“<strong>Angola</strong>gate”Arcadi Gay<strong>da</strong>mak e Pierre Falcone contamcom um historial <strong>de</strong> acordos questionáveisenvolvendo <strong>Angola</strong>. Em Outubro <strong>de</strong>2009, a França assistiu a um notáveljulgamento no qual um tribunal sentenciouum conjunto <strong>de</strong> políticos e empresáriosinternacionais franceses como culpados<strong>de</strong> inúmeros crimes relacionados com ocaso que foi apeli<strong>da</strong>do <strong>de</strong> “<strong>Angola</strong>gate”:um <strong>contrato</strong> <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> armas no valor<strong>de</strong> 790 milhões <strong>de</strong> dólares entre <strong>Angola</strong>,a França, e a Rússia (realizado durante oembargo <strong>de</strong> armas <strong>da</strong> ONU contra <strong>Angola</strong>),organizado em gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong> por Falconee Gay<strong>da</strong>mak, que corromperam políticosfranceses e angolanos. Entre os mais <strong>de</strong>40 notáveis apanhados no “<strong>Angola</strong>gate”,encontravam-se o antigo Ministro <strong>da</strong>Administração Interna, Charles Pasquae Jean-Christophe Mitterrand, filho doantigo Presi<strong>de</strong>nte François Mitterrand. Ojulgamento terminou com 36 con<strong>de</strong>nações,a maior parte por crimes financeiros.tempo útil, pelo que acordou voluntariamente em aceitar30% <strong>de</strong>sse montante (1,5 mil milhões <strong>de</strong> dólares a uma taxa<strong>de</strong> juro <strong>de</strong> 6%). Contudo, ao abrigo <strong>da</strong> nova restruturação,<strong>Angola</strong> só conseguiria pagar os 1,5 mil milhões <strong>de</strong> dólares(juros acrescidos) em 2016. A Rússia queria receber opagamento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> antes <strong>de</strong>sse prazo. Não é poucocomum, no mundo <strong>da</strong>s transacções <strong>de</strong> dívi<strong>da</strong>s, um credorenvolver, <strong>de</strong> acordo com termos comerciais razoáveis, umintermediário com uma boa reputação financeira paraassumir o risco <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>vedor financeiramentefraco. Desta forma, o credor po<strong>de</strong> ter a certeza <strong>de</strong> recuperar,no mínimo, algum montante <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ixando que ointermediário assuma o risco <strong>de</strong> incumprimento e cabendolhea responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cobrança <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>.Foi isto que a Rússia fez – ou parece ter feito à primeiravista. Mas o Contrato <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> angolana não foi umatransacção normal e o intermediário escolhido não erauma instituição financeira comum. O intermediáriointroduzido no <strong>contrato</strong> era uma empresa que atendia pelonome <strong>de</strong> Abalone Investments: uma empresa com se<strong>de</strong> naIlha <strong>de</strong> Man, sem quaisquer activos e que foi constituí<strong>da</strong>exclusivamente para participar no Contrato. A Abalone era<strong>de</strong>ti<strong>da</strong> por dois notáveis homens <strong>de</strong> negócios, ambos comum historial <strong>de</strong> negócios obscuros com <strong>Angola</strong>: ArcadiGay<strong>da</strong>mak e Pierre Falcone.Em 2011, muitas <strong>da</strong>s con<strong>de</strong>naçõesforam absolvi<strong>da</strong>s pelo tribunal <strong>de</strong> recursoquando se apurou que o tráfico <strong>de</strong> armasilícito – apesar <strong>de</strong> violar a lei francesa –,constituía um acto soberano do governo<strong>de</strong> <strong>Angola</strong> que não podia ser con<strong>de</strong>nadopelos tribunais franceses. To<strong>da</strong>via, duasfiguras chave haveriam <strong>de</strong> cumprir penaspor crimes conexos, embora <strong>de</strong> duraçãoreduzi<strong>da</strong>: Falcone e Gay<strong>da</strong>mak (emboraGay<strong>da</strong>mak, como fugitivo <strong>da</strong> justiça, tenhaevitado a prisão efectiva até à <strong>da</strong>ta).Muitos intermediários <strong>de</strong> dívi<strong>da</strong> fazem fortunas participandonos planos <strong>de</strong> pagamento, tal como fez a Abalone. Mas comuma diferença essencial: a Abalone não assumiu qualquerrisco, comercial ou outro, e não dispunha <strong>de</strong> quaisqueractivos que permitissem mitigar os riscos para a <strong>Angola</strong> oupara a Rússia. A Abalone só assumiu ca<strong>da</strong> porção <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong><strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber o pagamento por parte dos angolanos.Para além disso, os russos, em vez <strong>de</strong> se ficarem pelos 30%do valor total <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> originalmente aceite, em termospráticos, aceitaram muito menos que isso, <strong>de</strong>ixando umavultado volume <strong>de</strong> fundos nas mãos do intermediário. Asaga prossegue com acontecimentos ain<strong>da</strong> mais inusitadosquando, mais tar<strong>de</strong>, um dos empresários (ao que cremos)extorquiu os seus sócios e, <strong>de</strong>pois, mentiu aos angolanos acerca dos fundos entregues àRússia para o pagamento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>.A inserção supérflua <strong>de</strong> um intermediário sem quaisquer bens e sem competênciasfinanceiras particulares, na sequência <strong>de</strong> pagamentos permitiu que milhões <strong>de</strong> dólaresvoassem para contas bancárias priva<strong>da</strong>s, incluindo um montante consi<strong>de</strong>rável transferidopara governantes (na sua maioria, ao que parece, angolanos, mas certamente tambémrussos). Se <strong>Angola</strong> tivesse pago a sua dívi<strong>da</strong> directamente ao Ministro <strong>da</strong>s Finanças russo no22FRAUDE EM ALTAS POSIÇÕES: O <strong>contrato</strong> <strong>corrupto</strong> <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> à Rússia
mesmo plano utilizado, teria poupado, no mínimo, 823 milhões <strong>de</strong> dólares, quase 11% doseu PIB em 1996.Na Suíça (pelo menos), tem vindo a lume uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> notícias acercado Contrato <strong>de</strong> dívi<strong>da</strong>, em especial os milhões <strong>de</strong> dólares resultantes do petróleo angolano<strong>de</strong>sviados pelas mentes criadoras do Contrato, Arcadi Gay<strong>da</strong>mak e Pierre Falcone e o seu maisrecente sócio, Vitaly Malkin. Nota-se, em particular, uma vasta cobertura <strong>da</strong> comunicaçãosocial sobre a recusa do Procurador-geral <strong>de</strong> Genebra em levar a cabo uma investigaçãoséria, não obstante as provas documentais substanciais <strong>de</strong> pagamentos altamente suspeitos afavor <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacados lí<strong>de</strong>res políticos angolanos, incluindo o próprio Presi<strong>de</strong>nte dos Santos.Em Dezembro <strong>de</strong> 2006, através <strong>de</strong> uma dénonciation apresenta<strong>da</strong> em nome <strong>de</strong> seis ci<strong>da</strong>dãosangolanos e <strong>de</strong> um memorando legal <strong>de</strong> apoio, <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2007, com vista a pressionaro Procurador-geral <strong>de</strong> Genebra, Daniel Zappelli, a reavivar uma investigação moribun<strong>da</strong>,apresentaram-se provas <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>s consi<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong> prevaricação no Contrato, que seencontravam disponíveis à <strong>da</strong>ta, mas que nunca tinham sido integralmente apresenta<strong>da</strong>spara serem submeti<strong>da</strong>s a julgamento por um tribunal suíço.O presente relatório divulga as vastas provas adicionais que os autores <strong>de</strong>scobriram e querevelam os <strong>de</strong>talhes <strong>da</strong> estrutura e <strong>da</strong> implementação do Contrato <strong>de</strong> dívi<strong>da</strong>, que servepara <strong>de</strong>stacar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s suíças abrirem uma investigação. A informaçãopreviamente sonega<strong>da</strong> inclui o seguinte:• Provas que indicam que o envolvimento <strong>da</strong> Abalone no Contrato <strong>de</strong> dívi<strong>da</strong> estavamuito provavelmente planeado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início com vista a <strong>de</strong>sviar cerca <strong>de</strong> 750milhões <strong>de</strong> dólares do pagamento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> pelo governo <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> para as mãosdos principais membros <strong>da</strong> Abalone e para <strong>de</strong>stacados governantes angolanos.• Cópias dos <strong>contrato</strong>s reais que tornam claro que a Abalone – uma empresa fictíciasem quaisquer activos, sem acesso especial ao crédito, e sem conhecimentos <strong>de</strong>especiali<strong>da</strong><strong>de</strong> quanto às dívi<strong>da</strong>s soberanas – nem sequer fingiu assumir qualquerrisco comercial no Contrato <strong>de</strong> dívi<strong>da</strong>. Estes <strong>contrato</strong>s também mostram comoa Abalone e a Rússia alteraram repeti<strong>da</strong>mente os termos do seu <strong>contrato</strong>, paraproporcionarem partes ain<strong>da</strong> maiores dos pagamentos <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> àAbalone, às custas <strong>da</strong> Rússia.• Informação nova crucial acerca <strong>de</strong> provas <strong>de</strong> especialistas financeiros cujostestemunhos conduziram ao fim <strong>de</strong> uma investigação criminal sobre o Contratona Suíça, em 2004. Sabemos agora que foram os advogados <strong>de</strong> Vitaly Malkin ePierre Falcone, este último acusado na investigação, que originalmente abor<strong>da</strong>ramo especialista e pagaram os honorários pedidos pelo seu testemunho. O próprioespecialista reconhece que os advogados <strong>de</strong> Falcone só lhe facultaram informaçãolimita<strong>da</strong> para rever a matéria; muito se passava nos bastidores e não foi facultadoo acesso; reconhece também a probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> corrupção no Contrato e que osci<strong>da</strong>dãos <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> e <strong>da</strong> Rússia saíram prejudicados.• Vasta corroboração adicional sobre a natureza <strong>de</strong>ficiente <strong>da</strong>s práticas empresariais<strong>de</strong> Gay<strong>da</strong>mak, vivi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong>s por uma série <strong>de</strong> extorsões alega<strong>da</strong>menteperpetra<strong>da</strong>s por si aos seus sócios e pelas mentiras ao governo <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> sobre omontante pago para a amortização <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> à Rússia, o que resultou em mais <strong>de</strong>70 milhões <strong>de</strong> dólares em custos adicionais para <strong>Angola</strong>.INTRODUÇÃO 23
- Page 3 and 4: Fraude emAltas Posições:O contrat
- Page 5 and 6: “Quand on est banquier, il faut s
- Page 7 and 8: ÍndiceLista de tabelas, anexos e p
- Page 9 and 10: Lista de tabelas, anexos e provasTa
- Page 11 and 12: Resumo executivoEste relatório for
- Page 13 and 14: mil milhões de dólares, um valor
- Page 15: a Abalone procederia à transferên
- Page 18 and 19: Figura 1 Transacções da Abalone 3
- Page 23: IntroduçãoEste relatório expõe
- Page 27 and 28: Fase I do Acordo:Financiamento prud
- Page 29 and 30: Como prova das prestações de paga
- Page 31 and 32: como intermediária entre os govern
- Page 33 and 34: semelhante ao do Banque Paribas, na
- Page 35 and 36: A primeira transferência no valor
- Page 37 and 38: das Finanças da Rússia como forma
- Page 39 and 40: intervenção de um banqueiro russo
- Page 41 and 42: Zbinden citou os vários documentos
- Page 43 and 44: A Circular 98/1 especificou ainda q
- Page 45 and 46: de 1998. A Chavanne Trade tinha a m
- Page 47 and 48: Santos era o beneficiário efectivo
- Page 49 and 50: da empresa, número 709 006, no Ban
- Page 51 and 52: • O juiz teria comunicado a ident
- Page 53 and 54: Tabela 2 Calendário da Fase I do A
- Page 55 and 56: Outra pergunta que se coloca no seg
- Page 57 and 58: Fase II do Acordo:Fuga para ChipreO
- Page 59 and 60: 2. O Segundo Mecanismo de Dívida-p
- Page 61 and 62: angolana à Federação Russa, com
- Page 63 and 64: “O Governo da República de Angol
- Page 65: A 4 de Abril de 2001, a Sberinvest
- Page 68 and 69: Gaydamak (ab)usou (d)essa procuraç
- Page 70 and 71: no Poalim Trust, em Israel, e, no d
- Page 72 and 73: sem a aprovação de Gaydamak e sem
- Page 75 and 76:
ConclusãoQuando confrontados com u
- Page 77:
que enfrentar uma enormidade de bur
- Page 80 and 81:
e) Os cidadãos não angolanos tamb
- Page 82 and 83:
t) As autoridades judiciais dos est
- Page 84 and 85:
Anexo 2Pagamentos feitos pela Abalo
- Page 86 and 87:
Anexo 4Pagamentos da Abalone Invest
- Page 88 and 89:
Anexo 6Pagamentos da Abalone Invest
- Page 90 and 91:
Anexo 8Pagamentos da Abalone Invest
- Page 92 and 93:
Anexo 10Pagamentos da Sonangol à S
- Page 94 and 95:
Anexo 12Pagamentos da Sberinvest-Ch
- Page 96 and 97:
Anexo 13Pagamentos da Sberinvest-Ch
- Page 98 and 99:
Prova 4Acordo Rússia-Abalone, de 5
- Page 100 and 101:
Prova 4 (contínuo)Acordo Rússia-A
- Page 102 and 103:
Prova 4 (contínuo)Acordo Rússia-A
- Page 104 and 105:
Prova 4 (contínuo)Acordo Rússia-A
- Page 106 and 107:
Prova 4 (contínuo)Acordo Rússia-A
- Page 108 and 109:
Prova 8Acordo Sonangol-Abalone, de
- Page 110 and 111:
Prova 8 (contínuo)Acordo Sonangol-
- Page 112 and 113:
Prova 8 (contínuo)Acordo Sonangol-
- Page 114 and 115:
Prova 11Memorando do UBS, de 22 de
- Page 116 and 117:
Prova 11 (contínuo)Memorando do UB
- Page 118 and 119:
Prova 11 (contínuo)Memorando do UB
- Page 120 and 121:
Prova 13 (contínuo)Memorando do UB
- Page 122 and 123:
Prova 13 (contínuo)Memorando do UB
- Page 124 and 125:
Prova 13 (contínuo)Memorando do UB
- Page 126 and 127:
Prova 13 (contínuo)Memorando do UB
- Page 128 and 129:
Prova 15 (contínuo)Memorando de En
- Page 130 and 131:
Prova 15 (contínuo)Memorando de En
- Page 132 and 133:
Prova 21Plano da Abalone Investment
- Page 134 and 135:
Prova 28Fluxograma da Sberinvest132
- Page 136 and 137:
Prova 31 (contínuo)Relatório da P
- Page 138 and 139:
Prova 31 (contínuo)Relatório da P
- Page 140 and 141:
Prova 31 (contínuo)Relatório da P
- Page 142 and 143:
Prova 31 (contínuo)Relatório da P
- Page 144 and 145:
Prova 38 (contínuo)Declaração de
- Page 146 and 147:
Prova 41Minutas da Reunião Rússia
- Page 148 and 149:
Prova 42Acordo Suíça-Angola, de 1
- Page 150 and 151:
Prova 42 (contínuo)Acordo Suíça-
- Page 152 and 153:
Prova 42 (contínuo)Acordo Suíça-
- Page 154 and 155:
Prova 42 (contínuo)Acordo Suíça-
- Page 156 and 157:
Prova 43Acordo Angola-Abalone, de 9
- Page 158 and 159:
Prova 43 (contínuo)Acordo Angola-A
- Page 161 and 162:
Notas1. JULGAMENTO N° : 0019292016
- Page 163 and 164:
32. Talvez por coincidência, José
- Page 165 and 166:
74. Código Penal Suíço, artigo 3
- Page 167 and 168:
113. PROVA 37: Carta de Christine J
- Page 169 and 170:
Obrigações”. Se assim for, algu
- Page 171 and 172:
199. PROVA 24: Plano de Pagamento d
- Page 174:
Este relatório fornece uma descri