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Praia Dura - Jornal Maranduba News

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Página 14 <strong>Jornal</strong> MARANDUBA <strong>News</strong> 20 Agosto 2011Retrato fiel das mutilações, assassinatos e torturas a negrosEZEQUIEL DOS SANTOSAntes da Lei Áurea sabemosque eram mais comuns os maustratos aos negros escravos. Eramcastigos físicos extremos. Um dosmais fiéis retratos destas crueldadesfoi reproduzido pelo italianoÂngelo Agostini (1843-1910).O artista chegou ao Brasil emmaio de 1859 aos 16 anos vindode Varcelli, no Piemonte. Ele haviaestudado desenho e pinturaem Paris, na época a imprensailustrada engatinhava. O artistafoi o mais importante artista gráficodo Segundo Reinado, consideradoum ícone da história emquadrinhos no mundo e do jornalismoilustrado, chique paraa época. Foi responsável pelaprodução de “Scenas da Escravidão”,obra esta que surpreendeua corte e as províncias, foram publicadasaté nos Estados Unidos.O retrato de Agostini da crueldadeaos negros do Brasil aindaé lembrado por historiadores eespecialistas de que apenas setentaanos depois das figurasretratadas, as mesmas cenasforam revividas nos campos deconcentração do regime nazista.As imagens do trabalho sãoimpressionantes nas riquezasde detalhes, revelam casos documentadoscom datas, nome esobrenome de quem participoudas atrocidades.Na época em que o analfabetismono Brasil era de 80% dapopulação, a revista que publicouas imagens era chamada de “RevistaIlustrada”, com tiragem dequatro mil exemplares, um recordepara época. O periódico possuíaoito páginas sendo quatro detextos e quatro de ilustração emtamanho 26,5 cm por 36,5 cm eexistiu entre 1876 a 1895. Numaépoca em que a fotografia nãoera impressa em papel, o realismodos desenhos impressionava.Reproduzimos pra você o desenhode duas adolescentes es-pancadas e publicadas em 18de fevereiro de 1886, na qual serefere de que o fotografo Heitortirou o retrato das infelizese copiados por Agostini a lápisem suas páginas. No texto eraexplicado que as duas escravas,Eduarda, 15, e Joana, 17, “habitavam,com sua proprietária,a Exma. Sra. D. Francisca deCastro, o aristocrático bairro deBotafogo”. A história prosseguedando detalhes dos castigos sofridospelas duas: “As pancadasbrutais reduziram os olhos (deJoana) a duas postas de sangue,a testa apresenta o aspecto deum tumor, as cartilagens do narizestão quebradas (...), enfimestes rostos juvenis estão mutiladosem todos os sentidos”.Depois de noticiar a morte dasduas, o texto finda a matéria lamentandoo fato de que “duranteanos, este martírio inconcebívelficou fechado entre quatro paredesde um quarto”.O pior é que depois de novemeses, em 6 de novembro a noticiade que a justiça, que pareceser igual a de agora, por unanimidaderesolve absolver Franciscade Castro. Na edição 29 de outubrode 1887, narra a fuga de 150escravos das fazendas de Capivari-SP.Os escravos venceram doiscontingentes da polícia. A fugaera para Santos onde 15 foram recapturados.A este caso o seguintecomentário: “Apesar de todosos horrores, não se vê um senhornas prisões do Estado. Em compensação,elas estão cheias deinfelizes que se revoltaram contraseus algozes. Santa Justiça!”.Vários outros desenhos forampublicados, graças a este ítalo--brasileiro temos a exata noçãoda realidade do que aconteciacom os negros no Brasil. Osdados mostram que a luta dosnegros não era por tendência,moda, mas para defender opatrimônio mais importante queconhecemos - o direito a vida ea liberdade. Sabemos que nãomudou muito, temos a vida, aliberdade não sei. O que vocêacha? Agostini retrata as váriasfacetas dos ricos poderosos daépoca em forma de um ditadoque conhecemos bem: “por forabela viola, por dentro pão bolorento”.A crua e nua realidadeainda é desta forma, a “justiça”e os “poderosos” não mudarammuito, ou quase nada.Tem muita gente que aindanão reconhece o sofrimentoalheio, alguns inclusive nãoreconhecem a luta travada porseus ancestrais, vivem olhandoo próprio umbigo e esquecemde erguer a cabeça pro certoe verdadeiro criado à custa demuito sangue, suor e lágrimas.Graças a Agostini não dá parapular a história de um povo queliteralmente construiu o Brasil eainda assim sofre muito. Por quenão respeitar um povo que deuo sangue por nós. E se fosse dasua família?Fonte: Folha de São Paulo

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