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“Um episódio na vida de Joãozinho da Maré”, de autoria do ... - IEL

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III Simpósio Nacio<strong>na</strong>l Discurso, I<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEEsse enre<strong>do</strong> constrói i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s antagônicas, pois, à medi<strong>da</strong> que umpersoangem – a professora – tenta prosseguir em suas ações para alcançar seu objetivofi<strong>na</strong>l (a realização <strong>da</strong> aula), o outro perso<strong>na</strong>gem – o aluno – a to<strong>do</strong> instante a impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> a seu intento, opon<strong>do</strong>-se firmemente às explicações <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelaprofessora para o fenômeno discuti<strong>do</strong>: “– Mas, professora, – insiste o garoto – enquantoa gente está ensaian<strong>do</strong> a escola <strong>de</strong> samba, <strong>na</strong> época <strong>do</strong> Natal, a gente sente o maiorcalor, não é mesmo?” (p.72). Esse antagonismo é próprio <strong>de</strong> circunstâncias <strong>de</strong> discursoenvolven<strong>do</strong> argumentação, sen<strong>do</strong> que para argumentar é necessário haver diferença edivergência <strong>de</strong> opinião sobre um mesmo fato, o que será adiante retoma<strong>do</strong>.Neste senti<strong>do</strong>, é possível consi<strong>de</strong>rar que o diálogo argumentativo entreJoãozinho e a professora tem semelhança com um <strong>de</strong>bate, que para Baker (2009) élugar privilegia<strong>do</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento, uma vez que através <strong>da</strong> expressão <strong>de</strong>argumentos e <strong>de</strong> uma negociação <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>, po<strong>de</strong> ocorrer mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> opinião, o queseria fun<strong>da</strong>mental para a aprendizagem <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ciências. Ain<strong>da</strong> sobre o <strong>de</strong>bate,Ribeiro (2009, p.30) ressalta queO <strong>de</strong>bate, enquanto gênero oral argumentativo, é marca<strong>do</strong> por uma linguagempersuasiva que se propõe a convencer ou persuadir o outro. Isto significa acio<strong>na</strong>rmecanismos argumentativos que resultam <strong>na</strong> <strong>de</strong>fesa ou elaboração <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista,oportunizan<strong>do</strong> aos interlocutores – no caso, os alunos confrontarem suas própriasopiniões acerca <strong>de</strong> questões discuti<strong>da</strong>s.Outra característica <strong>da</strong>s crônicas <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> geral, a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> aos propósitos <strong>do</strong>autor, é a presença <strong>de</strong> reflexão. A professora, à noite e “já mais calma”, passa a dialogarconsigo mesma, interrogan<strong>do</strong>-se sobre o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem e sobre atransmissão impensa<strong>da</strong> <strong>de</strong> “ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s científicas ou históricas”. É o que se vê, porexemplo, <strong>na</strong>s seguintes falas: “– Imagine se a mo<strong>da</strong> pega, pensa a professora.” (p.74) e– Como posso eu ter ‘aprendi<strong>do</strong>’ coisas tão evi<strong>de</strong>ntemente erra<strong>da</strong>s?” (p.75). Aprofessora permanece a refletir, o que <strong>de</strong>monstra a intensa exploração <strong>da</strong>scaracterísticas <strong>do</strong> gênero pelo autor, conforme encontramos no seguinte trecho:– Por que tantas outras crianças aceitaram sem resistência o que eu disse? Por queape<strong>na</strong>s o Joãozinho resistiu e não “engoliu” o que eu disse? No caso <strong>do</strong> verão e <strong>do</strong>inverno a inconsistência foi facilmente verifica<strong>da</strong>. Era só pensar. Se “engolimos” coisastão evi<strong>de</strong>ntemente erra<strong>da</strong>s, como <strong>de</strong>vemos estar “engolin<strong>do</strong>” coisas mais erra<strong>da</strong>s, maissérias e menos evi<strong>de</strong>ntes! Po<strong>de</strong>mos estar tão habitua<strong>do</strong>s a repetir as mesmas coisas quejá nem nos <strong>da</strong>mos conta <strong>de</strong> que muitas <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>m ter si<strong>do</strong> simplesmente acredita<strong>da</strong>s.Muitas po<strong>de</strong>m ser simples "atos <strong>de</strong> fé" ou crendice que nós passamos adiante comover<strong>da</strong><strong>de</strong>s científicas ou históricas:“ATOS DE FÉ EM NOME DA CIÊNCIA”. (p.76)Importa notarmos ain<strong>da</strong> que, nesse trecho, ocorre uma fusão <strong>de</strong> falas epensamentos <strong>de</strong>ssa perso<strong>na</strong>gem com pensamentos que seriam <strong>do</strong> <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, uma vez

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