Sobre discursos e práticas acerca das manipulações irreversÃveis ...
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atualmente, a satisfação é buscada no objeto em si, em seu real. Nas cirurgiasplásticas, o que se busca é ser o seu próprio corpo, fazer dele mesmo umespetáculo.O significante manipulação advém da biociência e assinala a modificaçãoradical promovida no corpo pelas intervenções aqui referi<strong>das</strong>. Encontramos umcorpo que, ao ser tomado pela ciência pode ser retificado, fazendo emergir umsujeito a partir da evidência desse corpo transformado. Nessa lógica, ao consertarum corpo, um sujeito espera poder se inscrever no campo do outro.O efeito dessa operação do discurso científico sobre a relação damedicina com o corpo foi nomeada por Lacan (1966/2001) como falha epistemosomática.A construção do saber científico sobre o corpo apresenta uma lacuna,pois não consegue apreender uma dimensão do corpo que a clínica evidencia: adimensão do gozo. Este é o lugar que Lacan propõe que a psicanálise poderiaocupar junto aos médicos: tratar o que está excluído da relação epistemosomática.É justamente aquilo que o corpo, em seu registro purificado, irá proporà medicina, a dimensão do gozo.[...] o corpo que retorna de longe, isto é, do exílio a que o havia condenado a dicotomiacartesiana do pensamento e da extensão, a qual elimina completamente de suaapreensão tudo o que se refere não ao corpo que ela imagina, mas ao corpo verdadeiroem sua natureza (LACAN, 1966/2001, p. 8).Nesse mesmo texto, Lacan propõe que a verdadeira natureza do corpo é ade ser um objeto de gozo, um entre outros, porém um objeto privilegiado. Eledefine gozo como “algo que o corpo experimenta, é sempre da ordem da tensão,do forçamento, do gasto, até mesmo da proeza”. (p. 12) O gozo, então, é algo quese evidencia na experiência clínica, porém, é excluído da compreensão que odiscurso científico tem sobre o corpo.A cirurgia estética não é uma escritura, não faz um discurso, à medida