Os Diferentes Tipos <strong>de</strong> Usuários ou <strong>de</strong>Envolvimento com as <strong>Drogas</strong>Um <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s primordiais ao se abordar o tema das drogas é terclaro a distinção entre os diferentes tipos <strong>de</strong> usuários, a partir das características<strong>do</strong> seu envolvimento com as drogas. É fundamental não aplicar o conceito <strong>de</strong><strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para to<strong>do</strong>s os usuários <strong>de</strong> drogas, pois nem sempre este é o caso.Por outro la<strong>do</strong>, mesmo aquelas pessoas que não estão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntesmerecem atenção, pois antes <strong>de</strong> se instaurar um quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, oindivíduo já po<strong>de</strong> ter problemas relaciona<strong>do</strong>s ao uso in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> (problemasfamiliares, sociais, legais, trabalhistas, etc). É possível fazer diagnósticosprecoces, evitan<strong>do</strong> a instalação da <strong>de</strong>pendência e to<strong>do</strong>s os prejuízos <strong>de</strong>correntes.O uso <strong>de</strong> drogas não leva, necessariamente, ao abuso ou <strong>de</strong>pendência,sen<strong>do</strong> possível i<strong>de</strong>ntificar diferentes tipos <strong>de</strong> usuários. Abaixo umaclassificação didática sobre tipos <strong>de</strong> usuários:1. O usuário experimental ou experimenta<strong>do</strong>r: é aquele queexperimenta uma ou mais drogas por curiosida<strong>de</strong>, por pressão <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong>amigos, ou por qualquer outro motivo, sem dar continuida<strong>de</strong> ao uso. Comoexemplo po<strong>de</strong> ser o caso <strong>de</strong> um a<strong>do</strong>lescente que fumou maconha uma ou duasvezes, pela facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao produto passa<strong>do</strong> tranquilamente numafestinha por amigos, sem que essa experiência casual tenha se repeti<strong>do</strong>.2. O usuário ocasional ou recreativo: é o que utiliza uma ou maissubstâncias, quan<strong>do</strong> disponíveis, em ambiente favorável e em situações específicasou <strong>de</strong> lazer, sem que esse uso eventual tenha qualquer efeito negativo nassuas relações sociais, afetivas ou profissionais. Po<strong>de</strong>mos incluir aqui os chama<strong>do</strong>sbebe<strong>do</strong>res sociais, que ingerem bebidas alcoólicas nos finais <strong>de</strong> semana ouem ocasiões especiais, como festas, jantares e datas comemorativas.3. O usuário freqüente ou funcional: é aquele que faz usohabitual <strong>de</strong> uma ou mais drogas <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> controla<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong> ocorrer, <strong>de</strong> formaesporádica, algum prejuízo nas relações sociais, familiares, profissionais emfunção <strong>de</strong> um comportamento que começa a se tornar sistemático e repetitivo,seguin<strong>do</strong> um certo ritual que passa a chamar a atenção pela importância queo consumo adquire na rotina <strong>do</strong> usuário.4. O usuário abusivo: é aquele que já apresenta problemas peloconsumo excessivo <strong>de</strong> uma ou mais drogas em uma das esferas <strong>de</strong> sua vida,mas ainda está se manten<strong>do</strong> nas <strong>de</strong>mais. Os problemas que surgem já sãoi<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s por terceiros, mas são nega<strong>do</strong>s pelo usuário.5. O usuário <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: para <strong>de</strong>finirmos se alguém é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> drogas, seguimos o critério da Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> - OMS, queconsi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma droga a pessoa que apresenta três ou mais dasseguintes manifestações:• Forte <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> consumir a droga;• Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar o consumo (por exemplo, a hora em quecomeça ou pára <strong>de</strong> fazê-lo, a quantida<strong>de</strong> e o número <strong>de</strong> vezes que faz uso);16SENAD
A <strong>Prevenção</strong> <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> <strong>Drogas</strong>e a <strong>Terapia</strong> <strong>Comunitária</strong>• Utilização persistente da droga apesardas suas conseqüências prejudiciais;• Maior priorida<strong>de</strong> dada ao uso da drogaem <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s ou obrigações;• Aumento da tolerância à droga (necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>ses cada vez maiores para obtero mesmo efeito);• Síndrome <strong>de</strong> abstinência (sintomascorporais como <strong>do</strong>res, tremores, <strong>de</strong>ntre outras,que ocorrem quan<strong>do</strong> o consumo da drogaé interrompi<strong>do</strong> ou diminuí<strong>do</strong>).A <strong>Terapia</strong> <strong>Comunitária</strong> naabordagem PreventivaA terapia comunitária é um espaço noqual vários <strong>do</strong>mínios da vida <strong>do</strong> indivíduo e dacoletivida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser trabalha<strong>do</strong>s, sejam elesfamiliar, profissional, comunitário, cultural, entreoutros.É um espaço <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> encontrosinterpessoais e intercomunitários, objetivan<strong>do</strong>a valorização das histórias <strong>do</strong>s participantes,o resgate da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a restauração daauto-estima e da confiança em si, a ampliaçãoda percepção <strong>do</strong>s problemas e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>resolução. Tem como base <strong>de</strong> sustentação o estímulopara o <strong>de</strong>senvolvimento ou a criação <strong>de</strong> umare<strong>de</strong> <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>.Este contexto <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>expressão <strong>do</strong>s conflitos, me<strong>do</strong>s e dúvidas, numambiente livre <strong>de</strong> julgamentos, on<strong>de</strong> se valorizamas diferenças individuais e as experiências <strong>de</strong> vida<strong>de</strong> cada um, favorece a prevenção, o tratamento ea reinserção social <strong>de</strong> usuários, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e suasfamílias.Verifica-se a mudança <strong>de</strong> uma políticaassistencialista para uma política <strong>de</strong> participaçãosolidária. Um novo paradigma nas políticaspúblicas que possibilita o <strong>de</strong>senvolvimento comunitárioe social da população.A Política Nacional sobre <strong>Drogas</strong> - PNAD<strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral alinha-se a esta perspectivaquan<strong>do</strong> enten<strong>de</strong> que fazer prevenção <strong>do</strong> usoin<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>de</strong> drogas é promover a inclusãosocial, em especial daquelas populaçõescujas <strong>de</strong>mandas pessoais e sociais colocam-nasmais expostas aos fatores <strong>de</strong> risco e, portanto,mais vulneráveis ao uso in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>de</strong> drogas.Quan<strong>do</strong> os habitantes <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>não possuem laços sociais fortaleci<strong>do</strong>s é mais fácil<strong>de</strong> se expandirem os fatores <strong>de</strong> risco gera<strong>do</strong>res<strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas pelas drogas e também a ampliaçãoda oferta com a conseqüente violência gerada pelotráfico e o crime organiza<strong>do</strong>.A promoção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais que resultemem vínculos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> entre as pessoasnos diversos tipos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s constitui,sem dúvida, um fator <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong>s maisimportantes a serem incrementa<strong>do</strong>s pelosprogramas <strong>de</strong> prevenção ao uso in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>de</strong> drogas,nas esferas fe<strong>de</strong>ral, estadual ou municipal.É nesta perspectiva que a meto<strong>do</strong>logiada terapia comunitária está sen<strong>do</strong> qualificadacomo uma estratégia eficaz <strong>de</strong> prevenção <strong>do</strong> usoin<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>de</strong> drogas, <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>construção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais integran<strong>do</strong> as tantaspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ações preventivas <strong>do</strong> uso <strong>de</strong>drogas.A <strong>Terapia</strong> <strong>Comunitária</strong>amplian<strong>do</strong> a <strong>Prevenção</strong>em Re<strong>de</strong>Re<strong>de</strong> social tem como conceito “umconjunto <strong>de</strong> relações interpessoais concretasque vinculam indivíduos a outros indivíduos àmedida que se percebe o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cooperaçãocomo atitu<strong>de</strong> que enfatiza pontos comuns em umgrupo para gerar solidarieda<strong>de</strong> e parceria” (Duarte,2004, pag. 30).Esta <strong>de</strong>finição assemelha-se sobremaneiracom a proposta da terapia comunitária, fundamentadanos termos da abordagem sistêmica, daantropologia cultural e da teoria da comunicação.O próprio movimento da terapiacomunitária no Brasil é uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> que setorna parte <strong>de</strong> outra re<strong>de</strong> ampliada <strong>de</strong> prevenção.SENAD 17