong> Fourier é necessário que todos os pontos do anelestudado sejam conhecidos. Neste estudo foramavaliados os dados do 2º ao 5º anel, referentesaproximadamente aos 3mm centrais da córnea (4) .As informações relativas ao anel mais interno foramexcluídas da análise <strong>de</strong>vido a falhas na acurácia daaquisição dos dados <strong>de</strong>ste anel (5) . Para cálculo damédia pon<strong>de</strong>rada dos anéis, foi utilizado o efeitoStiles-Crawford baseado no raio <strong>de</strong> cada mira,conforme <strong>de</strong>scrito em outros estudos (2) .Em relação à quantificação da <strong>de</strong>scentração,vale ressaltar que na topografia corneana as medidassão realizadas com referência ao eixovi<strong>de</strong>oceratográfico (3) . Este eixo não correspon<strong>de</strong> aoeixo visual, à linha pupilar ou ao centro geométricoda córnea. Ele é <strong>de</strong>finido como o ponto corneanoperpendicular ao eixo vi<strong>de</strong>oceratográfico, quando opaciente olha para o ponto <strong>de</strong> fixação (3) . A distânciana córnea, entre o eixo visual e o eixovi<strong>de</strong>oceratográfico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do ângulo kappa, do raio<strong>de</strong> curvatura corneano, e da profundida<strong>de</strong> da câmaraanterior (3) . Mesmo em córneas completamentenormais esta não coincidência entre os eixos induzalguma <strong>de</strong>scentração, cujo nível é maior quanto maisperifericamente observado. (3)Diferente do astigmatismo regular, oastigmatismo irregular não po<strong>de</strong> ser corrigido coma utilização <strong>de</strong> lentes esfero-cilíndricas, o queexplica a sua relação com a acuida<strong>de</strong> visualcorrigida com óculos. Conforme <strong>de</strong>monstrado pelaanálise <strong>de</strong> regressão linear, o astigmatismoirregular está inversamente relacionado com aacuida<strong>de</strong> visual corrigida com óculos,representando no presente estudo o seu principal<strong>de</strong>terminante. As <strong>de</strong>mais variáveis estudadas nãomostraram relação estatisticamente significante.CONCLUSÃOCom o interesse crescente na cirurgiarefrativa, e o refinamento das cirurgias intraoculares,torna-se cada vez mais evi<strong>de</strong>nte aimportância <strong>de</strong> medidas quantitativas do perfilcorneano.O astigmatismo irregular nos portadores<strong>de</strong> ceratocone está inversamente relacionado e éum dos principais <strong>de</strong>terminantes da melhoracuida<strong>de</strong> visual alcançada com óculos.Conforme já <strong>de</strong>scrito e relatado em outrosestudos (2,3) , o método utilizado permite a separaçãodos componentes do po<strong>de</strong>r refrativo corneano,sendo útil para estudo da óptica do olho emsituações em que se <strong>de</strong>seja a avaliaçãoquantitativa e isolada <strong>de</strong>stes componentes.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Murilo Barreto SouzaRua Alberto Pon<strong>de</strong>, 109, apt 503,Can<strong>de</strong>al. CEP 40280-690. Salvador-BAE-mail: murilobarreto@ig.com.brFontes <strong>de</strong> auxílio à pesquisa: nenhumBIBLIOGRAFIA1.Oshika T, Tomidokoro A, Maruo K, Tokunafa T,Miyata N. Quantitative evalution of irregularastigmatism by Fourier series harmonicanalysis of vi<strong>de</strong>okeratography data. InvestOphthalmol Vis Sci 1998;39(5):705-9.2.Raasch TW. Corneal topography and irregularastigmatism. Optom Vis Sci 1995; 72(11):809-15.3. Hjortdal JO, Erdmann L, Bek T. Fourier analysisof vi<strong>de</strong>okeratographic data. A tool for separationof spherical, regular astigmatic and irregularastigmatic corneal power components. OphtalPhysiol Opt 1995; 15(3):171-185.4. Bechara SJ. Precisão e reprodutibilida<strong>de</strong> datopografia corneana computadorizada [tese].São Paulo: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo; 1997.5. Me<strong>de</strong>iros AF, Zangwill LM, Bowd C, Bernd A,Weinreb RN. Fourier analysis of scanning laserpolarimetry measurements with variablecorneal compensation in glaucoma. InvestOphtalmol Vis Sci 2003;44(6):2606-12.6. Tomidokoro A, Oshika T, Amano S, Eguchi K,Eguchi S. Quantitative analysis of regular andirregular astigmatism induced by pterygium.Cornea 1999; 18(4):412-15.7. Oshika T. Quantitative evalution of corneal irregularastigmatism and wavefront aberrations. Cornea2000; 19 (supple 3):165-172.8. Hayashi K, Hayashi H, Oshika T, Hayashi F.Fourier analysis of irregular astigmatism aftertrabeculectomy. Ophthalmic Surg Lasers2000;31:94-99.108Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 105-108.


ANÚNCIOUSPFOTOLITO NAGRÁFICA109


Validação <strong>de</strong> versão em línguaportuguesa do questionárioNEI-RQL como instrumento <strong>de</strong>avaliação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidarelacionada à visão, emcandidatos a cirurgia refrativaLarissa Ma<strong>de</strong>ira Nunes*, Vitor Cortizo**, Paulo Schor***RESUMOObjetivo: Avaliar a fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong>, reprodutibilida<strong>de</strong> e a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> versão emlíngua portuguesa do questionário NEI-RQL (National Eye Institute - RefractiveError Quality of Life), como instrumento <strong>de</strong> avaliação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidarelacionada à visão em candidatos a cirurgia refrativa.Local: Setor <strong>de</strong> Cirurgia Refrativa do Departamento <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo - Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina - UNIFESP-EPMMétodos: Após a tradução do questionário para a língua portuguesa, foirealizada adaptação cultural do mesmo, através <strong>de</strong> estudo piloto com 20pacientes portadores <strong>de</strong> vício <strong>de</strong> refração; 122 pacientes(102 candidatos acirurgia refrativa e 20 pacientes “emétropes”) completaram a versão final doquestionário. Análise estatística consistiu na avaliação da consistência interna,reprodutibilida<strong>de</strong> e valida<strong>de</strong> do instrumento.Resultados: A consistência interna do questionário mostrou-se alta (a <strong>de</strong>Cronbach <strong>de</strong> 0,95 para o escore global, variando <strong>de</strong> 0,71 a 0,96 nas diversasescalas). Observou-se alta reprodutibilida<strong>de</strong> tanto para o escore global(coeficiente <strong>de</strong> correlação intraclasse CCI=0,93) como para as diversas escalasdo questionário (CCI variou <strong>de</strong> 0,86 a 1,00). A valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção foi<strong>de</strong>monstrada através <strong>de</strong> diferenças estatisticamente significantes entre osescores <strong>de</strong> todas as escalas, incluindo o escore global, quando comparadosos pacientes emétropes e os candidatos a cirurgia refrativa.(p


VALIDAÇÃO DE VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO QUESTIONÁRIO NEI-RQL COMO INSTRUMENTO DE...ABSTRACTValidation of a Portuguese-language version of the NEI-RQL(National Eye Institute Refractive Error Quality of Life) instrumentin refractive surgery candidatesPurpose: To evaluate the reliability and validity of a Portuguese-language versionof the NEI - RQL, a questionnaire <strong>de</strong>veloped to measure self-reported visionrelatedquality of life, in refractive surgery candidates.Setting: Refractive Surgery Sector – Fe<strong>de</strong>ral University of São PauloMethods: After the standard translation process, a pilot study with 20 individualswas performed for cultural adaptation. Then, the final version of the questionnairewas self-administered by 122 patients (102 refractive surgery candidates and20 emmetropic patients). Statistical analysis addressed internal consistency, testretestreliability and validity of the instrument.Results: Cronbach’s a was 0.95 for the overall scale, and ranged from 0.71 to0.96 for the NEI-RQL scales, indicating high internal consistency. The test-retestreliability <strong>de</strong>monstrated high reproducibility for the overall scale (intraclasscorrelation coefficient ICC=0.93) and for all the scales(ICC ranged from 0.86 to1.00). Construct validity was <strong>de</strong>monstrated by statistically significant differencesbetween the scores of all scales when compared the emmetropic patients withthe refractive surgery candidates(p< 0.01;Mann-Whitney test).Conclusions: The Portuguese-language version of the NEI-RQL is reliable andvalid for assessing vision-related quality of life of refractive surgery candidates.Key-words: questionnaire, quality of life, refractive surgeryINTRODUÇÃODurante muitos anos, o sucesso da cirurgiarefrativa foi avaliado por parâmetrospuramente clínicos, como acuida<strong>de</strong> visual,equivalente esférico, e ganho ou perda <strong>de</strong> linhas<strong>de</strong> visão. 1 Profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, em geral,acreditavam que houvesse uma estreita ligaçãoentre medidas clínicas rotineiramente empregadase o bem-estar <strong>de</strong> seus pacientes. 2 Entretanto, aimportância <strong>de</strong> se incorporar a esta avaliação aperspectiva do próprio paciente em relação à suapatologia e ao tratamento médico ou cirúrgico damesma, tem sido amplamente reconhecida. 3Espera-se da cirurgia oftalmológica, e darefrativa, em especial, uma melhora não apenasda visão dos pacientes, mas <strong>de</strong> diversos aspectos<strong>de</strong> suas vidas relacionados a ela, nos campossocial, emocional, psicológico, físico, e <strong>de</strong> bemestargeral. 4 Para facilitar esta avaliação, tem sido<strong>de</strong>senvolvidos questionários, que envolvemperguntas agrupadas em domínios ou escalas,abrangendo aspectos específicos da função visuale da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida relacionada àvisão. 1,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12Existem apenas dois questionários<strong>de</strong>senvolvidos até o momento, ambos nos EstadosUnidos da América (EUA), para a avaliação daqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida relacionada à visão emportadores <strong>de</strong> erro refracional, o RSVP (“RefractiveStatus and Vision Profile”) 6 e o NEI-RQL (NationalEye Institute Refractive Error Quality of Life). 11,12Nosso objetivo no presente estudo foi avaliar afi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong>, reprodutibilida<strong>de</strong> e valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>versão em língua portuguesa do NEI-RQL, comoinstrumento <strong>de</strong> avaliação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidarelacionada à visão, em candidatos a cirurgiarefrativa.MÉTODOSO questionário NEI-RQL original, em línguainglesa, foi traduzido para a língua portuguesaRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 110-118.111


VALIDAÇÃO DE VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO QUESTIONÁRIO NEI-RQL COMO INSTRUMENTO DE...pelos autores do trabalho. Foi realizada então, apartir da versão em língua portuguesa, novatradução para a língua inglesa (traduçãoretrógrada) por outro profissional, comreconhecida experiência em ambas as línguas.Esta versão obtida em língua inglesa foi comparadaà versão original, pelos autores. Foi realizadoentão, estudo piloto para adaptação cultural doquestionário, com 20 pacientes candidatos acirurgia refrativa, no Setor <strong>de</strong> Cirurgia Refrativada Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo - UNIFESP-EPM, que além <strong>de</strong> completarem o questionário,foram solicitados a manifestar dúvidas oucomentários sobre questões que eventualmentenão tivessem sido bem compreendidas.A versão final do NEI-RQL em portuguêsfoi então auto-administrada por 102 pacientesportadores <strong>de</strong> erro refracional, candidatos acirurgia refrativa na referida instituição, entre marçoe agosto <strong>de</strong> 2002. Todos os pacientes do estudotinham pelo menos nível médio <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>,e apresentavam melhor acuida<strong>de</strong> visual corrigida(logMAR) <strong>de</strong> pelo menos 0,3 (20/40) no pior olho.Um outro grupo <strong>de</strong> pacientes, consi<strong>de</strong>radocomo controle, foi constituído por voluntários semhistória prévia <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> correção ou <strong>de</strong> doençaocular, e que apresentassem acuida<strong>de</strong> visual semcorreção (AV s/c) logMAR igual a 0,0 (20/20) emambos os olhos, grupo que <strong>de</strong>nominamos, paraefeitos práticos <strong>de</strong> avaliação neste estudo, <strong>de</strong>pacientes “emétropes”. Avaliação oftalmológicacompleta foi realizada apenas nos candidatos acirurgia refrativa, e dados clínicos e <strong>de</strong>mográficosforam obtidos diretamente dos prontuários dospacientes.Os resultados aqui apresentados referemseapenas aos dados obtidos com a versão finaldo questionário em língua portuguesa,administrada aos 122 pacientes citados acima.O questionário NEI-RQL consiste em 42questões, que são agrupadas em 13 escalas,incluindo: “niti<strong>de</strong>z <strong>de</strong> visão”, “expectativas”, “visão<strong>de</strong> perto”, “visão <strong>de</strong> longe”, “flutuação <strong>de</strong> visão”,“limitação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s”, “ofuscamento”,“sintomas”, “<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> correção”,“preocupação”, “correção subótima”, “aparência”e “satisfação com a correção”. O escore global écalculado através da média dos escores das 13escalas. A atribuição <strong>de</strong> escores em cada item éfeita <strong>de</strong> acordo com as normas <strong>de</strong>scritas pelosautores do questionário original, 13 sendo cada item,em última instância, pontuado <strong>de</strong> 0 a 100. Quantomais alta for a pontuação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada escala,melhor será a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida relacionada àescala em questão. É solicitado aos pacientes querespondam questões sobre ativida<strong>de</strong>s específicas,levando em consi<strong>de</strong>ração a correção queusualmente utilizam para realizar tais ativida<strong>de</strong>s.Os pacientes “emétropes” comparecerampara novo preenchimento do NEI-RQL, 7 a 10 diasapós a primeira aplicação do questionário, paraavaliação da reprodutibilida<strong>de</strong> do mesmo. Todosos participantes assinaram um termo <strong>de</strong>consentimento informado, aprovado pelo Comitê<strong>de</strong> Ética da UNIFESP.A análise estatística consistiu na avaliaçãoda consistência interna, reprodutibilida<strong>de</strong> evalida<strong>de</strong> do instrumento. A consistência interna foiavaliada através do alpha (a) <strong>de</strong> Cronbach,calculado para todas as escalas e para a escalaglobal. A reprodutibilida<strong>de</strong> foi analisada através <strong>de</strong>coeficientes <strong>de</strong> correlação intraclasse (CCI),calculados para todas as escalas, utilizando-se osdados obtidos da primeira e segunda aplicaçõesdo questionário aos pacientes “emétropes”.A valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção do questionáriobaseou-se na capacida<strong>de</strong> do mesmo <strong>de</strong> fazerdistinção, através <strong>de</strong> diferenças nos escores, entregrupos sabidamente diferentes clinicamente,utilizando-se para isto, testes não paramétricos,<strong>de</strong>vido à distribuição dos dados (Mann-Whitney).Os grupos utilizados para tal avaliação foram oscandidatos a cirurgia refrativa e o grupo <strong>de</strong>“emétropes”. O grupo <strong>de</strong> candidatos a cirurgia foiainda subdividido <strong>de</strong> acordo com a AV s/c no piorolho, em pacientes com AV logMAR ≤ 1,0 (≥ 20/200) e pacientes com AV > 1,0 (


VALIDAÇÃO DE VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO QUESTIONÁRIO NEI-RQL COMO INSTRUMENTO DE...Escala (nº <strong>de</strong> itens)Tabela 1Consistência interna das escalas do NEI-RQLCoeficiente a <strong>de</strong>CronbachNiti<strong>de</strong>z <strong>de</strong> visão (4) 0,77Expectativas (2) 0,96Visão <strong>de</strong> perto (4) 0,87Visão <strong>de</strong> longe (5) 0,88Flutuação <strong>de</strong> visão (2) 0,79Limitação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s (4) 0,85Ofuscamento (2) 0,83Sintomas (7) 0,81Dependência <strong>de</strong> correção (4) 0,79Preocupação (2) 0,96Correção subótima (2) 0,80Aparência (3) 0,71Satisfação com a correção (1)NAGlobal (42) 0,95NEI-RQL = National Eye Institute Refractive Error Qualityof Life; NA = não se aplicacujo menor valor obtido foi <strong>de</strong> 0,86, referente àescala “sintomas”. O CCI global do questionáriofoi <strong>de</strong> 0,93, tendo sido, os das <strong>de</strong>mais escalas,todos superiores a 0,90 (Tabela 2).A valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção do questionáriofoi avaliada comparando-se os escores obtidosentre grupos sabidamente diferentes em relaçãoà necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> correção visual. Em todasas escalas e na escala global o grupo <strong>de</strong> pacientes“emétropes” apresentou escores significantementemais altos (melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida) do que ogrupo <strong>de</strong> candidatos a cirurgia refrativa (Tabela3). As maiores diferenças nas médias dos escoresentre os grupos (diferença > 45, em escala <strong>de</strong> 0 a100) foram observadas para as escalas“expectativas”, “limitação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s”,“<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> correção”, “preocupação”,“aparência” e “satisfação com a correção”.Os grupos mostraram-se homogêneos emrelação a características <strong>de</strong>mográficas, como sexo,ida<strong>de</strong> e escolarida<strong>de</strong>. (Tabela 4). Os pacientescandidatos a cirurgia refrativa foram subdivididosem dois grupos, <strong>de</strong> acordo com a AV s/c do piorolho(AV logMAR ≤ 1,0, ou > 1,0). Observou-se queo grupo <strong>de</strong> pacientes com melhor AV s/c mostrouescores significantemente mais altos que os dogrupo com pior AV (Tabela 5), tanto na escalaglobal como nas escalas “expectativas”, “limitação<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s” e “<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> correção”(p


VALIDAÇÃO DE VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO QUESTIONÁRIO NEI-RQL COMO INSTRUMENTO DE...Tabela 3Valida<strong>de</strong> das escalas do NEI-RQLGrupoEscala Emétropes CCR Teste <strong>de</strong>Mann-WhitneyMédia (DP)Média (DP)Mínimo / MáximoMínimo / MáximoNiti<strong>de</strong>z <strong>de</strong> visão 99,2 (2,6) 77,2 (21,4)91,7 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Expectativas 100,0 (0,0) 9,3 (18,9)100,0 / 100,0 0,0 / 75,0 p < 0,001 *Visão <strong>de</strong> perto 98,1 (4,1) 73,5 (22,1)87,5 / 100,0 18,8 / 100,0 p < 0,001 *Visão <strong>de</strong> longe 97,9 (3,9) 70,0 (23,8)88,3 / 100,0 5,0 / 100,0 p < 0,001 *Flutuação <strong>de</strong> visão 98,8 (3,8) 60,9 (29,8)87,5 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Limitação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s 100,0 (0,0) 51,8 (28,7)100,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Ofuscamento 94,4 (13,7) 65,8 (31,0)50,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Sintomas 86,8 (12,4) 73,7 (19,7)57,1 / 100,0 25,0 / 100,0 p = 0,004 *Dependência <strong>de</strong> correção 92,5 (15,9) 34,2 (24,2)50,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Preocupação 75,6 (26,1) 21,3 (26,9)25,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Correção sub-ótima 100,0 (0,0) 76,2 (31,1)100,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Aparência 100,0 (0,0) 40,5 (27,3)100,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Satisfação com a correção 100,0 (0,0) 53,9 (27,8)100,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p < 0,001 *Global 95,6 (3,6) 54,5 (13,8)88,7 / 100,0 17,2 / 81,5 p < 0,001 *NEI-RQL = National Eye Institute Refractive Error Quality of Life; CCR = candidatos a cirurgia refrativa; DP = <strong>de</strong>svio padrão; * =diferença estatisticamente significante114Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 110-118.


VALIDAÇÃO DE VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO QUESTIONÁRIO NEI-RQL COMO INSTRUMENTO DE...Tabela 4Características <strong>de</strong>mográficas dos pacientes “emétropes” e candidatos a cirurgia refrativaGrupoDados Demográficos Emétropes CCR qui-quadradon (%) n (%)Sexo Feminino 11 (55,0) 57 (55,9) p = 0,862Masculino 9 (45,0) 45 (44,1)Ida<strong>de</strong> < 40 anos 15 (75,0) 84 (82,4) p = 0,648≥ 40 anos 5 (25,0) 18 (17,6)Nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> Superior comp./incomp. 10 (50,0) 52 (51,5) p = 0,902Nível médio 10 (50,0) 49 (48,5)CCR = candidatos a cirurgia refrativa; Superior comp./incomp. = nível superior completo ou incompletoTesterecomendada a tradução e adaptação cultural dosinstrumentos, seguindo padrões préestabelecidos,e posterior validação dos mesmos,antes <strong>de</strong> seu uso em larga escala. 17,18,19A fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> ou confiabilida<strong>de</strong> da nossaversão em língua portuguesa do NEI-RQL foiavaliada através da consistência interna, e do teste<strong>de</strong> reprodutibilida<strong>de</strong>. A consistência interna foiavaliada através do coeficiente α <strong>de</strong> Cronbach. Estecoeficiente me<strong>de</strong> a correlação existente entre ositens ou questões que compõem uma mesmaescala, que <strong>de</strong>ve ser alta, visto que, em últimainstância, estes itens avaliam o mesmo domínio.Por exemplo, os itens que compõem a escala “visão<strong>de</strong> longe” <strong>de</strong>vem apresentar boa correlação entresi, caso contrário, esta escala não apresentaria boaconsistência interna e por conseguinte, nãoproporcionaria resultados confiáveis. Paracomparação entre grupos, o valor <strong>de</strong> αconsi<strong>de</strong>rado satisfatório é <strong>de</strong> pelo menos 0,70. 20Observamos em nosso estudo,consistência interna alta, tanto para o escoreglobal (α=0,95), como para as diversasescalas(Tabela 1), tendo sido inclusive verificadosvalores superiores aos relatados em trabalhos como questionário original, 12,21 e com o RSVP, 6,21 outroquestionário americano que avalia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida relacionada à visão em portadores <strong>de</strong> errorefracional.A reprodutibilida<strong>de</strong> (Tabela 2), avaliadaatravés <strong>de</strong> CCI, entre as duas aplicações doquestionário ao grupo <strong>de</strong> emétropes, mostrou-sealta (CCI global=0,93), como era <strong>de</strong> se esperar,visto que não <strong>de</strong>veriam ocorrer mudanças nacondição visual <strong>de</strong>stes pacientes, em um curtoespaço <strong>de</strong> tempo(7 a 10 dias). É possível que areprodutibilida<strong>de</strong> por nós verificada, tenha sidomaior do que a relatada em estudos recentesenvolvendo o NEI-RQL original 12,21 pelo fato <strong>de</strong>termos avaliado apenas os pacientes emétropes,embora acreditemos que a reprodutibilida<strong>de</strong> emportadores <strong>de</strong> vício <strong>de</strong> refração também seja alta,com foi <strong>de</strong>monstrado pelos referidos trabalhos. 12,21Para se atestar a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umquestionário, <strong>de</strong>ve-se respon<strong>de</strong>r à seguintepergunta: este questionário cumpre os objetivos aque se propõe, isto é, ele realmente avalia o queele foi <strong>de</strong>senvolvido para avaliar? 2,14 Uma dasformas <strong>de</strong> se verificar a valida<strong>de</strong> é examinar comoas medidas do questionário se comportam, frentea suposições teoricamente lógicas(valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>construção). 2Em outras palavras, o questionário<strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> diferenciar, através <strong>de</strong> seusescores, grupos sabidamente diferentes. Porexemplo, ao se comparar o grupo <strong>de</strong> portadores<strong>de</strong> erro refracional candidatos a cirurgia refrativa,com o grupo <strong>de</strong> voluntários emétropes(Tabela 3),seria <strong>de</strong> se esperar, como realmente ocorreu, queos emétropes apresentassem escoressignificantemente mais altos(melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida), caso contrário, o instrumento não seriaconsi<strong>de</strong>rado válido para mensurar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida relacionada à visão. Estes dois gruposmostraram-se homogêneos em relação a dadosRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 110-118.115


VALIDAÇÃO DE VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO QUESTIONÁRIO NEI-RQL COMO INSTRUMENTO DE...Tabela 5Valida<strong>de</strong> das escalas do NEI-RQLAV s/c no pior olho (logMAR)Escala £ 1,0 (n = 45) > 1,0 (n = 57)Teste <strong>de</strong>Média (DP) Média (DP) Mann-WhitneyMínimo / MáximoMínimo / MáximoNiti<strong>de</strong>z <strong>de</strong> visão 78,7 (21,9) 76,1 (21,1)0,0 / 100,0 20,8 / 100,0 p = 0,397Expectativas 13,9 (22,3) 5,7 (15,0)0,0 / 75,0 0,0 / 50,0 p = 0,033 *Visão <strong>de</strong> longe 74,2 (21,4) 73,0 (22,8)25,0 / 100,0 18,7 / 100,0 p = 0,898Visão <strong>de</strong> perto 71,8 (24,3) 68,6 (23,5)16,7 / 100,0 5,0 / 100,0 p = 0,434Flutuação <strong>de</strong> visão 65,3 (30,7) 57,5 (28,9)0,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p = 0,192Limitação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s 60,0 (27,0) 45,3 (28,5)18,7 / 100,0 0,0 / 100,0 p = 0,015 *Ofuscamento 68,6 (29,4) 63,6 (32,3)12,5 / 100,0 0,0 / 100,0 p = 0,410Sintomas 77,2 (17,2) 70,9 (21,2)35,7 / 100,0 25,0 / 100,0 p = 0,135Dependência <strong>de</strong> correção 41,4 (22,1) 28,6 (24,4)8,3 / 75,0 0,0 / 100,0 p = 0,003 *Preocupação 28,1 (31,3) 16,0 (21,6)0,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p = 0,162Correção subótima 76,9 (31,2) 75,7 (31,3)0,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p = 0,867Aparência 41,9 (27,8) 39,4 (27,1)0,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p = 0,652Satisfação com correção 58,2 (28,5) 50,5 (27,0)0,0 / 100,0 0,0 / 100,0 p = 0,167Global 58,2 (14,4) 51,6 (12,6)26,5 / 81,5 17,2 / 77,9 p = 0,040 *NEI-RQL = National Eye Institute Refractive Error Quality of Life; * = diferença estatisticamente significante; DP = <strong>de</strong>svio padrão;AV s/c = acuida<strong>de</strong> visual sem correção116Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 110-118.


VALIDAÇÃO DE VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO QUESTIONÁRIO NEI-RQL COMO INSTRUMENTO DE...<strong>de</strong>mográficos <strong>de</strong> sexo, ida<strong>de</strong> e escolarida<strong>de</strong>(Tabela 4), o que reforça a idéia <strong>de</strong> que asdiferenças encontradas nos escores <strong>de</strong>vem seratribuídas, exclusivamente, à diferença nacondição visual dos pacientes.Ainda como parte da avaliação da valida<strong>de</strong><strong>de</strong> construção do instrumento, subdividimos oscandidatos a cirurgia refrativa em grupos, segundoa AV s/c(AV logMAR s/c pior olho até 1,0 e AVlogMAR s/c pior olho >1,0). Observamos que ospacientes com pior AV s/c apresentaram escoressignificantemente mais baixos(qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidapior) tanto na escala global, como nas escalas“expectativas”, “limitação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s” e“<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> correção”. Já em outras escalasnão se observou diferença significante, visto quenão se espera, por exemplo, que a satisfação coma aparência <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> óculos, varie conformesua AV s/c, ou que seus sintomas sejam mais oumenos intensos, pelo fato <strong>de</strong> a AV s/c ser maiorou menor.Observamos correlação positivaestatisticamente significante entre o escore globaldo questionário e o escore da escala satisfaçãocom correção. Estudos com outro questionáriorelataram que a satisfação dos pacientesapresentava-se mais fortemente correlacionada aoescore global do que às medidas clínicasconvencionais(AV s/c, equivalente esférico). 6Um dos objetivos dos questionários queavaliam qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em relação à visão, emcandidatos a cirurgia refrativa, é verificar asensibilida<strong>de</strong> dos mesmos para <strong>de</strong>tectar mudançasnos resultados, após cirurgia, bem como avaliarpossível valor do questionário pré-operatório empredizer a satisfação pós-operatória, auxiliando<strong>de</strong>sta forma, a seleção <strong>de</strong> bons candidatos acirurgia. Mudanças significantes nas escalas doNEI-RQL e do RSVP após cirurgia refrativa jáestão bem documentadas. 3,22 Estudos <strong>de</strong>stanatureza realizados com nossa versão doquestionário estão em fase <strong>de</strong> análise.Encontramos pouquíssimos trabalhos naliteratura nacional, em <strong>Oftalmologia</strong>, envolvendoquestionários e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida; em nenhum<strong>de</strong>les, os candidatos a cirurgia refrativa forampopulação alvo do estudo. 23,24,25A recenteintrodução <strong>de</strong> novas tecnologias, como aaberrometria e a cirurgia personalizada, nodia-a-dia da cirurgia refrativa, vem reforçar anecessida<strong>de</strong> da avaliação dos resultados sob oponto <strong>de</strong> vista dos pacientes, para que se possater idéia real <strong>de</strong> quanto essa nova tecnologia, naprática, po<strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong>visão dos mesmos.Nossa versão em língua portuguesa doNEI-RQL mostrou-se fi<strong>de</strong>digna, reprodutível eválida para avaliação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidarelacionada à visão, em candidatos a cirurgiarefrativa. Esperamos que, mediante resultados <strong>de</strong>análises em andamento, possamos ampliar autilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste instrumento para a seleção <strong>de</strong> bonscandidatos a cirurgia refrativa.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1.Brunette I, Gresset J, Boivin JF, Boisjoly H, MakniH. Functional outcome and satisfaction afterphotorefractive keratectomy. Part 1:Development and Validation of a SurveyQuestionnaire. Ophthalmology 2000; 107(9):1783-892.Guyatt GH, Naylor CD, Juniper E, Heyland DK,Jaeschke R, Cook DJ. Users’ Gui<strong>de</strong>s to theMedical Literature: XII. How to Use ArticlesAbout Health-Related Quality of Life. JAMA1997; 277(15): 1232-373.Schein OD, Vitale S, Cassard SD, Steinberg EP.Patient outcomes of refractive surgery. Therefractive status and vision profile. J CataractRefract Surg 2001; 27: 665-6734.Freitas C, Oliveiros BM, Marques E, Leite EB.Effect of Photorefractive keratectomy On visualfunctioning and quality of life. 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ANÚNCIOMILLENNIUMFOTOLITO NAGRÁFICA119


Paresia do nervo oculomotorsecundária a aneurismaintracavernoso da artériacarótida internaRicardo F. R. Reis *, José A. <strong>de</strong> Freitas Munia **, Rubens Camargo Siqueira ***RESUMOObjetivo: Relatar um caso <strong>de</strong> paresia do III nervo craniano causado poraneurisma <strong>de</strong> artéria carótida interna intracavernosa. Traçar um perfil clínicoda patologia e alertar sobre a importância do conhecimento anatômico da regiãocavernosa e das propedêuticas clínica e complementar para o diagnósticopreciso e plano terapêutico.Local: Departamento <strong>de</strong> Estrabismo e Plástica Ocular do Hospital do Olho RioPreto – HORP e Centro Especializado <strong>de</strong> Retina e Vítreo – CERV/ HORP – SãoJosé do Rio Preto – SP - Brasil.Método: Relato <strong>de</strong> caso.Resultado: Paresia do nervo oculomotor direito secundária a aneurisma dacarótida interna <strong>de</strong>ntro do seio cavernoso.Conclusão: Paresia do terceiro par craniano po<strong>de</strong> ser conseqüente aaneurisma da carótida interna <strong>de</strong>ntro do seio cavernoso. Os exames <strong>de</strong> imagemsão importantes para a confirmação diagnóstica e plano terapêutico.Palavras Chaves: Paresia, oculomotor, aneurisma* Médico Resi<strong>de</strong>nte em <strong>Oftalmologia</strong> Geral.** Médico Diretor do Departamento <strong>de</strong> Estrabismo e Plástica Ocular - HORP.*** Médico Diretor do Centro Especializado <strong>de</strong> Retina e Vítreo – CERV. - <strong>de</strong> BeloHorizonte - MG e Hospital do Olho Rio Preto - HORP - São José do Rio Preto - SP120Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 120-123.


PARESIA DO NERVO OCULOMOTOR SECUNDÁRIA A ANEURISMA INTRACAVERNOSO DA ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNAABSTRACTOculomotor Nerve Paresis Caused by the IntracavernousAneurysms of the Internal Carotid Artery.Objective: To report a case of third nerve paresis caused by the intracavernousaneurysms of the internal carotid artery. To <strong>de</strong>terminate a clinical profile of thepathology and to alert on the importance of the anatomical knowledge of thecavernous sinus area and of the clinical and complementary exams necessaryfor the diagnosis and therapeutic.Place: Departamento <strong>de</strong> Estrabismo e Plástica Ocular do Hospital do Olho RioPreto – HORP e Centro Especializado <strong>de</strong> Retina e Vítreo – CERV/ HORP – SãoJosé do Rio Preto – SP - Brasil.Method: Case report.Result: To report a case of incomplete right third nerve paresis secondary theintracavernous aneurysms of the internal carotid artery .Conclusion: Third nerve paresis can be consequent the intracavernousaneurysms of the internal carotid artery. The image exams are important for thediagnosis confirmation and therapeutic.Key Words: Paresis, oculomotor, aneurysmINTRODUÇÃOOs aneurismas, <strong>de</strong> um modo geral, sãoáreas localizadas <strong>de</strong> dilatação vascular.Os aneurismas da artéria carótida internaintracavernosa são responsáveis por 3 a 5% <strong>de</strong> todosos aneurismas intracranianos. Quanto à etiologiasão micótico, traumático e idiopático. O tipo idiopático,mais comum, é dividido quanto ao tamanho –pequenos, gran<strong>de</strong>s e gigantes – e formato –fusiforme ou sacular. Acredita-se que sua origemesteja relacionada aos fatores vasculares estruturale hemodinâmico 2 . Os sinais e sintomas encontradossão divididos em: “compressivos e vasculares. 1,2,8,9 ”O conhecimento anatômico da região cavernosa éimprescindível para a compreensão dos achadosclínicos e suspeita diagnóstica 1,2,3,4,5,6 . Exames <strong>de</strong>imagem confirmam o diagnóstico e são fundamentaispara o plano terapêutico 1,10 .Lesão vascular expansiva intracavernosapo<strong>de</strong> cursar com graus variáveis <strong>de</strong> oftalmoplegia.portadora <strong>de</strong> hipertensão arterial sistêmica emcontrole. À ectoscopia, torcicolo vertical - mentoelevado - e horizontal - cabeça virada para o ombroesquerdo. Sem alterações pupilares. O exameda motilida<strong>de</strong> ocular <strong>de</strong>monstrou impossibilida<strong>de</strong>do OD ultrapassar a linha média, além <strong>de</strong> enormeesforço para fixar com este. Ao conseguir fixarcom o OD, o olho esquerdo (OE) <strong>de</strong>senvolviaexotropia e hipertropia. A intensida<strong>de</strong> da ptoseera grave, maior que 4 mm (figura 1). A melhorRELATO DE CASOFeminina, 73 anos, queixa-se: “<strong>de</strong> repente,o olho direito começou virar.” Há 4 meses, o olhodireito (OD) começou abduzir progressivamente,acompanhando ptose palpebral ipsilateral. EraFigura 1: Na tentativa <strong>de</strong> fixar com o olho direito parético, pela lei<strong>de</strong> Hering, o olho esquerdo sofre hipertropia e exotropia. Note aptose palpebral direita e a utilização da musculatura frontal paraabertura palpebral.Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 120-123.121


PARESIA DO NERVO OCULOMOTOR SECUNDÁRIA A ANEURISMA INTRACAVERNOSO DA ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNAFigura 2: Arteriografia evi<strong>de</strong>nciando dilatação aneurismática gran<strong>de</strong>parcialmente trombosada <strong>de</strong> artéria carótida interna direita, porçãointracavernosa.acuida<strong>de</strong> visual foi 20/50 em OD e movimento <strong>de</strong>mão em OE. Biomicroscopia mostrou catarataincipiente nos dois olhos e tonometria <strong>de</strong> 24/22mmHg, olhos direito e esquerdo, respectivamente.À fundoscopia foram encontrados sinais <strong>de</strong><strong>de</strong>generação macular relacionada à ida<strong>de</strong> emambos os olhos e cicatriz macular <strong>de</strong> corioretiniteno OE. A hipótese diagnóstica foi paresiaincompleta do III par direito secundária à lesãoexpansiva intracraniana. A tomografiacomputadorizada (TC) evi<strong>de</strong>nciou formaçãoaneurismática. A arteriografia e a imagem <strong>de</strong>ressonância magnética (IRM) confirmaram aformação aneurismática gran<strong>de</strong>, parcialmentetrombosada, <strong>de</strong> artéria carótida interna direita,porção intracavernosa (figura 2). A pacienterecusou tratamento cirúrgico, sendo acompanhadaclinicamente.DISCUSSÃOA literatura apresenta controvérsias emalgumas situações on<strong>de</strong> os termos paresia eparalisia são utilizados. O termo paralisia é usadopara casos em que a perda <strong>de</strong> força muscular étotal. Paresia <strong>de</strong>signa perda parcial da forçamuscular. Neste relato, trata-se <strong>de</strong> paresiaincompleta. Paresia, pois o olho apesar <strong>de</strong> nãoaduzir ativamente além da linha média – exten<strong>de</strong>dlimit - po<strong>de</strong> ser aduzido <strong>de</strong> forma passiva (compinça) e ultrapassar esta linha, sem restrições, além<strong>de</strong> o teste das forças geradas evi<strong>de</strong>nciar discretaforça muscular. Incompleta, pois não acomete todosos músculos inervados pelo III par, somente o retomedial e o levantador da pálpebra superior 11,12 .São causas mais comuns <strong>de</strong> paralisia <strong>de</strong>terceiro nervo adquiridas: in<strong>de</strong>terminadas,vascular, aneurismas, trauma encefálico,neoplasias e outras 12,13 .”A anatomia dos seios cavernosos (SC) écomplexa e variável. Os SC são um par <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>se irregulares espaços venosos, situadosanteriormente na fossa craniana média.Esten<strong>de</strong>m-se da parte petrosa do osso temporalaté a fissura orbital superior, mantendo relaçãoanatômica com o corpo do osso esfenói<strong>de</strong> ehipófise. Drenam a v. oftálmica e o seioesfenoparietal e por via seios petrosos, atinge asveias jugulares. Encerram e mantém relaçãoanatômica com a artéria carótida interna (ACI), oplexo simpático e os nervos oculomotor (III par),troclear (IV par) e as divisões oftálmica e maxilardo trigêmio (V par) 3,4,5,6 .Linskey et al. (1989) realizaram estudoretrospectivo(1976 a1989) e observaram todosos pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> aneurisma <strong>de</strong>artéria carótida interna intracavernoso (AACII) -37 pacientes, 44 aneurismas - , <strong>de</strong>ntro da era TCe IRM, com intuito <strong>de</strong> elucidar a patogênese, aclínica e os achados radiográficos <strong>de</strong>steaneurisma 2 .Abaixo relacionaremos principalmente este estudo – além <strong>de</strong> outros - ao nossocaso clínico.A ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>stapatologia varia entre 51 a 58 anos. As mulheressão mais afetadas quando comparadas aoshomens: “4,3:1 até 23,3:1.” Hipertensão arterialsistêmica é encontrada em 6 a 50% dospacientes 2 . Nosso relato confirma associaçãocom a ida<strong>de</strong> avançada, sexo feminino ehipertensão. Há, ainda, associação <strong>de</strong>steaneurisma com as síndromes <strong>de</strong> Marfan e Ehlers-Danlos, rins policísticos, coarctação <strong>de</strong> aorta eoutros 2 , o que não foi encontrado no nosso caso .Cerca <strong>de</strong> um terço dos pacientes eramassintomáticos, resultado <strong>de</strong> achado aci<strong>de</strong>ntaldo estudo <strong>de</strong> neuroimagem. Outro terço dosaneurismas foram associados à cefaléia 1,2 .Nossa paciente era sintomática, porém negoucefaléia.Os sinais e sintomas causados por estesaneurismas são compressivos e vasculares. Poucomais da meta<strong>de</strong> dos aneurismas estavamassociados com efeitos <strong>de</strong> massa, com achadosvariantes das Síndromes do Seio Cavernoso e daFissura Orbitária Superior 2,7 . No relato, o efeito <strong>de</strong>massa do aneurisma contra o III par seria o fatorcausal dos sinais clínicos. Os sintomas vascularestotalizaram 14% dos 44 aneurismas. A ruptura <strong>de</strong>aneurisma foi o achado mais freqüente. Po<strong>de</strong><strong>de</strong>terminar fístula carótico-cavernosa, hemorragia122Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 120-123.


PARESIA DO NERVO OCULOMOTOR SECUNDÁRIA A ANEURISMA INTRACAVERNOSO DA ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNAsub-aracnói<strong>de</strong> ou epistaxe 2 . Não houve qualquertipo <strong>de</strong> sintoma vascular no caso apresentado.Os AACII, quanto à etiologia, po<strong>de</strong>m sertraumáticos, micóticos e mais comumente,idiopáticos. Estes são divididos <strong>de</strong> acordo com amorfologia em sacular e fusiforme e <strong>de</strong> acordocom o tamanho em pequenos, os menores <strong>de</strong> 1cm, gran<strong>de</strong>s entre 1 e 2,5 cm e gigantes aquelessuperiores a 2,5 cm <strong>de</strong> diâmetro. A maioria sãosaculares (91%) e gran<strong>de</strong>s (48%) 2 , igualmente aorelato.A porção cavernosa da artéria carótidainterna é dividida anatomicamente em 4segmentos: o oftálmico, o genu anterior, ohorizontal e o genu posterior. Quarenta e setepor cento dos aneurismas (a maioria) estãolocalizados no genu anterior e <strong>de</strong>stes, a meta<strong>de</strong>estendia medialmente. Trombo intra-aneurismaou variações anatômicas da artéria oftálmicapo<strong>de</strong>m ser fatores limitantes para a TC e IRM<strong>de</strong>tectar e quantificar a extensão do aneurisma2,3,4,5,10, fato ocorrido em nosso caso. Porém, estesmétodos ainda são importantes. A IRM ainda éo exame inicial <strong>de</strong> escolha 2,10 . A TC e a IRMforam <strong>de</strong>cisivas para o diagnóstico <strong>de</strong>finitivo docaso. A arteriografia é o padrão ouro. Determinaa origem exata, a configuração e o curso doaneurisma. Para o sucesso do tratamentoinvasivo, a <strong>de</strong>terminação anatômica acurada éo ponto crítico.A paciente recusou submeter-se aotratamento do aneurisma, do estrabismo e daptose, sendo, então, acompanhada clinicamente.CONCLUSÃOMulheres <strong>de</strong> meia à avançada ida<strong>de</strong> ehipertensas são mais acometidas. Geralmente osAACII são idiopáticos, saculares e gran<strong>de</strong>s. Umaproporção consi<strong>de</strong>rável é assintomática. Quandosintomáticos, seu efeito compressivo causa grausvariáveis <strong>de</strong> paresia isolada ou simultânea <strong>de</strong>nervos cranianos. Raramente causam sintomasvasculares. O conhecimento anatômico do seiocavernoso e das estruturas vasculo-nervosas, como qual mantém relação, é imprescindível para acompreensão dos achados clínicos e suspeitadiagnóstica. A IRM é o procedimento <strong>de</strong> escolhainicial para o diagnóstico <strong>de</strong>finitivo. A arteriografiaé consi<strong>de</strong>rada o “gold standard” para o diagnósticoe <strong>de</strong>terminação anatômica específica, necessáriospara o plano cirúrgico.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Silva M N, Saeki N, Hirai S, Yamamura A.Unusual cranial nerve palsy caused bycavernous sinus aneurysms. Clinical andanatomical consi<strong>de</strong>rations reviewed. Surg.Neurol. 1999;52:143-49.2. Linskey M E, Sekhar L N, Hirsch Jr. W, Yonas H,Horton J A. Aneurysms of the intracavernouscarotid artery: clinical presentation,radiographic features and pathogenesis.Neurosurg. 1990;26(1):71-9.3. Burt A M Meninges, sistema ventricular evascularização. Neuroanatomia. GuanabaraKoogan 1998: 139-157 (cap 9).4. Carpenter M B Suprimento sanguíneo do sistemanervoso central. Fundamentos <strong>de</strong>Neuroanatomia.Editorial Médica Panamericana.4ª edição 1995: 410-434 (cap 14).5. Crossman A R, Neary D. Suprimento sanguíneodo sistema nervoso central. NeuroanatomiaIlustrado e Colorido. Guanabara Koogan.1997: 153-160 (cap 16)6. Harris S F, Rhoton Jr. A L. Anatomy of thecavernous sinus. A microsurgical study. J.Neurosurg. 1976; 45(2):169-180.7. Van Overbeeke J J, Jansen J J, Tulleken C A.The cavernous sinus syndrome. Ananatomical and clinical study. Clin. Neurol.Neurosurg. 1988; 90 (4):311-319.8. Baar, H W T, Blacjwood W, Meadons S P.Intracavernous carotid aneurysms. A clinicalpathologicalreport. Brain 1971;94(4):607-622.9. Lombardi G, Passerini A. Migliavacca F.Intracavernous aneurysms of the internalcarotid artery. A.R.J. 1963;89:361-371.10. McFadzean, R M, Teasdale E M. Computerizedtomography angiography in isolated thirdnerve palsies. J. Neurossurg 1998;88: 679-684.11. Jampolsky A. Management of Acquired (Adult)Muscle Palsies. In Symposium on Neuroophthalmology.Transactions of the NewOrleans Aca<strong>de</strong>my of Ophthalmology. St.Louis: Mosby. 1976;148.12. Díaz, J P, Dias, C S. Paresia e paralisiaoculomotora. Estrabismo. Livraria e EditoraSantos. 2002:289-358 (cap 7).13. Bradley, W R. F. Ray Jones, Brian R Y. Causesand prognosis in 4278 cases of paralysis ofthe oculomotor, trochelear and abducenscranial nerves. A.J.O. 1992;133:489-496.Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 120-123.123


Prevenção da cegueira porRetinopatia da Prematurida<strong>de</strong>em hospital da re<strong>de</strong> privadaem Porto AlegreJoão Borges Fortes Filho *RESUMOObjetivo: Avaliar a necessida<strong>de</strong> e a eficiência da fotocoagulação por diodolaser para estabilização da retinopatia da prematurida<strong>de</strong> em crianças recémnascidasem Centro <strong>de</strong> Neonatologia <strong>de</strong> um hospital da re<strong>de</strong> privada da cida<strong>de</strong><strong>de</strong> Porto Alegre no período entre 1998 e 2002.Instituição: Serviço <strong>de</strong> Retina do Hospital Banco <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Porto AlegreMétodos: 56 crianças recém-nascidas foram examinadas entre 1998 e 2002 paraprevenção da Retinopatia da Prematurida<strong>de</strong>. O exame foi realizado no próprioCentro <strong>de</strong> Neonatologia sob oftalmoscopia binocular indireta após dilatação daspupilas com associação <strong>de</strong> colírios Tropicamida 0,5% e Fenilefrina 2,5%.Resultados: Ficou constatado que, da população examinada <strong>de</strong> 56 crianças,foi necessário tratamento fotocoagulador por diodo laser em 11 <strong>de</strong>las,perfazendo um total aproximado <strong>de</strong> 20% <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tratamento.Todas as crianças foram tratadas quando se i<strong>de</strong>ntificou a retinopatia daprematurida<strong>de</strong> no estádio <strong>de</strong> ROP 3 – doença limiar. Em nenhum <strong>de</strong>stes 56pacientes foi necessário outro tratamento cirúrgico para <strong>de</strong>ter a retinopatia daprematurida<strong>de</strong>, bem como também não foi necessária uma segunda sessãodo tratamento pelo laser em nenhum dos 11 recém-nascidos tratados.*Professor <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFRGS. Mestre em <strong>Oftalmologia</strong> pela Escola Paulista <strong>de</strong>Medicina. Coor<strong>de</strong>nador do Curso <strong>de</strong> Especialização em <strong>Oftalmologia</strong> do Hospital Banco <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Porto Alegre.124Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 124-128.


PREVENÇÃO DA CEGUEIRA POR RETINOPATIA DA PREMATURIDADE EM HOSPITAL DA REDE PRIVADA...ABSTRACTPrevention of blindness for Retinopathy of Prematurityin a private hospital of Porto AlegrePurpose: To evaluate the treatment of the Retinopathy of Prematurity by thedio<strong>de</strong> laser in a private general hospital of Porto Alegre.Place: Serviço <strong>de</strong> Retina do Hospital Banco <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Porto Alegre.Methods: 56 newborn were examinated in a period between 1998 – 2002un<strong>de</strong>r indirect binocular ophthalmoscopy after pupil dilatation in both eyes toprevent retinopathy of prematurity progression.Results: Only 11 of the 56 children examinated (near 20%) showed necessityfor dio<strong>de</strong> laser treatment un<strong>de</strong>r general anesthesia to prevent retinopathy ofprematurity progression. All of the newborn treated were ROP 3 – thresholdand plus disease. None of these 56 patients showed progression for stage 4needing vitreo-retinal surgery as well as none of the 11 children treated by thelaser in stage 3 of the retinopathy of prematurity nee<strong>de</strong>d any new treatment.INTRODUÇÃOAretinopatia da prematurida<strong>de</strong> é umadoença vasoproliferativa secundária àvascularização ina<strong>de</strong>quada da retina queocorre em recém-nascidos prematuros. Nem todosos pacientes prematuros irão <strong>de</strong>senvolver estaenfermida<strong>de</strong>, pois existe gran<strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong> nosgraus <strong>de</strong> severida<strong>de</strong> da doença (1, 2). O exame <strong>de</strong>rotina realizado na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapia intensivaneonatal <strong>de</strong> todos os prematuros na faixa <strong>de</strong> risco(abaixo <strong>de</strong> 1500 gramas ao nascer e com ida<strong>de</strong>gestacional inferior a 32 semanas) é a únicapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar a doença daqueles comchances <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver as complicações finais eirreversíveis da perda total da visão por <strong>de</strong>scolamentotracional da retina. O tratamento a<strong>de</strong>quado e nomomento certo através da fotocoagulação pelo laserevitará a progressão da doença e a cegueirairreversível que se segue (2, 3).MÉTODOS56 crianças recém-nascidas foramavaliadas no Centro <strong>de</strong> Neonatologia <strong>de</strong> umhospital da re<strong>de</strong> privada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre,entre 1998 e 2002, tendo sido examinadas soboftalmoscopia binocular indireta após dilatação daspupilas. Seguia-se um mapeamento da retina eestadiamento da retinopatia em todos ospacientes. Os recém-nascidos com retinopatia noestádio 1, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos <strong>de</strong>mais fatores <strong>de</strong> riscopara cada caso como: estado geral da criança,necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanência em oxigenioterapiaetc., eram novamente examinados entre 2 a 3semanas até o final tempo <strong>de</strong> permanência noCentro <strong>de</strong> Neonatologia, quase sempre quandocompletavam 2000 gramas e estivessem comcondições clínicas estáveis para a alta dointensivismo. Pacientes com retinopatia no estádio2 eram seguidos semanalmente até a completaestabilização da retinopatia durante o tempo <strong>de</strong>permanência no berçário e, após, durante oprimeiro ano <strong>de</strong> vida. Pacientes com retinopatiano estádio 3 eram orientados para imediatotratamento pela fotocoagulação por diodo laseraplicado por oftalmoscopia binocular indireta sobanestesia geral e eram, posteriormente,acompanhados até a cicatrização do tratamentocom a involução completa da retinopatia e doingurgitamento vascular generalizado quecaracteriza a chamada doença “plus”. As criançastratadas pelo laser também foram acompanhadasevolutivamente durante o primeiro ano <strong>de</strong> vida.Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 124-128.125


PREVENÇÃO DA CEGUEIRA POR RETINOPATIA DA PREMATURIDADE EM HOSPITAL DA REDE PRIVADA...Fig. 1 A, B, C – Retinopatia no estádio 3: presença <strong>de</strong> proliferaçãofibrovascular retiniana ou extra-retiniana por sobre as áreas das cristaselevadas e doença vascular “plus” com hemorragias na periferia daretina.tratados. Todos os pacientes tratados pelo lasertiveram seus dois olhos tratados no mesmomomento.DISCUSSÃORESULTADOSFicou constatado que, da populaçãoexaminada <strong>de</strong> 56 crianças foi necessáriotratamento fotocoagulador por diodo laser em 11<strong>de</strong>las que atingiram o estádio 3, limiar com doençavascular “plus”, afetando tanto a periferia quantoo pólo posterior (Zona 1 – setor temporalespecialmente) perfazendo um total aproximado<strong>de</strong> 20% <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tratamento. Emnenhum <strong>de</strong>stes 56 pacientes foi necessário outrotratamento cirúrgico para <strong>de</strong>ter a retinopatia daprematurida<strong>de</strong>, bem como, também, não foinecessário uma segunda sessão do tratamentopelo laser em nenhum dos 11 recém-nascidosA i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sta doença emprematuros <strong>de</strong>veu-se a Terry que, em 1945,publicou 117 casos <strong>de</strong> cegueira observados entreprematuros sobreviventes em um serviço <strong>de</strong>Pediatria em Boston, USA, entre 1941 e 1945,chamando a doença <strong>de</strong> fibroplasia retrolenticular(4, 5). A partir <strong>de</strong>stes trabalhos iniciais a retinopatiada prematurida<strong>de</strong> teve duas fases epidêmicas:uma nos anos 50, on<strong>de</strong> o aparecimento da doençafoi atribuído ao uso intensivo do oxigênio nosberçários e, posteriormente, nos anos 70, quandoocorreu um gran<strong>de</strong> aumento no número <strong>de</strong> casos<strong>de</strong>sta doença <strong>de</strong>vido ao avanço tecnológico daneonatologia, que permitiu um maior número <strong>de</strong>prematuros sobreviventes exatamente <strong>de</strong>ntro dogrupo <strong>de</strong> risco mais elevado para o surgimento daretinopatia, ou seja: prematurida<strong>de</strong> extrema:recém-nascidos entre 500 a 900 gramas comida<strong>de</strong> gestacional entre 24 e 29 semanas (1).O conceito mo<strong>de</strong>rno do aparecimento daretinopatia é que esta ocorre por um problemamultifatorial diretamente relacionado com o grauda prematurida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada criança a saber: menor126Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2):124-128.


PREVENÇÃO DA CEGUEIRA POR RETINOPATIA DA PREMATURIDADE EM HOSPITAL DA REDE PRIVADA...Fig. 2 – Retinopatia no Estádio 3 com doença “plus” venosa que écaracterizada por um aumento anormal do calibre vascular em toda aretina <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a periferia po<strong>de</strong>ndo atingir o pólo posterior. A doença“plus” indica tendência à progressão da retinopatia.ida<strong>de</strong> gestacional leva a um menor peso ao nascere a uma maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecer aretinopatia. Vários fatores <strong>de</strong> risco têm sidopossível <strong>de</strong> serem i<strong>de</strong>ntificados como: aoxigenioterapia em altas concentrações por longoperíodo, as gestações múltiplas (atualmente emcrescimento <strong>de</strong>vido à ocorrência das fertilizações),a insuficiência pulmonar e cardíaca e a <strong>de</strong>bilitaçãogeral do estado físico da criança (6, 7).A Classificação Internacional daRetinopatia da Prematurida<strong>de</strong> (3, 4, 11, 14)preconiza o a<strong>de</strong>quado estadiamento dos pacientespara o posterior tratamento a saber:· estádio 1: isquemia periférica da retina epresença <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação entre a retinavascularizada e a retina isquêmica;· estádio 2: presença <strong>de</strong> uma crista elevada porsobre a região periférica da retina;· estádio 3: presença <strong>de</strong> proliferação fibrovascularretiniana ou extra-retiniana por sobre as áreasdas cristas elevadas (Fig. 1 A, B e C);· estádio 4: início <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolamento tracional parcialperiférico ou central da retina (estádios 4 A ou 4B) e, finalmente;· estádio 5: <strong>de</strong>scolamento total da retinacomplicado por proliferação <strong>de</strong> tecido fibroso oufibroplasia retrolenticular.O tratamento da retinopatia daprematurida<strong>de</strong> nos dias <strong>de</strong> hoje é eminentementecirúrgico, po<strong>de</strong>ndo ser feito tanto pela crioterapiaFig. 3 – Retinopatia no Estádio 3, doença limiar e doença vascular“plus” tratada pelo diodo laser.quanto pela fotocoagulação por laser argônio oupor diodo laser no estádio 3, ou através da cirurgia<strong>de</strong> retinopexia com introflexão escleral no estádio4 A ou 4 B, e eventualmente, pela cirurgia <strong>de</strong>vitrectomia via pars plana combinada comlensectomia no estádio 5 (3, 13, 15).O objetivo do tratamento no estádio 3 é aprevenção do <strong>de</strong>scolamento da retina e estáindicado quando as complicações da isquemia eda neovascularização se fazem presente naperiferia (quase sempre no setor temporal)associado à chamada doença “plus” que écaracterizada por um aumento anormal do calibrevascular venoso ou mesmo arteriolar em toda aretina (Fig. 2). A fotocoagulação na retinaperiférica po<strong>de</strong>rá ser feita com 400 a 600 impactos<strong>de</strong> laser na retina avascular po<strong>de</strong>ndo ser tratadostambém os espaços intervasculares presentes naretina consi<strong>de</strong>rada vascularizada com uma ou duasfileiras <strong>de</strong> laser nestes espaços (Fig. 3). Umnúmero maior <strong>de</strong> impactos po<strong>de</strong>rá ajudar a formarcatarata que é uma das complicações passíveis<strong>de</strong> ocorrer pós-tratamentos pelo laser.A literatura nos mostra que afotocoagulação da retina periférica no estádio 3reduz em até 50% a chance das complicaçõespiores dos estádios 4 e 5, mas em nossa casuísticanão ocorreu progressão em nenhum dos pacientestratados pelo laser durante mais <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>seguimento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros casos.Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 124-128.127


PREVENÇÃO DA CEGUEIRA POR RETINOPATIA DA PREMATURIDADE EM HOSPITAL DA REDE PRIVADA...Das 56 crianças examinadas foi necessáriotratamento fotocoagulador por diodo laser em 11,perfazendo cerca <strong>de</strong> 20% <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tratamento. Este número, que nos pareceu umpouco elevado numa primeira análise, po<strong>de</strong> serexplicado pela ausência neste hospital <strong>de</strong> umserviço organizado <strong>de</strong> atendimento e triagem paraa prevenção da retinopatia da prematurida<strong>de</strong>conforme tem sido mo<strong>de</strong>rnamente preconizado,ou seja: todos os prematuros nascidos com menos<strong>de</strong> 1500 gramas ou com menos <strong>de</strong> 32 semanas<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> gestacional <strong>de</strong>vem ser examinados na6ª semana pós-nascimento. Em muitas ocasiõesos exames iniciais foram feitos após a 6ª semana,quase sempre entre a 8ª e a 12ª semanas pósnascimento.No grupo <strong>de</strong> pacientes aqui estudadotambém não ocorreu nenhum caso <strong>de</strong> retinopatiada prematurida<strong>de</strong> em estádios 4 ou 5 quenecessitassem tratamento para <strong>de</strong>scolamento daretina, on<strong>de</strong> o prognóstico para evitar-se acegueira é muito reservado. Este resultado difereum pouco <strong>de</strong> outros publicados em nossa literaturaon<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> esperar cerca <strong>de</strong> 20% <strong>de</strong> recidivase evolução para uma situação <strong>de</strong> estádio 5,conforme estudos realizados em pacientes noEstado do Piauí (12, 13). Talvez diferentescaracterísticas populacionais regionais ouprecocida<strong>de</strong> da indicação e da realização dotratamento pela laser no estádio 3 ou ainda apequena casuística <strong>de</strong> apenas 11 pacientes pornós tratados aqui apresentada possam justificarestas diferenças.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Dr. João Borges Fortes FilhoHospital Banco <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Porto AlegreRua Eng. Walter Boehl, 285 – Bairro VilaIpiranga – Porto Alegre RS - CEP 91360-090Fone: (51) 3344-1972, Fax (51) 3347-2122E-mail: jbfortes@webflash.com.brREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Zin A. Retinopatia da prematurida<strong>de</strong> -Epi<strong>de</strong>miologia - Rev. Soc. Bras. Retina e Vítreo,6: 2003.2. Mota M. Retinopatia da prematurida<strong>de</strong> -Patogênese e história natural. Rev. Soc. Bras.Retina e Vítreo, 6: 2003.3. Moraes N S B. Fotocoagulação com laser naretinopatia da prematurida<strong>de</strong>. Rev. Soc. Bras.Retina e Vítreo, 6: 2003.4.Terry T L. Extreme prematurity and fibroblasticovergrowth of persistent vascular sheathbehind each crystalline lens. I – Preliminaryreport. Am. J. Ophthalmol., 25: 203-204, 1942.5.Terry T L. Fibroblastic overgrowth of persistenttunica vasculosa lentis in premature infants. II– Report of cases. Arch. Ophthalmol., 29: 36 -53, 1943.6.Graziano R M. Fatores <strong>de</strong> risco para a presença<strong>de</strong> retinopatia da prematurida<strong>de</strong>. Rev. Soc.Bras. Retina e Vítreo, 6: 2003.7.Alves M A S. Análise dos fatores <strong>de</strong> risco parao <strong>de</strong>senvolvimento da retinopatia daprematurida<strong>de</strong>. Rev. Bras. Oftalmol., 54 (10):735 – 749, 1995.8.Committee For The Classification OfRetinopathy Of Prematurity – The internationalclassification of retinopathy of prematurity.Arch. Ophthalmol., 102: 1130 – 1134, 1984.9.Committee for the classification of Retinopathyof Prematurity – The international classificationof retinopathy of prematurity. Pediatrics, 74:127 -133, 1984.10. Gonçalves JOR, Ávila M. Retinopatia daPrematurida<strong>de</strong> in Retina e Vítreo – Clínica ecirurgia. Ed. Roca, páginas 991 – 999, 2000.11.Gonçalves JOR. Retinopatia da prematurida<strong>de</strong>– Classificação. Rev. Soc. Bras. Retina e Vítreo,6: 2003.12.Liarth JCS, Gonçalves JOR, Gonçalves R A,Meneses E S, AGuiar A M. Retinopatia daPrematurida<strong>de</strong>: estudo epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong> 348pacientes. Arq. Bras. Oftalmol., 62 (4): 451,1999.13.Liarth JCS, Gonçalves JOR, Gonçalves RA,Meneses ES, Soares FM. Laser <strong>de</strong> diodo notratamento da retinopatia da prematurida<strong>de</strong>.Arq. Bras. Oftalmol., 62 (4): 454, 1999.14.Cunha R, Cunha M, Abreu M, Ferreira A.Retinopatia da prematurida<strong>de</strong> (fibroplastiaretro-cristaliniana) Consi<strong>de</strong>rações gerais eclassificação. Arq. Bras. Oftalomol., 47 (3): 99– 102, 1984.15.Moura RAM. Retinopatia da prematurida<strong>de</strong> –Conceitos e princípios cirúrgicos nos estágios4A, 4B e 5. Rev. Soc. Bras. Retina e Vítreo, 6:2003.128Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 124-128.


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Nível <strong>de</strong> conhecimento<strong>de</strong> pacientes diabéticossobre a retinopatia diabéticaAugusto Adam Netto*; Sabrina <strong>de</strong> Pellegrini Trinda<strong>de</strong>**RESUMOObjetivo: Avaliar o grau <strong>de</strong> conhecimento sobre retinopatia diabética (RD) entre pacientesdiabéticos <strong>de</strong> um hospital terciário, correlacionando-o com ida<strong>de</strong>, escolarida<strong>de</strong>, presença<strong>de</strong> doença ocular e tempo <strong>de</strong> diagnóstico do diabetes mellitus (DM) dos pacientesentrevistados.Local: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, Florianópolis (SC), Brasil.Métodos: Foi realizado um estudo prospectivo com 71 pacientes do Grupo <strong>de</strong> Apoioaos Diabéticos (GAD) através <strong>de</strong> uma entrevista realizada nos meses <strong>de</strong> novembro e<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2001. O questionário utilizado resgatava dados <strong>de</strong>mográficos básicos,assim como o nível <strong>de</strong> conhecimento dos participantes sobre a RD.Resultados: Apenas um entrevistado relatou que o DM não causa danos na retina.Noventa e três por cento (93,0%) dos pacientes reconheceram a cegueira comoconseqüência do DM. Quanto a reversibilida<strong>de</strong> da cegueira causada pelo DM, 73,2%consi<strong>de</strong>raram o dano irreversível, 8,5% afirmaram ser reversível e 11,3% não souberamopinar. Sessenta e nove por cento (69,0%) dos participantes conheciam formas <strong>de</strong>prevenção da RD e 31,0% ignoravam o assunto. A relação entre tratamento a<strong>de</strong>quadodo DM e prevenção da RD foi reconhecida por 90,1% da amostra. A maioria dosentrevistados, isto é, 70,4% não conheciam nenhuma forma <strong>de</strong> tratamento para RD.Os médicos mencionados como responsáveis pelo esclarecimento da relação entre oDM com os olhos foram: o endocrinologista (43,7%); o oftalmologista (15,5%); ambos(4,21%); 36,6% relataram não terem sido informados por médico algum sobre a RD.Conclusão: A gran<strong>de</strong> maioria dos pacientes diabéticos reconhece que o DM causacomplicações oculares. O conhecimento sobre a prevenção da RD é inversamenteproporcional à ida<strong>de</strong> e diretamente proporcional ao grau <strong>de</strong> instrução e à presença <strong>de</strong>doença ocular. O conhecimento <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> tratamento da RD é diretamenteproporcional ao tempo <strong>de</strong> diagnóstico do DM e à presença <strong>de</strong> doença ocular. Partesignificativa dos pacientes diabéticos não recebe informações sobre RD <strong>de</strong> profissionaismédicos.Palavras-chave: retinopatia diabética, diabetes mellitus, prevenção primária, retina.*Professor Titular da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Departamento <strong>de</strong> Clínica Cirúrgica do Centro <strong>de</strong> Ciências daSaú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (UFSC). Chefe do Serviço <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Hospital Universitárioda UFSC. Coor<strong>de</strong>nador da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Módulo <strong>de</strong> Sistemas Sensoriais do Curso <strong>de</strong> Graduação emMedicina da Universida<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong> Santa Catarina (UNISUL).**Acadêmica do 6°. ano do Curso <strong>de</strong> Graduação em Medicina da UFSC.130Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.


NÍVEL DE CONHECIMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS SOBRE A RETINOPATIA DIABÉTICAABSTRACTLevel of awareness about diabetic retinopathy among diabetic patientsObjective: To assess the level of awareness about diabetic retinopathy (DR)among diabetic patients from a hospital, correlating this knowledge with age,level of education, presence of ocular disease and time of diagnosis of diabetesmellitus (DM).Place: Fe<strong>de</strong>ral University of Santa Catarina, Florianópolis (SC), Brazil.Methods: A prospective study with 71 patients from a diabetes group wasconducted. The participants were interviewed in November and December of2001. The questionnaire tried to assess basic <strong>de</strong>mographic <strong>de</strong>tails and the levelof awareness about DR of the patients.Results: Just one participant affirmed that DM doesn’t cause damage to vision.Ninety three percent (93,0%) of the patients recognized blindness as aconsequence of DM; 73,2% consi<strong>de</strong>red it irreversible, 8,5% consi<strong>de</strong>red itreversible and 11,3% didn’t know it. Sixty nine percent (69,0%)of the patientsknew kinds of DR prevention and 31,0% didn’t know about this issue. The relationabout correct treatment and DR prevention was recognized by 90,1% of thesample. Most of the participants, 70,4% didn’t know any kind of DR treatment.The doctors mentioned as responsible for the explanation about the relationbetween DM and the eyes were: The endocrinologist (43,7%); the ophthalmologist(15,5%); both (4,21%); 36,6% of people related having received no informationabout this by any doctor.Conclusions: Most of diabetic patients recognize that DM causes ocularcomplications. The participants with higher levels of education, younger peopleand people having ocular disease were more likely to have a betterun<strong>de</strong>rstanding about DR prevention. The knowledge about DR treatment wascorrelated with the presence of ocular disease and longer time of DM diagnosis.A significant part of the diabetic patients don’t receive information about DR bymedical professionals.Keywords: diabetic retinopathy, diabetes mellitus, primary prevention, retina.INTRODUÇÃOOdiabetes mellitus (DM) é uma entida<strong>de</strong>heterogênea no que diz respeito aosseus fatores etiológicos, manifestaçõesclínicas e complicações. 1, 2É caracterizado poralterações metabólicas marcadas não somentepela hiperglicemia, como também por distúrbiosno metabolismo das proteínas e lipídios. 2A morbida<strong>de</strong> do DM está relacionada comas complicações da doença, sejam elas <strong>de</strong> origemvascular ou neuropática. 1,2 Tais complicações sãocada vez mais freqüentes <strong>de</strong>vido a maior sobrevidados pacientes diabéticos. 2Entre as complicações vasculares está aretinopatia diabética (RD), uma das maiorescausas <strong>de</strong> cegueira no mundo e a principal na faixaetária dos 20 aos 50 anos. 3Estima-se que suaprevalência seja <strong>de</strong> 40% em pacientes com DMtipo 1 e <strong>de</strong> 20% em pacientes com DM tipo 2. Entreos fatores <strong>de</strong> risco conhecidos estão a duraçãodo DM e o controle metabólico, que quandoa<strong>de</strong>quado po<strong>de</strong> atrasar o <strong>de</strong>senvolvimento daalteração retiniana por alguns anos. 4No que diz respeito à RD sabe-se que oexame oftalmológico em tempo a<strong>de</strong>quado éfundamental. A sua realização é preconizada comorotina em todo paciente diabético com sua freqüênciaRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.131


NÍVEL DE CONHECIMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS SOBRE A RETINOPATIA DIABÉTICAsendo <strong>de</strong>terminada pelo tipo <strong>de</strong> DM e grau <strong>de</strong>anormalida<strong>de</strong> retiniana, entre outros fatores. 3Um estudo realizado em Melbourne(Austrália) <strong>de</strong>monstrou que cerca da meta<strong>de</strong> dosadultos diabéticos estudados não estavamrecebendo o “screening” a<strong>de</strong>quado para RD,embora mais <strong>de</strong> 80% dos médicos generalistasrelatassem o encaminhamento a um serviço <strong>de</strong>oftalmologia. 5A eficácia do tratamento para DM comcontrole a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> complicações a curto e longoprazo não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas da intervençãomédica. O conhecimento, assim como as crençasdo paciente sobre sua condição, influenciam oprocesso. 6 A educação <strong>de</strong> pacientes diabéticos eseus parentes constitui um ponto fundamental paraencorajar “screenings” mais regulares para RD. 5Basch et al. 7<strong>de</strong>monstraram o importantepapel do paciente na prevenção e tratamento daRD. Em seu estudo, conseguiram aumentar a taxa<strong>de</strong> exames oftalmológicos através <strong>de</strong> umprograma educacional que esclarecia os pacientessobre a RD e sobre a importância <strong>de</strong> examesperiódicos com um especialista.A informação a respeito do conhecimentoe atitu<strong>de</strong>s tomadas pela população no que se referea doenças oculares possui um gran<strong>de</strong> significadopara a prevenção <strong>de</strong>ntro da oftalmologia. Apesardisso, poucos dados estão disponíveis nesta área. 8Desta forma, este trabalho se propôs aavaliar o grau <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> pacientesdiabéticos sobre a retinopatia diabética.MÉTODOSFoi realizado um estudo prospectivo com71 pacientes do Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos(GAD) do Hospital Governador Celso Ramos(HGCR), <strong>de</strong> Florianópolis (SC).Foram realizadas entrevistas com ospacientes (todos diabéticos) por uma acadêmicado curso <strong>de</strong> graduação em medicina daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina. Aentrevista tinha como objetivo resgatar dados<strong>de</strong>mográficos básicos, além <strong>de</strong> apurar o nível <strong>de</strong>conhecimento dos entrevistados sobre aretinopatia diabética.Os dados foram colhidos nos meses <strong>de</strong>novembro e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2001.Para o levantamento e organização dosdados foi utilizado o programa <strong>de</strong> análise estatísticaEpi-Info ® .RESULTADOSForam entrevistados 71 pacientes. Destes,47 (66,2%) eram mulheres e 24 (33,8%) eramhomens. Onze pacientes (15,5%) tinham ida<strong>de</strong>inferior a 40 anos; 21 (29,6%) eram maiores <strong>de</strong> 60anos e a maioria, 54,9% tinha entre 40 e 60 anos(Tabela 1).Tabela 1Entrevistados segundo a faixa etáriaFAIXA ETÁRIA N° %Inferior a 40 anos 11 15,540 – 60 anos 39 54,9Superior a 60 anos 21 29,6TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Quanto ao grau <strong>de</strong> instrução, 5entrevistados (7,0%) eram analfabetos; apenas 2(2,8%) tinham curso superior; a gran<strong>de</strong> maioria,70,4% (50) cursaram primeiro grau incompleto e14 (19,8%) cursaram 1° grau completo ou 2° grau(Tabela 2).Tabela 2Entrevistados segundo o grau <strong>de</strong> instruçãoGRAU DE INSTRUÇÃO N° %Analfabetos 5 7,01º grau incompleto 50 70,41º grau completo/ 2º grau 14 19,8Curso superior 2 2,8TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos entrevistados (36ou 50,7%) eram moradores <strong>de</strong> Florianópolis; 13pacientes (18,3%) eram proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> SãoJosé; 7 (9,9%) <strong>de</strong> Biguaçu ; 5 (7,0%) <strong>de</strong> Palhoçae os <strong>de</strong>mais moravam em outras localida<strong>de</strong>s(Tabela 3).132Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.


NÍVEL DE CONHECIMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS SOBRE A RETINOPATIA DIABÉTICATabela 3Entrevistados segundo a procedênciaCIDADE N° %Florianópolis 36 50,7São José 13 18,3Biguaçu 7 9,9Palhoça 5 7,0Outras 10 14,1TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Vinte e cinco pacientes (35,2%) haviam<strong>de</strong>scoberto que tinham DM nos últimos três anos;24 pacientes (33,8%) sabiam do diagnóstico hámais <strong>de</strong> três anos e menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos e osoutros 22 (31%) estavam cientes da doença hámais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos (Tabela 4).Tabela 4Tempo <strong>de</strong> evolução do DM dos entrevistadosTEMPO DE EVOLUÇÃO (ANOS) N° %0 – 3 25 35,24 – 10 24 33,8Mais <strong>de</strong> 10 22 31,0TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.A maioria dos entrevistados (54 ou 76,1%)referiu ser portador <strong>de</strong> DM tipo 2; 13 (18,3%)referiram ter DM tipo 1 e 4 pacientes (5,6%) nãosouberam classificar sua doença (Tabela 5).Em relação ao tipo <strong>de</strong> droga utilizado parao controle do DM, três pacientes (4,2%) relataramnão fazer uso <strong>de</strong> tratamento farmacológico,controlando os níveis glicêmicos apenas com dietaapropriada. Os usuários <strong>de</strong> hipoglicemiante oralcorrespon<strong>de</strong>ram a 40,8% (29 pacientes). Trinta equatro entrevistados (47,4%) relataram fazer uso<strong>de</strong> insulina. O tratamento combinado comhipoglicemiante oral e insulina foi citado por 5pacientes (7,0%) (Tabela 6).Tabela 6Tipo <strong>de</strong> tratamento realizado pelos entrevistadosTRATAMENTO N° %Dieta 3 4,2Hipoglicemiante oral 29 40,8Insulina 34 47,9Hipogl. oral + insulina 5 7,0TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.A gran<strong>de</strong> maioria dos entrevistados(87,3%) já havia consultado o oftalmologista nomínimo uma vez após o diagnóstico <strong>de</strong> DM; orestante nunca havia consultado um especialista(Gráfico 1).Gráfico 1Consulta prévia dos pacientes com o oftalmologistaTabela 5Entrevistados segundo o tipo <strong>de</strong> DMTIPO DE DM N° %DM tipo 1 13 18,3DM tipo 2 54 76,1Não sabe 4 5,6TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Dentre os entrevistados que relataramconsulta prévia com oftalmologista, 16 pacientesreferiram ter doença ocular <strong>de</strong>corrente do DMdiagnosticada pelo especialista, sendo 8portadores <strong>de</strong> retinopatia diabética; os 8restantes não souberam especificar a doençaocular <strong>de</strong>tectada (Tabela 7).Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.133


NÍVEL DE CONHECIMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS SOBRE A RETINOPATIA DIABÉTICATabela 7Presença <strong>de</strong> doença ocular entre os entrevistados,<strong>de</strong>tectada pelo oftalmologistaDOENÇA N° %Retinopatia diabética 8 11,3Não sabe qual doença 8 11,3Sem doença ocular 46 64,7TOTAL 62 87,3Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Quando questionados sobre a possibilida<strong>de</strong>do DM causar algum problema na retina, apenasum paciente respon<strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma negativa. Jáquando questionados sobre a possibilida<strong>de</strong> do DMcausar cegueira, 4 entrevistados respon<strong>de</strong>ram queo DM não era causador <strong>de</strong> cegueira e um não souberespon<strong>de</strong>r (Tabela 8).Tabela 8Opinião dos entrevistados sobre a possibilida<strong>de</strong>do DM causar cegueiraOPINIÃO N° %Causa cegueira 66 93,0Não causa cegueira 4 5,6Não sabe 1 1,4TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Tabela 9Em relação às maneiras para evitar que oDM prejudique a visão, 22 (31,0%) afirmaramignorá-las, enquanto 49 (69,0%) mostraramconhecê-las (Gráfico 2).Gráfico 2Conhecimento sobre maneiras <strong>de</strong> prevenção da RDFonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Quando observada a ida<strong>de</strong> dos pacientesque respon<strong>de</strong>ram a pergunta sobre prevenção daRD, notou-se que entre menores <strong>de</strong> 40 anos, 10pacientes ou 90,9% conheciam maneiras <strong>de</strong>prevenção da doença; na faixa etária <strong>de</strong> 40 a 60anos este número caiu para 79,5% (31entrevistados) e entre os maiores <strong>de</strong> 60 anos, 38,1%(8 pessoas) <strong>de</strong>monstraram saber como prevenirsecontra a RD, conforme mostra o gráfico 3.Gráfico 3Conhecimento da prevenção <strong>de</strong>RD conforme a faixa etáriaOpinião dos entrevistados sobre a reversibilida<strong>de</strong> dacegueira causada pelo DMOPINIÃO N° %Reversível 6 8,5Irreversível 52 73,2Não sabe 8 11,3TOTAL 66 93,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Dentre os 66 pacientes que afirmaram queo DM podia provocar cegueira, 6 (8,5%)acreditavam que esta situação era reversível; 52(73,2%) consi<strong>de</strong>raram a perda <strong>de</strong> visão irreversívele 8 (11,3%) não souberam respon<strong>de</strong>r (Tabela 9).Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.134Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.


NÍVEL DE CONHECIMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS SOBRE A RETINOPATIA DIABÉTICAEm relação à escolarida<strong>de</strong>, em nossa amostra40% dos analfabetos (2 pacientes) sabiam sobre aprevenção da RD; entre os que cursaram 1° grauincompleto, 33 entrevistados ou 66,0% conheciam aprevenção da doença; assim como 87,5% daquelescom maior escolarida<strong>de</strong> (Gráfico 4).Gráfico 4Conhecimento da prevenção <strong>de</strong>RD conforme a escolarida<strong>de</strong>Os pacientes que referiram ter doença ocular<strong>de</strong>monstraram saber mais sobre a prevenção da RD,<strong>de</strong>ntre eles, 75% (12 pessoas) conheciam maneiras<strong>de</strong> prevenir-se; enquanto 66,0% (31 pessoas) daquelessem doença ocular conheciam o assunto (Gráfico 5).Quando questionados se o controle do DMcom tratamento a<strong>de</strong>quado prevenia problemas naretina, 90,1% (64 pacientes) respon<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>forma afirmativa. Apenas 5 (7,0%) opinaram quenão havia relação entre tratamento da doença comprevenção <strong>de</strong> retinopatia diabética. Dois pacientes(2,8%) não souberam respon<strong>de</strong>r. No gráfico 6Gráfico 6Conhecimento dos entrevistados sobre a relação entre otratamento do DM e a prevenção da RDFonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Gráfico 5Conhecimento <strong>de</strong> prevenção da RDconforme a presença <strong>de</strong> doença ocular.Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,cano 2001.Tabela 10Opinião dos entrevistados sobretipos <strong>de</strong> tratamento para a RDTIPOS DE TRATAMENTO N° %Nenhum 50 70,4Colírio 4 5,6Raios laser ou cirurgias 17 24,0TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.foram agrupados os pacientes que <strong>de</strong>sconheciamesta relação e aqueles que não souberam opinar.A maioria dos entrevistados (70,4%) nãoconhecia nenhum tipo <strong>de</strong> tratamento para aretinopatia diabética. Quatro pacientes (5,6%)reconheceram os colírios como uma opção <strong>de</strong>tratamento; 14 (19,7%) optaram pelos raios lasere 2 (2,8%) por cirurgias. Um paciente i<strong>de</strong>ntificoucirurgias e raios laser como opções (Tabela 10).Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.135


NÍVEL DE CONHECIMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS SOBRE A RETINOPATIA DIABÉTICARelacionando o conhecimento sobre otratamento da RD com o tempo <strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong>DM dos entrevistados, constatamos que entre osque possuíam diagnóstico há mais <strong>de</strong> 3 anos, 17pacientes (37,0%) conheciam tratamentos e entreaqueles com até 3 anos <strong>de</strong> diagnóstico apenas16,0% (4 pacientes) conheciam formas <strong>de</strong>tratamento (Gráfico 7).Gráfico 7Conhecimento do tratamento da RD <strong>de</strong>acordo com o tempo <strong>de</strong> diagnóstico do DMEntre os pacientes com doença ocular, 11(68,8%) conheciam formas <strong>de</strong> tratamento, valorque caiu para 10,6% entre aqueles sem doençaocular (Gráfico 8).A freqüência <strong>de</strong> consultas ao oftalmologistaficou distribuída da seguinte forma: 35 pessoas(49,3%) relataram consultas no mínimo uma vezpor ano e 27 (38%) relataram consultas menosfreqüentes (Tabela 11).Tabela 11Freqüência <strong>de</strong> consultas dosentrevistados ao oftalmologistaFREQÜÊNCIA N° %Uma vez ao ano ou maior 35 49,3Inferior a uma vez ao ano 27 38,0Nunca consultou 9 12,7TOTAL 71 100,0Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Gráfico 8Conhecimento do tratamento da RD conformea presença <strong>de</strong> doença ocularOs médicos mencionados comoresponsáveis pelo esclarecimento da relação entreo DM com os olhos foram: o endocrinologista(43,7%); o oftalmologista (15,5%); o oftalmologistae o endocrinologista (4,21%). Nenhum entrevistadocitou o médico do posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou outro médico.Vinte e seis pacientes (36,6%) relataram nãoterem sido informados por nenhum médico sobrea retinopatia diabética (Gráfico 9).Gráfico 9Médicos responsáveis pelo esclarecimento da relaçãoentre DM e os olhos citados pelos entrevistadosFonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.Fonte: Grupo <strong>de</strong> Apoio aos Diabéticos (GAD) – HGCR,ano 2001.136Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.


NÍVEL DE CONHECIMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS SOBRE A RETINOPATIA DIABÉTICADISCUSSÃONossa amostra <strong>de</strong> 71 pacientes<strong>de</strong>monstrou, em praticamente sua totalida<strong>de</strong>,reconhecer que o DM causa complicaçõesoculares, já que apenas um entrevistado relatouque a doença não causaria danos na retina.Weller et al., 9 em seu estudo sobre ascrenças dos latinos sobre o DM, verificaram queentre os sintomas apontados pela populaçãocomo sendo <strong>de</strong>correntes da doença estava aperda da visão, assim como uma das seqüelasreferidas pela gran<strong>de</strong> maioria foi a cegueira.Em nosso trabalho a cegueira também foilargamente reconhecida como conseqüência doDM, isto é, por 93,0% dos entrevistados (Tabela 8).Ramos et al. 10 observaram em pesquisafeita por uma associação <strong>de</strong> diabéticos, que80,43% dos pacientes estavam cientes que o DMpo<strong>de</strong>ria causar perda visual irreversível. Em nossotrabalho, encontramos uma porcentagem umpouco menor, isto é, 73,2% dos entrevistadosconsi<strong>de</strong>raram irreversível o dano visualrelacionado com o DM, enquanto 8,5% afirmaramser reversível e 11,3% não souberam opinar(Tabela 9).Livingston, McCarty e Taylor 8 concluíramem seu estudo, que o conhecimento sobre doençasoculares estava diretamente relacionado commenor ida<strong>de</strong> e maior grau <strong>de</strong> instrução. Em nossapesquisa, chegamos a semelhante conclusão,observando que as pessoas com menos <strong>de</strong> 40anos sabiam mais sobre prevenção da RD; 90,9%<strong>de</strong>ste grupo conheciam formas <strong>de</strong> prevenção. Nafaixa etária <strong>de</strong> 40 a 60 anos, 79,5% conheciam oassunto e entre os maiores <strong>de</strong> 60 anos, estenúmero caiu para 38,1%. Da mesma forma, dafração <strong>de</strong> nossa amostra com maior escolarida<strong>de</strong>(1° grau completo, 2° grau ou curso superior),87,5% <strong>de</strong>monstraram ter conhecimento sobre oassunto, enquanto entre os entrevistados com 1°grau incompleto e analfabetos, respectivamente,66,0% e 40,0% tinham noções <strong>de</strong> prevenção(Gráfico 4).Ainda no que diz respeito à prevenção da RD,verificamos que a presença <strong>de</strong> doença ocular foi umfator relacionado positivamente com seuconhecimento. Entre os entrevistados, 22,6%relataram ser portadores <strong>de</strong> doença ocular <strong>de</strong>correntedo DM; <strong>de</strong>stes, a meta<strong>de</strong> referiu ter retinopatiadiabética e o restante não soube especificar suadoença (Tabela 7). Na literatura pesquisadaencontramos valores semelhantes <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong>RD: 22,8%, 24,8%, 29,1% e 22,4% 5, 11, 12, 13 . Entreaqueles não portadores <strong>de</strong> doença ocular, 66,0%conheciam formas <strong>de</strong> prevenção da RD; estenúmero aumentou para 75,0% entre ospossuidores <strong>de</strong> doença ocular. Esta relação entrepresença da doença e conhecimento po<strong>de</strong> serexplicada pelo fato <strong>de</strong> que quando um paciente<strong>de</strong>senvolve <strong>de</strong>terminado problema, torna-se maispredisposto a apren<strong>de</strong>r sobre aquele assuntoespecífico. 7 Este interesse parece ocorrer tambémquando a doença está entre as pessoas do meioem que se vive. Em um trabalho realizado no Sulda Índia com uma população mista (<strong>de</strong> diabéticose não diabéticos) observou-se que a maior fonte<strong>de</strong> informação sobre RD eram parentes ou amigospróximos sofrendo da doença (53,0% dosentrevistados citaram este meio <strong>de</strong> informação). 14Outros estudos não <strong>de</strong>monstraram tal relação entrepresença da doença e conhecimento sobre amesma. Po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>duzir que um conhecimentopobre em um período anterior seja o causador <strong>de</strong>complicações que estejam ocorrendo nopresente. 7,9Quando questionados sobre algo maisespecífico, como o tratamento da RD, a maioriados entrevistados mostrou <strong>de</strong>sconhecer o assunto.Apenas 24,0% (17 pacientes) reconheceram osraios laser e cirurgia como formas <strong>de</strong> tratamento(Tabela 10). E mais uma vez ficou claro que apresença <strong>de</strong> doença ocular está diretamenterelacionada com o conhecimento. Dentre ospossuidores <strong>de</strong> doença, 68,8% tinham noções <strong>de</strong>formas <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> RD e apenas 10,6% entreos que relataram não possuir doença ocular(Gráfico 8).O tempo <strong>de</strong> diagnóstico do DM mostrouestar também diretamente relacionado com oconhecimento <strong>de</strong> tratamento para RD. Apenas12,0% das pessoas com DM há até 3 anosrespon<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> maneira correta quandoquestionadas sobre formas <strong>de</strong> tratamento da RDe entre os pacientes com diagnóstico há mais <strong>de</strong>3 anos, 30,5% souberam respon<strong>de</strong>r a pergunta(Gráfico 7). Consi<strong>de</strong>ramos esta relação <strong>de</strong>fundamental importância, já que existe umaindiscutível associação entre longa duração do DMe alta prevalência da RD. 4,12,13O baixo nível <strong>de</strong> conhecimento sobre otratamento da RD não po<strong>de</strong> ser justificado por falta<strong>de</strong> assistência oftalmológica em nosso estudo. Dos71 entrevistados apenas 9 (12,7%) nunca haviamconsultado um oftalmologista (Tabela 11), númeroRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.137


NÍVEL DE CONHECIMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS SOBRE A RETINOPATIA DIABÉTICAconsi<strong>de</strong>rado pequeno quando comparado ao <strong>de</strong>outros trabalhos. 5, 10 Deve-se consi<strong>de</strong>rar que nossaamostra possuía uma boa assistência médica,dispondo <strong>de</strong> consultas periódicas comendocrinologista e encaminhamento para o Serviço<strong>de</strong> oftalmologia <strong>de</strong>ntro da mesma instituição. Emestudo realizado na Austrália foi constatado que umterço dos diabéticos nunca haviam consultado umoftalmologista. 5 Em outro trabalho, realizado em umaassociação <strong>de</strong> diabéticos, 65,22% dos pacientesnunca haviam sido submetidos à oftalmoscopia. 10Em um trabalho direcionado para apopulação afro-americana, cerca <strong>de</strong> um terço dospacientes haviam sido submetidos a exame <strong>de</strong>fundo <strong>de</strong> olho nos últimos 14 meses. 6Nossosentrevistados relataram fazer uso <strong>de</strong> serviçooftalmológico com maior freqüência: 49,3% (35pacientes) comparecem a uma consulta no mínimouma vez por ano, na qual supomos que sejarealizado um exame oftalmológico completo,incluindo oftalmoscopia (Tabela 11).Sendo o DM uma doença freqüentementemanejada por clínicos e endocrinologistas, cabeaos mesmos a iniciativa <strong>de</strong> prevenção primária esecundária da RD, 10 as quais incluiriam uma boarelação entre estes profissionais e ooftalmologista, 5 assim como uma preocupação emaumentar o conhecimento dos pacientes sobre oassunto, a fim <strong>de</strong> alertá-los para a importância doexame ocular periódico para diagnóstico etratamento em tempo a<strong>de</strong>quado. 14Entre osparticipantes <strong>de</strong> nossa pesquisa, 36,6% negaramter recebido qualquer informação sobre a relaçãoentre DM e a visão pelos médicos que osaten<strong>de</strong>ram. Os <strong>de</strong>mais foram esclarecidos peloendocrinologista ou pelo oftalmologista, sendo que4,21% dos entrevistados referiram que ambos osprofissionais haviam emitido explicações sobre oassunto a eles (Gráfico 9).Weller et al. 9confirmaram que mesmoentre os latinos, consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>ptos a“crendices”, o médico é visto como o mais indicadopara o tratamento do DM, assim como tratamentosnão convencionais são consi<strong>de</strong>rados ineficazespara a doença. Isto reforça o <strong>de</strong>ver do médico <strong>de</strong>ser a principal fonte <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> seu paciente,já que este <strong>de</strong>posita gran<strong>de</strong> confiança naquele.Dandona et al. 14 observaram que na amostrapor eles analisada, constituída <strong>de</strong> pessoas com esem DM, apenas 27,0% possuíam noções básicassobre a RD. Em concordância com este pobreconhecimento a respeito do assunto, constataramque somente 14,9% dos indivíduos haviam recebidoinformações sobre a doença através do médico. Estefato torna evi<strong>de</strong>nte a importância da difusão doconhecimento através do médico.O conhecimento é essencial para o manejodo DM e a falta <strong>de</strong>le po<strong>de</strong> resultar emconseqüências <strong>de</strong>sastrosas para o paciente malinformado. 7 É através do conhecimento que se tema oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encorajar a população aprocurar periodicamente Serviços <strong>de</strong> oftalmologia,a fim <strong>de</strong> promover a prevenção. 8, 14 Programaseducacionais <strong>de</strong>veriam ser elaborados para atingirtodos os diabéticos, e mais especificamente, osgrupos sabidamente com maior déficit <strong>de</strong>conhecimento, como por exemplo aqueles commenor escolarida<strong>de</strong>. 11Almejamos que este trabalho contribuapara a análise do conhecimento <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong>diabéticos sobre a retinopatia diabética e que maisestudos sejam <strong>de</strong>senvolvidos, com o intuito <strong>de</strong>promover a prevenção através da informação.CONCLUSÕES1.A gran<strong>de</strong> maioria dos pacientes diabéticos(98,6%) reconhece que o DM causacomplicações oculares.2.O conhecimento sobre a prevenção da RD éinversamente proporcional à ida<strong>de</strong> e diretamenteproporcional ao grau <strong>de</strong> instrução e à presença<strong>de</strong> doença ocular.3.As formas <strong>de</strong> tratamento da RD são poucoconhecidas pelos pacientes diabéticos.4.O conhecimento das formas <strong>de</strong> tratamento daRD é diretamente proporcional ao tempo <strong>de</strong>diagnóstico e à presença <strong>de</strong> doença ocular.5.Parte significativa dos pacientes (36,6%), nesteestudo, não recebe informações sobre RD dosprofissionais médicos.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Augusto Adam NettoDepartamento <strong>de</strong> Clínica Cirúrgica4 o . andar – Hospital UniversitárioCampus Universitário – Trinda<strong>de</strong>CEP 88040-900 - Florianópolis - SCREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Cotran RS, Kumar V, Robbins SL. Pâncreas. In:Patologia estrutural e funcional. 5th ed. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Guanabara Koogan; 1996. p.806-833.138Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 130-139.


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Regressão espontânea doretinoblastoma: Relato <strong>de</strong> 3 casosVanessa Gomes <strong>de</strong> Moraes Dutra * , Fernando Queiroz Monte * * , Islane Castro Verçosa *RESUMOObjetivo: O trabalho propõe-se a mostrar a patogênese <strong>de</strong> Retinoblastomasque sofreram involução espontânea.Local: Hospital Geral <strong>de</strong> Fortaleza/SUS e Laboratório Biopse, Fortaleza, Ceará.Método: Exame histopatológico <strong>de</strong> três bulbos oculares com diagnóstico clínico<strong>de</strong> retinoblastoma.Conclusão: Dos três casos <strong>de</strong> retinoblastoma estudados, um ocorreu em olhoatrófico. As células neoplásicas vão per<strong>de</strong>ndo a cromatina nuclear, tornando-seclaras. Há acúmulo <strong>de</strong> substância basófila na periferia do núcleo e citoplasmacom grânulos basófilos. Estas células vão per<strong>de</strong>ndo a membrana e calcificandose.As neoplasias que sofreram involução têm o mesmo risco <strong>de</strong> transmissãohereditária do Retinoblastoma, bem como a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> também manifestarseno olho contralateral.Palavras-chaves:Retinoblastoma, involução, neoplasia, patogênese,histopatologia, calcificação.ABSTRACTSpontaneous regression of retinoblastoma: Case-report of 3 casesObjective: The work intends to show the pathogenesis of Retinoblastomas thatshowed spontaneous involution.Local: Hospital Geral <strong>de</strong> Fortaleza/SUS and Laboratório Biopse, Fortaleza, Ceará.Method: Histopatologic examination of three ocular bulbus with clinical diagnosisof retinoblastoma.Conclusion: We studied three cases of retinoblastoma and one of it was foundin atrofic eye. The neoplasic cells are going losing the nuclear cromatin, becomingclear. There is accumulation of basophilic substance in the periphery of thenucleus and cytoplasm with basophilic granules. These cells are going losingthe membrane and being calcified. The neoplasias that suffered involution havethe same risk of hereditary transmission of the Retinoblastoma, and also thepossibility of manifestation in the fellow eye.Keywords: Retinoblastoma, involution, neoplasia, pathogenesis, histopathology,calcification* Médica oftamologista, ex-resi<strong>de</strong>nte do Hospital Geral <strong>de</strong> Fortaleza/SUS.** Médico oftalmologista, Coor<strong>de</strong>nador da Residência Médica em <strong>Oftalmologia</strong> do Hospital Geral <strong>de</strong> Fortaleza/SUSe Patologista ocular do Laboratório Biopse.*** Médica oftalmologista, coor<strong>de</strong>nadora do Serviço <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> Pediátrica do Hospital Geral <strong>de</strong> Fortaleza/SUS.140 Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 140-144.


REGRESSÃO ESPONTÂNEA DO RETINOBLASTOMA: RELATO DE 3 CASOSINTRODUÇÃOPor muitos anos, o conceito <strong>de</strong> regressão doretinoblastoma tem sido discutido. Ofenômeno foi provavelmente relatado pelaprimeira vez em 1908 por Fuchs (01).Em 1982, Gallie et al. afirmaram que aincidência <strong>de</strong>sta entida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser maior que 1%ou 2%, ou seja, 1000 vezes mais freqüente quequalquer doença maligna do olho (02).Regressão espontânea do retinoblastomafoi i<strong>de</strong>ntificada em duas situações distintas: casos<strong>de</strong> phithisis bulbi, on<strong>de</strong> o retinoblastoma não erasuspeito. Nestes casos, o mecanismo mais aceitoé o <strong>de</strong> obstrução vascular, com perda dosuprimento sanguíneo, necrose e liberação <strong>de</strong>produtos tóxicos, levando a atrofia tanto do olhocomo da lesão. A segunda situação é encontradaem lesões retinianas não progressivas em olhosrelativamente normais. Este também é<strong>de</strong>nominado por Gallie et al. (1982) como retinoma,significando um tumor benigno <strong>de</strong> origem retiniana(02). Margo et al. (1983) propõem o termoretinocitoma, usando uma terminologia análoga àclassificação <strong>de</strong> tumores pineais, pineocitoma epineoblastoma (03).São <strong>de</strong>scritos 3 achados <strong>de</strong>stas lesões emmacroscopia e histopatológico encontrados emcasos com diagnóstico clínico <strong>de</strong> retinoblastoma.MATERIAL E MÉTODOCaso 1: Encaminhado para o laboratório<strong>de</strong> Anatomia Patológica do HGF/SUS em abril/95,registrado sob o número 819/95.Macroscopia: Bulbo ocular medindo 21 x21 x 19mm; córnea 10 x 12mm e pupila 9mm <strong>de</strong>diâmetro. Nervo óptico 4mm. Área pupilaresbranquiçada. Presença <strong>de</strong> massa ocupando 2/3da câmara vítrea.Microscopia: Na câmara anterior, nada aregistrar, mas o cristalino na sua parte posterioré circundado por tecido conjuntivo vascularizadocom episódicas células pigmentares eposteriormente existem algumas hemácias. Otecido conjuntivo parte do corpo ciliar, on<strong>de</strong>existe alguma proliferação <strong>de</strong> célulaspigmentadas. A corói<strong>de</strong> é pouco pigmentada eo epitélio pigmentado da retina mostraproliferação e metaplasia. Há <strong>de</strong>scolamentoseroso gran<strong>de</strong> e com alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>;Fotografia 1- (Dutra, Monte e Verçosa): Vê-se as 3 fases da involuçãoe <strong>de</strong>generação das células tumorais. Existem células neoplásicasindiferenciadas (seta branca), células que per<strong>de</strong>ram a cromatina nuclear(seta preta) e células basófilas (asterisco) que caminham para acalcificação. (Parafina, H.E, x100).posteriormente é substituído por líquido fibrinoso.Não vimos nos cortes estrutura retiniana madurae há vítreo muito <strong>de</strong>nso e vascularizadoocupando pequena área. Existem célulasneuroectodérmicas pequenas com poucocitoplasma e o núcleo quase ou sem cromatina.Há amontoados <strong>de</strong> células basófilas em vias <strong>de</strong>calcificação (Fotografia 1). Nos seus bordos,po<strong>de</strong>mos verificar células que têm a sua partecentral clara, sem nucléolos, com substânciabasófila acumulada sobre a sua membrana ecitoplasma com substâncias basófilas dispersas.Caso 2: Enviado do Hospital Infantil AlbertSabin para o Laboratório Biopse, em maio/97,registrado sob o número 10987/97.Macroscopia: Bulbo ocular medindo 21 x20 x 20mm. Córnea 9 x 10mm, pupila com 6mm<strong>de</strong> diâmetro. Nervo óptico 4mm. Massa ocupando4/5 da câmara vítrea, tem cor esbranquiçadaesten<strong>de</strong>ndo-se até o cristalino.Microscopia: Córnea com as camadas <strong>de</strong>Bowman e Descemet finas e substância serosana câmara anterior. Presença <strong>de</strong> íris muitopigmentada e sinéquias posteriores. Na corói<strong>de</strong>há uma extensa formação cística circundada portecido em vias <strong>de</strong> hialinização. Há local que seconfun<strong>de</strong> com zona <strong>de</strong> proliferação glial. Não sevê tecido retiniano, mas existem zonas <strong>de</strong> gliosecom algumas células vacuoladas, fibras eosinófilasRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 140-144.141


REGRESSÃO ESPONTÂNEA DO RETINOBLASTOMA: RELATO DE 3 CASOSFotografia 2 – (Dutra, Monte e Verçosa): Células neoplásicas comdiversos graus <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> cromatina em torno <strong>de</strong> elevado grau <strong>de</strong>basofilia e apresentando calcificação em alguns pontos. (Parafina,H.E, x100).Fotografia 3 – (Dutra, Monte e Verçosa): No caso do globo atrófico(2145/91), vemos que a calcificação esten<strong>de</strong>-se até a corói<strong>de</strong>. (Parafina,H.E., x160).com focos <strong>de</strong> células pequenas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>snúcleos e muito basófilo (Fotografia 2) ecalcificações. Corói<strong>de</strong> muito pigmentada, bemcomo massa extensa elevada, constituída <strong>de</strong>células muito pigmentadas, sendo compacta euniforme, localizada no pólo posterior do olho, ladotemporal. As células são mais circulares nasuperfície e mais ovais internamente. Hápigmentação da esclerótica próximo ao nervoóptico.Caso 3: Bulbo ocular atrófico em criança<strong>de</strong> 2 anos; Enviado em outubro/91 ao Laboratório<strong>de</strong> Anatomia Patológica do HGF/SUS com suspeita<strong>de</strong> Retinoblastoma, registrado sob o número 2145/91.Macroscopia: Bulbo ocular <strong>de</strong> 15 x 14 x14mm, córnea 8 x 9mm, nervo óptico <strong>de</strong> 0,5mm.Ao corte foi vista uma massa escura ocupandotoda a câmara vítrea, com pequena zonaesbranquiçada mais posteriormente.Microscopia: Córnea espessada e epitéliocom número variável <strong>de</strong> camadas <strong>de</strong>vido a dobrasna camada <strong>de</strong> Bowman. Presença <strong>de</strong>goniossinéquias. O corpo ciliar é muito pigmentado.A corói<strong>de</strong> não tem uniformida<strong>de</strong>, com zonas<strong>de</strong>spigmentadas e pouco vascularizadas e outrascom vasos ingurgitados, em alguns pontosapresenta calcificações (Fotografia 3).Da retina vê-se uma pequena zona <strong>de</strong>proliferação glial, na qual há gran<strong>de</strong>s veias ehemorragia, possivelmente transoperatória. Norestante da cavida<strong>de</strong> vítrea encontramos célulasneuroectodérmicas com gran<strong>de</strong> citoplasma enúcleo quase sem cromatina e em algumas partesaté com vacúolos citoplasmáticos. O que maischama a atenção são as incontáveis zonas <strong>de</strong>calcificação. Posteriormente, há vítreo <strong>de</strong>nso eesboço <strong>de</strong> ossificação.DISCUSSÃO E CONCLUSÃORetinoblastoma é o tumor intra-ocularmaligno primário mais comum na infância e osegundo mais comum em todos os grupos etários(melanoma <strong>de</strong> corói<strong>de</strong> é o mais comum). Apesardisso, é um tumor raro, ocorrendo em cerca <strong>de</strong> 1para 20.000 nascidos vivos. Não há predileção porsexo. Inicialmente <strong>de</strong>tectado em um olho, em 1/3dos casos é bilateral. A ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> diagnósticoé <strong>de</strong> 18 meses (04).Regressão espontânea <strong>de</strong> uma neoplasiamaligna é <strong>de</strong>finida como “<strong>de</strong>saparecimento parcialou completo <strong>de</strong> um tumor na ausência <strong>de</strong>tratamento ou na presença <strong>de</strong> uma terapiaconsi<strong>de</strong>rada ina<strong>de</strong>quada para exercer influênciasignificante na doença neoplásica”(05) Há, alémdo Retinoblastoma, regressão espontânea <strong>de</strong>tumores como o melanoma e o carcinoma docólon (06), embora que nem sempre a regressãoda neoplasia primária seja critério <strong>de</strong> cura, poispo<strong>de</strong>m haver manifestações <strong>de</strong> metástases. Tendoisso em vista, foi proposto o termo retinoma, quenão encontrou eco, mas que traria menosequívocos (02).Mantendo a terminologia <strong>de</strong> regressãoespontânea <strong>de</strong> Retinoblastoma, foi utilizada aclassificação <strong>de</strong> Brodwall (07):142Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 140-144.


REGRESSÃO ESPONTÂNEA DO RETINOBLASTOMA: RELATO DE 3 CASOSTipo 1- Evidências e confirmações clínicasque tumor unilateral regrediu.Tipo 2- Nos Retinoblastomas bilaterais,com enucleação do olho mais afetado, foi feito odiagnóstico histopatológico e o olho restanteregrediu.Tipo 3- Achado inesperado <strong>de</strong> tumorregredido com olho enucleado. Os casosapresentados pertencem a esse grupo.Entre 1952 e 1956, publicações estrangeiras<strong>de</strong>screveram 85 olhos com regressão espontâneado retinoblastoma. Desses, 34 eram atróficos e 51diagnosticados como tendo regressão espontânea.O diagnóstico era baseado na aparência do fundo<strong>de</strong> olho, na maioria dos casos, com alguns dosseguintes: história familiar positiva para oretinoblastoma; retinoblastoma no olho contralateral(comprovação histopatológica); tumor com célulascalcificadas observado no histopatológico <strong>de</strong> olhocom phithisis contralateral (08).Em 1962, uma série <strong>de</strong> 700 olhos comretinoblastoma examinados no Armed ForcesInstitute of Patology , 8 curaram espontaneamentepor completa necrose e falta <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> dotumor (09).Em uma revisão <strong>de</strong> 1400 casos <strong>de</strong>retinoblastoma no Harkness Eye Institute, 1982,Gallie et al. encontraram 27 casos (1,9%)classificados como tumores regredidos. Mais dameta<strong>de</strong> (54%) associados com história familiar <strong>de</strong>retinoblastoma. Destes, 18,5% foram encontradosno olho remanescente após enucleação do outrocom histopatológico <strong>de</strong> retinoblastoma.Aproximadamente meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes casos foram<strong>de</strong>scobertos em exame <strong>de</strong> rotina e 44% empaciente no exame <strong>de</strong> rotina sem nenhumasuspeita para retinoblastoma (02).Na literatura brasileira encontra-se a<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> Retinoblastoma bilateral,sendo o olho direito submetido a enucleação ediagnosticado como regressão espontânea pelaanatomia patológica. O olho esquerdo foi tratadoconservadoramente com radioterapia equimioterapia, evoluindo com preservação davisão (10).Uma das características que permitem odiagnóstico <strong>de</strong> Retinoblastoma é a presença <strong>de</strong>calcificações. Elas aparecem, segundo alguns, em80% dos casos (11). Por isso, fica mais fácildiagnosticá-lo com Tomografia Computadorizadado que com Ressonância Magnética. Ascalcificações aparecem nos locais <strong>de</strong> necrosetissular. Em um Retinoblastoma <strong>de</strong> célulasindiferenciada (os mais malignos), encontramos anecrose e as calcificações. Na regressão do tumorpredominam as áreas calcificadas (12). Não seacredita que sejam fenômenos semelhantes e queo <strong>de</strong>senvolvimento do tumor e a sua regressãosejam apenas <strong>de</strong> maior competência reprodutivadas células neoplásicas que correm mais rápidoque a tendência à <strong>de</strong>generação por calcificação.As calcificações nas evoluções malignas <strong>de</strong>vemsea necrose por <strong>de</strong>ficiência circulatória. Nostumores regressivos po<strong>de</strong>-se acompanhar a lenta<strong>de</strong>generação das células neoplásicas que levamà formação <strong>de</strong> calcificações, tendo sido <strong>de</strong>scrita aapoptose, morte celular por fatores endógenos,em Retinoblastoma. É possível atribuir as mortescelulares por necrose como fenômeno dasneoplasias malignas evolutivas, e a apoptose seriainerente aos tumores evolutivos. Existem estudosem biologia molecular mostrando predisposiçãogenética para a agressivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certos tumores.No entanto, já foi mostrado que as célulasindiferenciadas têm não somente uma fração <strong>de</strong>proliferação (FP) muito mais elevada comosurpreen<strong>de</strong>ntemente um índice apoptótico (IA)sensivelmente maior (12)Como em um dos casos aqui relatado(caso 3) ocorreu em olho atrófico, conclui-se queem qualquer criança com atrofia ocular ou emphithisis bulbi <strong>de</strong> causa <strong>de</strong>sconhecida, apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regressão espontânea doRetinoblastoma <strong>de</strong>ve ser lembrada. Por outro lado,po<strong>de</strong> ser visto no caso apresentado por Nehemyet al. (1991) o fato inverso. Em olho atrófico passoua se <strong>de</strong>senvolver neoplasia maligna. Tem célulasneuroectodérmicas indiferenciadas invadindo onervo óptico, a esclerótica e chegando aexteriorizar-se (13).O estudo feito dos três bulbos oculares, emque foi diagnosticada a regressão doRetinoblastoma, apesar do pequeno número <strong>de</strong>casos, permitiu que fosse estabelecida umasequência, <strong>de</strong>vido à regularida<strong>de</strong> dos achados,embora houvesse variações quantitativas doscomponentes. A observação feita é que oRetinoblastoma com regressão espontâneaapresenta células neuroectodérmicas poucodiferenciadas com perda da cromatina nuclear eaumento do citoplasma. O nucléolo está ausentee há um acúmulo <strong>de</strong> substância basófila naperiferia do núcleo e citoplasma com grânulosbasófilos. Esse amontoado <strong>de</strong> células basófilas vãoper<strong>de</strong>ndo a membrana e calcificando-se. Essesachados são compatíveis com as <strong>de</strong>scrições feitasRev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 140-144.143


REGRESSÃO ESPONTÂNEA DO RETINOBLASTOMA: RELATO DE 3 CASOSpor Aaby et al. (14) e Eagle et al. (15). Emborasendo estudos utilizando técnicas diferentes (onosso à luz da microscopia óptica e o da referênciaassociando microscopia eletrônica eimunohistoquímica), há paralelismo.O que surpreen<strong>de</strong> na evoluçãopatogenética sugerida é que se iniciava em célulasneuroectodérmicas pouco diferenciadas. Cha et al.(16) atribuiam às células indiferenciadas um maioríndice apoptótico. Uma melhor conclusão po<strong>de</strong>riater sido feita se cortes seriados à microscopiaóptica <strong>de</strong>monstrassem a ausência <strong>de</strong> obstruçãovascular nas proximida<strong>de</strong>s da zona calcificada.Como não foi feito, houve o agrupamento dosachados <strong>de</strong>scritivos.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Dr. Fernando Queiroz MonteHospital Geral <strong>de</strong> FortalezaRua Ávila Goulart, 900 – PapicuCEP: 60.155 – 290Fortaleza – CEFone: (0XX85) 488-2788.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1.Fuchs E. Wucherugen und Geschlulste <strong>de</strong>sCiliarepithers. Albrecht Von Graefes Arch KlinExp Ophtalmol ;68:534-587, 1908.2. Gallie BL, Ellsworth RM, Abramson DH et al.Retinoma: Spontaneous regression ofretinoblastoma or benign manifestation of themutation? Br J Cancer; 45:533-554, 1982.3. Margo C, Hidayat A, Kopelman J, Zimmerman,LE. Retinocytoma: a benign variant ofretinoblastoma. Arch. Ophthalmol; 101: 1519-31, 1983.4.Kanski J J. Clinical ophthalmology - 3 ed.;Butterworth Heinemann, UK – p. 222-6,1997.5.Boniuk M, Zimmmerman LE. Spontaneousregression of retinoblastoma. Int OphthalmolClin; 2:.525-542, 1962.6. Midgal C. Spontaneous regression ofretinoblastoma in i<strong>de</strong>ntical twins. Brit. J.Ophthalmol. 66, p.691-694, 1982.7. Brodwall J. Spontaneous regression of aretinoblastoma: case report. Acta Ophthalmol.59, p.430-434, 1981.8. Steward JK, Smith JL, Arnold EL. Spontaneousregression of retinoblastoma. Br. J.Ophthalmol. 40:449, 1956.9. Reese AB. Tumors of the Eye, 2 ed. New York,Harper and Row, p.104 – 106, 1966.10.Grupenmacher L, Abib FC et al. Retinoblastoma:regressão espontânea e terapêutica – relato<strong>de</strong> um caso. Rev. Bras. Oftalmol. 53(1):65-8,<strong>Fev</strong> 1994.11.Bullock JD, Campbell RJ, Waller RR. Calcificationin retinoblastoma. Invest Ophthalmol VisualSci. 16, 252-255, 1977.12. De Potter P, Flan<strong>de</strong>rs AE, Shield JA, e ShieldCL. Imagen por resonancia magnética en lostumores intraoculares, em Tumores ocularesmalignos – aspectos en el diagnóstico ytratamiento. Edika Médica, Barcelona; p. 37-45, 1993.13.Nehemy MB, Nehemy ALG, Silva FA.Retinoblastoma em um olho atrófico. Arq.Bras. Oftalmol; 54(2):90-2, 1991.14. Aaby AA, Price RL, Zakov ZN. Spontaneousregressing retinoblastomas, retinoma, orretinoblastoma group 0. Am J Ophthalmol;96:315-20, 1983.15. Eagle RL, Shields J A, Donoso L A. Malignanttransformation of Spontaneosly regressedretinoblastoma, retinoma/retinocytomavariant – Am. J.Ophthalm; 96: 1389-95, 1989.16. Cha SC, Suh KS, Song KS, Lim K. Cell <strong>de</strong>ath inretinoblastoma: eletron microscopic,immunohistochemical and DNAfragmentation studies; Ultrastruct Pathol;24(1):23-32, EUA, Jan-<strong>Fev</strong> 2000.Visite nosso site:www.sboportal.org.br144Rev. Bras. Oftal. 2004; 64 (2): 140-144.

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