12.07.2015 Views

Edição integral - Adusp

Edição integral - Adusp

Edição integral - Adusp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Revista <strong>Adusp</strong>De Portugal já seafirmou que foi o“último teatro leninistada história”. Esobre sua Revolução,Mário Soares, omais destacado político do PartidoSocialista, disse: é aquela em que osmencheviques venceram.Essas expressões andam meioesquecidas no Portugal de hoje.Não pelo conteúdo, mas pela desusadalinguagem esquerdista. Paísque se sente (ou quer sentir-se)tipicamente europeu, integrado nosritmos fortes das economias setentrionaisdo Velho Mundo, Portugalerigiu a memória oficial e institucionalde uma revolução “pacífica”,“européia”, “democrática”, “antifacista”.E só não se diz “liberal”porque seria difícil apagar da suahistória os arroubos ideológicos eas esperanças utópicas que o dia 25de abril de 1974 desencadeou.Naquela data, os oficiais do Movimentodas Forças Armadas (MFA)despontaram de uma longa e friorentamadrugada para encarar o sol dasmultidões numa tarde de Lisboa. Acanção que servira de senha para arevolução, “Grândola, Vila Morena”(José Afonso), seria depois entoadacomo hino oficioso do país liberto. Ocapitão Salgueiro Maia, aquele querendeu o primeiro-ministro MarcelloCaetano, conheceria a fama, mas nãoo poder que ele não quis. O majorOtelo Saraiva de Carvalho, líderoperacional do golpe, só meses depoisse tornaria conhecido como umlíder de ultra-esquerda, defensor dopoder popular armado. E os demaissoldados se surpreenderiam, naquele25 de abril, ao receber a ovação dopúblico e as flores das mulheres queas costumavam vender nas ruas deLisboa. Era a Revolução dos Cravos.Talvez ninguém mais do que ospróprios oficiais do MFA espelhem aforça e a fragilidade desta revoluçãoímpar. Eles quiseram mais do que ahistória parecia disposta a permitirlhes.De fato, a Revolução Portuguesapareceu ser a última do gênero nocontinente europeu no século XX. Ese alimentou, como todas as outras,das idéias emanadas das duas grandesrevoluções: a Francesa e a Russa.Para não falar de uma terceira,A ditadura salazaristanunca foi estável. Umaparte do povo nuncaa aceitou, e oficiaisconspiravam contra oditador. A fragilidadedo regime evidenciou-senos anos 60Outubro 2004que encantou pequenos setores estudantise militares, a Chinesa. Masquando saíram às ruas, os militaresqueriam somente três coisas: pôrfim à ditadura; resgatar o prestígiodas Forças Armadas; e terminar aGuerra Colonial em África que jáestava virtualmente ganha pelos inimigos(os movimentos guerrilheirosde esquerda).Mas, ao formular tais objetivos,tomaram consciência de problemasde longa duração na história portuguesa.Afinal, o país vivera nos últimosséculos a condição de um impérioultramarino acostumado a ver-secom lentes dilatadas e não tal qualum pequeno retângulo na ponta extremadado Velho Mundo. O rostoda Europa. As elites lusitanas, desdesempre, recitavam a poesia da decadênciae da necessidade de retomaros ritmos europeus. De voltar, comoqueria Antero de Quental, ao convíviodas “nações civilizadas”. Portugalfazia a última revolução tambémpara findar o último império.Ao longo do século XIX suas elitespolíticas e intelectuais procuraramadotar formas de consciência, adaptadasà “idéia européia”: o cartismo, osetembrismo, a Regeneração, o liberalismo,o republicanismo, o socialismo,o anarquismo, o comunismo. Ostrês primeiros desses termos só sãoconhecidos fora de Portugal pelos rarosespecialistas em História Ibéricaou por quem se deu ao trabalhode ler alguma História do Portugalcontemporâneo — tema, aliás, deescasso estudo no Brasil, onde sóaprendemos algo sobre Portugal atéa nossa independência política em1822. Todos esses rótulos ideológicos,por mais sinceramente adotados,não lograram, na prática concreta,ultrapassar os limites do ideário deuma democracia formal integradanuma ordem transnacional (todavia“européia”).Portugal atravessou um períodomonárquico relativamente estáveldepois do período de convulsões eguerras que vai de 1820 à metade doséculo XIX. Ao menos até o ultimatoinglês de 1891 que humilhou os sentimentosnacionais. Em 1910 nasceu aRepública. Foi a tentativa de regenerarde fato o país e adaptá-lo às correntesda época, que destruíam impé-7

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!