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quer dizer “reler”, expressão que r<strong>em</strong>ete à dimensão racional eorganiza<strong>do</strong>ra da religião, ou então à dimensão de transmissãode <strong>um</strong> conhecimento tradicional. Para Lactance, porém, a palavrareligio v<strong>em</strong> de religare, “ligar”. Verticalmente, os indivíduossão liga<strong>do</strong>s a <strong>um</strong>a transcendência, a algo que os ultrapassa,a <strong>um</strong>a fonte invisível <strong>do</strong> “sagra<strong>do</strong>”. Horizontalmente, essaexperiência e essa crença comuns ligam os indivíduos entre si,crian<strong>do</strong> <strong>um</strong> laço social na comunidade. O fundamento maispoderoso de <strong>um</strong>a sociedade é, efetivamente, a religião. O escritore especialista <strong>em</strong> mídia Régis Debray analisou muitob<strong>em</strong> a função pública da religião e mostrou que toda sociedadet<strong>em</strong> necessidade de reunir os indivíduos <strong>em</strong> torno de <strong>um</strong>invisível que os transcende. Isso é cada vez menos verdadeirona Europa, mas trata-se de <strong>um</strong>a exceção. A crença <strong>em</strong> Deus épartilhada por 93% <strong>do</strong>s americanos, quaisquer que sejam asconfissões religiosas, e a coesão social é muito forte nos Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s. Deus é onipresente, inclusive nos rituais da vidacivil. A religião também está presente e é fonte de coesão socialnos outros continentes, nos países cristãos, muçulmanos, budistase ainda na Índia, e até mesmo, curiosamente, na China,<strong>em</strong> torno de tradições confucianas e <strong>do</strong> culto <strong>do</strong>s ancestrais,que nunca desapareceram, apesar <strong>do</strong> comunismo. Apenas naEuropa a religião quase não fundamenta mais o laço coletivo.Por isso, a insistente pergunta das sociedades europeias: comocriar <strong>um</strong> laço social? É a primeira vez na história que <strong>um</strong>a civilizaçãotenta criar <strong>um</strong> laço social fora da religião. À crise dascrenças religiosas nos séculos XVIII e XIX sucederam o que sechama de religiões civis, quer dizer, crenças coletivas, partilhadaspor to<strong>do</strong>s, <strong>em</strong> torno de algo que nos transcende e nos ultrapassa:o nacionalismo, por ex<strong>em</strong>plo. Durante os séculosXIX e XX, na Europa, as pessoas davam a vida pela pátria. Erao lugar <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>! Hoje, não há mais sagra<strong>do</strong>.15