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Daiane Solange Stoeberl da Cunha - Programa de Pós-Graduação ...

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DAIANE SOLANGE STOEBERL DA CUNHAEDUCAÇÃO MUSICAL E EMANCIPAÇÃO:A Formação do Educador Musical a partir <strong>de</strong> uma perspectiva críticaCURITIBA2006


DAIANE SOLANGE STOEBERL DA CUNHAEDUCAÇÃO MUSICAL E EMANCIPAÇÃO:A Formação do Educador Musical a partir <strong>de</strong> uma perspectiva críticaDissertação apresenta<strong>da</strong> como requisitoparcial à obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre emeducação, <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Pós-Graduaçãoem Educação. Setor <strong>de</strong> EducaçãoUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.Orientador: Prof. Dr. Geraldo BalduinoHornCURITIBA2006


Dedico este trabalho a minha filhaFabiane <strong>Stoeberl</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong>, nasci<strong>da</strong>em 04 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2006, porvivenciar comigo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ventre, <strong>da</strong>sviagens, <strong>da</strong>s noites em claro, <strong>da</strong>shoras <strong>de</strong> estudo, dos momentos maisdifíceis e dos mais alegres; pelacoragem, ânimo e alegria que me <strong>de</strong>umesmo sem dizer nenhuma palavra.ii


AGRADECIMENTOSDesejo registrar minha gratidão:Ao Professor Doutor Geraldo Balduino Horn, aquele que teve um papel<strong>de</strong>finitivo nesse percurso, por sua competência intelectual e ética, pela<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> generosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e compreensão.À Professora Doutora Carmen Lucia Fornari Diez, com quem tive o privilégio<strong>de</strong> partilhar momentos significativos e saudosos os quais resultaram numaprendizado tanto <strong>de</strong> conhecimento quanto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.Em especial ao meu marido Fábio Lacer<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong>, com todo o meu Amor,pela compreensão e respeito que teve pelas minhas ausências necessárias epela força que me <strong>de</strong>u em todos os momentos.Aos meus familiares, pelo incentivo e auxílio, espiritual e material.Acima <strong>de</strong> tudo a Deus, meu paizinho, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a eterni<strong>da</strong><strong>de</strong> me amou e mepresenteou com tantas coisas boas, inclusive o mestrado. Não tenho palavraspra agra<strong>de</strong>cer Tua bon<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dia após dia me cercas com fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nuncame <strong>de</strong>ixes esquecer que tudo que tenho, tudo que sou o que vier a ser, vem<strong>de</strong> Ti Senhor. Dependo <strong>de</strong> Ti, preciso <strong>de</strong> Ti, <strong>de</strong>scanso em Ti, sozinho na<strong>da</strong>posso fazer.iii


SUMÁRIORESUMO..................................................................................................................... vABSTRACT................................................................................................................ viINTRODUÇÃO............................................................................................................ 1CAPÍTULO I – EDUCAÇÃO MUSICAL: UMA QUESTÃOPOLÍTICO-PEDAGÓGICA......................................................................................... 7CAPÍTULO II – A EDUCAÇÃO MUSICAL NA ERA DA INDÚSTRIACULTURAL............................................................................................................... 282.1 A INDÚSTRIA CULTURAL E A FORMAÇÃO DISSIMULADA........................... 302.2 A CONVERSÃO DA FORMAÇÃO EM SEMIFORMAÇÃO................................. 36CAPÍTULO III – O EDUCADOR MUSICAL E APRÁXIS EMANCIPATÓRIA.......... 453.1 A FORMAÇÃO DO EDUCADOR MUSICAL....................................................... 463.2 A EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA COMO OBJETIVO DA PRÁXISPEDAGÓGICA.......................................................................................................... 623.3 ESCLARECER E EMANCIPAR: O TRABALHO DOCENTE POR UMAEDUCAÇÃO CRÍTICA................................................................................................673.4 A MUSICALIZAÇÃO NOS HORIZONTES DA TEORIA CRÍTICA....................... 713.4.1 A Conscientização <strong>da</strong> Criança para a Boa Música......................................... 753.4.2 A Função Educativa do Refletir para a formação do Sentido Crítico............... 79CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 83REFERENCIAS......................................................................................................... 91ANEXOS................................................................................................................... 95iv


RESUMOEste trabalho tem por objetivo refletir sobre a educação musical no ensino regular,principalmente na educação infantil, tendo em vista a influência <strong>da</strong> IndústriaCultural e a formação pe<strong>da</strong>gógica do educador musical para uma práxisemancipatória. O estudo parte dos pressupostos teóricos <strong>da</strong> Teoria Crítica. Paramelhor compreen<strong>de</strong>r esta relação entre música e educação, realiza-se umaretrospectiva histórica, enfatizando o caminho percorrido pela educação musical noBrasil: a relação entre os diversos métodos e propostas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> música, astendências pe<strong>da</strong>gógicas e as transformações políticas. O tema Indústria Cultural eEducação Musical é abor<strong>da</strong>do com maior enfoque a partir <strong>da</strong>s análises realiza<strong>da</strong>spela “Escola <strong>de</strong> Frankfurt”, sobretudo as que se referem ao processo <strong>de</strong><strong>de</strong>terioração <strong>da</strong> formação, consi<strong>de</strong>rando a educação musical em tempos <strong>de</strong>industrialização <strong>da</strong> arte, a formação dissimula<strong>da</strong> e a conversão <strong>da</strong> formação emsemiformação. Tendo o trabalho docente como um dos fatores influentes naformação musical <strong>da</strong>s crianças, parte-se <strong>da</strong>s idéias dos frankfurtianos sobreeducação emancipatória para investigar a formação do educador musical atuantena Educação Infantil – o Pe<strong>da</strong>gogo ou oProfessor <strong>de</strong> Música. Observa-se nos currículos dos cursos <strong>de</strong> formação doEducador Musical, a presença <strong>da</strong>s disciplinas necessárias para sua formação – asdisciplinas <strong>da</strong> área musical e <strong>da</strong> licenciatura - e analisa-se a Proposta Pe<strong>da</strong>gógicado Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO,seus fun<strong>da</strong>mentos, objetivos e sua gra<strong>de</strong> curricular. Por fim, apontam-se elementosnorteadores <strong>da</strong> práxis emancipatória, esclarecedora e crítica e, sobretudo, umolhar sobre a educação musical crítica na Educação Infantil. Em todo o estudoprocura-se focalizar a importância do trabalho docente não somente para o ensino<strong>de</strong> música, mais ain<strong>da</strong>, para a educação musical, <strong>de</strong> forma que o conhecimentosobre a linguagem musical aliado à atitu<strong>de</strong> reflexiva e crítica diante <strong>da</strong> indústriacultural são consi<strong>de</strong>rados elementos necessários na formação <strong>de</strong>ste profissional.Não se restringindo à mera transmissão <strong>de</strong> conhecimento musical, a práxis doeducador caracteriza-se como emancipatória pela conscientização <strong>da</strong> criança para aboa música e por sua função educativa do refletir; atitu<strong>de</strong>s pe<strong>da</strong>gógicas<strong>de</strong>terminantes <strong>da</strong> formação do sentido crítico, sobretudo em tempos <strong>de</strong> crisecultural.PALAVRAS-CHAVE: Educação Musical; Teoria Crítica; Formação Pe<strong>da</strong>gógica.v


ABSTRACTThis work has the objective to reflect about the musical education in the regulareducation, and the most important is the infantile educational, observing the inluencyof Cultural Industry and the pe<strong>da</strong>gogic formation of musical educator for aemancipation praxis. This work begin in the Critics Teory. For the best compreensionrelation the music and education, a historic retrospect enfacising the way for themusical education in Brazil: the relation among the a lot of methods and propost ofthe musical instruction, and the pe<strong>da</strong>gogic ten<strong>de</strong>ncies and politics transformation.The subject Cultural Industry and Musical Educational is the release on the basisof the analyses of “Frankfurt School” , among about the <strong>de</strong>terioration process in theformation, consi<strong>de</strong>ring the Musical Education in the era of the industrialization andthe art, the bed formation and the transformation of the formation in thesemiformation. Is teaching work the best factors that influence in the childrenmusical formation, using the frankfurtians i<strong>de</strong>as about emancipation educational toinvestigate the musical teacher formation that teach in the infantile education – the“Pe<strong>da</strong>gogo” or the Musical Teacher. Observe in the curriculum of curses for theMusical teacher formation, the necessary subjects for his formation - and thesubjects about music and licenciate, and the analisis of the Proposol of Pe<strong>da</strong>gogic ofthe Pe<strong>da</strong>gogia Course of “Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO”their basis, objects and the curriculum. So, show the indicate of the elements of theemancipation praxis, elucitation and critics, about, a view of critics musical educationin the Infantile Education. The study focalise the importance of a teacher work notonly for the music instruction, and for the musical education too, and the knowledgeabout the musical language, using the reflective and critics attitu<strong>de</strong> of culturalindustry are the necessary elements for the professional formation. Not only restrictthe transmition of a musical knowledge, the praxis of the teacher feature howemancipation for the children conscientization for a good music and reflect for theeducative function, that are pe<strong>da</strong>gogics attitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>terminate <strong>de</strong>cisions for theformation and the critics meaning, and principal the era above the era of culturalcrisis.KEY-WORDS- Musical Education; Critics Teory; Pe<strong>da</strong>gogic Formation.vi


3aversão à educação reprodutiva e um <strong>de</strong>sgosto em relação à cultura <strong>de</strong> massa. Naprática <strong>da</strong> educação pela arte, o que se preten<strong>de</strong> é ultrapassar as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>simpostas pela Indústria Cultural e, através <strong>da</strong> análise e reflexão crítica <strong>de</strong>ssasbarreiras que se concretizam no âmbito educacional, repensar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, para que,a partir <strong>de</strong>las, surjam iniciativas váli<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ação.O estudo tem como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, a compreensão crítica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> pela Teoria Crítica, tendo como foco <strong>de</strong> análise a formação docentepara educação musical, realizando-se <strong>de</strong>ssa maneira uma análise sócioeducacional,tomando sempre como elemento intercessor a Indústria cultural.A temática que relaciona a educação musical com a concepção crítica <strong>de</strong>análise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e a formação humana exige que se enunciem algumasinterrogações, tais como: <strong>de</strong> que maneira a educação musical se concretizou nahistória educacional brasileira? Que espécie <strong>de</strong> formação a educação musical tempossibilitado aos alunos, em tempos <strong>de</strong> massificação <strong>da</strong> música? De que forma épossível relacionar a educação musical à formação emancipatória?Concretizando-se num estudo que analisa a presença <strong>da</strong> música naeducação, bem como a atuação docente sobretudo na educação infantil, diante <strong>de</strong>suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s formativas e, consi<strong>de</strong>rando o contexto <strong>da</strong> escola, emerge aquestão que se elege como essencial: Quais os pressupostos necessários àformação do educador musical para a práxis emancipatória?Portanto, este estudo <strong>de</strong>fine-se por <strong>de</strong>ter-se em pensar a educação musicalna escola regular, principalmente na educação infantil. Não se exclui <strong>da</strong> análise oensino <strong>de</strong> música presente nas escolas <strong>de</strong> música, no entanto, a análise se voltapara a escola regular, para a educação musical que acontece no ambiente escolar eque tem como responsável o professor unidocente 1e ain<strong>da</strong> polivalente e não oprofessor especialista em música.Como educadora musical <strong>de</strong> crianças e jovens, a autora está liga<strong>da</strong> a esseensino, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola regular e também nas escolas <strong>de</strong> música. A formação emPe<strong>da</strong>gogia lhe permitiu que conhecesse e vivenciasse diferentes ambienteseducacionais. Nestes se po<strong>de</strong> perceber as diversas formas pelas quais a música se1O termo “unidocente” i<strong>de</strong>ntifica o professor <strong>da</strong>s séries iniciais, isto é, aquele que atua como único docente <strong>de</strong>uma turma é também chamado <strong>de</strong> generalista, multidisciplinador ou polivalente, pois é responsável por ensinartodos os conteúdos <strong>da</strong>s diferentes disciplinas.


4faz presente na vi<strong>da</strong> escolar do aluno, proporcionando o repensar <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>educação musical, <strong>de</strong>ntro e fora <strong>da</strong> escola. Assim foi avaliado o modo como amúsica tem se apresentado às crianças, o modo como os alunos têm sido educadosmusicalmente, em outras palavras a relação que tem se apresentado entre osalunos e o aprendizado musical. Nessa relação, está presente o professor, que seresponsabiliza pela mediação que se dá entre o aluno e a música. Portanto, aointeressar-se por esse processo, automaticamente, o olhar voltou-se para a própriaprática educacional e nessa auto-reflexão, evi<strong>de</strong>nciaram-se alguns problemas quetêm sido comuns aos educadores musicais como, a própria formação <strong>de</strong>stesprofissionais, a influência <strong>da</strong> indústria cultural, a elitização do conhecimento musical,a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural brasileira, <strong>de</strong>ntre outros. Diante <strong>de</strong>ssa problemática,... é necessário procurar e repensar caminhos que nos aju<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>senvolver umaeducação musical que consi<strong>de</strong>re o mundo contemporâneo em suas características epossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s culturais (...) A consciência estética <strong>de</strong> jovens e adultos é elabora<strong>da</strong> nocotidiano, nas suas vivências, <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> propiciar, no contexto escolar,oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação e apreciação musicais significativas (...) escuta atenta, críticae questionadora dos sons do meio ambiente, i<strong>de</strong>alizando mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong>sejáveis nabusca <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> como quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. (BRASIL, 1998a, p 80)Ao observar o repertório musical que é disponibilizado às crianças na escola 2e, principalmente, por meio <strong>da</strong> televisão e do rádio, encontra-se uma pobrezamusical, “...todos ten<strong>de</strong>m a obe<strong>de</strong>cer cegamente à mo<strong>da</strong> musical...“(HORKHEIMER; ADORNO, 1986, p.79). Infelizmente, a escola pouco tem sepreocupado com essa questão, agravando, ca<strong>da</strong> vez mais, a <strong>de</strong>squalificação dogosto e <strong>da</strong> audição musical <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, por estar permitindo um maior espaçopara a música comercial, que na sua maioria, é pouco estrutura<strong>da</strong> quanto ao seuconhecimento e linguagem. Por outro lado, a música como conteúdo específico temse ausentado <strong>da</strong> escola regular, pois juntamente com as Artes Visuais, o Teatro e aDança, é uma <strong>da</strong>s linguagens constituintes <strong>da</strong> disciplina <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> EducaçãoArtística ou Artes, como área a fazer parte do currículo <strong>da</strong> educação básica. Já naEducação Infantil está integra<strong>da</strong> à aprendizagem dos diversos conhecimentos aserem trabalhos com a criança.2Dados sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação musical na escola, encontrados a partir <strong>de</strong> observações e questionáriosrealizados em Centros <strong>de</strong> Educação Infantil, públicos e particulares, <strong>de</strong> Guarapuava –Pr; os quais fazem parte <strong>de</strong>pesquisas anteriores <strong>da</strong> mesma autora. Cito (CUNHA, 2003), monografia <strong>de</strong> graduação em Pe<strong>da</strong>gogia intitula<strong>da</strong>“A música na vi<strong>da</strong> escolar <strong>da</strong> Criança”.


5Assim, no primeiro capítulo, por meio <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>gem histórica,compreen<strong>de</strong>-se que a história <strong>da</strong> educação musical na escola brasileira se fez comuma trajetória conflituosa, na qual a tensão entre obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> e liber<strong>da</strong><strong>de</strong> total <strong>de</strong>ação gerou <strong>de</strong> um lado o <strong>de</strong>scaso, hoje, existente na escola quanto ao acesso a taleducação; e <strong>de</strong> outro, uma educação musical, fora <strong>da</strong> escola regular, que secaracteriza pela elitização do conhecimento musical, na sua redução a privilégio <strong>de</strong>alguns, fecha-se para as classes menos favoreci<strong>da</strong>s.As tendências pe<strong>da</strong>gógicas que estabeleceram a história <strong>da</strong> educação, nãosó no Brasil, influenciaram diretamente na educação musical. As políticasgovernamentais estabelecem a educação que se <strong>de</strong>ve realizar, como exemplo dissoestão em uso o PCN, Parâmetros Curriculares Nacionais, e o RCNEF, ReferencialCurricular para a Educação Infantil, que trazem a fun<strong>da</strong>mentação do trabalhope<strong>da</strong>gógico e orientam a práxis educativa, inclusive na música.Nota-se o <strong>de</strong>scaso com a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação musical no Brasil, sendonecessário, portanto, compreen<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> fato, a quê a educação musical se propõe.Para isso, no segundo capítulo, procura-se compreendê-la como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, tanto reprodutiva, na qual a música se apresenta como um instrumento <strong>de</strong>consoli<strong>da</strong>ção e reprodução na e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, quanto <strong>de</strong> formação emancipatória, oque é analisado mais especificamente no terceiro capítulo, apresentando-se comoalternativa <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça e também <strong>de</strong> consciência crítica. Adorno, Marcuse,Horkheimer e Benjamin concor<strong>da</strong>m ao atribuir à cultura e à obra <strong>de</strong> arte, emespecial, essa dupla função, conforme analisa Freitag (1990, p. 77):...a <strong>de</strong> representar e consoli<strong>da</strong>r a or<strong>de</strong>m existente e ao mesmo tempo a <strong>de</strong> criticá-la,<strong>de</strong>nunciá-la como imperfeita e contraditória. (...) ela critica o presente e remete ofuturo. A dimensão conservadora e emancipatória <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> arteencontram-se, pois, <strong>de</strong> mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s.É nesse segundo momento que são abor<strong>da</strong>dos com maior enfoque, a partirdos estudos <strong>da</strong> Teoria Crítica, os mecanismos <strong>da</strong> Indústria Cultural e a suainfluência na educação musical, consi<strong>de</strong>rando a conversão <strong>da</strong> formação emsemiformação pela industrialização <strong>da</strong> música e pela propagação <strong>da</strong> semicultura.Por enten<strong>de</strong>r a educação musical como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> emancipação, consi<strong>de</strong>ra-se


6necessário questionar qual o papel <strong>da</strong> música na formação do ser humano, o que seenten<strong>de</strong> por experiência emancipatória e qual a influência <strong>da</strong> indústria cultural nessaeducação.No terceiro capítulo, por meio <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação e análise crítica doselementos necessários para uma prática pe<strong>da</strong>gógica emancipatória, a partir do olhar<strong>da</strong> Teoria Crítica, observa-se nos currículos dos cursos <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia e Licenciaturaem Música ou Arte-Educação, a presença <strong>da</strong>s disciplinas necessárias para aformação do educador musical – as disciplinas <strong>da</strong> área musical e <strong>da</strong> licenciatura - eanalisa-se a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO, seus fun<strong>da</strong>mentos, objetivos e sua gra<strong>de</strong>curricular. Assim, além <strong>da</strong> formação em licenciatura e do conhecimento musical,alguns elementos <strong>de</strong>vem estar presentes na formação do profissional que vaitrabalhar com educação musical na educação infantil, os quais são i<strong>de</strong>ntificados, apartir do referencial teórico aqui adotado. Verifica-se, portanto, se estes elementosestão presentes na formação <strong>de</strong>sses professores e <strong>de</strong> que maneira po<strong>de</strong>riam estar.Atualmente, há um número razoável <strong>de</strong> pesquisadores interessados nosprocessos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem <strong>da</strong> Educação Musical, ou seja, <strong>de</strong> ensino <strong>da</strong>música, sejam eles formais ou não-formais. Esse interesse está associado ao fato<strong>de</strong> que a gran<strong>de</strong> maioria dos pesquisadores atua diretamente com os processos <strong>de</strong>ensino-aprendizagem e que esta especiali<strong>da</strong><strong>de</strong> é muito ampla, comportando umainfini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sub-temas. Contudo, a preocupação <strong>de</strong>sta pesquisa, não está emestu<strong>da</strong>r os aspectos psicológicos do aprendizado musical e nem <strong>de</strong> apresentarmétodos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> música, mas em repensar, numa perspectiva crítica, aformação dos profissionais que atuarão como educadores musicais na educaçãoinfantil nas escolas <strong>de</strong> ensino regular.


CAPÍTULO IEDUCAÇÃO MUSICAL: UMA QUESTÃO POLÍTICO-PEDAGÓGICAA linguagem musical parece ter estado sempre presente na humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e, hámuito tempo faz parte <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> crianças e adultos. A origem <strong>da</strong> músicaconfun<strong>de</strong>-se com a origem <strong>da</strong> linguagem, elas sempre foram as principaismanifestações do homem, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s primitivas por meio <strong>da</strong> músicae <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça, expressam-se os sentimentos e exteriorizam-se as emoções, o ato <strong>de</strong>cantar e <strong>da</strong>nçar era constante e indispensável à vi<strong>da</strong> comunitária. Pela apropriaçãodos elementos do seu ambiente, o homem expressava-se artisticamente, essa forma<strong>de</strong> expressão ain<strong>da</strong> primitiva, simples em sua forma, evoluiu com do<strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento musical, na exploração <strong>de</strong> novos objetostransformados em instrumentos musicais e novas formas <strong>de</strong> linguagem. Com aevolução <strong>da</strong> música, ca<strong>da</strong> manifestação musical passou a se constituir umalinguagem com traços característicos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: na vi<strong>da</strong> em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,na religião, no teatro, nas festas, etc. E assim através <strong>da</strong> apropriação <strong>de</strong> novasformas <strong>de</strong> manifestação, <strong>de</strong> novos sons, <strong>de</strong> ritmos e melodias, relaciona-se àaprendizagem. Assim, a linguagem, a música e o ensino, há muito estabelecem umaintegração valiosa no <strong>de</strong>senvolvimento humano,A visão histórica e teórica <strong>da</strong> linguagem musical nos informa como o ser humanoconseguiu aperfeiçoá-la através dos tempos. Analisando o passado musical,po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r e valorizar o presente e o futuro. E o presente mostra alinguagem musical participando do progresso tecnológico através <strong>de</strong> uma presençamarcante nos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa... (ROSA, 1990, p. 23)Destarte, é importante compreen<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>senvolvimento musicalparalelamente à práxis <strong>de</strong> educação musical estabeleci<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> período histórico,pois as questões <strong>de</strong> ensino se configuram indissociáveis <strong>da</strong> própria produçãomusical e assim vice-versa. Em outras palavras, a relação entre a música toca<strong>da</strong>,ouvi<strong>da</strong> e/ou produzi<strong>da</strong>, em <strong>de</strong>terminado período histórico, está relaciona<strong>da</strong> àeducação musical <strong>da</strong>quele momento.O <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico trouxe consigo novos meios <strong>de</strong> comunicaçãoe expressão, com os quais a música foi ganhando seu espaço. Esse processo vem,


8historicamente, sendo refletido no ambiente escolar, on<strong>de</strong> a educação musicalassume sua função formativa.Para melhor compreen<strong>de</strong>r essa relação entre música e educação, realizou-seuma retrospectiva histórica na perspectiva político-pe<strong>da</strong>gógica, enfatizando asmu<strong>da</strong>nças históricas na educação musical por meio <strong>da</strong> apresentação, não só <strong>da</strong>sorigens <strong>de</strong> diversos métodos ou propostas, mas também <strong>de</strong> suas relações com astendências pe<strong>da</strong>gógicas e com as transformações políticas.Primeiramente, é preciso ter a clara compreensão <strong>de</strong> que a história <strong>da</strong> músicaprivilegia o <strong>de</strong>senvolvimento musical que acontece nas classes mais favoreci<strong>da</strong>s.Quando a história focaliza o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> musical, umaprimoramento nas músicas, uma sofisticação dos sons, uma qualificação dosmúsicos, é nas classes mais favoreci<strong>da</strong>s que se vai encontrar, pois foi assim que ahistória <strong>da</strong> própria educação musical foi sendo construí<strong>da</strong>: uma educação musicalrestrita a poucos, excluindo muitos.Percebe-se que, sempre houve na história uma certa valorização do ensino<strong>de</strong> música, e isso, <strong>de</strong> certa forma, foi benéfico à produção <strong>de</strong> um conhecimento maisaprimorado, contudo, a exclusão social classificava a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em cama<strong>da</strong>s ca<strong>da</strong>vez mais distintas e elegia um <strong>de</strong>terminado estilo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> como o i<strong>de</strong>al, excluindoqualquer outra forma <strong>de</strong> manifestação cultural que fugisse a <strong>de</strong>terminados padrões.Dessa maneira, a música, como livre expressão do ser humano, passou a distanciarse<strong>da</strong> música, objeto <strong>de</strong> ensino. O ensino <strong>de</strong> música foi se tornando seletivo, o que,anteriormente, era manifestação genuína do povo, com o passar dos tempos, passaa se diferenciar entre as classes sociais, isto é, o que era ensinado nas escolasaprendiam somente aqueles que podiam freqüentá-la: as pessoas <strong>da</strong> elite, filhos <strong>da</strong>nobreza ou os que buscavam a carreira eclesiástica. Portanto, o ensino musical quese realizava nessas escolas, já no século XIII, privilegiava as castas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> eo conhecimento produzido, fazendo uma forte distinção entre as músicas do povo eaquela que a escola <strong>de</strong>veria ensinar.Algumas iniciativas na história favoreceram a disseminação do ensino <strong>de</strong>música, entretanto o fazer docente, em sua gran<strong>de</strong> maioria, foi sendo edificado nasconcepções elitistas do conhecimento, ignorando-se a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> culturaldiferencia<strong>da</strong>. O ensino <strong>de</strong> música passa a valorizar intensamente o aprendizado <strong>da</strong>


9teoria musical, em seus aspectos mais técnicos, referindo-se à conscientizaçãointelectual <strong>da</strong> música, à aquisição <strong>de</strong> conhecimentos específicos <strong>da</strong> linguagemmusical, como a leitura e a escrita, as noções <strong>de</strong> forma, escalas, modos, harmonia,etc, acreditando que por meio do conhecimento musical já produzido esistematizado, o aluno, mais tar<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria realizar sua prática musical com maisfirmeza; por outro lado, outra parte dos professores, a minoria, utilizando-se <strong>da</strong>prática musical do aluno inseria os elementos teóricos, como complemento dotrabalho.O objetivo <strong>da</strong>s aulas <strong>de</strong> música era formar músicos excepcionais,instrumentistas, cantores, mesmo que isso não fosse a escolha do aluno. Percebeseque a escola trabalhando à parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>spessoas, as quais não pertenciam à elite, por isso não freqüentavam o meioacadêmico, <strong>de</strong>stinava-se a transmitir conhecimento, teorias já formula<strong>da</strong>s,reproduzindo <strong>de</strong>terminados conceitos e instruindo os filhos <strong>da</strong> elite a não se<strong>de</strong>ixarem influenciar pela música popular, ou seja, a música não-erudita e a nãosacra.O início do século XX foi marcado por mu<strong>da</strong>nças que tiveram um extraordinárioimpacto em todos os aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana, algumas certezas que pareciameternas começaram a evaporar <strong>de</strong> um momento para o outro, o homem, queacreditava em ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s absolutas, em códigos morais fixos e inquestionáveis,começa a olhar tudo isso sob o prisma <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong>. A partir <strong>de</strong> então, ficou muitodifícil manter a idéia <strong>de</strong> que o mundo era um lugar simples, regulado por valoresuniversais e imutáveis.As mu<strong>da</strong>nças revolucionárias, como o <strong>de</strong>senvolvimento dos sistemas <strong>de</strong>comunicação e transporte, começavam a permitir que as idéias cruzassemrapi<strong>da</strong>mente as fronteiras dos países, a informação começava a ser compartilha<strong>da</strong>globalmente. Assim sendo, percebe-se que as inter-relações entre o fazerpe<strong>da</strong>gógico dos educadores e todo o contexto histórico, político, social e econômicoem que viveram são assuntos tão fascinantes quanto impossíveis <strong>de</strong> explorar <strong>de</strong>ntrodo escopo <strong>de</strong>ste trabalho. Entretanto, um ponto fun<strong>da</strong>mental foi o reconhecimento<strong>da</strong> criança enquanto ser ‘visível’, dotado <strong>de</strong> características próprias e não um projeto<strong>de</strong> adulto, ou um adulto incompleto. Passa-se a levar em conta, na pe<strong>da</strong>gogia, as


10etapas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, procurando estimular ca<strong>da</strong> faseapropria<strong>da</strong>mente; compreen<strong>de</strong>ndo ca<strong>da</strong> vez mais a importância do afeto, <strong>da</strong>motivação, <strong>da</strong> brinca<strong>de</strong>ira na educação infantil e na construção <strong>de</strong> um universoadulto mais rico e saudável.Nesse cenário <strong>de</strong> intensa efervescência, surgiram novas correntes pe<strong>da</strong>gógicascom John Dewey, Jerome Bruner e Jean Piaget, os métodos ativos <strong>de</strong> Decroly,Montessori, Dalton, e Parkhurst, formando a Escola Nova.Surgem, na Europa, nesse período, influenciados pelos pensamentosescolanovistas, músicos e educadores que, por meio <strong>de</strong> práticas pe<strong>da</strong>gógicasinovadoras, lançam as bases <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a educação musical mo<strong>de</strong>rna: Émile Jaques-Dalcroze, Zoltán Kodály, Carl Orff, Maurice Martenot e Violeta Gainza, entre outros.Estes “... <strong>de</strong>senvolvem propostas inovadoras para o ensino <strong>de</strong> música, como umaalternativa para a escolarização <strong>de</strong> crianças oriun<strong>da</strong>s <strong>de</strong> classes sociais<strong>de</strong>sfavoreci<strong>da</strong>s”. (LOUREIRO, 2003, p. 53)Esses músicos e pe<strong>da</strong>gogos influenciaram a educação brasileira, <strong>de</strong> acordocom Paz (2000, p.10)O início do século XX foi o gran<strong>de</strong> marco do surgimento e evolução <strong>da</strong>s doutrinaspe<strong>da</strong>gógico-musicais. É bem ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que Comenius (1592 – 1671), no século XVII,lançou as primeiras bases <strong>de</strong> um ensino ativo-intuitivo, mas essa tentativa nãoalcançou o êxito que, somente no início <strong>de</strong>ste século, o suíço Émile Jacques Dalcroze,o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro pai do ensino renovador <strong>de</strong> música, obteve. (...) Dalcroze trouxe umacontribuição inestimável ao ensino <strong>da</strong> música, até então puramente teórico, livresco,totalmente <strong>de</strong>svinculado <strong>da</strong> vivência e <strong>da</strong> prática.O movimento escolanovista ganha corpo no Brasil a partir <strong>da</strong> Revolução <strong>de</strong>30, <strong>de</strong>pois disso, os <strong>de</strong>mais métodos <strong>de</strong> educação musical preconizaram o ensinoativo e intuitivo, neste, afirma-se a importância <strong>da</strong> arte na educação para o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> imaginação, <strong>da</strong> intuição e <strong>da</strong> inteligência <strong>da</strong> criança, e sevaloriza a livre expressão infantil. Os educadores passam a encarar a linguagemmusical como necessária e acessível a todos e não somente aos consi<strong>de</strong>rados bemdotados. Os criadores dos métodos ativos outorgam à música um papel importante<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus sistemas educacionais, reconhecendo seu ritmo como elemento ativoe favorecendo as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão e criação.


11No Brasil, um dos métodos que mais se popularizou foi o método <strong>de</strong>Dalcroze 3 juntamente com algumas idéias do psicope<strong>da</strong>gogo musical Edgar Willems,que encontraram receptivi<strong>da</strong><strong>de</strong> nos professores Liddy Chiaffarelli Mignone, JoãoGomes Júnior e Sá Pereira; também o método do pe<strong>da</strong>gogo alemão Carl Orff,contribui muito para a assimilação e solidificação do ensino musical, enriquecendoas aquisições anteriores com a introdução <strong>da</strong> linguagem como geradora <strong>de</strong> ritmos,popularizando-se, assim, no Brasil, principalmente no Rio <strong>de</strong> Janeiro.O ensino <strong>da</strong> música evoluiu no mesmo sentido <strong>da</strong>s teorias pe<strong>da</strong>gógicas e oaluno não mais foi visto como o receptor <strong>de</strong> conteúdo como nos antigosconservatórios, bem como a música tampouco ficou restrita à ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> lúdica. Comisso, recuperou-se a educação musical <strong>da</strong>s crianças, por meio <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong>experiência. Na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século XX, <strong>de</strong> acordo com Mársico (1982, p.17), passou a predominar o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> que um estudo do <strong>de</strong>senvolvimentomusical envolve necessariamente a observação <strong>da</strong>s reações do ser humano aoprimeiro contato com a música, o estudo <strong>da</strong> forma pela qual a música consegueintegrar-se ao seu ser íntimo e adquirir a significação para sua vi<strong>da</strong> pessoal, assimcomo a observação <strong>da</strong>s etapas por que passa o processo <strong>de</strong> aquisição doconhecimento musical e a caracterização dos modos pelos quais o ser humanoparticipa <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana.O percurso <strong>de</strong> significação <strong>da</strong> Educação Musical na escola brasileira é umcenário histórico, que mostra que no Brasil a educação permaneceu sempre noâmbito <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças legislativas e <strong>da</strong>s tendências pe<strong>da</strong>gógicas, nas quais sefun<strong>da</strong>mentou, vinculando-se principalmente, e em tempos diferentes, aotradicionalismo, ao nacionalismo, ao laissez-faire, aos movimentos <strong>de</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, àtentativa <strong>de</strong> interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> com outras áreas artísticas.Tracemos uma caminha<strong>da</strong> – ou melhor, uma corri<strong>da</strong> – reconstruindo as marcasrecentes que a chama<strong>da</strong> ‘educação musical’ veio nos <strong>de</strong>ixando: partimos <strong>da</strong>stradicionais ‘aulas’ <strong>de</strong> música (solfejo e ditado rítmico/melódico), nacionalizamo-nos3 Emile Jaques-Dalcroze compreendia que faltava aos estu<strong>da</strong>ntes a coor<strong>de</strong>nação entre olhos, ouvidos, mente ecorpo necessária para apren<strong>de</strong>r o repertório musical - e principalmente para tocar bem. A Euritmia <strong>de</strong> Dalcrozesignifica literalmente “bom ritmo” (<strong>de</strong> eu = bom, rhythm = fluxo, rio ou movimento) e estu<strong>da</strong> todos os elementos<strong>da</strong> música através do movimento, partindo <strong>de</strong> três pressupostos básicos: Todos os elementos <strong>da</strong> música po<strong>de</strong>mser experimentados (vivenciados) através do movimento; todo som musical começa com um movimento -portanto o corpo, que faz os sons, é o primeiro instrumento musical a ser treinado; há um gesto para ca<strong>da</strong>som, e um som para ca<strong>da</strong> gesto. Ca<strong>da</strong> um dos elementos musicais - acentuação, fraseado, dinâmica, pulso,an<strong>da</strong>mento, métrica - po<strong>de</strong> ser estu<strong>da</strong>do através do movimento.


12no canto orfeônico (eufemismos sonoros distribuídos em canções folclóricas. Hinose cantigas <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>) abrigamo-nos na ‘sensibilização musical’ (iniciação, reiniciação,musicalização e infindável experimentação <strong>de</strong> sons com sucata), pulverizamo-nosna ‘educação artística’ (<strong>de</strong>senhar o som, sonorizar a estória, musicar o poema) e,quase que inevitavelmente, num <strong>de</strong>terminado momento, tínhamos que nosenfrentar, buscando i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s. (TOURINHO, 1998, p. 170).Na história <strong>da</strong> educação musical brasileira, as lutas e as negociaçõesestabeleci<strong>da</strong>s entre as teorias do ensino <strong>de</strong> música e as políticas governamentaisforam <strong>de</strong>terminantes <strong>da</strong>s práticas educacionais realiza<strong>da</strong>s. “No Brasil, a educaçãomusical passou por uma trajetória lenta e reformista, abrangendo as mais diversasconcepções referentes ao ensino <strong>da</strong> música”. (MATEIRO, 2005, [s.p.]) A influência<strong>da</strong>s Leis Fe<strong>de</strong>rais e Estaduais foi <strong>de</strong>terminante para o estabelecimento <strong>da</strong>s práticas<strong>de</strong> educação musical que hoje se realizam. Nos estudos <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Teoria Crítica,afirma-se que a presença do Estado não seria dispensa<strong>da</strong> por nenhuma economiamo<strong>de</strong>rna e que sua intervenção juntamente com a transformação <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong>técnica, em forças produtivas e i<strong>de</strong>ologia, alteram as formas <strong>de</strong> legitimação dopo<strong>de</strong>r, as quais são assimila<strong>da</strong>s pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em nome <strong>da</strong> competência pela qualé geri<strong>da</strong> e na<strong>da</strong> precisa ser explicado.Esse po<strong>de</strong>r legitimador do Estado, po<strong>de</strong> ser notado em ca<strong>da</strong> acontecimentona história <strong>da</strong> educação musical no Brasil, quando o acontecer e o não acontecer é<strong>de</strong>terminado por esse po<strong>de</strong>r. Por exemplo, o que ocorreu durante os anos 30,quando a política educacional autoritária <strong>de</strong> Getúlio Vargas e seu projeto <strong>de</strong>nacionalização introduzem a obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> música nas escolasprimárias e secundárias. Além <strong>de</strong> influenciar a padronização <strong>de</strong> programas eorientações metodológicas, que passam a ser ditados pelo antigo Ministério <strong>da</strong>Educação e Saú<strong>de</strong> e inspecionados pelo governo, a reforma, a partir do Decreto nº18.890, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1932, levou a música nas escolas para muito além <strong>de</strong> suasfunções estéticas e pe<strong>da</strong>gógicas, por meio <strong>de</strong> uma política educacional nacionalistae autoritária que utilizou a música para <strong>de</strong>senvolver a "coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>", a "disciplina" eo "patriotismo". (LOUREIRO, 2003, p. 56)Esse momento <strong>de</strong> transformação foi li<strong>de</strong>rado por nosso músico, compositor eprofessor, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) o qual como tradicionalista e preocupadocom a elevação artístico-musical do povo brasileiro, acreditava que pela


13obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> se chegaria a uma vivência cotidiana e, assim, à formação <strong>de</strong> umpúblico mais sensível às expressões artísticas. O compositor participou ativamentedo projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do canto orfeônico que tinha como objetivo primordialauxiliar o <strong>de</strong>senvolvimento artístico <strong>da</strong> criança e produzir adultos musicalmentealfabetizados.Com o apoio do governo e a criação <strong>da</strong> Superintendência <strong>de</strong> EducaçãoMusical e Artística (Sema), a educação musical tomou proporções jamais vistas noâmbito do espaço escolar. Como ressalta Paz (2000, p. 21):Uma contribuição altamente relevante foi a implantação do ensino <strong>da</strong> música <strong>de</strong>s<strong>de</strong>o curso primário, fruto <strong>da</strong> importância que Villa-Lobos atribuía ao ensino <strong>de</strong> base,pois, como ele mesmo dizia: tenho muita fé na criança e no jovem. (...) Hoje,po<strong>de</strong>mos avaliar com muito mais segurança a importância <strong>da</strong>quela época, que, paraalguns, não foi satisfatória unicamente por razões i<strong>de</strong>ológicas. Constatamos, então,que foi só o que existiu. Vivemos a triste reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma educação artísticapolivalente que ca<strong>da</strong> vez mais, sofre com a carência <strong>de</strong> música e produção musical.Essa manifestação <strong>de</strong> Educação Musical e Artística, jamais vista no Brasil,proporcionou a todos um contato direto com a música, o que não era possível atéentão, <strong>de</strong>vido ao caráter elitista do ensino. Na análise <strong>de</strong> Loureiro (2003), o governonacionalista <strong>da</strong> era Vargas leva à frente o projeto traçado por Villa-Lobos para oensino do canto orfeônico nas escolas primárias e normais, com o objetivo <strong>de</strong>educar as massas urbanas por meio <strong>da</strong> música. Esse projeto político-musical, cujasbases estavam comprometi<strong>da</strong>s como lema <strong>de</strong> Vargas, trazia consigo, além doobjetivo social, o lado político-pe<strong>da</strong>gógico, ao instituir nas escolas públicas o cantoorfeônico como prática cívico-musical.Um dos importantes fatores <strong>de</strong>sse grandioso projeto foi a valorização <strong>da</strong>cultura brasileira, através <strong>da</strong> veiculação <strong>de</strong> nossa cultura, <strong>de</strong> nossas raízes pelaassimilação do folclore.Outro aspecto importante do projeto foi o <strong>de</strong> <strong>da</strong>r ao aluno a consciênciamusical por meio <strong>da</strong> sua vivência musical, na valorização do sentir - aspecto doensino no qual a teoria por si só per<strong>de</strong> o sentido - <strong>de</strong> forma que tudo <strong>de</strong>ve seraprendido através <strong>da</strong> prática e não a partir <strong>da</strong>s regras no papel. Dessa forma, opróprio autor e coor<strong>de</strong>nador do projeto <strong>de</strong> educação musical, no qual o CantoOrfeônico era o principal meio <strong>de</strong> educar musicalmente, afirma que


16associado ao governo autoritário – o canto orfeônico); a falta <strong>de</strong> capacitaçãope<strong>da</strong>gógica a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> (a distância até os cursos <strong>de</strong> capacitação, a formaçãosuperficial e o relaxamento na obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formação); a falta <strong>de</strong> umametodologia <strong>de</strong> ensino suficientemente estrutura<strong>da</strong> (o material pe<strong>da</strong>gógico-musicaljá mostrava diversificações em relação à temática <strong>da</strong>s músicas).Após a Segun<strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Guerra, surge o movimento Música Viva, o qual<strong>de</strong>fendia uma arte musical que fosse a expressão real <strong>da</strong> época e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Esse movimento foi apoiado por uma importante geração <strong>de</strong> compositoresbrasileiros como Gazzi <strong>de</strong> Sá, Sá Pereira, Liddy Chiaffarelli Mignone, etc...O movimento Música Viva teve também sua participação na educaçãomusical brasileira, que colocava como palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m criar e experimentar. Peloprivilégio <strong>da</strong> criação musical, pela importância <strong>da</strong> função social do criadorcontemporâneo, pela valorização do coletivo buscava-se alcançar uma nova forma<strong>de</strong> expressão que privilegiasse mais o processo e menos o produto a ser alcançado.Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50, são cria<strong>da</strong>s as Escolinhas <strong>de</strong> Arte do Brasil, projeto no qualAugusto Rodrigues engajou-se e <strong>de</strong> acordo com Loureiro:Dentre seus princípios fun<strong>da</strong>mentais estavam a crença no potencial <strong>de</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>existente em todo ser humano, o respeito à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão do educando e aconsciência <strong>de</strong> que a prática <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> artística é fator relevante para o<strong>de</strong>senvolvimento equilibrado <strong>da</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong> do educando, contribuindo tambémpara uma inter-relação harmoniosa entre as pessoas e os grupos humanos.(LOUREIRO, 2003, p.65)Nessa época, sobressaíam-se dois tipos <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> música: aquelesque se mostravam a<strong>de</strong>ptos ao conservadorismo, formados pela metodologiaorfeônica, que, embora sem o controle por parte <strong>da</strong> SEMA, Superintendência <strong>de</strong>Educação Musical e Artística, permaneciam com a prática cívico-pe<strong>da</strong>gógica eaqueles com pensamento inovador e questionador, procurando abandonar a velhaconcepção autoritária, incorporaram as propostas <strong>da</strong> Escola Nova, <strong>da</strong>ndo ênfase àativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno que se torna o centro do processo ensino aprendizagem.Nos anos 60, após diversas práticas, sob as mais varia<strong>da</strong>s influências, aeducação musical brasileira se caracterizou pela valorização <strong>da</strong> Iniciação Musical,<strong>da</strong> Musicalização, <strong>de</strong> um ensino para sensibilização. Nesse, a arte <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lado origor técnico para se tornar veículo <strong>de</strong> expressão humana. “Numa recusa ao


18Poucas instituições <strong>de</strong> ensino ain<strong>da</strong> preservam a música no programacurricular, contudo oferecem uma carga horária mínima e que se caracteriza pelaproblemática <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> educação musical. Na gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>svezes, segundo Santos (1994, p.10), as aulas restringem-se ao trabalho <strong>de</strong> "...eventos culturais objetivando culminâncias que, embora altamente motivadoras, vêmem nome <strong>de</strong> um produto, sacrificando um processo".Por não se constituir, em si, uma disciplina obrigatória no currículo escolarcom conteúdos específicos, a música não é trata<strong>da</strong> como conhecimento a serensinado, estu<strong>da</strong>do, compreendido e recriado, contudo, ela está sempre presente naescola, seja nas festas e celebrações, seja nas práticas recreativas e lúdicas que,muitas vezes, fogem totalmente às questões e aos objetivos propriamente musicais.De acordo com Mateiro (2005, [s.p.])Esta situação, sem dúvi<strong>da</strong>, reflete os valores i<strong>de</strong>ológicos e filosóficos que aeducação musical possui para a nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Educação, cultura, arte tornaramsesuperficiali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e apenas aqueles com condições financeiras para pagarprofessores particulares <strong>de</strong> música (mais especificamente <strong>de</strong> um instrumentomusical) ou <strong>de</strong> qualquer outra área têm acesso a outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>conhecimento.A educação musical encontra-se hoje, como há tanto tempo, com certaautonomia nas escolas especializa<strong>da</strong>s, nos conservatórios, como se não fossematingidos pelos problemas que afligem a educação brasileira, seguindo um mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> escola para a elite, com acesso restrito e ensino tradicional e que, segundoPenna (1995), assume uma função social <strong>de</strong> formar tecnicamente, pelo e para opadrão <strong>da</strong> música erudita, os profissionais para um entretenimento <strong>da</strong> elite – emoutras palavras, os músicos para as salas <strong>de</strong> concerto. Ou, ain<strong>da</strong>, para o mesmoautor, cumprem a função <strong>de</strong> enriquecer, através <strong>da</strong> prática musical, a formação<strong>da</strong>queles que têm socialmente a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a essa formação artística.Com o fim do autoritarismo, nos anos 80 o movimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratizaçãoentrou na escola e, após oito anos <strong>de</strong> tramitação e polêmicas, foi promulga<strong>da</strong> a atualLei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação (LDB) – Lei nº 9394/96 – que trata dos fins,princípios e organização <strong>da</strong> educação no Brasil. Como substituição à Lei anterior,ela é alvo <strong>de</strong> muitas críticas pela forma como foi altera<strong>da</strong> diversas vezes antes <strong>de</strong>ser promulga<strong>da</strong>


19... e suas modificações foram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s por muitos como um retrocesso aosprojetos inicialmente apresentados. A crítica recaiu, sobretudo, sobre o fato <strong>de</strong> queas propostas anteriormente feitas por associações <strong>de</strong> educadores (...) ou discussõescom outras comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e órgãos representativos envolvidos não foramconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s. (SOUZA, 1995, p. 24)O MEC, Ministério <strong>da</strong> Educação e <strong>da</strong> Cultura, tomando como base anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> se estabelecer um princípio <strong>de</strong> eqüi<strong>da</strong><strong>de</strong> numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>tão diversifica<strong>da</strong>, propôs três documentos complementares ao processo <strong>de</strong>implantação <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação, como auxílio na elaboraçãodo currículo <strong>de</strong>stinado ao ensino básico: o Referencial Curricular Nacional paraEducação Infantil, os Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fun<strong>da</strong>mental, umpara 1º e 2º ciclos e outro para 3º e 4º ciclos, e os Parâmetros CurricularesNacionais: Ensino Médio.No ponto <strong>de</strong> vista do próprio governo:O que se apresenta é a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um referencial comum para a formaçãoescolar no Brasil, capaz <strong>de</strong> indicar aquilo que <strong>de</strong>ve ser garantido a todos, numareali<strong>da</strong><strong>de</strong> com características tão diferencia<strong>da</strong>s, sem promover uma uniformizaçãoque <strong>de</strong>scaracterize e <strong>de</strong>svalorize peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s culturais e regionais. (BRASIL,1997, p.36)A LDB, Lei <strong>de</strong> Diretrizes e bases, nº 9394/96 , pela primeira vez na história <strong>de</strong>nosso país, estabelece que a educação infantil é a primeira etapa <strong>da</strong> educaçãobásica, no artigo 29 a lei <strong>de</strong>termina: “A educação infantil, primeira etapa <strong>da</strong>educação básica, tem como finali<strong>da</strong><strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento integral <strong>da</strong> criança atéseis anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,complementando a ação <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (SOUZA; SILVA, 1998, p.51), <strong>de</strong> forma que, somente nessa Lei é que a criança <strong>de</strong> 0 à 6 anos recebea<strong>de</strong>quado tratamento numa legislação educacional. Fruto do trabalho <strong>de</strong> educadoresque, <strong>de</strong>dicando seus esforços, lutaram pela valorização <strong>da</strong> educação <strong>da</strong>s criançasnessa faixa etária, o avanço em relação às leis anteriores, <strong>de</strong>monstra que há umamaior preocupação com a educação pré-escolar.Não mais se caracterizando como assistencialista, a educação infantil assumeuma nova conjuntura educacional, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento integral <strong>da</strong> criança, seja


20fisicamente, psicologicamente, intelectualmente e também na sociabilização. Paraorientar os educadores nessa nova fase <strong>da</strong> educação infantil, dois anos após apromulgação <strong>da</strong> LDB 9394/96, o Ministério <strong>da</strong> Educação e do Desporto elabora edistribui para to<strong>da</strong> a re<strong>de</strong> nacional o RCNEF, Referencial Curricular para a EducaçãoInfantil, com o objetivo <strong>de</strong> enriquecer as discussões pe<strong>da</strong>gógicas no interior <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>instituição, oferecendo subsídios para a elaboração <strong>de</strong> projetos educativos, servindocomo um guia educacional, que parte do princípio <strong>de</strong> respeito aos estilospe<strong>da</strong>gógicos e à diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural brasileira, no entanto, por abranger as escolasem nível nacional, apresenta certa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> neste princípio, gerando muitasdiscussões em relação a sua aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.O RCNEF, Referencial Curricular para a Educação Infantil, está sistematizadoem três volumes: no primeiro documento apresenta-se a Introdução, que refletesobre as escolas <strong>de</strong> educação infantil e apresenta uma fun<strong>da</strong>mentação conceitual<strong>de</strong> criança, <strong>de</strong> educação, <strong>de</strong> instituição e <strong>de</strong> profissional que <strong>de</strong>finem os objetivos<strong>de</strong>ste segmento escolar e orientam a organização do documento, os quais, sedivi<strong>de</strong>m em dois âmbitos <strong>de</strong> experiência: um relativo as questões sobre a FormaçãoPessoal e Social <strong>da</strong> criança e outro sobre o âmbito <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> Conhecimento<strong>de</strong> Mundo. O primeiro volume, contém o eixo <strong>de</strong> trabalho que favorece a construção<strong>da</strong> I<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> Autonomia, pela abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> Formação Pessoal e Social <strong>da</strong>scrianças. O segundo volume que abrange o âmbito <strong>de</strong> experiência Conhecimento <strong>de</strong>Mundo, contém seis eixos <strong>de</strong> trabalho, que orientam a ação do professor <strong>de</strong>Educação Infantil na “... construção <strong>da</strong>s diferentes linguagens pelas crianças e paraas relações que estabelecem com os objetos <strong>de</strong> conhecimento: Movimento, Música,Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e Matemática.”(BRASIL, 1998b, p. 7)No âmbito <strong>de</strong> experiência Conhecimento <strong>de</strong> Mundo, a Música, apresenta<strong>da</strong>como um dos eixos <strong>de</strong> trabalho, é abor<strong>da</strong><strong>da</strong> como uma importante linguagem,presente na educação infantil. Nesse documento, são aponta<strong>da</strong>s as idéias e práticascorrentes em relação a presença <strong>da</strong> musica na educação infantil, a relação entre amúsica e a criança, os objetivos à serem alcançados nessa relação, bem como osconteúdos, que são subdivididos no fazer musical e na apreciação musical e as


21orientações gerais para o professor sobre as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s a serem realiza<strong>da</strong>s e aavaliação do trabalho.Nota-se que, o documento faz um retrato real <strong>da</strong> música na educação infantil,apontando as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s encontra<strong>da</strong>s pelas instituições e pelos própriosprofessores em relação à sua presença, conseqüentemente, traz uma gran<strong>de</strong>contribuição para que essas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s sejam supera<strong>da</strong>s, no entanto, a linguagemutiliza<strong>da</strong> no documento, na apresentação dos objetivos e dos conteúdos a seremtrabalhados em ca<strong>da</strong> faixa etária, é <strong>da</strong> área <strong>da</strong> música, o que se transforma em umempecilho no uso <strong>de</strong>sse material por professores <strong>de</strong> educação infantil, que não têmconhecimento necessário para compreen<strong>de</strong>r essa linguagem, ou seja, para que oprofessor <strong>da</strong> educação infantil possa fazer uso do RCNEF, no que diz respeito àmúsica, é necessário que este professor possua conhecimento prévio <strong>da</strong> área <strong>de</strong>música, <strong>de</strong>sta forma compreen<strong>de</strong>rá o que está apresentado no conteúdo dodocumento e po<strong>de</strong>rá aplicá-lo em sua prática docente.Além, do RCNEF, o Ministério <strong>da</strong> Educação em 1998, editou e distribuiu parato<strong>da</strong>s as escolas <strong>de</strong> nível fun<strong>da</strong>mental os PCN’s, Parâmetros CurricularesNacionais, os quais, orientam ca<strong>da</strong> área do conhecimento, que têm obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong>nas oito séries do ensino fun<strong>da</strong>mental: língua portuguesa, matemática,conhecimentos históricos e geográficos, ciência, língua estrangeira, educação físicae artes. Além disso, são apresentados os temas transversais que <strong>de</strong>vem estararticulados com as disciplinas e são: ética, saú<strong>de</strong>, meio ambiente, plurali<strong>da</strong><strong>de</strong>cultural e orientação sexual.Os objetivos <strong>de</strong>sse documento são muito amplos, pois abrangem <strong>de</strong>s<strong>de</strong>orientações para as escolas, <strong>de</strong> como montar seus currículos e ensinar seus alunos,até a elaboração <strong>de</strong> projetos educativos, a formação continua<strong>da</strong> do professor,sugestões <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s práticas <strong>de</strong> aula, os conteúdos e a produção <strong>de</strong> materialdidático, as avaliações <strong>da</strong>s escolas e dos alunos. Para que esses objetivos setornem viáveis, é preciso se consi<strong>de</strong>rar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta, que se caracteriza por<strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais.Contudo, por se constituírem uma referência <strong>de</strong> abrangência nacional eoferecer parâmetros a serem observados em todos os fazeres escolares, cabe, tantoao PCN quanto ao RCNEF, a váli<strong>da</strong> crítica <strong>de</strong> Souza, (1995, p. 28) “Isso sugere que


23retratam os diversos âmbitos <strong>de</strong>sse fazer educacional na escola brasileira. Citam-se,dois exemplos: primeiramente a pesquisa intitula<strong>da</strong> “O Ensino <strong>de</strong> Música na Escola<strong>de</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental” 4 a qual conclui queEmbora nos meios científicos e acadêmicos a música seja reconheci<strong>da</strong>, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>isso não ocorre. O que encontramos nas escolas são práticas isola<strong>da</strong>s, bastantevariáveis e irregulares. Em algumas poucas escolas há professor e carga horáriaespecíficos para música; em outras, só há o ensino <strong>da</strong> música na educação infantil(mesmo assim como função recreativa); em outras a escola resume a formar eensaiar uma ban<strong>da</strong> ou um coral, porém, tais práticas envolvem apenas algunsalunos, <strong>de</strong>ixando a maioria excluí<strong>da</strong>. Apesar <strong>de</strong> existir um consenso entre aprodução científica, as educadoras musicais e professora <strong>de</strong> ensino fun<strong>da</strong>mentalsobre a importância <strong>da</strong> música na educação <strong>da</strong> criança e do jovem, como mostrou apesquisa, sua implementação na escola, quando ocorre, está muito distante <strong>de</strong> seuver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro significado, priorizando, (...) aspectos disciplinares e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s festivas.(LOUREIRO, 2003, p. 216)Cita-se também a pesquisa intitula<strong>da</strong> “A Música na Vi<strong>da</strong> Escolar <strong>da</strong> Criança” 5 ,a qual procurou reconhecer a presença <strong>da</strong> música na escola e perceber qual aimportância <strong>da</strong><strong>da</strong> à educação musical. Na fala <strong>de</strong> diretores dos Centros <strong>de</strong>Educação Infantil, <strong>de</strong> Guarapuava, no Paraná, on<strong>de</strong> a pesquisa foi realiza<strong>da</strong>, revelaseuma certa valorização <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> música na escola, contudo o discurso nãocondiz com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> observa<strong>da</strong>. Os <strong>da</strong>dos coletados apresentam as condiçõesem que a educação musical chega até essas escolas e o grau <strong>de</strong> envolvimento <strong>da</strong>sprofessoras com o processo <strong>de</strong> educação musical. Observa-se queCerca <strong>de</strong> 80% <strong>da</strong>s escolas não têm aulas específicas <strong>de</strong> música em seusprogramas, sendo assim os professores <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> sala são responsáveis pelas aulas<strong>de</strong> música; apenas 10% <strong>da</strong>s escolas possuem uma sala específica para aulas <strong>de</strong>música. Na maioria <strong>da</strong>s escolas on<strong>de</strong> a educação musical recebe maior importânciaas aulas são realiza<strong>da</strong>s na própria sala <strong>de</strong> aula; nenhuma <strong>da</strong>s escolas possuiprofessores com capacitação específica para ensinar música; cerca <strong>de</strong> 50% dosdiretores afirmaram oferecer cursos <strong>de</strong> capacitação para seus professores nestaárea; Cerca <strong>de</strong> 30% <strong>da</strong>s professoras possuem curso superior, 40% está cursandouma facul<strong>da</strong><strong>de</strong> e outros 30% estão no ensino médio ou já terminaram; 100% <strong>da</strong>sentrevista<strong>da</strong>s respon<strong>de</strong>ram que a música está presente em suas aulas; apenas 30%disseram terem realizado algum curso específico <strong>de</strong> música. (CUNHA, 2003, p. 35)4A autora Alicia Maria Almei<strong>da</strong> Loureiro relata nesse livro, sua pesquisa realiza<strong>da</strong> com os professores queparticiparam do Projeto Música na Escola, <strong>de</strong>senvolvido pela Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Minas Gerais,1997.5Pesquisa realiza<strong>da</strong> por <strong>Daiane</strong> S. <strong>Stoeberl</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong>, em 2003, com <strong>de</strong>z escolas <strong>de</strong> educação Infantil domunicípio <strong>de</strong> Guarapuava no Paraná, entre elas, quatro públicas e seis particulares.


24Em todo o Brasil, a triste situação educacional apresenta-se similar, contudoatitu<strong>de</strong>s transformadoras acontecem lentamente, ca<strong>da</strong> atitu<strong>de</strong>, mesmo que isola<strong>da</strong>,contribui para que novas iniciativas sejam toma<strong>da</strong>s, portanto, são ações <strong>de</strong> caráterpolítico e também pe<strong>da</strong>gógico.As ações em prol <strong>de</strong> uma educação musical que objetivem a formação maishumana, mais crítica e atuante, não po<strong>de</strong>m distinguir-se como política somente, oupe<strong>da</strong>gógica somente, elas <strong>de</strong>vem abranger os planejamentos curriculares emâmbitos maiores e também os planos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> em ca<strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula: as leis, osprojetos governamentais, os referenciais e parâmetros, a formação do professor, osrecursos materiais, o espaço e, também, a prática docente e discente, a relaçãoprofessor-aluno, o acompanhamento pe<strong>da</strong>gógico, etc. Isso tudo faz parte doprocesso formativo no qual o aluno é inserido.O encaminhamento <strong>da</strong>do em ca<strong>da</strong> um dos aspectos do processo formativo éo que mais difere entre ca<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> educativa e é o que <strong>de</strong>termina o tipo <strong>de</strong>formação que se oferece ao educando. Dessa forma, po<strong>de</strong>-se dizer que a práticaeducativa, em seus inúmeros aspectos, caracteriza-se como formação reprodutivaou emancipatória.O que se quer focalizar aqui, <strong>de</strong>ntre todos os aspectos político-pe<strong>da</strong>gógicosvistos neste breve histórico, é a prática docente. Viu-se que, na história <strong>da</strong> educaçãomusical do Brasil, algumas iniciativas abrangeram a formação docente, contudo, elasempre esteve relega<strong>da</strong> a segundo plano. A prática docente vem <strong>de</strong>terminar aquali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação e, para que haja bons educadores, é necessário investir-sena formação docente, <strong>de</strong> tal forma que, mesmo em condições <strong>de</strong>sfavoráveis àeducação musical emancipatória, o professor seja capaz <strong>de</strong> intervir na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> eformar pessoas críticas e conscientes. Como observa Paz (2000, p. 11):... as mu<strong>da</strong>nças na pe<strong>da</strong>gogia musical eclodiram rapi<strong>da</strong>mente, implicando o repensare a revisão <strong>de</strong> to<strong>da</strong> uma prática musical até então <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>. Não é possívelreformular a prática musical sem conhecer bem as novas <strong>de</strong>scobertas e aquisições.Em música, po<strong>de</strong>ríamos dizer que não há reformulação sem uma gran<strong>de</strong> vivência eexperiência do novo, sem um sério questionamento <strong>da</strong>s idéias. Infelizmente, não é oque vem acontecendo por aí: basta observar-se os currículos dos cursos <strong>de</strong> músicapara se verificar o <strong>de</strong>scompasso em que as coisas se dão.


25Nessa retrospectiva histórica, observou-se que o argumento, aparentemente<strong>de</strong>salentador utilizado por Adorno, para iniciar o texto Teoria <strong>da</strong> Semiculturaanalisado por Zuin (1999, p. 117), confirma-se também nesse contexto: “As reformaspe<strong>da</strong>gógicas por si só são insuficientes para a transformação radical do processo <strong>de</strong>difusão <strong>da</strong> semicultura (...) Enquanto não se modificarem as condições objetivas,haverá um hiato entre as pretensões <strong>da</strong>s propostas educacionais reformistas e suasreais objetivações”. Por isso, esta busca <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> do objeto do estudo,aju<strong>da</strong> a enten<strong>de</strong>r que a dicotomia entre teoria e prática na educação musicalbanaliza as reformas pe<strong>da</strong>gógicas e as tornam insuficientes.Atualmente, o discurso presente nas propostas educacionais elabora<strong>da</strong>s pelogoverno brasileiro, choca-se com a presença dos mecanismos comerciais aos quaisa música tem se submetido, assim sendo a teoria distancia-se <strong>da</strong> práticaeducacional que acontece <strong>de</strong>ntro e fora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula:Os processos educacionais não se restringem ao necessário momento <strong>da</strong> instrução,mas que certamente o transcen<strong>de</strong>m. Este tipo <strong>de</strong> raciocínio nos leva a inferir que aesfera do educativo não se <strong>de</strong>limita às instituições <strong>de</strong> ensino, ampliando apercepção a ponto <strong>de</strong> investigarmos a forma como a mercantilização dos produtossimbólicos <strong>de</strong>termina novos processos educativos fora ou <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s escolas.(ZUIN, 1999, p. 118)O avanço <strong>da</strong>s forças produtivas do capitalismo transnacional que se faz napadronização do comportamento; nas atitu<strong>de</strong>s conformistas regi<strong>da</strong>s pela hegemonia<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo; na per<strong>da</strong> <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>; na semiformação; na pseudoindividualização,estão inseri<strong>da</strong>s na esfera educativa, conseqüentemente, não hácomo ignorar sua influência nas práticas pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> educação musical.Debruçar-se sobre essas relações <strong>de</strong> forças é o caminho para se integrar a teoria àprática educacional, já que esta não está aquém <strong>de</strong>sse “avanço”.A música, como as outras artes, tem sido submeti<strong>da</strong> às regrasmercadológicas, tornando-se produto cultural <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que o valor <strong>de</strong>consumo sobressai ao valor puramente artístico. A crise que assola a área artísticatem levado à <strong>de</strong>cadência do gosto, e as crianças são educa<strong>da</strong>s com padrõesmusicais medíocres. A educação musical, conseqüentemente, inseri<strong>da</strong> nessasrelações <strong>de</strong> consumo, sofre gran<strong>de</strong> influência. Tais relações serão abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s maisespecificamente no segundo capítulo.


26Não há como ignorar a dissimulação que ocorre na esfera educativa, quaissejam: a dicotomia entre as pretensões <strong>da</strong>s propostas educacionais reformistas esuas reais objetivações, o hiato entre as promessas e suas respectivas realizações.Nesse sentido, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> distancia-se <strong>da</strong> utopia, teoria e prática dissociam-se, noentanto, a relação entre aquilo que se sonha e o que se põe em prática precisa serfun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na constante critici<strong>da</strong><strong>de</strong> dos indivíduos envolvidos. No processoensino-aprendizagem, a prática docente auto-reflexiva é favorável à efetivação dosobjetivos pe<strong>da</strong>gógicos mais amplos, pois a reflexão crítica sobre sua própria práticafaz do professor um mediador consciente entre as pretensões educativas elabora<strong>da</strong>snas propostas pe<strong>da</strong>gógicas e as reais efetivações.Inclui-se no quadro <strong>da</strong>s políticas educacionais atuais, além <strong>da</strong> LDB, maisrecentemente, os Referenciais e os Parâmetros Nacionais, como vimos. As políticaseducacionais têm buscado parametrizar a realização do ensino escolar,<strong>de</strong>terminando o que se espera <strong>da</strong> organização e execução <strong>da</strong> prática educativaescolar. Mas, será que esses documentos são suficientes para a construção do quese propõe?No campo <strong>da</strong> Educação Musical, por um lado, a experiência também temmostrado que ações curriculares isola<strong>da</strong>s não são suficientes, além <strong>de</strong>las, énecessário propor ações formativas, pois, qual profissional estará apto paratrabalhar com essas novas propostas curriculares? Por outro, sabemos que só asações volta<strong>da</strong>s à formação profissional por si sós não garantem o espaçoinstitucional <strong>da</strong> aula <strong>de</strong> música. São necessárias, portanto, a formulação <strong>de</strong> políticasadministrativas que viabilizem a implementação <strong>de</strong> currículos, já que a novação eformação são pólos <strong>de</strong> uma mesma problemática. Daí, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estudosaprofun<strong>da</strong>dos que interpretem e analisem criticamente as experiências <strong>de</strong> diferentesescolas com a música e suas implicações institucionais. Para tanto: “em lugar <strong>da</strong>acomo<strong>da</strong>ção que leva a repetir sem crítica ou questionamentos os mo<strong>de</strong>lostradicionais <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> música, faz-se necessária a disposição <strong>de</strong> buscar eexperimentar alternativas, <strong>de</strong> modo consciente”. (PENNA, 1990, p. 17)É nesse sentido que uma concepção educacional crítica po<strong>de</strong>ria contribuirpara o processo <strong>de</strong> auto-reflexão <strong>da</strong> atual situação educacional:


27... elaboração <strong>de</strong> uma concepção educacional crítica que <strong>de</strong>nuncie tanto asdiscrepâncias entre a veraci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos conteúdos i<strong>de</strong>ológicos e as suas efetivasrealizações quanto elabora a sua autocrítica com o intuito <strong>de</strong> evitar a sedução <strong>de</strong> setransformar numa prática pe<strong>da</strong>gógica re<strong>de</strong>ntora <strong>de</strong> todos os problemaseducacionais. (ZUIN, 1999, p. 158)A proposta educacional, que se preten<strong>de</strong> emancipatória, tem como ponto <strong>de</strong>parti<strong>da</strong> a auto-reflexão e autocrítica do contexto social na qual está inseri<strong>da</strong>: apresença <strong>da</strong> Indústria Cultural e a conversão <strong>da</strong> formação em semiformação. A partir<strong>de</strong>sta reflexão, é possível caminhar para uma práxis pe<strong>da</strong>gógica transformadora,emancipatória, que seja a otimização <strong>da</strong> educação musical na educação infantil.


CAPÍTULO IIA EDUCAÇÃO MUSICAL NA ERA DA INDÚSTRIA CULTURALA satisfação compensatória que a indústriacultural oferece às pessoas ao <strong>de</strong>spertar nelasa sensação confortável <strong>de</strong> que o mundo estáem or<strong>de</strong>m, frustra-as na própria felici<strong>da</strong><strong>de</strong> queela ilusoriamente lhes propicia.(Adorno)Seria inválido pensar numa crítica à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> sem ter em vista o que se querpor em questão, <strong>de</strong> maneira que as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s a serem enfrenta<strong>da</strong>s numa proposta<strong>de</strong> emancipação <strong>de</strong>vem ser claras, para que, a partir <strong>de</strong>las, se organize umainiciativa váli<strong>da</strong> <strong>de</strong> ação.Se não quisermos aplicar a palavra “emancipação” num sentido meramente retórico,ele próprio tão vazio como o discurso dos compromissos que as outras senhoriasempunham frente à emancipação, então por certo é preciso começar a verefetivamente as enormes dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se opõem à emancipação nestaorganização <strong>de</strong> mundo. (ADORNO, 2000, p.181)No olhar para <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola, especificamente no âmbito <strong>da</strong> educaçãomusical, encontram-se enormes dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se opõem à educaçãoemancipatória, uma <strong>da</strong>s barreiras que ela tem enfrentado é a presença <strong>da</strong> IndústriaCultural 6 na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a influência <strong>da</strong> mídia no <strong>de</strong>senvolvimento humano,especificamente, na aprendizagem. A Indústria Cultural é totalmente contrária àformação emancipatória, pois, <strong>de</strong> acordo com Puterman (1994, p. 25), osfrankfurtianos “...acreditavam que a maior característica <strong>da</strong> indústria cultural era ofator <strong>de</strong> homogeneização <strong>da</strong>s populações quanto ao gosto artístico e à criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>”.Quando se reflete sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalistacontemporânea, o tipo <strong>de</strong> formação a qual os alunos têm sido submetidos, seja ela6 Os frankfurtianos fizeram um trabalho significativo <strong>de</strong> análise crítica à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalistacontemporânea. Trouxeram contribuições teóricas inigualáveis, críticas contun<strong>de</strong>ntes sobre osmecanismos <strong>de</strong> reprodução do capitalismo, entre eles sobre a Indústria Cultural, mesmo que nãotivessem apresentado elementos superadores ou alternativas resolutivas. Por outro lado, apresentamum profundo pessimismo, mesmo nas utopias, uma aversão à razão tecnológica, um <strong>de</strong>sgosto comrelação à cultura <strong>de</strong> massa.


29informal ou formal, com to<strong>da</strong> a influência <strong>da</strong> Indústria Cultural sobre essa formação,observamos uma semiformação.Toma-se, aqui, como ferramenta que auxilie na análise, as contribuiçõesteóricas e as críticas contun<strong>de</strong>ntes que fazem parte do trabalho significativo <strong>de</strong>análise crítica à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista contemporânea realizado pela Escola <strong>de</strong>Frankfurt 7 , com o qual se analisa o mecanismo <strong>de</strong> reprodução do capitalismo: aIndústria Cultural e conseqüentemente a conversão <strong>da</strong> formação em semiformação.Surgia em Frankfurt, no ano <strong>de</strong> 1924, um movimento que mais tar<strong>de</strong> seriaconhecido como “Escola <strong>de</strong> Frankfurt”. Essa <strong>da</strong>ta é marca<strong>da</strong> pela fun<strong>da</strong>ção doInstituto <strong>de</strong> Investigação Social, criado, a partir <strong>da</strong> organização <strong>da</strong> Primeira Semana<strong>de</strong> Trabalho Marxista, organiza<strong>da</strong> por Felix J. Weil.Após o regresso do Instituto à Alemanha, em 1950, com o fim do exílio dosseus intelectuais, <strong>de</strong>terminado pela violência do Nazismo e marcado pelaimpessoali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial massifica<strong>da</strong>, <strong>de</strong>senvolve-se a idéia <strong>de</strong> uma“Escola específica” e só então utiliza-se a expressão “Escola <strong>de</strong> Frankfurt” .O termo Escola <strong>de</strong> Frankfurt ou uma concepção <strong>de</strong> uma ‘teoria crítica’ sugerem umauni<strong>da</strong><strong>de</strong> temática e um consenso epistemológico teórico e político que raras vezesexistiu entre os representantes <strong>da</strong> Escola. O que caracteriza a sua atuação conjunta éa sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual e crítica, sua reflexão dialética, sua competênciadialógica ou aquilo que Habermas iria chamar <strong>de</strong> ‘discurso’, ou seja, o questionamentoradical dos pressupostos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> posição e teorização adota<strong>da</strong>. (FREITAG, 1990,p.34)7A <strong>de</strong>finição <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Frankfurt se dá tanto pelos temas <strong>de</strong> interesse dos estudos, quantoatravés <strong>da</strong>queles que a representam, seja pela a<strong>de</strong>são a uma plataforma teórica, a Teoria Crítica ecomplementos; ou i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica, o Instituto e suas <strong>de</strong>pendências; ou um projeto histórico epolítico. O primeiro a se <strong>de</strong>stacar foi Max Horkheimer, que como a maioria dos intelectuais <strong>da</strong> Escola,era ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong> origem, foi influenciado por Schopenhauer e Kant, pelos filósofos i<strong>de</strong>alistas <strong>da</strong> “filosofia<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>” como Nietzche, Dilthey e Bérgson, além <strong>de</strong> Marx. Junto a Horkheimer esteve TheodorWiesegrund Adorno(1903-1969) que vinha <strong>de</strong> um meio <strong>de</strong> musicistas e amantes <strong>de</strong> músicas, formadoem música pela Escola <strong>de</strong> Viena, se orientou para a estética musical, musicólogo, crítico literário, oqual tem a sua obra to<strong>da</strong> liga<strong>da</strong> à ciência social nos termos <strong>de</strong> uma filosofia <strong>da</strong> cultura, realiza emtermos absolutamente seus, uma radical crítica à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> massa. Leitor <strong>de</strong> Kant, Kierkegaard eHusserl, o qual o influenciou a recriar a psicologia enquanto ciência em outras bases que não aspositivistas. Sua preocupação se revela nos trabalhos “Filosofia <strong>da</strong> Nova Música” e “Introdução àSociologia <strong>da</strong> Nova Música” , além <strong>de</strong> outras obras. Entre outros pensadores, po<strong>de</strong>m ser citados,ain<strong>da</strong>, Herbert Marcuse que se cruzou com a Escola mas, ao mesmo tempo, manteve o seu projeto.Estudou Husserl e Hei<strong>de</strong>gger. Foi um dos expoentes <strong>da</strong> Nova Esquer<strong>da</strong> Americana. Morreu em 1978.A essa categoria, embora em mol<strong>de</strong>s muito diferentes, aparentar-se-ia também WalterBenjamin(1892-1940), implicado historicamente no projeto <strong>da</strong> Escola, ilustrando-a sem a ela a<strong>de</strong>rir. Ainfluência <strong>de</strong> Kant e Hegel na Teoria Crítica <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Frankfurt trouxe a importância <strong>da</strong>individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e fortalecimento os elementos <strong>da</strong> razão emancipatória.


30Po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r essa intensa inquietu<strong>de</strong> por se originar na “... crítica a umasocie<strong>da</strong><strong>de</strong> à qual não conseguem modificar e on<strong>de</strong> se vêem obrigados a viver, pelaimpossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construir outra, com seus confortos e sem suas escravidões.”(CHACON in ADORNO; AXELOS; BENJAMIN et al, 1970, p. 15)A Escola <strong>de</strong> Frankfurt é um acontecimento, um projeto científico, uma atitu<strong>de</strong>,uma corrente, um fenômeno i<strong>de</strong>ológico auto<strong>de</strong>nominado crítico, em que o objetivofoi tecer uma crítica ao pensamento sistemático, para tanto, utilizava-se <strong>de</strong> ensaios,artigos <strong>de</strong> circunstâncias e resenhas, que sugeriam uma idéia <strong>de</strong> algo inacabado eincompleto, portanto, aberto a sugestões e modificações nas linhas <strong>de</strong> pensamento,<strong>de</strong> forma que a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> teórica dos autores que compõem a Escola não permite<strong>de</strong>fini-la numa perspectiva <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> doutrinal. No entanto, torna-seconheci<strong>da</strong> por <strong>de</strong>senvolver uma “teoria crítica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”, que é um modo <strong>de</strong>fazer filosofia integrando os aspectos normativos <strong>da</strong> reflexão filosófica com asrealizações explicativas <strong>da</strong> sociologia, visto que o seu objetivo é fazer a crítica,buscando o entendimento e promovendo a transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.2.1 A INDÚSTRIA CULTURAL E A FORMAÇÃO DISSIMULADAPo<strong>de</strong>-se estabelecer relação entre formação humana e um “tornar-se pleno”?Com um caráter valorativo? Essa idéia vem permeando discursos na pe<strong>da</strong>gogiamo<strong>de</strong>rna, em que o formativo está ligado estritamente ao positivo, e que estaformação é equivalente à racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> e, mais ain<strong>da</strong>, à escolarização. Por exemplo,se o indivíduo freqüenta a escola, quer dizer que está sendo formado, ou ain<strong>da</strong>, seem <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> escola, há aulas <strong>de</strong> música, àqueles alunos está sendooportunizado um ensino <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e assim, também, com essas aulas, eles setornam críticos.Nesse discurso, não se admite a escola como <strong>de</strong>preciadora <strong>da</strong> formaçãohumana, ou seja, não se discute a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a escola, mesmo tendo “aulas <strong>de</strong>música”, não estar contribuindo para uma formação mais consciente, crítica eemancipatória, portanto, uma <strong>da</strong>s maiores preocupações é o fato <strong>de</strong> que assimcomo a escola, a música, po<strong>de</strong> assumir duas funções: a <strong>de</strong> reprodução e a <strong>de</strong>emancipação.Tendo em vista essa questão, faz-se necessário levantar elementos para


31discutir <strong>de</strong> que maneira é possível relacionar a música à emancipação humana.Dessa forma, com base na análise dos estudos críticos sobre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, abor<strong>da</strong>sea temática <strong>da</strong> formação humana pela educação musical.No artigo intitulado A Escola, este mundo estranho, RAMOS-DE-OLIVEIRAafirma que “Com tamanhos obstáculos, a escola acaba sendo se<strong>de</strong> reforçadora domal-pensar e <strong>da</strong> semicultura que impregnam o ar <strong>de</strong>sta socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que aindústria cultural inva<strong>de</strong> casas, praças e cérebros. Os hábitos do mal-pensar seconstroem em torno <strong>da</strong> alienação” (In: PUCCI, 1994, p. 134) no entanto, <strong>de</strong>seja-sepensar em uma escola que se preocupe com o presente e não somente com o futurodo estu<strong>da</strong>nte, pois o objetivo principal <strong>de</strong> se inserir a educação musical na escolanão é, essencialmente, formar gran<strong>de</strong>s instrumentistas ou músicos profissionais.Despertar nas crianças o prazer pela música, vivenciando momentos queproporcionem experiências musicais significativas é o que educadores musicaispo<strong>de</strong>m ter como principal objetivo <strong>de</strong> seu trabalho. É preciso preparar para o futurosim, admite-se que é na escola que se forma o aluno para a vi<strong>da</strong> adulta, para a vi<strong>da</strong>profissional, esta é a função mais evi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> escola, como analisa Souza (1995,p. 30)Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fun<strong>da</strong>mental afirmam que afunção social <strong>da</strong> escola fun<strong>da</strong>mental é a formação para o exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Partindo <strong>de</strong>ssa premissa, o documento <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que qualquer governo que preten<strong>da</strong>garantir <strong>de</strong> fato as liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocráticas, constituir bases sóli<strong>da</strong>s <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong>direito e corrigir distorções gritantes, tem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> universalizar o ensinobásico, público, gratuito, leigo e obrigatório para todos, especialmente para a gran<strong>de</strong>massa <strong>da</strong>s periferias urbanas e <strong>da</strong>s zonas rurais.Contudo, a escola <strong>de</strong>posita no futuro do estu<strong>da</strong>nte a esperança do bomresultado <strong>de</strong> seu trabalho: a aprovação no vestibular, a boa escolha profissional, umbom ci<strong>da</strong>dão; o ensino vai se tornando enfadonho em função do amanhã.Percebe-se que nesse emaranhado <strong>de</strong> idéias e bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong> conteúdos —muitas vezes <strong>de</strong>snecessários — em que a escola propõe aos alunos, transforma-osem apenas projetos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. É preciso pensar que as crianças são vi<strong>da</strong> e nãoapenas um plano <strong>de</strong>la, pois se a escola assumir apenas a função <strong>de</strong> formar o jovempara um futuro promissor, ela arrisca-se em se tornar um fardo pesado a sercarregado, para que se alcance o objetivo <strong>de</strong>sejado.


32Esse tempo po<strong>de</strong>ria ser aproveitado pela escola <strong>de</strong> tal forma que o alunopu<strong>de</strong>sse viver intensamente o presente: “Daí <strong>de</strong>corre a outra função <strong>da</strong> escola,representa para mim uma <strong>da</strong>s vias essenciais para a sua renovação [...] é precisoque a escola tenha por tarefa vivificar o presente <strong>de</strong>sses jovens, e fortalecê-losneste presente”. (SNYDERS, 1999, p. 13)Dessa forma, assim como a escola, a educação musical admite suas funções,cita<strong>da</strong>s anteriormente, em outras palavras: formar para o futuro vivificando opresente.Inserir a educação musical na escola é proporcionar aos alunos mais umaexperiência formativa, a qual <strong>de</strong>ve objetivar o enriquecimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> presente dosalunos para, então, formar adultos felizes. Assim, ain<strong>da</strong> que muitos dos alunos nãose tornem cantores ou músicos profissionais, uma educação nas artes po<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r atodos a realizarem seus sonhos. Tratando-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver as habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s maisgerais <strong>da</strong>s crianças, e principalmente a <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e a <strong>de</strong> imaginar, as artes <strong>de</strong>vemser tão importantes na educação dos alunos quanto as disciplinas mais básicas.E, quanto à prática pe<strong>da</strong>gógica do professor para que a educação possa seruma experiência formativa para o tempo presente e para o porvir, ela <strong>de</strong>ve propiciaruma alegria que seja vivi<strong>da</strong> no presente, na qual os esforços dos alunos não setornem em amarguras, mas que eles sejam estimulados e recompensados a ca<strong>da</strong>dia. “A arte incorpora algo como liber<strong>da</strong><strong>de</strong> no seio <strong>da</strong> não liber<strong>da</strong><strong>de</strong> [...] Eis suaalegria e também, sem dúvi<strong>da</strong>, sua serie<strong>da</strong><strong>de</strong> ao modificar a consciência existente”.(ADORNO, 2001, p. 11). Dessa forma, ca<strong>da</strong> aula se torna um prazer, ca<strong>da</strong> conquistauma vitória e ca<strong>da</strong> novo aprendizado um momento <strong>de</strong> alegria.Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar o fato <strong>de</strong> que o educador musical está inserido noambiente capitalista, no qual nem mesmo as artes estão alheias às influências <strong>da</strong>indústria cultural, a formação por meio <strong>da</strong>s artes, inclusive <strong>da</strong> música tem sidodissimula<strong>da</strong>, pois, as artes estão sendo submeti<strong>da</strong>s a uma nova servidão: as regrasdo mercado capitalista e a i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> indústria cultural, basea<strong>da</strong> na idéia e naprática do consumo <strong>de</strong> “produtos culturais” fabricados em série.Cantores e ban<strong>da</strong>s têm o objetivo <strong>de</strong> produzir música para ven<strong>de</strong>r, são asrelações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e saber que se manifestam nesta cultura e o que antes era usadopara expressão diferencia<strong>da</strong>, agora, aten<strong>de</strong> às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong> um padrão musical


33medíocre, incluindo-se numa homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> massiva. As pessoas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> <strong>da</strong>rvalor ao diferente, à música <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, à criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e acabam preferindo oproduto musical, típico <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, que incita aos discursos sobre o sexo eproduz as condições <strong>de</strong> disciplinarização padroniza<strong>da</strong> dos corpos que se agitam sobos mesmos sons e ritmos. É a industrialização <strong>da</strong> própria arte, a culturaconvertendo-se em semicultura, a formação convertendo-se em semiformação. E,nesse ambiente <strong>de</strong> reprodução, no qual a escola também participa, a educaçãomusical se torna dissimula<strong>da</strong> pela indústria cultural.A teoria crítica <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Frankfurt se tornou muito conheci<strong>da</strong> pela suacrítica à cultura <strong>de</strong> massa. O termo indústria cultural foi originalmente formulado porAdorno e Horkheimer na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30, momento em que ambos estavam muitoimpressionados com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s indústrias fonográfica e do cinema.Esse conceito foi fortemente assimilado por críticos <strong>da</strong>s ciências sociais e <strong>da</strong>comunicação.A industrialização vivencia<strong>da</strong> por Adorno e Horkheimer, introduzia-se tambémnas artes, com a invenção do fonógrafo e do cinematógrafo, “...foi, portanto, autilização <strong>de</strong> meios mecânicos para multiplicar as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> audição <strong>de</strong> umconcerto que lhe sugeriu a utilização do termo ‘indústria cultural’ “. (PUTERMAN,1994, p. 10)Algumas <strong>da</strong>s principais idéias <strong>de</strong>ssa crítica estão liga<strong>da</strong>s à música, elas estãoinseri<strong>da</strong>s numa análise mais ampla <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> produção e reprodução, inerenteàs classes na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s massas que foi, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, objeto do Instituto.Definição, esta, apresenta<strong>da</strong> por Freitag (1990, p. 71)Ao mesmo tempo que a obra <strong>de</strong> arte e a cultura em geral se fechavam ao consumo<strong>da</strong> classe trabalhadora, por serem consi<strong>de</strong>rados bens <strong>de</strong> consumo reservados a umaelite, representavam em sua própria estrutura um protesto contra a injustiça, masesta só po<strong>de</strong>ria ser supera<strong>da</strong> no futuro. (...) Os bens culturais, concretizados emobras literárias, sistemas filosóficos e obras <strong>de</strong> arte são <strong>de</strong>rrubados dos seuspe<strong>de</strong>stais, <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser bens <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> luxo, <strong>de</strong>stinados a uma eliteburguesa, para se converterem em bens <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> massa (...) o que éviabilizado pela revolução tecnológica-industrial, que permitiu promover a reproduçãoem série <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> arte ou <strong>da</strong> sua cópia (...) transforma a cultura <strong>de</strong> elite em cultura<strong>de</strong> massa.


34Acontece uma falsa <strong>de</strong>mocratização, on<strong>de</strong> a obra <strong>de</strong> arte se torna mercadoriado sistema capitalista. Assim, uma falsa reconciliação entre cultura e civilizaçãotransforma o produto cultural, que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser apenas cultura e passa a ter um valor<strong>de</strong> troca, o qual se <strong>de</strong>nomina indústria cultural a falsa reconciliação entre produçãomaterial e i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> bens.Dessa forma a indústria cultural po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como a cultura produzi<strong>da</strong>para o consumo <strong>de</strong> massa, aten<strong>de</strong>ndo às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> troca e <strong>de</strong> valor<strong>de</strong> uso, em que o produto cultural <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter caráter único para ser um bem <strong>de</strong>consumo coletivo, avaliado segundo sua aceitação e lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esse processo éca<strong>da</strong> vez mais aprimorado pelas condições mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> produção, que com oauxílio <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> técnica, facilitam a reprodução e disseminação dos produtos,consoli<strong>da</strong>ndo e perpetuando a produção capitalista, <strong>de</strong> tal forma que essa passa aser fun<strong>da</strong>mental para a sobrevivência do sistema.Essa nova produção cultural tem função <strong>de</strong> lazer, ocupando o tempo livre dotrabalhador <strong>de</strong> forma que ele não reflita sobre sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, eliminando a dimensãocrítica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na escola, a música – massifica<strong>da</strong> – posiciona-se em lugarprivilegiado, nas festas, comemorações, apresentações, na <strong>da</strong>nça, nos corais, nasban<strong>da</strong>s, nos teatros, criando uma ilusão <strong>de</strong> que a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> é algo presente,incentivando o consumo ca<strong>da</strong> vez mais intenso, o qual traz a falsa sensação <strong>de</strong>realização social.A supervalorização <strong>da</strong> dimensão instrumental <strong>da</strong> razão significa a negação <strong>de</strong>uma dimensão emancipatória que também aparece sob a forma <strong>de</strong> negação <strong>da</strong> arte.A arte significativa para a transformação social e política seria aquela não-repetitiva,caracteriza<strong>da</strong> pela dimensão do novo, que preserva o que lhe é próprio e se afastado controle racional. Contudo a arte, assim como a educação, os meios <strong>de</strong>comunicação, o não trabalho, passa pelo filtro <strong>da</strong> Indústria Cultural que é umamanifestação exemplar <strong>da</strong> Razão Instrumental.... a Indústria Cultural cumpre perfeitamente duas funções particularmente úteis aocapital: reproduz a i<strong>de</strong>ologia dominante ao ocupar continuamente com suaprogramação o espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e <strong>de</strong> lazer do trabalhador; ven<strong>de</strong>-lhe osprodutos culturais <strong>da</strong> mesma maneira que lhe ven<strong>de</strong> os bens <strong>de</strong> consumo. (PUCCI,1994, p.27)


35Para os frankfurtianos, a vi<strong>da</strong>, como a industrialização, passa a serpadroniza<strong>da</strong>, isto é, to<strong>da</strong>s as coisas parecem ser semelhantes, como conseqüência,o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> crítica e <strong>de</strong> opção se esvai, restando apenas a a<strong>da</strong>ptação aos esquemas<strong>de</strong> dominação progressiva, contribuindo para a reiteração do sistema vigente.A Indústria cultural é exploração, que por sua vez é alienante, pois oshomens transferem ca<strong>da</strong> vez mais para o futuro seus <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong> erealização, na medi<strong>da</strong> em que se ajustam às formas <strong>de</strong>sumanas <strong>de</strong> organização <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Assim, por um pensar crítico sobre a Indústria Cultural, esta é i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>como forma <strong>de</strong> manipulação <strong>da</strong>s consciências, já que se utiliza <strong>da</strong> própria culturapara se estabelecer. Com essa transformação <strong>da</strong> cultura em semicultura, restampoucas maneiras <strong>de</strong> se realizar uma auto-reflexão crítica, uma <strong>de</strong>las seria a estéticae, mais especificamente, a música, que segundo Adorno, preserva a utopia <strong>de</strong> ummundo melhor.Percebe-se, nos trabalhos <strong>de</strong> Adorno, principalmente, que em certo momento,há uma passagem <strong>de</strong> uma análise mais sociológica para uma análise mais liga<strong>da</strong> àestética. Esse autor é o principal responsável pelo surgimento <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> TeoriaEstética, que para ele é uma teorização crítica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma única formaconsistente <strong>de</strong> negar e criticar as condições materiais e sociais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social.Adorno em seu ensaio sobre a regressão auditiva (ADORNO, 1989) afirmaque a música está sujeita a transformação em mercadoria, principalmente, a músicaconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> leve, contudo, ressalta que certas músicas eruditas (cita ado<strong>de</strong>cafônica) não são tão acessíveis às massas, assim se preservam fora <strong>da</strong>indústria cultural, suas formas não se prestam a reprodução e ao consumo.A teoria estética interpreta, <strong>de</strong>cifra a representação musical, revelando osseus elementos críticos contestadores, o que permite uma análise e uma crítica <strong>da</strong>sformas materiais <strong>de</strong> organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como afirma Freitag “O fato <strong>de</strong> quea arte não reifica<strong>da</strong> se fecha a to<strong>da</strong> e qualquer conceituação é a garantia <strong>de</strong> suaconservação como forma <strong>de</strong> representar criticamente a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> aliena<strong>da</strong>”. (1990,p. 83)


36A tecnificação do mundo e a reprodutivi<strong>da</strong><strong>de</strong> técnica, resultam na per<strong>da</strong> <strong>da</strong>aura na obra <strong>de</strong> arte, que é massifica<strong>da</strong> em consumo <strong>de</strong> bens artísticos. Isso tudo éresultado <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> burguesa no século XIX e XX.Para Adorno, quando a obra <strong>de</strong> arte per<strong>de</strong> sua aura, acontece o<strong>de</strong>svirtuamento <strong>da</strong> obra, a dissolução na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> banal e a <strong>de</strong>spolitização do seu<strong>de</strong>stinatário. Adorno, Marcuse, Horkheimer e Benjamin concor<strong>da</strong>m ao atribuir àcultura, e à obra <strong>de</strong> arte em especial, uma dupla função:... a <strong>de</strong> representar e consoli<strong>da</strong>r a or<strong>de</strong>m existente e ao mesmo tempo a <strong>de</strong> criticá-la,<strong>de</strong>nunciá-la como imperfeita e contraditória. (...) ela critica o presente e remete ofuturo. A dimensão conservadora e emancipatória <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> arteencontram-se, pois, <strong>de</strong> mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s. (FREITAG, 1990, p. 77)Assim, a teoria estética assume a posição <strong>de</strong> her<strong>de</strong>ira <strong>da</strong> teoria crítica, sendouma forma <strong>de</strong> opor-se ao presente instituído, pois por meio <strong>de</strong>la, segundo Adorno, épossível evitar a unidimensionalização <strong>da</strong> arte, situa<strong>da</strong> diante <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> emque suas relações suplicam pela reprodução do sempre idêntico, a mesmicecaminha <strong>de</strong> mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s com o conformismo. Mas, isso não significa que tenha queser sempre assim, a educação, que não se limita à esfera formal, mas está presentetambém em to<strong>da</strong>s as outras relações sociais que necessitam <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong>processo <strong>de</strong> aprendizagem, tem em si um importante papel para aceitação <strong>de</strong> umestado <strong>de</strong> coisas contraditório em si mesmo.2.2 A CONVERSÃO DA FORMAÇÃO EM SEMIFORMAÇÃOAs críticas realiza<strong>da</strong>s pelos frankfurtianos caracterizam-se por refletir assituações pelas quais eles haviam passado: a construção <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia e o temordo retorno à barbárie fascista. Esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é analisa<strong>da</strong> por Adorno 8 que critica opresente, buscando transformações possíveis na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista.Insere-se nesta análise a falsificação do sonho <strong>de</strong> formação cultural pelocrescimento <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> semicultura e pelo caráter <strong>de</strong> fetiche <strong>da</strong> mercadoria, quesurgem juntamente com a Razão Instrumental e a Indústria Cultural.8Adorno expressa sua indignação em entrevista concedi<strong>da</strong> à Rádio do Estado <strong>de</strong> Hessen, na série“Questões educacionais <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>” e intitula<strong>da</strong> Educação contra a Barbárie. ADORNO, T. W.;Educação e Emancipação. 2 ed. Trad: W. L. Maar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 2000.


37A Teoria Crítica passa por um momento <strong>de</strong> negação, a antítese hegeliana. Afilosofia <strong>de</strong> Hegel é <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> como filosofia negativa. E a Teoria Crítica her<strong>da</strong> essafilosofia alemã.Ca<strong>da</strong> coisa para ser o que é, <strong>de</strong>ve vir a ser o que não é. Essa ânsia <strong>de</strong> buscar aver<strong>da</strong><strong>de</strong> além dos fatos, <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar os totalitarismos, estejam eles on<strong>de</strong> estiverem,<strong>de</strong> clarificar as trevas <strong>da</strong> ignorância, <strong>da</strong> barbárie, do fetiche, <strong>da</strong> manipulaçãoi<strong>de</strong>ológica, <strong>de</strong> questionar tudo aquilo que ofusca o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> consciência, o espaço <strong>da</strong>liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, a afirmação <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> autonomia do homem, faz parte docoração e do cérebro <strong>da</strong> Teoria Crítica. (PUCCI, 1994, p. 30)O pensamento crítico significa um processo histórico concreto e não somentelógico, essa dialética aparece bem clara nos textos <strong>de</strong> Adorno: em Indústriacultural: o esclarecimento como mistificação <strong>da</strong>s massas 9 , a análise <strong>da</strong>instrumentalização <strong>da</strong> cultura na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista monopolista manifestaexaustivamente a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> crítica <strong>da</strong> dialética. Em Teoria <strong>da</strong> semicultura 10 , Adornoaponta a transformação <strong>da</strong> formação cultural em semiformação, o que seria umapseudoformação, resultante <strong>da</strong> popularização <strong>da</strong> cultura, uma aparente<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> cultura, portanto uma socialização <strong>de</strong>formativa, quando a razãoper<strong>de</strong> seu potencial crítico, a consciência retroce<strong>de</strong>, tudo se assemelha. A indústriaCultural atrofia o po<strong>de</strong>r crítico <strong>da</strong> arte, ele só persiste nas obras que se esforçampara atingir autonomia frente à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> atual, efetivando, assim, o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>permitir que seja <strong>de</strong>svelado o que é ocultado pela i<strong>de</strong>ologia.Quando a formação cultural é falsea<strong>da</strong>, o que historicamente se concretizounos trabalhadores, por terem sua liber<strong>da</strong><strong>de</strong> limita<strong>da</strong> pela classe dominante, aconsciência e a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> são atrofia<strong>da</strong>s, o que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> semiformaçãocultural, entretanto, graças à consciência <strong>de</strong> classe e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional,alguns grupos não se envolvem com a semicultura, expressando resistência e<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> superação <strong>da</strong> opressão.Semiformação e semicultura são conceitos adornianos para <strong>de</strong>finir umareali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivencia<strong>da</strong> ou mesmo observa<strong>da</strong> por ele e <strong>da</strong> mesma forma vivencia<strong>da</strong>nos dias hodiernos. Esses conceitos nomeiam o homem contemporâneo, impedido<strong>de</strong> ter experiência e, portanto, <strong>de</strong>sprovido <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir sobre osignificado do processo <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> sua situação diante dos outros, con<strong>de</strong>nado9ADORNO, T.W; HORKHEIMER, M. 198610ADORNO.T.W. 1996


38à mera vivência por força <strong>da</strong> lógica social, ele não po<strong>de</strong> lograr conquistar aemancipação. Prejudicado em sua formação, impossibilitado <strong>de</strong> completá-la, vistoque o chão social que a tornava viável <strong>de</strong>sapareceu, ele torna-se semi-indivíduo, istoé, um indivíduo <strong>da</strong>nificado a quem, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista oferece um tipo <strong>de</strong> cultura- a semicultura - <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a diverti-lo e a entretê-lo, que o empurra para oesquecimento histórico e para o conformismo.O ensino, que está sempre em transformação, precisa favorecer a formaçãodo indivíduo esclarecido, contudo, a educação brasileira em geral, e aqui se ressaltaa educação musical, tem se caracterizado por sua superficiali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A semiformaçãocultural i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> nos anos quarenta por Adorno, em um contexto diferente do quese encontra a escola hoje, faz-se presente <strong>de</strong> maneira similar, tanto nas aca<strong>de</strong>mias,nos conservatórios <strong>de</strong> música, quanto na escola regular, a educação musicalapresenta-se aquém <strong>da</strong> formação crítica e esclarecedora.A superficiali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação musical está na dinâmica que se estabeleceno processo educativo e na postura pe<strong>da</strong>gógica, diante <strong>da</strong> música produto <strong>da</strong>Indústria Cultural. Assim, o <strong>de</strong>scaso é o principal responsável <strong>da</strong> falsa formação,pois a falta <strong>de</strong> experiência do aluno o torna incapaz <strong>de</strong> refletir.Essa falta <strong>de</strong> experiência musical, po<strong>de</strong> ser analisa<strong>da</strong> como carência <strong>de</strong> umrepertório musical mais abrangente ou também, pela lacuna entre aquilo que seouve pelos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa e aquilo que se apren<strong>de</strong> musicalmente.Vale dizer que, na experiência musical, <strong>de</strong>ve estar presente a reflexão, o olharcrítico, pois a vivência musical <strong>de</strong> quem apenas ouve a música, produto <strong>da</strong> IndústriaCultural, sem ter contato com diferentes estilos e diferentes compositores musicais,gera uma falsa formação, ou ain<strong>da</strong> uma semiformação, já que, a audição musicalestá limita<strong>da</strong> a uma semicultura que exclui qualquer tipo <strong>de</strong> esclarecimento ouformação crítica. Contudo, essa semiformação também po<strong>de</strong> ocorrer com oindivíduo que, ain<strong>da</strong> que tenha contado com um repertório musical mais amplo, faltelhea capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> crítica para analisar o que ouve.Isso tudo po<strong>de</strong> ser entendido por meio <strong>de</strong> dois exemplos distintos: um aluno<strong>de</strong> escola regular on<strong>de</strong> não se tem aula <strong>de</strong> música e o repertório musical ouvido porele tanto em casa, quanto na escola, correspon<strong>de</strong> aos anseios <strong>da</strong> Indústria Cultural,transformando seu gosto e sua audição musical limita<strong>da</strong> pela falta <strong>de</strong> experiência


39diferencia<strong>da</strong>; e um aluno <strong>de</strong> piano <strong>de</strong> um conservatório tradicional <strong>de</strong> música, queestu<strong>da</strong> compositores clássicos e eruditos, em um repertório que varia entre Bach eVilla-Lobos. Contudo sua educação musical num currículo extremamente fechado,não possibilita que ele saiba analisar outros estilos musicais, inclusive a músicaouvi<strong>da</strong> por ele mesmo pelo rádio e pela televisão.Dessa maneira, o que <strong>de</strong>terminará a presença <strong>da</strong> formação ou <strong>da</strong>semiformação é a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> crítica <strong>da</strong> experiência musical proporciona<strong>da</strong> aoindivíduo. No entanto, a educação musical na era <strong>da</strong> Indústria Cultural, tem secaracterizado como reprodutiva por seus objetivos equivocados, um <strong>de</strong>les é arealização <strong>de</strong> uma educação imediatista.Adorno afirma que o plano <strong>da</strong> experiência <strong>de</strong> qualquer aprendizado <strong>de</strong>veestar situado na combinação entre a preparação imediata e o horizonte <strong>de</strong>orientação. Segundo ele, quando se admite um certo equilíbrio entre aquilo que seapren<strong>de</strong> no momento e sua utilização futura, há esclarecimento.Vários são os exemplos que po<strong>de</strong>m ser citados <strong>de</strong> ambientes educacionaisem que esse equilíbrio é <strong>de</strong>terminante, como os cursos profissionalizantes, oscursinhos pré-vestibulares, entre outros. No entanto, no plano <strong>da</strong> experiência, aquitido como i<strong>de</strong>al para o aprendizado esclarecedor, encontram-se todos os ambientese momentos educacionais, é nestes que se encontra uma <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>senfrenta<strong>da</strong> pelos professores, mas exerci<strong>da</strong> pela maioria <strong>de</strong>les: a ênfase noresultado.Na educação musical, pais e alunos querem perceber o resultado doaprendizado <strong>de</strong> forma instantânea: o aluno, já na primeira aula, <strong>de</strong>seja tocar certamúsica (que normalmente não condiz com o nível <strong>de</strong> aprendizado em que está); ospais mostram expectativas referentes aos filhos tocarem melodias com fluência, oque se quer, portanto, é o resultado imediato, certamente, agem assim por nãocompreen<strong>de</strong>r como se dá o processo <strong>de</strong> aprendizagem.Infelizmente, os professores, para respon<strong>de</strong>r a essa exigência, a<strong>da</strong>ptam-se aela buscando métodos que dêem resultados mais rápidos. Po<strong>de</strong>-se citar os métodos<strong>de</strong> aprendizagem rápi<strong>da</strong>, como os que são intensamente aplicados no ensino <strong>de</strong>teclado. Sabe-se que a invenção dos instrumentos eletrônicos revolucionou amúsica e o seu ensino, o teclado tornou-se um instrumento musical <strong>de</strong> fácil acesso


40e, <strong>de</strong> forma massiva, tem conquistado espaço nos ambientes familiares e escolares.A ampla oferta <strong>de</strong> recursos eletrônicos, sons e ritmos, possibilita um aprendizadomais rápido, contudo superficial. É claro que esta não é a única possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seapren<strong>de</strong>r a tocar o instrumento, no entanto, tem sido a mais utiliza<strong>da</strong>: o aluno recebeum treinamento básico para ‘manusear’ o instrumento, o que resulta em um trabalhoestritamente mecânico, <strong>de</strong> forma que o uso <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> é substituído pelo uso <strong>da</strong>representação, resultando em uma formação reprodutiva, uma semiformação.Nesse processo <strong>de</strong> ensino os objetivos reais <strong>da</strong> educação musical sãosubstituídos por objetivos equivocados, infelizmente, a pressa <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong>resultados claros, impe<strong>de</strong> que a aprendizagem musical cumpra sua vocação:...a aprendizagem musical contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, psicomotor,emocional e afetivo e, principalmente, para a construção <strong>de</strong> valores pessoais esociais <strong>de</strong> crianças e jovens. O papel <strong>da</strong> educação musical nas escolas é o <strong>de</strong>expandir o universo musical dos alunos, oferecendo a eles o acesso à diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>práticas e <strong>de</strong> manifestações musicais locais, regionais e multiculturais e aoportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, se <strong>de</strong>sejarem, <strong>de</strong> seguir a carreira profissional em música.(HENTSCHKE, 2004, p 24)Insere-se nesta discussão outro problema que vem assolando o ensino: aindústria <strong>de</strong> materiais didáticos, como as apostilas, os livros e as revistas que sãoelaborados em gran<strong>de</strong> escala, visando a gran<strong>de</strong> massa e que homogeneizam oensino, pois reproduzem sem renovação as mesmas músicas, as mesmasativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. É a razão iluminista presente na burguesia que se repete, a valorização<strong>da</strong> dimensão instrumental, em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong> emancipatória. Transformando opensamento em ferramenta a serviço do progresso, esta razão instrumentalcaracteriza-se pela técnica, pelo saber fazer, seu objetivo é a reprodução amplia<strong>da</strong>que gere capital, para isso, o homem <strong>de</strong>ve dominar a natureza e então por meio <strong>de</strong>ladominar o próprio homem.Observou-se, na análise do processo <strong>de</strong> conversão <strong>da</strong> formação em semiformação,quais foram as conseqüências <strong>da</strong> instrumentalização <strong>da</strong> razão na forma <strong>da</strong> ciênciado capitalismo transnacional. Ao invés <strong>de</strong> sermos apenas tutelados pelas or<strong>de</strong>nsadvin<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s instituições religiosas, atualmente, submetemo-nos mais do que nuncaaos comandos dos produtos semiculturais, veiculados pela pseudo<strong>de</strong>mocratização<strong>da</strong> produção simbólica. (ZUIN, 1999, p. 119)


41A dimensão instrumental <strong>da</strong> razão em sua supervalorização gera a negação<strong>de</strong> uma dimensão emancipatória. A arte, assim como a educação, os meios <strong>de</strong>comunicação, passa pelo filtro <strong>da</strong> Indústria Cultural que é uma manifestaçãoexemplar <strong>da</strong> razão instrumental. A arte repetitiva é caracteriza<strong>da</strong> pela dimensão dosempre idêntico e per<strong>de</strong> sua função emancipatória, per<strong>de</strong>ndo também suasignificação para a transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A vi<strong>da</strong> torna-se padroniza<strong>da</strong>, gerao homem unidimensional, to<strong>da</strong>s as coisas parecem ser semelhantes, comoconseqüência o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> crítica e <strong>de</strong> opção se esvai.O que resta é a a<strong>da</strong>ptação aos esquemas <strong>de</strong> dominação progressiva,contribuindo para a reiteração do sistema vigente, no qual <strong>da</strong> relação entre teoria eprática não se faz uma integrali<strong>da</strong><strong>de</strong>. De um lado, a centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> na teoria e afrustração <strong>da</strong> prática aliena<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, por outro a prática pela prática semembasamento teórico e então a frustração <strong>da</strong> superficiali<strong>da</strong><strong>de</strong> na falta <strong>de</strong>fun<strong>da</strong>mento.Adorno chama atenção à importância <strong>da</strong> teoria e <strong>da</strong> prática estaremarticula<strong>da</strong>s, no entanto, ressalta que ambas precisam ser autônomas, sem que hajauma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>terminista, para que se concretize uma política emancipatória.Nessa ligação, entre a Teoria Crítica e emancipação, é que se re<strong>de</strong>fine o conceito<strong>de</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> como um pensar crítico que une a teoria e a ação.Se a prática fosse o critério <strong>da</strong> teoria, se transformaria, por amor ao themaprobandum, no embuste <strong>de</strong>nunciado por Marx e portanto, não po<strong>de</strong>ria alcançar oque preten<strong>de</strong>; se a prática se orientasse simplesmente pelas indicações <strong>da</strong> teoria, seendureceria doutrinariamente e, além disso, falsificaria a teoria (ADORNO,1992, p.89)Não são somente as crianças e os jovens <strong>da</strong>s classes menos favoreci<strong>da</strong>s queenfrentam o fracasso em sua educação musical, pois a Indústria Cultural teminfluenciado a todos, tanto aos mais favorecidos quanto aos menos.Na retrospectiva histórica já realiza<strong>da</strong>, percebe-se a questão <strong>da</strong> elitização doconhecimento musical como uma prática muito antiga e que vem se sustentando atéhoje, paralelamente à elitização <strong>de</strong> qualquer outro conhecimento, surgesimultaneamente com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> classes.


42As dimensões dos prejuízos <strong>de</strong> haver uma elitização do conhecimento sãoimpossíveis <strong>de</strong> serem medi<strong>da</strong>s quando não há acesso <strong>de</strong>mocrático ao aprendizado,to<strong>da</strong> discussão sobre educação ganha uma proporção muito maior.O acesso à educação musical mais aprimora<strong>da</strong> no Brasil, se encontra emambientes muito restritos, nos quais têm entra<strong>da</strong> as crianças e jovens <strong>da</strong>s classesmais privilegia<strong>da</strong>s, uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> gritante neste país. É ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, que há o ensinomusical que se faz presente nos conservatórios e aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> música, com customuito alto e que permite somente o acesso <strong>da</strong>s classes mais favoreci<strong>da</strong>s, contudo,esse acesso nem sempre significa quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esse ensino <strong>da</strong>s escolasespecializa<strong>da</strong>s parece estar alheio à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> criança e do jovem, emboraacredita-se que apren<strong>de</strong>r elementos e técnicas <strong>de</strong> música que, historicamente,constituíram-se por uma parcela elitista <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, tem o seu valor, há que selevar o aluno a conhecer e <strong>de</strong>scobrir outros conteúdos, estilos e gêneros musicais,ampliar seus horizontes, a fim <strong>de</strong> que possa ser crítico em relação às músicasveicula<strong>da</strong>s pela mídia.Atualmente, apesar <strong>de</strong> a música estar presente na escola, seja nas festas,nas comemorações, ou na sala <strong>de</strong> aula, ela tem respondido aos interesseseconômicos <strong>da</strong> indústria fonográfica - semicultura - reproduzindo mo<strong>de</strong>los,padronizando a audição e o gosto musical, impossibilitando os alunos a apren<strong>de</strong>r,“... a fissura entre o conteúdo emancipatório <strong>da</strong> cultura e sua ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira realização éimanente às próprias contradições do capitalismo.” (ZUIN, 1999, p. 57)A produção cultural, <strong>de</strong>ntro e fora <strong>da</strong> escola, converteu-se em mercadoriacomo outra qualquer, seu caráter <strong>de</strong> valor subordina seu caráter <strong>de</strong> uso,estabelecendo as bases para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> semiformação. Como afirmaZuin, 1999, p. 56:As aspirações máximas <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais humana e que estão resguar<strong>da</strong><strong>da</strong>sna imanência <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> arte são converti<strong>da</strong>s em mera mercadoria, objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejoque tem a função essencial <strong>de</strong> permitir, mediante a sua posse, a distinção dos quese julgam superiores em comparação à plebe e a afirmação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>doentia tanto no plano particular, quanto no coletivo.Marcuse aponta para o duplo caráter <strong>da</strong> cultura que contém <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si,tanto a afirmação <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> exploração social, quanto a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>


43reapropriação <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> razão, em uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> não tão<strong>de</strong>ssensibiliza<strong>da</strong> e irracional:O verso torna possível o que já se tornou impossível na prosa <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (...) Aliber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> alma foi utiliza<strong>da</strong> para <strong>de</strong>sculpar miséria, martírio e servidão. Ela serviupara submeter i<strong>de</strong>ologicamente a existência à economia do capitalismo. Porém,apreendi<strong>da</strong> corretamente, a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> alma não aponta para a participação dohomem num além eterno, on<strong>de</strong> por fim tudo se resolve quando o indivíduo já nãousufrui <strong>de</strong> na<strong>da</strong>. Ao contrário, ela pressupõe aquela ver<strong>da</strong><strong>de</strong> superior segundo a qualnesse mundo é possível uma forma <strong>de</strong> existência social em que a economia não<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> acerca <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> dos indivíduos. O homem não vive apenas <strong>de</strong> pão: umaver<strong>da</strong><strong>de</strong> como essa não esgota pela falsa interpretação <strong>de</strong> que o alimento espiritualé um substituto suficiente para a falta <strong>de</strong> pão. (MARCUSE, 1997, p. 108)Nota-se a importância <strong>da</strong><strong>da</strong> por Marcuse para a transformação radical nasrelações <strong>de</strong> produção, que possibilitariam a construção <strong>de</strong> uma educação queefetivasse a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira formação. Sabe-se que não há como absolutizar a arte <strong>de</strong>maneira tal, a ponto <strong>de</strong> ser totalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s relações econômicas, noentanto, ela nunca se esquiva <strong>de</strong> ser o ápice representativo <strong>da</strong> objetivação <strong>da</strong>formação.A obra <strong>de</strong> arte expressa inconformismo e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> emancipação emrelação à barbárie <strong>da</strong> práxis social em tempos <strong>de</strong> indústria cultural. Acredita-se queas transformações necessárias para tal emancipação <strong>de</strong>vam ocorrer no âmbitoeducativo, pois nas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> reapropriação <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> razão quea educação musical representa a objetivação <strong>da</strong> formação emancipatória para aconcretização <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais sensível e racional, na qual seja realmentepossível uma forma <strong>de</strong> existência social, em que a economia não <strong>de</strong>ci<strong>da</strong> acerca <strong>de</strong>to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> dos indivíduos.A educação musical na era <strong>da</strong> Indústria Cultural, está atrela<strong>da</strong> à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> que uma concepção educacional crítica seja assumi<strong>da</strong> pelos educadoresmusicais. É possível repensar a prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> na educaçãomusical na escola, a partir <strong>da</strong>s análises já <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s sobre a atual situação emque se encontra.O educador musical, em tempos <strong>de</strong> mercantili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> arte, admite umafunção <strong>de</strong>terminante na formação <strong>da</strong>s crianças: na sensibilização, na formaçãocrítica, na prática <strong>da</strong> auto-reflexão, no esclarecimento, na emancipação.


44Partindo, portanto, <strong>da</strong> compreensão inicial <strong>da</strong> trajetória conflituosa pela qual aeducação musical passou – e tem passado –, no Brasil, e <strong>da</strong> crítica sobre ainfluência <strong>da</strong> Indústria Cultural na Educação Musical, sua dissimulação e aconversão <strong>da</strong> formação em semiformação, propõe-se um repensar sobre a práxispe<strong>da</strong>gógica do educador musical na educação infantil para a emancipação.


CAPÍTULO IIIO EDUCADOR MUSICAL E A PRÁXIS EMANCIPATÓRIAO problema propriamente dito <strong>da</strong> emancipaçãohoje é se e como a gente – e quem é “a gente”,eis uma questão a mais – po<strong>de</strong> enfrentá-lo.(Adorno)O trabalho docente na educação musical é um dos fatores <strong>de</strong>terminantes naformação <strong>da</strong> audição musical, po<strong>de</strong>ndo se caracterizar como formação reprodutivaou emancipatória.Questiona-se a formação do professor para atuar na prática <strong>da</strong> educaçãomusical escolar, principalmente na Educação Infantil, quando se preten<strong>de</strong> aeducação musical <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> na escola, mais ain<strong>da</strong>, quando se <strong>de</strong>seja que aescola eduque musicalmente, pois, a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> música na EducaçãoInfantil,... não é tanto transmitir a técnica particular, mas sim <strong>de</strong>senvolver no aluno o gostopela música e a aptidão para captar a linguagem musical e expressar-se através<strong>de</strong>la, além <strong>de</strong> possibilitar o acesso do educando ao imenso patrimônio musical que ahumani<strong>da</strong><strong>de</strong> vem construindo (JEANDOT, 1993, p. 132)Diante <strong>de</strong>sse universo a ser explorado, os maiores responsáveis são osprofessores, os profissionais <strong>da</strong> educação, que têm sob sua responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, entretantas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a <strong>da</strong> educação musical. Assim sendo, <strong>de</strong>vem ser educadoresmusicais, sendo que: “O cumprimento <strong>da</strong> tarefa <strong>de</strong> musicalizar <strong>de</strong>senvolvendo ascapaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> criança e nela estimulando o gosto pela música compete aoprofessor...” (MOURA 1989, p.10).Neste capítulo, além <strong>de</strong> refletir sobre a formação do educador musical, aprática docente é toma<strong>da</strong> como essencial para o esclarecimento e a emancipação.Tal essenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pré-requisito, quando se olha a educaçãoinfantil como um ambiente musicalizado, cabe, portanto, investigar a formação doprofessor, compreen<strong>de</strong>r o objetivo <strong>da</strong> práxis pe<strong>da</strong>gógica e repensar a prática


46docente para uma educação musical crítica, são ações que favorecem e incitam areflexão sobre a presença <strong>da</strong> música na educação infantil, hoje.A partir do exposto, procura-se evi<strong>de</strong>nciar nos cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>Educadores Musicais, incluindo-se a Pe<strong>da</strong>gogia, as disciplinas que abrangem osconteúdos relacionados à linguagem musical e à licenciatura, consi<strong>de</strong>rados prérequisitosna formação do educador musical. E, para analisar com maiorprofundi<strong>da</strong><strong>de</strong> a formação do pe<strong>da</strong>gogo para atuar como educador musical naeducação infantil, toma-se como objeto <strong>de</strong> análise a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica do Curso<strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Istoposto, ressaltam-se os elementos necessários e indispensáveis na formação doeducador musical, a partir <strong>de</strong> uma perspectiva crítica.3.1 A FORMAÇÃO DO EDUCADOR MUSICALÀ primeira vista, quando se fala em educação musical, pensa-se que oprincipal responsável por esse ensino é o próprio músico, contudo, dois fatoreslevam a um pensar diferenciado, o primeiro é a escassez <strong>de</strong> profissionais comhabilitação na área <strong>de</strong> música, concomitantemente ao aumento <strong>da</strong> presença dope<strong>da</strong>gogo na sala <strong>de</strong> aula, como profissional polivalente; o segundo é a lacuna naformação pe<strong>da</strong>gógica do músico para <strong>de</strong>sempenhar o magistério e, ao mesmotempo a lacuna na formação musical do pe<strong>da</strong>gogo para <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong>educador musical. Sendo assim, é necessário que se reflita um pouco mais sobreesses dois pontos, a fim <strong>de</strong> repensar o trabalho <strong>da</strong> educação musical nas escolas.A situação <strong>da</strong> Educação Musical tem estado a cargo, principalmente, <strong>de</strong> doisprofissionais: o Pe<strong>da</strong>gogo e o Professor <strong>de</strong> Música, este po<strong>de</strong> ser formado emLicenciatura em Música ou Artes com Habilitação em Música. Estes são osresponsáveis pelo trabalho <strong>de</strong> Educação Musical, que é também recomen<strong>da</strong>do peloReferencial Curricular Nacional para Educação Infantil, o qual traz a música comoum dos principais eixos a ser trabalhado na Educação Infantil, contudo, aquilo quese pe<strong>de</strong> e se espera do trabalho musical na escola, está longe do que se viveatualmente. Há, uma insignificante presença <strong>de</strong> professores com habilitação


47específica para atuar como professores <strong>de</strong> música nos Centros <strong>de</strong> Educação Infantil,o que se restringe mais ain<strong>da</strong>, quando se trata <strong>da</strong>s escolas públicas 11 .Assim, os Pe<strong>da</strong>gogos, juntamente com professores que possuem outrasformações universitárias, ou até mesmo, professores que não possuem nenhumaformação para tal, assumem maior parte <strong>da</strong>s salas <strong>de</strong> aula do gran<strong>de</strong> potencialnumérico <strong>da</strong>s escolas.Percebe-se, portanto, a importância <strong>de</strong> analisar a formação universitária<strong>de</strong>sses dois profissionais, tendo <strong>de</strong> um lado o pe<strong>da</strong>gogo, que tem assumido o papel<strong>de</strong> educador musical em gran<strong>de</strong> parte dos Centros <strong>de</strong> Educação Infantil, e por outrolado, o Professor <strong>de</strong> Música, que ca<strong>da</strong> vez mais se transforma em semicultura<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola regular, ain<strong>da</strong> mais <strong>da</strong> pública.Para se fazer uma análise mais idônea, em relação à formação <strong>de</strong>ssesprofissionais, <strong>Cunha</strong> (2004) 12 buscou as disciplinas que compõem o currículo dosprincipais cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> Música: Licenciatura em Música eLicenciatura em Artes, Educação Artística ou Arte-Educação, com habilitação emMúsica e também do curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito gran<strong>de</strong>s Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>spúblicas Brasileiras. 13 A pesquisa foi realiza<strong>da</strong> via página eletrônica <strong>da</strong>s seguintesUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong>s: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Acre – UFAC, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral doCeará - UFC, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás - UFG, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> MinasGerais - UFMG, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Mato Grosso do Sul - UFMS, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral do Pará - UFPA, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná - UFPr, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul - UFRGS, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do rio Gran<strong>de</strong> doNorte - UFRN, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe - UFS, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Santa Catarina - UFSC, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos - UFSCar,Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco - UFPe, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa -11CUNHA, D.S.S. A Música na Vi<strong>da</strong> Escolar <strong>da</strong> Criança. Guarapuava: UNICENTRO, 2003. Empesquisa realiza<strong>da</strong> no município <strong>de</strong> Guarapuava- Paraná, <strong>da</strong>s <strong>de</strong>z escolas pesquisa<strong>da</strong>s, apenas duaspossuem aulas específicas <strong>de</strong> música, no entanto, nenhuma <strong>de</strong>las possui professor com habilitaçãoespecífica para ensinar música.12 Artigo intitulado “O Currículo dos Cursos <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Educadores Musicais”apresentado em CUNHA, D.S.S.; O Currículo dos Cursos <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> EducadoresMusicais. Curitiba: UFPr, 2004.13A pesquisa foi realiza<strong>da</strong> via página eletrônica <strong>da</strong>s seguintes universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras: UEM, UFAC, UFC,UFG, UFMG, UFMS, UFPA, UFPr, UFRGS, UFRN, UFS, UFSC, UFSCar, UFPe, UFV, UNICAMP,USP e UNICENTRO. Por serem consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s importantes Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nacionais.


48UFV, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas - UNICAMP, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo - USP,Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá – UEM, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Centro-Oeste -UNICENTRO.O foco investigativo foram as disciplinas relaciona<strong>da</strong>s à música, nos cursos<strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia; e as disciplinas didático-metodológicas dos cursos <strong>de</strong> Música, quetivessem em sua ementa a capacitação <strong>de</strong>sses profissionais como professores <strong>de</strong>música.É importante ressaltar, que <strong>de</strong> um lado o pe<strong>da</strong>gogo como professorunidocente na Educação Infantil ou do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, assume também afunção <strong>de</strong> educador musical, em sua docência polivalente, <strong>de</strong> maneira que não hácomo eximir o pe<strong>da</strong>gogo <strong>de</strong>sta função. De outro lado, o músico po<strong>de</strong> ter habilitaçãopara o magistério ou não, <strong>de</strong> forma que os cursos <strong>de</strong> música divi<strong>de</strong>m-se embacharelado e licenciatura. Como se trata, aqui, <strong>de</strong> educação, questionou-se apenasos cursos <strong>de</strong> licenciatura.Por meio dos <strong>da</strong>dos pesquisados na Internet, nos sites específicos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> e fornecidos pelas próprias instituições, analisou-se as matrizescurriculares e as disciplinas ofereci<strong>da</strong>s atualmente em ca<strong>da</strong> curso.O quadro a seguir apresenta parte dos <strong>da</strong>dos encontrados na pesquisa: arelação <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pesquisa<strong>da</strong>s; aquelas que possuem ou não o Curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia e aquelas que possuem ou não o Curso <strong>de</strong> Música:UNIVERSIDADES PEDAGOGIA MÚSICA 14UFAC SIM NÃOUFC SIM NÃOUFG SIM SIMUFMG SIM SIMUFMS SIM NÃOUFPA SIM SIMUFPr SIM SIMUFRGS SIM SIMUFRN SIM SIMUFS SIM NÃOUFSC SIM NÃOUFSCar SIM SIMUFPe SIM SIM14Música aqui, refere-se aos cursos que habilitam o professor a ensinar música: Licenciatura em Música, Arte-Educação e Educação Artística com habilitação em Música.


49UFV SIM NÃOUNICAMP SIM SIMUSP SIM SIMUEM SIM SIMUNICENTRO SIM SIMVerifica-se que as <strong>de</strong>zoito universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pesquisa<strong>da</strong>s possuem o Curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia, <strong>de</strong>ntre elas, apenas nove 15 apresentam em suas matrizes curriculares asdisciplinas relaciona<strong>da</strong>s à música, no entanto, essas disciplinas são maisdireciona<strong>da</strong>s a arte em geral: Arte e Movimento na Educação Infantil; Fun<strong>da</strong>mentose Metodologia <strong>da</strong> Expressão Musical e Corporal; Metodologia do Ensino <strong>da</strong> Arte;Música na Educação Infantil; Educação e Arte: Expressão Dramática e Musical;Fun<strong>da</strong>mentos e Metodologia do Ensino <strong>da</strong> Arte e Educação; Lúdico noDesenvolvimento <strong>da</strong> Criança; Metodologia do Ensino <strong>da</strong> Arte e do MovimentoCorporal.Essas disciplinas estão <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s nos currículos do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia,contemplando a música como um dos elementos a serem trabalhados na formaçãodo pe<strong>da</strong>gogo, contudo, a pesquisa aponta que o número <strong>de</strong> disciplinas relaciona<strong>da</strong>sà arte, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> matriz curricular dos cursos 16 , é quase insignificante em relação àsoutras disciplinas, e ain<strong>da</strong>, algumas <strong>de</strong>ssas são optativas, po<strong>de</strong>ndo fazer parte <strong>da</strong>formação do professor se pela turma for opta<strong>da</strong>, concorrendo com uma gran<strong>de</strong>varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> disciplinas também optativas. Além disso, observa-se que a cargahorária disponibiliza<strong>da</strong> é muito pequena impossibilitando uma aprendizagem maissignificativa em relação ao tema.Esses fatores negativos no currículo dos cursos <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia – númeroreduzido <strong>de</strong> disciplinas que abor<strong>da</strong>m a música em suas ementas; carga horáriainsuficiente para a abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s questões que envolvem o processo <strong>de</strong> educaçãomusical - <strong>de</strong>monstram a fraca qualificação dos formandos para exercerem a função<strong>de</strong> professores <strong>de</strong> educação infantil e <strong>da</strong>s séries iniciais, o que os tornam tambémeducadores musicais que, possivelmente, terão dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s ao incluir a música emsuas aulas. Essa é a gran<strong>de</strong> causa <strong>da</strong> presença maciça <strong>da</strong> música comercial <strong>de</strong>ntro15UFMS, UFV, UFRGS, UFMG, UFSCar, USP, UFSC, UFS, UNICENTRO16 Toma-se aqui como exemplo o Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina –UFSC, a qual tem em seu currículo apenas a disciplina chama<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>mento e Metodologia doEnsino <strong>da</strong> Arte e Educação. O que <strong>de</strong>nota a quase insignificante presença d música neste Curso.


50<strong>da</strong> escola, contribuindo, negativamente, na formação do ouvinte musical, o quecontinuará acontecendo como um ciclo se na<strong>da</strong> for mu<strong>da</strong>do.Essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> formação do pe<strong>da</strong>gogo nos remete a pensar, sobre umanova perspectiva, o currículo do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia. Sabe-se que a prática dope<strong>da</strong>gogo na educação é muito abrangente, os cursos têm se organizado <strong>de</strong> talforma, tentando abarcar todos os segmentos educacionais nos quais o pe<strong>da</strong>gogopo<strong>de</strong>rá trabalhar: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação infantil ao ensino médio; <strong>da</strong> docência àadministração escolar, passando pela orientação educacional e pela supervisãoescolar; o trabalho com educação especial; o ensino superior; os ambientes extraescolares,como hospitais, clínicas e recreações; além <strong>de</strong> ter em seu currículo aformação para a pesquisa educacional, que a formação do pe<strong>da</strong>gogo, para tãodiversas atuações, traz a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um conhecimento muito amplo, que dêconta <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentar e preparar o pe<strong>da</strong>gogo para tal campo <strong>de</strong> atuação. Dessaforma, a pequena abor<strong>da</strong>gem feita em relação à educação musical, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>insuficiente oferta <strong>de</strong> disciplinas que capacitam o pe<strong>da</strong>gogo a ser um educadorcapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma educação musical emancipatória, nota<strong>da</strong> nos <strong>da</strong>doslevantados, fica, ain<strong>da</strong> mais, sufoca<strong>da</strong> em meio ao conhecimento necessário para talformação abor<strong>da</strong>dos pelas diversas disciplinas que compõem o curso.A problemática <strong>da</strong> formação do educador musical para a educação infantil vaialém <strong>da</strong> análise do currículo do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, analisa-se também o currículodos cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> educadores musicais não-pe<strong>da</strong>gogos. Nesta análisepreocupou-se em verificar a formação <strong>de</strong>sses profissionais para o magistério, ouseja, paralelamente à formação em música os cursos universitários, que preparameducadores musicais, necessitam formar para o magistério, <strong>de</strong> forma que, além doconhecimento técnico, haja a formação para o ensino. Verificou-se portanto, que,<strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong>zoito universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pesquisa<strong>da</strong>s, doze 17 possuem Curso <strong>de</strong> Licenciaturaem Música ou outro Curso com habilitação em licenciatura em música, sendo quenove 18<strong>de</strong>les possuem disciplinas didáticas ou metodologias que capacitam esseprofissional a ser um educador musical e não somente músico. As disciplinasoferta<strong>da</strong>s são as seguintes: Didática Aplica<strong>da</strong> ao Ensino <strong>da</strong> Arte; Psicologia17UFG, UFMG, UFPA, UFPr, UFRGS, UFRN, UFSCar, UFPe, UNICAMP, USP, UEM, IUNICENTRO18UFG, UFMG, UFPA, UFPr, UFRGS, UFSCar, UFRN, UEM, UNICENTRO.


51Educacional; Música e Pe<strong>da</strong>gogia; Filosofia <strong>da</strong> Educação; Oficina Pe<strong>da</strong>gógica;Fun<strong>da</strong>mentos do Ensino <strong>da</strong> Arte; Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Educação e Prática <strong>de</strong> Ensino.Nota-se que essas poucas disciplinas oferta<strong>da</strong>s possuem pequena cargahorária, as quais não vão além <strong>de</strong> três aulas semanais, como por exemplo no curso<strong>de</strong> Arte-Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, asúnicas disciplinas direciona<strong>da</strong>s ao ensino são: Psicologia Educacional - que éoferta<strong>da</strong> somente durante um semestre com duas aulas semanais - a disciplina <strong>de</strong>Didática Aplica<strong>da</strong> ao Ensino <strong>de</strong> Arte - oferta<strong>da</strong> durante dois semestres com duasaulas semanais - e Fun<strong>da</strong>mentos do Ensino <strong>de</strong> Artes com três aulas semanaisoferta<strong>da</strong>s durante dois semestres. Sendo mínima a sua oferta diante <strong>da</strong> gran<strong>de</strong>oferta <strong>de</strong> disciplinas <strong>de</strong> cunho técnico <strong>da</strong> área musical. O profissional que <strong>de</strong>veriaestar apto a <strong>de</strong>senvolver diversas funções e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais como: elaborare implantar projetos <strong>de</strong> ensino <strong>da</strong> música; planejar e administrar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>ssistemáticas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> música; ministrar cursos <strong>de</strong> formação musical em escolas,atuando como professor <strong>de</strong> música, regente <strong>de</strong> coros, pequenas orquestras, ban<strong>da</strong>sou qualquer outro tipo <strong>de</strong> conjunto musical; trabalhar com to<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> faixaetária, incluindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os bebês até os idosos; ensinar conteúdos principais relativosà história, apreciação, teoria, instrumentos e percepção musical; realizar pesquisasvolta<strong>da</strong>s para a área do ensino <strong>da</strong> música e formação <strong>de</strong> educadores musicais, entreoutras que exigem <strong>de</strong>le uma maior formação na área do ensino, por meio <strong>de</strong>disciplinas que não são oferta<strong>da</strong>s.Por um lado, é importante ressaltar que os Pe<strong>da</strong>gogos não precisam serexímios professores <strong>de</strong> música, nem mesmo saber tocar diversos instrumentosmusicais, ou enten<strong>de</strong>r tudo sobre canto, entretanto, que como profissionaispossuidores <strong>de</strong> um diploma que os habilita a <strong>da</strong>rem aulas em Educação Infantil enas Séries Iniciais, necessitam conhecer o básico <strong>da</strong> teoria musical, precisam ser,ao menos, musicalizados, ter acesso aos diferentes estilos <strong>de</strong> música, aosinstrumentos musicais e suas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s gerais, bem como ter noçõeselementares <strong>de</strong> música, e principalmente, serem levados a uma reflexão críticasobre as músicas atuais, a fim <strong>de</strong> que possam contribuir, positivamente, naformação <strong>da</strong> audição musical <strong>de</strong> seus alunos, possibilitando a eles o acesso àmúsica <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> que, muitas vezes, é bloqueado pela mídia que se apo<strong>de</strong>ra do


52ouvinte e o leva a ter uma tendência ca<strong>da</strong> vez maior <strong>de</strong> ouvir somente a “música <strong>da</strong>mo<strong>da</strong>”.Por outro lado, os cursos <strong>de</strong> formação do professor em Artes e Música<strong>de</strong>veriam oferecer um maior número <strong>de</strong> disciplinas relaciona<strong>da</strong>s ao ensino, comoPsicologia <strong>da</strong> Educação, Didáticas, Metodologias, <strong>de</strong> forma que o educador musicaltenha conhecimento sobre o processo ensino-aprendizagem, em seus aspectosmetodológicos e psicológicos. Como afirma Severino (2002, p. 2) “... trabalhope<strong>da</strong>gógico quer dizer isso; pe<strong>da</strong>gogia como prática educativa significa exatamenteconduzir a criança, o adolescente, o jovem ou o adulto quando nos ambientesescolares, no caminho <strong>da</strong> aprendizagem e <strong>da</strong> formação...”Dessa forma, o peso curricular que hoje se concentra nas disciplinas técnicas,como teoria musical, canto e práticas em instrumentos musicais, seria equilibrado,formando, assim, um profissional, não somente na área artística, mas também naeducação, respon<strong>de</strong>ndo ao conjunto <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças no perfil do professor, o qual<strong>de</strong>veria se alterar, significativamente, <strong>de</strong> especialista para o mediador <strong>da</strong>aprendizagem.A musicalização tem um sentido bem mais amplo do que transmitirconhecimento <strong>da</strong>s técnicas musicais como ensinar noções <strong>de</strong> leitura e escritamusical, critica-se, entretanto, os tantos professores <strong>de</strong> música que, com um amploconhecimento <strong>da</strong>s teorias musicais e com reconhecido talento e <strong>de</strong>dicação nashoras diárias <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> práticas instrumentais, consi<strong>de</strong>ram-se suficientementeaptos para musicalizar crianças. Não se <strong>de</strong>scarta um estudo mais intenso <strong>de</strong>música, como os anos <strong>de</strong> prática instrumental, muito menos o estudo <strong>da</strong>queles querealizam sua graduação, especialização, mestrado, nessa área, ao contrário, oconhecimento musical é extremamente necessário para o educador musical, noentanto, <strong>de</strong>ve estar associado à formação para licenciatura, já que não há comodissociar o trabalho pe<strong>da</strong>gógico do musical, o que é indispensável para umeducador. Além disso, o trabalho na educação infantil precisa ser específico para ascrianças, <strong>de</strong> forma que sejam felizes ao apren<strong>de</strong>r música.Tendo em vista esta análise vale lembrar, como afirma Gil (1997, p. 34): “Emrelação ao ensino superior, cabe ao Ministério <strong>da</strong> Educação a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aperfeiçoamento do sistema educacional e a realização <strong>de</strong> estudos


53para a formulação <strong>de</strong> diretrizes.” Uma vez elabora<strong>da</strong> uma proposta curricular paraum curso universitário, ela sempre estará sujeita a mu<strong>da</strong>nças, aperfeiçoamentos,submetendo-se a novas diretrizes educacionais, conseqüentemente, aos órgãosresponsáveis por tais mu<strong>da</strong>nças cabe a avaliação do ensino e o aprimoramento <strong>da</strong>formação educacional – com base naquilo que se tem como i<strong>de</strong>al educacional.Uma <strong>da</strong>s contribuições <strong>de</strong>sta reflexão sobre a formação <strong>de</strong> educadoresMusicais resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> permitir que se possa avaliar o que a universi<strong>da</strong><strong>de</strong>proporciona e oferece, no <strong>de</strong>senvolvimento do futuro profissional <strong>da</strong> educação comoeducador musical.Se quisermos uma formação do futuro profissional condizente com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> queele vai encontrar nas escolas. Teremos certamente, que ouvir mais os cotidianos <strong>da</strong>sescolas em suas multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong>s e ampliar os modos <strong>de</strong> articulação entreteoria/prática e universi<strong>da</strong><strong>de</strong>/escola (DEL BEM; HENTSCHKE; MATEIRO; 1995, p.121)Dessa forma, além dos requisitos básicos necessários para a formação doeducador musical: uma formação que abranja tanto os aspectos pe<strong>da</strong>gógicos doensino, quanto o conhecimento <strong>da</strong> própria linguagem musical, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>pensar numa formação que possibilite uma experiência educacional crítica. Essesprincípios <strong>de</strong>vem estar presentes nas propostas pe<strong>da</strong>gógicas dos cursos <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> professores.Para tentar respon<strong>de</strong>r como é que os programas <strong>de</strong> ensino superiorcontemplam os elementos sugeridos pela Teoria Crítica na formação do educando, oque <strong>da</strong> formação nos diz se ele po<strong>de</strong> ser favorecedor ou terá dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>favorecer a emancipação, tomou-se como referência para análise o texto do ProjetoPolítico Pe<strong>da</strong>gógico do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO 19 , a partir do qual se procurou evi<strong>de</strong>nciar a que tipo <strong>de</strong>formação o Curso se propõe realizar. Destarte, <strong>de</strong>staca-se do documento, somenteos elementos que correspon<strong>de</strong>m ao foco <strong>de</strong> análise do presente estudo, <strong>de</strong> maneiraque se buscou i<strong>de</strong>ntificar no documento: Qual referência teórica adota<strong>da</strong> peloCurso? De que forma a música se faz presente no currículo <strong>de</strong> formação dospe<strong>da</strong>gogos? Quais as concepções <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores que19Ver anexo.


54se tem? A Proposta Pe<strong>da</strong>gógica preocupa-se com a formação do pe<strong>da</strong>gogo comoum educador musical crítico?Ressalta-se, novamente, que a esse profissional não cabe uma formaçãomusical aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>, no entanto, como educador polivalente, atuante na educaçãobásica, ele responsabiliza-se pela formação <strong>da</strong> audição e gosto musical <strong>da</strong>scrianças e tem em suas mãos a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer uma práxisemancipatória.A Proposta Pe<strong>da</strong>gógica para o Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, <strong>da</strong> UNICENTRO,elabora<strong>da</strong> no ano <strong>de</strong> 2004, traz um Breve Histórico <strong>de</strong>sse Curso do Campus <strong>de</strong>Guarapuava, com sua justificativa e objetivos; a Fun<strong>da</strong>mentação Teórica; aCaracterização do Curso, a Matriz Curricular e ementário 20 . O documento foielaborado durante um semestre pelos docentes do Curso, que se reuniram conformeárea <strong>de</strong> atuação, para analisar as propostas anteriores. Este estudo partiu <strong>da</strong>sDiretrizes Curriculares Nacionais, em seus princípios, fun<strong>da</strong>mentos e procedimentos,assim, o conceito <strong>de</strong> competência é discutido na fun<strong>da</strong>mentação teórica, discussãotal que ilumina os objetivos do Curso, como é apontado em parte do texto: “Talvez otermo ‘competências’ seja o que mais suscita discussões entre pe<strong>da</strong>gogos e outrosprofissionais que se ocupam <strong>da</strong> pesquisa e <strong>da</strong> crítica em Educação”. (UNICENTRO,2004, p. 6).A abor<strong>da</strong>gem do termo competências, presente já no início <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentaçãoteórica do texto analisado, <strong>de</strong>monstra a preocupação em romper com umaconcepção até então adota<strong>da</strong> na pe<strong>da</strong>gogia: ensinar <strong>de</strong>senvolvendo competências;que substituía as noções anteriores <strong>de</strong> saberes e <strong>de</strong> conhecimentos. Nessaabor<strong>da</strong>gem do processo ensino-aprendizagem como aquisição <strong>de</strong> competências, amúsica é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> umas <strong>da</strong>s competências a serem trabalha<strong>da</strong>s no ensino,excluindo-se a compreensão <strong>de</strong> um processo mais humano e menos técnico. Naatual concepção <strong>da</strong> relação ensino-aprendizagem, busca-se mais, uma educaçãoque vá além do que o termo competência sugere:Enriquecido, senão recuperado, o conceito <strong>de</strong> educação supera o <strong>de</strong> competência/capacitação (que seria um retorno ao <strong>de</strong> instrução, apenas renomeado) e justifica20A Matriz Curricular do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia – UNICENTRO, apresenta as Gra<strong>de</strong>s e as Ementas <strong>da</strong>sHabilitações: Magistério <strong>da</strong>s Séries Iniciais do Ensino; Administração Escolar; Supervisão Escolar;Orientação Educacional; Educação Infantil e Educação Inclusiva.


55todo o estudo <strong>de</strong> seus fun<strong>da</strong>mentos filosóficos e científicos articulados com umprojeto <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em outras palavras, ao se tratar <strong>de</strong> Educação, e não somente<strong>de</strong> capacitação, é que se tem um projeto político-pe<strong>da</strong>gógico. (UNICENTRO, 2004,p.7)Nessa discussão, percebe-se uma preocupação em <strong>de</strong>finir a proposta doCurso em termos <strong>de</strong> educação para Pe<strong>da</strong>gogia, com a preocupação “... <strong>de</strong> sesuperar qualquer noção tecnicista <strong>de</strong> competência que possa imiscuir-se nosplanejamentos e práticas <strong>de</strong> ensino...” (i<strong>de</strong>m, p. 7) pensando em uma educação queabranja mais do que capacitação técnica.Ao fun<strong>da</strong>mentar-se em autores como Arru<strong>da</strong> e Boff (2000); Ropé e Tanguy(1997); Fullat (1994), “preten<strong>de</strong>-se, portanto, com a oferta do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia,educar pe<strong>da</strong>gogos para o exercício <strong>da</strong> profissão e para a profissão do queexercerão”. (UNICENTRO, 2004, p. 8). Visando as dimensões políticas, científicas etécnicas <strong>da</strong> profissão <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogo, compromete-se com o <strong>de</strong>senvolvimento humanoem espaços escolares e não-escolares, articulando-se com o tempo histórico atualcom to<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, classe social, étnica, etária, religiosa e <strong>de</strong> porte ounão <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais <strong>de</strong> aprendizagem.Observa-se, que nessa proposta pe<strong>da</strong>gógica os pressupostos <strong>de</strong> açãoreflexiva e contextualiza<strong>da</strong>, servem ao projeto acadêmico <strong>de</strong> educação dospe<strong>da</strong>gogos, concatenando saberes filosófico-políticos, científicos e tecnológicos,valorizando e exigindo uma postura teórico-investigativa e <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>sinterdisciplinares na i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> dos profissionais <strong>da</strong> educação. (p. 9)A preocupação em realizar a formação dos pe<strong>da</strong>gogos reflexivos tem apesquisa como componente essencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, juntamente com oestudo <strong>de</strong> referenciais teóricos, pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> metodologias e técnicas <strong>de</strong>planejamento, ensino e avaliação, “...marca<strong>da</strong> pela capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> e engajamento emnovas teorizações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> reflexão crítica, a partir <strong>da</strong>s práticas sociais evolta<strong>da</strong>s para novas práticas sociais, que <strong>de</strong>verão ser sucessivamente critica<strong>da</strong>s,reformula<strong>da</strong>s e melhora<strong>da</strong>s, o que exclui perspectivas sociais conformistas.” (i<strong>de</strong>mp. 10).A proposta <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia que contemple a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e aexcelência, o rigor científico, metodológico e o compromisso político, pensando aeducação para além do ensino, como processo político-pe<strong>da</strong>gógico, lendo


56criticamente a Educação em processos informais e planejando na mesmaperspectiva a educação formal. (p. 10)É notória a <strong>de</strong>fesa que se faz “... <strong>da</strong> formação inicial, <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>acadêmica e compromisso político...” (p. 9), que praticamente vem <strong>de</strong>finir o sentido ea razão que se dá à formação, em contraparti<strong>da</strong> à crítica estabeleci<strong>da</strong> em relação àformação continua<strong>da</strong>, como foco do Banco Mundial visando o crescimentoquantitativo e superficial, o qual “... fun<strong>da</strong>menta-se em uma racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>puramente técnica, ao <strong>de</strong>sgosto <strong>da</strong>s tendências liberais...” (p. 9)Na Caracterização do Curso 21 , primeiramente apresenta-se a sua clientela e oseu maior objetivo: “... o objetivo maior do Curso resume-se no processo <strong>de</strong>qualificação dos alunos e alunas, possibilitando-lhes o acesso a uma bagagemsignificativa <strong>de</strong> conhecimentos científicos que lhes garanta condições do exercícioprofissional em educação”. (i<strong>de</strong>m, p.11). Para que esse objetivo seja alcançado, osconhecimentos foram organizados em quatro eixos temáticos: 1) Núcleo/ históricocontextual, sendo que nesse núcleo estão as disciplinas que tratam dosconhecimentos estruturais do Curso; 2) Pesquisa em Educação, sendo este núcleo oeixo integrador do Curso, estão nele as disciplinas <strong>de</strong> conhecimentointercomplementares; 3) Núcleo dos conteúdos didático-metodológicos profissionais,as disciplinas pertencentes a esse núcleo são <strong>de</strong> princípios pe<strong>da</strong>gógicos gerais”...que norteiam a organização do trabalho na sala <strong>de</strong> aula articula<strong>da</strong> à organizaçãoglobal <strong>da</strong> escola”. (p. 12) e 4) Núcleo Complementar, compreen<strong>de</strong> as disciplinasque veiculam conteúdos que venham complementar a estrutura do Curso e quebuscam “... um entendimento significativo dos diversos segmentos <strong>de</strong> atuação que ocurso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia oferece”. (p.12)Nessa organização do Curso, <strong>de</strong>fine-se a disciplina <strong>de</strong> Pesquisa emEducação como eixo integrador entre as <strong>de</strong>mais disciplinas, valorizando a iniciaçãocientífica como necessária à formação do professor-pesquisador, ressalta-se que... a formação do professor/ pesquisador reflexivo valorizando a escola, sobretudo aescola pública, e a sala <strong>de</strong> aula como espaço privilegiado na apropriação e produçãodo conhecimento e saberes, sendo, ao mesmo tempo, espaço para os benefícios <strong>de</strong>21O curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia é ofertado pela UNCENTRO, no campus <strong>de</strong> Guarapuava e campi avançados<strong>de</strong> Chopinzinho, Laranjeiras do Sul e Pitanga, ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Paraná. Sua clientela é forma<strong>da</strong> por alunoscom e sem experiência no Magistério.


57uma ação reflexiva (...) a formação do educador-pesquisador é uma alternativa paratentar eliminar as dicotomias entre a teoria e a prática. (UNICENTRO, 2004, p.12)A estrutura do Curso, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> nos interesses e especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>região, parte <strong>de</strong> um currículo comum a todos os alunos, o magistério <strong>da</strong>s sériesiniciais, para uma formação mais múltipla oferta<strong>da</strong> nas diferentes habilitação, asquais po<strong>de</strong>m ser opta<strong>da</strong>s pelos alunos.Para isso, utilizou-se do princípio <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> curricular, buscando oferecer aosalunos e alunas, um leque <strong>de</strong> opções, que amplie sua formação geral, a qual além<strong>de</strong> oferecer flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> no aproveitamento <strong>de</strong> conhecimentos adquiridos, possibilitaestudos e práticas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. (i<strong>de</strong>m p. 13)Há uma certa preocupação em se estabelecer uma real relação entre a teoriae a prática, para isso além <strong>da</strong>s disciplinas <strong>de</strong> Pesquisa em Educação I, II e III, “...queproporcionam a inserção <strong>de</strong> acadêmicos e acadêmicas em situações reais <strong>de</strong>trabalho, orientados por uma linha investigativo-exploratória”, (p.13), há também oEstágio Curricular que é subdividido em I, II, III e Profissional, sendo, portanto, asativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Estágio Supervisionado contempla<strong>da</strong>s em todos os anos do Curso.Outra proposta presente na <strong>de</strong>finição <strong>da</strong> característica do Curso é a formação<strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos comprometidos com um ensino <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, tendo ainterdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> e a contextualização como base para to<strong>da</strong>s as disciplinas, (p.15). De tal forma que haja entre o sujeito e o objeto, ou seja, entre o aluno e oconhecimento uma relação <strong>de</strong> reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>, media<strong>da</strong> pela transposição didáticaque privilegie o tratamento contextualizado do conhecimento, consi<strong>de</strong>rando seusfun<strong>da</strong>mentos epistemológicos, sociológicos e psicológicos, concomitantemente coma interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, que veicula<strong>da</strong> como uma linha metodológica utiliza<strong>da</strong> nasdiversas disciplinas, resulta numa aprendizagem mais significativa.Essa preocupação com a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> e com a contextualizaçãoremete a concepção <strong>de</strong> que “A universi<strong>da</strong><strong>de</strong> transita em três vias: universi<strong>da</strong><strong>de</strong>escola,escola-universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, universi<strong>da</strong><strong>de</strong>-comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (...) a inter-relação entreuniversi<strong>da</strong><strong>de</strong>-escola-comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> permite a integração entre elas”. (p. 16)Nesse ínterim, apresenta-se em capítulo específico, o Atendimento aResolução CNE/P1 e CNE/P2, fazendo referência aos apontamentos anteriormenterealizados, os quais correspon<strong>de</strong>m aos requisitos expressos na Resolução:


58ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> estágio curricular durante todo o Curso; a ênfase na pesquisa; aabrangência do Curso; a formação para os diferentes âmbitos do conhecimentoprofissional; a avaliação como meio e fim dos processos.Posteriormente, o documento apresenta a Matriz Curricular do Curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia, aprova<strong>da</strong> em 2003, para implantação a partir <strong>de</strong> 2004 e o respectivoementário. Na habilitação comum a todos os acadêmicos, Magistério <strong>da</strong>s SériesIniciais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental 22 , a Matriz Curricular é composta <strong>de</strong> vinte e novedisciplinas e mais as Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Complementares, ambas compondo os quatro anosdo Curso e somando um total <strong>de</strong> 2.546 (dois mil quinhentos e quarenta e seis)horas-aulas.Compondo também essa Matriz Curricular, está a disciplina <strong>de</strong> Metodologia<strong>da</strong> Arte, oferta<strong>da</strong> aos acadêmicos como disciplina obrigatória do 3º (terceiro) ano,com carga horária total <strong>de</strong> 68 (sessenta e oito) horas, dividi<strong>da</strong>s em 2 (duas) aulassemanais.A Ementa <strong>da</strong> Disciplina <strong>de</strong> Metodologia <strong>da</strong> Arte 23 apresenta <strong>de</strong> formaresumi<strong>da</strong> aquilo que preten<strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r: “Pressupostos conceituais, históricos emetodológicos do ensino <strong>da</strong> Arte nas diferentes linguagens artísticas: visual, cênica,musical e <strong>da</strong>nça”. Nota-se que a proposta <strong>da</strong> disciplina <strong>de</strong>stina-se a contemplar asdiversas linguagens artísticas em seus mais variados aspectos: conceituais,históricos e metodológicos. Dessa forma, o conteúdo a ser trabalhado perpassa oensino <strong>da</strong> Arte, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fun<strong>da</strong>mentação conceitual <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s linguagens, acompreensão dos fenômenos históricos relacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>uma <strong>de</strong>las, bem como os pressupostos metodológicos, que são os estudos dosmétodos <strong>de</strong> ensino <strong>da</strong> Arte em suas quatro dimensões. No último aspecto, inclui-seos processo <strong>de</strong> ensino, aprendizagem, como a avaliação. Isso tudo relacionado aofoco <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>sse ensino, que é a escola, ou mais diretamente, a educação infantil.Como está claro, a crítica em relação à pequena carga horária <strong>da</strong>s disciplinas<strong>de</strong> formação <strong>de</strong> educador para as artes, mais uma vez se faz necessária. Para quetodo esse conteúdo proposto na ementa <strong>da</strong> disciplina fosse abor<strong>da</strong>do integralmente,seriam necessários anos <strong>de</strong> estudo. O que se propõe estu<strong>da</strong>r na disciplina nãocondiz com a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo disponibilizado para tal empreendimento. Mais22Ver Anexo.23Ver anexo.


59uma vez, a arte é admiti<strong>da</strong> como conteúdo a ser trabalho superficialmente.Questiona-se, portanto, a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tal disciplina, qual seria seu real objetivo.Ain<strong>da</strong>, na proposta do Curso são especifica<strong>da</strong>s as Matrizes Curriculares <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s habilitações oferta<strong>da</strong>s por ele e seu respectivo ementário. Cabe aqui,observar que apenas a habilitação em Educação Infantil traz em seu currículo umadisciplina que contempla a música, a qual recebe a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> As diferenteslinguagens artísticas: verbal, corporal, plástica e musical e tem como propostaementar: “Propor diferentes modos <strong>de</strong> ver, compor interpretar e reproduzir areali<strong>da</strong><strong>de</strong> nas linguagens artísticas – forma – tempo – espaço – a partir do ver, dosaber e do fazer”.( UNICENTRO, 2004, p. 25)Da mesma forma em que se analisou a disciplina oferta<strong>da</strong> a todos osacadêmicos, analisa-se essa que é apenas oferta<strong>da</strong> aos acadêmicos que optampela habilitação <strong>de</strong> educação Infantil. O conteúdo proposto já no título <strong>da</strong> disciplina eespecificado em sua ementa é muito amplo para ser abor<strong>da</strong>do em apenas duasaulas semanais, durante um ano <strong>de</strong> estudo.Nesse currículo, não há disciplinas optativas, o que ocorre em outrasuniversi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. As disciplinas estão to<strong>da</strong>s pré-<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s e não há como optar por umaou por outra, além <strong>da</strong>s que estão lista<strong>da</strong>s na matriz curricular do Curso.Nota-se que a proposta para o Curso não foge <strong>da</strong>quilo que a teoria críticatraz, como pressuposto para a docência que se distingue como emancipatória,elementos como a formação do professor reflexivo (i<strong>de</strong>m p. 11), a valorização <strong>da</strong>perspectiva contextualiza<strong>da</strong> <strong>de</strong> ensino (p. 15), a critici<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação ao contextoeducacional em que a formação se insere (p. 13). Tais elementos <strong>de</strong>monstram umapreocupação em realizar uma formação emancipatória. Dessa maneira, po<strong>de</strong>-se<strong>de</strong>duzir por uma análise <strong>de</strong>sse documento, que os pressupostos teóricos e osobjetivos <strong>de</strong>finidos pelo Curso po<strong>de</strong>m ser favorecedores <strong>de</strong> uma educaçãoesclarecedora, entretanto, não é especificado, <strong>de</strong> maneira mais objetiva, <strong>de</strong> queforma essa formação po<strong>de</strong> ser realmente qualifica<strong>da</strong> como crítica na era <strong>da</strong> indústriacultural, vê-se a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se realizar essa especificação.Levantar elementos sugeridos pela Teoria Crítica, válidos para uma proposta<strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores numa perspectiva emancipatória, em que estes seriam


60formados criticamente e se tornariam agentes <strong>de</strong>ssa formação, é possível <strong>de</strong> serrealiza<strong>da</strong>.Esses elementos são indicadores para construção <strong>de</strong> uma práxis pe<strong>da</strong>gógicaemancipatória nos cursos <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, os quais são sistematizados mediantes umtriplo objetivo: formar pesquisadores e pessoal qualificado para refletir sobre osistema educacional, preparar professores aptos a lecionar as matérias pe<strong>da</strong>gógicasque faziam parte do currículo <strong>da</strong>s Escolas Normais e capacitar o pessoalespecializado para a gestão do sistema escolar, como administradores, orientadorese supervisores escolares. No Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> UNICENTRO, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>Estadual do Centro-Oeste, a base comum do currículo está em formar para omagistério <strong>da</strong>s séries iniciais, para, então, posteriormente, formar nas habilitações.Nota-se, portanto, que os três objetivos mais gerais dos cursos <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia,partem <strong>de</strong> um principal: formar o educador.A sóli<strong>da</strong> formação do educador exige domínio <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> conhecimentocom as quais trabalhará, seja na matemática, no português, na geografia, nabiologia ou nas artes. Os cursos <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia não po<strong>de</strong>m negligenciar anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma sóli<strong>da</strong> formação geral em ca<strong>da</strong> área, sem o conhecimento,ninguém po<strong>de</strong> ensinar ou orientar os alunos na aprendizagem.É clara a importância <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> área do conhecimento. Esta pesquisa, não tema intenção <strong>de</strong> valorizar somente a educação musical, em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong>s outrasáreas, <strong>de</strong> forma que a análise realiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> Proposta Pe<strong>da</strong>gógica do Curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia caberia também em outros estudos que tivessem como enfoque outrasáreas do conhecimento, to<strong>da</strong>via, essa pesquisa enfoca a formação do educador naárea do conhecimento musical e tem o curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia como formador <strong>de</strong>steprofissional, não do especialista em música, mas do educador <strong>da</strong> Educação Infantil e<strong>da</strong>s séries iniciais que tem a música como área do conhecimento a ser trabalha<strong>da</strong>,por ele, com os alunos. Salienta-se, portanto, que a superficial formação musical dope<strong>da</strong>gogo no Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> UNICENTRO, negligencia a importância doconhecimento musical, necessário ao educador, para a formação <strong>da</strong> audiçãomusical, do gosto pela Boa Música, <strong>da</strong> atitu<strong>de</strong> reflexiva em relação ao que se ouve eprincipalmente para a formação musical emancipadora, na era <strong>da</strong> Indústria cultural.


61Percebe-se que, a ação educativa do pe<strong>da</strong>gogo na educação musical, não émera transmissão <strong>de</strong> conhecimento, portanto, não há como o pe<strong>da</strong>gogo sereducador musical capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma práxis emancipatória, a partir <strong>de</strong>algumas poucas aulas sobre o ensino <strong>da</strong> arte, em geral, o que acontece no currículoanalisado. È necessário maior aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s questões referentes à música,através <strong>de</strong> maior carga horária <strong>de</strong> disciplinas <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s a esta área doconhecimento, <strong>de</strong> forma que, a formação do pe<strong>da</strong>gogo, possibilite uma práxispe<strong>da</strong>gógica para uma educação musical <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Acredita-se que uma proposta <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> educadores <strong>de</strong>va contemplar oestado <strong>de</strong> barbarização em que atuará como profissional, e, muito além disso, comoeducador, consi<strong>de</strong>rando o contexto educacional e social no qual a formação seinsere: <strong>de</strong> padronização do comportamento, estimulação <strong>da</strong> atitu<strong>de</strong> conformista,submissão à hegemonia <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo dos produtos <strong>da</strong> indústriacultural. Partindo <strong>de</strong>ssa conscientização, a formação docente toma direção rumo àprática pe<strong>da</strong>gógica esclarecedora, culminando numa educação musical mais crítica.Passa-se então, a uma análise mais específica <strong>de</strong> alguns elementosnecessários para a formação do futuro pe<strong>da</strong>gogo, como educador musical,sugeridos pela Teoria Crítica - uma prática que privilegie a educação musicalemancipatória - que po<strong>de</strong>ria auxiliar no discernimento e na oposição <strong>da</strong>sconseqüências <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> semiformação, ou seja, <strong>da</strong> conquista do espírito pelalógica do fetiche <strong>da</strong> mercadoria. Essa relação entre pe<strong>da</strong>gogia e Teoria Crítica,antes observa<strong>da</strong> como pertinente a esta pesquisa, aqui torna-se fun<strong>da</strong>mento para ai<strong>de</strong>ntificação dos subsídios relevantes à práxis pe<strong>da</strong>gógica, como afirma Zuin (1999,p.131):... não é inócua e muito menos completamente resolvi<strong>da</strong> a discussão sobre relaçõesque po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s entre as contribuições dos chamados teóricosfrankfurtianos e a própria pe<strong>da</strong>gogia.Esses elementos não consistem somente em teorização, mas, num modo <strong>de</strong>pensar que precisaria ser, <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente, matizado na crítica <strong>da</strong> cultura, não comouma precipitação <strong>de</strong> resolução imediata dos problemas educacionais, nem <strong>de</strong> umautilização superficial <strong>de</strong>sses elementos como receita pronta e acaba<strong>da</strong> para umanova práxis.


623.2 A EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA COMO OBJETIVO DA PRÁXISPEDAGÓGICAPrimordialmente, ressalta-se a indispensável clareza que o educador <strong>de</strong>ve terem relação ao tipo <strong>de</strong> formação que estará pronto a exercer. A pré-<strong>de</strong>finição dosobjetivos que se quer alcançar através <strong>de</strong> sua prática docente e a compreensão dosmeios que se utilizará para alcançar a meta <strong>de</strong>seja<strong>da</strong> são elementos que estãointrinsecamente ligados às concepções teóricas adota<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> tal forma que, aconstrução <strong>de</strong> qualquer práxis pe<strong>da</strong>gógica <strong>de</strong>ve estar fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> nas préconcepçõesteóricas eluci<strong>da</strong><strong>da</strong>s previamente. A proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>de</strong> formação<strong>de</strong> educadores musicais comprometidos com a práxis emancipatória, portanto,necessita, na opinião <strong>de</strong> (ZUIN, 1999, p. 131), fazer um resgate do sentimento <strong>de</strong>um procedimento crítico semelhante àquele <strong>de</strong>senvolvido por Horkheimer no textoTeoria Tradicional e Teoria Crítica, sobretudo na investigação <strong>da</strong> relaçãoantagônica entre ambas.O Esclarecimento é objeto <strong>de</strong> reflexão <strong>de</strong> todos os autores <strong>da</strong> Escola, arazão foi tema <strong>de</strong> produção durante os 50 anos, Kant a <strong>de</strong>finiu como subjetiva,transcen<strong>de</strong>ntal, inata, emancipatória, condutora à autonomia, contudo, essaconvicção iluminista para os frankfurtianos é ilusória, pois, ao contrário, a razão fazparte <strong>de</strong> um crescente processo <strong>de</strong> instrumentalização para dominação e repressãodo homem.A compreensão <strong>de</strong> que a humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, através do esclarecimento, começa asair <strong>da</strong> menori<strong>da</strong><strong>de</strong> e que a mesma humani<strong>da</strong><strong>de</strong> tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> permitir aeducação <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes para o Esclarecimento, para a maiori<strong>da</strong><strong>de</strong>, é umlegado <strong>de</strong> Kant que permanece com os frankfurtianos.Para Adorno, o objetivo <strong>da</strong> práxis educacional é a emancipação:De certo modo, emancipação significa o mesmo que conscientização,racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>... A educação seria impotente e i<strong>de</strong>ológica se ignorasse o objetivo <strong>de</strong>a<strong>da</strong>ptação e não preparasse os homens para se orientarem no mundo. Porém, elaseria igualmente questionável se ficasse nisto, produzindo na<strong>da</strong> além do welladjusted people, pessoas bem ajusta<strong>da</strong>s, em conseqüência do que a situaçãoexistente se impõe precisamente no que tem <strong>de</strong> pior (ADORNO, 1995 p. 143)


63O i<strong>de</strong>al iluminista, <strong>de</strong> que, por meio <strong>da</strong> razão, é possível libertar o homem <strong>da</strong>pressão <strong>da</strong> ignorância, buscando a consciência e, assim, a ação transformadora nasocie<strong>da</strong><strong>de</strong> conserva-se presente na Teoria Crítica e po<strong>de</strong> ser analisa<strong>da</strong> <strong>de</strong> acordocom Freitag (1990), em três momentos distintos dos trabalhos <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong>Frankfurt.Num primeiro momento, no início do Instituto até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30, aparecemcom mais evidência a articulação entre as dimensões <strong>da</strong> negativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> dialética e<strong>de</strong> sua superação. Horkheimer <strong>de</strong>nuncia a alienação <strong>da</strong> ciência e a técnicapositivista que está centra<strong>da</strong> na razão instrumental. “A essência <strong>da</strong> dialética doesclarecimento consiste em mostrar como a razão abrangente e humanística, postaa serviço <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e emancipação dos homens, se atrofiou, resultando na razãoinstrumental.” (FREITAG, 1990, p. 35)Horkheimer (1991), no texto Teoria Tradicional e Teoria Crítica coloca opensamento cartesiano e o pensamento marxista, em termos ontológicos e nãosomente instrumentais, tematiza o conflito entre a dialética e o positivismo. Adimensão humanística e emancipatória <strong>de</strong> um e sistêmico e conservador <strong>de</strong> outro,contudo, não opta por um ou por outro e sim engloba um e outro, o autor renunciaalgumas teses marxistas, mas sustenta a teoria crítica.Há, portanto, uma comparação entre Descartes e Marx, o primeiro, na TeoriaTradicional, expressa pelo positivismo, com formato mais sistemático e pressupostosconservadores, em que o objeto é algo externo ao sujeito. O segundo, na TeoriaCrítica, expressa pela Dialética, <strong>de</strong> forma mais humanística e com pretensõesemancipatórias, em que o objeto e o sujeito têm relação orgânica. Como afirmaGeuss (1988, p. 9) “uma meta básica <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Frankfurt é a crítica aopositivismo e a reabilitação <strong>da</strong> ‘reflexão’ com uma categoria <strong>de</strong> conhecimentoválido.”Torna-se aqui a reafirmar esse elemento <strong>da</strong> Teoria Crítica como subsídio paraa práxis emancipatória: a clareza e compreensão <strong>da</strong> distinção entre a teoriatradicional e a crítica. Quando há percepção <strong>da</strong> distinção entre uma práticafun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> nos princípios tradicionais e <strong>da</strong> prática fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na teoria crítica,tem-se a


64... propensão <strong>de</strong> uma práxis pe<strong>da</strong>gógica que se opõe ao discurso <strong>de</strong> neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> doobjeto <strong>da</strong> ciência e expressa o juízo <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> que a produção científica não po<strong>de</strong>se afastar do compromisso <strong>de</strong> combater sua própria fetichização, auxiliando, aobtenção <strong>de</strong> uma vi<strong>da</strong> mais digna e menos injusta. (ZUIN, 1999, p. 131)Desse modo, uma proposta <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores na perspectiva <strong>da</strong>emancipação, situa-se com clareza, diante <strong>da</strong>s teorias que lhe são apresenta<strong>da</strong>s,nos pressupostos <strong>da</strong> teoria crítica. Na análise realiza<strong>da</strong> por Geuss (1988, p.8) doque é a Teoria Crítica, ele afirma que ”O nome geral <strong>da</strong>do a este novo tipo <strong>de</strong> teoria<strong>de</strong> que o Marxismo e a psicanálise são as duas principais instâncias é teoria crítica”.Referindo-se ao pensamento <strong>da</strong> Escola sobre a importância <strong>de</strong> Freud e <strong>de</strong> suateoria, consi<strong>de</strong>rando-o um revolucionário conceitual mais ou menos no sentido <strong>de</strong>Marx, e que a psicanálise e o Marxismo, do ponto <strong>de</strong> vista filosófico, apresentamfortes similari<strong>da</strong><strong>de</strong>s “duas instâncias <strong>de</strong> um mesmo novo tipo <strong>de</strong> teoria”.A Teoria Crítica po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> como sociologia crítica, contudo vaialém <strong>da</strong> sociologia como disciplina, pois, não só tem um fato social como objeto <strong>de</strong>análise, como revela a questão <strong>de</strong> saber o que pertence ao social e o que pertenceàs questões <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. As teorias críticas trazem à ciência o que nela nãopo<strong>de</strong> faltar: a reflexão sobre si e crítica à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> existente, o que a diferencia <strong>da</strong>steorias <strong>da</strong>s ciências naturais, <strong>de</strong> maneira essencial:Os membros <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Frankfurt fazem uma níti<strong>da</strong> distinção entre teoriascientíficas e teorias críticas. Estes dois tipos <strong>de</strong> teorias são tidos como diferentes emtrês importantes dimensões. Primeiro, elas diferem em seu propósito ou fim, e, porconseguinte, na maneira pela qual os agentes possam utilizá-las ou a elas recorrer (...)diferem em sua lógica ou cognitiva (...) diferem quanto ao tipo <strong>de</strong> evidência que seriarelevante para <strong>de</strong>terminar se elas são cognitivamente aceitas ou não... (GEUSS, 1988,p. 91)As teorias científicas são objetificantes, ou seja, teorias acerca <strong>de</strong> objetosdiferentes <strong>de</strong>la mesma, e a teoria crítica é, além disso, acerca <strong>da</strong>s próprias teoriassociais, assim se torna reflexiva e auto-referente, pois é, em parte, a respeito <strong>de</strong> simesma. A intenção <strong>da</strong>s teorias críticas, diferente <strong>da</strong>s objetificantes, não preten<strong>de</strong>mapenas proporcionar informações sobre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, elas também preten<strong>de</strong>mfornecer critérios para que se avalie a própria crítica e as informações apresenta<strong>da</strong>spor ela. Dessa forma, po<strong>de</strong>-se afirmar que é por meio <strong>da</strong>s teorias críticas que se


65realiza a crítica <strong>da</strong> própria teoria, empregando à teoria analisa<strong>da</strong> o critério <strong>de</strong>aceitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. As teorias críticas também se caracterizam por serem reflexivamenteaceitáveis, <strong>de</strong> tal forma que não necessitam <strong>de</strong> comprovação empírica para seremrelevantes, contudo, têm conteúdo cognitivo, isto é, são formas <strong>de</strong> conhecimento.As teorias críticas têm como objetivo produzir um efeito emancipatório eesclarecido 24 por meio <strong>da</strong> auto-reflexão, por isso, são sempre dirigi<strong>da</strong>s ouen<strong>de</strong>reça<strong>da</strong>s a um <strong>de</strong>terminado grupo, para que esse possa refletir sobre seuspadrões <strong>de</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, exercitando seu auto-conhecimento, tornando os sujeitosdo grupo cientes <strong>de</strong> sua objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, capazes <strong>de</strong> estipular quais são seusver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros interesses. Assim, é pela auto-reflexão que se dissolvem as pseudoobjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>se a ilusão objetiva, para então, utilizando-se <strong>da</strong> teoria crítica, <strong>de</strong>struiresse po<strong>de</strong>r ou objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coerção, que é, pelo menos parcialmente, autoimposta,a auto-frustração <strong>da</strong> ação humana consciente, resultando emesclarecimento e emancipação.Em um outro momento, <strong>da</strong>s discussões frankfurtianas sobre o contextofilosófico, houve um <strong>de</strong>bate entre os fun<strong>da</strong>mentos epistemológicos do Positivismo eos <strong>da</strong> Dialética, durante a emigração para os EUA, quando recebem gran<strong>de</strong> impacto<strong>da</strong> cultura nas mo<strong>de</strong>rnas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo.A proposta <strong>da</strong> Razão Instrumental é, na <strong>de</strong>fesa do método <strong>da</strong> lógica formalcartesiana, do procedimento indutivo e <strong>de</strong>dutivo, não atribuindo valor ao <strong>da</strong>doempírico. Adorno enquadra essa proposta como positivista pelo fato <strong>de</strong> ter o métodocomo predominante no processo <strong>de</strong> conhecimento.A preocupação <strong>de</strong> Adorno não é meramente formal e sim existencial <strong>de</strong>ssemodo, a crítica tem duas funções: colocar em questão uma hipótese explicativa doproblema e, além disso, <strong>de</strong>sconfiar do conhecimento como tal, questionar osobjetivos e resultados. Este é o princípio <strong>da</strong> negativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Para Adorno, a dialética, como método, não possui regras <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s, aocontrário, ela é capaz <strong>de</strong> incluir em seus elementos a contradição e a transformação,já a ciência positivista naturaliza os processos sociais restringindo a dinâmicahistórica a um sistema <strong>de</strong> leis absolutas e imutáveis.24Aqui se enten<strong>de</strong> emancipação e esclarecimento, como uma transição social <strong>de</strong> um estado inicial <strong>de</strong>falsa consciência, que é um tipo <strong>de</strong> auto-ilusão e inexistência <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, causa<strong>da</strong> por uma forma<strong>de</strong> coerção auto-imposta; para um estado final no qual se liberta <strong>da</strong> falsa consciência, por meio doesclarecimento, e <strong>da</strong> coerção auto-imposta, pelo tornar-se emancipado.


66A dialética adorniana remete o futuro a uma dimensão prática, o que nãoacontece no raciocínio positivista. A “... crítica significa para Adorno e os teóricos <strong>da</strong>Escola <strong>de</strong> Frankfurt a aceitação <strong>da</strong> contradição e o trabalho permanente <strong>da</strong>negativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, presente em qualquer processo <strong>de</strong> conhecimento.” (FREITAG, 1990,p. 51).Retomando a análise <strong>da</strong> proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>de</strong>scrita anteriormente, umavez elabora<strong>da</strong> uma proposta <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> educadores, a aceitação <strong>da</strong>contradição e o trabalho permanente <strong>da</strong> negativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, abor<strong>da</strong>dos por Adorno comorequisitos fun<strong>da</strong>mentais para se estabelecer uma ação crítica, são elementos<strong>de</strong>finitivos para a construção <strong>de</strong> uma formação <strong>de</strong> educadores que se diga crítica.A auto-reflexão e a autocrítica levam o educador à aceitação <strong>da</strong> própriacontradição,que possa existir entre aquilo que se pensa fazer e o que realmente sefaz, ou seja, ao refletir criticamente sobre sua própria prática docente, o educadorpo<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>parar-se com incoerências teórico-práticas, assim, a aceitação <strong>de</strong>ssasincoerências, juntamente com o trabalho constante <strong>de</strong> negativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, é extremamentesignificativa para uma nova práxis pe<strong>da</strong>gógica.Na análise realiza<strong>da</strong> sobre a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia<strong>da</strong> UNICENTRO, há um predomínio do caráter instrumental e uma certasuperficiali<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação à opção teórica, em que a postura pe<strong>da</strong>gógica dos<strong>de</strong>centes formadores <strong>de</strong> professores se fun<strong>da</strong>mentará. Ressalta-se que ospressupostos teóricos adotados por esses profissionais, <strong>de</strong>terminarão a sua práticaem sala <strong>de</strong> aula e não somente isso, mas também a sua postura diante <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> tal forma que se um professor universitário assume uma postura <strong>de</strong>conformação diante <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> alienação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, certamente,contribuirá para a formação <strong>de</strong> outros que também se posicionarão inertes, diantedos mecanismos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista. Assim, a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> concepção, aconvicção e a transparência teórica e até i<strong>de</strong>ológica, na proposta <strong>de</strong> formação, são oessencial para to<strong>da</strong> práxis educacional, seja na formação <strong>de</strong> professores ou naeducação infantil. São necessárias para que hajam mu<strong>da</strong>nças em todo sistemaeducacional, <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> à educação básica.


673.3 ESCLARECER E EMANCIPAR: O TRABALHO DOCENTE PORUMA EDUCAÇÃO CRÍTICAA Teoria Crítica, como atitu<strong>de</strong>, é a resistência à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s massas,entretanto, mais cômodo é abandonar-se à correnteza. A indústria Cultural atrofia opo<strong>de</strong>r crítico <strong>da</strong> arte, ele só persiste nas obras que se esforçam para atingirautonomia <strong>da</strong> Indústria Cultural, frente à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> atual e, assim, efetivando o seupo<strong>de</strong>r <strong>de</strong> permitir que seja <strong>de</strong>svelado o que é ocultado pela i<strong>de</strong>ologia.Adorno, em Educação e Emancipação <strong>de</strong>bate radiofônico transmitido pelaRádio <strong>de</strong> Hessen, em 1969 25 , traz à discussão as assertivas <strong>de</strong> Kant para explicar oque é esclarecimento e, <strong>de</strong>ssa forma, também o que é emancipação: a emancipaçãoacontece quando o indivíduo, já possuidor <strong>de</strong> entendimento, sai <strong>de</strong> sua menori<strong>da</strong><strong>de</strong>e consegue servir-se <strong>de</strong>sse entendimento sem orientação <strong>de</strong> outros. Adorno lembraa afirmação <strong>de</strong> Kant, segundo este, quando acontece a saí<strong>da</strong> dos homens <strong>de</strong>ssamenori<strong>da</strong><strong>de</strong> auto-inculpável, acontece também o esclarecimento.Kant havia <strong>de</strong>finido a razão como subjetiva, transcen<strong>de</strong>ntal, inata,emancipatória, condutora à autonomia, contudo, para Adorno tal convicção iluministaé ilusória, pois, ao contrário, a razão faz parte <strong>de</strong> um crescente processo <strong>de</strong>instrumentalização para dominação e repressão do homem.Há que salientar que, o resgate <strong>da</strong> Razão emancipatória é a utopia dosfrankfurtianos, o conceito <strong>de</strong> Esclarecimento <strong>de</strong> Kant, recebeu e ain<strong>da</strong> recebegran<strong>de</strong> importância por parte dos frankfurtianos. O que significa ser esclarecido? Aesta pergunta Kant (1974, p. 100) respon<strong>de</strong>:Esclarecimento [Aufklärung] é a saí<strong>da</strong> do homem <strong>de</strong> sua menori<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> qual elepróprio é culpado. A menori<strong>da</strong><strong>de</strong> é a incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer uso <strong>de</strong> seu entendimentosem a direção <strong>de</strong> outro indivíduo. O homem é o próprio culpado <strong>de</strong>ssa menori<strong>da</strong><strong>de</strong>se a causa <strong>de</strong>la não se encontra na falta <strong>de</strong> entendimento, mas na falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão ecoragem <strong>de</strong> servir-se <strong>de</strong> si mesmo sem a direção <strong>de</strong> outrem. Sapere au<strong>de</strong>! Temcoragem <strong>de</strong> fazer uso <strong>de</strong> teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento[Aufklärung].Na tentativa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Kant, chegou-se aconcepção <strong>de</strong> que a atitu<strong>de</strong> prática e política do fazer uso público <strong>da</strong> razão é25Debate realizado entre Adorno e Hellmut Becker, na série intitula<strong>da</strong> “ Questões educacionais <strong>da</strong>atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>".


68privilégio <strong>de</strong> todos. Essa liber<strong>da</strong><strong>de</strong> caracteriza as filosofias humanistas doiluminismo.A compreensão <strong>de</strong> que a humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, por meio do esclarecimento, começa asair <strong>da</strong> menori<strong>da</strong><strong>de</strong> e que a mesma humani<strong>da</strong><strong>de</strong> tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> permitir a educação<strong>de</strong> seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes para o esclarecimento, para a maiori<strong>da</strong><strong>de</strong>, é um legado <strong>de</strong>Kant que permanecerá com os frankfurtianos.Conclui-se, portanto, que a emancipação não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente <strong>da</strong> aquisição<strong>de</strong> conhecimento, não é pela transmissão <strong>de</strong> conteúdo que o esclarecimentoacontece, o aluno po<strong>de</strong> adquirir conhecimento e não adquirir esclarecimento.Contudo, ao analisar a interpretação feita por Adorno sobre a <strong>de</strong>finição kantiana,po<strong>de</strong>-se dizer que a emancipação é um processo que faz parte <strong>da</strong> formação doindivíduo. A emancipação se dá quando a vonta<strong>de</strong> própria se forma, quando o agir éresultado do pensamento particular, assim, o esclarecimento é o pensamentoracional in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> intervenção externa que resulta em ação individual, própriado indivíduo.A Educação Musical, como forma <strong>de</strong> emancipação, tem como tarefa oesclarecimento, concretizando-se, portanto, na educação crítica. Isso exclui qualquerprática meramente repetitiva ou inconsciente como o cantar por cantar e/ou aaudição musical irresponsável. Se a emancipação é um processo, este <strong>de</strong>ve serformado por práticas esclarecedoras, é no pensar sobre a música que se ouve, norefletir sobre música que se canta, que se adquire o esclarecimento. Educarmusicalmente, a fim <strong>de</strong> tornar os indivíduos esclarecidos é <strong>de</strong>spertar os ouvintesmusicais a <strong>da</strong>rem atenção ao que ouvem, no próprio ato <strong>de</strong> ouvir. ADORNO em,O Fetichismo na música e a Regressão <strong>da</strong> Audição (HORKHEIMER; ADORNO,1989), analisando a <strong>de</strong>cadência do gosto musical e o papel assumido pela músicafrente ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> Indústria Cultural, faz a seguinte afirmação:Se ninguém é mais capaz <strong>de</strong> falar realmente, é óbvio também que já ninguém écapaz <strong>de</strong> ouvir. Um especialista americano em propagan<strong>da</strong> radiofônica – que utilizacom predileção especial a música – manifestou ceticismo com respeito ao valor <strong>de</strong>tais anúncios, alegando que os ouvintes apren<strong>de</strong>ram a não <strong>da</strong>r atenção ao queouvem, mesmo durante o próprio ato <strong>da</strong> audição. Tal compreensão é contestávelquanto ao valor publicitário <strong>da</strong> música. Mas é essencialmente ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira quando setrata <strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong> própria música.


69Observa-se a preocupação <strong>de</strong> Adorno em relação ao estado em que a músicase encontrava e, mais ain<strong>da</strong>, à postura <strong>da</strong>s pessoas diante <strong>da</strong> música. Queixas queain<strong>da</strong> nos trazem inquietações, pois a audição tornara-se algo mecânico, a música –massifica<strong>da</strong> – é, ain<strong>da</strong> hoje, ouvi<strong>da</strong> com <strong>de</strong>satenção. Tal crítica nos permite inferirque somente por meio <strong>da</strong> educação se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar os indivíduos a uma audiçãomais atenta, <strong>de</strong> modo que ela própria não reproduza os mecanismos <strong>de</strong>sseprocesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração.O educador musical tem sob sua responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> a formação musical doaluno, e é através <strong>de</strong>le que as práticas comuns <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, como a falta <strong>de</strong>reflexão e a audição musical inconsciente, po<strong>de</strong>m ser transforma<strong>da</strong>s emesclarecimento e critici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto, a mera transmissão <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>técnica musical não garante o esclarecimento: saber tocar um instrumento musicalou ler partitura não significa ser esclarecido, pois até mesmo as aulas <strong>de</strong> artesvolta<strong>da</strong>s para os produtos <strong>da</strong> Indústria Cultural, po<strong>de</strong>m se tornar um ambienteemancipatório. Salienta-se que o <strong>de</strong>terminante aqui é a atuação do professor.A prática docente com o propósito <strong>de</strong> esclarecer <strong>de</strong>ve estar permea<strong>da</strong> poratitu<strong>de</strong>s que promovam o esclarecimento, levar os alunos a refletir sobre as músicasque ouvem, conhecendo outros estilos musicais, tornando-os capazes <strong>de</strong> agir por sipróprios, saindo <strong>de</strong> sua menori<strong>da</strong><strong>de</strong> e passando a uma maiori<strong>da</strong><strong>de</strong>, em que a escutamusical seja seletiva e que haja a compreensão dos artifícios <strong>da</strong> indústriafonográfica usados para manipulação dos gostos musicais, tendo assim, o educandoin<strong>de</strong>pendência para distinguir entre a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira e a falsa obra <strong>de</strong> arte, isso é umaprática docente emancipatória.Entretanto, a prática docente é reflexo <strong>da</strong> formação docente, ou seja,primeiramente, é necessário que haja esclarecimento por parte do próprio professore, conseqüentemente, ele será agente <strong>de</strong> esclarecimento em sua prática educativa.Ao contrário, como po<strong>de</strong>rá um educador proporcionar aos seus alunos um ambienteesclarecedor se nem mesmo ele chegou à maiori<strong>da</strong><strong>de</strong>, como <strong>de</strong>fine Kant.A formação docente centra<strong>da</strong> na transmissão <strong>de</strong> conhecimento, sempretensões críticas, acaba por formar educadores não-críticos e incapazes <strong>de</strong> agirassim na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, portanto, impossibilitados <strong>de</strong> formar ci<strong>da</strong>dãos críticos. Por isso,a gran<strong>de</strong> preocupação com a formação do educador musical.


70A educação crítica, portanto, <strong>de</strong>ve visar a autonomia, nela, o aluno não sóapren<strong>de</strong> a teoria, mas, junto <strong>de</strong>la, também a prática. No entanto, o que há <strong>de</strong>relevante nessa afirmação é que mesmo que o professor ensine o conteúdo,relacionando-o sempre com a prática, a educação emancipatória só irá seconcretizar, realmente, quando o aluno souber servir-se <strong>de</strong> seu próprioconhecimento, colocando-o em prática.A ação educativa do professor po<strong>de</strong>rá instigar à emancipação, quando elepossibilitar ao aluno a ação individual e consciente, <strong>de</strong> tal forma que o aluno tenhaconhecimento e aptidão para agir in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente.O professor se posiciona diante <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>safio como autori<strong>da</strong><strong>de</strong> e essarelação com a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> situa-se no processo <strong>de</strong> socialização <strong>da</strong> criança ain<strong>da</strong> naprimeira infância, quando a figura i<strong>de</strong>al é internaliza<strong>da</strong> pela criança, comoautori<strong>da</strong><strong>de</strong>, e, posteriormente, essa figura i<strong>de</strong>al é <strong>de</strong>sconstruí<strong>da</strong> na compreensão <strong>da</strong>real, pois não correspon<strong>de</strong> ao eu i<strong>de</strong>al internalizado, nessa <strong>de</strong>sconstrução, a criançatorna-se consciente, emancipa<strong>da</strong>.A relação com a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> se dá na família mediante a figura paterna ematerna e, posteriormente, com outras autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, tornando possível ai<strong>de</strong>ntificação. “Penso que o momento <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> seja pressuposto como ummomento genético pelo processo <strong>de</strong> emancipação”. (ADORNO, 2000, p.177)Dessa forma, as posições assumi<strong>da</strong>s pelo professor perante o aluno e arelação estabeleci<strong>da</strong> entre ambos, são fatores <strong>de</strong>terminantes no processo formativo.Isso nos remete à idéia mestra <strong>de</strong> todo o projeto mo<strong>de</strong>rno: formar o homem ci<strong>da</strong>dão,livre e auto-<strong>de</strong>terminado, para isso, é preciso livrar o homem <strong>de</strong> sua menori<strong>da</strong><strong>de</strong>,como já vimos nos estudos <strong>de</strong> Kant, livrar o homem <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> esclarecimento, <strong>da</strong>incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer bom uso <strong>da</strong> razão.A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> caminhar por novos caminhos existe, a práxis pe<strong>da</strong>gógicaemancipatória dos educadores musicais, como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> plausível, traz apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conversão <strong>da</strong> semiformação em formação, <strong>da</strong> pseudoindividuali<strong>da</strong><strong>de</strong>em individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e portanto a emancipação, o esclarecimento, acultura. Como afirma (ZUIN,1999, p. 158):É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que o resgate <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s emancipatórias <strong>da</strong> formação não égarantido, como bem disse Adorno, através <strong>da</strong> mera freqüência em cursos <strong>de</strong> cultura


71geral que primam por reforçar o divórcio entre a chama<strong>da</strong> produção cultural e ascondições materiais que engendram a própria cultura.To<strong>da</strong>via, a construção <strong>de</strong> uma proposta educacional firma<strong>da</strong> numa concepçãocrítica, po<strong>de</strong>ria colaborar para que o hiato entre o conceito e a práxis emancipadoranão seja tão gran<strong>de</strong>. Não se trata somente <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> escrever, mas <strong>de</strong> ummodo <strong>de</strong> pensar a educação e agir em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.A práxis pe<strong>da</strong>gógica na Educação musical, não po<strong>de</strong> mais se aquietar diante<strong>da</strong> dissimulação do processo ‘formativo’ atual, que se compraz com a semicultura enão à formação emancipatória. Contemplam-se, portanto, os subsídios <strong>da</strong> chama<strong>da</strong>teoria crítica apresentados anteriormente, principalmente os <strong>de</strong> Adorno, os quaisestabelecem um projeto <strong>de</strong> educação que assume como compromisso central a suaauto-crítica.Não há como negar: à educação cabe papel fun<strong>da</strong>mental nesse projeto, épor meio <strong>de</strong>la que se conquistou a <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> cultura, e assim, o homem foilibertado <strong>da</strong>s amarras tradicionais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Neste novo contexto, o qual sechama <strong>de</strong> progresso, mas que na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, é a instrumentalização <strong>da</strong> razão, apseudo-individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a semiformação, que a reflexão crítica surge como toma<strong>da</strong><strong>de</strong> consciência dos mecanismos ocultos trazidos pela Indústria Cultural e ponto <strong>de</strong>parti<strong>da</strong> para a reinvenção <strong>da</strong> utopia que po<strong>de</strong>rá conduzir o homem por novoscaminhos.3.4 A MUSICALIZAÇÃO NOS HORIZONTES DA TEORIA CRÍTICANas análises realiza<strong>da</strong>s até aqui, compreen<strong>de</strong>-se que a escola é o local on<strong>de</strong>a educação musical po<strong>de</strong> suplantar a <strong>de</strong>bilitação <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> própria música. Épor meio <strong>da</strong> educação que se tem a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reverter o quadro <strong>de</strong><strong>de</strong>cadência musical, no entanto, os mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>generação afetam a própriaeducação, e a instituição chama<strong>da</strong> escola transforma-se em ambiente propício aessa massificação <strong>da</strong> música, como analisa Adorno: “Nas queixas usuais acerca <strong>da</strong><strong>de</strong>cadência do gosto, há certos motivos que se repetem constantemente. Taismotivos estão presentes nas consi<strong>de</strong>rações rançosas e sentimentais <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s àatual massificação <strong>da</strong> música, consi<strong>de</strong>rando-a como <strong>de</strong>generação” (HORKHEIMER;ADORNO, 1986, p. 80). O anseio por uma educação esclarecedora, remete a um


72ambiente escolar favorável à auto-crítica e à constante reflexão crítica sobre seuespaço educativo.Como afirma Horn (2005, p.25)Destarte, a escola <strong>de</strong>ve realizar essa dupla tarefa: propiciar ao jovem o crescimentointelectual – relativo ao domínio do conhecimento; e <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> – por modosdiversos – para a expansão <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> nas direções: intelectual, com acompreensão <strong>de</strong> conceitos; ética, relativa aos valores orientadores <strong>da</strong> conduta;consciência estética, a qual se manifesta na estesia; e consciência social – cujosentido é a utilização <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> para ajuizar valores políticos, isto é,estabelecer relações sociais. Desenvolver a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> significa trilharprogressivamente o processo <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong> sentidos.Embora pareça contradição, não é nas Escolas <strong>de</strong> Música, Institutos eConservatórios, que se encontra a Educação Musical, como a enten<strong>de</strong>mos, isto é, amusicalização. Certamente nestas instituições há uma instrução musical pelosnomes gerais <strong>de</strong> Solfejo ou Teoria Musical (Ritmo, Som, etc.) em que se apren<strong>de</strong>mos fun<strong>da</strong>mentos teóricos <strong>da</strong> ciência musical (valores, notas, escalas, acor<strong>de</strong>s,modos etc). Nessas Escolas, os que têm vocação musical se “a<strong>de</strong>stram” na práticainstrumental. Por vezes, o aluno apren<strong>de</strong> a tocar sem estar apren<strong>de</strong>ndo Música porlhe faltar o <strong>de</strong>senvolvimento prévio do instinto rítmico e do ouvido musical, isto é,sem estar <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente musicalizado, alguns se formam sem ter atingido aver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira Educação Musical, cujas bases sensoriais, físicas e afetivas constituem aArte Musical.A primeira instância escolar, a Educação Infantil, responsabiliza-se pelosprimeiros passos na vi<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>ntil <strong>da</strong> criança, “Além do mais é o momento na vi<strong>da</strong><strong>da</strong> pessoa em que predominam as comunicações interpessoais, a nível familiar,escolar e grupal, que constituem a base primeira do processo formativo-educacional”(PUCCI, 1994, p. 52). Por isso, a musicalização 26 assume função <strong>de</strong>finitiva naformação musical <strong>da</strong>s crianças.Sabe-se que a música está sempre presente na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas e, semdúvi<strong>da</strong>, é uma <strong>da</strong>s mais antigas e valiosas formas <strong>de</strong> expressão <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.26Quando se trata do processo <strong>de</strong> educação musical na educação infantil, é possível e coerente a<strong>de</strong>nominação geral <strong>de</strong> musicalização. O que inclui tanto a aula <strong>de</strong> música quanto to<strong>da</strong> a músicapresente nas aulas . A musicalização é um processo <strong>de</strong> construção do conhecimento pelo qual seapren<strong>de</strong> a ouvir, escutar, perceber, <strong>de</strong>scobrir, imitar, explorar, expressar, criar, sentir e apreciarmúsica.


73Des<strong>de</strong> pequeno, ou até mesmo antes <strong>de</strong> nascer - no útero materno - a criança ésensível ao ambiente sonoro, respon<strong>de</strong>ndo a eles por meio <strong>de</strong> movimentoscorporais, assim, a presença <strong>da</strong> música em diferentes e varia<strong>da</strong>s situações docotidiano fazem com que bebês e crianças iniciem seu processo <strong>de</strong> musicalização<strong>de</strong> forma intuitiva. Trabalhar com a música na Educação Infantil é antes <strong>de</strong> tudo umfazer artístico, é <strong>de</strong>senvolver a sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por um lado, os ganhos que a práticamusical nessa fase proporciona, seja pela expressão <strong>da</strong>s emoções, pelasociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, pela disciplina, pelo <strong>de</strong>senvolvimento do raciocínio, são valiosíssimose são para a vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong>. Por outro lado, se a influência musical exerci<strong>da</strong> sobre oindivíduo, ain<strong>da</strong> na primeira infância, limitar-se à música massifica<strong>da</strong>, aspossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação se encontrarão <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>s.A música presente no cotidiano <strong>da</strong> criança: em seu lar, na escola, na igreja,na rua, em todo o seu convívio social, exerce significativa influência sobre a suaformação. No seu dia-a-dia, ela tem contato com uma gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sons,barulhos <strong>da</strong>s mais diversas formas e estilos a<strong>de</strong>quados ou não a ela: barulhos <strong>de</strong>pequenos objetos, aparelhos domésticos e máquinas; sons e músicas na televisão,no rádio, na escola com a professora e nas brinca<strong>de</strong>iras com os colegas e emocasiões mais diversas: na diversão, na <strong>da</strong>nça, no adormecer... Nesses momentos,acontece a musicalização.Na educação infantil, a música está presente em todos os momentos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aaula <strong>de</strong> música propriamente dita até a escuta <strong>de</strong>satenta do carro <strong>de</strong> som que passaem frente à escola. A musicalização na escola não se limita à aula <strong>de</strong> música, é emto<strong>da</strong> e qualquer experiência musical que ela acontece, <strong>de</strong>ssa forma a musicalização,sobretudo na educação infantil, precisa ter objetivos e metas que favoreçam aformação musical qualifica<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças. No entanto, como é analisado peloReferencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, a música na EducaçãoInfantil tem se restringido a estar a serviço <strong>de</strong> outros ensinos e não <strong>de</strong>la própria: “Amúsica tem sido em muitos casos, suporte para aten<strong>de</strong>r a vários propósitos como aformação <strong>de</strong> hábitos, atitu<strong>de</strong>s e comportamentos (...); a realização <strong>de</strong>comemorações relativas ao calendário <strong>de</strong> eventos do ano letivo (...); a memorização<strong>de</strong> conteúdos (...) traduzidos em canções.” (BRASIL, 1998b, p.47).


74De forma mecânica e estereotipa<strong>da</strong>, a música insere-se na sala <strong>de</strong> aula <strong>da</strong>Educação Infantil, principalmente através <strong>da</strong> TV, do Rádio e <strong>de</strong> CD’s trazidos pelascrianças ou até mesmo pelo próprio educador, reproduzindo sempre os mesmospadrões musicais medíocres, sem na<strong>da</strong> acrescentar às crianças que ouvemrepeti<strong>da</strong>mente, tornando-se ouvintes passivos e alienados.Entretanto, qual seria a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> música na EducaçãoInfantil? A essa pergunta, respon<strong>de</strong>-se: a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> música naeducação infantil não é transmitir a técnica musical, mas <strong>de</strong>senvolver no aluno aaudição atenta e reflexiva, o gosto por esta música com tantos significados, alinguagem musical, a expressão através <strong>de</strong>la, a sensibilização ao som, o domínio doritmo, além <strong>de</strong> possibilitar o acesso do educando ao imenso patrimônio musical quea humani<strong>da</strong><strong>de</strong> vem construindo.Sny<strong>de</strong>rs (1999, p. 170), em seu livro A Escola po<strong>de</strong> Ensinar as Alegrias <strong>da</strong>Música? faz uma afirmação muito relevante em relação ao caráter do ensino <strong>da</strong>música:O ensino <strong>da</strong> música é o mais <strong>de</strong>sesperado, porque conta muito pouco para o futuroprofissional e escolar dos alunos em seu conjunto. E é o mais carregado <strong>de</strong>esperança: o professor não tem <strong>de</strong> passar aos alunos o amor pela música, pois semdúvi<strong>da</strong>, nenhuma geração <strong>de</strong> jovens viveu tão musicalmente como a <strong>de</strong> agora; cabea ele ‘simplesmente’ estabelecer a comunicação entre a música ‘<strong>de</strong>les’ e as outras”A musicalização nos horizontes <strong>da</strong> Teoria Crítica, não tem como objetivo ofuturo profissional <strong>da</strong>s crianças e nem apenas incentivá-las a tocar um instrumento,a ler partitura, ou apreciar um concerto, mas favorecer um ambiente sonorodiferenciado <strong>da</strong>quele a que são submeti<strong>da</strong>s e no qual seus ouvidos são<strong>de</strong>seducados.Nas análises feitas nos capítulos anteriores, nota-se as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aTeoria crítica contribuir para a construção <strong>de</strong> uma Teoria Pe<strong>da</strong>gógica. Autores comoGiroux (1986 e 1987), Freitag (1987 e 1990), Markert (1991), Schmied-kowarzik(1988), Zuin (1992) e Pucci (1994) estu<strong>da</strong>m estas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Semelhantemente,a seguir, <strong>de</strong>senvolvem-se alguns elementos que apontam nessa direção: umpossível olhar sobre a musicalização na educação infantil pelos horizontes <strong>da</strong> teoriacrítica.


75Visando a integração entre teoria e prática, a fim <strong>de</strong> transformar as estruturaseducacionais que se solidificaram nas escolas e/ou centros <strong>de</strong> Educação Infantil éque se apresentam as análises que se seguem.3.4.1 A Conscientização <strong>da</strong> Criança volta<strong>da</strong> para a Boa MúsicaUma <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> musicalização, a ser realiza<strong>da</strong> naEducação Infantil nos horizontes <strong>da</strong> Teoria Crítica é a conscientização <strong>da</strong> criançavolta<strong>da</strong> para a boa música.A criança apren<strong>de</strong> por observação, imitação e experimentação, <strong>de</strong> tal formaque o repertório musical apresentado a ela, já na primeira infância, seráintuitivamente apreendido. A escola precisa posicionar-se na contra-corrente <strong>da</strong>Indústria Cultural, estabelecendo um aprendizado musical por meio <strong>da</strong> boa música.Para isso, a seleção musical estará ao cargo do educador, que via análise criteriosa<strong>da</strong>s músicas que são canta<strong>da</strong>s, toca<strong>da</strong>s e ouvi<strong>da</strong>s na escola, optará por aquelas queproporcionarão um ambiente sonoro favorável ao aprendizado.Tendo como ver<strong>da</strong><strong>de</strong> a afirmação <strong>de</strong> que “Nem to<strong>da</strong>s as crianças nascemobrigatoriamente com dotes artísticos, mas to<strong>da</strong>s têm direito ao conhecimento <strong>da</strong>arte e a serem <strong>de</strong>sperta<strong>da</strong>s e encaminha<strong>da</strong>s, por cui<strong>da</strong>dos especiais neste sentido”(JEANDOT, 1993, p. 45) ressalta-se a gran<strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s educadormusical. Com o objetivo <strong>de</strong> musicalizar as crianças po<strong>de</strong>-se proporcionar o<strong>de</strong>senvolvendo dos mais diversos aspectos do <strong>de</strong>senvolvimento humano através <strong>da</strong>critici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> escolha do repertório musical que disponibilizará às crianças.Os frankfurtianos, principalmente Adorno, fazem inúmeras inflexões sobre aquali<strong>da</strong><strong>de</strong> musical que norteiam a escolha do repertório musical. Em O Fetichismona Música e a Regressão <strong>da</strong> Audição, o autor distingue a música ligeira <strong>da</strong> músicaséria, afirmando que essas duas esferas <strong>da</strong> música caminham numa contradiçãorecíproca e o que as separa é a linha do consumo: ”A produção musical avança<strong>da</strong>se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntizou do consumo (...) o mais conhecido é o mais famoso, e tem maissucesso. Conseqüentemente, é gravado e ouvido sempre mais, e com isso se tornaca<strong>da</strong> vez mais conhecido” (HORKHEIMER; ADORNO, 1989, p. 85) Entretanto, as


76músicas que se tornam objeto <strong>de</strong> consumo, para Adorno a música ligeira, em suamaioria, não são arte musical.A música ligeira é aquela <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> ao consumo e que “... proporciona, sim,entretenimento, atração e prazer, porém apenas para ao mesmo tempo recusar osvalores que conce<strong>de</strong>”. (i<strong>de</strong>m, p. 80). Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, há uma ilusória convicção <strong>da</strong>superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> música ligeira em relação à música séria, isso acontece pelapassivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s massas, que apreciam a música ligeira e só tomam conhecimento<strong>da</strong> séria por motivos <strong>de</strong> prestígio social. A função propagandística presente namúsica ligeira, ofusca-se, em se tratando <strong>de</strong> música séria, mediante essa funçãoacontece o mecanismo <strong>de</strong> difusão em que a produção confere à música ligeira ocaráter fetichista, além disso, ela é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> inferior em sua composição: “Comefeito, as formas dos sucessos musicais são tão rigi<strong>da</strong>mente normaliza<strong>da</strong>s epadroniza<strong>da</strong>s, até quanto ao número <strong>de</strong> compassos e à sua duração, que em<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> peça isola<strong>da</strong> nem sequer aparece uma forma específica”. (i<strong>de</strong>m, p. 96)Exclui-se, portanto, do repertório musical <strong>de</strong>stinado à musicalização infantil a músicafetichiza<strong>da</strong>: <strong>de</strong> função propagandística, <strong>de</strong> característica <strong>de</strong> mercadoria.No texto Sobre a Música Popular, Adorno e Simpson analisam aspeculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> música séria e <strong>da</strong> música comercial, conferindo àquela acontribuição positiva quanto à experienciação <strong>de</strong> conteúdos formativos e a esta oespírito objetivo negativo, a semicultura. Na composição <strong>da</strong> música não-séria, hásempre um <strong>de</strong>terminado esquema-padrão <strong>de</strong> fácil memorização, que facilita aconfortável sensação <strong>de</strong> que algo sempre soa familiar, não há introdução <strong>de</strong> na<strong>da</strong><strong>de</strong> novo, já na música séria, o todo é composto <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes imanentes a to<strong>da</strong> peçamusical:... em Beethoven e na boa música em geral- nós não estamos nos referindo aqui àmá música séria, que po<strong>de</strong> ser tão rígi<strong>da</strong> e mecânica quanto a música popular – o<strong>de</strong>talhe contém virtualmente o todo e leva à exposição do todo, ao mesmo tempo emque é produzido a partir <strong>da</strong> concepção do todo. Na música popular, a relação éfortuita. O <strong>de</strong>talhe não tem nenhuma influência sobre o todo, que aparece como umaestrutura extrínseca. Assim, o todo nunca é alterado pelo evento individual e porisso, permanece como que à distância, imperturbável, como se ao longo <strong>da</strong> peça nãose tomasse conhecimento <strong>de</strong>le. Ao mesmo tempo, o <strong>de</strong>talhe é mutilado por umprocedimento que jamais po<strong>de</strong> influenciar e alterar, <strong>de</strong> tal modo que ele permaneceinconseqüente. Um <strong>de</strong>talhe musical impedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se torna-se umacaricatura <strong>de</strong> suas próprias potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. (ADORNO, 1996, p. 119)


77Ressalta-se, <strong>de</strong>sta análise, que a música comercial limita a sua estrutura apoucos tons, nas palavras <strong>de</strong> Adorno a sua harmonia também é intencionalmenteerrônea, do mesmo modo que uma criança apren<strong>de</strong>ndo a falar não pronuncia to<strong>da</strong>sas letras do alfabeto, <strong>de</strong>staca-se também a proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a estruturaestan<strong>da</strong>rtiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> música popular e o comportamento infantilizado do pseudoindivíduo.O esquema-padrão <strong>da</strong> música popular, repetido inúmeras vezes relacionasecom ao pedido compulsivo <strong>da</strong> criança por algo que necessite. “Essa situaçãoseria risível, caso não se revelasse dramática”. (ZUIN, 1999, p. 61) Diante <strong>de</strong>ssascaracterísticas <strong>da</strong> música popular, analisa<strong>da</strong>s por Adorno, opta-se, portanto, pelamúsica séria, no trabalho <strong>da</strong> educação musical, que por não ser mecânica erepetitiva, contribui no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> audição musical mais aprimora<strong>da</strong>.Acredita-se que por meio <strong>da</strong> boa música é possível realizar o objetivo central<strong>da</strong> educação musical que é a educação pela música, englobando vários aspectos do<strong>de</strong>senvolvimento humano. Entre esses, cita-se:a) Desenvolvimento <strong>da</strong> manifestação artística e expressiva <strong>da</strong> criança. Aeducação musical preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver na criança uma atitu<strong>de</strong> positivapara esse tipo <strong>de</strong> manifestação artística, capacitando-a para expressar seussentimentos <strong>de</strong> beleza e captar outros sentimentos, inerentes a to<strong>da</strong> criaçãoartística. Assim como se utiliza <strong>da</strong> palavra ou dos gestos para manifestarsuas idéias, tem-se como meio <strong>de</strong> expressão mais uma forte ferramenta naconstrução <strong>de</strong> seus argumentos - a música.b) Desenvolvimento do sentido estético e ético. Durante o processo <strong>de</strong> criaçãoe <strong>de</strong>puração dos elementos musicais, ou mesmo no processo <strong>de</strong> expressão,busca-se, aí, o equilíbrio e a crítica sobre o conceito do belo, do pleno, dosatisfatório. A influência <strong>da</strong> Indústria Cultural nas campanhas <strong>de</strong> mídiatrabalha muito fortemente sobre o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> julgamento e <strong>de</strong>cisão,esquecendo se algo, é realmente bom, ou bonito ou dispensável,simplesmente é aceito. Por meio <strong>da</strong> música, com seus valores estéticosintrínsecos, e <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s volta<strong>da</strong>s especialmente para o <strong>de</strong>senvolvimentodo valor estético, preten<strong>de</strong>-se resgatar o sentido do belo, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>escolha intermedia a busca <strong>da</strong> estética, e esta exteriorização é a base <strong>da</strong>ética.


78c) Desenvolvimento <strong>da</strong> consciência social e coletiva/ética. Quando a criançacanta, ou está envolvi<strong>da</strong> com papéis <strong>de</strong> interpretação sonora emcoletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, sente-se integra<strong>da</strong> em um grupo e adquire a consciência <strong>de</strong>que seus componentes são igualmente importantes. Compreen<strong>de</strong> anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperação frente aos outros, pois <strong>da</strong> conjunção <strong>de</strong>esforços <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá o alcance do objetivo comum. Quando estu<strong>da</strong> músicaem conjunto, torna-se mais comunicativa e convive o tempo inteiro comregras <strong>de</strong> socialização. Existe a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> respeitar o tempo e avonta<strong>de</strong> do outro, criticar <strong>de</strong> forma construtiva, ter disciplina, ouvir e interagircom o grupo.d) Desenvolvimento <strong>da</strong> aptidão inventiva e criadora. A educação pelas artesproporciona à criança a <strong>de</strong>scoberta <strong>da</strong>s linguagens sensitivas e do seupróprio potencial criativo, tornando-a mais capaz <strong>de</strong> criar, inventar ereinventar o mundo que a circun<strong>da</strong>, e, como se sabe, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> éessencial em to<strong>da</strong>s as situações, pois uma criança criativa raciocina melhore inventa meios <strong>de</strong> resolver suas próprias dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ela se envolveintegralmente com a música que a modifica constantemente, exercitandosua criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e transformando-a pouco, a pouco numa respostaestrutura<strong>da</strong> <strong>de</strong> acordo com seus objetivos. Por consi<strong>de</strong>rar que a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>é ilimita<strong>da</strong> no ser humano, atualmente, por conta do crescimentotecnológico e <strong>da</strong> busca <strong>de</strong> soluções ca<strong>da</strong> vez mais aprimora<strong>da</strong>s para osproblemas vividos pelo homem atual, busca-se incansavelmente o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> imaginação humana, semente <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a evolução.e) Busca do equilíbrio emocional. Para os gregos, a educação musicalaprimorava o caráter e tornava úteis os homens em palavras e ações e osestudos <strong>de</strong> música começavam na infância e se estendia por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>.Também o jogo musical, que não se liga a interesses materiais oucompetitivos, mas absorve a criança, estabelece limites próprios <strong>de</strong> tempo eespaço, cria a or<strong>de</strong>m e equilibra ritmo com harmonia.f) Reconhecimento dos valores afetivos. Para Piaget (1974), o afeto é oprincipal impulso motivador dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento mental <strong>da</strong>criança. Com a música e com seu processo <strong>de</strong> criação, torna-se aqui a


79criança o criador, o gerador, formando um eterno vínculo com sua produçãoou autoria. Esse é fator positivo para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua auto-estimae i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> suas motivações.O professor <strong>de</strong> educação infantil precisa, além <strong>de</strong> ser o motivador,incentivador e estimulador <strong>de</strong> suas aulas como educador musical, sempre utilizar amúsica como um instrumento do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> criança, <strong>de</strong> suas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s,nos mais variados aspectos, envolvendo, em seus múltiplos aspectos, o ritmo, osom, a audição, a voz, a execução instrumental, a recreação, as <strong>da</strong>nças. Enten<strong>de</strong>-seque a música motiva a agradável aprendizagem <strong>da</strong>s diversas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do currículoescolar, atingindo objetivos educacionais que, por outros processos, seriamdificilmente alcançados. Por esta razão, nem sempre a apreciação pura e simples,<strong>de</strong> maneira passiva, será o melhor meio <strong>de</strong> aproximar as crianças <strong>da</strong> música, assimsendo, é necessário reconhecer os interesses dos alunos e, partindo <strong>da</strong>í egra<strong>da</strong>tivamente pela ação reflexiva, <strong>de</strong>ixá-las evoluir pelo exemplo, pela<strong>de</strong>monstração e, principalmente, pela ação, até atingir o gosto e o prazer <strong>de</strong>ssaação.3.4.2 A Função Educativa do refletir para a formação <strong>de</strong> sentido críticoNo histórico realizado no primeiro capítulo, observou-se que o ensino <strong>da</strong>música evoluiu no mesmo sentido <strong>da</strong>s teorias pe<strong>da</strong>gógicas. O aluno não é mais vistocomo o receptor <strong>de</strong> conteúdo como nos antigos conservatórios, a música tampoucoficou restrita a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> lúdica. São ca<strong>da</strong> vez mais freqüentes projetos em que osalunos são estimulados a distinguir uma linguagem diferente, para, só mais tar<strong>de</strong>,conhecer suas características formais.Nas últimas déca<strong>da</strong>s, a Educação Musical vem, principalmente no Brasil,apresentando um caminho <strong>de</strong>finido: o <strong>de</strong> educar pela Música, com o objetivo <strong>de</strong>contribuir na formação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alunos pelaampliação <strong>da</strong> cultura, enriquecimento <strong>da</strong> inteligência e a vibração <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>musical, mais ain<strong>da</strong>, educar musicalmente, formando um público esclarecido esensível capaz <strong>de</strong> ouvir e apreciar obras <strong>de</strong> arte sonoras <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as épocas eorigens, favorecendo a eclosão <strong>de</strong> revelações e aptidões musicais.


80De acordo com Howard (1984), autor <strong>de</strong> A música e a criança, educarsignifica <strong>de</strong>spertar, e, <strong>de</strong>spertar nunca é um empreendimento precoce, sendoindispensável entregar-se a ela, sistematicamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>,a fim <strong>de</strong> que a criança, mais tar<strong>de</strong>, veja-a como uma tendência natural <strong>de</strong> seu ser.Acredita-se que qualquer pessoa possa ser alfabetiza<strong>da</strong> musicalmente, masantes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r "ler" uma partitura, é preciso que a música toque o coração. Em todoesse <strong>de</strong>senvolvimento artístico, objetiva-se que o aluno tenha seu próprio gostomusical, já que o que lhe é imposto pela mídia po<strong>de</strong> ser analisado e criticado, não se<strong>de</strong>ixando influenciar pela indústria cultural. É pela reflexão que se resgata adimensão artística que vai além do círculo <strong>da</strong> mercadoria, do que é repetitivo.Adorno resgata a função educativa do refletir no texto Educação apósAuschwitz, em que a preocupação com o retorno à barbárie o faz conferir àeducação o potencial pe<strong>da</strong>gógico inestimável: “A educação só teria pleno sentidocomo educação para a auto-reflexão crítica”.(1986, p. 35). As medi<strong>da</strong>s educativas,para o autor, por mais eficientes que sejam não acabarão com os i<strong>de</strong>ólogos <strong>da</strong>barbárie, mas através do esclarecimento, se po<strong>de</strong> modificar a atitu<strong>de</strong> dos quepraticam os atos bárbaros. Nesse sentido, a luta pela emancipação tem comoelemento fun<strong>da</strong>mental a auto-reflexão crítica.De acordo com Pucci (1994, p. 95) a “Teoria Crítica refere-se à críticaenquanto processo autoconsciente e impõe uma necessária e radical vinculação <strong>da</strong>teoria à prática, com vistas à transformação <strong>da</strong>s estruturas sociais vigentes.” A autoreflexãocrítica leva ao esclarecimento em relação à exploração e à subordinaçãocapitalista e, conseqüentemente, orienta a ação transformadora exigi<strong>da</strong> por elamesma: “Ela se tornaria educativa em dois sentidos: no esclarecimento dosmecanismos <strong>de</strong> alienação e <strong>de</strong> manipulação i<strong>de</strong>ológica presentes no sistema, e narevelação <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s não intencionais que po<strong>de</strong>riam conter ‘imagens fugidias’ <strong>de</strong>uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> diferente” (i<strong>de</strong>m, p. 48)A função educativa do refletir é possível até mesmo na educação infantil, apartir do momento em que a criança manifesta suas vonta<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sejos e gostos, oeducador musical po<strong>de</strong> mediar a auto-reflexão sobre ambos. A intenção <strong>da</strong>mediação educativa entre a criança e a música não tem objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar acriança que tipo <strong>de</strong> música <strong>de</strong>ve gostar, ao contrário, essa mediação <strong>de</strong>ve levar as


81crianças a um repertório mais crítico, para, então, optarem pela música que queremou não ouvir, isso é educativo, é formativo, é musicalização. A criança musicaliza<strong>da</strong>é melhor capacita<strong>da</strong> para o exercício <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> percepção e <strong>da</strong> crítica,torna-se menos vulnerável aos assédios <strong>da</strong> Indústria Cultural.O esclarecimento sobre os mecanismos <strong>de</strong> alienação e <strong>de</strong> manipulaçãopresentes na indústria musical e a revelação <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s sobre uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> quepo<strong>de</strong>ria ser diferente, são ações educativas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong> atuação do educador.To<strong>da</strong> e qualquer ação educativa é formativa, no entanto, essa ação formação po<strong>de</strong>transformar-se em semiformação, se não estiver alicerça<strong>da</strong> nos pressupostos que aorientem domo formação emancipatória. A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formar o sentido crítico,nas crianças, está <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> na função educativa do refletir, presente na açãope<strong>da</strong>gógica do educador. Conseqüentemente, retorna-se a crítica sobre a formaçãodo educador para tal ação pe<strong>da</strong>gógica, formação essa que, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> nospressupostos teóricos necessários à formação musical crítica do próprio educador,conseqüentemente favorecerá a ação pe<strong>da</strong>gógica esclarecedora <strong>de</strong>ste com os seusalunos.A formação do pe<strong>da</strong>gogo, a partir <strong>da</strong> Proposta Pe<strong>da</strong>gógica do Curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia analisa<strong>da</strong> anteriormente, não apresenta fun<strong>da</strong>mentação para a funçãoeducativa <strong>de</strong> formação do sentido musicalmente crítico dos alunos, pois, a quaseausência <strong>da</strong> preocupação com a formação musical <strong>de</strong>ste profissional revela que aproposta não leva em conta a importância do trabalho docente realizado pelope<strong>da</strong>gogo na educação infantil, diante <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação através e pela<strong>da</strong> música. Salienta-se, então, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> inserir na proposta pe<strong>da</strong>gógica doCurso, a fun<strong>da</strong>mentação teórica e musical, para que pela formação musical críticado próprio educador se torne possível a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> postura dos educadoresmusicais diante <strong>da</strong> música comercial que se insere no ambiente educativo, a escola.Desta forma, o educador infantil que em sua formação não adquiri conhecimentomusical, ou ain<strong>da</strong>, nem é educado musicalmente, provavelmente exercerá umaeducação reprodutiva, volta<strong>da</strong> para a semicultura, que conseqüentemente resultarána semiformação do indivíduo. Em contra parti<strong>da</strong>, o Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, levandoem conta a atuação <strong>de</strong>ste profissional na educação em geral, mas principalmente naeducação infantil, <strong>de</strong>ve formá-lo educador musical, com conhecimento <strong>da</strong> linguagem


82musical e esclarecimento sobre a produção musical alienante, capacitando-o a atuarna conscientização <strong>da</strong> criança volta<strong>da</strong> para a “Boa Música”, sensibilizando-o emrelação ao repertório musical que apresentará às crianças, através <strong>da</strong> análisecriteriosa <strong>da</strong>s músicas que são canta<strong>da</strong>s, toca<strong>da</strong>s e ouvi<strong>da</strong>s na escola, sabendooptar por aquelas que proporcionarão um ambiente sonoro favorável aoaprendizado, e não somente isso, mas também <strong>de</strong>senvolvendo no futuro educadora auto-reflexão crítica sobre sua própria práxis pe<strong>da</strong>gógica a fim <strong>de</strong> que sejaemancipadora.


CONSIDERAÇÕES FINAISNosso princípio básico sempre foi:pessimismo teórico, e otimismo prático.(Horkheimer)Este estudo sobre a educação musical, que teve como percurso uma rápi<strong>da</strong>passagem pelas origens <strong>da</strong>s práticas musicais e <strong>de</strong> seu ensino, prosseguindo rumoà compreensão histórica <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> música na educação e à exploração umpouco mais ampla a respeito <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> ensino que, hoje, concretizam-se nasocie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> pelas relações <strong>de</strong> consumo, sobretudo a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> aura naarte produzi<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s regras <strong>da</strong> Indústria Cultural e, chegando, por fim, a umaanálise <strong>da</strong> formação docente para uma práxis emancipatória <strong>da</strong> educação musicalna educação infantil, teve como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> algumas inquietações a respeito<strong>da</strong>s práticas adota<strong>da</strong>s em relação ao espaço ocupado pela música no ambienteescolar.A educação musical, presente na escola, é analisa<strong>da</strong>, primeiramente, comouma questão político-pe<strong>da</strong>gógica, pois a sua concretização foi e ain<strong>da</strong> é<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> pelas questões político-educacionais. Na obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong>música e/ou na não-obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma disciplina específica, a influência sobreto<strong>da</strong> e qualquer prática educativa relaciona<strong>da</strong> à música na escola, vem,primeiramente, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> nas propostas educacionais elabora<strong>da</strong>s pelosgovernos e, essas se fun<strong>da</strong>mentam em pressupostos teóricos que norteiam to<strong>da</strong>proposta e estabelecem o ensino que se preten<strong>de</strong> realizar.To<strong>da</strong> prática educativa parte <strong>de</strong> uma concepção prévia <strong>de</strong> educação. Nahistória <strong>da</strong> educação musical, o conceito <strong>de</strong> educação esteve ligado à diferenciação<strong>de</strong> classe social, <strong>de</strong> forma que a elitização do conhecimento musical há muito temexcluído a gran<strong>de</strong> parte dos estu<strong>da</strong>ntes do privilégio <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r música. Aobrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> música na escola, estabeleci<strong>da</strong> na era Vargas,caracterizou a popularização <strong>da</strong> aprendizagem musical, <strong>de</strong>notando a conceituação<strong>de</strong> educação como um direito <strong>de</strong> todos, no entanto, <strong>da</strong> maneira como se impôs o


84ensino <strong>de</strong> música em to<strong>da</strong>s as escolas do Brasil, o direito <strong>de</strong> todos se caracterizoumais ain<strong>da</strong> num <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos. Mais tar<strong>de</strong>, o agrupamento <strong>da</strong> música às outraslinguagens artísticas, numa mesma disciplina escolar - a Educação Artística –objetivando uma aprendizagem artística integral, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, teve a superficiali<strong>da</strong><strong>de</strong>como característica principal <strong>da</strong> prática educativa realiza<strong>da</strong> pelo professorpolivalente.Na Educação Infantil, o <strong>de</strong>senvolvimento integral <strong>da</strong> criança caracteriza umaeducação global que inter-relacione os conhecimentos. A concepção <strong>de</strong> educaçãoque se consi<strong>de</strong>ra necessária na prática educativa musical, na educação infantil, é aeducação como formação humana. Segundo esta conceituação, a educação musicalna educação infantil, constitui-se num plano integrado às outras linguagens artísticase aos conhecimentos a serem trabalhados com as crianças, no entanto, isso nãosignifica que as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s musicais <strong>de</strong>vam ser postas no plano <strong>da</strong> diversão ou ain<strong>da</strong>sejam realiza<strong>da</strong>s práticas musicais com o fim nelas mesmas, como o cantar apenaspor cantar, ou ouvir músicas para passar o tempo, ou ain<strong>da</strong>, e a mais alienante <strong>de</strong>to<strong>da</strong>s as práticas musicais presentes na escola hoje, ensinar as crianças a cantar e<strong>da</strong>nçar somente as músicas que fazem sucesso nos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>massa.Com a influência <strong>da</strong> idéia e <strong>da</strong> prática do consumo, as pessoas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong>valorizar a música <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e acabam sendo educa<strong>da</strong>s a gostar do produtomusical típico <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, pobre em sua estrutura rítmica e melódica e queincita aos discursos medíocres sobre o sexo, produzindo condições <strong>de</strong>disciplinarização, <strong>de</strong>formando a aprendizagem musical e cumprindo objetivos <strong>de</strong>uma prática educacional reprodutiva.A educação musical tem se realizado em meio a inúmeras dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, aprincipal <strong>de</strong>las é a influência <strong>da</strong> Indústria Cultural na formação humana, os meios <strong>de</strong>comunicação <strong>de</strong> massa têm <strong>de</strong>cidido pelo estilo musical que se ouve <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>escola, <strong>de</strong> maneira que a educação musical assume um papel <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong><strong>de</strong>terminados padrões musicais, contribuindo para a <strong>de</strong>cadência do gosto musical,<strong>de</strong> tal forma que não se possibilite uma educação musical para emancipação.Em relação a essa problemática educacional, investigou-se as possíveiscontribuições dos teóricos <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Frankfurt. Na relação entre


85música, educação e Teoria Crítica situou-se o escopo <strong>de</strong>ste trabalho: pesquisarquais seriam os subsídios teóricos para a construção <strong>de</strong> uma prática pe<strong>da</strong>gógicaancora<strong>da</strong> nesses construtos ou ain<strong>da</strong> para uma concepção educacional que sefun<strong>da</strong>mentasse nas categorias implícitas ou explicitamente pe<strong>da</strong>gógicas <strong>de</strong> autorestais como os citados nesta pesquisa: Horkheirmer, Marcuse e principalmente,Adorno.Em to<strong>da</strong> a análise realiza<strong>da</strong> nesta pesquisa, notou-se que juntamente à críticarealiza<strong>da</strong> pelos frankfurtianos encontra-se também uma atitu<strong>de</strong> que, <strong>de</strong> certa forma,dá a eles o rótulo <strong>de</strong> pensadores pessimistas. Como é observado por Pucci (1994,p. 152) “Talvez a principal pecha, sobretudo em relação aos chamados pensadoresfrankfurtianos clássicos – Adorno, especialmente – refira-se ao seu visceral niilismo,ou seja, modo <strong>de</strong> pensar que conduz ao <strong>de</strong>sespero e à impotência frente àreincidência ca<strong>da</strong> vez maior <strong>da</strong> barbárie”. Em Adorno, ao lado do pessimismoteórico, está presente uma atitu<strong>de</strong> otimista que procura em todos os momentoscompreen<strong>de</strong>r o hiato existente entre os conceitos e o mundo fenomênico, entre ai<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e a sua concreta realização. Como afirmouHorkheirmer após a morte do amigo Adorno, na expressão do que fun<strong>da</strong>mentavasuas analises: “Nosso princípio básico sempre foi: pessimismo teórico, e otimismoprático”. (HORKHEIMER, 1991, p. 70)Nesse mesmo sentido, as análises aqui realiza<strong>da</strong>s muitas vezes expressaramcerta impotência, diante <strong>de</strong> tantas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s a serem enfrenta<strong>da</strong>s pela escola emais ain<strong>da</strong> pelos educadores musicais, no entanto, o otimismo transforma asensação <strong>de</strong> fraqueza em coragem, para agir e transformar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> analisa<strong>da</strong>.Partindo <strong>da</strong> consciência <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um posicionamento por parte doseducadores musicais, em direção a uma nova prática educativa que privilegie o<strong>de</strong>senvolvimento integral <strong>da</strong> criança e que valorize o aprendizado mais crítico etransformador, surge a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se formar educadores musicais capazes <strong>de</strong>tal tarefa.Em to<strong>da</strong> a história <strong>da</strong> educação musical no Brasil, a formação do educadormusical - ou em outras concepções <strong>de</strong> aprendizagem - do professor <strong>de</strong> música, foidireciona<strong>da</strong> ao ensino específico <strong>da</strong> técnica musical, no aprendizado <strong>de</strong> uminstrumento musical ou do próprio canto. No entanto, para a realização <strong>da</strong> práxis


86educativa musical que se consi<strong>de</strong>ra i<strong>de</strong>al na educação infantil, assim como oconhecimento técnico <strong>da</strong> linguagem musical, a formação pe<strong>da</strong>gógica do educadormusical é imprescindível.Elementos indispensáveis na formação do educador musical para atuar naeducação infantil i<strong>de</strong>ntificados, a partir <strong>da</strong>s reflexões críticas sobre a atual situaçãoem que se encontra a prática pe<strong>da</strong>gógica na escola, em tempos <strong>de</strong> industrialização<strong>da</strong> própria arte, foram abor<strong>da</strong>dos no <strong>de</strong>correr do trabalho. Cabe, ain<strong>da</strong> aqui,ressaltar a importância <strong>da</strong> formação tanto pe<strong>da</strong>gógica quanto musical <strong>de</strong>sseprofissional. Parece ser uma preocupação <strong>de</strong>snecessária, em se tratando <strong>de</strong>formação do profissional que atuará como professor e que não só ensinará música,mas educará musicalmente. No entanto, as pesquisas apontaram que há umagran<strong>de</strong> lacuna em ambos os aspectos – pe<strong>da</strong>gógico e musicais - em se tratando dosdois profissionais que se responsabilizam pela educação musical na educaçãoinfantil: o professor <strong>de</strong> música e o pe<strong>da</strong>gogo.Na formação do professor <strong>de</strong> música, nos cursos <strong>de</strong> Licenciatura em Músicae/ou Arte-Educação, i<strong>de</strong>ntifica-se a supervalorização <strong>da</strong>s disciplinas <strong>de</strong> cunhotécnico em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong>s disciplinas <strong>de</strong> cunho pe<strong>da</strong>gógico, e na formação dope<strong>da</strong>gogo, nos cursos <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, i<strong>de</strong>ntifica-se o <strong>de</strong>scaso com a habilitação paratrabalhar com artes e principalmente com a música. Conclui-se que, tanto umaformação quanto a outra apresentam necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas, mas que ambasformando profissionais que atuarão junto a Educação Infantil e terão aresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> formação musical <strong>da</strong>s crianças, <strong>de</strong>vem ser construí<strong>da</strong>s <strong>de</strong>maneira a formar os educadores tanto pe<strong>da</strong>gogicamente quanto musicalmente.To<strong>da</strong>via, a educação musical que se objetiva na educação infantil éresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor unidocente, em sua maioria com formação no Curso<strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia. Pe<strong>da</strong>gogos que, como professores <strong>de</strong> educação infantil, atuam comoeducadores musicais em suas salas <strong>de</strong> aula.Na análise realiza<strong>da</strong> sobre a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia,notou-se uma falha na formação musical <strong>de</strong>sses profissionais. As disciplinas queabrangem os conteúdos relacionados à música são insuficientes para a formaçãodos futuros educadores musicais. Dessa forma, ao se repensar essa proposta <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogos que, se tornarão professores unidocentes na educação


87infantil, <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados os diversos conhecimentos que fazem parte doaprendizado na educação infantil, inclusive a música. A estrutura curricular do Curso<strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>de</strong>ve abranger to<strong>da</strong>s as áreas do conhecimento em que o pe<strong>da</strong>gogoatuará, <strong>de</strong>ssa forma, a carga horária <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> à formação musical do pe<strong>da</strong>gogoprecisa ser amplia<strong>da</strong>, disciplinas que abor<strong>de</strong>m a linguagem musical e seuselementos constituintes são indispensáveis na formação <strong>de</strong>sse profissional, é pormeio do conhecimento musical que o professor po<strong>de</strong>rá tornar reali<strong>da</strong><strong>de</strong> a práxisemancipatória tão sonha<strong>da</strong>.Deseja-se formar ci<strong>da</strong>dãos musicalmente críticos, atuantes, conscientes, masse não houver conhecimento do que a arte musical po<strong>de</strong> proporcionar, se oseducadores não forem, ao menos, alfabetizados musicalmente, não saberãotrabalhar com as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> arte e a formação crítica se tornará ilusória.Portanto, diante do exposto po<strong>de</strong>-se concluir que:a) Há uma significativa diferença entre o ensino <strong>de</strong> música e a educaçãomusical: o que se enten<strong>de</strong> por educação musical vai além do ensino <strong>de</strong>música, propriamente dito, centrado nos elementos <strong>da</strong> teoria musical,ou mesmo, no aprendizado <strong>de</strong> um instrumento musical. O ensino <strong>de</strong>música se caracteriza no enfoque <strong>da</strong> apropriação do conhecimentotécnico, em que o aluno <strong>de</strong>dica-se por apren<strong>de</strong>r a tocar um instrumentomusical e o professor <strong>de</strong>dica-se na tarefa <strong>de</strong> transmitir o conhecimentonecessário para tal aprendizado, comumente presente nas escolas <strong>de</strong>música, mas não a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para salas <strong>de</strong> aula com muitos alunos, poisnecessita <strong>de</strong> um acompanhamento, estritamente, individual. Contudo,ao se tratar <strong>de</strong> educação musical, a diferença centra-se principalmente,no fato <strong>de</strong> que esta é compreendi<strong>da</strong> na ação educativa do professorobjetivando um aprendizado mais amplo <strong>da</strong>s relações entre o aluno e amúsica, por meio <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>scoletivamente, tornando-se possível <strong>de</strong> ser realiza<strong>da</strong> em salas <strong>de</strong> aulado ensino regular. Essa educação, não se restringe ao estudo doselementos <strong>da</strong> linguagem musical ou na transmissão <strong>de</strong> conhecimentotécnico simplesmente, mas, tem como objetivo o <strong>de</strong>senvolvimentointegral do aluno, seja ao tocar um instrumento, ao cantar uma canção,


88ou ain<strong>da</strong> ao ouvir a rádio <strong>de</strong> sucesso. O aluno educado musicalmentetorna-se mais crítico e reflexivo, além <strong>de</strong> conhecedor <strong>da</strong>s linguagensmusicais, ele passa a utilizar-se <strong>de</strong>sse conhecimento paracompreen<strong>de</strong>r melhor o ambiente sonoro que o ro<strong>de</strong>ia. Salienta-se queo principal objetivo <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> música na escola é educar pelamúsica, englobando vários aspectos do <strong>de</strong>senvolvimento humano - amanifestação artística e expressiva; o <strong>de</strong>senvolvimento do sentidoestético e ético; a consciência social e coletiva; a aptidão inventiva ecriadora; a busca do equilíbrio emocional; o reconhecimento dosvalores afetivos, <strong>de</strong>ntre outros – isso é educação musical.b) A Educação musical na Educação Infantil, uma ação formativa: asescolas <strong>de</strong> educação infantil, pré-escolas, creches, centros <strong>de</strong>educação infantil, são instituições nas quais a música está semprepresente. As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s com as crianças nessa faixaetária, comumente, são embala<strong>da</strong>s por uma canção: na hora dolanche, na higiene, na leitura <strong>de</strong> histórias, nas brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>, etambém nas <strong>da</strong>tas comemorativas, que são lembra<strong>da</strong>s ecomemora<strong>da</strong>s com apresentações <strong>de</strong> corais, bandinhas, peças teatraise coreografias. Portanto, a presença <strong>da</strong> música na educação infantiltem função formativa, <strong>de</strong> forma que, qualquer ação do educadorrelaciona<strong>da</strong> à música é ação formativa, no entanto, ela po<strong>de</strong> se fazerreprodutiva ou emancipatória. O ambiente sonoro estabelecido naescola e a forma pela qual a música é apresenta<strong>da</strong> às crianças po<strong>de</strong>m,ou não, ser favorecedores <strong>da</strong> educação musical <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, paratanto, ações estritamente mecânicas, repetitivas não são apropria<strong>da</strong>s.As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s musicais precisam ser criativas, inovadoras, nãorepetitivas,instigantes e críticas, esta última, se concretiza na seleçãodo repertório musical que se apresentará às crianças. Através <strong>da</strong>experiência estética se <strong>de</strong>senvolve a sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, não somente aartística, como também nas relações humanas, por isso a experiênciamusical elabora<strong>da</strong> no cotidiano escolar, nas vivências do aluno com a


89música <strong>de</strong>vem propiciar, oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação e apreciaçãomusicais significativas como a escuta atenta, crítica e questionadorados sons e <strong>da</strong>s músicas do meio ambiente, i<strong>de</strong>alizando mu<strong>da</strong>nças<strong>de</strong>sejáveis na busca do conhecimento, <strong>da</strong> formação mais humana.c) A formação do Pe<strong>da</strong>gogo para a Educação Musical emancipatória: apresença do pe<strong>da</strong>gogo nas escolas <strong>de</strong> educação infantil, comoprofessor polivalente, exige <strong>de</strong>sse profissional, a formação para aeducação musical. O campo <strong>de</strong> atuação do pe<strong>da</strong>gogo é amplo, paratanto, o currículo do curso <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia precisa abarcar todos osconhecimentos necessários para essa atuação. A principal formaçãodo pe<strong>da</strong>gogo é para o magistério <strong>da</strong>s séries iniciais e também naeducação infantil, levando-se em conta esta formação, ressalta-se aimportância do trabalho <strong>de</strong>senvolvido por parte dos docentesformadores <strong>de</strong> professores, ou seja, dos professores do curso <strong>de</strong>pe<strong>da</strong>gogia. Tanto as concepções teóricas toma<strong>da</strong>s como base <strong>da</strong>spráticas educativas quanto a própria prática docente dos professoresformadores <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos, são fatores incisivos na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssaformação, assim, a proposta pe<strong>da</strong>gógica do curso <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia quevisa a capacitação do profissional para exercer uma práxis musicalemancipatória, parte <strong>da</strong> construção do conhecimento musical aliado àação reflexiva sobre os mecanismos <strong>de</strong> subversão presentes naindústria cultural, tendo o trabalho docente no ensino superior<strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> tal construção. As mu<strong>da</strong>nças necessárias naformação do pe<strong>da</strong>gogo para a Educação Musical emancipatória, são: ainserção, na gra<strong>de</strong> curricular do curso <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia, <strong>de</strong> disciplinas quecontemplem o conhecimento musical, e a contemplação, pelasconcepções teóricas ti<strong>da</strong>s como fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> formação dope<strong>da</strong>gogo, <strong>da</strong> ação reflexiva, <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência, <strong>da</strong><strong>de</strong>smistificação, <strong>da</strong> <strong>de</strong>salienação, por tanto, as concepções teóricasdos pensadores que trouxeram à educação a critica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>capitalista, os quais se <strong>de</strong>dicaram a pensar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social e as


90suas relações, inclusive em relação à arte e à música, a TeoriaEducacional Crítica.É pelo acesso às formas culturais mais ricas que se po<strong>de</strong> ampliar a visãoartística, o próprio eu se estrutura <strong>de</strong> forma mais rica e complexa, pois através <strong>da</strong>alfabetização artística tem-se a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>sconstrução dos discursosartístico-i<strong>de</strong>ológicos, entretanto se a escola trabalhar a arte produzi<strong>da</strong> para oconsumo e veicula<strong>da</strong> pelos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, estará apenasreafirmando o que já está estabelecido. Ao contrário, ela po<strong>de</strong> permitir aos alunos oacesso a outras culturas, como a erudita, não no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorizar a culturapopular, mas quanto maiores forem as experiências musicais, maiorespossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s esclarecedoras se concretizarão.Na formação pe<strong>da</strong>gógica do educador musical, os conceitos são apreendidos,as práticas são fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s, ressalta-se a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> inserir os elementos<strong>de</strong>finidores <strong>da</strong> práxis emancipatória na formação do educador: a auto-reflexão, aconsciência crítica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a educação esclarecedora.


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95ANEXOUNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTECAMPUS UNIVERSITÁRIO GUARAPUAVADepartamento <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogiaPROPOSTA PEDAGÓGICA DO CURSO DE PEDAGOIA2004INTRODUÇÃOEste documento tem como finali<strong>da</strong><strong>de</strong> apresentar a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica paraReformulação do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia no Campus <strong>de</strong> Guarapuava para 2004, emcumprimento às exigências do Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação – Conselho Pleno,explicita<strong>da</strong>s na Resolução CNE/CP1 c CNE/CP2, que institui as Diretrizes CurricularesNacionais para a Formação <strong>de</strong> Professores <strong>da</strong> Educação Básica em nível superior, curso <strong>de</strong>licenciatura, <strong>de</strong> graduação plena, e, regulamenta a duração e a carga horária.


96Para isso, o Departamento <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia propôs, durante o primeiro semestre letivo,que os docentes se unissem conforme sua área <strong>de</strong> atuação: Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Educação,Didática e Prática <strong>de</strong> Ensino, e Habilitações, para analisar as propostas anteriores, cujoresultado encontra-se em anexo. Esse estudo partiu <strong>da</strong>s atuais Diretrizes CurricularesNacionais que estabelecem os princípios, fun<strong>da</strong>mentos e procedimentos a seremobservados na organização institucional e curricular.Para efeitos <strong>de</strong> apreciação e aprovação junto aos Órgãos Deliberativos <strong>de</strong>ssaInstituição, a presente proposta contempla um breve histórico do curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia doCampus <strong>de</strong> Guarapuava: justificativa e objetivos, fun<strong>da</strong>mentação teórica, caracterização docurso, e, apresentação <strong>da</strong> matriz curricular e ementário para 2004.1 BREVE HISTÓRICO DO CURSO DE PEDAGOGIA DO CAMPUS DEGUARAPUAVA: JUSTIFICATIVA E OBJETIVOSO curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua criação no ano <strong>de</strong> 1977 1 , na antiga Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong>Guarapuava, refletiu em ca<strong>da</strong> momento diferentes concepções pe<strong>da</strong>gógicas. Inicialmente, ocurso esteve influenciado pela concepção tecnicista, presente na Lei 5.540/68, Parecer252/69 e Resolução 02/69, do antigo Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, que fixam o currículomínimo e a duração do curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, tratando <strong>da</strong> composição <strong>da</strong>s disciplinas <strong>da</strong>parte comum e <strong>da</strong> parte específica para ca<strong>da</strong> habilitação.Nesse período, o curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia teve como objetivo a formação do professorpara atuar nas escolas <strong>de</strong> Magistério <strong>de</strong> 2º Grau, as quais formavam os docentes para asséries iniciais do Ensino <strong>de</strong> 1º Grau.Além <strong>da</strong> formação para o Magistério <strong>da</strong>s Disciplinas Pe<strong>da</strong>gógicas do 2º Grau (troncocomum), o Curso formava especialistas <strong>da</strong> educação nas áreas <strong>de</strong> Orientação Educacionale Administração Escolar, pautando-se numa visão fragmenta<strong>da</strong> do processo educativo,tendo como referência outros campos do conhecimento, especialmente, <strong>da</strong> psicologia e domo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização do trabalho fordista/taylorista.Essa perspectiva reducionista, no entanto, é questiona<strong>da</strong> com o fim <strong>da</strong> ditaduramilitar, nos anos <strong>de</strong> 1980, quando os movimentos sociais se fortalecem propondomu<strong>da</strong>nças, inclusive no campo educacional, numa perspectiva volta<strong>da</strong> para o entendimento<strong>da</strong>s contradições <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar.No final <strong>de</strong>sse período, observa-se o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma nova or<strong>de</strong>meconômica orienta<strong>da</strong> pelos princípios do neoliberalismo que exige uma série <strong>de</strong> reformas emdiferentes segmentos e setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essas reformas tinham como pressuposto aênfase no Estado Mínimo, cujas políticas sociais centram-se na racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>e eficiência.No bojo <strong>de</strong>ssas mu<strong>da</strong>nças situa-se a criação <strong>da</strong> UNICENTRO acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> umasérie <strong>de</strong> discussões <strong>de</strong> novas propostas em relação aos cursos <strong>de</strong> licenciatura até entãopredominantes, tendo em vista os planos <strong>de</strong> autorização <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> que exigiam suaexpansão.Consi<strong>de</strong>rando que uma <strong>da</strong>s exigências do reconhecimento era a qualificaçãodocente em cursos <strong>de</strong> mestrado e doutorado, o curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia teve que serrepensado. Acrescente-se a isso, a exigência <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> regional quanto à quali<strong>da</strong><strong>de</strong>do curso e <strong>da</strong> sua expansão. Assim, o curso teve sua matriz curricular revista e amplia<strong>da</strong> em1995, sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> peritos <strong>da</strong> UNICAMP, num amplo processo <strong>de</strong>flagrado noDEDUC – Departamento <strong>de</strong> Educação, juntamente com o DEMEP – Departamento <strong>de</strong>Metodologia e Prática <strong>de</strong> Ensino, e acadêmicos <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia.1NEVES, Isabel Cristina. Quem está no comando <strong>da</strong>s escolas públicas <strong>de</strong> Guarapuava?Guarapuava, 2003. Monografia (Especialização em Educação, Cultura e Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>) – Centro <strong>de</strong>Ciências Humanas, Letras e Artes, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Centro-Oeste.


97A partir <strong>de</strong> 1996, com o reconhecimento <strong>da</strong> UNICENTRO, foi implanta<strong>da</strong> a novaproposta curricular, que privilegiava a formação do pe<strong>da</strong>gogo para atuar no magistério <strong>da</strong>sséries iniciais reforça<strong>da</strong> pela LDBEN nº 9.394/96, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996, além <strong>de</strong>propor novas habilitações na área <strong>de</strong> Supervisão Escolar e <strong>de</strong> Educação Infantil. Esta últimaveio suprir a formação <strong>de</strong> profissionais, que, até então, era realiza<strong>da</strong> em Estudos Adicionais.Vale ressaltar que esta proposta curricular sofreu novas reformulações em 1999,com alterações <strong>de</strong> nomenclaturas, <strong>de</strong> algumas disciplinas já constantes na gra<strong>de</strong>, paraaten<strong>de</strong>r a própria LDBEN, como também inserção <strong>de</strong> novas disciplinas. A<strong>de</strong>mais,contribuíram para essa mu<strong>da</strong>nça, as sugestões dos Membros do Conselho Estadual <strong>de</strong>Educação do Paraná, apresenta<strong>da</strong>s por ocasião <strong>da</strong> visita para aprovação <strong>de</strong> extensões docurso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, nos municípios <strong>de</strong> Laranjeiras do Sul e <strong>de</strong> Pitanga. Também,contribuíram para isso, as discussões havi<strong>da</strong>s em âmbito mundial em especial, aConferência <strong>de</strong> Jomtien (Tailândia), em 1990, que enfocava políticas <strong>de</strong> educação paratodos, o que levou o curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia a buscar uma articulação entre as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>slocais e o contexto mundial.A partir do ano <strong>de</strong> 2000, propôs-se a habilitação em Educação Inclusiva a fim <strong>de</strong>formar profissionais para a chama<strong>da</strong> Educação Especial. Foi atendi<strong>da</strong> uma importante<strong>de</strong>man<strong>da</strong> social e aberto um novo mercado para o pe<strong>da</strong>gogo. De forma amplia<strong>da</strong> emelhora<strong>da</strong>, a habilitação em Educação Inclusiva substitui a formação, que até então erapossível através dos chamados Estudos Adicionais.Cabe <strong>de</strong>stacar que, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a flexibilização no mercado <strong>de</strong> trabalho exige umacerta versatili<strong>da</strong><strong>de</strong> na atuação profissional. Tal contexto proporcionou condições para o<strong>de</strong>bate entre a formação do pe<strong>da</strong>gogo generalista ou especialista, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando umaproposta <strong>de</strong> reformulação que não privilegia uma única formação, embora tenhapermanecido as habilitações. Isso se justifica pelo fato <strong>de</strong> que o(a) acadêmico(a), apesar <strong>de</strong>optar por uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> habilitação, tem acesso a uma série <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> outrasáreas 2 .Além disso, no aguardo <strong>da</strong>s Diretrizes Curriculares específicas para os cursos <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia, a opção pela docência, como eixo na formação do pe<strong>da</strong>gogo, sempre foi umapreocupação com o profissional <strong>de</strong> educação que se queria formar. Contudo, na presenteproposta, essa formação não se restringe apenas ao aspecto técnico-pe<strong>da</strong>gógico do espaço<strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula como reprodução do conhecimento, e sim, compreen<strong>de</strong> esse espaço comoa própria organização do trabalho pe<strong>da</strong>gógico.Por outro lado, mais do que aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s regionais <strong>de</strong> qualificação doprofissional <strong>da</strong> educação direciona<strong>da</strong>s para os concursos públicos e os testes seletivos,manteve-se a permanência <strong>da</strong>s habi1itações, por enten<strong>de</strong>r que, a formação do educador éum processo, o qual não se produz apenas em função <strong>de</strong> uma tendência educacional, massim, resulta na busca <strong>de</strong> uma formação inicial e continua<strong>da</strong>. Vale ressaltar, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> osanos <strong>de</strong> 1980, a antiga FAFIG já investia na formação inicial através dos cursos <strong>de</strong>graduação, como também na formação continua<strong>da</strong> através dos cursos <strong>de</strong> Pós-Graduação(lato sensu) em diferentes áreas <strong>da</strong> educação.Desse modo, a discussão entre a formação inicial e continua<strong>da</strong>, tambémcontempla<strong>da</strong> na Proposta Curricular para 2004, possibilita, além <strong>da</strong> qualificação profissionalpara o magistério <strong>da</strong>s séries iniciais e habilitação em uma <strong>da</strong>s cinco áreas, a formaçãocontinua<strong>da</strong> através do reingresso <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos e pe<strong>da</strong>gogas para cursar uma novahabilitação.Aos argumentos anteriormente apresentados, somem-se o processo <strong>de</strong>diversificação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pe<strong>da</strong>gógicas, a ampliação do conceito <strong>de</strong> educação (como2Na parte comum do currículo (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> habilitação) os(as) acadêmicos(as) têm acesso aosconhecimentos <strong>da</strong>s diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e <strong>da</strong> organização do trabalho escolar a partir<strong>da</strong>s seguintes disciplinas: Estágio I, II (especialmente oportunizando o contato com as diversasmo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino) e III; Trabalho e Educação; Tópicos Especiais e Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ensino;Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos; e, Gestão Escolar.


98conseqüência <strong>da</strong> primeira) e o surgimento <strong>de</strong> novos sujeitos e espaços educativos, os quaissolicitam uma visão plural <strong>de</strong> educação, a partir <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>gem interativa. O Curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia ofertado pela UNICENTRO, no campus <strong>de</strong> Guarapuava e campi avançados <strong>de</strong>Chopinzinho, Laranjeiras do Sul e Pitanga, aten<strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s regiões Centro-Oeste eCentro-Sul do Paraná, com ou sem experiência docente nos diversos níveis <strong>de</strong> ensino.Finalmente, vale mencionar que “Pe<strong>da</strong>gogia e Compromisso Político” foi o tema <strong>da</strong>XI Semana <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, <strong>da</strong> UNICENTRO, campus <strong>de</strong> Guarapuava em 2003,aprofun<strong>da</strong>ndo as discussões que vinham ocorrendo nos grupos <strong>de</strong> Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong>Educação, <strong>de</strong> Didática e Prática <strong>de</strong> Ensino, e Habilitações. Portanto, como resultados dosestudos e discussões surgiu a proposta em apreço para o curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia em nossocampus.No que diz respeito à fun<strong>da</strong>mentação teórica, buscou-se na literatura atual,pressupostos que aten<strong>da</strong>m às expectativas nesse período <strong>de</strong> transição que a Educaçãoestá enfrentando, em especial, em relação ao curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICASegundo FULLAT (1994), o campo <strong>da</strong> Educação é marcado pela imprecisãosemântica, o que caracteriza as humani<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma geral. Talvez o termo“competências” seja o que mais suscita discussões entre pe<strong>da</strong>gogos e outros profissionaisque se ocupam <strong>da</strong> pesquisa e <strong>da</strong> crítica em Educação. ROPÉ e TANGUY (1997), aopesquisarem o uso <strong>da</strong> noção <strong>de</strong> competências na escola e na empresa, afirmam que essanoção “ten<strong>de</strong> a substituir outras noções que prevaleciam anteriormente como as dossaberes e conhecimentos na esfera educativa, ou a <strong>de</strong> qualificação na esfera do trabalho.Essas noções nem por isso <strong>de</strong>sapareceram, mas per<strong>de</strong>ram sua posição central e,associa<strong>da</strong>s a competências, sugerem outras conotações.” (p. 16) Essas pesquisadorasevocam NISBET, para quem “as palavras são testemunhos muitas vezes mais bemcompreendidos do que os documentos, comportam múltiplas implicações e estãoassocia<strong>da</strong>s a escolhas partidárias”. (NISBET apud ROPÉ e TANGUY, 1997, p. 17) Assim,um posicionamento sobre o termo-chave dos objetivos educacionais formalizados pelaquase totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s instituições educadoras <strong>de</strong> todos os níveis – no mais <strong>da</strong>s vezes soborientação <strong>de</strong> instâncias mantenedoras e seguindo referencial teórico atual e propalado –não <strong>de</strong>ve ter como critério apenas a conveniência semântica, mas a intenção política(partidária) que esse mesmo termo contém e estimula.Sabe-se que na Europa programas oficiais <strong>de</strong> ensino sofrem <strong>de</strong>masia<strong>da</strong> influência <strong>de</strong>objetivos econômicos e privilegiam o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> competência-competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.“Priorizam as teorias do capital humano, sob formas diversas, em que a busca <strong>da</strong> eficáciaeconômica ou, mais precisamente, <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, encontra-se sempre no cerne doquestionamento e em que as competências são fator privilegiado <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>”,comentam ROPÉ e TANGUY. Afirmando que “a noção <strong>de</strong> competência contribui paramo<strong>de</strong>lar uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social enquanto preten<strong>de</strong> justificá-la”, as autoras lembram que apartir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70 “as preocupações <strong>de</strong> emprego se encontram localiza<strong>da</strong>s no centrodo sistema educativo”, e que “a escola progressivamente se aproximou do mundo <strong>da</strong>sempresas por meio <strong>de</strong> cooperações <strong>de</strong> todos os tipos, e também por revisões na maneira <strong>de</strong>pensar os conteúdos <strong>de</strong> ensino, organizar os modos <strong>de</strong> transmissão dos saberes e <strong>de</strong>avaliá-los”. (p. 18 – 19)As relações entre competências como capacitação a serem <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s na escolae no mercado competitivo são clarea<strong>da</strong>s pelas críticas <strong>de</strong> ARRUDA e BOFF, que <strong>de</strong>stacamtrês postulados do que chamam <strong>de</strong> “concepção dominante <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento”:o <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento como mero crescimento econômico; o <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocraciacomo um conjunto <strong>de</strong> direitos apenas individuais, aos quais têm pleno acessosomente aqueles que vivem do capital, mais que <strong>da</strong> sua força <strong>de</strong> trabalho; e o <strong>da</strong>educação como um processo seletivo e <strong>de</strong> caráter predominantemente


99funcional, visando formar pessoas dispostas e capazes para perpetuar o sistemadominante <strong>de</strong> divisão do trabalho. (2000, p. 11)Em postura progressista, enten<strong>de</strong>-se que o problema maior relacionado ao curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia em nosso país é o do <strong>de</strong>smonte <strong>da</strong> Educação e conseqüentes agressões a tudoo que possa abor<strong>da</strong>r o fenômeno educativo em perspectiva crítica, <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong>orientação neoliberal que subordina tudo à economia <strong>de</strong> mercado e a suas regrasinternacionais. Sobre tal problema, RODRIGUES (s/d) afirma que “As políticas <strong>de</strong>financiamento internacional para a educação exigem reformas educativas que concebem aEducação como mediação para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico pela formação <strong>de</strong> capitalhumano, ao invés <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a Educação como mediação para o exercício <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia”.Falando novamente sobre a noção <strong>de</strong> competência, ROPÉ e TANGUY afirmam que“primeiramente associa<strong>da</strong> à noção <strong>de</strong> educação, ela ten<strong>de</strong> agora a suplantar esse termo,até mesmo englobá-lo”, <strong>de</strong> forma semelhante à que o conceito <strong>de</strong> educação tomou o lugardo <strong>de</strong> instrução. (p. 17) Cabe a inquietação sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a pe<strong>da</strong>gogia ocupar-sedo estudo profundo do fenômeno capacitador, em <strong>de</strong>trimento do educativo. E aqui a relaçãoentre capacitação/competência e Educação carece <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição sobre o que é continente eo que é conteúdo.A questão é resolvi<strong>da</strong> por ARRUDA e BOFF, para quem a Educação <strong>de</strong>ve tersempre uma perspectiva totalizante e distinta <strong>da</strong> capacitação, “justamente para explicitar acrítica do conceito e <strong>da</strong> prática <strong>de</strong> educação que se exaure na capacitação, e afirmar, emcontraposição, a práxis educativa integral como aquela que contém a dimensão <strong>da</strong>capacitação, mas vai muito além <strong>de</strong>la”. (p. 21) Enriquecido, senão recuperado, o conceito <strong>de</strong>Educação supera o <strong>de</strong> competência/capacitação (que seria um retorno ao <strong>de</strong> instrução,apenas renomeado) e justifica todo o estudo <strong>de</strong> seus fun<strong>da</strong>mentos filosóficos e científicosarticulados com um projeto <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em outras palavras, ao se tratar <strong>de</strong> Educação, enão somente <strong>de</strong> capacitação, é que se tem um projeto político-pe<strong>da</strong>gógico.Essa reflexão ilumina os objetivos para o curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> UNICENTRO –Campus <strong>de</strong> Guarapuava. Sabe-se que há <strong>de</strong> se superar qualquer noção tecnicista <strong>de</strong>competência que possa imiscuir-se nos planejamentos e práticas do curso, e que aformação que abrange mais do que a capacitação técnica inclui-se no universo <strong>da</strong>Educação. Resta saber o que se preten<strong>de</strong> com a oferta do curso, pensando-se em objetivos<strong>de</strong> formação: a educação para a Pe<strong>da</strong>gogia. Como dizem ARRUDA e BOFF, “a educação éa aprendizagem <strong>da</strong> práxis”. (p. 23) Os que se <strong>de</strong>dicam ao cultivo <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, em suaação experimentam o próprio objeto <strong>de</strong> estudo, ou seja, são acadêmicos no mesmo tempoem que são, em última análise, educandos. Preten<strong>de</strong>-se, portanto, com a oferta do curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia, educar pe<strong>da</strong>gogos para o exercício <strong>da</strong> profissão e para a profissão do queexercerão. Novamente com embasamento em ARRUDA e BOFF, consi<strong>de</strong>ra-se a educação<strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos como1) A apropriação (...) dos instrumentos a<strong>de</strong>quados para a teorização <strong>da</strong> suaprópria prática individual e social; para a compreensão profun<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta práticaem to<strong>da</strong>s as suas dimensões e articulações, isto é, para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>da</strong> sua consciência social e universal; e para a criação <strong>de</strong> uma visãototalizante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que lhes permita extrair <strong>de</strong>la os elementosnecessários à orientação estratégica e tática <strong>da</strong>s suas ações e <strong>da</strong>s suasalianças. Entre os elementos indispensáveis para esta busca <strong>da</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> doreal estão a pesquisa, a experimentação, o processo <strong>de</strong> análise-síntese, aedificação <strong>de</strong> um universo conceitual coerente com a perspectiva <strong>da</strong> práxis,planejamento, avaliação, gestão e comunicação.


1002) A apropriação (...) <strong>de</strong> todo conhecimento científico, político, social, culturalacumulado pela humani<strong>da</strong><strong>de</strong> ao longo <strong>da</strong> História, que possa servir para asatisfação <strong>da</strong>s suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e aspirações.3) A apropriação (...) dos instrumentos <strong>de</strong> avaliação crítica do conhecimentouniversal acumulado, seja o conhecimento científico, seja o conhecimentohistórico-social, seja o conhecimento <strong>de</strong> si próprio, <strong>de</strong> modo que oseducandos possam i<strong>de</strong>ntificar seu caráter histórico e cultural e se proponhamrenová-lo, atualizá-lo e mesmo recriá-lo. Tais instrumentos inclusive a razão,mas também outras capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s cognitivas do ser humano como o corpo eos seus sentidos materiais, a intuição, o sentimento, a vonta<strong>de</strong> e os diversossentidos imateriais, como o sentido <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> beleza, <strong>da</strong> transcendência,do amor. (2000, p. 19-20)Consi<strong>de</strong>rando o exposto, têm-se dimensões políticas, científicas e técnicas <strong>da</strong>profissão <strong>da</strong>s pe<strong>da</strong>gogas e dos pe<strong>da</strong>gogos articula<strong>da</strong>s entre si e com o tempo históricoatual, o que remete à ética maior <strong>de</strong>sse oficio que inclui o compromisso com o<strong>de</strong>senvolvimento humano em espaços educativos escolares e não escolares, consi<strong>de</strong>randoseto<strong>da</strong> a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> possível: <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> classe social, étnica, etária, religiosa e <strong>de</strong>porte ou não <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais <strong>de</strong> aprendizagem.O caráter dinâmico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica e o misto <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>humanas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento evi<strong>de</strong>nciam, no mesmo tempo em que justificam, a evoluçãoconstante <strong>da</strong> tradição pe<strong>da</strong>gógica, vale dizer, dos saberes e dos sujeitos <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia. Ospressupostos <strong>da</strong> ação reflexiva e contextualiza<strong>da</strong>, que valorizam e exigem atitu<strong>de</strong>interdisciplinar e conferem i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> teórico-investigativa aos profissionais <strong>da</strong> Educação,servem ao projeto acadêmico <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogas e <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos concatenandosaberes filosófico-políticos, científicos e tecnológicos.O compromisso político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos formados e em fase <strong>de</strong> formaçãoinicial inclui, <strong>de</strong> forma basilar, o cui<strong>da</strong>do para com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> própria Pe<strong>da</strong>gogia,tendo em vista a salvaguar<strong>da</strong> <strong>da</strong> melhor Educação, pelo estudo <strong>de</strong> referenciais teóricos,pela pesquisa e pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> metodologias e técnicas <strong>de</strong> planejamento, ensinoe avaliação, e sobretudo, pelo engajamento estimulado e testemunhado pelos professoresna <strong>de</strong>fesa do único espaço <strong>de</strong> fato universitário para formação <strong>de</strong> professores eespecialistas em Educação que tem a pesquisa como componente essencial <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento. RODRIGUES (s/d) lembra FRIGOTTO (s/r), para quem um dos objetivos<strong>de</strong>sta orientação neoliberal à educação, <strong>de</strong> fato bancária, é “melhorar as estatísticaseducacionais”, em flagrante preocupação meramente quantitativa. Corroborando com taisposturas, MIZUKAMI et al. (2002) <strong>de</strong>nunciam a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> foco orienta<strong>da</strong> pelo BancoMundial, <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> formação inicial para a formação continua<strong>da</strong>. Essa mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> focoimplica no <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> to<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m para a promoção <strong>de</strong>sta última em <strong>de</strong>trimento<strong>da</strong> primeira, sob alegação <strong>de</strong> economia financeira. Citando a crítica <strong>de</strong> LAUGLO (s/r) aorelatório Priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e estratégias para a educação, elaborado pelo Banco Mundial em 1995,<strong>de</strong> que “é favorecido um mo<strong>de</strong>lo prático para melhor <strong>de</strong>senvolver habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o ensino,com cursos ‘em serviço’ como suplemento para o treinamento no local <strong>de</strong> trabalho”,MIZUKAMI conclui que “Desvalorizar a formação inicial dos professores – econseqüentemente sua profissão – e incentivar a formação continua<strong>da</strong> – esse parece ser oobjetivo <strong>de</strong> nossas políticas educacionais atuais”. (2002, p. 28)As relações axiomáticas entre: a) formação inicial pela universi<strong>da</strong><strong>de</strong> e preservaçãodos princípios <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> excelência humana e profissional, e b) formaçãocontinua<strong>da</strong> ou em serviço e treinamento <strong>de</strong> natureza puramente procedimental, evi<strong>de</strong>nciama superficiali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste segundo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> formação que fun<strong>da</strong>menta-se em umaracionali<strong>da</strong><strong>de</strong> puramente técnica, ao gosto <strong>da</strong>s tendências liberais que, segundo SAVIANI(2002), têm como papel a afirmação e cristalização <strong>da</strong>s diferenças <strong>de</strong> classe.


101É urgente a <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> formação inicial, <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> acadêmica e compromissopolítico, suficiente para <strong>da</strong>r sentido e razão à formação que inegavelmente continuará,porém não como cumprimento <strong>de</strong> técnicas or<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s e sim marca<strong>da</strong> pela capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> eengajamento em novas teorizações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> reflexão crítica a partir <strong>da</strong>s práticassociais e volta<strong>da</strong>s para novas práticas sociais, que <strong>de</strong>verão ser sucessivamente critica<strong>da</strong>s,reformula<strong>da</strong>s e melhora<strong>da</strong>s, o que exclui perspectivas sociais conformistas.A <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia que contemple a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a excelência, origor científico, metodológico e o compromisso político, coadunam com a opção por umaformação profissional inicial pauta<strong>da</strong> por racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s outras, que não exclusivamentetécnico-formais. E configura-se como uma ban<strong>de</strong>ira dos que pensam na Educação paraalém do ensino como processo político-pe<strong>da</strong>gógico, lendo criticamente a Educação emprocessos informais e planejando na mesma perspectiva a educação formal. Tal <strong>de</strong>fesa<strong>de</strong>ve ser assumi<strong>da</strong> por todos os formadores <strong>de</strong> professores e/ou <strong>de</strong> especialistaspe<strong>da</strong>gogos.Para tanto, é necessário <strong>de</strong>linear-se o tipo <strong>de</strong> profissional que se quer formar através<strong>de</strong> uma matriz curricular ampla, com disciplinas que permitam a articulação entre aformação e o mercado <strong>de</strong> trabalho, conforme a caracterização do curso <strong>de</strong>scrito a seguir.3 CARACTERIZAÇÃO DO CURSOO Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia ofertado pela UNICENTRO, no campus <strong>de</strong> Guarapuava eCampi Avançados <strong>de</strong> Chopinzinho, Laranjeiras do Sul e Pitanga, aten<strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>região centro-oeste e <strong>de</strong> outras ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Sua clientela é forma<strong>da</strong> por alunos e alunasoriun<strong>da</strong>s dos Colégios <strong>de</strong> Ensino Médio, pessoas que não tiveram nenhuma atuação ain<strong>da</strong>no Magistério e também professores e professoras em exercício.Neste contexto, o objetivo maior do curso resume-se no processo <strong>de</strong> qualificação dosalunos e alunas, possibilitando-lhes o acesso a uma bagagem significativa <strong>de</strong>conhecimentos científicos que lhes garanta condições do exercício profissional emeducação. Esses conhecimentos são ministrados a partir:1. <strong>de</strong> uma base comum, que contempla os fun<strong>da</strong>mentos sociológicos, filosóficos,psicológicos, históricos, políticos e antropológicos, assim como as questões relativas aotrabalho pe<strong>da</strong>gógico e à questão escolar, constituindo o que se <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> Núcleo/histórico contextual, ou seja, são as disciplinas que tratam dos conhecimentosestruturais do curso;2. <strong>da</strong> inserção no universo <strong>de</strong> Pesquisa em Educação, sendo este o eixo integradordo curso, com fun<strong>da</strong>mentos investigativos e reflexivos na área educacional. São asdisciplinas <strong>de</strong> conhecimento intercomplementares, ou seja, aquelas que fornecem o elo<strong>de</strong> ligação com os <strong>de</strong>mais núcleos e disciplinas, além <strong>de</strong> propiciar estudos sobrediferentes modos <strong>de</strong> pesquisar, <strong>de</strong> olhar e <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a escola e o seu cotidiano. Aarticulação dos saberes escolares com os saberes acadêmicos propiciam um olharconstruído que orientará a elaboração <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> pesquisa individual e/ou coletivo,conforme regulamento próprio. A sistematização <strong>de</strong>ssa pesquisa acontecerá na forma <strong>de</strong>um trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso, o qual <strong>de</strong>verá ser socializado em seminários <strong>de</strong>pesquisa e/ou outros eventos no âmbito <strong>da</strong> UNICENTRO e/ou <strong>de</strong> outras instituições.Essa perspectiva na formação do pe<strong>da</strong>gogo é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> inovadora, pois implica emreflexões e pesquisas contextualiza<strong>da</strong>s, ações estas, que até, recentemente, estavamreserva<strong>da</strong>s à formação em nível <strong>de</strong> pós-graduação. A formação doprofessor/pesquisador reflexivo valoriza a escola, sobretudo a pública, e a sala <strong>de</strong> aulacomo espaço privilegiado na apropriação e produção do conhecimento e saberes,sendo, ao mesmo tempo, espaço para os benefícios <strong>de</strong> uma ação reflexiva;3. do Núcleo dos conteúdos didático-metodológicos profissionais: que compreen<strong>de</strong> osfun<strong>da</strong>mentos e conteúdos curriculares <strong>da</strong> educação básica, conhecimentos didáticos e


as disciplinas <strong>de</strong> conhecimentos específicos, articula<strong>da</strong> à práticas <strong>de</strong> ensino, po<strong>de</strong> serneste contexto, entendi<strong>da</strong> como práticas próprias do magistério realiza<strong>da</strong>s pelo aluno emsala <strong>de</strong> aula, nas diversas disciplinas e nos diferentes espaços durante o curso. Taispráticas se enriquecem pela interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu planejamento,permitem a articulação entre professores <strong>de</strong> diversas disciplinas do curso como também<strong>de</strong> outros cursos. Essas práticas incluem a observação do cotidiano escolar, atuação emmini-cursos e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s em seminários, palestras, observaçõesparticipativas, estágios supervisionados e outras ações. Neste enfoque, as disciplinaspertencentes a este núcleo são aqui entendi<strong>da</strong>s como princípios pe<strong>da</strong>gógicos gerais,que norteiam a organização do trabalho em sala <strong>de</strong> aula articula<strong>da</strong> à organização global<strong>da</strong> escola. Os conteúdos elencados pelas disciplinas <strong>de</strong>ste núcleo articulam-se às linhas<strong>de</strong> pesquisa em educação;4. do Núcleo complementar: compreen<strong>de</strong> as disciplinas que veiculam conteúdos quevenham complementar a estrutura do curso, como: Corporei<strong>da</strong><strong>de</strong> e Educação,Tecnologias <strong>de</strong> Comunicação e Informação, Tópicos Especiais em Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>Ensino, Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos, Leitura e Produção <strong>de</strong> Texto. Essas disciplinasbuscam aprofun<strong>da</strong>r a análise e a crítica na conjuntura educacional brasileira, além <strong>de</strong>propiciar aos alunos e às alunas, um entendimento significativo dos diversos segmentos<strong>de</strong> atuação que o curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia oferece.Nessa perspectiva, a disciplina <strong>de</strong> Pesquisa em Educação permanece como eixoteórico-metodológico <strong>de</strong> articulação entre as disciplinas pertencentes ao Magistério <strong>da</strong>sSéries Iniciais e o <strong>da</strong>s outras Habilitações; Trata-se <strong>de</strong> viabilizar a iniciação científica comoinstrumento necessário a todos os alunos e alunas, professores e professoras em formaçãoe pelo reconhecimento <strong>de</strong> que todos são produtores <strong>de</strong> conhecimento.A formação do educador-pesquisador é uma alternativa para tentar eliminar asdicotomias entre a teoria e a prática, e, ao mesmo tempo, evi<strong>de</strong>ncia a articulação entre elascomo ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> integradora na formação dos professores e professoras. A própriaoperacionalização na organização curricular como dimensão <strong>de</strong> um mesmo processo,possibilita a flexibilização vertical e horizontal do currículo na formação dos saberes. Sendoassim, as disciplinas que estabelecem a relação entre teoria e prática são: a) Pesquisa emEducação I (inicia<strong>da</strong> no 1° ano) e a Pesquisa em Educação II (2° ano), que proporcionam ainserção <strong>de</strong> acadêmicos e acadêmicas em situações reais <strong>de</strong> trabalho, orientados por umalinha investigativo-exploratória. Isso exige ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong> extensão, bem como<strong>de</strong> outras complementares durante o curso. Ain<strong>da</strong> no núcleo dos conteúdos didáticometodológicosencontram-se as disciplinas <strong>de</strong> Estágio Supervisionado I, II e III, no 1°, no 2°e no 3° ano, respectivamente, respon<strong>de</strong>ndo às questões curriculares na vivência docotidiano escolar, o que propicia aos acadêmicos a constante participação em situaçõespráticas e o contato com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, o que <strong>de</strong>nominamos, a práxis. No 4° ano docurso, a Pesquisa em Educação III: Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso, envolve o acadêmicoe a acadêmica na sistematização do trabalho monográfico iniciado no 1° ano (integralizaçãohorizontal <strong>da</strong>s disciplinas) e <strong>de</strong>senvolvido no <strong>de</strong>correr do curso (integração vertical) soborientação <strong>de</strong> docentes <strong>da</strong> instituição.Nesta linha <strong>de</strong> pensamento, o Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia no Campus <strong>de</strong> Guarapuava eseus Campi Avançados, estrutura-se respeitando os interesses e as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>região, sendo assim, está alicerçado <strong>de</strong> forma a permitir que todos os alunos e alunascursem uma parte do currículo em comum, magistério <strong>da</strong>s séries iniciais e possam optar poruma <strong>da</strong>s habilitações. A formação comum consiste numa sóli<strong>da</strong> base teórica, relaciona<strong>da</strong>intrinsecamente à práxis. Já a formação múltipla contempla os diferentes interesses epossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que a amplitu<strong>de</strong> do perfil do pe<strong>da</strong>gogo propicia (Educação Infantil, OrientaçãoEducacional; Supervisão Escolar, Administração Escolar e Educação Inclusiva), ecorrespon<strong>de</strong> ao domínio do conteúdo científico, capaz <strong>de</strong> oferecer condições para umaprática educacional <strong>de</strong> intervenção consistente e explicativa <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pelas dimensõesprofissional, epistemológica, política e criativa que empreen<strong>de</strong>. Para isso, utilizou-se do102


princípio <strong>da</strong> flexibilização curricular, buscando oferecer aos alunos e alunas, um leque <strong>de</strong>opções, que amplie sua formação geral, a qual além <strong>de</strong> oferecer flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> noaproveitamento <strong>de</strong> conhecimentos adquiridos, possibilita estudos e práticas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.Desse modo, a carga horária, aten<strong>de</strong>ndo à Resolução CNE/CP1 e CNE/CP2, efetivar-se-á<strong>da</strong> seguinte maneira:a) Estágio Curricular – 400 horas envolvendo as práticas <strong>de</strong> ensino e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> estágio distribuí<strong>da</strong>s nas disciplinas <strong>de</strong> Estágio Supervisionado I, II e III e profissional comcarga horária <strong>de</strong> 68, 102, 136 e 136 horas, respectivamente. Assim as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> EstágioSupervisionado, o Art. 3° <strong>da</strong> CNE/CP1 – Fev. 2002, estão sendo contempla<strong>da</strong>s a partir doprimeiro ano com Estágio Supervisionado I – 68 horas, on<strong>de</strong> o aluno fará o reconhecimentodo trabalho na escola, como elemento articulador e diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O EstágioSupervisionado II – 102 horas aten<strong>de</strong>rá os aspectos essenciais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ensino, esten<strong>de</strong>ndo-se às habilitações. De acordo com o artigo 12, parágrafo 3°, referenteao Estágio Supervisionado III – 136 horas, este será realizado junto às escolas <strong>de</strong> EducaçãoBásica, respeitando o regime <strong>de</strong> colaboração entre os sistemas <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong>senvolvido<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do curso e será avaliado em conjunto pela escola e/ou outro campo <strong>de</strong>estágio e pela Instituição <strong>de</strong> Ensino.Para Estágio Supervisionado nas diversas habilitações, consi<strong>de</strong>ra que as <strong>de</strong>maisdisciplinas pertencentes à matriz curricular que se refere aos procedimentos didáticometodológicos,contribuirão na execução <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, na busca <strong>de</strong> observação e reflexãoe na iniciativa <strong>de</strong> enfrentamento <strong>da</strong>s situações complexas evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s.A regulamentação do Estágio Supervisionado no que refere às mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>práticas pe<strong>da</strong>gógicas, ao sistema <strong>de</strong> avaliação, as formas <strong>de</strong> elaboração do Plano <strong>de</strong> Açãoe do Plano Pe<strong>da</strong>gógico, assim como, a confecção <strong>de</strong> relatórios <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s realiza<strong>da</strong>spelos alunos ou alunas, ou pelo professor ou professora encontram-se explicita<strong>da</strong>s nodocumento intitulado “Regulamentação <strong>da</strong> Prática <strong>de</strong> Ensino”, em fase <strong>de</strong> análise pelosConselhos Superiores.b) Práticas <strong>de</strong> Ensino como componente curricular – 400 horas distribuí<strong>da</strong>s nasdisciplinas <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> educação, e <strong>da</strong>s metodologias específicas;c) Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Complementares – 200 horas serão <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a outras formas <strong>de</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s acadêmico-científico-culturais <strong>de</strong>vendo ser cumpri<strong>da</strong>s no <strong>de</strong>correr do curso, naforma <strong>de</strong> semanas pe<strong>da</strong>gógicas, cursos e projetos <strong>de</strong> extensão, mini-cursos, palestras,congressos e seminários, mediante comprovação documental na caracterização do cursoanteriormente explicitado, em que se busca a formação <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> que se <strong>de</strong>seja<strong>de</strong>senvolver no pe<strong>da</strong>gogo, ou seja, um sujeito <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, produtor <strong>de</strong> saberes e acima <strong>de</strong>tudo ético;Esta postura pe<strong>da</strong>gógica, ora <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> pelo curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia do Campus <strong>de</strong>Guarapuava, visa cre<strong>de</strong>nciar o acadêmico ao exercício profissional na docência e em áreasespecíficas <strong>de</strong> atuação. Nessa perspectiva, <strong>de</strong>stacam-se alguns pontos essenciais a essecre<strong>de</strong>nciamento:• compreensão ampla e consistente do fenômeno e <strong>da</strong> prática educativa que se dãoem diferentes âmbitos e especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s; compreensão do processo <strong>de</strong> construçãodo conhecimento no indivíduo inserido em seu contexto social e cultural;• capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar problemas sócio-culturais e educacionais propondorespostas criativas às questões <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino e <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s que visem asuperar a exclusão social;• capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer diálogo entre a área educacional e as <strong>de</strong>mais áreas <strong>de</strong>conhecimento;• capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> articular ensino e pesquisa, apropriação e produção doconhecimento/saberes na construção <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica;• capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver metodologias e materiais pe<strong>da</strong>gógicos a<strong>de</strong>quados àutilização <strong>da</strong>s tecnologias <strong>da</strong> informação e <strong>da</strong> comunicação nas práticas educativas;103


104• compromisso com a ética <strong>de</strong> atuação profissional e com a organização <strong>de</strong>mocrática<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>;• articulação <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional nas diferentes formas <strong>de</strong> gestão educacional,na organização do trabalho pe<strong>da</strong>gógico, no planejamento, execução e avaliação <strong>de</strong>propostas pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> escola;• compreensão dos pressupostos avaliativos do processo educativo.Nessa perspectiva, <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos e pe<strong>da</strong>gogas comprometidos com umensino <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> veicula-se como uma linha metodológica a serutiliza<strong>da</strong> nos diversos núcleos <strong>de</strong> disciplinas ou entre disciplinas, porque po<strong>de</strong> ser tambémcompreendi<strong>da</strong>, ao consi<strong>de</strong>rar-se a relação entre o pensar e o agir. Sendo assim, to<strong>da</strong>s aslinguagens trabalha<strong>da</strong>s pelo curso nas diferentes disciplinas, são por natureza“interdisciplinares”, por estarem alicerça<strong>da</strong>s na formação <strong>de</strong> professores e professoras, emque os conteúdos curriculares se constituem em conhecimentos, isto é, significados que aoserem formalizados por alguma linguagem, tornam-se mais significativos.Nesse sentido, além <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, a linha metodológica <strong>da</strong>s diversasdisciplinas que compõem a matriz curricular do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, procura alicerçar-se nomecanismo metodológico <strong>da</strong> contextualização. Assim, contextualizar o conteúdo que sequer apreendido significa em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve umarelação entre sujeito e objeto. Na escola o conhecimento é quase sempre reproduzido <strong>da</strong>ssituações originais nas quais acontece sua produção. Por esta razão, o conhecimentoescolar se vale <strong>de</strong> uma transposição didática na qual a linguagem joga o papel <strong>de</strong>cisivo.O tratamento contextualizado do conhecimento é o recurso mais a<strong>de</strong>quado para seretirar o aluno <strong>da</strong> condição <strong>de</strong> passivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Se bem trabalhado, permite que ao longo <strong>da</strong>transposição didática, o conteúdo do ensino provoque aprendizagens significativas quemobilizam o aluno ou aluna, e estabelecem entre ele (ela) e o objeto do conhecimento, umarelação <strong>de</strong> reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A contextualização permite que o conhecimento em diferentesáreas, âmbitos ou dimensões presentes na vi<strong>da</strong> pessoal, social e cultural, mobilizeconhecimentos já adquiridos.Contextualizar conteúdos curriculares não é só liberá-los do plano abstrato <strong>da</strong>transposição didática e nem aprisioná-los ao espontaneísmo e à cotidianei<strong>da</strong><strong>de</strong>. Énecessário, portanto, consi<strong>de</strong>rar, como no caso <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, seu fun<strong>da</strong>mentoepistemológico, sociológico e psicológico.A universi<strong>da</strong><strong>de</strong> transita em três vias: universi<strong>da</strong><strong>de</strong>-escola, escola-universi<strong>da</strong><strong>de</strong> euniversi<strong>da</strong><strong>de</strong>-comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na primeira visão esta relação se efetiva no momento em que aUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> atua interferindo através <strong>de</strong> novas metodologias <strong>de</strong> ensino como resultado <strong>de</strong>pesquisas, bibliografias atualiza<strong>da</strong>s, entre outras. Na segun<strong>da</strong>, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> sócio-culturaleconômica<strong>da</strong> escola passa a ser discuti<strong>da</strong> na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. E por fim a inter-relação entreuniversi<strong>da</strong><strong>de</strong>-escola-comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> permite a integração entre elas.4 ATENDIMENTO A RESOLUÇÃO CNE/P1 e CNE/P2A organização curricular do curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>de</strong> acordo com a LDB nº 9394/96que aten<strong>de</strong> a formação <strong>de</strong> professores para séries iniciais, buscou garantir o trato <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> enriquecimento cultural, as práticas investigativas e aelaboração e execução <strong>de</strong> projetos, o uso <strong>da</strong>s tecnologias <strong>de</strong> informação <strong>da</strong> comunicação,<strong>de</strong> metodologias, estratégias e materiais <strong>de</strong> apoio, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s emgrupos a partir do 1° ano (Resolução CNE/CP1 - Fev. 2002 - Artigo 2°).Quanto às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> estágio supervisionado, e <strong>de</strong> acordo com o Artigo 3° <strong>da</strong>CNE/CP1 - Fev. 2002, estão contempla<strong>da</strong>s a partir do primeiro ano com Estágiosupervisionado I, na forma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> observação e diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar. Nosanos subseqüentes os estágios aten<strong>de</strong>rão aos aspectos essenciais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ensino, esten<strong>de</strong>ndo-se às habilitações <strong>de</strong> Supervisão Escolar, Orientação Educacional,Administração Escolar, Educação Inclusiva, Educação Infantil.


105No tocante aos aspectos relacionados quanto a expectativa e a formação ofereci<strong>da</strong>no curso buscar-se-á: a consistência entre o pensar e o fazer pe<strong>da</strong>gógico; a relação entre teoria e prática, levando-se em conta as habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, valores ecapaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s pessoais; a valorização <strong>de</strong> conteúdos como meio <strong>de</strong> suporte; a ênfase nos processos <strong>de</strong> avaliação como o meio e fim nos processos.Com relação no Artigo 12, parágrafo 3°, referente ao estágio curricular, este serárealizado junto às escolas <strong>de</strong> Educação Básica, respeitando o regime <strong>de</strong> colaboração entreos sistemas <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong>senvolvido a partir do 2° ano do curso e será avaliado em conjuntopela escola – (campo <strong>de</strong> estágio) – e a UNICENTRO.O Artigo 13, parágrafos 1°, 2° e 3° complementam que... “a prática <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>veráestar incluí<strong>da</strong> na matriz curricular permeando to<strong>da</strong>s as áreas nas disciplinas <strong>de</strong> formação enão apenas nas disciplinas pe<strong>da</strong>gógicas, portanto as disciplinas <strong>da</strong> área <strong>de</strong> Fun<strong>da</strong>mentos,ministra<strong>da</strong>s nos 1° e 2° anos, terão a equivalência <strong>de</strong> teoria e a prática social que estasdisciplinas permitem. Estas práticas compreen<strong>de</strong>rão os procedimentos <strong>de</strong> observação ereflexão visando a contextualização com o registro <strong>da</strong>s observações e resoluções –problemas. Além <strong>de</strong>ssas po<strong>de</strong>rá ser enriqueci<strong>da</strong> com tecnologias <strong>de</strong> informação –garantindo ao aluno o manejo <strong>de</strong>ssas ferramentas nas diversas áreas do conhecimento”.Assim já explicita<strong>da</strong> anteriormente, este artigo está contemplado nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Prática<strong>de</strong> Ensino e <strong>de</strong> Estágio Supervisionado.Quanto aos projetos <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> acordo com o capítulo III, Artigo 3°... “apesquisa requer ênfase no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem,” já que ensinar é: dispor <strong>de</strong>conhecimentos mobilizados para ação, bem como compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> construçãodo conhecimento. Este item, está sendo atendido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro ano com projetos <strong>de</strong>iniciação científica, sendo esta concluí<strong>da</strong> ao final do curso com o trabalho <strong>de</strong> T.C.C.(Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso).No Artigo 4°, referente à abrangência do curso, consi<strong>de</strong>ra-se o conjunto <strong>de</strong>competências essenciais à formação do profissional <strong>de</strong> Educação, acresci<strong>da</strong>s a propostacurricular, as disciplinas <strong>de</strong> Currículo e Avaliação Escolar (nas habilitações <strong>de</strong> SupervisãoEscolar, Orientação Educacional e Administração Escolar), bem como, a disciplina <strong>de</strong>Gestão Educacional, como disciplina comum do curso.Já o Artigo 5° é contemplado nos capítulos I e II, que se refere às disciplinas docurso <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Professores para Educação Básica, que garante um trabalho emdiferentes âmbitos do conhecimento profissional.Nos capítulos III e IV, <strong>de</strong>ste mesmo artigo, trata-se <strong>da</strong> inclusão <strong>de</strong> conteúdosnecessários para a formação <strong>de</strong> professores, garanti<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong> nas diferentes áreas ecom as mais varia<strong>da</strong>s metodologias <strong>de</strong> ensino.E no capítulo V, referente à avaliação, o qual garante o processo <strong>de</strong> aprendizagem eorienta o trabalho dos formadores, <strong>da</strong>ndo-lhes autonomia e qualificação aos profissionaisque apresentem condições <strong>de</strong> iniciar a sua carreira no magistério, ain<strong>da</strong> em processo <strong>de</strong>qualificação.Concluindo, o Artigo 8°, capítulo I, sugere que as avaliações sejam periódicas esistemáticas, incluí<strong>da</strong>s nos conteúdos a serem trabalhados e vincula<strong>da</strong>s às escolas <strong>de</strong>Educação Básica e Ensino Médio, também contemplados no curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia.MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIAAPROVADA EM 2003 PARA IMPLANTAÇÃO A PARTIR DE 2004E RESPECTIVO EMENTÁRIOUNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTECampus Universitário <strong>de</strong> Guarapuava


106Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e ArtesCURRÍCULO PLENOCURSO: PEDAGOGIA (320 – Manhã e Noite – Cur. 04)HABILITAÇÃO: Magistério <strong>da</strong>s Séries Iniciais do Ensino Fun<strong>da</strong>mentalSÉRIESCOD. DIS. DEPTOS. DISCIPLINAS 1ª 2ª3ª 4ª C/H0200 DEPED Fun<strong>da</strong>mentos Filosóficos <strong>da</strong> Educação 3 1020201 DEPED Fun<strong>da</strong>mentos Históricos <strong>da</strong> Educação 2 680202 DEPED Introdução à Pe<strong>da</strong>gogia: Concepções do Trabalho Pe<strong>da</strong>gógico2 680203 DEPED Pesquisa em Educação I 3 1020205 DEPED Estágio Supervisionado I* 2 680216 DEPED Tecnologias <strong>de</strong> Comunicação e Informação 2 680206 DEPED Psicologia <strong>da</strong> Educação I 3 1020207 DEPED Sociologia <strong>da</strong> Educação I 2 680208 DEPED Didática 3 1020209 DEPED Pensamento Pe<strong>da</strong>gógico Brasileiro 2 680210 DEPED História <strong>da</strong> Educação Brasileira 3 1020212 DEPED Pesquisa em Educação II 2 680213 DEPED Estágio Supervisionado II* 3 1020215 DEPED Sociologia <strong>da</strong> Educação II 2 680214 DEPED Psicologia <strong>da</strong> Educação II 3 1020219 DEPED Metodologia do Ensino <strong>da</strong> Língua Portuguesa 2 680220 DEPED Metodologia do Ensino <strong>de</strong> Ciências 2 680221 DEPED Metodologia do Ensino <strong>de</strong> História e Geografia 2 680222 DEPED Metodologia do Ensino <strong>de</strong> Matemática 2 680204 DEPED Políticas Educacionais, Organização e Funcionamento <strong>da</strong> 3 102Educação Básica0211 DEPED Metodologia <strong>da</strong> Alfabetização 3 102DEPED Trabalho e Educação 2 68DEPED Metodologia <strong>da</strong> Arte 2 680224 DEPED Estágio Supervisionado III* 4 136DEPED Tópicos Especiais em Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ensino 2 680223 DEPED Corporei<strong>da</strong><strong>de</strong> e Educação 2 68DEPED Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos 2 68DELET Leitura e Produção <strong>de</strong> Texto 2 680231 DEPED Pesquisa em Educação III 2 68Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Complementares*** 200TOTAL 22 23 14 10 2.546*Por meio dos componentes curriculares assinalados dá-se cumprimento ao artigo nº 65 <strong>da</strong> Lei n° 9394/96<strong>de</strong> 20/12/1996.**Práticas <strong>de</strong> Ensino: 400 h – distribuí<strong>da</strong>s nas disciplinas <strong>de</strong> Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Educação e MetodologiasEspecíficas.***Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Complementares: 200 h – <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s, no <strong>de</strong>correr do Curso. Mediante comprovaçãodocumental.Início: 2004EMENTASFUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO: Reflexão filosófica sobre a educaçãonas suas dimensões históricas, sociais e culturais estabelecendo as relações entre filosofia


107e educação através <strong>de</strong> uma retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> Paidéia grega, educação medieval mo<strong>de</strong>rna etendências contemporâneas.FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO: Análise <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Educação: Antiga,medieval, mo<strong>de</strong>rna e contemporânea, focalizando suas instituições e o pensamentope<strong>da</strong>gógico articulados com o <strong>de</strong>safio histórico <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> momento.INTRODUÇÃO À PEDAGOGIA: CONCEPÇÕES DO TRABALHO PEDAGÓGICO:O encaminhamento <strong>de</strong> uma prática educacional do pe<strong>da</strong>gogo como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> e <strong>de</strong>chega<strong>da</strong> para uma compreensão <strong>da</strong> educação. Encaminhamentos metodológicos <strong>da</strong>formação profissional do pe<strong>da</strong>gogo. A estrutura e a organização do curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia.PESQUISA EM EDUCAÇÃO I: Espaço interdisciplinar <strong>de</strong>stinado à reflexão sobre a escola eoutras instituições sociais por meio <strong>da</strong> iniciação a produção <strong>de</strong> saberes e conhecimentos,como fase exploratória <strong>da</strong> pesquisa, buscando analisar crítica e contextualiza<strong>da</strong>mente assituações teórico-práticas levanta<strong>da</strong>s.ESTÁGIO SUPERVISIONADO I: Práxis ou indissociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre teoria e prática e aativi<strong>da</strong><strong>de</strong> docente. Gestão Escolar: análise <strong>da</strong> organização escolar e do espaço <strong>da</strong> sala <strong>de</strong>aula. Análises preliminares sobre a prática pe<strong>da</strong>gógica na perspectiva <strong>da</strong> formação doprofessor pesquisador.TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO: Ambiente <strong>de</strong> aprendizagem: onovo papel <strong>da</strong> escola e do professor no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem. Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong>conhecimento: a escola como parte <strong>de</strong>sta re<strong>de</strong>. Uso <strong>de</strong> aplicativos educacionais<strong>de</strong>senvolvidos em várias linguagens.PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO I: Introdução à Psicologia Educacional. Processos psíquicosbásicos. Principais teorias <strong>da</strong> investigação sobre o <strong>de</strong>senvolvimento humano, incluindopessoas com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais nos aspectos: cognitivo, psicomotor, social eemocional.SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO I: Contexto histórico do surgimento <strong>da</strong> Sociologia. Evoluçãodo pensamento sociológico. Quadros teóricos para o estudo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: análise dofuncionalismo e do materialismo histórico.DIDÁTICA: Evolução histórica <strong>da</strong> didática no contexto <strong>da</strong> Educação Brasileira. Análisecrítica dos processos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem, a luz <strong>da</strong>s tendências pe<strong>da</strong>gógicas.Elementos fun<strong>da</strong>mentais e estruturantes <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica. A formação do professor –Organização do trabalho pe<strong>da</strong>gógico no espaço <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula na instituição escolar.PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO: Estudo <strong>da</strong>s principais tendências dopensamento pe<strong>da</strong>gógico a partir <strong>da</strong>s contribuições dos educadores brasileiroscontemporâneos.HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Análise histórica <strong>da</strong> Educação Brasileira docontexto colonial até a atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> focalizando suas instituições sociais, e o pensamentoarticulados com os <strong>de</strong>safios históricos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> momento.PESQUISA EM EDUCAÇÃO II: Abor<strong>da</strong>gem científica envolvendo o aluno com a práticape<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong>s escolas e outras instituições sociais, através <strong>da</strong> iniciação a produção <strong>de</strong>saberes e conhecimento, como fase exploratória <strong>da</strong> pesquisa, buscando analisar crítica econtextualiza<strong>da</strong>mente as situações teórico-práticas levanta<strong>da</strong>s. Integração horizontal/vertical<strong>da</strong> disciplina.ESTÁGIO SUPERVISIONADO II: A aproximação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e a prática <strong>de</strong>reflexão-ação. Análise crítica do trabalho docente. Participação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> instituiçãoescolar e do trabalho docente, tendo como referência a análise <strong>de</strong> pesquisas realiza<strong>da</strong>s naperspectiva <strong>da</strong> prática educativa escolar.SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO II: O pensamento sociológico contemporâneo e a educação.Processos <strong>de</strong> socialização e educação escolar. Família e escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>. As abor<strong>da</strong>genssociológicas sobre o fracasso escolar.PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO II: Relação <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem nas diferentesabor<strong>da</strong>gens. Principais concepções <strong>de</strong> aprendizagem; teorias clássicas, cognitivas e sociais.


METODOLOGIA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: Análise do ensino <strong>de</strong> LínguaPortuguesa nas séries iniciais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, consi<strong>de</strong>rando as concepções <strong>de</strong>linguagem e suas correntes epistemológicas. Alternativas metodológicas para o ensino <strong>de</strong>Língua Portuguesa segundo a concepção interacionista <strong>de</strong> linguagem.METODOLOGIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS: Abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s concepções <strong>de</strong> ciência e <strong>de</strong>propostas curriculares. O ensino <strong>de</strong> ciências. Planejamento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>spara o ensino <strong>de</strong> ciências. A didática e as ciências. Construção do conhecimento científico.METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA: Abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s concepções<strong>de</strong> história e geografia e <strong>de</strong> propostas curriculares. O ensino <strong>da</strong> história e geografia.Planejamento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o ensino <strong>da</strong> história e geografia. Adidática e a história e geografia. Construção do conhecimento científico.METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA: Abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s concepções <strong>da</strong>matemática e <strong>de</strong> propostas curriculares. O ensino <strong>da</strong> matemática. Planejamento e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o ensino <strong>de</strong> matemática. A didática e a matemática.Construção do conhecimento matemático.POLÍTICAS EDUCACIONAIS, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃOBÁSICA: Investigação <strong>da</strong> organização e do funcionamento escolar. Análise <strong>da</strong> educaçãobásica no contexto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Estudo dos fun<strong>da</strong>mentos teóricos que norteiama estrutura do sistema educacional brasileiro. Pressupostos e metas <strong>da</strong>s Leis <strong>de</strong> Diretrizes eBases <strong>da</strong> Educação Nacional. As políticas e a legislação <strong>da</strong> educação básica no país,Estado e Município.METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO: Estudo <strong>da</strong> aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita comoprocesso <strong>de</strong> letramento. Correntes epistemológicas e respectivas concepções <strong>de</strong> ensino,aprendizagem, língua e linguagem e sua relação com o ensino <strong>de</strong> língua materna. Osaspectos cognitivos do sujeito consi<strong>de</strong>rando os fatores psicológicos, sociais e culturais.Envolvidos no processo <strong>de</strong> alfabetização. Alternativas metodológicas para o ensino <strong>da</strong>leitura e <strong>da</strong> escrita, incluindo análise lingüística, bem como diagnóstico, prevenção eintervenção quanto as possíveis dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.TRABALHO E EDUCAÇÃO: O novo <strong>de</strong> acumulação capitalista. Organização do trabalhonas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O trabalho como princípio educativo. Cultura do trabalho e do alunotrabalhador.METODOLOGIA DA ARTE: Pressupostos conceituais, históricos e metodológicos doEnsino <strong>da</strong> Arte nas diferentes linguagens artísticas: visual, cênica, musical e <strong>da</strong>nça.ESTÁGIO SUPERVISIONADO III: Observação e participação do trabalho <strong>de</strong>senvolvido nasséries iniciais do ensino fun<strong>da</strong>mental. Experiências <strong>de</strong> docência nas séries iniciais do ensinofun<strong>da</strong>mental. Avaliação <strong>da</strong> prática <strong>de</strong> ensino.TÓPICOS ESPECIAIS EM MODALIDADES DE ENSINO: Fun<strong>da</strong>mentos teórico-práticos easpectos legais: Educação Infantil, Educação Inclusiva e Educação Indígena.CORPOREIDADE E EDUCAÇÃO: Estudo <strong>da</strong>s diferentes concepções <strong>da</strong> educação corporal,inseri<strong>da</strong>s no processo ensino-aprendizagem, incluindo ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s práticas em que o jogo(brinca<strong>de</strong>iras, dinâmicas, músicas, entre outras...) possibilitem vivenciar o corpo em todos osseus movimentos (dimensões).EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: História <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> jovens e adultos no Brasil– Movimento <strong>de</strong> erradicação do analfabetismo – Políticas atuais <strong>de</strong> Educação popular –Educação à distância – Formas <strong>de</strong> escolarização além <strong>da</strong> escola regular – Educação dosjovens e adultos <strong>de</strong> Guarapuava.LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO: Lingüística textual; a construção do sentido no texto;coerência, coesão, argumentação e variantes lingüísticas que compõem o texto escrito.Prática <strong>de</strong> leitura e produção <strong>de</strong> texto.PESQUISA EM EDUCAÇÃO III: Sistematização e teorização dos conhecimentos teóricopráticos<strong>de</strong>senvolvidos no transcorrer do curso resultando na produção <strong>de</strong> uma monografia.108


109UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTECampus Universitário <strong>de</strong> GuarapuavaCentro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e ArtesCURRÍCULO PLENOCURSO: PEDAGOGIA (272 – Manhã e Noite – Cur. 03)HABILITAÇÃO: Administração EscolarSÉRIESCÓD. DISC. DEPTOS. DISCIPLINAS 1ª 2ª 3ª 4ª C/H0719 DEPED Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Administração Escolar 3 102DEPED Avaliação Educacional e Currículo 3 1020720 DEPED Estágio Supervisionado em Administração Escolar 41360721 DEPED Seminários Interdisciplinar 3102DEPED Planejamento Educacional 268CARGA HORÁRIA TOTAL 6 9 510EMENTASFUNDAMENTOS DE ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR: Concepções <strong>da</strong>s teorias <strong>da</strong>organização e suas influências administrativas e pe<strong>da</strong>gógicas na escola. A formação doadministrador escolar e sua atuação no cotidiano escolar e na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.AVALIAÇÃO EDUCACIONAL E CURRÍCULO: Avaliação do processo <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong>aprendizagem numa visão histórica contemplando as diversas concepções pe<strong>da</strong>gógicas e aconstrução e aplicação <strong>de</strong> instrumentos. Fun<strong>da</strong>mentos e concepções sobre a organizaçãocurricular na Educação Básica: currículo por ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e por disciplina. Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico, fun<strong>da</strong>mentos filosóficos, plano curricular e regimento escolar.ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR: Revisão e conceito doestado atual <strong>da</strong> administração escolar como ciência e técnica. Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s práticas <strong>de</strong>administração: diagnóstico <strong>da</strong> situação <strong>de</strong> uma escola, elaboração <strong>de</strong> um projeto, execuçãoe avaliação <strong>de</strong>sse projeto.SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR: Discussão e análise <strong>de</strong> temas contemporâneos e <strong>da</strong>prática educativa dos profissionais <strong>da</strong> Educação.PLANEJAMENTO EDUCACIONAL: Planejamento participativo como estratégia parai<strong>de</strong>ntificação e busca <strong>de</strong> solução com vistas a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema educativo.Projetos educacionais: autonomia e participação. Documentação escolar e gestãofinanceira.UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTECampus Universitário <strong>de</strong> GuarapuavaCentro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e ArtesCURRÍCULO PLENOCURSO: PEDAGOGIA (272 – Manhã e Noite – Cur. 03)HABILITAÇÃO: Supervisão EscolarSÉRIESCÓD. DISC. DEPTOS. DISCIPLINAS 1ª 2ª 3ª 4ª C/H


1100719 DEPED Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Supervisão Escolar 3 102Avaliação Educacional e Currículo 3 1020720 DEPED Estágio Supervisionado em Supervisão Escolar 4 1360721 DEPED Seminários Interdisciplinar 2680722 DEPED Orientação Didático Pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong>Supervisão Escolar 3 102CARGA HORÁRIA TOTAL 6 9 510EMENTASAVALIAÇÃO EDUCACIONAL E CURRÍCULO: Avaliação do processo <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong>aprendizagem numa visão histórica contemplando as diversas concepções pe<strong>da</strong>gógicas e aconstrução e aplicação <strong>de</strong> instrumentos. Fun<strong>da</strong>mentos e concepções sobre a organizaçãocurricular na Educação Básica: currículo por ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e por disciplina. Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico, fun<strong>da</strong>mentos filosóficos, plano curricular e regimento escolar.FUNDAMENTOS DE SUPERVISÃO ESCOLAR: Contexto sócio-histórico <strong>de</strong> SupervisãoEscolar. Métodos e Técnicas <strong>de</strong> Intervenção didático-pe<strong>da</strong>gógica para o EnsinoFun<strong>da</strong>mental e Médio. Planejamento em Supervisão escolar nos diversos seguimentoseducacionais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Construção Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico. O trabalho dosupervisor escolar.ESTÁGIO EM SUPERVISÃO ESCOLAR: Organização <strong>da</strong> Prática contextualiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>Supervisão Escolar e inserção do estagiário no Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio, organização eprática em Instituições não-escolares e em nível institucional do Estado e do Município.SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR: Discussão e Análise <strong>de</strong> temas contemporâneos e <strong>da</strong>prática educativa dos profissionais <strong>da</strong> Educação.ORIENTAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: Trabalho <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação pe<strong>da</strong>gógica naelaboração <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cotidianas <strong>da</strong> escola, subsidiando os planos <strong>de</strong> ensino doprofessor e suas alternativas metodológicas e técnicas. Uso dos instrumentos didáticope<strong>da</strong>gógicosem sala <strong>de</strong> aula. O processo educativo na organização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>pe<strong>da</strong>gógica. Democratização e autonomia <strong>da</strong> escola. O trabalho do pe<strong>da</strong>gogo na escola.Organização do trabalho na escola.UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTECampus Universitário <strong>de</strong> GuarapuavaCentro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e ArtesCURRÍCULO PLENOCURSO: PEDAGOGIA (342 – Manhã e Noite – Cur. 03)HABILITAÇÃO: Orientação EducacionalSÉRIESCÓD. DISC. DEPTOS. DISCIPLINAS 1ª 2ª 3ª 4ª C/H0217 DEPED Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Orientação Educacional 3 1020218 DEPED Avaliação Educacional e Currículo 3 1020229 DEPED Orientação Profissional 3 1020226 DEPED Estágio Supervisionado em Orientação 4 136Educacional0230 DEPED Seminário Interdisciplinar 268CARGA HORÁRIA TOTAL 6 9 510


111EMENTASAVALIAÇÃO EDUCACIONAL E CURRÍCULO: Avaliação do processo <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong>aprendizagem numa visão histórica contemplando as diversas concepções pe<strong>da</strong>gógicas e aconstrução e aplicação <strong>de</strong> instrumentos. Fun<strong>da</strong>mentos e concepções sobre a organizaçãocurricular na Educação Básica: currículo por ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e por disciplina. Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico, fun<strong>da</strong>mentos filosóficos, plano curricular e regimento escolar.FUNDAMENTOS DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: Fun<strong>da</strong>mentos teórico-práticos <strong>de</strong>Orientação Educacional para Educação Básica. Planejamento e projetos em OrientaçãoEducacional nos diversos segmentos educacionais.ESTÁGIO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: Organização <strong>da</strong> prática contextualiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>Orientação Educacional e inserção do estagiário na Educação Básica; organização e práticaem instituições escolares e não-escolares.SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR: Discussão e Análise <strong>de</strong> temas contemporâneos e <strong>da</strong>prática educativa dos profissionais <strong>da</strong> Educação.ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: O processo <strong>de</strong> escolha profissional e as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s domercado <strong>de</strong> trabalho a partir <strong>de</strong> uma concepção sobre o mundo do trabalho: a organização<strong>de</strong> projetos e programas <strong>de</strong> Orientação Profissional nas diversas áreas educacionais.UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTECampus Universitário <strong>de</strong> GuarapuavaCentro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e ArtesCURRÍCULO PLENOCURSO: PEDAGOGIA (362 – Manhã e Noite – Cur. 02)HABILITAÇÃO: Educação InfantilSÉRIESCÓD. DISC. DEPTOS. DISCIPLINAS 1ª 2ª 3ª 4ª C/H0381 DEPED Psicologia <strong>da</strong> Educação Infantil 2 680383 DEPED Fun<strong>da</strong>mentos Históricos e Filosóficos <strong>da</strong> Educação Infantil 2 680384 DEPED Fun<strong>da</strong>mentos Teóricos e Metodológicos <strong>da</strong> Educação Infantil 268Saú<strong>de</strong> e nutrição <strong>da</strong> criança 2 680385 DEPED Políticas Públicas e Legislação <strong>da</strong> Educação Infantil 2 680386 DEPED Estágio Supervisionado em Educação Infantil 4 1360387 DEPED As diferentes linguagens artísticas: verbal, corporal, plástica e 268musical.TOTAL 8 8 544EMENTASPSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: Estudo do <strong>de</strong>senvolvimento psicológico <strong>da</strong>criança <strong>de</strong> zero a seis anos, nos seus aspectos: motor, cognitivo, afetivo e social.FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: Abor<strong>da</strong>gens<strong>da</strong>s concepções <strong>de</strong> infância na perspectiva, histórica, social, cultural, antropológica.Evolução <strong>da</strong> educação infantil no Brasil analisando aspectos como: história, objetivos,funções, concepções e práticas. A história do assistencialismo: o cui<strong>da</strong>do e educação <strong>da</strong>criança.FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: Osteóricos e as teorias <strong>da</strong> educação infantil e suas influências no trabalho teórico-prático.Abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s diferentes concepções <strong>de</strong> trabalho pe<strong>da</strong>gógico que fun<strong>da</strong>mentam a


112educação infantil no Brasil. Metodologias e organização do trabalho pe<strong>da</strong>gógico para aeducação infantil.SAÚDE E NUTRIÇÃO DA CRIANÇA: Abor<strong>da</strong>gens <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong> nutrição <strong>da</strong> criança nasdiversas fases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, assegurando hábitos alimentares a<strong>de</strong>quados, higiene e repouso. Asdoenças <strong>da</strong> infância e as vacinas. A AIDS. A segurança dos materiais e equipamentos. Asegurança <strong>da</strong> criança: aci<strong>de</strong>ntes mais comuns, prevenção e primeiros socorros. Técnicas <strong>de</strong><strong>de</strong>sinfecção e higiene pessoal dos educadores.POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: As políticas públicase as implicações <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong> inserção <strong>da</strong> educação infantil no sistema <strong>de</strong> educaçãonacional. A criança <strong>de</strong> 0 a 6 anos na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, na família e nas instituições <strong>de</strong> EducaçãoInfantil. A Legislação <strong>da</strong> Educação Infantil.ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM EDUCAÇÃO INFANTIL: Observação <strong>de</strong> instituições eclasses <strong>de</strong> educação infantil e participação na programação <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas a elasrelaciona<strong>da</strong>s. Desenvolvimento <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> intervenção pe<strong>da</strong>gógica.AS DIFERENTES LINGUAGENS ARTÍSTICAS: VERBAL, CORPORAL, PLÁSTICA EMUSICAL. Propor diferentes modos <strong>de</strong> ver, compor interpretar e reproduzir a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> naslinguagens artísticas – forma – tempo – espaço – a partir do ver, do saber e do fazer.UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTECampus Universitário <strong>de</strong> GuarapuavaCentro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e ArtesCURRÍCULO PLENOCURSO: PEDAGOGIA (372-L – Manhã e Noite – Cur. 03)HABILITAÇÃO: Educação InclusivaSÉRIESCÓD. DISC. DEPTOS. DISCIPLINAS 1ª 2ª 3ª 4ª C/H0712 DEPED Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Educação Inclusiva 2 680715 DEPED Características <strong>da</strong> Pessoa com Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>sEspeciais 4 1360716 DEPED Educação e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia 2 680717 DEPED Recursos e Metodologias Alternativas 4 1360718 DEPED Estágio Supervisionado em Educação Inclusiva 3 102TOTAL 6 9 510EMENTASFUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA : Evolução histórica <strong>da</strong> Educação Especial.Princípios norteadores: aspectos sociais, educacionais e legais. Mu<strong>da</strong>nça do enfoque <strong>da</strong>reabilitação para a inclusão.CARACTERÍSTICAS DA PESSOA COM NECESSIDADES ESPECIAIS: Conceito ecaracterísticas comportamentais. Aspectos <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação e prevenção, nas diferentesáreas. Caracterização <strong>da</strong> sur<strong>de</strong>z; Funções (estrutura e característica) <strong>da</strong> visão; Níveis <strong>de</strong>funcionamento mental; Aspectos físicos e neuromotores <strong>da</strong> paralisia cerebral; Principaistranstornos emocionais; Caracterização <strong>da</strong> superdotação e talentos.EDUCAÇÃO E CIDADANIA: Reflexões acerca do conceito <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, trabalho, eautonomia, na nova visão <strong>de</strong> empregabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Direitos <strong>da</strong> pessoa com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>sespeciais: trabalho, lazer, esporte, cultura e sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>.RECURSOS E METODOLOGIAS ALTERNATIVAS EM EDUCAÇÃO. INCLUSIVA:Alternativas para o enfrentamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios na rea<strong>de</strong>quação <strong>da</strong> educação especial naperspectiva <strong>da</strong> educação inclusiva. Mecanismos <strong>de</strong> ação com vistas à remoção <strong>de</strong> barreiras


113à aprendizagem, práticas pe<strong>da</strong>gógicas que subsidiem à respostas educativas a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>saos educandos com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais diferencia<strong>da</strong>s, com vistas a sua inclusãosocial.ESTÁGIO EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: Definição <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> ação coerentes com oprojeto <strong>de</strong> homem e socie<strong>da</strong><strong>de</strong> comprometidos com a educação inclusiva. Experiências emdocência no atendimento ao aluno com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais, aten<strong>de</strong>ndo ao princípio <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.REFERÊNCIASARRUDA, M.; BOFF, L. Globalização: <strong>de</strong>safios socioeconômicos, éticos e educativos.Petrópolis: Vozes, 2000.CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CP 2, <strong>de</strong> 19/02/2002. Brasília:MEC, 2002.FULLAT, O. Filosofias <strong>da</strong> Educação. Petrópolis: Vozes, 1994.HOUSSAYE, J. O que é um pe<strong>da</strong>gogo? apud: VICTÓRIO FILHO, A.; MONTEIRO, S. C. F.(Orgs.) Cultura e conhecimento <strong>de</strong> professores. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2002.NISBET, R. A. La tradition sociologique. Paris: PUF, 1984. apud: ROPÉ, F.; TANGUY, L.(Orgs.). Saberes e competências: O uso <strong>de</strong> tais noções na escola e na empresa.Campinas: Papiros, 1997.MIZUKAMI, M. G. N. (et al.). Escola e aprendizagem <strong>da</strong> docência: processos <strong>de</strong>investigação e formação. São Carlos: EdUFSCAR, 2002.RODRIGUES, M. F. As Reformas Educacionais e a Formação <strong>de</strong> Profissionais para aEducação Básica: qualificação ou <strong>de</strong>squalificação do curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia? Mimeografado.ROPÉ, F.; TANGUY, L. (Orgs.). Saberes e competências: O uso <strong>de</strong> tais noções na escolae na empresa. Campinas: Papiros, 1997.SAVIANI, D. Escola e Democracia. 35. ed. Campinas: Autores Associados, 2002.

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