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História do Futuro

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<strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Futuro</strong>file://D:\Backup\Estudenet\e-Books\Barroco\Pe. Antônio Vieira\<strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Futuro</strong>\T...Página 31 de 16927/08/2011povoavam suas Índias, que mareavam suas frotas, que lavravam seus campos,que freqüentavam seus portos, que trafegavam seus comércios, que inteiravamseus presídios, que militavam seus exércitos, ficam hoje dentro em Portugal, eo habitam e o enchem e o multiplicam, e assim se vêem hoje mais povoa<strong>do</strong>sseus lugares, mais freqüentadas suas estradas, mais lavra<strong>do</strong>s seus campos, eaté as serras, brenhas, lagos e terras, onde nunca entrou ferro, nem ara<strong>do</strong>,abertas e cultivadas. As Conquistas com a paz não levam, nem hão mistersocorros, antes delas os recebe o Reino com muitos e valentes solda<strong>do</strong>s eexperimenta<strong>do</strong>s capitães, que, ou vêm requerer o prêmio de seus antigosserviços, ou servir e merecer de novo, e justificar com os olhos <strong>do</strong> rei e <strong>do</strong>Reino as certidões mais seguras de seu valor.Foi lei, e lei prudentíssima, no princípio da guerra, que não se alistassem nelasenão mancebos livres. A sombra desta imunidade, muitos filhos por indústria<strong>do</strong>s pais se acolhiam na menoridade ao sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong> matrimônio, com que asfamílias se multiplicavam infinitamente, e os mesmos que então se retiravamda guerra, têm hoje muitos filhos com que a sustentam e os sustentam comela.Desta maneira se acha Portugal cada dia mais forneci<strong>do</strong> de muitos e valentessolda<strong>do</strong>s, nasci<strong>do</strong>s e cria<strong>do</strong>s entre o mesmo estron<strong>do</strong> das armas, em que opelejar e o morrer não é acidente senão natureza, to<strong>do</strong>s dentro em si e nasmesmas províncias e climas, onde nada lhes é estranho, e não trazi<strong>do</strong>s porforça de Sicília, de Nápoles, de Milão e de Alemanha, compra<strong>do</strong>s e conduzi<strong>do</strong>scom imensas despesas e perigos, sen<strong>do</strong> muitos os que se alistam e pagam, epoucos os que chegam, uns para se passarem logo, como passam, a Portugal,outros para pelejarem sem amor e com valor vendi<strong>do</strong>, como quem defende oalheio e conquista o que não há-de ser seu.Os Portugueses, pelo contrário, com grande vantagem de coração pelejam pelorei, pela Pátria, pela honra, pela vida, pela liberdade, e cada um por sua própriacasa e fazenda, sen<strong>do</strong> a maior comodidade da guerra e multiplicação da gentea mesma estreiteza <strong>do</strong> Reino (que o discurso mal avaliava), por benefício daqual os exércitos e províncias se podem dar as mãos umas a outras, pelejan<strong>do</strong>os mesmos solda<strong>do</strong>s quase no mesmo tempo em diversos lugares, emultiplican<strong>do</strong>-se por este mo<strong>do</strong> um solda<strong>do</strong> em muitos solda<strong>do</strong>s, e aparecen<strong>do</strong>em toda a parte (como alma de Di<strong>do</strong>) aos Castelhanos com novo horror eassombro. Desta maneira não teme o valor português que lhe suceda como aEleázaro com o elefante, fican<strong>do</strong> oprimi<strong>do</strong> com a sua própria vitória; mas estácerto que lhe há-de suceder como a David com o gigante, logran<strong>do</strong> vivo a glóriade seu triunfo. CAPÍTULO VIII Continua a mesma matériaDesengana<strong>do</strong> por estas evidências o poder, a indústria, o discurso e esperançaespanhola, bem pudera eu esperar <strong>do</strong> juízo mais político de nossoscompeti<strong>do</strong>res e seus conselheiros, acabassem de desistir de tão infrutuosaporfia. Mas deixa<strong>do</strong>s à parte os argumentos da razão e experiência, subamosum ponto mais alto, e se atègora me ouviram como homem a racionais,ouçam-me agora como cristão a católicos.Não duvi<strong>do</strong>, nem alguém pode duvidar da fé, religião e piedade espanhola, que,se o seu católico príncipe e seus maiores conselhos se acabassem de persuadirque Deus tinha decretada a conservação e perpetuidade de Portugal,obedeceriam com suma reverência aos divinos decretos, abateriam a Deus,ainda que tremulassem vitoriosas suas católicas bandeiras, tocariam a recolherseus capitães e exércitos e confessariam, na mais levantada fortuna, adesigualdade de sua maior potência contra os acenos da divina.Isto é o que eu agora lhes quero persuadir e demonstrar, e um <strong>do</strong>s finsprincipais por que escrevo esta <strong>História</strong>, para que, pelo conhecimento denossos futuros, possam emendar o engano de suas esperanças presentes.Sempre são falsas e enganosas as esperanças humanas, mas nunca maiscertamente falsas, que quan<strong>do</strong> se opõem e encontram com as promessasdivinas. Veja e saiba Castela o que Deus tem prometi<strong>do</strong> a Portugal, e logoadvertirá a vaidade <strong>do</strong> que suas esperanças lhe prometem. Oh quantasguerras, oh quanto sangue, ou quantos tesouros balda<strong>do</strong>s poderiam poupar os

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