JORNAL DE LEIRIA | 17 DE JANEIRO DE 2008 | V | I | V | E | R | 14|LivrosII Encontro <strong>de</strong> Escritores <strong>de</strong> Língua PortuguesaIPL homenageiaManuel AlegreO Instituto Politécnico <strong>de</strong><strong>Leiria</strong> (IPL) homenagem o poetaManuel Alegre, durante o IIEncontro <strong>de</strong> Escritores <strong>de</strong> LínguaPortuguesa, que terá lugarnos dias 24 e 25, em <strong>Leiria</strong>.Durante a cerimónia, será igualmentelançado o Prémio <strong>de</strong> PoesiaManuel Alegre, <strong>de</strong> âmbitonacional e a promover por esteinstituto <strong>de</strong> dois em dois anos.O Presi<strong>de</strong>nte da República, AníbalCavaco Silva, presi<strong>de</strong> àComissão <strong>de</strong> Honra da iniciativa,que integra também osministros da Ciência, Tecnologiae Ensino Superior, da Culturae da Educação, entre diversosoutros altos responsáveisdo Estado e <strong>de</strong> algumas dasprincipais instituições culturaisportuguesas. Na sessão <strong>de</strong> encerramento,serão entregues, aosvencedores, os prémios do Concurso<strong>de</strong> Literatura, instituídocom o objectivo <strong>de</strong> promovera criação literária, tendo comoDRreferência a região <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> eOeste. A concurso apresentaram-se131 obras, repartidaspelas categorias <strong>de</strong> Conto e Poesia.O Encontro <strong>de</strong> Escritores <strong>de</strong>Língua Portuguesa conta, esteano, com 20 personalida<strong>de</strong>s dacultura portuguesa e lusófona,numa iniciativa aberta à comunida<strong>de</strong>e com inscrições gratuitas,que po<strong>de</strong>rão ser feitasem www.ipleiria.pt. Subordinadoao tema A escrita e a cidadania,o evento acolherá autores<strong>de</strong> expressão portuguesa <strong>de</strong>várias nacionalida<strong>de</strong>s, comoBrasil, São Tomé e Príncipe,Cabo Ver<strong>de</strong> e Angola. AntónioTorrado, Ana Maria Magalhães,Carlos Pinto Coelho, José JorgeLetria, Rui Zink, Nuno Júdice,Joaquim Vieira, ManuelaGonzaga, Marta Gautier, VascoGraça Moura, Corsino Fortes,Olinda Beja e Ruy Duarte<strong>de</strong> Carvalho são alguns dosescritores convidados. A primeirasessão será marcada pelo<strong>de</strong>bate sobre a importância dainfância e juventu<strong>de</strong> na carreirados autores, seguindo-se<strong>de</strong>pois a abordagem da ciberliteraturaou das relações como jornalismo. Ao final do primeirodia, será apresentada aAntologia <strong>de</strong> Novos Autores <strong>de</strong><strong>Leiria</strong>, numa edição do Centrodo Património da Alta Estremadura.No dia 25, Corsino Fortes,Olinda Beja e Américo Oliveirafalarão da literatura comoretrato social <strong>de</strong> um povo,seguindo-se um <strong>de</strong>bate sobre aestética da leitura, com NunoJúdice, Ruy Duarte <strong>de</strong> Carvalhoe Vasco Graça Moura. Naprimeira edição <strong>de</strong>ste encontro,realizada em 2001, o IPLhomenageou o escritor JoséSaramago, tendo dado o nomedo Prémio Nobel à bibliotecada instituição. De acordo coma organização, o objectivo doencontro é "alargar o leque <strong>de</strong>ofertas culturais da instituição",criando "um espaço <strong>de</strong> reflexãoe discussão sobre questõesrelacionadas com a formaçãopara a cidadania dos indivíduos,e evi<strong>de</strong>nciar a importânciado contributo que, nessecontexto, os escritores e a literaturahoje assumem".-S U G E S T Õ E S A R Q U I V OLIVROS INCLUÍDOS NA LISTA DOS TÍTULOS DE 2007 MAIS BEM CLASSIFICADOS PELA REVISTA OS MEUS LIVROSO Cabo das TormentasNINA BÉRBEROVAEDITORA: SUDOESTE EDITORAA EstradaCORMAC MCCARTHYEDITORA: RELÓGIO D'ÁGUAA Chave <strong>de</strong> CasaTATIANA SALEM-LEVYEDITORA: COTOVIAA Ponte Sobre o DrinaIVO ANDRICEDITORA: CAVALO DE FERROGente In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteHALLDÓR LAXNESSEDITORA: CAVALO DE FERROExiladas russas emParis, três irmãs encarnama tragédia do séculoXX. A mais velhaprocura a harmonia,habitada pelo pressentimentodo milagre quetem <strong>de</strong> levar a cabo. A segunda, tentapôr em prática a sua teoria da fragmentaçãodo mundo, alimentandoseda felicida<strong>de</strong> dos outros. A maisnova vê a vida como uma libertaçãoinfinita do reino do medo. Tudo setransforma em vésperas da SegundaGuerra.A Estrada é a históriaverda<strong>de</strong>iramentecomovente <strong>de</strong> uma viagem,que imagina comousadia um futuro on<strong>de</strong>não há esperança, mason<strong>de</strong> um pai e um filho,“cada qual o mundo inteiro do outro”,se vão sustentando através do amor.Uma meditação inabalável sobre opior e o melhor <strong>de</strong> que somos capazes:a <strong>de</strong>struição última, a persistência<strong>de</strong>sesperada e o afecto que mantémduas pessoas vivas enfrentandoa <strong>de</strong>vastação total.Tatiana Salem Levy,sobrepõe uma narrativa<strong>de</strong> viagem a uma história<strong>de</strong> paralisia. Umcorpo que percorre a Turquiana esperança <strong>de</strong>encontrar uma casa <strong>de</strong>família e um corpo que jaz e sofrenuma cama. Um paralelo tão contraditóriocomo as confissões quelemos; E, ao mesmo tempo, por entrenarrativas ficcionais e memorialísticas,a figura maternal, a mãe que seama, a mãe que já morreu mas quese quer ressuscitar, a mãe <strong>de</strong> que seprecisa.No início, o leitorencontra-se em plenoséculo XVI, em Visegrad,cida<strong>de</strong> na fronteira entrea Sérvia e a Bósnia. Mehmed-Paxá,Grão-vizir,sonha ainda com o diaem que, criança, foi separado da suafamília cristã, obrigado a atravessarpara a outra margem do rio. É essacriança que agora, décadas <strong>de</strong>pois,convertido à fé do Islão, dá a or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma ponte sobre orio Drina. Esta é a história épica <strong>de</strong>ssaponte, e também a dos seus habitantes.Este romance <strong>de</strong> Laxness,Nobel da Literatura,tem lugar na Islândia,no início do séculoXX numa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>servidão e num país comuma natureza inclemente.É a saga <strong>de</strong> Bjartur, um homem obstinado,inquebrável e inesquecível.Gente In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é uma históriaépica, ao mesmo tempo trágica e bela.É uma imensa viagem por um mundoon<strong>de</strong> as almas são levadas até aoprecipício e só os mais duros resistem.Todo-o-MundoPHILIP ROTHEDITORA: DOM QUIXOTEMeio-IrmãoLARS SAABYE CHRISTENSENEDITORA: CAVALO DE FERROCatalinaMARKUS ORTHSEDITORA: DIFELO Meu Nome é LegiãoANTÓNIO LOBO ANTUNESEDITORA: DOM QUIXOTEContosSAKIEDITORA: RELÓGIO D'ÁGUAO <strong>de</strong>stino do homem<strong>de</strong> Roth é traçado logoa partir do primeiro echocante confronto <strong>de</strong>stecom a morte, nas praiasidílicas dos seus verões<strong>de</strong> infância, passandopelas provações familiares e pelossucessos profissionais da ida<strong>de</strong> adultae terminando na velhice, em quese sente dilacerado pela <strong>de</strong>cadênciados seus contemporâneos e perseguidopelos seus próprios pa<strong>de</strong>cimentosfísicos.«Meio-irmão» é umromance épico verda<strong>de</strong>iramenteenvolventesobre a vida <strong>de</strong> quatrogerações numa famíliamarcadamente invulgar.No centro da trama estáFred, o boxeur, e o seu irmão maisnovo, Barnum. Os dois são meioirmãosmuito unidos, mas radicalmentediferentes. Criado no meio dasexcentricida<strong>de</strong>s das quatro geraçõesda sua família, Barnum mergulha nahistória da família para dali retirarinspiração para os guiões <strong>de</strong> cinemaque escreve, e procurar um sentidopara a sua própria vida.A vida miraculosa elibertina da freira-tenentebasca do século XVII.Po<strong>de</strong>ria uma rapariganascida na Espanha doséculo XVII tornar-seoutra coisa excepto aquiloque <strong>de</strong>la se esperava? Po<strong>de</strong>ria elaalguma vez transformar-se numhomem? Uma mulher extraordináriapodia, e fê-lo. E a sua nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,criada com <strong>de</strong>terminação, torna-se<strong>de</strong> tal forma interiorizada queela não apenas convence todos osque a cercam – incluindo os seusamantes – como até eventualmentese convence a si própria.O livro começa comoum relatório <strong>de</strong> polícia,<strong>de</strong>screvendo a vida <strong>de</strong>um gang numa zona aque se chama simplesmenteBairro e que nospo<strong>de</strong> fazer evocar umqualquer bairro periférico <strong>de</strong> umagran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. Com O Meu Nome éLegião percorremos, como se fosse anossa vida, a vida <strong>de</strong> pessoas quevivem na pior parte do pior sítio domundo – pessoas que são muitos,sendo o mesmo, e sendo esse «mesmo»uma parte oculta, <strong>de</strong>sesperada esilenciosa <strong>de</strong> nós, que se esforça poracreditar que há uma salvação.Saki era um pseudónimousado por HectorHugh Munro, nascido naBirmânia, filho <strong>de</strong> umchefe da polícia imperialbritânica. A mãe morreulheaos dois anos dos efeitosindirectos <strong>de</strong> um ataque <strong>de</strong> umbovino tresmalhado e, em resultadodo infausto caso, o jovem foi severamenteeducado pela avó e por umastias solteirasCom o apoio da LIVRARIA ARQUIVO
EvasõesDoce como o melComo o meu mel e os meus figos,Bebo o meu vinho e o meu leite.Comei, amigos, e bebeiMeus queridos, embriagai-vos.O Cântico dos CânticosFOTOS: DRUma notícia <strong>de</strong> um naufrágiono Atlântico Norte, juntoda costa da Flandres, dá-nosconta do que um mercador portuguêsper<strong>de</strong>u na voragem domar. Estava-se nos finais doséculo XII e entre as mercadoriasque foram parar aos fundosmarinhos constavam, fundamentalmente,produtosagrícolas e “melaço”. Certamenteque o cronista se queriareferir ao mel, uma vez queo melaço extraído da cana-<strong>de</strong>açúcarseria praticamente <strong>de</strong>sconhecidoneste recanto europeu.Tal informação sugere-nosa importância, e o estatuto <strong>de</strong>produto digno das honras daexportação, do mel que se extraíaem Portugal, proveniente dolabor incessante do que entãose chamava, expressivamente,“gado do ar”.No Portugal medieval o melassumia um importante papelna alimentação, papel esse relativamentesecundarizado coma emergência do açúcar, <strong>de</strong> consumo<strong>de</strong>mocratizado após oséculo XVI. Contudo, o melmanteve sempre a sua aura <strong>de</strong>produto imprescindível, comoo doce mais completo e complexoproduzido directamentepela natureza.“O Cântico dos Cânticos”,esse belo e mavioso livro bíblicoatribuído ao sábio Salomão,rei <strong>de</strong> Israel, não <strong>de</strong>ixa, nos versículosem epígrafe, <strong>de</strong> honrara fama e o prestígio <strong>de</strong> que omel <strong>de</strong>sfrutava, entre outras<strong>de</strong>liciosas iguarias próprias domundo mediterrânico como osfigos, o leite e o vinho, terminandocom um apelo, que sediria politicamente pouco correcto,apelando à embriaguêsnatural dos sentidos.A fama do mel surge, semdúvida, imersa na poeira dosséculos. Há quem diga mesmoque o seu sabor po<strong>de</strong>ria sersemelhante ao da ambrósia, omanjar que só po<strong>de</strong>ria ser apreciadopelos <strong>de</strong>uses, <strong>de</strong> que consistiaa sua principal dieta.Conhecendo-se os excessos eos prazeres que regulavam aexistência dos <strong>de</strong>uses no Olimpo,fácil se torna supor que aambrósia seria o prazer gastronómicono estado puro, certamentesemelhante ao mel, omais doce alimento ao seu alcance.De manjares divinos estãoas mitologias repletas. O próprioDeus dos hebreus não <strong>de</strong>ixou<strong>de</strong> lhes enviar, quandoestiolavam e morriam <strong>de</strong> fomeno <strong>de</strong>serto durante o regressoà terra prometida, esse famosomaná caído dos céus e naturalmenteproduzido pelas árvoresdo paraíso que, pobresmortais, <strong>de</strong>sconhecemos.Mais tar<strong>de</strong>, também no <strong>de</strong>serto,essa terra <strong>de</strong> ninguém on<strong>de</strong>se vive tendo por companhiaa fome e a morte, João Baptistaescapou <strong>de</strong> morrer à mínguaalimentando-se <strong>de</strong> gafanhotose <strong>de</strong> mel, uma dietapouco apelativa apesar <strong>de</strong> inspiradae fornecida por Deus.Mas João era eremita e, sendotudo por mor dos pecados domundo, tal repasto certamentefoi bem-vindo e permitiulhecontinuar o caminho dasantida<strong>de</strong>.Vem tudo isto a propósito <strong>de</strong>ssenotável alimento, dotado <strong>de</strong>múltiplas funções tanto alimentarescomo curativas, queé o mel produzido pelas abelhasmelíferas, como muito bemexplica José Marques da Cruzno seu “Em Nome do Mel”, livrofundamental para o conhecimentoda sua utilização na gastronomiae na saú<strong>de</strong>, assimcomo para o gratificante encontrocom a sua história.Um sabor antigoA doçaria portuguesa mais antigaainda reflecte o papel primordialque o mel assumiuantes da <strong>de</strong>mocratização provocadapelo açúcar, naturalmenteproporcionada pelo preçomais baixo <strong>de</strong>ste ingrediente,produzido em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>no Brasil a partir <strong>de</strong> meadosdo século XVI.Evi<strong>de</strong>ntemente que a apiculturanão goza hoje dos favores eda fama do passado. Contudo,os produtos que <strong>de</strong>ssa activida<strong>de</strong>se retiram continuam aser extremamente úteis aos consumidores.São diversificados,não se limitando exclusivamenteao mais conhecido, omel.O complexo labor da colmeiaenvolve outros como a ceraque, entre as suas utilizações,serviu para a iluminação duranteséculos, além <strong>de</strong> outros usosindustriais como os sabões, vernizes,mol<strong>de</strong>s, sem esquecer asua utilização na medicina. Opropólis é outro <strong>de</strong>stes elementoscom excelentes proprieda<strong>de</strong>scurativas, nomeadamentecomo antibiótico ecicatrizante. A geleia real, alimentodas larvas <strong>de</strong>stinadas aabelhas-mestras, é igualmenteutilizado pelo homem comomedicamento natural e suplementoenergético. O mesmo sepassa com o pólen, que assumeuma gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> comosuplemento alimentar, complementandocarências.Mas o mel não se esgota numavocação utilitária. Os antigos,como vimos, consi<strong>de</strong>raram-noum manjar digno dos próprios<strong>de</strong>uses. A ambrósia, pensavam,só po<strong>de</strong>ria ter sabor semelhante.De doçura tratamos quandofalamos <strong>de</strong> mel, o maravilhosonéctar que as discretas eincansáveis abelhas obreirasproduzem incessantementedurante o curso rápido da suavida. O mel, com as suas inumeráveisaplicações, é umadádiva notável que a naturezanos oferece. E merece ser reconhecido.Orlando Cardosoorlandocardososter@gmail.com| V | I | V | E | R | 15 |JORNAL DE LEIRIA | 17 DE JANEIRO DE 2008