12.07.2015 Views

Desejar o corpo escrito: prazer, liberdade e leitura a partir da sala ...

Desejar o corpo escrito: prazer, liberdade e leitura a partir da sala ...

Desejar o corpo escrito: prazer, liberdade e leitura a partir da sala ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429Maio 2009www.revistaliteris.com.br<strong>Desejar</strong> o <strong>corpo</strong> <strong>escrito</strong>:<strong>prazer</strong>, <strong>liber<strong>da</strong>de</strong> e <strong>leitura</strong> a <strong>partir</strong> <strong>da</strong> <strong>sala</strong> de aulaAnderson Jair Goulart (UFSC, Florianópolis, Brasil) 1Artur de Vargas Giorgi (UFSC, Florianópolis, Brasil) 2Resumo: Este breve artigo problematiza a prática do ensino <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> no espaço <strong>da</strong> <strong>sala</strong>de aula. Salienta-se que o ensino <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> deve ser empenhado para além dos moldestradicionalistas <strong>da</strong> escola, para além de um conteúdo disciplinar obrigatório, estanque edemarcado institucionalmente. Ao contrário, <strong>liber<strong>da</strong>de</strong> e <strong>prazer</strong> devem orientar ainteração entre docentes, alunos e textos, se o objetivo é a formação de leitoresver<strong>da</strong>deiramente proficientes e de sujeitos conscientes de suas potenciali<strong>da</strong>des, tanto noâmbito individual quanto no coletivo.Palavras-chave: Desejo; <strong>prazer</strong>; <strong>leitura</strong>; sociointeracão; <strong>liber<strong>da</strong>de</strong>.Abstract: This short article discusses the reading teaching practices in the classroomspace. It stands out that the teaching of reading must be applied beyond the traditionalistschool models, beyond the obligatory disciplinal content, stagnant and institutionallydemarcated. By opposite, liberty and pleasure must to orient the interaction betweendocents, students and texts, if the point is the formation of truly proficient readers andsubjects conscious of theirs potentialities, in the individual scope as much as thecollective.Keywords: Desire; pleasure; reading; socio-interaction; liberty.1É possível que conciliemos esta discussão nos termos do desejo. Bataille nospropõe, em Frente a Lascaux, el hombre civilizado vuelve a ser hombre de deseo(2001), que o homem, em contraposição aos demais animais, é caracterizado por suacapaci<strong>da</strong>de transgressora, ou seja, pela vontade que arma um contato sedutor entre a1 Anderson Jair Goulart é licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Literatura (UFSC). Tem experiência na áreade Linguística e Literatura. Possui trabalhos na área de música, além de dedicar-se ao ramo <strong>da</strong> Linguística Aplica<strong>da</strong>.Atua como docente em turmas de Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio, lecionando em escolas <strong>da</strong> rede pública e priva<strong>da</strong>. E-mail: andersonjgoulart@hotmail.com2 Artur de Vargas Giorgi é graduado em Comunicação Social – Publici<strong>da</strong>de e Propagan<strong>da</strong> (UNAERP-SP).Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Literatura (UFSC). Mestrando em Teoria Literária pelo curso de Pós-Graduação em Literatura <strong>da</strong> UFSC. Bolsista do CNPq – Brasil. Desenvolve trabalhos dedicados à literatura e à críticacultural. E-mail: artur.vg@hotmail.com


REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429Maio 2009www.revistaliteris.com.brintimi<strong>da</strong>de do <strong>corpo</strong> e a reali<strong>da</strong>de que se lhe oferece, de modo que as obrigações (ocumprimento <strong>da</strong>s leis e <strong>da</strong>s normas de sociabili<strong>da</strong>de, mas também o trabalho, areprodução) e os limites (as faltas, as ausências, o tempo) impostos ao homem sejamconhecidos através <strong>da</strong> própria potenciali<strong>da</strong>de humana de atravessamento <strong>da</strong>s obrigaçõese dos limites.E também Blanchot, em Nacimiento del arte (1976, p. 14), a <strong>partir</strong> de Bataillee <strong>da</strong>s mesmas pinturas em Lascaux, discorre a respeito <strong>da</strong> ambigui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> potênciahumana, associando-a, intimamente, ao caráter transgressor e anacrônico <strong>da</strong> arte, estaque se apresenta como forma sempre reconfigura<strong>da</strong> (uma aparição diferi<strong>da</strong>) de o homemli<strong>da</strong>r com a debili<strong>da</strong>de de suas forças e a força de suas carências, ou, ain<strong>da</strong>, como formaparadoxal de o homem conseguir se manter na ativi<strong>da</strong>de penosa que se encerra sob osigno do trabalho, <strong>da</strong> “evolução”:Hay no sé qué de dichoso, de fuerte y, sin embrago, de desconcertante en estepensamiento: que el hombre no llega a ser un hombre por todo lo que tuvierade propriamente humano y lo distingue de los demás vivientes, sino cuandose siente bastante firme en sus diferencias como para otorgarse el ambiguopoder de parecer romperlas y glorificarse, no en sus adquisicionesprodigiosas, sino abandonándolas, aboliéndolos y, ay, expiándolas; cierto esque, también, superándolas.El arte nos proporcionaría, así, nuestra única fecha de nacimiento auténtica:fecha bastante cercana, es ver<strong>da</strong>d que necesariamente indetermina<strong>da</strong>, inclusosi las pinturas de Lascaux parecen acercárnosla más por la sensación deproximi<strong>da</strong>d con la que nos seducen.É o homem que sonha, cria e se apaixona; é o homem que, por meio do mundosimbólico, negocia com sua finitude e suas limitações, sabendo-se, contudo, em umaluta paradoxal: essencial, mas invencível. O que nos permite afirmar que reivindicarpara o entendimento <strong>da</strong> arte – e, consequentemente, para um entendimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>suspeitoso dos dogmas do humanismo positivista e abrangente a uma sorte demanifestações culturais periféricas, heterogêneas e descentralizadoras – o nosso desejoconstituinte é também apontar um sentido a ser extraído na duração dessa luta desigual:o sentido <strong>da</strong> <strong>liber<strong>da</strong>de</strong>. O homem, condenado ao simbólico e à experiência <strong>da</strong> morte, élivre durante o gasto de sua vi<strong>da</strong>. E com isso podemos, enfim, falar <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>.Barthes, em O <strong>prazer</strong> do texto (2002), desenvolve uma idéia que também podecoincidir com esta proposta: a de que o texto, quando emancipado <strong>da</strong>s convençõesculturais e coletivas, pode ser fonte de gozo. Nesse sentido, o texto é um espaço que


REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429Maio 2009www.revistaliteris.com.brdeve estar deslocado, espaço “atópico”, para que, pelo desconforto <strong>da</strong> deriva (e amovência é característica <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>), exista tensão entre o leitor e a escritura. E, de outromodo, para o autor há ain<strong>da</strong> um <strong>prazer</strong> que se estende mesmo aos usos convencionais <strong>da</strong>linguagem, no texto como produto cultural, tecido confortável voltado à contentação, àcomunicação ou a cumprir os papéis sociais.Muitas vezes, no entanto, esses textos e esses termos, <strong>prazer</strong> e gozo,reafirmam-se mais pela ambigui<strong>da</strong>de do que pela distinção. “O ‘<strong>prazer</strong>’ é, portanto, aqui(e sem poder prevenir), ora extensivo à fruição [ao gozo], ora a ela oposto” (op. cit., p.27). Assim, como poderíamos diferenciá-los? Acreditamos, talvez como Barthes, que odesejo seja mais importante do que a taxação de uma duali<strong>da</strong>de estável; o desejo <strong>da</strong>“fruição <strong>da</strong> linguagem” como alguma medi<strong>da</strong> de discernimento:[...] o texto que o senhor escreve tem que me <strong>da</strong>r prova de que ele me deseja.Essa prova existe: é a escritura. A escritura é isso: a ciência <strong>da</strong>s fruições <strong>da</strong>linguagem, seu kama-sutra (desta ciência só há um tratado: a própriaescritura) (op. cit., p. 11).A escritura como desejo, urdidura para o <strong>prazer</strong> ou, ain<strong>da</strong>, para o gozo: aqui,pela indecidibili<strong>da</strong>de dos termos, ambos nos servem no exercício de reflexão a respeito<strong>da</strong> <strong>leitura</strong> (e ler é reescrever o texto, sua reescritura: reativação do desejo), práticapotencialmente libertadora – a sua proficiência, portanto, passando pelo íntimo do<strong>corpo</strong>.2Tratemos <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> no âmbito curricular, a <strong>leitura</strong> submeti<strong>da</strong> ao dispositivoinstitucional “escola”, de acordo com o conceito de Agamben (2005, p. 13) – trabalhadoa <strong>partir</strong> de Foucault – segundo o qual dispositivo é[...] qualquer coisa que tenha de algum modo a capaci<strong>da</strong>de de capturar,orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, ascondutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes.Em nossa contemporanei<strong>da</strong>de, se tomarmos por base a teoriasociointeracionista <strong>da</strong> aprendizagem, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> sobretudo por Vygotsky (1984),


REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429Maio 2009www.revistaliteris.com.brvislumbraremos um sujeito constituído plenamente apenas a <strong>partir</strong> <strong>da</strong> sua inserção emum contexto sócio-histórico interativo, dialógico. Dessa forma, a <strong>liber<strong>da</strong>de</strong>, liga<strong>da</strong> àsações simbólicas e criadoras, estaria também condiciona<strong>da</strong> a situações a ela favoráveis,de modo que, nas escolas, uma relação entre o conteúdo <strong>da</strong>s disciplinas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, osalunos e os professores deve ser fortaleci<strong>da</strong> por meio de constantes trocas, no decorrer<strong>da</strong>s quais os objetos estu<strong>da</strong>dos têm os seus significados continuamente construídos ereconstruídos; o que implica, também, uma constante construção dos próprios sujeitos(alunos e professores) envolvidos no processo.Vygotsky sugeria que o desenvolvimento cognitivo depende muito mais <strong>da</strong>sinterações com as pessoas do mundo <strong>da</strong> criança e <strong>da</strong>s ferramentas que acultura proporciona para promover o pensamento. O conhecimento, as idéias,as atitudes e os valores <strong>da</strong>s crianças se desenvolvem pela interação com osoutros. As crianças aprendem não por meio <strong>da</strong> exploração solitária domundo, mas se apropriando ou tomando pra si os modos de agir oferecidospor sua cultura (WOOLFOLK, 2000, p. 55).Contudo, para que as crianças possam interagir, apropriando-se do que éoferecido a elas pela cultura, é necessário que os textos, como objetos culturais, estejamnão apenas presentes no dia-a-dia – tanto na escola quanto fora dela – mas tambémdisponíveis ao toque. Isso significa que a <strong>leitura</strong> (e não apenas dos textos literários), nocontexto escolar, deve abandonar seu estigma de “obrigação”, de ativi<strong>da</strong>denecessariamente individualiza<strong>da</strong>, silenciosa ou, ao contrário, cheia de liturgias; isto é, a<strong>leitura</strong> deve ser esvazia<strong>da</strong> do rito, deve ser “desloca<strong>da</strong>”, para profanar os dispositivosque a controlam e abrir-se como um espaço-tempo propício ao jogo, ao desejo e àfruição: os textos, em vez de impostos e sacralizados, sendo restituídos “ao uso comumdos homens” (AGAMBEN, 2007), professores e alunos.Diante disso, é lícito questionar: como a <strong>leitura</strong> pode ser estimula<strong>da</strong> se, porexemplo, nas aulas de Português geri<strong>da</strong>s pelo tradicionalismo (que, infelizmente, ain<strong>da</strong>prevalece como atavismo, herança incrusta<strong>da</strong> em grande parte <strong>da</strong>s escolas), o“conteúdo”, sitiado pela disciplina estanque, é em muito restringido ao normativismogramatical – e suas noções enrijeci<strong>da</strong>s de “correto” e “incorreto” – e estu<strong>da</strong>do naabstração de regras e de exceções às regras, por isso distante do texto vivo que osignifica? Escal<strong>da</strong>dos com tamanha aridez (percorri<strong>da</strong> desde cedo na vi<strong>da</strong> escolar), é


REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429Maio 2009www.revistaliteris.com.brmais provável, mesmo, que os alunos passem a considerar qualquer livro um terrenohostil.Mas, como observado, construir conhecimento implica uma ação partilha<strong>da</strong>,inseri<strong>da</strong> no social, já que é a <strong>partir</strong> dos outros que as relações entre o sujeito e o objetosão estabeleci<strong>da</strong>s. Portanto, o longo caminho do desenvolvimento humano segue dosocial para o individual. O que sugere um redirecionamento <strong>da</strong>s interações sociais nocontexto escolar. As interações passam a constituir condição obrigatória para aprodução de conhecimentos por parte dos alunos, particularmente aquelas que permitemo diálogo, a cooperação e a troca. O texto é então um elemento crucial: não há “diálogo”entre as regras de pontuação e o aluno, mas vírgulas e pontos dialogam nos textos – eestes podem dizer muito quando em conversas com leitores proficientes.Motivar o <strong>prazer</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>: para isso é imprescindível que o texto seja um<strong>corpo</strong> pulsante trazido ao centro <strong>da</strong> aula; para que ele seja dobrado, torcido, amado ouodiado; para que os alunos sintam em seus próprios <strong>corpo</strong>s a maneira como as palavraspodem pungi-los, gerando sentidos e criando singulari<strong>da</strong>des de <strong>leitura</strong>.Ler é um ato libertador. Quanto maior vontade consciente de <strong>liber<strong>da</strong>de</strong>,maior índice de <strong>leitura</strong>. Um dos efeitos <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> é o aprimoramento <strong>da</strong>linguagem, <strong>da</strong> expressão, nos níveis individual e coletivo. Uma socie<strong>da</strong>deque sabe se expressar, sabe dizer o que quer e é menos manobrável. Não faloapenas <strong>da</strong> <strong>liber<strong>da</strong>de</strong> de escolher governos ou sistemas de trabalho, mastambém de influir concretamente na vi<strong>da</strong> comum (SILVA, 1985, p. 36).Esta pode ser a síntese desta <strong>leitura</strong>; por onde passa o nosso desejo. Pois“influir concretamente na vi<strong>da</strong> comum” não significa apenas atingir o ordinário <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,o ramerrão incansável <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> politiza<strong>da</strong>; a vi<strong>da</strong> comum deve ser feita, antes de tudo,pelos momentos em que nos deixamos levar pelas vibrações improváveis, aquelas queresultam de acomo<strong>da</strong>ções enviesa<strong>da</strong>s do <strong>corpo</strong> e do desfazimento <strong>da</strong> razão: “O <strong>prazer</strong>do texto é esse momento em que meu <strong>corpo</strong> segue as suas próprias idéias – pois meu<strong>corpo</strong> não tem as mesmas idéias que eu”, afirma Barthes (2002). Sim, o <strong>prazer</strong> e o gozonão são manobráveis.Mas, na socie<strong>da</strong>de brasileira, a maioria <strong>da</strong> população esteve historicamentemarginaliza<strong>da</strong> no processo de fruição <strong>da</strong> cultura letra<strong>da</strong>. O acesso a esse tipo deexperiência se constitui, ain<strong>da</strong> hoje, um privilégio <strong>da</strong>s minorias, pois verificamos adistância que separa o Brasil de uma alfabetização massifica<strong>da</strong> e consistente. E, em


REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429Maio 2009www.revistaliteris.com.brdetrimento <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de crítico-criadora que advém do <strong>prazer</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>, nas maisdiversas manifestações textuais que nos cercam na contemporanei<strong>da</strong>de.Assim, como não se trata de uma educação puramente racionalista e sim de umenvolvimento gra<strong>da</strong>tivamente adquirido pela basculação entre o exercício intelectual e aexperimentação do <strong>corpo</strong>, frisamos: é preciso que se coloque à disposição do aprendiz<strong>da</strong> <strong>leitura</strong>, ao menos durante o acontecimento <strong>da</strong> aula, e desde o início do processoeducacional, o texto, num encontro estimulado pela mediação do professor – essesujeito que se apresenta acessível, necessariamente generoso, mas com to<strong>da</strong> aresponsabili<strong>da</strong>de que acompanha o leitor mais experiente:Parece-me que a condição básica para ensinar o aluno a ler diz respeito àcapaci<strong>da</strong>de de <strong>leitura</strong> do próprio professor. Mais especificamente, para queocorra um bom ensino <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> é necessário que o professor seja, elemesmo, um bom leitor, [...] isto porque nossos alunos necessitam detestemunho vivo dos professores no que tange à valorização eencaminhamento de suas práticas de <strong>leitura</strong> (SILVA, 1998, p. 109).Dessa forma a <strong>leitura</strong> pode se tornar, no dia-a-dia, uma fonte de <strong>prazer</strong> e nãouma ativi<strong>da</strong>de obrigatória, cumpri<strong>da</strong> em terreno inóspito. Para ver<strong>da</strong>deiramente ler, épreciso gostar de ler. E as pessoas aprendem a gostar de ler quando, de alguma forma, areali<strong>da</strong>de de suas vi<strong>da</strong>s é toca<strong>da</strong> pela <strong>leitura</strong> – quando o desejo <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> prevalecesobre a possibili<strong>da</strong>de de não ler.Se o encaminhamento competente contagia, a falta de comprometimento podedesestimular o aluno. E por isso os educadores precisam agir adequa<strong>da</strong>mente,respeitosamente, valorizando a ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> como um exercício de <strong>liber<strong>da</strong>de</strong>.Afinal, é a postura crítica dos professores que possibilita a formação de leitoresproficientes e o movimento entre teoria e prática; ou, em outras palavras, é o queencoraja a não aceitação dos limites e o exercício <strong>da</strong> transgressão do que se instituicomo convenção, fatali<strong>da</strong>de ou consenso. Agindo concretamente na vi<strong>da</strong> comum, apalavra li<strong>da</strong> pode ser a voz do <strong>corpo</strong> livre, suspendi<strong>da</strong>.E caso esta não seja, necessariamente, uma forma de “salvação”, é ain<strong>da</strong> assimo caminho para um desajuste <strong>da</strong> ordem consensual, para uma movência dos sentidos edos futuros possíveis. Pois, em um imediatismo, a <strong>leitura</strong> pode não derrubar governos,não comprometer hegemonias, não cessar as guerras ou acabar com a fome; mas ela


REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429Maio 2009www.revistaliteris.com.brpode, sim, instaurar desvarios, pequenos desacertos que nutrem as subjetivi<strong>da</strong>des e seusdesejos: de felici<strong>da</strong>de e de <strong>prazer</strong>.REFERÊNCIASAGAMBEN, Giorgio. Elogio <strong>da</strong> profanação. In: Profanações. Tradução: Selvino JoséAssmann. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 65-79.__________. O que é um dispositivo? In: A exceção e o excesso: Agamben & Bataille.Tradução: Nilcéia Val<strong>da</strong>ti. Outra travessia. Florianópolis: UFSC, n. 5, p. 9-16, 2ºsemestre/2005.ALVES, Rubem. O <strong>prazer</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>. Disponível em:. Acesso em: 14 nov. 2008.BARTHES, Roland. O <strong>prazer</strong> do texto. Tradução de J. Guinsburg. 3. ed. São Paulo:Perspectiva, 2002.BATAILLE, Georges. Frente a Lascaux, el hombre civilizado vuelve a ser hombre dedeseo. In: La felici<strong>da</strong>d, el erotismo y la literatura: Ensayos 1944-1961. Traducción:Silvio Mattoni. Buenos Aires: Adriana Hi<strong>da</strong>lgo Editora, 2001, p. 260-264.BLANCHOT, Maurice. Nacimiento del arte. In: La risa de los dioses. Traducción: J. A.Doval Liz. Madrid: Taurus Ediciones, 1976, p. 9-17.BUCK-MORSS, Susan. Estética e anestética: o “Ensaio sobre a obra de arte” de WalterBenjamim Reconsiderado. In: Travessia – revista de literatura. Florianópolis: Editora <strong>da</strong>UFSC, n. 33, p. 11-41, ago./dez. 1996.SILVA, E. T. A produção <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> na escola. 3 ed. São Paulo: Ática, 1981.VYGOTSKY, L. A formação social <strong>da</strong> mente. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1984.WOOLFOLK, A. Psicologia <strong>da</strong> educação. 7 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.*Anderson Jair Goulart é licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Literatura(UFSC). Tem experiência na área de Linguística e Literatura. Possui trabalhos na áreade música, além de dedicar-se ao ramo <strong>da</strong> Linguística Aplica<strong>da</strong>. Atua como docente emturmas de Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio, lecionando em escolas <strong>da</strong> rede pública epriva<strong>da</strong>. E-mail: andersonjgoulart@hotmail.com


REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429Maio 2009www.revistaliteris.com.br**Artur de Vargas Giorgi é graduado em Comunicação Social – Publici<strong>da</strong>de ePropagan<strong>da</strong> (UNAERP-SP). Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Literatura(UFSC). Mestrando em Teoria Literária pelo curso de Pós-Graduação em Literatura <strong>da</strong>UFSC. Bolsista do CNPq – Brasil. Desenvolve trabalhos dedicados à literatura e àcrítica cultural. E-mail: artur.vg@hotmail.com

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!