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Abril de 2008 - Paróquia Nossa Senhora das Mercês

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A DOR DE QUEM VAI E A DOR DE QUEM FICAAtravés <strong>de</strong> entrevista concedida à revista Veja,em agosto <strong>de</strong> 2007, conheci o trabalho feito pelopsiquiatra inglês Dr. Colin Murray Parkes, um dosmais respeitados estudiosos do luto no mundo.Como consultor do St. Christopher’s Hospital emLondres, a maior referência mundial no tratamento<strong>de</strong> pacientes terminais, trabalha há mais <strong>de</strong> 40anos, com o drama vivido pelas famílias que per<strong>de</strong>ramalguém no leito do hospital, bem como coma angústia e sofrimento <strong>de</strong> quem sabe que estámorrendo.Em 2002 trabalhou na assistência a parentes<strong>das</strong> vítimas dos atentados <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> Setembro emNova York e, três anos <strong>de</strong>pois, em 2005, foi chamadopara dar suporte psicológico às vítimas doTsunami.Quando era ainda jovem médico, resolveu especializar-seem psiquiatria. Na clínica on<strong>de</strong> trabalhava,dois pacientes haviam se suicidado apósterem passado por um forte estresse, ocasionadopor longo e doloroso processo <strong>de</strong> luto. A partir daí,focou seu trabalho no atendimento e recuperação<strong>de</strong> pessoas que haviam perdido um ente querido.Alguns tópicos da entrevista:- No caso <strong>de</strong> doentes terminais, dizer a verda<strong>de</strong>sempre ajuda. Quando alguém está morrendo, muitasvezes as pessoas, querendo ajudar, cometemerros clássicos. Um <strong>de</strong>les é fingir que o pacientenão está doente: - “Você está ótimo hoje!”, diz umparente. É evi<strong>de</strong>nte que é mentira e o pacienteMORTEMorte natural é o fim da vida no sentido <strong>de</strong> provisorieda<strong>de</strong>da vida terrestre e no sentido <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong>para a vida celeste. Morte e vida não se opõem.Morte é o momento da explosão <strong>de</strong>finitiva da vidapela ressurreição. Sendo que, nessa forma <strong>de</strong> vida,é impossível a plena realização humana, seria maldiçãopara o homem viver eternamente em suas limitações.Morte é um processo natural <strong>de</strong> evolução. Morteé um capítulo da vida. Toda criatura é naturalmentemortal. A caducida<strong>de</strong> é um elemento constitutivo dacriação. Pela morte não abandonamos o mundo, masiremos nos relacionar plenamente com ele em CristoJesus. É o sonho da pancosmicida<strong>de</strong>, segundo oteólogo Karl Rahner. Morte é o ato mais importantee <strong>de</strong>cisivo <strong>de</strong> nossa vida, porque é a opção <strong>de</strong>cisivapara Deus ou contra Deus.Morte não é separação da alma e do corpo interior,que são inseparáveis, mas apenas do corpo exteriorque é humano, isto é, feito <strong>de</strong> humus, que vai seintegrar com a terra. Por isso, na Liturgia a Igreja rezaque a vida não é tirada, mas transformada.Morte não-natural é um castigo que po<strong>de</strong>mos provocarpara nós e para outros, contra a vonta<strong>de</strong> benéfica<strong>de</strong> Deus. Na guerra, quando um exército abandonasuas linhas com soldados mortalmente feridos aosquais não há jeito <strong>de</strong> acudir pela invasão do inimigo,costuma-se dar o “tiro <strong>de</strong> misericórdia”. Pareceuma expressão tragicômica. Seria isto contra o quintomandamento? Que dizer do fuzilamento <strong>de</strong> soldados<strong>de</strong>sertores e traidores na guerra?Em algumas nações, existe a pena <strong>de</strong> morte parapessoas perigosas para a Socieda<strong>de</strong>. Será que o Estadotem direito <strong>de</strong> morte para criminosos?A cada três concepções, uma criança é abortada.Estatísticas falam <strong>de</strong>, em média, 50.000 homicídiospor ano no Brasil.O tabagismo provoca, em média, a morte <strong>de</strong>250.000 mil brasileiros por ano.Pior ainda é o alcoolismo e drogas com seus <strong>de</strong>sastressem fim.Quantos morrem no mundo <strong>de</strong>vido a doençasvenéreas como AIDS e Sífilis? Não seriam tipos <strong>de</strong>suicídio? Somos nós que, <strong>de</strong> uma forma ou outra,<strong>de</strong>terminamos a hora da morte.Da parte <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>vemos viver a vida em plenitu<strong>de</strong>na qualida<strong>de</strong> e tempo. A morte não naturalnão é <strong>de</strong>stino, mas condição e opção humana, quasesempre lastimável. Po<strong>de</strong> ser heróica e re<strong>de</strong>ntora,como a <strong>de</strong> Cristo Jesus. A morte dos mártires é testemunho<strong>de</strong> vida eterna.Quando visitamos alguma pessoa querida naUTI em estado terminal, cheia <strong>de</strong> son<strong>das</strong> e outrasligações, ficamos apavorados. Os sinais e o espetáculoda morte são tristes. Até on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vemosaprovar a continuida<strong>de</strong> artificial da vida? Até quefor possível? O que é mesmo vida? E quando nãohá dinheiro para pagar isso? Sabemos que maissabe disso, mas compactua com o fingimento porquetambém quer proteger o familiar.- Quando se trata <strong>de</strong> pessoas enluta<strong>das</strong>, ficarpróximo, dar carinho, fazer com que se sintamacompanhados e seguros, é o mais importanteque se tem a fazer. O enlutado precisa <strong>de</strong> espaçopara <strong>de</strong>rramar sua emoção.- Vizinhos e amigos, não se afastem! Muitos sequeixam disso, apesar <strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nte que estaatitu<strong>de</strong> não é proposital. A verda<strong>de</strong> é que ninguémsabe lidar direito com a morte.- Permitam que expressem sua tristeza. Muitosrelatam que a família não os <strong>de</strong>ixa chorar e quequer vê-los alegres o tempo todo. Não há nada piordo que ouvir alguém dizendo: - “Não quero ver vocêtriste assim! Reaja!”- Se a morte foi em conseqüência <strong>de</strong> um aci<strong>de</strong>nteou gran<strong>de</strong> tragédia, o que as famílias maisprecisam no período imediatamente posterior, é <strong>de</strong>informação e instrução. Não se <strong>de</strong>ve tentar protegeras famílias escon<strong>de</strong>ndo dados que possam vira machucá-las. Psicologicamente, é mais fácil lidarcom o conhecido. As instruções são fundamentais,pois nesse momento <strong>de</strong> aflição máxima, os familiaresnão têm condições <strong>de</strong> resolver nada e precisam<strong>de</strong> alguém que assuma o controle da situação.- É mais difícil aceitar a morte quando não setem o corpo para realizar os ritos fúnebres. Precisamosajudá-las a acreditar que a pessoa realmentemorreu. Nas Filipinas, uma tribo <strong>de</strong> pescadores fazritual substitutivo quando alguém dos seus integrantesmorre no mar e seu corpo não é resgatado.A família faz uma estátua, veste-a com as roupasdo falecido e é esta estátua é que é enterrada.- Na escala do sofrimento pelo luto, o pior tipo<strong>de</strong> dor é o que vem acompanhado <strong>de</strong> sentimentos<strong>de</strong> culpa. Em segundo lugar, bem próximo do primeiro,estão as mortes por assassinato.- O povo que melhor lida com a morte são osorientais. No Japão, sinos invocam a pessoa mortaa cada vez que são tocados. Desse modo, acreditammanter-se em contato com os espíritos <strong>de</strong> seusmortos. É isso que a terapia tenta fazer com os enlutados:ajudá-los a não esquecer <strong>de</strong> seus mortos,mas a achar um lugar para eles em sua vida.- As mulheres lidam melhor com a morte do queos homens, pois conseguem expressar seus sentimentosmais facilmente. Os homens têm muitomais dificulda<strong>de</strong> para mostrar sua fragilida<strong>de</strong> dianteda morte.Na entrevista, o Dr. Colin <strong>de</strong>ixa claro o envolvimentoemocional com seu trabalho e o quanto éavassalador ver o sofrimento em massa. Diz que,<strong>de</strong>pois do 11 <strong>de</strong> Setembro, tirou férias e viajou comos netos. Estes então lhe disseram que ele não eramais o avô <strong>de</strong> sempre. Disseram que ele estavalonge... E estava mesmo. Sua cabeça não saía <strong>de</strong>Nova York. Era difícil continuar sendo a mesma pessoa<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ver tanta tragédia!Marisa CremerGrupo <strong>de</strong> Apoio ao Luto.Reuniões: Terças-feiras às 14:30 horas.da meta<strong>de</strong> da população mundial morre sem nenhumaassistência médica. As <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> UTI po<strong>de</strong>mprovocar miséria na família da pessoa doentee esta miséria provocará mais doenças e mortes.Teríamos nós o direito <strong>de</strong> solicitar que nos <strong>de</strong>ixassemmorrer como os pobres?A atual Medicina prolonga a vida. Conquistaadmirável! Médicos e enfermeiros associam-se aDeus na <strong>de</strong>fesa da vida. O que precisamos conquistaré que todos os homens possam usufruir<strong>de</strong>ste benefício. Mais que recorrer apenas à Medicina,<strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>dicar-nos ao controle interior paraneutralizar elementos negativos ou <strong>de</strong>mônios, pois86% <strong>de</strong> nossas doenças orgânicas acontecem porsomatização.Tudo isso nos faz refletir sobre o poema da vida.De um lado, o crescimento assustador dos crimescontra a vida; do outro, as maravilhas da Medicina.Lembramos a Campanha da Fraternida<strong>de</strong> na Quaresmapassada sobre a vida.Apesar <strong>de</strong> tantas dificulda<strong>de</strong>s, vamos permitir quea força e energia <strong>de</strong> Cristo ressuscitado também emnós vençam a morte e nos garantam uma excelentevida nesta terra e, <strong>de</strong>pois, a eterna juventu<strong>de</strong>. Vale apena viver na esperança da ressurreição.Concluindo, <strong>de</strong>vemos lutar para evitar os atentadoscontra a vida e ampliar o cuidado e <strong>de</strong>fesada vida.Frei Ovídio Zanini, OFMCapBoletim Informativo da Paróquia <strong>Nossa</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>das</strong> Mercês - 31

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