a anamorfose na escritura de antónio lobo antunes - revista Icarahy

cosmológico, o autor defende a tese de que o movimento realizado pela figura da elipseoferece-nos uma outra perspectiva, impelida por um constante movimento de mudança.De acordo com Chiampi, “a elipse kepleriana (que descreve o trajeto da terra aoredor do sol) tem seu análogo na elipse da retórica barroca (o significante que descreveuma órbita ao redor de outro ausente ou excluído)” (CHIAMPI, 1998:31). Nessesentido, a elipse representa o descentramento, a perturbação do círculo, e a arte passa aser capaz de traçar uma complexidade de criações relativas à forma e ao conteúdo.Assim, não encontramos o mesmo espaço para obras que visam à simetria perfeita ou aoantropocentrismo, motivos que regulavam as produções culturais do renascimento,período em que as manifestações artísticas eram apresentadas de maneira ordenada,revelando-se como expressão da harmonia do Homem e do mundo.Contrapondo-se a essa ordem, o barroco vai ser caracterizado pelo desequilíbrio epela paixão porque o artista está diante de uma nova consciência cósmica, de uma noçãode espaço infinito e de um universo descentrado. Desenvolve-se, portanto, uma noçãoangustiante do tempo sob a forma de fuga, dissolução e morte, que vai distinguir obarroco como um reflexo do efêmero e do instável. Da mesma maneira, na artecontemporânea, a estética neobarroca passa a representar uma subversão em relação aocentro. 2O nosso objetivo é demonstrar que a expressão da anamorfose – como formamodificada da escrita ou como reescrita textual da matéria narrada – pode serconfigurada como um procedimento estético que permeia algumas narrativas deAntónio Lobo Antunes. Segundo Maria Alzira Seixo, a anamorfose atravessa toda anarrativa de Não Entres tão depressa nessa noite escura, e[...] vai condicionar o próprio desejo de complementação dos dados ficcionais por parte doleitor, que se habitua a um esquema de variações refiguradas de um número determinado e