12.07.2015 Views

a anamorfose na escritura de antónio lobo antunes - revista Icarahy

a anamorfose na escritura de antónio lobo antunes - revista Icarahy

a anamorfose na escritura de antónio lobo antunes - revista Icarahy

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sombra, como fez o artista barroco, ou como <strong>na</strong> estética neobarroca, uma vez que nãocontempla uma obra acabada, mas sim uma obra aberta (no sentido <strong>de</strong> estrutura aberta esegundo os princípios <strong>de</strong> Heinrich Wölfflin – as formas abertas do barroco), cujaestrutura apresenta lacu<strong>na</strong>s ou vazios a serem (ou não) preenchidos pelo leitor 3 . Aseguir, percebemos a relação conflitante entre Paulo, o pai (Carlos-Soraia) e a mãe, emvirtu<strong>de</strong> do envolvimento amoroso <strong>de</strong> Carlos-Soraia e Rui. O relato é <strong>de</strong> Paulo:[...] uma ruga <strong>na</strong> corti<strong>na</strong> e o meu pai a chamar-me, não vestido, <strong>de</strong> roupão e cabeleiraoblíqua, agra<strong>de</strong>cido ao Rui, enervando-se comigo_ Nunca me viste tu?e <strong>na</strong> cara <strong>de</strong>le não eu, a minha mãe a protestar calada ou recolhendo com o mindinho umpingo <strong>de</strong> <strong>de</strong>silusão para o interior da pálpebra_ Carlosas palavras a trotarem entre nós numa exaltação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertareunimo-los, reunimo-lospuxando-o, puxando-me, aproximando-nos, quer-se dizer aproximando-me <strong>de</strong>lee eu sem vonta<strong>de</strong> nenhumafilando-me a manga com pontos <strong>de</strong> exclamação <strong>de</strong> incisivos, pontos <strong>de</strong> suspensão <strong>de</strong>molares, o til do contorno dos lábios, o meu pai atento à maquilhagem, às meias que o<strong>de</strong>sajeitado do meu filhonunca vi uma coisa assimvai <strong>de</strong> certeza romper-me_ Detesto que me agarres (ANTUNES, 2001:468).Em outro ensaio <strong>de</strong> Severo Sarduy, intitulado “La simulación”, o autor asseguraque a <strong>a<strong>na</strong>morfose</strong> é o discurso do espectador, pois neste caso há algo <strong>na</strong> obra <strong>de</strong> arte quelhe é ocultado, impelindo aquele que a aprecia a participar <strong>de</strong> sua feitura. A <strong>a<strong>na</strong>morfose</strong>é uma rubrica das artes plásticas e representa uma figura, um objeto ou uma ce<strong>na</strong> <strong>de</strong>maneira que, quando contemplada frontalmente, tor<strong>na</strong>-se distorcida e até mesmoirreconhecível, aparecendo com niti<strong>de</strong>z somente quando vista <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>doângulo, a certa distância, ou ainda com o uso <strong>de</strong> lentes especiais, ou com a ajuda <strong>de</strong> umespelho curvo. Para Sarduy,A <strong>a<strong>na</strong>morfose</strong> e o discurso do espectador como forma <strong>de</strong> ocultação: algo que se oculta aosujeito – e daí o seu mal estar – e não po<strong>de</strong> ser lido, revela mais que uma mudança <strong>de</strong> lugar.O sujeito está implicado <strong>na</strong> leitura do espetáculo, <strong>na</strong> tradução do discurso, precisamenteporque isso que <strong>de</strong> imediato não consegue ver ou ouvir o transforma diretamente no sujeito.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!