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As famílias como projectos de vida:

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<strong>As</strong> famílias <strong>como</strong> <strong>projectos</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>:O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências resilientes na conjugalida<strong>de</strong>e na parentalida<strong>de</strong>Júlio Emílio Pereira <strong>de</strong> Sousa*Resumo: A família terá <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong>, alternadamente, se fechar em si mesma, pararepor forças, e <strong>de</strong> se abrir a novas oportunida<strong>de</strong>s exteriores, para enfrentar as mudançasimprevisíveis.Será a utilização sábia <strong>de</strong>ssa dinâmica, na <strong>vida</strong> conjugal e parental, que moldará o seu êxitoe validará a sua função re<strong>de</strong>ntora nas situações <strong>de</strong> fracasso.O estudo das cartas familiares em Portugal, mostra que há uma mudança estrutural nosistema familiar.Esta nova conjuntura, exige uma actualização sistemática dos <strong>projectos</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> familiarese uma aposta em novas práticas, que promovam a construção <strong>de</strong> respostas resilientes atravésda interacção família – escola, em qualquer momento do ciclo vital.41Palavras-chave: Projectos <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, ciclo vital, resiliência, conjugalida<strong>de</strong>, parentalida<strong>de</strong>,cartas (ou mapas) familiares e resiliência.Abstract: The family will have to be capable of, alternatingly, closing in itself, restitutingforces and opening itself to the new exterior chances, in or<strong>de</strong>r to face the unpredictablechanges.It will be the wise use of this dynamics in the marital and parental life which will mold itssuccess and will validate its re<strong>de</strong>mptive function in situations of failure. The study aboutfamiliar letters in Portugal shows us that there is a structural change in the familiar system.This new conjuncture <strong>de</strong>mands a systematic update of the new familiar life projects anda bet on new practices, which promote the construction of resilient answers through thefamily – school interaction, at any moment of the vital cycle.Key words: Life Projects, Vital Cycle, Resilience, Marital Status, Parenthood, FamiliarLetters (or maps).IntroduçãoA parentalida<strong>de</strong> diz respeito às funções executivas, <strong>de</strong>signadamente a protecção,educação e integração na cultura familiar das gerações mais novas. Estas funções* ESE <strong>de</strong> Paula Frassinetti.Saber (e) Educar 11 | 2006 | 41–47


42po<strong>de</strong>m estar a cargo não só dos pais biológicos, mas também <strong>de</strong> outros familiares ouaté <strong>de</strong> pessoas que não sejam da família.Em qualquer família, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciado resulta da relaboração<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong> construídos nas famílias <strong>de</strong> origem. O seu <strong>de</strong>senvolvimentovai-se processando a partir do estádio <strong>de</strong> evolução familiar e dos contextosvivenciais da própria família.O sub-sistema parental é normalmente constituído pelo mesmo número <strong>de</strong> adultosque o sub-sistema conjugal mas as suas funções são executivas e <strong>de</strong>stinam-se a educare a proteger as gerações mais novas. É a partir das interacções pais-filhos que ascrianças apren<strong>de</strong>m o sentido da autorida<strong>de</strong>, a forma <strong>de</strong> negociar e <strong>de</strong> lidar com oconflito no contexto <strong>de</strong> uma relação vertical. É ainda no contexto <strong>de</strong>sta interacçãoque se <strong>de</strong>senvolve o sentido <strong>de</strong> filiação e <strong>de</strong> pertença familiar.A conjugalida<strong>de</strong>, por sua vez, refere-se à día<strong>de</strong> conjugal e que constitui um espaço <strong>de</strong>apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento familiar. Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong> casal resultado mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> conjugalida<strong>de</strong> construído na família <strong>de</strong> origeme sofre diversas alterações ao longo da evolução do sistema familiar.No sub-sistema conjugal, composto por marido e mulher, a complementarida<strong>de</strong> e aadaptação recíproca são aspectos importantes do seu funcionamneto. Uma das funções<strong>de</strong>ste sub-sistema é o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> limites ou fronteiras que protejam ocasal da intrusão <strong>de</strong> outros membros, <strong>de</strong> modo a proporcionar-lhe a satisfação dassuas necessida<strong>de</strong>s psicológicas, contituíndo, assim, uma plataforma <strong>de</strong> suporte para ocasal lidar com o stresse intra e extra familiar. Também se torna vital para o crescimentodos filhos, servindo-lhes <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo relacional para o estabelecimento <strong>de</strong>futuras relações <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong>.A resiliência constitui a capacida<strong>de</strong> dos indivíduos e das famílias que lhes permitefazer face, espontaneamente, às dificulda<strong>de</strong>s com que se <strong>de</strong>param. O conceito <strong>de</strong>resiliência liga vulnerabilida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r regenerativo dado que envolve a capacida<strong>de</strong>do sistema para minimizar o impacto disruptivo <strong>de</strong> uma situação stressante, através <strong>de</strong>tentativas feitas no sentido <strong>de</strong> influenciar as solicitações e <strong>de</strong>senvolver recursos parafazer-lhes frente.<strong>As</strong> famílias e o ciclo vitalO ciclo vital consiste no conjunto <strong>de</strong> etapas que uma unida<strong>de</strong> familiar atravessa<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua constituição até ao seu <strong>de</strong>saparecimento, especificando as suas principaiscaracterísticas, tarefas, dificulda<strong>de</strong>s e potencialida<strong>de</strong>s.Saber (e) Educar 11 | 2006


<strong>As</strong> famílias apresentam, no seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, especificida<strong>de</strong>s e semelhançasque, sejam quais forem as suas potencialida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s, se vão modificandoao longo <strong>de</strong> todo o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e que vão <strong>de</strong>finindo o seuperfil <strong>de</strong> interacção.Os eventos familiares importantes, <strong>como</strong> as datas festivas em que se comemora algo<strong>de</strong> significativo para o casal e/ou para os filhos, po<strong>de</strong>m permitir a vivência <strong>de</strong> experiênciasconfiguradoras e organizadoras da própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> familiar.A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vencer as adversida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> corrigir a atitu<strong>de</strong> face à <strong>vida</strong>, recebe umainfluência <strong>de</strong>terminante ou pelo menos estruturante do trabalho realizado nestelaboratório <strong>de</strong> relações em equipa que é imperioso que continue a ser a família, sejaqual for a sua modalida<strong>de</strong> ou ida<strong>de</strong> que tenha.A posição intelectual que valorizamos neste âmbito consiste em propor uma novaatitu<strong>de</strong> ética sobre os problemas emocionais e/ou <strong>de</strong> comportamento: cada problemaou cada perda afectiva, profissional e económica, em cada momento do seu ciclo vitale em cada contexto específico, <strong>de</strong>ve correspon<strong>de</strong>r a uma mentalida<strong>de</strong> renovada queencare esses <strong>de</strong>safios frustrantes <strong>como</strong> oportunida<strong>de</strong>s reais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento psicológico.<strong>As</strong> afirmações do tipo – Será que um adulto que maltrata não terá em siuma criança maltratada – terão certamente <strong>de</strong> ser reapreciadas, pelas implicaçõesque produzem no estilo <strong>de</strong> <strong>vida</strong> e nas responsabilida<strong>de</strong>s perante situações. O valor<strong>de</strong>sta interrogação está <strong>de</strong>finitivamente em aproveitar a improbabilida<strong>de</strong> ou a imprevisibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> “fazer bem o bem” para provar que a resiliência existe e se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvernum processo formativo, lutando <strong>de</strong> forma cada vez mais explicita e assertivacontra a justificação psicológica do mal actual que cometemos pela <strong>vida</strong> <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>se <strong>de</strong> problemas vividos por cada um <strong>de</strong> nós no passado.A visão optimista que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos insere-se na proposta <strong>de</strong>liberada <strong>de</strong> riscar o maispossível do nosso projecto <strong>de</strong> <strong>vida</strong> (familiar) a justificação da falta <strong>de</strong> compromissosatravés <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpabilizações psicologizadas.A família tem hoje a sua oportunida<strong>de</strong> e para isso terá <strong>de</strong> se transcen<strong>de</strong>r através <strong>de</strong><strong>projectos</strong> ousados pela extensão da sua aplicabilida<strong>de</strong>, pela profundida<strong>de</strong> relacionalque envolvam e pela visão estratégica que possam proporcionar.43A construção do projecto familiarA <strong>vida</strong> familiar é um projecto, que se <strong>de</strong>seja renovável a cada <strong>de</strong>safio da <strong>vida</strong> em comum.A construção <strong>de</strong> experiências comuns e a partilha competente das experiências <strong>de</strong> cadaum dos seus membros, exige que se focalize a atenção para o processo comunicacional eSaber (e) Educar 11 | 2006


44que se realce a dose ajustada <strong>de</strong> tensão entre o que a família já consegue ser e o que preten<strong>de</strong>efectivamente vir a ser, num futuro próximo ou longínquo, sem obviamente <strong>de</strong>scurara atenção selectiva às oportunida<strong>de</strong>s resultantes, paradoxalmente, das próprias dificulda<strong>de</strong>s,<strong>de</strong> reestabelecer novas priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> actuação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir em tempo útil.A formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> familiar é constituída através <strong>de</strong> avanços e recuos nas respostasàs dificulda<strong>de</strong>s num processo <strong>de</strong> aprendizagem em comum on<strong>de</strong> se valorize amobilização pessoal pelo uso eficaz da dose <strong>de</strong> frustração que, em vez <strong>de</strong> bloquear o<strong>de</strong>senvolvimento, seja capaz <strong>de</strong> potencializar novas formas <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> integração<strong>de</strong> saberes e <strong>de</strong> afectos.A (auto) ajuda po<strong>de</strong> ser, assim, concretizada em muitos contextos da realida<strong>de</strong> familiar.Consi<strong>de</strong>ramos fundamental que os saberes familiares acumulados, constituamreferenciais estruturantes <strong>de</strong> pesquisas e formações sobre a família e também com afamília <strong>como</strong> participante activa.São, por exemplo, essenciais os estudos das dinâmicas, dos problemas e das competênciasfamiliares com os filhos nos vários grupos etários, das famílias monoparentais,das famílias com pessoas doentes, das famílias numerosas, das famílias sem filhose das famílias com um filho (família mais comum em Portugal).<strong>As</strong> interacções específicas na conjugalida<strong>de</strong> e na parentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada tipo familiar,permitirão diferenciar <strong>de</strong> forma mais efectiva o que as famílias têm todas em comum,o que as torna semelhantes só com algumas e também aquilo que é único em cadauma <strong>de</strong>las.Neste processo <strong>de</strong> construção e <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> familiar, merece <strong>de</strong>staquea necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r, i<strong>de</strong>ntificar e intervir nas fragilida<strong>de</strong>s e riquezasda família a partir do P.I. (Paciente I<strong>de</strong>ntificado) que nos sinaliza <strong>de</strong> formaindividual as problemáticas que será necessário trabalhar em cada sub-sistemafamiliar.Apren<strong>de</strong>r a falar bem sobre o que <strong>de</strong> mal ou bem acontece a cada um, mas que se vêapenas no P.I., é a matéria-prima para a construção do projecto <strong>de</strong> cada família.<strong>As</strong> competências, o sofrimento e a resiliência familiarO medo <strong>de</strong> viver a realida<strong>de</strong> familiar, conduz frequentemente ao bloqueio, transitórioou persistente, das relações internas da família ou do seu contacto com a <strong>vida</strong>exterior.Na relação conjugal, o tempo <strong>de</strong> atenção e <strong>de</strong> partilha é, muitas vezes, substituído poroutro tipo <strong>de</strong> afazeres ou <strong>de</strong> solicitações. Há, inclusive, formas subtis <strong>de</strong> valorizarSaber (e) Educar 11 | 2006


outros papéis e funções, a pretexto da sobreocupação e da relevância prioritária quelhes são atribuídas.Os momentos efectivos <strong>de</strong> interacção com os filhos são também, muitas vezes, preteridospor outros trabalhos apelidados <strong>de</strong> serem, curiosamente, consi<strong>de</strong>rados essenciaispara o bem-estar da família.Por sua vez, também a conjugalida<strong>de</strong> e a parentalida<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m chocar e prejudicarmutuamente. <strong>As</strong> fronteiras entre os papéis <strong>de</strong> cônjuges e <strong>de</strong> pais são frequentementeténues ou confusas e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam ciclicamente momentos <strong>de</strong> mal-estar, conflitos esofrimentos culpabilizantes.Que sentido tem este estilo <strong>de</strong> <strong>vida</strong> familiar que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia níveis crescentes <strong>de</strong>ansieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> angústia e <strong>de</strong> sofrimento? Como lidar explicitamente com a culpabilida<strong>de</strong>sentida por não ter o tempo suficiente, <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> partilha, paraprovar que as pessoas da família são efectivamente especiais?<strong>As</strong> boas práticas, com muitos e variados “atalhos legítimos”, conduzem-nos a umamudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> face ao que é essencial e que tem genuinamente valor em simesmo nesta problemática.Propomos que, essa busca <strong>de</strong> congruência entre o que realmente fazemos e o que<strong>de</strong>veríamos ter feito, nos mobilize para uma atitu<strong>de</strong> geradora <strong>de</strong> comportamentosresilientes: tratar <strong>de</strong> forma especial, com a atenção <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros profissionais dasrelações, as pessoas e as situações que são ou <strong>de</strong>vem ser especiais.Tudo isto pressupõe um esforço continuado <strong>de</strong> aproximação dos discursos eloquentese das boas práticas, condizentes com a necessida<strong>de</strong> premente <strong>de</strong> aperfeiçoar aqualida<strong>de</strong> da escuta, do acolhimento e da <strong>de</strong>dicação ao pormenor relacional, que sejacapaz <strong>de</strong> distinguir e referenciar cada <strong>de</strong>monstração genuína <strong>de</strong> afecto.O efeito será certamente níveis <strong>de</strong> (auto) protecção e <strong>de</strong> suporte emocional maisconseguidos, fundamentalmente nos momentos em que as situações difíceis <strong>de</strong>serem assumidas ou suportadas nos <strong>de</strong>safiam a sermos profundamente criativos.45A família resiliente com filhos na escolaA família com filhos na escola pressupõe uma gestão diferente da <strong>vida</strong> familiar. Oscomportamentos dos filhos são, muitas vezes, ina<strong>de</strong>quados e resultam <strong>de</strong> problemas<strong>de</strong> adaptabilida<strong>de</strong> da criança à escola e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação educacionaldos pais. Haverá, <strong>de</strong>ste modo, factores <strong>de</strong> risco que aumentam a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> um dos membros da família <strong>de</strong>senvolver um problema emocional ou comportamental.Saber (e) Educar 11 | 2006


46Esta situação é, sobretudo, importante nos períodos <strong>de</strong> transição entre os níveis <strong>de</strong>ensino e <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> grupos ou <strong>de</strong> estabelecimentos. 1Torna-se particularmente importante construir re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio educativo para ospais, no sentido <strong>de</strong> se aceitarem a si mesmos e <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rem a importância quetêm na construção dos <strong>projectos</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> das crianças. É também <strong>de</strong> realçar o valor doseu envolvimento e participação nas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s escolares. 2Neste sentido, <strong>de</strong>verá ser potencializada a função disciplinadora e <strong>de</strong>safiadora dospais <strong>como</strong> co -orientadores na educação dos filhos, <strong>de</strong>signadamente no processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento da sua inteligência emocional, para que saibam gerir com criati<strong>vida</strong><strong>de</strong>os momentos impossíveis <strong>de</strong> serem vividos segundo os padrões <strong>de</strong> adaptaçãocomuns.Torna-se, portanto, necessário construir programas <strong>de</strong> formação que preparem osprofessores para serem eles próprios formadores ou mediadores <strong>de</strong>ssa formação nospais. 3<strong>As</strong> cartas (ou mapas) familiares constituem a representação gráfica da estrutura efuncionamento familiares actuais que permite uma gestalt das fronteiras entre indivíduos,sub-sistemas e gerações, da gestão do po<strong>de</strong>r e do alinhamento relacional dosistema familiar (alianças, coligações e triangulações).O estudo concreto <strong>de</strong>ssas cartas ou mapas familiares constituem, no contexto <strong>de</strong>steestudo reflexivo, instrumentos muito úteis para compreen<strong>de</strong>r o funcionamento e os(<strong>de</strong>s) equilíbrios do sistema familiar e permitem i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>senvolver novospadrões <strong>de</strong> relação e <strong>de</strong> mediação família – escola.ConclusãoA construção <strong>de</strong> competências comunicacionais e emocionais na dinâmica familiar,nas várias etapas do seu ciclo vital, é um imperativo educativo e constitui uma referênciamobilizadora <strong>de</strong> comportamentos resilientes, capazes <strong>de</strong> enfatizar a atitu<strong>de</strong>optimista e (auto) transcen<strong>de</strong>nte face à <strong>vida</strong> futura.O <strong>de</strong>senvolvimento do projecto <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>de</strong> cada família, único e irrepetível, é a missãoestruturante que encontra ou reforça o sentido da <strong>vida</strong> em cada evento ou expe-1 VIEIRA, R., (1992). Entre a escola e o lar – o currículo e os saberes da infância, Lisboa, Esher.2 ALMEIDA, T., (1994). Estratégias <strong>de</strong> socialização das famílias: classes sociais e grupos étnicos, Lisboa,ISCTE, 1994.3 SOUSA, J., (2000). Dinâmica familiar e adaptação da criança à pré – escola, Recife, Lumen, vol.8 –número 1.Saber (e) Educar 11 | 2006


iência significativa, dolorosa ou gratificante, que os <strong>de</strong>sempenhos paternos e conjugaisproporcionam.A complexida<strong>de</strong>, a imprevisibilida<strong>de</strong> e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber viver as relações familiaresparentais e conjugais, nas diferentes crises que necessariamente se <strong>de</strong>param àfamília, exigem a intervenção em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> suportes emocionais e <strong>de</strong> saberes pluridimensionais,em que a realida<strong>de</strong> escolar será co-autora do êxito possível e sempre<strong>de</strong>sejado neste processo <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong>s. Esses factores <strong>de</strong> protecção referem-sea atributos individuais ou ambientais que servem <strong>de</strong> amortecedores entreo sujeito e a situação stressante. São exemplos <strong>de</strong> factores familiares protectores: oafecto, o suporte emocional, a existência <strong>de</strong> limites claros, a coesão, a flexibilida<strong>de</strong>, acomunicação aberta, a competência <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas e o sistema <strong>de</strong> crençaspositivas.A família e a escola têm, assim, um projecto comum a cumprir, embora com papéis efunções diferenciadas. Sem a concretização <strong>de</strong>sse projecto não haverá provavelmentenem <strong>vida</strong> familiar nem <strong>vida</strong> escolar <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e a crescente eficácia <strong>de</strong>sse projecto<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da forma <strong>como</strong> enfrentamos e encaramos as dificulda<strong>de</strong>s <strong>como</strong> oportunida<strong>de</strong>sespeciais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.47Referências bibliográficasALARCÃO, M. (2000). (Des)Equilíbrios Familiares,Coimbra, Quarteto.ALMEIDA, T., (1994). Estratégias <strong>de</strong> socialização das famílias:classes sociais e grupos étnicos, Lisboa, ISCTE.ALMEIDA E COSTA, J. M. (1994). A realida<strong>de</strong>construída. In J. Gameiro. Quem sai aos seus… Porto, EdiçõesAfrontamento.ASEN, K.; TOMSON, P. (1997). Intervención familiar,guia prática para los profesionales <strong>de</strong> la salud. Barcelona, Paidós.AUSLOOS, G.(1996). A competência das famílias, tempo,caos, processo. Lisboa, CLIMEPSI Editores.BÉNOIT, J. C. (1997). Tratamento das perturbações familiares.Lisboa, CLIMEPSI Editores. Edição original, 1995.BOSCOLO, L.; BERTRANDO, P. (1996). Los tiempos<strong>de</strong>l tiempo, una nueva perspectiva para la consulta y la terapia sistémicas.Barcelona, Paidós. Edição original, 1993.CANCRINI, L.; GREGORIO, F.; NOCERINO, S.(1997). Las familias multiproblemáticas. In M. Coletti,J. L. Linares (comp.). La intervención sistémica en los serviciossociales ante la familia multiproblemática, la experiencia <strong>de</strong> CiutatVella. Barcelona, Paidós.CARTER, B.; McGOLDRICK, M. (1995). <strong>As</strong> mudançasno ciclo <strong>de</strong> <strong>vida</strong> familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2ed., Porto Alegre, Artes Médicas. Edição original, 1989.COLAPINTO, J. (1995). Dilution of family processin social services: implications for treatment of neglectedfamilies. Family Process, 34, 1, Printed from TheFamily Process CD-ROM.SOUSA, J., (2000). Dinâmica familiar e adaptação da criançaà pré – escola, Recife, Luman, vol.8 – número 1.VIEIRA, R., (1992). Entre a escola e o lar – o currículo e ossaberes da infância, Lisboa, Esher.Saber (e) Educar 11 | 2006

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