âUm episódio na vida de Joãozinho da Maréâ, de autoria do ... - IEL
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III Simpósio Nacio<strong>na</strong>l Discurso, I<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEque a crítica expressa é mais apropria<strong>da</strong> a este <strong>do</strong> que à professora, como po<strong>de</strong> serverifica<strong>do</strong> no vocabulário e <strong>na</strong>s frases usa<strong>do</strong>s, por exemplo: “inconsistência”, “atos <strong>de</strong> féem nome <strong>da</strong> ciência”, “Po<strong>de</strong>mos estar tão habitua<strong>do</strong>s a repetir as mesmas coisas que jánem nos <strong>da</strong>mos conta <strong>de</strong> que muitas <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>m ter si<strong>do</strong> simplesmente acredita<strong>da</strong>s.”,entre outras expressões lingüísticas. Desse momento em diante, como se estivesseocorren<strong>do</strong> um monólogo interior, o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r consoli<strong>da</strong> sua estratégia <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong>discurso indireto livre a ponto <strong>de</strong> fazer com que a professora conclua, em <strong>de</strong>corrência<strong>do</strong>s tais atos <strong>de</strong> fé, que “(...) Não é à toa que se diz <strong>da</strong> escola: um lugar on<strong>de</strong> ascabecinhas entram ‘re<strong>do</strong>ndinhas’ e saem quase to<strong>da</strong>s ‘quadradinhas” (p. 77), termi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>com esta fala também a história.Desta maneira, fica caracteriza<strong>do</strong> o uso <strong>do</strong> discurso indireto livre como umaestratégia discursiva, um procedimento <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> organização <strong>na</strong>rrativo, tal comopropõe Charau<strong>de</strong>au (2009). Uma estratégia que revela a interferência <strong>do</strong> <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r nomo<strong>do</strong> <strong>de</strong> pensar, sentir e agir <strong>do</strong>s perso<strong>na</strong>gens, fazen<strong>do</strong> com que essa voz seja inseri<strong>da</strong><strong>na</strong> trama <strong>na</strong>rrativa ultrapassan<strong>do</strong> os limites <strong>de</strong> uma <strong>na</strong>rração objetiva e isenta. O<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r dirá o que o autor diria. Maingueneau (2001) afirma que este tipo <strong>de</strong> <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r,cuja voz se insere <strong>na</strong> ação, “(...) não tem nem a neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r anônimo,nem a feição <strong>de</strong>sta ou <strong>da</strong>quela perso<strong>na</strong>gem” (p.125). A uma voz como esta Maingueneauchama <strong>de</strong> “<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r-testemunha, o qual partilha o ponto <strong>de</strong> vista e a linguagem” (2001,p.125) <strong>da</strong>queles a quem se <strong>de</strong>sti<strong>na</strong> a história <strong>na</strong>rra<strong>da</strong>, vale dizer para a <strong>na</strong>rrativa emquestão: o ponto <strong>de</strong> vista e a linguagem <strong>do</strong>s leitores, prováveis professores. Somenteisto po<strong>de</strong>ria explicar o conteú<strong>do</strong> <strong>da</strong> reflexão <strong>da</strong> professora e a artificiali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>linguagem <strong>da</strong> linguagem <strong>de</strong>sta perso<strong>na</strong>gem e até mesmo <strong>do</strong> Joãozinho.Consequentemente, notamos mais uma estratégia discursiva usa<strong>da</strong> pelo autor: ojogo entre ficção e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que também caracteriza o gênero crônica. Charau<strong>de</strong>au(2009) afirma que um ato <strong>de</strong> linguagem (palavra, frase ou texto) necessita estabelecerum contrato <strong>de</strong> comunicação entre os interlocutores, sen<strong>do</strong> que: “A noção <strong>de</strong> contratopressupõe que os indivíduos pertencentes a um mesmo corpo <strong>de</strong> práticas sociais estejamsuscetíveis <strong>de</strong> chegar a um acor<strong>do</strong> sobre as representações linguageiras <strong>de</strong>ssas práticassociais.” (p.56). Desta forma, esses leitores, além <strong>de</strong> partilhar, seja como for o mesmoponto <strong>de</strong> vista, <strong>de</strong>vem estar predispostos a interpretar um texto ficcio<strong>na</strong>l como parte <strong>de</strong>um livro <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>do</strong> ao ensino <strong>de</strong> Ciências (“A terra em que vivemos” 4 , <strong>do</strong> mesmoRo<strong>do</strong>lpho Caniato). Devem, portanto, saber discernir reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ficção, e entrar nocircuito comunicativo não só exploran<strong>do</strong> a ludici<strong>da</strong><strong>de</strong> proposta pelo autor, mas tambémrealizan<strong>do</strong> a interpretação previamente concebi<strong>da</strong> no processo <strong>de</strong> produção em que, <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com Charau<strong>de</strong>au (2009, p.56), esse sujeito irá organizar sua produção conforme4 A terra em que vivemos. Vol.1, Campi<strong>na</strong>s: Papirus,1989.